O P E R A Ç Ã O [C U R A]
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
ORIENTANDO FERNANDA CAROLINE DE LIMA
ORIENTADORA: PROF.ª DR.ª ARQ. MÔNICA MANSO MORENO
CIRCUITO PRODUTIVO
BIXIGA-SP
A PAISAGEM LOCAL COMO ESTRATÉGIA NA RENOVAÇÃO URBANA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO FACULADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
CAMPINAS - 2017
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AGRADEÇO Aos meus pais Celia e Nilton por todo o esforço realizado e carinho dedicado para que mais esta etapa se concluísse e que foram parte essencial deste resultado. A Toda minha família em especial Niara, Nair e Adelina por não duvidarem em nenhum momento de minha capacidade e me apoiarem em todas as decisões durante este percurso. Aos amigos que a FAU me presenteou, que dividiram suas motivações e incertezas a cada novo desafio e que a partir de agora compartilho da profissão. Aos amigos de toda uma vida e aos inesperados amigos do CSF pela compreensão e apoio durante os momentos mais delicados e de crescimento pessoal. Ao meu grupo de TFG pela dedicação e parceria durante esse ano de aprendizado e por compartilharem o sonho de realizar uma arquitetura mais humana. Todos os mestres que foram extremamente generosos transmitindo seus conhecimentos e sensibilidade dentro e fora da sala de aula e principalmente à minha orientadora Mônica pela confiança, liberdade e respeito durante todo o processo percorrido. A todos que me acompanharam por esses longos anos e que com toda certeza fizeram desta trajetória um pouco mais leve ofereço um pouco deste trabalho e minha mais sincera gratidão.
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“o bixiga é um estado de espírito” Armandinho do Bixiga 6
SP[SUMÁRIO] I BX I OS I OC
1. APRESENTAÇÃO.............................................................08 2. TERRITÓRIO...................................................................11 3. PROPOSTA....................................................................20 4.PROGRAMA...................................................................22 4.1.PRODUÇÃO........................................................................24 4.2.COMERCIALIZAÇÃO............................................................34 4.3. MOBILIDADE....................................................................36
5. DETALHAMENTOS.........................................................38 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................40 7.BIBLIOGRAFIA...............................................................42
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[APRESENTAÇÃO]
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O trabalho final de graduação apresentado a seguir propõe o redesenho da área da nascente do rio Saracura respeitando sua naturalidade e espaço, visando integrar o contexto urbano da área do Bexiga com a historia de seu surgimento. Propõe também a criação de um circuito produtivo que busca de uma forma processual a transformação do indivíduo, atraves da producao e venda da horticultura, dando-lhes a possibilidade de uma autonomia que na maioria das vezes lhe é negada pelo simples fato de não serem considerados parte da sociedade. Possibilitando assim a reinserção dos indivíduos em situação de rua e pessoas em situação de vulnerabilidade social como membros ativos da sociedade.
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[TERRITÓRIO]
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O Projeto em questão está localizado no setor denominado Grotas, ocupando toda a extensão de uma quadra. Traz a proposta de rearticulação do tecido urbano e de reconexão do território com as pessoas através da criação de uma infraestutura com elementos sócio-cultarais ja presentes na dinâmica urbana do bairro Bixiga e conexão das escalas macro (da cidade) e micro (do bairro) a partir do momento em que o território considerado barreira se torna centralidade.
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Com uma geografia tumultuada, o bairro apresenta características como topografia acidentada delimitando as áreas propicias a construções, possuindo desta forma muitos lotes de difícil implantação de edificação. O território do bairro do Bixiga pode ser definido de uma forma resumida como um “mar de morros” o que faz com que a estruturação do espaço urbano em algumas áreas se torne um desafio enquanto os rios e nascentes presentes no territorio se encontram canalizados.
GUSMAO, Ricardo. Sao Paulo. Caderno TFG pag 28.
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O Projeto em questão esta localizado no setor denominado Grotas ocupando toda a extensão de uma quadra. Em suas diversas formas de ocupação o projeto buscou o uso de áreas livres e lotes subutilizados que possibilitariam uma maior integração do programa proposto com seu entorno imediato. A area estudada possui baixo gabarito, que justificaram as medidas de altura padrão de até dois pavimentos, porém a área se encontra cercada por altos edifícios prejudicando a visão, insolação, ventilação e conforto térmico da área assim como a paisagem do conjunto. Area de intervenção: aprox. 12.500m2
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Google EARTH, Base Satelite, 2017.
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Google Earth, Rua Dr. Seing, Sao Paulo, 2017
Google Earth, Rua Rocha, Sao Paulo, 2017
Google Earth, Rua Rocha, Sao Paulo, 2017
Google Earth, Rua Rocha, Sao Paulo, 2017
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[PROPOSTA]
REQUALIFICAÇÃO DA GROTA DO SARACURA ATRAVÉS DA RECUPERAÇÃO DE SUA MEMÓRIA HÍDRICA E CRIAÇÃO DE UM PARQUE DIRETAMENTE RELACIONADO COM UM SISTEMA DE HORTICULTURA. VISANDO ASSIM A INTEGRAÇÃO DAS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA AO SISTEMA PRODUTIVO E GERAÇÃO DE RENDA.
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CONCEITOS MEMÓRIA HÍDRICA Recuperação da qualidade das águas e das funções ecológicas, inserindo o rio na paisagem urbana e o considerando parte do sistema produtivo, buscando a revitalização da área grota do Saracura, através da recuperação de sua memória hídrica.
AUTONOMIA FINANCEIRA Sistema produtivo de horticultira integrado ao parque que possibilita a geração de renda alternativa e através da rotina de produção e venda dos produtos locais. O programa será desenvolvido como foco principal a geração de renda e reinserção dos indivíduos na sociedade.
PERTENCIMENTO AO ESPAÇO Recuperação da ideia de comunidade e importância dos espaços públicos locais, visando a melhoria da saúde publica e tributos de urbanidade através da qualificação dos espaços públicos.
[PROPOSTA] 21
[PROGRAMA]
Uma cuidadosa analise da área de intervenção e de seu entorno foram realizadas para criação de um programa aberto e inclusivo, que leva em conta as características físicas, morfológicas, culturais e sociais da região. Após análise feita no local de projeto e levantamento do entorno, percebeu-se que as características paisagísticas e topográficas são muito marcantes, além do contraste social do bairro com seu entorno e as diferentes tipologias edilícias. Deste modo, o projeto visa como partido A INTEGRAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL A PAR TIR DOS ELEMENTOS NATURAIS.
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PRODUÇÃO Centro de apoio produtivo com a infraestrutura necessária para a manutenção, organização e comercialização dos produtos cultivados. Áreas de topografia acidentada projetada para utilização na horticultura observando sistemas alternativos de drenagem e a utilização das aguas do rio Saracura.
COMERCIALIZAÇÃO Passarela de transposição com uso comercial como forma de incentivo ao comércio local.
MOBILIDADE O projeto propõe uma área de estacionamento tanto para apoio para a implantação do programa proposto quanto como forma de apoio ao transporte público da cidade de São Paulo, já que está localizada em ponto estratégico e diretamente ligada ao terminal de ônibus e a nova linha laranja do metro, criando assim um circuito para quem utiliza o transporte público como alternativa de deslocamento.
DIAGRAMA
DE
DISTRIBUIÇÃO
DE
PROGRAMA
[PROGRAMA]
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PRODUÇÃO
Foto: Lucas Lima. Rua Rocha/UOL
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Reconhecer o rio como paisagem, portanto, é habitar o rio. COSTA, 2006, Pg.11
A criação do Parque Saracura busca a integração entre o sistema produtivo e o reconhecimento desse local como parte da cidade instigando a sensação de pertencimento da comunidade e buscando a reintegração e readaptação dos indivíduos em situação de vulnerabilidade social de uma forma processual. Nesta operação urbana, o rio deixa de ser um divisor do território e passa a ser um integrador de espaços, gerando uma indubitável centralidade, marcada por um grande parque.
IMPLANTACAO GERAL
[PROGRAMA]
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IMPLANTACAO SETOR PRODUTIVO
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A inserção no projeto com seu entorno é de extrema importância, propondo não uma nova lógica, mas sim a articulação entre o novo (arquitetura) e o existente (natureza). Através do redesenho das áreas de apropriação do uso público do solo, o projeto visa ressignificar o local através da criação de infraestrutura, ao mesmo tempo em que respeita a característica topográfica do local.
O projeto tem como partido a utilização das áreas das coberturas em detrimento da produção de horticultura e criação de um parque público. Se fundamentando nos princípios da requalificação, recriação e ressignificação do território. -REQUALIFICAno sentido da criação de novas estruturas. -RECRIA no âmbito do uso do solo. -RESSIGNIFICA a relação homem-natureza. A horticultura trata do cultivo de plantas de horta, pomar, estufa e jardim. Colhem-se de 6 a 12 Kg de hortaliças por metro quadrado com técnicas apropriadas.
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IMPLANTACAO SETOR PRODUTIVO
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A cota 785 abriga a área de apoio voltada a integração e recebimento da comunidade como forma de primeiro contato e entendimento da proposta do projeto para a comunidade. O programa neste nível conta com área de acolhimento com sanitários, copa de uso coletivo e áreas administrativas para informações e atendimento ao público. Salas de capacitação flexíveis permitem um primeiro contato dos trabalhadores com informações mais especificas sobre o processo de cultivo, tornando assim o trabalho também uma forma de aprendizado. Estas salas recebem o apoio de oficina para equipamentos assim como um deposito de materiais que se abre para a praça, facilitando assim o acesso dos trabalhadores as ferramentas necessárias para trabalho.
[PROGRAMA]
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A cota 781 é composta por uma área de uso livre coberta, oferecendo à população espaço para improvisação de eventos como feiras livres, mostras de artes, artesanatos, legitimando o uso do parque como área pública. Além de também possuir etapas especificas do processo produtivo de horticultura como salas de embalagem, limpeza e armazenamento devido ao aproveitamento da topografia plana do nível à facilidade de acesso.
“O poeta faz agricultura às avessas: numa única semente planta a terra inteira”. Mila Couto -“Tradutor de chuvas”. Lisboa: Editorial Caminho, 2011, p. 71).
[PROGRAMA]
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A cota 775 é voltada majoritariamente ao uso público. Possuindo vestiários e banheiros públicos, tanto para utilização dos trabalhadores na área de produção quanto aos usuários do parque. Uma área de estoque de materiais de trabalho facilitando o acesso de trabalhadores ao local de retirada e entrega dos mesmos. O afloramento da nascente se faz como fator determinante para o desenho da encosta, gerando qualidade urbana e reconhecimento da história do bairro através do renascimento da água no território. Trazendo também um anfiteatro para espetáculos e eventos públicos com a função primordial de promover a comunhão social e aproximar os atores da plateia, possui relação da água do rio através de um espelho d’agua, relembrando a memória do rio Saracura para os usuários do parque.
[PROGRAMA]
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COMERCIALIZAÇÃO
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PERCURSO Com o termo “percurso” indicam-se ao mesmo tempo, o ato da travessia (o percurso como ação do caminhar), a linha que atravessa o espaço (o percurso como objeto arquitetônico) e o relato do espaço atravessado (o percurso como estrutura narrativa). Pretendemos propor o percurso como forma estética à disposição da arquitetura e da paisagem.” (CARERI, “Walkscapes”, 2015, pg.31)
Todo o sistema produtivo será percorrido até a passarela que pode ser utilizada para uso comercial, permitindo assim a venda da produção local e consequentemente uma forma de geração de renda alternativa. Pressuposto de que o espaço publico é o espaço do conflito dos enfrentamentos das diferenças porém também permitem o encontro entre aqueles que moram, trabalham ou apenas passam. É proposta a criação de uma passarela como eixo principal, voltada à escala local e articuladora da vida cotidiana, trazida com a proposta de ser protagonista da infraestrutura urbana e não elemento secundário como resposta ao sistema viário. Um percurso que pode sempre ser comparado com uma narrativa, que vai alem da ideia de ligação entre dois pontos,e se torna parte do cotidiano do bairro.
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MOBILIDADE
LIGACAO
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COM
TERMINAL
Arquitetura aberta, fluida valorizando o espaço vazio, a proposta de uma transposição para área como forma de ponto de partida para o programa definido. O projeto propõe uma área de estacionamento tanto para apoio para a implantação do programa proposto quanto como forma de apoio ao transporte público da cidade de São Paulo, já que está localizada em ponto estratégico e diretamente ligada ao terminal de ônibus e a nova linha laranja do metro, criando assim um circuito para quem utiliza o transporte público como alternativa de deslocamento. Uma área de caráter versátil que pode ser utilizada como local de comercio e expressão de uso publico.
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[DETALHAMENTOS]
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Buscando a valorização dos espaços verdes e acesso da população às margens do rio e nas áreas onde a topografia cria diferentes cenários e possibilidades há o desafio de integrar o desenho urbano com um sistema produtivo que deve ser realizado em patamares que possibilitam a expansão ou redução da produção conforme a demanda e participação dos envolvidos.
Para a contenção do terreno e redesenho da encosta foi utilizado o método cortina de estacas.
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Vi ontem um bicho Na imundice do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As apropriações do espaço público e suas formas de utilização deverão legitimar o projeto e terão o poder de transformar o espaço em lugar. Portanto, o projeto foi desenvolvido através de um acompanhamento das narrativas que possibilitaram a criação de um programa que se molda conforme o caráter da coletividade de cada indivíduo e não busca moldá-los conforme o caráter do projeto. Um espaço de importante conexão da cidade com seus habitantes que se transforma em parte fundamental de uma trama que reconhece o caráter de resistência da área.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993. GNASCIMENTO, Larissa. “Lembrança eu tenho da Saracura”: notas sobre a população negra e as reconfigurações urbanas no bairro do Bexiga. Rio de janeiro: Intratextos, 2014. GRUNSPUN, Haim. O Bexiga: Anatomia de um bairro. São Paulo: Ibrasa, 1979. LUCENA, Célia Toledo. Bixiga, amore mio!. São Paulo: Pannartz, 1983. MORENO, Júlio. Memórias de Armandinho do Bixiga. São Paulo: SENAC, 1996. ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei – Legislação, Política Urbana e Territórios na Cidade de São Paulo. São Paulo: Fapesp, 1997. SCHENECK, Sheila. Formação do Bairro do Bexiga em São Paulo: Loteadores, Proprietários, Consultores, Tipologias Edilícias e Usuários (1881-1913). Dissertação de Mestrado, FAU USP. São Paulo, 2010
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WEBGRAFIA BUSO, Isabel. Trabalho de conclusao de curso de arquitetura e urbanismo, SENAC - SP. Sao Paulo, 2016 CARVALHO, Fabíola Araújo de. Caminho das águas: A água na cidade de São Paulo. Artigo científico, Faculdade Belas Artes. São Paulo, 2013. Disponível em: < http://www.belasartes.br/revistabelasartes/downloads/ artigos/13/caminho-das-aguas-a-agua-na-cidade-de-sao-paulo.pdf> GUERRA, Abilio. ‘Grotao do Bixiga”. Arquiteturismo, Sao Paulo, ano 06 n.064.01. Vitruvius MUSTO, Alessandra. Do limite à centralidade. Trabalho Final de Graduação, FAU Mackenzie. São Paulo, 2016. Disponível em: < https://issuu. com/alessandramusto/docs/monografia>
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