painel Ano XII nº 286 janeiro/ 2019
Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto
Uma nova chance
A Mata de Santa Tereza começa a ser recuperada; conheça os detalhes do projeto
Alimentação
Biofortificação agronômica, veja o que é
Cachaça
A bebida genuinamente brasileira
AEAARP
Obra
Veja os detalhes do projeto Arena Eurobike
No ano que acaba, fazemos um balanço das ações. No que começa, as projeções para o futuro. Mas, o que será que fazemos, de fato, para que esses desejos, projetos ou sonhos tornem-se realidade? Há duas iniciativas em curso em Ribeirão Preto, ambas relatadas nesta edição da revista Painel, que podem ser usadas como exemplos.
palavra do presidente
Eng. civil Carlos Alencastre
Na primeira, objeto da reportagem de capa, o investimento e todos os esforços possíveis são empreendidos para recuperar a grande área devastada pelo incêndio que em 2014 queimou a nossa maior reserva florestal, a Mata de Santa Tereza. Trata-se de uma porção relativamente pequena de Mata Atlântica, se comparada às outras reservas sob a responsabilidade do governo de São Paulo, mas de grande importância para o ecossistema local. É um bom exemplo de intervenção no meio ambiente. A empresa privada que assumiu a tarefa de reconstruir uma parte da área está cumprindo determinação de compensação ambiental em razão da atividade que exerce (neste caso, de mineração). De um lado, portanto, ela explora comercialmente os recursos naturais; do outro, devolve à população a possibilidade de usufruir de todos os benefícios que a falta de um recurso natural pode causar. No caso da Mata de Santa Tereza, a degradação atinge córregos, nascentes, afeta um ecossistema extremamente complexo que começa nos microrganismos presentes no solo e pode acabar na torneira da sua casa. O segundo exemplo é o Estádio Santa Cruz, que em 2019 se transforma em arena multiuso graças ao investimento privado que moderniza as instalações e oferece ao torcedor e à cidade a oportunidade de usufruir de um espaço amplo, moderno e agradável. Nos dois casos há investimento, planejamento e ousadia. São de ações assim que precisamos para que em dezembro de 2019 possamos fazer um balanço que comprove a nossa ousadia e nos mostre os novos caminhos que devemos seguir.
AEAARP
painel Rua João Penteado, 2237 - Ribeirão Preto-SP - Tel.: (16) 2102.1700 Fax: (16) 2102.1717 - www.aeaarp.org.br / aeaarp@aeaarp.org.br
Eng. civil Carlos Eduardo Nascimento Alencastre Presidente Eng. eletr. Tapyr Sandroni Jorge 1º Vice-presidente
índice
AEAARP
05
22
Especial
Obra
É tempo de recomeçar
O estádio que virou arena
10
24
Movimento AgTech
CREA
12
26
Cana
Notas
Startups O que são e quais suas fases de crescimento?
Mais uma dose
Resolução nº 1.107, de 28 de novembro de 2018
18
Eng. civil Fernando Junqueira 2º Vice-presidente Diretoria Operacional Diretor administrativo - eng. agr. Callil João Filho Diretor financeiro - eng. civil Arlindo Antonio Sicchieri Filho Diretor financeiro adjunto - eng. agr. Benedito Gléria Filho Diretor de promoção e ética - eng. civil e seg. do trab. Hirilandes Alves Diretora de ouvidoria - arq. urb. Ercília Pamplona Fernandes Santos Diretoria Funcional Diretor de esporte e lazer - eng. civil Milton Vieira de Souza Leite Diretor de comunicação e cultura - eng. agr. Paulo Purrenes Peixoto Diretor social - eng. civil Rodrigo Araújo Diretora universitária - arq. urb. Ruth Cristina Montanheiro Paolino Diretoria Técnica Agronomia - eng. agr. Alexandre Garcia Tazinaffo Arquitetura - arq.urb. Marta Benedini Vechi Engenharia - eng. civil Paulo Henrique Sinelli Conselho Presidente: Eng. mec. Giulio Roberto Azevedo Prado Conselheiros Titulares Eng. civil Elpidio Faria Junior Eng. civil Edgard Cury Eng. civil João Paulo de Souza Campos Figueiredo Eng. civil Jose Aníbal Laguna Eng. civil e seg. do trab. Luis Antonio Bagatin Eng. civil Ricardo Aparecido Debiagi Eng. civil Roberto Maestrello Eng. civil Wilson Luiz Laguna Eng. elet. Hideo Kumasaka Arq. e urb. Adriana Bighetti Cristofani Arquiteta e eng. seg. do trab. Fabiana Freire Grellet Eng. agr. Dilson Rodrigues Cáceres Eng. agr. Geraldo Geraldi Jr Eng. agr. Gilberto Marques Soares Conselheiros suplentes Eng. civil Marcos Tavares Canini Eng. mec. Fernando Antonio Cauchick Carlucci Arq. e urb. Celso Oliveira dos Santos Eng. agr. Denizart Bolonhezi Eng. agr. Jorge Luiz Pereira Rosa Eng. agr. José Roberto Scarpellini REVISTA PAINEL Conselho Editorial: eng. civil Arlindo Antonio Sicchieri Filho, Arq. e urb. Adriana Bighetti Cristofani, eng. mec. Giulio Roberto Azevedo Prado e eng. agr. Paulo Purrenes Peixoto - conselhoeditorial@aeaarp.org.br
Tecnologia
Alternativa para o combate à fome oculta
Conselheiros titulares do CREA-SP indicados pela AEAARP: eng. civil e seg. do trab. Hirilandes Alves e eng. mecânico Fernando Antonio Cauchick Carlucci Coordenação editorial: Texto & Cia Comunicação Rua Galileu Galilei 1800/4, Jd. Canadá Ribeirão Preto SP, CEP 14020-620 www.textocomunicacao.com.br Fones: 16 3916.2840 | 3234.1110 contato@textocomunicacao.com.br
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Editoras: Blanche Amâncio – MTb 20907, Daniela Antunes – MTb 25679 Colaboração: Bruna Zanuto – MTb 73044, Flavia Amarante – MTb 34330 Comercial: Angela Soares – 16 2102.1700 Tiragem: 3.000 exemplares Locação: Solange Fecuri - 16 2102.1718 Editoração eletrônica: Mariana Mendonça Nader Foto capa: Daniela Antunes Impressão e fotolito: São Francisco Gráfica e Editora Ltda Painel não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados. Os mesmos também não expressam, necessariamente, a opinião da revista.
AEAARP
5 Especial
É tempo de recomeçar
Daniela Antunes
O ser humano dá um empurrão para ver brotar novamente a mais importante reserva florestal de Ribeirão Preto, a Mata de Santa Tereza
Revista Painel
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renascendo, literalmente, das cinzas. Em outubro
Revista Piloto Policial
último, em razão de um processo de compensação ambiental, começaram a ser plantadas as mudas de espécies nativas da primeira ação efetiva de
O incêndio de 2014 queimou 98 hectares
re c u p e ra ç ã o d a f l o re s t a d e s d e o
do Meio Ambiente do Estado de São
incêndio de 2014, quando 98 hectares
Paulo, explica que serão necessários pelo
A Mata de Santa Tereza foi fracionada
sucumbiram aos cerca de 20 dias de
menos 30 anos para que a reserva seja
em duas partes, sob a responsabilidade
fogo. Toda a área soma 180,78 hectares.
totalmente restaurada.
da Sanen Engenharia e da Compa-
nibilizadas no acervo do programa.
O projeto, sob responsabilidade técnica
A Fundação Florestal disponibilizou a
nhia Paulista de Trens Metropolitanos
da engenheira florestal Daiane Gaia, foi
área afetada pelo incêndio no Programa
(CPTM). O projeto em execução é o da
aprovado pelo grupo de trabalho que
Nascentes, iniciativa do governo de São
Sanen, que atua no setor se pavimen-
reúne-se há pelo menos quatro anos
Paulo que tem a meta de restaurar 20
tação asfáltica e mineração. A CPTM,
para planejar a reconstrução da reserva.
mil hectares de matas ciliares por meio
por se tratar de empresa pública, está
A tarefa é complexa e demorada.
de parcerias com a iniciativa privada. Na
cumprindo as etapas legais da licitação
Alessandra Pinezi, gestora da Estação
prática, empresas que devem fazer algum
para contratar os serviços necessários
Ecológica de Ribeirão Preto, órgão da
tipo de compensação ambiental assumem
à recuperação. Não há previsão para o
Fundação Florestal, ligada à Secretaria
o compromisso de recuperar áreas dispo-
início dos trabalhos nessa área.
Primeira fase de plantio de mudas
Daniela Antunes
A
Mata de Santa Tereza está
AEAARP
O projeto
serão plantadas 10.142 mudas em 10,65
Hoje, a paisagem predominante em
hectares. No diagnóstico feito por Daiane,
grande parte da mata é de lianas, termo
existem lianas nas áreas degradadas pelo
técnico para denominar os cipós que
fogo e também na parcela que não foi
cobrem as copas das árvores, troncos
atingida. A diferença é que, no espaço
e até mesmo o solo após o incêndio. A
destruído, essa planta se torna predomi-
imensidão verde dá a falsa impressão de
nante, impedindo o desenvolvimento dos
que a mata está de pé. Olhando de cima,
embriões vegetais, que surgiram por ali
a cobertura parece uma camuflagem.
naturalmente nos últimos quatro anos, e a
Alessandra explica, entretanto, que todo
formação da serapilheira, camada formada
esse cipó tem de ser removido. O plano
sobre o solo pela deposição de restos de
de trabalho definido pela engenheira
plantas e acúmulo de material orgânico
Daiane detalha que a remoção será
vivo em diferentes estágios de decompo-
feita manualmente (na foice mesmo) e
sição, que é a principal via de retorno de
com a aplicação de produtos químicos
nutrientes no solo de uma floresta.
autorizados pelo Instituto Brasileiro do
Ainda de acordo com o diagnóstico
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
de Daiane, a área florestada, que não foi
e Renováveis (Ibama).
atingida pelo fogo, tem árvores de grande
De acordo com o cronograma, na pri-
porte, diversidade de espécies, pequenas
meira etapa, que segue até março de 2019,
clareiras e serapilheira espessa. A parcela
Daniela Antunes
7
Um dos cursos d’água no meio da Mata
Resumo do diagnóstico
Nº de árvores (diâmetro maior que 5cm)
Nº de regenerantes Nº de árvores mortas Densidade de árvores Densidade de regenerantes (diâmetro maior que 1cm) por hectare por hectare
SIM 17
25
4 1.700 2.500
SIM 17
14
0 1.700 1.400
SIM 14
22
0 1.400 2.200
NÃO 11
25
1 1.100 2.500
SIM
5
18
0 500
1.800
SIM
2
12
0 200
1.200
SIM
9
5
3 900
500
NÃO 14
32
3 1.400 3.200
NÃO 8
34
0 800
3.400
SIM
19
0 500
1.900
5 área incendiada
área não afetada pelo incêndio
Fonte: Inova Soluções Ambientais
Revista Painel
Daniela Antunes
8
As lianas camuflam a degradação provocada pelo incêndio
com predomínio de lianas está abafada,
lianas, controle das espécies invasoras por
Cada uma das quatro etapas do projeto
com baixa diversidade de espécies e solo
herbicidas etc – também a manutenção
em execução será monitorada por dois
com pouca matéria orgânica. Na área de
das mudas. A conclusão de todas as fases
anos. E não se trata somente de abrir
transição, que fica entre a incendiada e a
do projeto deverá acontecer em seis anos.
a cova, colocar a muda e deixar que
não atingida, as lianas estão em quantidade moderada, há pouca diversidade de espé-
a natureza tome seu rumo. O plantio
Etapa Mudas
é vistoriado semanalmente. Em cada
da vegetação nativa, a engenheira florestal
1 10.142
primeiro por três meses e depois a cada
identificou grande quantidade de espécies
2 12.842
cies e muitas clareiras. Nas bordas, além
consideradas invasoras, como a Brachiaria. O cronograma do trabalho inclui, além da preparação física do local – abertura de acessos na mata, extração manual das
3 16.192 4 17.750 Fonte: Inova Soluções Ambientais
fase do projeto, a vistoria será mantida; dois meses. O objetivo, de acordo com Daiane, é averiguar a necessidade de repor mudas, verificar se houve rebrota de lianas, adubar as plantas, controlar espécies invasoras, formigas etc.
Fonte: Inova Soluções Ambientais
AEAARP
9
Desde o incêndio de 2014, foram to-
Há mais um desafio na gestão da Mata:
madas algumas medidas para assegurar a
a exploração imobiliária. A proximidade
preservação da Mata, como a instalação
com a natureza é um dos atrativos para o
de uma caixa d’água, um ponto de moni-
crescimento imobiliário das redondezas. É
toramento e a contratação de seguranças
também, na visão de Alessandra, gestora
que vistoriam todos os acessos 24 horas
da Estação Ecológica, um desafio que tem
por dia, de moto. A estrada municipal que
sido enfrentado em harmonia.
cruzava a mata também foi fechada para
Ela ressalta que, para manter a Mata
a circulação pública.
viva, é necessário preservar o ciclo na-
Alessandra conta que, apesar da publi-
tural, que inclui as nascentes e córregos
cidade dada à importância da reserva e
que nascem fora da área ou que passam
sobre os riscos da intervenção humana
nas imediações. São espaços usados por
para a fauna e a flora, todas as sema-
animais silvestres que não se guiam por
nas os funcionários flagram ações que
muros ou limites geográficos.
poderiam comprometer a segurança do local, como rituais religiosos. Acender
os animais foram afastados pelo fogo. As
velas nesses rituais, aliás, é a prática que,
primeiras medidas, entretanto, já surtiram
suspeita-se, pode ter sido o estopim do
efeitos positivos: segundo Alessandra, fo-
incêndio que queimou em 20 dias tudo
ram observados no local pelo menos uma
aquilo que a população da cidade vai
onça jaguatirica, uma família de veados,
demorar pelo menos 30 anos para ver
saguis, macacos prego, cobras e cotias.
novamente de pé.
Daniela Antunes
O incêndio não fez vítimas na fauna, mas
Os trechos de estrada serão usados como aceiros, espaço livre de vegetação que impede que o fogo se alastre, caso ocorra outro incêndio
Daniela Antunes
Urbanização
Sinais da passagem de animais e insetos mostram que a Mata, aos poucos, retoma o ciclo da natureza
Revista Painel
10 Movimento AgTech
Startups O que são e quais suas fases de crescimento?
Muitas startups encontram oportunidades e potencial para crescimento no agronegócio. A partir desta edição, divulgaremos informações sobre esse ambiente de negócios nesta página. A AEAARP, em parceria com a Esalq Tec e a Lidera, busca desenvolver um Ecossistema Agtech (Startups do Agronegócio) na região de Ribeirão Preto, potencializando esta vocação.
O que diferencia uma startup dos
O MVP é levado ao mercado para clientes
demais tipos de empresa? Inicialmente,
(pagantes ou não), passando pela fase
imaginamos startups como empresas
chamada de validação.
formadas por jovens, recém-formados
Realizada a segunda fase, inicia-se a
ou não, vestindo camisetas, calças jeans,
operação da empresa (terceira fase) e,
sapatênis, trabalhando em escritórios
conforme o faturamento cresce, chegamos
modernos e desenvolvendo aplicativos de
à quarta fase, a de tração da empresa,
celular. A alegoria é boa, mas não resume
quando a receita cresce substancialmente.
a característica de uma startup.
Conforme a empresa vai passando
A melhor definição que encontrei é a da
pelas diferentes fases, em especial após
Associação Brasileira de Startups (Abstar-
a validação, aportes de dinheiro são
tup): são empresas que têm as seguintes
necessários. Os recursos podem vir de
características inovação, escalabilidade,
familiares, amigos, investidores anjos ou
repetibilidade, flexibilidade e rapidez.
investidores semente. Os dois últimos
Apesar dessas características se enqua-
representam um modelo que cresce no
drarem muito bem nas empresas digitais,
Brasil nos últimos tempos.
existem outros tipos de empresas como biotecnologia, robótica etc.
De forma geral, o maior problema das startups nas fases iniciais é o risco. O autor
Normalmente, a startup inicia-se com
americano Eric Ries define muito bem esta
uma boa ideia, fase chamada de ideação.
situação: “Uma startup é uma instituição
Nesta fase, a própria equipe fundadora
humana desenhada para criar um novo pro-
(formada por pessoas com habilidades
duto ou serviço em condições de extrema
Leonardo Ramos Barbieri,
complementares), com recursos próprios,
incerteza”. Portanto, conhecimento, plane-
engenheiro agrônomo , sócio da
gera uma versão inicial do produto, deno-
jamento e muito trabalho são ferramentas
Lidera Consultoria e Projetos
minado de MVP (Produto Mínimo Viável).
para reduzir riscos e alcançar o sucesso.
AEAARP
11
Revista Painel
12
Divulgação
Cana
AEAARP
13
Mais uma dose A cachaça, destilado que é marca registrada no Brasil, exige pouca sofisticação agronômica da cana-de-açúcar e tem grande potencial no mercado interno e externo
O
Instituto Brasileiro da Cachaça
cana produzida no Brasil, com graduação
Além disso, a parte nobre da cachaça é
(IBRAC) estima que o Brasil
alcoólica de 38% em volume a 48% em
separada das impurezas com o objetivo
tenha capacidade instalada de
volume a 20°C, obtida pela destilação do
de garantir mais qualidade ao produto e,
produção de cachaça de, aproximada-
mosto [tipo de mistura açucarada desti-
por fim, há o processo de envelhecimento
mente, 1,2 bilhão de litros anuais. Porém,
nada à fermentação alcoólica] fermentado
em tonéis de madeira (carvalho, bálsamo,
produz menos de 800 milhões de litros por
do caldo de cana-de-açúcar com caracte-
além de espécies nativas do Brasil).
ano. Censo feito pelo Instituto Brasileiro
rísticas sensoriais peculiares, podendo ser
de Geografia e Estatística (IBGE) em 2006
adicionada de açúcares até seis gramas por
revela que no Brasil existem quase 12 mil
litro, expressos em sacarose”.
produtores de cachaça. Mas, associações
O engenheiro agrônomo Rogério
regionais garantem que o número pode
Haruo Sakai publicou um artigo, no
chegar a 15 mil.
portal Agência Embrapa de Informação
Leia o artigo completo do engenheiro agrônomo Rogério Haruo Sakai no endereço eletrônico da AEAARP, na área Notícias. Na publicação, ele
De acordo com o IBRAC, pouco me-
Tecnológica, no qual discorda do
também mostra o passo a passo da
nos de dois mil estabelecimentos estão
veto ao adjetivo artesanal. “Embora
produção de cachaça.
registrados no Ministério da Agricultura,
a legislação não estabeleça distinção
Pecuária e Abastecimento (MAPA) e na
entre os produtos finais das destilarias
Receita Federal. “A informalidade é um
industriais e dos alambiques artesanais,
grande gargalo no setor; estima-se que
existem, na prática, muitas diferenças
São Paulo, Pernambuco, Ceará, Minas
cerca de 85% dos produtores sejam ile-
entre cachaça de alambique e cachaça
Gerais e Paraíba são os principais estados
gais”, diz o administrador de empresas
industrial”. No texto, Rogério comenta que
produtores de cachaça. O mercado
Carlos Lima, diretor executivo do IBRAC.
cachaças industriais são controladas por
consumidor, além desses estados, também
Para ele, a alta carga tributária é uma das
empresas e a cana-de-açúcar é cultivada
tem destaque no Rio de Janeiro e Bahia,
justificativas para a informalidade e, con-
em grandes áreas, enquanto a pinga
segundo o IBRAC. No quesito exportação,
sequentemente, por não garantir números
artesanal é produzida em pequena escala
em 2017, a cachaça foi enviada para mais
mais precisos de produção.
por pequenos produtores, em sua maioria
de 60 países, gerando receita de US$ 15,80
utilizando mão de obra familiar. É, em sua
milhões com a venda de 8,74 milhões de
visão, o que as diferencia.
litros. Segundo o Instituto, os números
A informalidade fiscal, entretanto, nada tem a ver com a característica da bebida –
www.aeaarp.org.br
artesanal, por exemplo, é um termo vetado
Ele argumenta que em larga escala,
representam crescimento de 13,43% em
pela Instrução Normativa 13/2005, do
muitas vezes, são utilizadas colunas de
valor e 4,32% em volume, em comparação
MAPA. “Existe um uso equivocado, pois
destilação e tonéis de aço inox, adição
a 2016. Em 2017, os principais países de
não há distinção com base no processo de
de produtos químicos na fermentação e
destino em valor foram Estados Unidos,
destilação da bebida e nos padrões físicos
não se separa a parte nobre do destilado.
Alemanha, Paraguai, França e Portugal.
e químicos”, alerta Carlos Lima.
Segundo o artigo, no processo artesanal, a
Já os principais estados exportadores em
Segundo a norma, cachaça é “a denomi-
destilação é feita em alambiques de cobre
termos de valores foram São Paulo, Rio
nação típica e exclusiva da aguardente de
e a fermentação ocorre de forma natural.
de Janeiro, Pernambuco, Paraná e Ceará.
Revista Painel
14
Principais Estados exportadores em valor - 2017 Total: US$ 15.808.485,00
Na região De acordo com o diretor executivo do IBRAC, a região de Ribeirão Preto (SP) apresenta uma produção expressiva de cachaça, principalmente em Pirassununga (SP), onde é produzida a Cachaça 51. A revista PAINEL Fonte: IMDIC - ALICEWEB - NCM 2208.40.00 | Elaboração: Instituto Brasileiro da Cachaça - IBRAC
Principais países de destino em valor - 2017 Total: US$ 15.808.485,00
entrevistou três produtores de cachaça na região: Itirapuã, Américo Brasiliense e Cajuru (SP). Eles dizem não conhecer muitas produções pequenas de cachaça na região e, apesar da alta carga tributária, que chega a 82% no preço final do produto, estão animados com o mercado e usam a atividade como mais uma fonte de geração de renda. O engenheiro agrônomo Maurílio Figueiredo Cristófani iniciou a atividade logo que concluiu a graduação, em 2002, reativando o engenho da família, em Itirapuã (SP). A produção de cachaça é tradição familiar;
Fonte: IMDIC - ALICEWEB - NCM 2208.40.00 | Elaboração: Instituto Brasileiro da Cachaça - IBRAC
o engenho começou a operar em 1860 e, segundo ele, é o único que ainda funciona movido à roda d’ água no estado de
História da cachaça Segundo um artigo publicado no portal IBRAC, do professor Jairo Martins da Silva, considerado um dos principais formadores de opinião no segmento da cachaça no Brasil e no exterior, embora existam muitas histórias sobre o marco zero da cachaça, sua origem se confunde com a do Brasil, tendo como protagonistas a cana-de-açúcar, o imigrante português e o escravo africano, que juntos criaram a bebida que simboliza o modo de viver e o espírito descontraído do brasileiro. A primeira plantação de cana no Brasil foi formada em 1504 pelo fidalgo português Fernão de Noronha, que recebeu a ilha (que hoje leva o seu nome) para explorar pau-brasil. Há referências de que o primeiro engenho de açúcar foi construído em 1516, na Feitoria de Itamaracá, criada pelo Rei D. Manuel no litoral pernambucano e confiada ao técnico de administração colonial Pero Capico. A prova documental dessa tese está nos registros de pagamento de tributo alfandegário, encontrados em Lisboa (Portugal), sobre uma carga de açúcar vinda de Pernambuco, de 1526. Pesquisas arqueológicas, feitas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), identificaram ruínas de um engenho de açúcar, de 1520, nas redondezas de Porto Seguro (BA). Pelo fato de Martim Afonso de Souza ter chefiado a primeira expedição colonizadora do Brasil, tendo fundado a Vila de São Vicente em 1532 e logo iniciado o cultivo da cana e a construção de engenhos de açúcar, tem sido defendida a tese de que a produção de açúcar ocorreu pela primeira vez no litoral paulista. Apesar de não haver registro preciso sobre o local da primeira destilação da cachaça, pode-se afirmar que aconteceu em algum engenho do litoral brasileiro, entre 1516 e 1532, sendo o primeiro destilado da América Latina – antes mesmo do aparecimento do pisco peruano, da tequila mexicana e do rum caribenho.
São Paulo. Maurílio é a quinta geração da família à frente da fazenda, onde também produz café, cana para usina, gado e reflorestamento, além de manter atividades turísticas na propriedade.
Legalização x certificação Veja no endereço eletrônico da AEAARP, na área Notícias, a cartilha Cachaça – Como legalizar seu empreendimento, publicado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Leia também outra publicação do Sebrae, em parceria com o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industria (Inmetro), sobre como conquistar a certificação da cachaça de alambique. Segundo a cartilha, a aceitação internacional aumenta quando a cachaça passa pelo processo de certificação acreditado pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade.
www.aeaarp.org.br
AEAARP
15
A cada safra são produzidos entre 30 mil
produz a cachaça Sebastiana. O local
na produção de cachaça uma forma de
e 40 mil litros de cachaça de alambique,
é administrado pelo empresário Carlos
continuar lidando com a matéria-prima
segundo Maurílio. Durante a safra, cerca
Mattos desde 2012. Lá são produzidos
e diversificar o negócio. “Eu não queria
de 10 pessoas estão envolvidas direta-
10 mil litros de cachaça por mês. Cerca
mudar de ramo, mas queria desenvolver
mente da produção da cachaça, comer-
de cinco pessoas trabalham na produção
um trabalho de produção e a cachaça é
cializada com duas marcas, Santo Grau e
das cachaças envelhecidas em barris de
um produto interessante. Fazer cachaça
Barra Grande. A primeira é distribuída em
madeira e de carvalho americano. “Nós
é algo mágico”.
todo o país, em redes de varejo, bares e
trabalhamos com um público selecionado,
Em média, Valmir produz entre 50
restaurantes das capitais, e mais recen-
que consome cachaças premium [bebida
e 60 litros de cachaça por dia e conta
temente também passou a ser exportada
envelhecida em recipiente de madeira
com a ajuda de três funcionários, que
para Miami (EUA ). A segunda marca é
apropriado, com capacidade máxima de
também atuam na produção de açúcar
comercializada apenas no engenho.
700 litros, por um período não inferior a
mascavo. Sua cachaça – a Pálea – é
um ano, segundo a IN 13/2005]”.
envelhecida em tonel de carvalho e
A produção também conta com cachaças envelhecidas em diversos tipos
Carlos Mattos comenta que trabalha
vendida regionalmente. Mesmo perce-
de madeira. “Toda nossa cachaça passa
com cinco rótulos diferentes, com valores
bendo que o mercado tem aumentado
primeiro pelo tonel de jequitibá, depois
que variam entre 50 reais e 300 reais a
nos últimos anos, ele pondera que o
vai para o carvalho francês, carvalho
garrafa. Seus produtos são vendidos tanto
custo de produção também aumentou.
americano, amburana e bálsamo. Enve-
no Brasil quanto no exterior. Ele diz que
“Tem encarecido a folha de pagamento,
lhecemos uma parte da produção em
a crise não afetou o mercado de cachaça.
o manejo da cana, a compra de adubos,
processo de soleira, ou seja, passa por
“Além de a crise não ter atrapalhado,
embalagens e rótulos, a manutenção de
tonéis que foram antes utilizados com
as vendas aumentaram”. O empresário
máquinas e a contratação de serviços de
vinho de Jerez [Espanha]”.
também acrescenta que o processo de
terceiros”. Valmir observa que produzir
O agrônomo comenta que o mercado
legalização da produção de cachaça e do
cachaça de qualidade não é fácil. “As
de cachaça tem aumentado nos últimos
produto é muito burocrático, pois exige a
nuances de sabor, aroma e aparência
anos. “Principalmente, as bebidas de me-
aprovação de vários órgãos.
são muitas e, às vezes, é necessário
Já o engenheiro agrônomo Valmir
descartar lotes inteiros. Pois, o paladar
vez mais valorizando um bom destilado”.
Barbosa, que desde 1996 tem uma
de quem gosta da bebida tem elevado
Em Américo Brasiliense (SP), está lo-
pequena produção de cachaça em Cajuru
nível de exigência; qualquer aroma ou
calizado o Alambique Santa Rufina que
(SP), sempre trabalhou com cana e viu
sabor diferente é percebido”.
Maurílio Figueiredo Cristófani
lhor qualidade, pois o público está cada
Engenho Barra Grande, em Itirapuã SP
Revista Painel
16
Características agronômicas
cachaça (que conta com filtração, dilui-
milhões de litros de tequila para mais de
Toda a variedade de cana rica em
ção, tratamento térmico, fermentação e
120 países (quase 70% do volume pro-
açúcares é adequada para produção
destilação). São discutidos ainda aspectos
duzido), o Brasil exportou pouco mais de
de cachaça, segundo a zootecnista
sensoriais da bebida: aromas, sensações,
oito milhões de litros de cachaça para 54
Gabriela Aferri, pesquisadora do Instituto
gostos e visual, que resultam em um
países. O sucesso da projeção da tequila
Agronômico (IAC), da Secretaria de
produto de qualidade. “Quanto maior a
no mundo deve-se a forma de organização
Agricultura e Abastecimento do Estado
difusão do conhecimento, melhor será a
do setor no México.
de São Paulo. “Uma boa cana para
bebida e isso é fundamental para atender
No Brasil, instituições como o IBRAC
produzir cachaça é aquela que tem alta
os consumidores que, cada vez mais, bus-
têm defendido junto ao governo que a
produtividade, elevado teor de açúcar,
cam produtos diferenciados e com elevada
cachaça tenha o mesmo modelo orga-
longo período de utilização industrial,
qualidade”, diz Gabriela.
nizacional do México. “A percepção do
porte ereto e alta densidade”, explica.
valor da bebida mudou. Agora ela tem sido apreciada como identidade cultural
uma espécie específica, porém toda cana
De acordo com um levantamento do
e que reúne características tão boas
plantada com bom manejo serve como
IBRAC, enquanto a tequila é reconhecida
quanto a de outros destilados”, ressalta
matéria-prima para a cachaça.
como genuinamente mexicana em 46
a pesquisadora do IAC.
Carlos Lima acrescenta que não existe
Quanto às condições climáticas ideais e
países, apenas três identificam a cachaça
de solo para produzir essa cana seguem as
como um produto autenticamente do Bra-
mesmas diretrizes para produzir a espécie
sil: Estados Unidos, Colômbia e o próprio
para outras finalidades. “É necessária boa
México. Esse reconhecimento tem grande
distribuição de chuvas ao longo do ciclo
valor para o país, pois garante aos produ-
de desenvolvimento vegetativo e solos
tores brasileiros a exclusividade no uso da
férteis”, aponta Gabriela. Já a produção
denominação cachaça. Além de conquistar
de cachaça necessita de um responsá-
o reconhecimento internacional como
vel técnico que pode ser um agrônomo,
bebida genuína e exclusiva do Brasil, a
engenheiro de alimentos ou engenheiro
cachaça ainda tem outros grandes desafios
químico, por exemplo.
para o futuro: aumento das exportações
Com o avanço do setor, algumas institui-
e consolidação no mercado internacional.
ções perceberam a necessidade de quali-
Ainda segundo a publicação, atualmen-
ficação e criaram cursos, treinamentos e
te, as exporta-
concursos para os produtores. A Agência
ções de cachaça
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
estão aquém
(APTA), por exemplo, já promoveu diver-
do potencial de
sos eventos com este objetivo. Gabriela é
mercado. Estima-
uma das coordenadoras desses treinamen-
-se que menos
tos. Ela diz que ainda não tem data defi-
de 1% do volu-
nida para o próximo e acrescenta que os
m e p ro d u z i d o
encontros reúnem, em média, 25 pessoas.
é exportado.
Nos treinamentos são abordados temas
Comparativa-
como: aspectos sobre equipamentos,
mente, o Méxi-
qualidades da matéria-prima, higienização
co exportou, em
do ambiente e o processo da produção da
2016, quase 200 Cachaça Pálea, produzida em Cajuru (SP)
Valmir Barbosa
Desafios para o futuro
Produção de cachaça em Cajuru (SP)
AEAARP
17
Revista Painel
18 Tecnologia
Alternativa para o combate à fome oculta
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Técnica aumenta a concentração de micronutrientes nos alimentos
AEAARP
19
Alimentação e Agricultura (FAO) e o Fundo
Para o engenheiro agrônomo Sandro
deficiência em vitaminas e
das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Ro b e r t o Br a n c a l i ã o , p e s q u i s a d o r
minerais, segundo a Organização
O objetivo da técnica é aumentar a con-
do Instituto Agronômico (IAC), a
Mundial da Saúde (OMS). As maiores são
centração de micronutrientes essenciais e
biofortificação agronômica se destaca
em ferro, zinco, iodo e selênio. Além disso,
benéficos aos seres humanos e animais em
pela praticidade, agilidade e viabilidade,
deficiências de cálcio, magnésio e de cobre
partes comestíveis de plantas cultivadas e
uma vez que é realizada diretamente no
também são comuns em muitos países
assim melhorar a qualidade dos alimentos
campo, sendo a adubação a mais adotada.
desenvolvidos e em desenvolvimento.
e a quantidade de nutrientes consumidos.
Biofortificação com selênio
O baixo consumo desses minerais é
O engenheiro agrônomo Arthur Bernar-
atribuído à produção de culturas agrícolas
des Cecílio Filho, doutor em Agronomia
O selênio é um mineral com um alto
em solos com pouca disponibilidade de
pela Universidade Federal de Lavras e
poder antioxidante e por isso ajuda na
micronutrientes e, consequentemente,
docente na graduação e na pós-graduação
prevenção de doenças como o câncer,
ao consumo de alimentos com baixo valor
da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
fortalece o sistema imunológico e prote-
nutricional. À falta dos micronutrientes
explica que existem dois processos para
ge de problemas cardíacos. A falta dele
no organismo dá-se o nome de fome
realizar a fortificação de alimentos: a bio-
no organismo pode causar a doença de
oculta, que favorece o surgimento de
fortificação genética e a biofortificação
Keshan, que é uma cardiomiopatia (do-
doenças cardiovasculares, osteoporose,
agronômica.
ença do músculo cardíaco), e a doença de
hipertensão, diabetes e câncer.
Segundo ele, na genética, busca-se por
Kashin-Beck, que é uma osteoartropatia
Uma das alternativas para auxiliar no
meio do melhoramento de plantas para ob-
(doença óssea, comum em crianças e ado-
combate à fome oculta é a biofortifi-
ter um alimento mais rico em determinado
lescentes). Há também pesquisas que cor-
cação de alimentos, recomendada até
nutriente. Na biofortificação agronômica
relacionam a deficiência deste elemento
mesmo por órgãos internacionais, como
o objetivo é elevar o teor de um ou mais
com maior sensibilidade a infecções virais.
a Organização Mundial da Saúde (OMS),
nutrientes por meio de fertilização dos
a Organização das Nações Unidas para
cultivos, via solo ou foliar.
O mineral pode ser encontrado no solo, na água e em alimentos, como a castanha-do-pará, mas é considerado escasso, com concentração média nas rochas de aproximadamente 0,05 mg/kg, o que representa concentração menor do que a de qualquer outro elemento nutricional.
Castanha-do pará: alimento rico em selênio
Pixabay
D
ois bilhões de pessoas têm
Revista Painel
20
o que proporcionou aumento do teor do
a biofortificação agronômica com o
elemento no solo e, consequentemente,
Os solos do Brasil são historicamente
selênio tem despertado o interesse dos
nos alimentos. A ingestão de selênio na
deficientes em selênio. Segundo Sandro,
pesquisadores. “Alguns dados recentes e
Finlândia aumentou de 25 microgramas/
pesquisador do Instituto Agronômico, estu-
promissores indicam que a adubação com
dia para 110 microgramas/dia, e a con-
dos realizados com diversos tipos de solos
esse elemento no solo pode proporcionar
centração do nutriente no plasma san-
demonstraram baixos níveis de selênio,
maiores concentrações nos grãos de
guíneo quase duplicou. “Várias pesquisas
variando de 0,001 a 0,80 mg/kg, o que ca-
trigo e arroz, por exemplo. De forma
demonstraram que esta estratégia reduziu
racteriza uma distribuição não homogênea
semelhante, a aplicação de selênio via
os índices de doenças cardiovasculares,
do mineral. “Esse fato é apontado como a
foliar também promoveu aumento nas
imunológicas e inúmeros tipos de câncer
causa de alimentos com níveis de selênio
concentrações do elemento nos grãos”,
na população do país”, destaca Arthur.
abaixo dos padrões internacionais”, explica.
enfatiza o agrônomo Sandro.
Mas o agrônomo ressalta que importar
O enriquecimento dos alimentos com
Um exemplo de biofortificação agronômica
informações de processos bem sucedidos
selênio, via biofortificação agronômica,
de sucesso na solução da deficiência em
em outros países para o Brasil é um grande
já é feito no Brasil, mas somente em nível
selênio pela população foi o programa
risco. “As plantas possuem distinta capa-
de pesquisa. Os experimentos já foram
promovido pelo Ministério de Agricultura
cidade em absorver, acumular e tolerar
realizados com arroz, feijão, alface, batata,
e Florestas da Finlândia. A preocupação do
os elementos benéficos e nutrientes. Por
brócolis, couve-flor, rúcula, entre outros.
governo era com o aumento de casos de
isso, existe a necessidade de pesquisas
A Universidade Federal de Lavras
câncer e problemas cardíacos na população.
para conhecer a resposta de cada espécie
(UFLA), em Minas Gerais, se destaca no
O programa foi detalhado por Arthur no
cultivada e como se dá a interação destes
trabalho de biofortificação agronômica
trabalho “Biofortificação de Hortaliças e
elementos com a espécie, o solo, o clima
com selênio. Desde 2010, realiza diferen-
Saúde Global - Um Enfoque para Selênio,
e outras práticas culturais realizadas em
tes pesquisas focadas na biofortificação
Zinco, Ferro e Iodo”, realizado em parceria
culturas brasileiras”, diz.
com o mineral, em culturas como alface,
com o engenheiro agrônomo Hilário
Outra importante questão, segundo
soja, mandioca, trigo e brássicas (como
Júnior de Almeida, pós-doutorando do
ele, é que ferro, zinco e, especialmente,
brócolis, couve-flor, couve-manteiga,
Departamento de Produção Vegetal junto
selênio, são requeridos pelo homem
couve-de-bruxelas e outros), coorde-
ao Programa Agronomia (Produção Vegetal),
em quantidades muito pequenas. “O
nadas pelo engenheiro agrônomo Luiz
da Universidade Estadual Paulista (Unesp)
excesso é tão catastrófico ou mais que a
Roberto Guimarães Guilherme, pesquisa-
e Alexson Filgueiras Dutra, licenciado
deficiência. Por isso, há enorme desafio
dor e professor titular do Departamento
em Ciências Agrárias, doutorando do
para que a pesquisa possa estabelecer
de Ciência do Solo da UFLA/DCS. Luiz
Programa Agronomia (Ciência do Solo), da
o adequado manejo de fertilização de
Roberto é mestre em Solos e Nutrição
Universidade Estadual Paulista (Unesp).
culturas para que se possa proporcionar
de Plantas pela Escola Superior Agrícola
Segundo o relato, após diversas pesqui-
alimentos com concentrações adequadas
de Lavras ESAL, Ph.D. em Ciência do Solo
sas, em 1998, foi estabelecido o teor de 10
destes elementos essenciais á saúde do
pela Universidade Estadual de Michigan
mg/kg de selênio em fertilizantes, via solo,
ser humano”, explica.
(EUA) e em Toxicologia Ambiental pelo
Arroz, feijão, milho e soja recebem aplicação de selênio na UFLA
Pixabay
Selênio no Brasil
Em razão de sua escassez no ambiente,
Filipe Aiura Namorato e Luiz Roberto Guimarães Guilherme
AEAARP
Biofortificação de feijão com selênio
21
produção e resistência às pragas e doenças”, ressalta. “As empresas que produzem fertilizantes estão começando a adotar estratégias que visem não somente uma melhor nutrição das plantas, mas também dos seres humanos”.
Instituto de Toxicologia Ambiental (EUA).
cação agronômica não é limitada a apenas
Desde 2015, Luiz Roberto e seus colabo-
um mineral. “Estamos testando a estraté-
No Brasil, produtos com selênio ainda
radores vêm trabalhando em cooperação
gia múltipla, com a utilização do selênio,
não são comercializados, diferentemente
com o Programa Mundial HarvestPlus,
zinco e iodo, em trabalhos desenvolvidos
de outros países, como a China, que possui
coordenando as atividades do Projeto Har-
em parceria com a Empresa de Pesquisa
selênio até mesmo em uma bebida alcoó-
vestZinc no Brasil, uma importante iniciativa
Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG).
lica produzida a partir da fermentação de
que revela a viabilidade da estratégia de
Os resultados foram positivos, já que um
grãos. Mas a intenção dos pesquisadores
biofortificação agronômica para reduzir a
mineral não prejudicou o outro”, informa.
é que no futuro eles estejam ao alcance de
deficiência de micronutrientes (com foco
Os pesquisadores da UFLA também
toda a população. “Se conseguirmos que
especial em zinco, iodo e selênio), impac-
estão realizando um novo trabalho em
a estratégia de biofortificação agronômica
tando positivamente a saúde humana, espe-
parceria com a SelenoLife, empresa incu-
com selênio passe a ser política pública,
cialmente nos países em desenvolvimento.
bada na Universidade de São Paulo (USP),
como o iodo é no sal de cozinha, conse-
A UFLA já recebeu diversos prêmios
no Instituto de Pesquisas Energéticas e
guiremos levar alimentos mais nutritivos
relacionados ao trabalho realizado na área.
Nucleares (IPEN)/ Centro de Inovação,
para uma grande parte da população com
Em 2012, a tese “Biofortificação, variação
Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC).
custo razoável”, afirma.
genotípica e metabolismo envolvendo
A SelenoLife desenvolveu novas moléculas
O próximo objetivo dos pesquisadores da
selênio em alface e brócolis”, de autoria
contendo selênio e convidou os pesqui-
UFLA é iniciar experimentos com selênio
do engenheiro agrônomo e doutor em
sadores para avaliar se essas moléculas
em Plantas Alimentícias Não Convencionais
ciência do solo Sílvio Junio Ramos, rece-
eventualmente teriam maior eficiência
(PANCs), e em plantas condimentares. “O
beu o prêmio Capes de Teses, concedido
para levar o selênio até o grão. “Essas
selênio pode ser utilizado em muitas cul-
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
moléculas podem tornar a biofortificação
turas. Temos até um projeto para adicionar
Pessoal de Nível Superior (CAPES). A tese
agronômica mais eficiente”, destaca.
selênio na cerveja, por meio do enriqueci-
avaliou técnicas de biofortificação para
Mas, mesmo com bons resultados, Luiz
mento das leveduras”, adianta Luiz Roberto.
aumentar a disponibilidade de selênio em
Roberto enfatiza que a biofortificação
O Brasil já possui uma normativa para o
alface e brócolis.
agronômica não deve ser uma estratégia
uso do selênio em fertilizantes (Instrução
Atualmente, diversos trabalhos em cam-
isolada e sim associada à biofortificação
Normativa Nº 39, de 8 de agosto de 2018
po estão sendo realizados pela UFLA com
genética, que não funcionará se o solo
do Ministério da Agricultura, Pecuária e
a aplicação de selênio no arroz, no feijão,
tiver baixa quantidade de nutrientes. “Não
Abastecimento). Segundo o engenheiro
no milho e na soja, tanto na destinada à
adianta fazer seleção de plantas com mais
agrônomo, o teor de mineral autorizado
produção de óleo e farelo, quanto à alimen-
nutrientes, se o solo é pobre”, explica.
pela normativa é um pouco maior do que o
tação humana. Outra pesquisa paralela com
Segundo ele, hoje a nutrição humana
utilizado na Finlândia. “O solo do Brasil tem
uma grande produtora de soja acontece em
e animal é uma preocupação também
capacidade de reter mais o selênio, por isso
uma fazenda em Capão Bonito, no interior
dos pesquisadores da área agrícola e até
a dose nos fertilizantes é maior”, destaca.
de São Paulo, e visa melhorar a qualidade
mesmo de empresas do setor de fertili-
nutricional da soja para exportação. Segun-
zantes. “Tenho sido procurado por muitos
do Luiz, as culturas que serão trabalhadas
especialistas na área de melhoramento
são escolhidas de acordo com o teor de
de plantas que buscam informação sobre
proteína. “Quanto mais proteína, melhor
a biofortificação agronômica para tornar
será a absorção do selênio”, explica.
a cultura mais nutritiva. Antes a maior
O especialista destaca que a biofortifi-
preocupação era com a quantidade da
Veja a normativa na íntegra no site da AEAARP
www.aeaarp.org.br
Revista Painel
22
Daniela Antunes
Obra
O estádio em obras
O estádio que virou arena Conheça o projeto que está transformando o Estádio Santa Cruz em Arena Eurobike
N
em só de futebol vive um estádio. Pelo menos, não nos tempos atuais. A construções
das arenas usadas na Copa de 2016, com todas as argumentações que justificavam suas dimensões faraônicas, pautaram no Brasil um novo conceito para o palco do maior espetáculo do esporte brasileiro, o
Trata-se da mais ambiciosa intervenção
Bagatin, responsável técnico pela obra, o
futebol. No segundo semestre de 2018,
de engenharia civil em um campo de fu-
investimento será de R$ 30 milhões e re-
Ribeirão Preto entrou na rota desses in-
tebol da cidade; no caso, o Estádio Santa
sultará na repaginação de um dos lados do
vestimentos e já em abril deste ano deve
Cruz, a casa do time do Botafogo. De
estádio, aquele reconhecido pela torcida
ser inaugurada a Arena Eurobike.
acordo com o engenheiro Luís Antônio
como “churrasqueira”.
AEAARP
23
A obra soma cinco mil metros quadrados de arquibancadas, camarotes e sanitários. Na área dos camarotes, que são objeto de negociação para aluguel, serão instalados estabelecimentos comerciais de alto padrão – lojas, restaurantes, bares etc.
A arquibancada com cadeiras cativas
Toda repaginação do estádio, explica o
terá três pavimentos e todo o conjunto
engenheiro Luís Antônio, integra um novo
vai ampliar a capacidade do estádio de 30
plano de gestão do lugar, que admitiu a
mil para 42 mil pessoas sentadas. Foram
transformação do clube em empresa e a
instalados também novos sanitários, com
cessão para a iniciativa privada. Além dos
torneiras e espelhos antivandalismo e
jogos de futebol, a Arena estará capacitada
acabamento de primeira linha. Na obra,
para receber grandes eventos, como shows.
são usados elementos pré-fabricados
O Estádio Santa Cruz foi inaugurado em
Daniela Antunes
metálicos e de concreto.
O estádio em obras
1958 e passou por algumas reformas no
O projeto é do engenheiro civil Walter
decorrer dessas seis décadas. Nenhuma
Follador Júnior, que atuou como gerente
dessa magnitude, garante Luís Antônio,
de manutenção do estádio do Morumbi,
que responde pela engenharia de segu-
em São Paulo (SP).
rança do estádio há 30 anos.
Revista Painel
24 CREA-SP
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Resolução nº 1.107, de 28 de novembro de 2018 Art. 1º Discriminar as atividades e compe-
radiação em geral e pressões anormais,
XI - especificar, controlar e fiscalizar
tências profissionais do engenheiro de saúde
caracterizando as atividades, operações
s i s t e m a s d e p rot e ç ã o co l et i va e
e segurança e inserir o respectivo título na
e locais insalubres e perigosos;
equipamentos de segurança, inclusive os
Tabela de Títulos Profissionais do Sistema Confea/Crea, para efeito de fiscalização do exercício profissional. Art. 2º Compete ao engenheiro de saúde e segurança o desempenho das seguintes atividades:
V - analisar riscos, acidentes e falhas, investigando causas, propondo medidas preventivas e corretivas e orientando
XII - opinar e participar da especificação para aquisição de substâncias e equipa-
VI - propor políticas, programas, normas e
tecnicamente os serviços de Engenharia
zelando pela sua observância; VII - elaborar projetos de sistemas de
II - estudar as condições de segurança
segurança e assessorar a elaboração de
dos locais de trabalho e das instalações e
projetos de obras, instalação e equipa-
equipamentos, com vistas especialmente
mentos, opinando do ponto de vista da
aos problemas de controle de risco, con-
Engenharia de Segurança;
ergonomia, proteção contra incêndio e saneamento; III - planejar e desenvolver a implantação de técnicas relativas a gerenciamento e controle de riscos;
VIII - estudar instalações, máquinas e equipamentos, identificando seus pontos de risco e projetando dispositivos de segurança; IX - projetar sistemas de proteção contra incêndios, coordenar atividades de com-
IV - vistoriar, avaliar, realizar perícias,
bate a incêndio e de salvamento e elaborar
arbitrar, emitir parecer, laudos técnicos e
planos para emergência e catástrofes;
indicar medidas de controle sobre grau de exposição a agentes agressivos de riscos físicos, químicos e biológicos, tais como poluentes atmosféricos, ruídos, calor,
qualidade e eficiência;
trabalhos estatísticos, inclusive com res-
regulamentos de Segurança do Trabalho,
trole de poluição, higiene do trabalho,
contra incêndio, assegurando-se de sua
peito a custo;
I - supervisionar, coordenar e orientar de Segurança do Trabalho;
de proteção individual e os de proteção
X - inspecionar locais de trabalho no que se relaciona com a segurança do Trabalho, delimitando áreas de periculosidade;
mentos cuja manipulação, armazenamento, transporte ou funcionamento possam apresentar riscos, acompanhando o controle do recebimento e da expedição; XIII - elaborar planos destinados a criar e desenvolver a prevenção de acidentes, promovendo a instalação de comissões e assessorando-lhes o funcionamento; XIV - orientar o treinamento específico de Segurança do Trabalho e assessorar a elaboração de programas de treinamento geral, no que diz respeito à Segurança do Trabalho; XV - acompanhar a execução de obras e serviços decorrentes da adoção de medidas de segurança, quando a complexidade dos trabalhos a executar assim o exigir; XVI - colaborar na fixação de requisitos de aptidão para o exercício de funções, apontando os riscos decorrentes desses exercícios;
AEAARP
25
XVII - propor medidas preventivas no
XXII – elaborar laudo de avaliação ergo-
sejam acrescidas na forma disposta em
campo da Segurança do Trabalho, em face
nômica, previsto na NR-17;
resolução específica.
do conhecimento da natureza e gravidade das lesões provenientes do acidente de trabalho, incluídas as doenças do trabalho; XVIII - informar aos trabalhadores e à comunidade, diretamente ou por meio de seus representantes, as condições que possam trazer danos a sua integridade e as medidas que eliminam ou atenuam estes riscos e que deverão ser tomadas; XIX – elaborar programa de condições e meio ambiente do trabalho na indústria da construção - PCMAT, previsto na NR-18; XX – elaborar programa de prevenção de riscos ambientais – PPRA, previsto na NR-09;
XXIII – elaborar programa de proteção respiratória, previsto na NR-06; e XXIV – elaborar programa de prevenção da exposição ocupacional ao benzeno – PPEOB, previsto na NR-15. Art. 3º As competências do engenheiro saúde e segurança são concedidas por esta resolução sem prejuízo dos direitos e prerro-
Art. 5º O engenheiro de saúde e segurança integrará o grupo ou categoria Especial, modalidade Especial. Parágrafo único. O respectivo título profissional será inserido na Tabela de Títulos Profissionais do Sistema Confea/Crea conforme disposto no caput deste artigo e da seguinte forma:
gativas conferidos ao engenheiro, ao enge-
I - título masculino: Engenheiro de Saúde
nheiro agrônomo, ao geólogo ou engenheiro
e Segurança;
geólogo, ao geógrafo e ao meteorologista por meio de leis ou normativos específicos. Art. 4º As atividades e competências p rof i s s i o n a i s s e rã o co n ce d i d a s e m
XXI - elaborar programa de conservação
conformidade com a formação acadêmica
auditiva;
do egresso, possibilitadas outras que
II - título feminino: Engenheira de Saúde e Segurança; e III - título abreviado: Eng. Saúde Seg. Art. 6º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Revista Painel
26 Notas
Agenda AEAARP
Novos Associados Ana Maria Furtado Cardoso Arquiteta e urbanista
Confira os eventos já programados pela Associação para este ano. Confira mensalmente os detalhes no Portal AEAARP e nas redes sociais.
Camila Martins Nogueira Engenheira civil José Rubens Pereira de Souza
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Engenheiro civil Antônio Carlos Castro Vieira Técnico em eletrotécnica José Ricardo Benedeti Técnico em eletrotécnica
Fevereiro 15 Pré-carnaval 19 Movimento AgTech 23 Plantio de árvores
Março
Maria Gabriela Pereira Macedo
07 Sarau das mulheres 16 AEAARP na praça (plantio de árvores) 18, 19 e 20 Semana de Tecnologia da Construção
Estudante de engenharia civil
Abril 05 Posse diretoria 16 Movimento Agtech
Maio 09 Sarau Dia das Mães 20, 21 e 22 Semana de agronomia 28 AgTech Day
Junho 03, 04 e 05 Semana do Meio Ambiente 14 Festa junina
Junho 11 Sarau
Agosto 19, 20 e 21 Semana de Arquitetura 23 Jantar dos Arquitetos
Setembro 12 Sarau da Primavera 21 Almoço beneficente
Outubro 05 Almoço dos Agrônomos 18 Oktoberfest 21, 22 e 23 Semana de Engenharia
Novembro 07 Sarau
Dezembro 06 Festa de final de ano
AEAARP