Operação [Cura] - Thaissa Ferreira

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O P E R A Ç Ã O [C U R A]




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Thaissa da Silva Ferreira

RU.A | [República Autônoma]

Acompanha o processo de transição das pessoas que estão em situação vulnerável para a vida autônoma.

Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUCAMP - sob orientação da professora Dra. Mônica Manso Moreno Campinas SP - 2017

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Não somos lixo Não somos lixo. Não somos lixo e nem bicho. Somos humanos. Se na rua estamos é porque desencontramos. Não somos bicho e nem lixo. Nós somos anjos, não somos o mal. Nós somos arcanjos no juízo final. Nós pensamos e agimos, calamos e gritamos. Ouvimos o silêncio cortante dos que afirmam serem salvos Não somos lixo. Será que temos alegria? Às vezes sim... Temos certeza o pranto, a embriaguez, A lucidez dos sonhos da filosofia. Não somos profanos, somo humanos. Somos filósofos que escrevem. Suas memória nos universos diversos urbanos. A selva capitalista joga sua chacais sobre nós. Não somos bicho nem lixo, temos voz. Por dentro da caótica selva, somos vistos como fantasmas, Existem aqueles que se assutam. Não somos mortos, estamos vivos. Andamos em labirintos. Depende de nossos instintos. Somos humanos nas ruas, não somos lixo. Carlos Eduardo (Cadu) Morador de rua em Salvador.

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À todos que cooperaram, seja com apoio, conselhos, colaboração, participação, ou apenas com pensamentos positvos..

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Agradeço À minha orientadora, Mônica Moreno por acreditar no desenho, pela sensibilidade em indicar os primeiros caminhos, as primeiras bibliografias; e acima de tudo, pela, paciência e dedicação na orientação. À Reinaldo Ricarte (O Rei), por apresentar o melhor da Arquitetura; pelas conversas em sua livraria, onde aprendi muito mais sobre o que é ser arquiteto, do que em qualquer livro. Aos meus amigos pelo carinho dos seus abraços apertados e reconfortatntes, pelas danças malucas e por me fazerem acreditar que podemos construir amizades verdadeiras. À minha mãe, Norma, pelo exemplo de força, pelo amor que transborda em sempre querer fazer o melhor para todos nós. Ao meu pai, Paulo, pela sabedoria e humor; pela presença que acalma. Aos dois, pela confiança. À minha irmã, Tatiane, pela generosidade, por sempre depositar em mim as melhores expectativas. Ao André, por ter se revelado um companheiro para a vida. Obrigado pela constante valorização do meu trabalho, carinho e pelo companheirismo inigualável que tenho a sorte de ter ao meu lado. À todos os professores com os quais conversei ao longo desse percurso e que fizeram a diferença no processo da minha formação acadêmica e à aqueles que se interessaram em contribuir e estar presentes nesta banca. Ao meu grupo de TFG, que idealizaram e sentiram comigo a força de um território constante e heterôgêneo que nos fez descobrir a importância do corpo do espaço como forma de entedê-lo e modificá-lo. Obrigada, á todos que mesmo aqui não citados, fazem parte da minha vida.

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WW

0. Considerações Iniciais Apresentação Introdução

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1. Fundamentação Teórica O Tema O Lugar A Metodologia e Resposta

2. Operação Sara[cura] Setores de Intervenção Setor 13 de Maio

3. Operação [Cura] A Quadra Urbana O Desenho de Quadra A Ocupação de Quadra Arquitetura como espaço Arquitetura Flexível Arquitetura como Construção Inquietações Gráficas Referências Bibliográficas

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0. C onsideraçþes I niciais

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Considerações Iniciais

Apresentação Este trabalho está dividido em quatro capítulos – ou etapas. A primeira apresenta o diagnóstico e o enfrentamento em que se justifica esse trabalho. A segunda, a partir da fundamentação teórica é possível discursar sobre o tema, o lugar e a metodologia, buscando ensaios e propostas. Na terceira etapa apresenta-se a Operação5 Sara[cura], que elaborada juntao à equipe de trabalho de graduação final, descreve o caminho que o grupo percorreu para a síntese do trabalho final. Sendo que, na última e quarta etapa, estabelece a Operação [Cura], com a proposta, que consiste na reformulação do desenho do miolo de quadra, com a introdução de equipamentos sociais como articuladores do território.

Nômades Contemporâneos

Áreas Residuais

Resgate

Indivíduo

[Indivíduos]

[Programas]

[Operação Saracura]

[Operação Cura]

[Autonomia] [Autogestão] [Cidadania]

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I ntrodução 17


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Introdução

A cidade é para quem. A construção desse projeto de graduação, partiu da pretensão de sintetizar as reflexões sobre a minha própria identidade no que tange às minhas escolhas dentro do papel social do arquiteto-urbanista. Desse modo, a linha que conduz o estudo pauta-se na relação do espaço público como agente urbano de suporte, (re) produtor e produto das relações sociais. Justamente por este motivo, este trabalho ensaia o resgate da população vulnerável das ruas, que vive e convive com nesse espaço apropriando-se dele todos os dias em relação de intimidade. A identificação das áreas residuais, passa ser então, a chave para atender a demanda de equipamentos sociais capazes de abrigar esse gradiente entre a esfera do espaço formal e informal. Sob esse viés - do espaço residual como território - redesenhálo faz com que seja possível reconhecer os direitos civis daqueles que não os possuem, a fim de repensar essa condição predominante do urbanismo excludente frente a outras possíveis perspectivas e estratégias de conclusão.

LOCALIZADA NO VIADUTO ALCÂNTARA MACHADO, A OCUPAÇÃO É MORADIA PARA MAIS DE 150 PESSOAS, ENTRE HOMENS, MULHERES, CRIANÇAS E IDOSOS EM SITUAÇÃO DE RUA . FONTE: HTTPS://PONTE.ORG/OCUPACAO-DE-SEM-TETO-RESISTE-A-REINTEGRACAO-DE-POSSE-EM-SAO-PAULO/

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1. F undamentação T eórica

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O T ema 23


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O Tema

Nômades Contemporâneos De acordo com censo realizado pela Prefeitura de São Paulo em 2015 (FIPE), a cidade abriga quase 16 mil pessoas que se enquadram como população em situação de rua. Não existem estatísticas nacionais atualizadas sobre o tema, já que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda não inclui os indivíduos em situação de rua no Censo¹. Sabe-se, porém, que a taxa de crescimento da população em condições de rua supera a própria taxa de crescimento da população de São Paulo, sendo 4,1% e 0,7 %, respectivamente, entre os anos de 2000 e 2015² (ver dados ao lado). Esse volume e ritmo de crescimento dessa parcela da população, representa a situação atual econômica do país e a ampliação das condições de desigualdade social e da exploração do trabalho, uma vez que 10,7% pessoas possuem um trabalho formal, porém necessitam dormir em abrigos e 2,6% ainda dormem nas ruas. O sociólogo Igor Rodrigues, que escreveu a tese sobre a construção social dos moradores de rua na cidade de Juiz de Fora³, defende que a vida dessas pessoas é muito pública, o espaço mais íntimo da população de rua é justamente o espaço público. E isso dá margem para que políticas públicas proponham acabar com o “incômodo” causado por elas, o higienismo seleciona a dignidade e a cidadania das pessoas: quando falamos da retirada das cobertas, estamos falando de direitos fundamentais, inclusive de direito à propriedade. Nesse contexto, iniciativas como abrigos de emergência, auxiliam a população mais fragilizada a estabelecer um canal mais próximo com a inclusão social, porém estão distantes de atender às necessidades de uma população tão diversa, que necessita ser enxergada em sua condição humana como indivíduo, e não como uma massa. No entanto, orienta utilizar-se do apoio de políticas com qualidades específicas para cada caso, para a defesa da (re)conquista da autonomia civil desses andarilhos da cidade.

PERFIL DOS MORADORES DE RUA, DA CIDADE DE SÃO PAULO E DO BAIRRO BELA VISTA-SP. FONTE> SMDS/FIPE (COMPLEMENTO DO CENSO DA POPULACÃO EM SITUACÃO DE RUA DA CIDADE DE SÃO PAULO 2015)

[01] REVISTA GALILEU. ED. MAR17.REPORTAGEM CRISTINE KIST E THIAGO TANJI [02]SMDS/FIPE (COMPLEMENTO DO CENSO DA POPULACÃO EM SITUACÃO DE RUA DA CIDADE DE SÃO PAULO 2015) [03] DISSERTAÇÃO DE MESTRADO / A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO MORADOR DE RUA: O CONTROLE SIMBÓLICO DA IDENTIDADE. RODRIGUES, IGOR DE SOUZA

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O Tema

Quem tem que falar agora é a rua. A busca por uma cidade para todos, integrada, acolhedora e que priorize, acima de tudo, as pessoas, é urgente. O direito à cidade é urgente. A partir da compreesão da desigualdade social como elemento estruturador da sociedade brasileira e do território nacional, a migração oriunda de outras partes do país para a cidade de São Paulo ocorreu em um período de Pós-Guerra. Com o impulso da industrialização, ao chegar em São Paulo, estes migrantes, buscando melhores condições de vida encontraram um ambiente menos favorável à ascensão social que os imigrantes europeus, pois os mesmos já ocupavam os cargos qualificados dos postos de trabalho, restando aos nordestinos oportunidades subalternas e não qualificadas. E com a continuidade dos processos de migração, grande parcela deles, não encontraram oportunidades de empregos e acabaram por ocupar as ruas da capital paulistana. E de acordo com os dados de pesquisa do SMDS/FIPE (Censo da População de em situação de rua na cidade de são Paulo), os residentes da rua constituem em: 73% migrantes e 21% paulistanos - sendo que no bairro do Bela Vista - possui atualmente o número de 909 pessoas em relação a 15.905 de pessoas nas ruas do município de São Paulo. [1] O termo vulnerabilidade carrega em si a idéia de procurar compreender primeiramente todo um conjunto de elementos que caracterizam as condições de vida e as possibilidades de uma pessoa ou de um grupo – a rede de serviços disponíveis, como escolas e unidades de saúde, os programas de cultura, lazer e de formação profissional, ou seja, as ações do Estado que promovem justiça e cidadania entre eles – e avaliar em que medida essas pessoas têm acesso a tudo isso. Ele representa, portanto, não apenas uma nova forma de expressar um velho problema, mas principalmente uma busca para acabar com velhos preconceitos e permitir a construção de uma nova mentalidade, uma nova maneira de perceber e tratar os grupos sociais e avaliar suas condições de vida, de proteção social e de segurança. É uma busca por mudança no modo de encarar as populações-alvo dos programas sociais (Adorno,2001, p.12). PERFIL DOS MORADORES DE RUA, DA CIDADE DE SÃO PAULO E DO BAIRRO BELA VISTA-SP. FONTE> SMDS/FIPE (COMPLEMENTO DO CENSO DA POPULACÃO EM SITUACÃO DE RUA DA CIDADE DE SÃO PAULO 2015)

Contudo, a mudança pode ser dada a partir da utilização de mão-de-obra autônoma e independente que caracteriza esses indivíduos. Dessa forma, é fundamental o questionamento do papel da arquitetura e das políticas sociais na reconfiguração desse cenário através da proposição de equipamentos sociais que priorizem a necessidade de inclusão econômica desse nômade, que exerceriam sobre o território urbano a representação do enfrentamento de um sistema econômico excludente, uma vez que, coloca as pessoas em vulnerabilidade social¹como protagonista dessa mudança. No entanto, apesar das diversas discussões sociais sobre o assunto, pessoas são violentadas diariamente, são embutidos na identidade do morador de rua diversos mitos – de que não trabalha e escolhe os sofrimentos pelas próprias vontades – ou que depende de si próprio ou da sua força de vontade para superar sua condição. Com base nesses argumentos, são implementadas políticas públicas autoritárias e paternalistas que atuam contrárias à dignidade desses cidadãos, ignorando seus direitos, pelo simples fato de não entender que a rua tem: cor, voz e vontade.

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O Tema

Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto

LOCALIZADA NO VIADUTO ALCÂNTARA MACHADO, A OCUPAÇÃO É MORADIA PARA MAIS DE 150 PESSOAS, ENTRE HOMENS, MULHERES, CRIANÇAS E IDOSOS EM SITUAÇÃO DE RUA . FONTE: HTTPS://PONTE.ORG/OCUPACAO-DE-SEM-TETO-RESISTE-A-REINTEGRACAO-DE-POSSE-EM-SAO-PAULO/

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O L ugar 31


LOCALIZAÇÃO REGIONAL

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O Lugar

Bixiga: Um bairro Afro-Ítalo-Nordestino O Bixiga foi eleito para uma investigação projetual, devido a leitura de sua geografia, diversidade de usos, cultura e localização. Localizado no subdistrito da Bela Vista, o bairro se encontra em uma macroárea de reestruturação e requalificação de acordo com o Plano Diretor Municipal. Os Campos do Bixiga tinham seus limites territoriais no que hoje são Avenidas Brigadeiro Luís Antônio, Avenida Paulista e Praça da Banedira. Configuravam-se como rancho para pouso de tropas que buscavam descanso à beira do Saracura, assim como também eram abrigo para grande quantidade de de negros escravos refugiados. Foi no final do século XIX quando os primeiros grupos italianos vindos principalmente do sul da Itália, chegaram no bairro Bela Vista e se misturaram com os negros que lá viviam. A partir daí o bairro ganhou ares europeus, principalmente em suas construções - a mistura de cultura resultou em um perfil ímpar de cultura e resistência.

LOCALIZAÇÃO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Em constante desenvolvimento, no meio do século XX, o Bela Vista foi eleito o bairro mais denso de São Paulo. Desse modo, a habitação ficou cada vez mias escassa, gernado os cortiços, que atualmente são habitados principalmente pela população nordestina, grande parte oriunda do processo de migração, que buscavam em São Paulo, melhores condições de vida. Nesse Contexto, o Bixiga é considerado a periferia central da cidade, de grande diversidade cultural, em que o objeto de estudo é o espaço de resistência. Onde os Teatros, Escolas de samba, entre outros espaços formas e informais, se identificaram com a categoria de “excluídos”, promovendo na área uma importante oportunidade de manifestação cultural.

LOCALIZAÇÃO SUB-PREFEITURAS

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SP I BX I OS I OC

ESCOLA DE SAMBA VAI-VAI

FACHADA DA SEDE DO TEATRO DO INCÊNDIO

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RUA ROCHA

CASAS E CANTINAS DO BIXIGA


O Lugar

Retratos do Bixiga Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto

GROTAS - BIXIGA

VILA ITORORÓ

ESCADARIA DO BIXIGA

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A M etodologia e R esposta 37


SP I BX I OS I OC Categorização dos Bens Tombados e Àreas Residuais

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A Metodologia

Resistência x Resiliência Através da análise da relação da quantidade de áreas residuais presentes no bairro Bela Vista, e tendo vista também como objeto de estudo áreas já com consolidas com grande número de Edificações Tombadas em estado crítico de preservação, pretendeu-se demonstrar o potencial de ocupação dessas áreas, nas quais deveriam ser revistos os usos. Num primeiro momento, identificaram as características relacionadas à infraestrutura existente no local, análise morfológica e análise tipológica da área de estudo como um todo e os usos das áreas residuais. Em seguida, foram analisadas possíveis conexões entre as mesmas, visando: maior conectividade e articulação desses resíduos com a cidade consolidada. Entre as premissas da proposta estavam a travessia de segmentos de longas quadra e ampliação da fruição pública, que determinou parâmetros para que, posteriormente, fossem realizadas a categorização de 1 á 3 dessas áreas.: • Resíduo propício de edificação • Resíduo propício de fruição • Resíduo passível de integração ao sistema viário Posteriormente, por meio da pesquisa de campo na área, foi feito um estudo sobre o histórico de ocupação das construções tombadas, caracterização dos aspectossocioeconômicos e a infraestrutura existente no local. A partir do agrupamento das características encontradas, foram delimitadas 03 categorias, onde os objetos de estudo propriamente ditos foram destacados para serem analisados, classificados em: • Reconstrução de tombado • Requalificação de tombdo • Renovação de tombado

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SP I BX I OS I OC Localização das Propostas:

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Localização dos Programas 02

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Fonte> ACERVO DO GRUPO

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A Resposta

O Bixiga de Amanhã CIRCUITO PRODUTIVO

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Fernanda Lima

nova sede vai-vai

02

Giovanni DA PZ

centro de resistência afro

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marina salek

complexo lavanderia quintal do bixiga

04

giuliana duduch

bixiga artes e ofícios

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marina oliveira

Ru.a (REPÚBLICA AUTÔNOMA)

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THAISSA FERREIRA

SER (ESCOLA DE MÚSICA)

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FRANCIELLE CONSULIN

HABITACÃO

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LETÍCIA TORRES

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0. O peração S ara [ cura ]

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S etores de I ntervenção 45


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Setores de Intervenção

SETOR GROTAS

SETOR 14 BIS

SETOR 13 DE MAIO

SETOR JÚLIO DE MESQUITA

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Rua Treze de Maio Compartilhada:

Ligação entre as áreas residuais e Bens tombados:

Circuito de (Re)integração do Afro-Ítalo-Nordestino

Foi proposto que a Rua Treze de Maio se tornasse compartilhada e tivesse a calçada ampliada em determinado pontos.

Visando a ligação de dois vetores viários dessa área - Rua Treze de Maios e a Rua Rui Barbosa - é proposto a ligação entre as áreas residuais para maior fruição pública.

Promove um circuito de (re)integração do morador de rua, que tem a possibilidade de ocorrer por meio de: Capacidade Profissional, oportunidade de moradia e higiene pessoal. Ademais, resgata a memória do Quilombo Saracura, que deu origem ao Bixiga.

COMPLEXO LAVANDERIA QUINTAL DO BIXIGA CENTRO DE RESISTÊNCIA AFRO

BIXIGA ARTES E OFÍCIOS

REPÚBLICA AUTÔNOMA

Fonte> ACERVO DO GRUPO

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O Setor de Intervenção

Setor 13 de Maio

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0. O peração [C ura ]

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RU.A | R epública A utônoma 53


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Vista da praça cívica/ Restaurante social/Edifício Ponte/Moradia

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A República Atônoma Partindo do pressuposto de se criar um ponto de união e convivência social, o projeto possui um pátio central , onde acontece todas as dinâmicas: é um espaço que funciona como pátio , que se torna ao mesmo tempo fechado para transmitir a ideia de pertencimento e ao mesmo tempo aberto para a cidade e para as pessoas. A proposta é desenvolver um local que ocorra a participação real dos moradores no processo de organização do espaço, estimulando formas de apropriação pessoal de forma mais criativa e compatível com as metamorfoses cotidianas. Assim, fica garantido que o cotidiano ganhe e emane vida, de forma que os espaços passam a ser partes integrantes do morar e do estar, já que suas esperiências e os usos não estabelecem um limite exato entre o formal e o informal. Com isso, o meio urbano faz parte da vida humana e o humano fica responsável pela qualidade da vida desses espaços - em uma relação de troca e intimidade.

¹Chama-se região autônoma qualquer área ou lugar que possui algum grau de autonomia ou liberdade de qualquer autoridade externa.

²Chama-se república que no latim “res publica”, é a expressão que pode ser traduzida como “assunto público”. Ou, Na terminologia das línguas neolatinas, corresponde, grosso modo, ao atual conceito de Estado, de uso corrente a partir de Maquiavel que, semanticamente, Lransformou a situação - o status (de onde provém a palavra estado) rei publicae, em condição de uma comunidade, assinalada pelos requisitos da existência de um povo, de um governo e de um território.

Como parte desse processo de transição do morador de rua, o projeto conta com uma praça cívica, a qual atende as questões burocráticas, como retirada de documentos e atende as questões sociais, com um refeitório social e questões de higiene. O Edifício ponte representa a transição: transição do ser, do indivduo, e a transição da relação da cidade com o indivíduo. Portanto, o que e chama Operação Cura , significa o processo de cura, na medida do grau de emergência do indivíduo . Mas, não atende somente moradores de rua, mas sim todos os individuos em vulnerabilidade social, uma vez, em São Paulo, as pessoas trabalham e não possuem condições de comprar um prato de comida e nem mesmo de pagar o aluguel.

[01] DICIONÁRIO. HTTP://WWW.ACADEMIA.ORG.BR/NOSSA-LINGUA/BUSCA-NO-VOCABULARIO [02]REVISTA ESTUDOS HISTÓRICOSBUMA PUBLICAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS (PPHPBC) DA ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS (CPDOC) DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV) - O SIGNIFICADO DE REPÚBLICA. CELSO LAFER

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Vista da disposição do projeto na quadra urbana

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A Quadra Urbana

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CENTRO DE MEMÓRIA DO BIXIGA Foi criado em Outubro de 2007 por Walter Taverna, neto de sicilianos e morador do bairro desde seu nascimento em 1933. Contando com documentos e fotografias de seu acervo pessoal, Taverna deu o ponto de partida para fundar a instituição. Sendo que, em 1985, para guardar a memória, tradições e peculiaridades do bairro, ele pediu o tombamento do local, que só aconteceu em 2002. Atualmente, é um dos mais ricos acervos de memória de bairro, reunindo diferentes documentos textuais, bibliográficos, iconográficos, audiovisual e acervo museológico.

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1940 - CINE REX Inaugurado em 10 de outubro em 1940, com uma sessão exclusiva para convidados, o Cine Rex abriu suas portas para o público oficialmente no dia seguinte. A inauguração do cinema na Rua Rui Barbosa, foi um grande impacto pra a cidade. O Cine Rex pertencia aos irmãos José Fernando Taddeo e Nicolau Taddeo e logo tornou-se uma das salas mais populares de São Paulo. O Rex funcionou por décadas, porém em meados dos anos 70, entrou em processo de decadência, ficando fechados até meados dos anos 80.


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O Contexto da Quadra Urbana Localizada, entre as ruas Conselheiro Carrão, Rui Barbosa e a rua Treze de Maio, a quadra encontra-se em um importante eixo viário do bairro, pois possui relações tanto com a estruturação viária, como com o contexto histórico. A Rua Treze de Maio é marcada pela presença da cultura italiana, gastronomia, festas de rua e valores do bairro que ainda são mantidos pelos descendentes locais e pelos habitantes curiosos que se identificam com os costumes. Na região possuem dois emblemáticos edifícios: O antigo Teatro Zaccaro e o Centro de Memória do Bixiga.

1980 - TEATRO ZACCARO No início da década de 80, o Maestro Zazzaro, um dos símbolos da cultura italiana na Capital Paulista, adquiriu o antigo Cine Rex e o fez ressurgir com um dos mais importantes teatros de São Paulo naquela década, o Teatro Zaccaro. Atualmente, o antigo teatro encontra-se fechado completamente, com algumas portas emparedadas e outras fechadas .

O Teatro, teve um importante valor histórico para o bairro, porém, devido a desapropriação gerado pelo processo de intervenção e transformações do edifício, encontra-se totalmente deteriorado. E por esse motivo, ao analisar este lugar, surge uma questão de renovação dessa área, realizando a retirada desse edifício e a implantação de um equipamento social que demarca a inscrição do morador de rua como parte do resgate do próprio território. Porém, mesmo com a retirada do teatro, é possível resgatar a sua memória simbólica, uma vez que, a arquitetura e o urbanismo do projeto buscaram a preservação de sua memória singular: a esquina.

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SP I BX I OS I OC Título

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Título Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto

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Vista da relação do projeto com o entorno.

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A Ocupação de Quadra

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Implantação


RU.A | República Autônoma Esquina do projeto: Rua Conselheiro carrão com a Rua Rui Barbosa

Arquitetura como Espaço

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Corte AA’’

Corte BB’’

Corte CC

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SP I BX I OS I OC

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Planta Geral Nivel 783 / 784 / 785


RU.A | República Autônoma Vista interna da Praça.

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SP I BX I OS I OC Título

Planta Geral Nivel 787

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Título Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto

Planta Geral Nivel 781

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Arquitetura Flexível O projeto tem como base a modulação precisa de múltiplos de 6,00 cm X 4,95cm. Esse ponto de partida faz com que o projeto estabeleça uma métrica capaz de criar espaços flexíveis, assim como um sistema de método construtivo com painéis e elementos pré-moldados capazes de realizar uma estrutura leve em madeira. Dentro desse raciocínio, o método adotado, foi iniciar com o elemento de maior repetição no projeto - as unidades de habitação - que regem a métrica de todo o projeto e criam unidades flexíveis capazes de atender a demanda da habitação de acordo com a necessidade, ou seja, é possivel ocorrer unidades familiares e ao mesmo tempo unidades coletivas que compartilham das áreas de convívio social e uma pequena cozinha com área para alimentação. Contudo, esses espaços de grupos familiares ou de indivíduos, em meio a uma arquitetura silenciosa, provilegia o homem como protagonista do espaço, a fim de estabelecer um vínculo: em que o habitar se torna sinônimo de cuidar.

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Arquitetura como Construção Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto

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