Enciclopédia Fadista Luso-Brasileira

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ENCICLÓPEDIA FADISTA LUSO-BRASILEIRA


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, ou processo similar, em qualquer forma ou meios, seja eletrônico, seja mecânico, de fotocópia, gravação etc., sem permissão dos detentores do copirraite. Editora Matarazzo, São Paulo, Brasil, 2017. Índice para Catalogação Internacional (CIP) ISBN 978-85-19167-55-6 Enciclopédia Fadista Luso-Brasileira. São Paulo: Editora Matarazzo, 2017. Índices para catálogo sistemático: 1. Portugal: Música: Enciclopédias 780.92 Projeto editorial e gráfico Equipe Editora Matarazzo Editora, coordenadora e consultora Thais Matarazzo Colaboradores Diego Nunes, Jorge Trigo, Miguel Villa, Paulo de Almeida Borges. Pesquisadores / Redatores Diego Nunes Jorge Trigo Paulo Almeida Borges Thais Matarazzo Bibliotecárias Eliane Junqueira / Silvia Marques Revisão Equipe Editora Matarazzo


ENCICLÓPEDIA FADISTA LUSO-BRASILEIRA



APRESENTAÇÃO

Num esforço coletivo e voluntário de alguns estudiosos abnegados, conseguimos reunir para este volume online da Enciclopédia Fadista Luso-Brasileira 112 verbetes de importantes fadistas portugueses e brasileiros de todos os tempos. A Enciclopédia Fadista Luso-Brasileira é disponibilizada gratuitamente através da Internet para todos os interessados, por isso, conclamamos que escritores interessados, possam nos auxiliar a aumentar o número de verbetes para volumes futuros, nos enviando biografias sintéticas (no formato aqui estruturado dos verbetes), pois não é nada fácil levantar dados artísticos dos artistas do fado, principalmente dos veteranos. Esta obra faz parte do projeto Cá entre nós: Brasil & Portugal, da Editora Matarazzo, a ser desenvolvido em 2017. Esperamos com esta obra contribuir para o enriquecimento do tema junto ao público estudioso.

Thais Matarazzo Jornalista, escritora, pesquisadora cultural e organizadora das antologias da Editora Matarazzo


FADO É PATRIMÔNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE A NOSSA CANÇÃO ESTÁ DE PARABÉNS!

O FADO foi declarado pela UNESCO Património Cultural Imaterial da Humanidade! O FADO é a primeira expressão artística a ser declarada Patrimônio Imaterial da Humanidade em Portugal. A Câmara Municipal de Lisboa através da EGEAC/MUSEU DO FADO levou a cabo esta candidatura que envolveu a comunidade artística do FADO, congregou instituições e reuniu o consenso de todos os partidos políticos. A Candidatura do FADO tornou-se uma causa nacional e a inclusão do FADO na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial é uma vitória de Portugal. O Plano de Salvaguarda já em curso permitirá preservar e salvaguardar as memórias da canção urbana de Lisboa, através da criação de uma Rede Integrada de Arquivos, de um Arquivo Digital de Fonogramas de Fado, de um Programa Educativo muito abrangente, de um vasto plano de edições (edição de fontes históricas, poéticas, críticas e musicais) e da criação de Roteiros de Fado. Orgulhe-se, o Fado é Patrimônio da Humanidade!

Fonte: http://www.museudofado.pt/noticias/detalhes.php?id=134


ABREVIATURAS

A. Contralto AC Antes de Cristo adj. adjetivo AL. Alagoas antropól. antropólogo aprox. aproximadamente arranj. arranjador BA Bahia BBC British Broadcasting Corporation barít.barítono c. circa (cerca de) cant. cantor (a) caricat. Caricaturista CE Ceará ch. chapa cin. cineasta clarin. clarinetista cm centímetro colec. colecionador comerc. comerciante comp. compositor comun. comunicador cont. contista contr. contralto contrab. contrabaixista crít. crítico(a)


d. dom D. dom, dona danç. dançarino(a) DF Distrito Federal diplom. diplomata Dr. doutor dubl. dublador ed. editor, editora, editado(a) Empr. empresário(a) ES Espírito Santo escr. escritor(a) esp. espanhol etc et coetera (e outros) E.U.A. Estados Unidos da América f. feminino fad. fadista flaut. flautista f.m. feminino ou masculino FM Frequência Modulada folcl. folclore fr. francês GO Goias guit. guitarrista harp. harpista humor. humorista instr. Instrumentista ital. italiano jorn. jornalista Jr. Júnior km quilômetro lat. latim


letr. letrista m. masculino MA Maranhão m.f. masculino ou feminino MG Minas Gerais mission. missionário Mme. madame MPB Música Popular Brasileira MPP Música Popular Portuguesa MT Mato Grosso mús. músico musicól. musicólogo nº. número NBC National Broadcasting Company (E.U.A) p., pp. página(s) PA Pará PB Paraíba PE Pernambuco pe. padre pesq. pesquisador(a) pian. pianista pint. pintor pop. popular PR Paraná prod. produtor(a) prof. professor PT Portugal rad. radialista RCA Radio Corporation of America reg. regente ver. revisto(a), revisão


ver. revistógrafo RGE Rádio Gravações Especializadas ritm. ritmista RJ Rio de Janeiro RN Rio Grande do Norte romanc. romancista rpm rotações por minuto RS Rio Grande do Sul RTP Rádio e Televisão Portuguesa sopr.soprano SC Santa Catarina s.d. ou s/d. sem data SE Sergipe s.l. sem local sociól. sociólogo SP São Paulo teatról. teatrólogo ten. tenor trad. tradução, traduzido TV Televisão UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization - Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas) UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” U.R.S.S. União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ved. vedete viol. violista violi. violinista violon. violonista


VERBETES



ÍNDICE

ALEXANDRA....................................................................................................................18 ALVES, Terezinha..............................................................................................................18 AMENDOEIRA, Joana.....................................................................................................19 AMOEDO, Esmeralda......................................................................................................19 ANTÔNIO CARLOS........................................................................................................19 ARMANDINHO................................................................................................................20 BAHIANO...........................................................................................................................21 BATISTA, Fernanda..........................................................................................................21 BASTO, Antônio Pinto.....................................................................................................22 BERNARDO, Aquiles.......................................................................................................22 BONFIM .............................................................................................................................22 BRANQUINHO, Manuel.................................................................................................23 BRAVO, Manuela Bravo..................................................................................................23 CAMANÉ............................................................................................................................25 CAMPOS, Antônio............................................................................................................25 CÂMARA, José da............................................................................................................26 CÂMARA, Vicente da .....................................................................................................26 CARMO, Carlos do...........................................................................................................27 CARMO, Lucília. ..............................................................................................................27 CONCEIÇÃO, Beatriz da................................................................................................28 CARDOSO, Berta..............................................................................................................29 CARMINHO.......................................................................................................................29


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CASTRO, Ada de...............................................................................................................30 CARVALHO, Olivinha.....................................................................................................30 CHAÍNHO, Antônio..........................................................................................................31 COELHO, Irene..................................................................................................................31 CORRÊA, Alípio ...............................................................................................................32 COSTA, Ercília ..................................................................................................................... 34

DINA TEREZA..................................................................................................................34 DUARTE, Aldina...............................................................................................................34 FALCÃO, Arminda............................................................................................................36 FELIX, Dam........................................................................................................................36 FERNANDA MARIA.......................................................................................................36 FERNANDES, Adelina.....................................................................................................37 FERNANDES, Manuel.....................................................................................................37 FERREIRA, Maria Alice..................................................................................................38 FLORINDA MARIA.........................................................................................................38 FLORÊNCIA ......................................................................................................................39 FREITAS, Conceição........................................................................................................39 FREITAS, Fernando de. ...................................................................................................40 GENTIL, Lenita..................................................................................................................41 GIRÃO, MARIA................................................................................................................42 GONÇALVES, Mavilda ..................................................................................................42 GONÇALVES, Quincas....................................................................................................42 GOUVEIA, Luiz.................................................................................................................43 GLÓRIA DE LOURDES .................................................................................................43 GUERREIRO, ANITA......................................................................................................43 GUIA, Maria José da.........................................................................................................44


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JANES, Alberto..................................................................................................................45 JORGE FERNANDO .......................................................................................................45 JÚLIA FLORISTA ............................................................................................................45 LEAL, Cândida...................................................................................................................46 MARIA ALBERTINA ......................................................................................................47 MARIA ALCINA...............................................................................................................47 MARIA ALICE ..................................................................................................................48 MARIA ARMANDA ........................................................................................................48 MARIA DA CONCEIÇÃO..............................................................................................49 MARIA EMÍLIA ...............................................................................................................49 MARIA DA FÉ...................................................................................................................50 MARIA DA GRAÇA .......................................................................................................50 MARIA DE LOURDES....................................................................................................51 MARIA DA NAZARÉ .....................................................................................................51 MARINHO, Ciça................................................................................................................52 MARIZA .............................................................................................................................52 MATIS, Alexandre.............................................................................................................52 MATOS, Tony de................................................................................................................53 MAX .....................................................................................................................................53 MAYA, Alice.......................................................................................................................54 MENDES, Aurélia..............................................................................................................54 MEIRELES, Cidália..........................................................................................................55 MONTEIRO, Manoel........................................................................................................55 MOREIRA, Cidália............................................................................................................57 MOURA, Ana................................................................................................................ 57 MOURÃO, Antônio...................................................................................................... 58


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NATÉRCIA DA CONCEIÇÃO.................................................................................. 58 NORONHA, Maria Teresa ..............................................................................................59 PEDROSA, Adélia.............................................................................................................60 PERES, Fernanda...............................................................................................................60 PIMENTEL, Joaquim........................................................................................................61 PINTO, Ana Margarida.....................................................................................................62 PONTES, DULCE ............................................................................................................62 PROENÇA, Maria Amélia...............................................................................................62 PROENÇA, Júlio ...............................................................................................................63 PROENÇA, Maria Amélia...............................................................................................63 RAMOS, Adelina...............................................................................................................64 RAMOS, Carlos..................................................................................................................64 REBORDÃO, Fábia...........................................................................................................64 RIBEIRO, Alberto..............................................................................................................65 RIBEIRO, Alcino...............................................................................................................66 RIBEIRO, Alexandrina.....................................................................................................66 ROBALINO, Sebastião ....................................................................................................66 RODRIGO ..........................................................................................................................66 RODRIGUES, Amália .....................................................................................................67 RODRIGUES, Celeste......................................................................................................68 RODRIGUES, Deolinda...................................................................................................69 ROGIERO, Antônio...........................................................................................................69 SANTO, Maria do Espírito..............................................................................................70 SANTOS, Argentina..........................................................................................................70 SANTOS, Ary dos..............................................................................................................71 SANTOS, Saudade ............................................................................................................71


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SEBASTIÃO MANUEL..................................................................................................71 SERAMOTA, Isalinda.......................................................................................................72 SIDÔNIO, Maria................................................................................................................72 SILVA, Tiago Torres da.....................................................................................................72 SIQUEIRA, Teresa.............................................................................................................73 SILVA, Hermínia................................................................................................................73 SILVA JÚNIOR...................................................................................................................74 SILVA, Tristão da...............................................................................................................74 THIAGO FELIPE...............................................................................................................76 TORRES, Maria do Carmo..............................................................................................76 TRINDADE, Moniz ..........................................................................................................76 VALEJO, Maria..................................................................................................................78 VARELA, Ana Sofia..........................................................................................................78 VARELA, Mimi..................................................................................................................78 VILAR, Maria José............................................................................................................79 VILAR, Pedro.....................................................................................................................79 ZAMBUJO, Antônio..........................................................................................................81 ARTIGOS

O FADO NOS DISCOS 78 ROTAÇÕES BRASILEIROS................................................... 84 MEMÓRIAS DA MÚSICA PORTUGUESA NO RÁDIO BRASILEIRO 1930-1960 ........ 89 Por Thais Matarazzo Cantero

BIBLIOGRAFIA GERAL ................................................................................................... 98


A

ALEXANDRA (Maria José Canhoto. Soalheira, Fundão, PT, 25/4/1950). Fad. Passou a infância em Moçambique. De volta a Portugal, em 1978, gravou seu 1º disco, Senhora Maria. Neste mesmo ano, estreou no teatro de revista, no elenco de E tudo D. Bento levou, e, em 1993, trabalhou na revista A Pão e a laranjas, ambas apresentadas no Teatro Maria Vitória. Em 1979, lançou a canção Zé Brasileiro, Português de Braga (Vasco Lima Couto / Antônio Sala) no Festival da Canção RTP, que a projetou em todo país. Em fins dos anos 1990, integrou o projeto Entre Vozes, com Alice Pires, Lenita Gentil e Maria da Fé. Em 2000, é um dos destaques do musical Amália, de Filipe Lá Feria, no Teatro Politeama, em Lisboa. Em 2003, recebeu da cidade do Fundão a Medalha de Prata de Mérito Municipal, ano em que protagonizou um novo espetáculo Alexandra recorda Amália, sob a produção da C2E. Discografia: Alexandra (Rossil, 1979), Alexandra recorda Amália (CD, CNM, 2003).

ALVES, Terezinha. (Tereza Alves da Silva. Cabanelas, Vila Verde, PT, 24/6/1938). Fad. Empr.

Uma legenda do fado no Brasil a partir da década de 60. Possuí dois slogans, “A Voz Carícia do Fado” e a “Voz Quente do Fado”. Filha de João de Oliveira da Silva e Alzira Coelho da Silva Alves. Na freguesia de Cabanelas, na casa dos avós maternos, escutava no rádio os programas de radioteatro com Vasco Santana e as emissões de fado da Emissora Nacional de Lisboa. Quando havia festa na praça central, costumava escutar os discos de músicas portuguesas que eram transmitidos pelo sistema de alto-falantes, principalmente discos de fado gravados no Brasil. Viajou para o Brasil aos 15 anos, para conhecer seu pai, que residia no Rio de Janeiro. Desembarcou do navio Vera Cruz, na Praça Mauá, em 14/2/1954. A convite da fadista Maria José Vilar começou a cantar no restaurante típico Parreira do Rio Lima, no bairro de São Cristóvão. Uma noite foi ouvida pelo fadista Manoel Monteiro que acabou por convidá-la para cantar na sua festa artística que aconteceria em São Paulo, no Teatro Colombo, no Brás. Em 1955, junto com sua família mudou-se para capital paulista. Com incentivo da madrasta, passou a cantar no programa Melodias Portuguesas, de Irene Coelho, que se tornou sua madrinha artística. Paralelamente, trabalhou em duas casas de discos, onde ouvia constantemente as gravações de Amália Rodrigues. Em setembro de 1959, o empresário e poeta Luiz de Campos inaugurou o restaurante típico Adega Lisboa Antiga, à Rua Brigadeiro Tobias, 280, em São Paulo. Contratou Terezinha Alves para o elenco artístico da casa, tornando-se mais tarde sócia-proprietária. Viajou por todo Brasil e esteve diversas vezes em Portugal, onde alcançou êxito a partir de 1965. Aprendeu a cantar o fado castiço com Maria Girão, fadista e esposa do guitarrista Fernando de Freitas, o casal costumava realizar temporadas na Adega Lisboa Antiga. A intérprete sempre estava em dia com os lançamentos musicais de Lisboa. Em 1962/63, a fadista Fernanda Batista cumpriu extensa temporada na Lisboa Antiga, tendo dividindo o microfone com Terezinha Alves. Ambas também atuaram na boate Oásis, a mais famosa da cidade. Em 1971, novamente em Portugal, Terezinha cantou no Cassino Estoril, na RTP e em casas de fado. Em maio de 1982, junto com os fadistas Sebastião Manuel e Adélia Pedrosa, e o ator João Luiz Ximenes, estrearam a peça Portugal em Revista, na Casa de Portugal de São Paulo. Com texto e direção artística de Sebastião Manuel, direção musical do guitarrista Aquiles Bernardo e dos violinistas Antero Martins e Silva


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Júnior. Seu nome está intimamente ligado a Adega Lisboa Antiga, onde permaneceu por mais de 30 anos no elenco artístico e na direção. Atualmente, está afastada das lides artísticas. Discografia: Não sei porque / Sigo hoje outro caminho (78 rpm, Chantecler, 1961), Chore meu amor / Portuguesa no samba (78 rpm, Chantecler, 1964), Terezinha Alves (Alvorada, 1968), Uma noite na Adega Lisboa Antiga (LP, Alvorada, 1975), Portugal com Amor (LP, Som Livre, 1978), Até que a voz me doa (LP, Musicolor, 1983), Sonho antigo (LP, Termar, 1982), Terezinha Alves (CD, s.d.).

AMENDOEIRA, Joana.

(Santarém, Ribatejo, PT, 30/9/1982). Fad. Canta o fado desde pequena, incentivada pela família. Aos 11 anos, estreou na Grande Noite do Fado, no Porto. Aos 18 anos, fixou residência em Lisboa e passou a cantar no Clube do Fado. Esteve no Brasil, Hungria, Holanda, Itália, Alemanha, França, Espanha, Amsterdã, Canadá, Inglaterra e outros países. Em 2004 recebeu o “Prêmio Revelação” da Casa da Imprensa. Ao longo da sua carreira, teve a oportunidade de cantar nas melhores casas de fado de Lisboa e nessa “escola” absorveu os grandes ensinamentos dos fadistas mais antigos e dos músicos. É considerada uma das mais importantes fadistas da nova geração. Discografia: Olhos marotos (CD, 1997), Aquela rua (CD, 2000), Joana Amendoeira (CD, 2003), Joana Amendoeira & Mar Ensemble (CD / DVD, 2008), Sétimo fado (2010), Amor mais perfeito (2012).

AMOEDO, Esmeralda. (Lisboa, PT, 19/5/1936). Fad. Nascida no bairro da Mouraria, desde

cedo teve contato com o fado, tanto nas ruas como pelo rádio. O pai levou-a um dia para uma festa na Sociedade Recreativa Casa Apolo, incentivada por dois guitarristas e acabou por cantar o Fado Manuel dos Santos e o Fado Santa Luzia. Agradou e ganhou muitos aplausos. Desde então não parou mais. Aos 14 anos, em 1950, já era uma amadora de renome, prestou provas na Emissora Nacional e ganhou um lugar para cantar no programa Serões para Trabalhadores. Em 1953, foi a vencedora da I Grande Noite do Fado, organizada pela Casa da Imprensa. Apresentou-se em todas as coletividades, sociedades recreativas, festas de beneficência e casas de fado de Lisboa. Cantou em cassinos e no teatro de revista, nomeadamente no Teatro ABC (Parque Mayer) e no Teatro Adoque. Seu maior sucesso é o fado Juras, criação que a acompanha há mais de 50 anos; também popularizou as os fados, O meu nome, Oração Fadista, Não engraças comigo, Tipoias e Vai ter com ela. Em comemoração aos seus 50 anos de carreira, em 2003, recebeu o “Prêmio Carreira” na festa do Concurso da Grande Noite de Fado, no Teatro de São Luiz. Viajou por vários países. Apresentou-se durante muitos anos nas casas de fado do Bairro Alto, sendo a último o restaurante Cristal. Continua a cantar em espetáculos nos arredores de Lisboa. Discografia: Isto é que é fado (Orfeu, s.d.), Esmeralda Amoedo (Rapsódia, s.d.), Cantar de amor e ódio (Orfeu, s.d.), Fados do Fado - Esmeralda Amoedo (CD, Moviplay, 1998), Fado no S. Luiz (CD, Metrosom, 2004).

ANTÔNIO CARLOS.

(Antônio Carlos Santana Brites, Viseu, PT, 26/1/1945). Fad. Aos 12 anos começou a cantar, dois anos depois venceu um concurso na Rádio Renascença, em Lisboa. Cantou na Emissora Nacional e se apresentou na TV. Gostava de cantar o repertório de Antônio Calvário e Antônio Mourão, seus ídolos. Em 1959, a família transfere-se para Angola, na África. Em 1975, regressou a Lisboa e atuou nos restaurantes Adega do Machado e Parreirinha da Alfama. Em 1976, veio ao Brasil para cumprir contrato na Adega Lisboa Antiga, em São Paulo. Acabou


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fixando residência no Brasil. Atuou em todos os restaurantes típicos da capital paulista. Fez shows em todas as capitais brasileiras. Atualmente, apresenta-se no restaurante Alfama dos Marinheiros, à Rua Pamplona, nº. 1285, inaugurado em 1969. É pai do fadista Thiago Felipe. Discografia: Antônio Carlos (CD, s.d.).

ARMANDINHO

(Armando Augusto Salgado Freire. Lisboa, PT, 11/10/1891 - Lisboa, PT, 21/12/1946). Comp. Empr. Guit. Instr. Músico autodidata, tocava de ouvido. Com o pai aprendeu a tocar bandolim ainda na infância. Não demorou muito para a guitarra portuguesa despertar-lhe o interesse. Em 1905, fez sua primeira atuação em público no Teatro das Trinas. A sua carreira é impulsionada quando, em 1914, conhece o mais famoso guitarrista da época, Luís Carlos da Silva, conhecido por Luís Petrolino, e se torna seu discípulo. Paralelamente, para se manter, executa diversas atividades profissionais como meio-oficial de sapateiro, operário da Companhia Nacional de Fósforos, servente do Casão Militar ou fiscal do Mercado da Ribeira. Em 1925, acompanha cantadores e cantadeiras no Solar da Alegria, reduto dos amantes do fado, que para lá se deslocam para se deliciarem com as improvisações de Armandinho ou para ouvi-lo interpretar as composições do seu mestre, Luís Petrolino. Em 1926 faz a primeira gravação em Portugal em microfone de bobine eléctrica móvel. Gravou seis composições, acompanhado na viola por Georgino de Sousa, para a His Master’s Voice, que em Portugal é financiada e vendida pela Valentim de Carvalho. Foi um dos primeiros guitarristas a realizar viagens artísticas para fora de Portugal. Em 1922, esteve com o violonista João da Mata Gonçalves na Espanha e Inglaterra. Em 1932/33, esteve nas Ilhas da Madeira e Açores, Angola e Moçambique, acompanhando João da Mata Gonçalves, Martinho d’Assunção, Ercília Costa, Berta Cardoso e Madalena de Melo. Autor de dezenas de fados e variações (atuais clássicos), como, Fado Armandinho, Fado de S. Miguel, Fado do Cívico, Fado do Bacalhau, Fado Mayer, Fado do Ciúme, Fado Estoril, Variações em Ré Menor, Variações em Ré Maior, Ciganita, Fado Fontalva, Fado Conde da Anadia entre outros. Armandinho atuou nas mais emblemáticas casas de fado de Lisboa, e, em 1930, tornou-se empresário, quando abriu o seu próprio espaço no Parque Mayer, o Salão Artístico de Fados, onde trabalhou durante alguns anos. Em 1927, foi um dos membros fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, atual Sociedade Portuguesa de Autores.


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B

BAHIANO.

(Manoel Pedro dos Santos. Santo Amaro da Purificação, BA, 5/12/1870 - Rio de Janeiro, RJ, 15/7/1944). Cant. Comp. Em 1902, juntamente com Cadete, Nonozinho, Mário Pinheiro e Eduardo das Neves, Bahiano compôs o 1º elenco de cantores a gravar discos de gramofones no Brasil, através da Casa Edson, de Fred Figner, no Rio de Janeiro. Do 1º catálogo comercial da Casa Edson, constam 73 discos - disco Zon-O-Phone, gravado em sua só face -, e dentre as gravações estão alguns fados registrados por Bahiano como, Fado do Soldado, Fado Português e Fado Hilário. O fado teve forte presença no teatro de revista português desde os últimos 20 anos do século XIX, influência essa que refletiu no teatro de revista brasileiro e no repertório dos cantores. O fado deixava assim as tabernas e vielas de Lisboa e ganhava o grande público através do teatro, e, em seguida, no princípio do século XX, também foi divulgado através do disco, do cinema e do rádio. Bahiano foi um dos mais dos mais populares intérpretes brasileiros do início do século XX, cantou no Circo Spinelli, ao lado de Benjamin Oliveira, além de enorme atuação no teatro de revista, feiras e bares. Foi o 1º intérprete a gravar disco no Brasil, com o lundu Isto é bom, de Xisto Bahia, no selo Zon-O-Phone n° 10.001. Dentre os gêneros mais abundantes em sua discografia estão modinhas, cançonetas e lundus. Discografia: Fado Hilário (Zon-O-Phone, 1902), Fado Português (Zon-O-Phone, 1902), Fado do Soldado (Zon-O-Phone, 1903), Festas Joaninas - em trio com Eduardo das Neves e Risoleta (Odeon, 1912), Fado do Bicheiro (Odeon, 1913), Zelis-Felix Telis de Meirelis (Odeon, 1913), Fado Rufia - em dueto com Maria Roldan (Odeon, 1913), Saudade da Terra (Odeon, 1915), Fado do Padre Manoel Fernandes (Odeon, 1922), Luar de Paquetá (Odeon, 1922).

BATISTA, Fernanda.

(Fernanda Gil Ferreira Martins. Lisboa, PT, 7/5/1919 - Cascais, PT, 25/7/2008). Fad. Filha de Antônio Ferreira Martins e Maria Gil. Com apenas oito anos de idade a sua paixão pela música era bem visível e aos dez anos participou pela 1ª vez em uma peça infantil. Gostava de mascarar-se com roupas de familiares e realizar os seus próprios espetáculos. Aos 12 anos perdeu o pai e iniciou sua vida profissional ajudando a mãe na costura. Incentivada pelas colegas de profissão, participou no concurso promovido pelo jornal Guitarra de Portugal e ganhou o 2º lugar. Estreou como fadista profissional no Café Luso pelas mãos de Felipe Pinto no início dos anos 40. Em 1945, estreou no teatro, na sequência de um convite do maestro João Nobre para participar da revista Banhos de Sol, no Teatro Maria Vitória, no Parque Mayer. É precisamente neste teatro que criou um dos seus maiores sucessos, o Fado da Carta. Em 1950 foi convidada para participar no espetáculo de estreia do cinema Tropical, em Luanda, ali permanecendo durante dois anos, havia de lá voltar e ali viver até á descolonização. De regresso a Portugal, voltou de novo a trabalhar no teatro. Em outubro de 1962, partiu rumo ao Brasil, onde esteve durante ano, seguindo depois para a Argentina. Na cidade de São Paulo, cumpriu longa temporada na Adega Lisboa Antiga, na boate Oásis e em outros shows. Com mais de 65 anos de carreira, participou de 45 revistas no Parque Mayer, quatro operetas, duas comédias e um filme. A solo ou integrada no elenco de revistas fez espetáculos de norte a sul do país e no estrangeiro, só nos E.U.A. foi 17 vezes e várias vezes ao Brasil, França e Argentina, Angola e Alemanha. Fez ainda parte do elenco dos grandes programas da rádio em Portugal como O comboio das 6 e meia, de Igrejas Caeiro, e Chá das seis. Na TV participou de muitos programas, destacando-


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se Grande noite e Cabaret, de Felipe Lá Feria. Em 1990, após uma ausência dos palcos da revista, reapareceu no Teatro Capitólio na revista Ai cavaquinho e, logo depois, no Teatro Variedade, na revista Vivo velho. No início dos anos 90 foi homenageada no Teatro São Luiz, em Lisboa, pelos seus 50 anos de carreira. Em 2003 a convite de Henrique Feist, voltou de novo aos palcos do teatro musicado para integrar o elenco do espetáculo Esta vida é uma cantiga, onde foi condecorada pelo então Ministro da Cultura, Pedro Roseta, com a Comenda de Ordem de Mérito. Em 2005, a convite de Felipe lá Feria, integrou o elenco do musical Canção de Lisboa e assim se despedia definitivamente dos palcos e das cantigas aos 87 anos de idade. Em 2008 o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa condecorou-a com a Medalha da cidade de Lisboa. Gravou centenas de discos e foram já reeditadas algumas edições em CD dos seus maiores sucessos. Foi considerada a maior voz do teatro de revista. Discografia: O fado está-lhes nas veias (FF, s.d.), Segue o teu caminho (FF, s.d.), Um fado para esta noite (Riso e Ritmos Disco, s.d.), Fado da carta (LP, Moviplay, 1981), Eu namoro tu namoras (LP, RR Discos, s.d.), O melhor de Fernanda Batista (LP, RR Discos, s.d.). Filmografia: Sol e Touros (1949).

BASTO, Antônio Pinto. (Antônio João Ferreira Pinto Basto. Évora, PT, 6/5/1952). Fad. Filho

de Antônio Ferreira Pinto Basto e Maria Luísa de Matos Fernandes de Vasconcelos e Sá. Quando tinha 13 anos os pais o levaram a uma noite de fados na Feira dos Salesianos de Évora. Aos 16 anos, por intermédio de um tio, participou da Grande Noite de Fado, em Lisboa, como representante da Casa do Alentejo e cantou em algumas casas de fado. Gravou seu 1º disco em 1970. Em 1988 gravou o LP Rosa Branca, cujo tema título é um poema do seu avô. As vendas atingiram o disco de platina. Já esteve cantando no Brasil, E.U.A., Espanha, França, Angola, Canadá, Macau, Hong-Kong, entre outros países. Em 2000, foi convidado a produzir e apresentar, por convite da RTP, um programa semanal dedicado ao fado, intitulado Fados de Portugal. A popularidade deste programa foi grande. Discografia: Tem fé caminheiro (Aquila, 1973), Antônio Pinto Basto (Aquila, 1973), Rosa Branca (LP, Polygram, 1988), Confidências a guitarra (LP, Polygram, 1991), Desde o berço (CD, BMG, 1996), Rendas pretas (Cd, 2001), Bodas de coral (Cd, 2005).

BERNARDO, Aquiles. (Aquiles José Bernardo. Ifanes, Miranda do Douro, PT, 16/6/1929 -

São Paulo, SP, s.d.). Fad. Guit. Filho de Viriato Aníbal Bernardo e Natividade Rosa Antão. Veio para o Brasil em 1952. Acompanhou ícones do fado no Brasil, principalmente, nos restaurantes típicos, shows e programas de rádio e TV, em São Paulo. Em 1960, fundou com seu primo Carlos Bernardo, a Indústria e Comércio Rouxinol Ltda. - mais conhecida como “Cordas Rouxinol” -, iniciaram suas atividades priorizando o desenvolvimento de cordas musicais com qualidade comprovada.

BONFIM

(João Alves da Silva. Salvador, BA, 25/9/1946). Violon. Desde cedo descobriu sua vocação musical, aos dez anos começou seus estudos de violão. Em 1959, veio com a família para São Paulo. Formou-se no Conservatório Musical Heitor Villa Lobos. Seu contato com o fado deuse quando trabalhava no restaurante O Beco, em São Paulo, um dia precisou de um guitarrista para acompanhar uma cantora brasileira em alguns fados. Indicaram o guitarrista Alípio Correia. Em seguida, em 1980, Alípio o apresentou ao maestro Manuel Marques, que estava em busca de um violonista para substituir um músico que havia saído do Trio Manuel Marques. A partir de então o trio ficou constituído Manuel, Bonfim e Nelito Marques. Bonfim tem acompanhado muitos fadistas no Brasil como, Fernando Soares Machado, Pedro Vilar, Beatriz da Conceição; Dam Félix, Glória de


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Lourdes, Adélia Pedrosa, Terezinha Alves, Maria de Lourdes, Mário Rocha, Abílio Herlander, Irene Coelho, Ciça Marinho, Marly Gonçalves, Conceição de Freitas, entre outros. O Trio Manuel Marques apresentou-se em Portugal; na Festa da Marejada, da comunidade açoriana, em Itajaí, SC; em concertos no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado de São Paulo e na novela Pupilas do Senhor Reitor, acompanhando a atriz Lucinha Lins. Com o retorno de Manuel Marques a Portugal, em 2010, o trio foi dissolvido. Bonfim continua ligado ao fado, acompanhando vários intérpretes em shows pelo Brasil. Também é um dos divulgadores do Jequibau, ritmo musical brasileiro criado por Mário Albanese e Cyro Pereira.

BRANQUINHO, Manuel.

(Manuel Duarte Branquinho. Condeixa-a-Velha, Coimbra, PT, 1929 - Braga, PT, 8/2/1999). Filho de Manuel Simões Branquinho e Maria Duarte. Viveu na cidade de Coimbra dos quatro aos 22 anos. Tocou guitarra com Almeida Santos, Mário Marini, Fernando Abreu Lima, entre outros, e com violas, como Tavares de Melo, Mário Barroso, Alfredo Caseiro da Rocha, e mais tarde com Jorge Gomes. Acompanhou cantores como Camacho Vieira, Florêncio de Carvalho, Anarolino Fernandes, Alexandre Herculano, Luiz Góes, Fernando Rolim, Machado Soares e muitos outros. Aprendeu com facilidade a tocar guitarra, e já ensinava os mais novos, quando jovem estudante de Direito, pelos anos de 1948 a 1951. Foi também membro da Tuna Acadêmica da Universidade de Coimbra, de 1943 a 1952. Decidiu viajar para o Brasil, desembarcando em agosto de 1952, no Rio de Janeiro. Foi diretor artístico do Orfeão de Portugal e do Grupo Coral Estudantes e Tricanas de Coimbra. Fundou ainda o Grupo dos Trovadores de Coimbra. No Brasil, começou a cantar de forma mais criteriosa, vindo a revelar-se numa voz de elevada craveira técnica. Regressou a Portugal, já com família constituída, em 1966. Voltou a Coimbra para terminar o Curso de Direito. Gravou muitos discos, como guitarrista e como cantor. Deslocou-se por todo Portugal, antigas colônias africanas e a muitos países estrangeiros. Foi no seu tempo, uma figurante relevante da Canção de Coimbra.

Discografia: Fados de Coimbra (1967), Fados de Coimbra (12 compactos, 1968), Fados de Coimbra (5 LPs de 1966 a 69), Fados de Coimbra (1976), Fados de Coimbra (LP, 1978).

BRAVO, Manuela Bravo. (Maria Manuela de Oliveira Moreira Bravo. Queluz, PT, Queluz,

7/12/1957). Cantora, fad. Coimbra, atriz. Iniciou-se a cantar com cinco anos num concurso infantil do Cinema Éden, em Lisboa. O seu primeiro disco single foi lançado em janeiro de 1974. No ano seguinte gravou um novo trabalho. Outros discos foram sendo editados ao longo dos anos. Venceu o Festival RTP da Canção em 1979 interpretando a canção Sobe, Sobe, Balão Sobe do compositor Nóbrega e Sousa e representou Portugal com essa canção no Festival da Eurovisão. Ainda nesse ano lançou um novo single com as canções de Tozé Brito Adeus Amor e Até Quando. Participou noutros Festivais RTP da Canção. Na área do Fado gravou em 1996 um disco CD de Fados de Coimbra, intitulado Intenções - Coimbra - Um fado por condição, em homenagem ao seu pai, Loubet Bravo, com a colaboração de Antônio Pinho Brojo e do seu “Quarteto de Guitarras”. No verão de 2002 começou a cantar fados no restaurante típico “A Severa”. Ao longo da sua carreira participou em vários programas televisivos, como por exemplo A Feira, Deixem Passar a Música, Domingo à Noite, Ligeiríssimo e Nicolau no País das Maravilhas. No Teatro desempenhou, em 1999 e 2000 (10 meses), o papel de Celeste Rodrigues no musical Amália de Filipe La Féria. Em 2005 desempenhou o papel de Grizabella, no espetáculo Musicattos Best of Brodway, produzido por Óscar Romero, interpretando Memory. Em 2014 assinalou 40 anos de carreira com o espetáculo-concerto Contrapalco Convida Manuela Bravo, em cena por vários pontos de Portugal. Foi homenageada em 2015, pela OGAE Portugal, no espetáculo Eurovision Live Concert, em Setúbal, Portugal. Esteve presente em 2016, na América Central, cidade do Panamá, tendo atuado em vários espetáculos no “28º Chin Portuguese


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Winter Picnic”. Discografia: Álbuns - LPs e CDs - Manuela Bravo (LP, Vadeca, 1981), Óculos de Sol (LP, Discossete, 1989), Canções Que Me fazem Feliz (LP, Discossete, 1992), Manuela Bravo a Preto e Branco (CD, Soprosom, 1993), Fado Por Condição (CD, Ed. Autor), Este Bravo Que Sou (CD, Ed. Autor, 2004). Singles - Nova Geração / Another Time (Valentim de Carvalho, 1974), Tínhamos Vinte Anos / Soldado-Escravo (Valentim de Carvalho, 1975), Canta Comigo / Fecha Os Teus Olhos e Recordemos (Sentry-Vox, 1977), Marcas do Que Se Foi (Sentry-Vox), Sobe Sobe Balão Sobe / Meu Tempo Novo de Viver (Vadeca, 1979), Adeus Amor / Até Quando (Vadeca, 1979), Danças e Cantares / Para Ti Amor (Vadeca), Recordações / Estranha Forma de Amor (Vadeca, 1980) Tu e só Tu / Por Uma Vez (Vadeca, 1981), Mulher Só / Uma História Para Contar (Vadeca, 1981), Quando A Banda Chegar/Adeus Que Te Vou Deixar (Vadeca, 1981), Danças e Cantares / Para Ti, Amor (Vadeca, 1982), Tango / Não Sei Porquê (Orfeu, 1985), O Meu Herói / Quero (Materfonis, 1986), Passou Tanto Tempo / Sonhos Para Dar E Vender (Discossete, 1987), Óculos de Sol / Pode Acontecer (Discossete, 1989).


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CAMANÉ (Carlos Manuel Moutinho Paiva dos Santos. Oeiras, PT, 20/12/1966). Fad. Em 1979,

participou do concurso Grande Noite do Fado e saiu vencedor. A seguir, gravou seu 1º LP com produção do guitarrista Antônio Chaínho. Ao completar 18 anos passou a se apresentar em várias casas de fado como: Fado Menor, Faia, Adega Machado, Luso, Clube de Fado, Sr. Vinho entre outras. Pelas mãos de Filipe la Féria, na década de 90, participou dos projetos Grande Noite, Maldita Cocaína e Cabaret, assim, através do teatro ganhou maior notoriedade junto ao público. Em 2004 integrou o projeto Humanos, com David Fonseca e Manuela Azevedo, interpretando canções inéditas de Antônio Variações, acontecimento que projetou sua imagem a nível nacional. A Fundação Amália Rodrigues atribuiu-lhe o prêmio de “Melhor Intérprete Masculino” na sua 1ª. Gala, em 2005. Em 2006, realizou com Carlos do Carmo o grande show de encerramento das Festas de Lisboa, com um palco instalado na Torre de Belém, o público que compareceu a este espetáculo girou em torno de 20 mil pessoas. Participou, em 2007, da película cinematográfica consagrada ao fado como gênero musical, onde interpreta dois fados. Da autoria do realizador espanhol Carlos Saura, o filme Fados teve circulação a nível mundial. Camané já atuou em diversos países do mundo. É irmão dos fadistas Hélder Moutinho e Pedro Moutinho. Discografia: O fadista da Costa do Sol (EP, Metro Som, 1979), A alma jovem do fado (LP, Estúdio, 1982), Ai que saudades / Teu lindo nome (Compacto, MBP, 1989), Uma noite de fados (EMI, 1995), Esta coisa da alma (EMI, 2000), The art of Camané (CD, Hemisphere, 2004), Sempre de mim (EMI,CD+DVD, 2008), Infinito presente (Warner, CD, 2015). Filmografia: Fados (2007).

CAMPOS, Antônio.

(Antônio Almeida de Oliveira Campos. Ovar, PT, 11/9/1934 - Rio de Janeiro, RJ, 15/7/2014). Fad. Comp. Rad. Filho de Antônio Oliveira Campos e Maria do Céu Rodrigues de Almeida. Considerado, no Brasil, um dos maiores poetas do fado, tendo escrito mais de 300 poemas. Em Portugal, iniciou sua trajetória artística cantando na casa de fado Vale Formoso, no Porto. Apresentou-se várias vezes na RTP e teve atuações na Argentina. Em maio de 1953, Antônio chegou ao Rio de Janeiro e logo começou a cantar no Programa dos Astros, de Joaquim Pimentel, na Rádio Vera Cruz. Essa parceria duraria 30 anos. Conhecido também como o “Rei da Desgarrada”, cantando em dupla com a “Rainha” Maria Alcina, uma parceria que rendeu muito sucesso. Durante muitos anos, Antônio e Maria Alcina foram à atração do restaurante A Desgarrada. Na TV brasileira apareceu nos programas Caravela da Saudade, Casa do Casimiro, Portugal sob o Mesmo Céu, Almoço com as Estrelas, Baile da Saudade, Imagens de Além-Mar e Todos Cantam a Sua Terra. Tem discos gravados no Brasil e em Portugal. Com Joaquim Pimentel iria passar de intérprete a compositor, criando músicas de sucesso para Francisco José (Dá tempo ao tempo), Adélia Pedrosa (Sabe-me bem dizer não), Antônio Mourão (Voltei a teu lado), Maria da Fé (Mal de amor) e Tony de Matos (Quem sou, Mônica, Se quiseres ir embora e Vai). O fado Meu Amor Marinheiro, com letra de Antônio Campos e melodia de Joaquim Pimentel, é até hoje um dos maiores sucessos da dupla. A jovem fadista Carminho, escolheu esta canção para apresentar na Gala Fado Patrimônio da


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Humanidade, em dezembro de 2011, no Coliseu dos Recreios de Lisboa. Ao completar 45 anos de carreira, em abril de 2012, recebeu o título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro, propositura da vereadora Teresa Bergher. Discografia: Fados e Desgarradas (LP, 1967), Degrau que te encontrei (LP, 1968), A Desgarrada (1975).

CÂMARA, José da.

(José da Câmara. Lisboa, PT, 23/5/1967). Fad. Foi o primeiro de seis filhos de Maria Augusta de Melo de Novais e Ataíde da Câmara e de D. Vicente Maria do Carmo de Noronha da Câmara, também ele fadista. Influenciado pelo pai e pelos irmãos, pois todos tocavam viola e cantavam, José da Câmara começa a cantar ainda muito novo. Por graça, começa a cantar fados em festas familiares e entre os colegas. A sua estreia em palco dá-se em 1984 no Teatro da Trindade. No ano seguinte, canta ao lado de seu pai no Festival de Música dos Açores, na Ilha Terceira. Em 1986 estreia-se como profissional, ao ser convidado para atração nacional na revista Lisboa, Tejo e Tudo, no Teatro Maria Vitória, da autoria de César de Oliveira, Fialho Gouveia e Raul Solnado. Em 1986, José da Câmara conquista o Troféu Nova Gente, Prêmio Revelação de Fado. Nesse mesmo ano, pela mão de Mário Martins, assina contrato com a EMI Valentim de Carvalho lançando em 1988 o seu primeiro registo intitulado José da Câmara. É igualmente autor de vários fados, nomeadamente À Sombra da Lua, que deu o título ao primeiro disco de Mico da Câmara Pereira. Ao longo do seu percurso, o fadista já contabilizou espetáculos em Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Itália, Alemanha, Holanda, Áustria, Inglaterra, Moçambique, Marrocos, Canadá, Macau e Coreia do Sul. As suas mais importantes atuações, segundo o próprio fadista, aconteceram na Europália, na Bélgica e no Festival de Música Clássica de Macau. Atuou ainda inúmeras vezes nas diversas cadeias de televisão portuguesas. Em 2000 cantou regularmente no “Clube do Fado”. Fez parte do grupo “Quatro Cantos”, que juntava os nomes de Antônio Pinto Basto, Maria Armanda e Teresa Tapadas. Além de fadista, José da Câmara é também empresário, tendo-se dedicado à restauração. Presentemente, além dos espetáculos, canta no seu restaurante O Tabuleiro, em Telheiras. É casado e tem três filhos.

CÂMARA, Vicente da. (Dom Vicente Maria do Carmo de Noronha da Câmara). Alto de Santa

Catarina, Lisboa, PT, 7/5/1928 – Lisboa, PT, 28/5/2016). Fadista e poeta. Começou a interessar-se pelo Fado assistindo aos ensaios de sua tia, Maria Teresa de Noronha e ouvindo os discos de João do Carmo de Noronha, seu tio avô. Começou com 15 anos a interpretar o fado como amador e a frequentar os espaços fadistas como a Adega da Lucília, a Adega Machado e a Adega Mesquita. Aprendeu também a tocar guitarra nessa altura. Participou pela segunda vez num concurso da Emissora Nacional, em Lisboa e ganhou com 20 anos, o 1º prêmio nesse ano, 1948. A partir daí atuou naquela estação radiofónica num grande número de programas com destaque para os Serões para Trabalhadores, no programa que a sua tia, Maria Teresa de Noronha, manteve naquela emissora até 1962 e em outros programas de estúdio. Assina em 1950 o seu contrato discográfico, com a Valentim de Carvalho, e grava o seu primeiro disco. Depois parte para Luanda, Angola, onde permanecerá dois anos. Em 1961 é contratado pela editora Custódio Cardoso Pereira. Celebra um contrato com a Rádio Triunfo em 1967. O seu maior êxito é a composição A Moda das Tranças Pretas, com letra da sua autoria. Fez várias digressões internacionais, sobretudo a partir da década de 1980. Fez várias viagens ao Extremo Oriente onde conquistou sempre grandes sucessos e realizou espetáculos na Alemanha, Luxemburgo, França, Espanha, Holanda, Canadá, África do Sul, Macau, Hong Kong, Seul, Coreia, Malásia, Brasil, Moçambique e Angola. Em 1989 assinalou o quadragésimo aniversário da sua carreira atuando no Cinema Tivoli, em Lisboa. Ao longo da sua carreira teve várias participações na Televisão. Em 2009, Vicente da Câmara festejou os seus 60 anos de carreira artística no Teatro Tivoli, em Lisboa. É


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membro do Conselho Executivo do Museu do Fado. Discografia: composições gravadas em disco - Guitarra Soluçante, O Fado Antigo é Meu Amigo, Há Saudades Toda a Vida, Fado das Caldas, Varina, A Moda das Tranças Pretas, Oiça lá ó Senhor Vinho e Milagre de Santo Antônio. O Rio que nos viu nascer foi o seu registo discográfico mais recente. Foi editado pela Ovação em 2006. Filmografia: A Última Pega de Constantino Esteves (1964); Fados de Carlos Saura (2007). Prêmios e condecorações: “Prêmio Carreira” da Fundação Amália Rodrigues (2009), Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (27/11/2013), Medalha de Mérito Municipal da Câmara Municipal do Cartaxo (2013) e ainda, entre outros, da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, do Clube Artístico e Comercial de Torres Vedras e do Grupo de Forcados de Alcochete.

CARMO, Carlos do.

(Carlos do Carmo da Ascensão de Almeida. Lisboa, PT, 21/12/1939). Fad. Filho de Alfredo de Almeida, comerciante de livros e, posteriormente, proprietário da casa de fados O Faia, e de sua mulher, Lucília do Carmo, uma das mais populares fadistas de sempre, Carlos do Carmo nasceu na Mouraria e passou a infância no popular bairro da Bica. Frequentou o Liceu Passos Manuel, antes de partir para a Suíça, onde frequentou o Institut auf dem Rosenberg, um colégio alemão situado em São Galo. Nessa escola estudou intensamente línguas estrangeiras, tornando-se fluente em francês, inglês, alemão, italiano e espanhol. Depois, ainda na Suíça, obteve um diploma em Gestão Hoteleira. Em 1962, a morte do pai levou Carlos do Carmo a assumir a gerência do O Faia, que era já uma das casas de fado mais concorridas da capital. Seu surgimento como fadista dá-se após gravar com Mário Simões uma versão de Loucura, fado de Júlio de Sousa, interpretado também por Lucília do Carmo. Em 1967 a Casa da Imprensa distingue-o com o prêmio “Melhor Intérprete” e, em 1970, atribui-lhe o prêmio Pozal Domingues de Melhor Disco do Ano, para o seu primeiro álbum, intitulado O Fado de Carlos do Carmo, editado pela Alvorada em 1969. Seguem-se diversos EPs e LPs, como os discos gravados ao longo da década de 70: O Fado em Duas Gerações, Carlos do Carmo e Lucília do Carmo, Por Morrer uma Andorinha ou Carlos do Carmo. Deve grande parte dos seus êxitos a Ary dos Santos, entre eles Um homem na cidade, Lisboa, Menina e Moça, Estrela da Tarde, Novo fado alegre, O homem das castanhas, O amarelo da Carris, Sonata de Outono, Fado Varina, Fado do Campo Grande, Balada para uma Velhinha, Fado Lezíria ou Menor/Maior. Em 2007 Carlos do Carmo apresentou, no Museu do Fado, um álbum intitulado À Noite, que reúne textos inéditos de Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral, Maria do Rosário Pedreira, Júlio Pomar, Luís Represas, José Luís Tinoco e José Manuel Mendes, para as músicas de fados tradicionais da autoria de Armandinho, Joaquim Campos e Alfredo Marceneiro. São inúmeros os prêmios e honrarias recebidas até hoje, desde o título do Cidadão honorário da cidade do Rio De Janeiro, membro da Honra do Claustro Ibero-Americano das Artes, passando pelo diploma conferido pelo Senado de Rhode Island nos Estados Unidos pelo seu contributo para a divulgação da música portuguesa, do Globo de Ouro SIC de Mérito e da Excelência, do Prémio da consagração de carreira da Sociedade Portuguesa de Autores, até ao reconhecimento Nacional com a Ordem do Infante Dom Henrique. Figura também como pioneiro na nova discografia portuguesa devido ao seu disco Um Homem no País, que foi o primeiro CD editado por um artista em Portugal

CARMO, Lucília. (Lucília Nunes de Ascensão do Carmo. Portalegre, PT, 4/11/1919 - Lisboa, PT, 19/11/1998). Fad. Empr. Filha de Francisco de Ascensão e Georgina Antônia Nunes de Ascensão. Iniciou a sua carreira como cantadeira amadora em sociedades de recreio e festas de beneficência em


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Portalegre. Em 1937, aos 17 anos, estreia nas noites lisboetas no Café Mondego. O reconhecimento de seu talento foi imediato. Participou em programas de fados na Emissora Nacional, na Rádio Graça e na Rádio Luso, sendo através da rádio que alcançou grande notoriedade. Do casamento com o empresário Alfredo de Almeida, em 1939, nasceu seu único filho, o futuro fadista Carlos do Carmo. Em 1949, abre a sua casa de fado, Adega da Lucília, que tempos depois mudou o nome para O Faia, à Rua da Barroca, no Bairro Alto. Este modelo, de abrir restaurantes típicos de fado por nomes que se consagraram no universo do fado, será posteriormente seguido por muitos dos seus colegas, como Hermínia Silva, que abre o Solar da Hermínia, Carlos Ramos com A Toca, Adelina Ramos com A Tipoia, ou Fernanda Maria com o Lisboa à Noite, por exemplo. Lucília atraiu para O Faia alguns dos seus amigos, como Alfredo Marceneiro e Tristão da Silva. Entre os seus êxitos estão, Leio em teus olhos, Foi na travessa da Palha, Maria Madalena, Não gosto de ti, Preciso de te ver, Senhora da Saúde, Olhos garotos, Antigamente, Tia Dolores, Loucura, Zé Maria, Lá vai a Rosa Maria. Viajou para o Brasil em março de 1953, no vapor Vera Cruz. Desembarcou no porto de Santos, SP, em 14 de abril. Veio contratada para cantar na casa de fados Marialva, do casal Manuel e Irene Coelho, em São Paulo. Ficou hospedada durante sete meses no Hotel Rex, à Rua Timbiras, 270. Em novembro de 1953, viaja para a Europa e percorre diversos países em turnê antes de regressar a Portugal. Na década de 1980, retirou-se da vida artística. Discografia: Foi na travessa da palha (Decca, s.d.), A cor da mágoa (Decca, s.d.), Olhos garotos (Decca, s.d.), Uma voz de sempre (Decca, s.d.), Fado Lisboa evening at the “Faia”, com Lucília do Carmos e Carlos do Carmo (LP, Philips, 1966), O Fado em duas gerações (LP, Decca, 1969), Recordações (LP, Decca, s.d.), Biografias do fado - Lucília do Carmo (CD), O melhor de Lucília do Carmo (CD).

CONCEIÇÃO, Beatriz da.

(Beatriz da Conceição Mendes Lage. Porto, PT, 21/8/1939 Lisboa, PT, 26/11/2015). Fad. Comp. Em 1960 estreou sua carreira no restaurante típico Viela, em Lisboa. A seguir, esteve em diversas casas de fado como: Adega Machado, Nonó, Os Ferreiras, Taverna do Embuçado e Sr. Vinho. Em 1965, gravou o 1º disco para a RCA Victor, Fui por Alfama. Em 1966 começou a trabalhar no teatro de revista, no Parque Mayer, onde criou números de grande sucesso, destacadamente da autoria de Ferrer Trindade. Os compositores José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo escreveram Meu corpo, mais conhecido como Fado da Bia, diminutivo familiar da artista. Este fado foi criado rapidamente em virtude de Beatriz da Conceição ter que substituir Tonicha na revista Uma no Cravo, Outra na Ditadura, sendo necessário ter um tema original para interpretação. Em 1968, depois de atuar nas colônias africanas, esteve no Brasil e atuou em diversas restaurantes típicos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em 1996, Beatriz da Conceição e Antônio Rocha foram convidados para o projeto Tears of Lisbon, dirigido pelo maestro Paul van Nevel e o Huelgas Ensemble, com uma recolha de temas de fado e de música portuguesa do séc. XVI. Realizou diversas excursões artísticas no exterior. Entre seus êxitos musicais estão, Ovelha negra, Meu corpo, Porque é que adeus me disseste, Lisboa cor da ponte e Três santinhos populares. Em novembro de 2007, aconteceu em Londres o Festival Atlantic Waves, Beatriz da Conceição esteve no Queen Elizabeth Hall, dividindo o palco com as fadistas Maria da Fé, Mafalda Arnauth, Aldina Duarte, Joana Amendoeira e Raquel Tavares, no show intitulado The Grand Divas of Fado. Em maio de 2008, foi distinguida com o “Prêmio Carreira” da Fundação Amália Rodrigues, e nesse mesmo mês foi homenageada na sua cidade natal com o espetáculo Alma Lusitana, no Teatro Sá da Bandeira. Discografia: É sempre amor (Columbia, 1966), Se tardar, amor não venhas (Columbia, 1967), Recado a Lisboa (Columbia, 1969), Sucessos de teatro ou fado-canção (LP, Columbia, 1971), Sou um fado desta idade (CD, EMI, 1996), O melhor de Beatriz da Conceição (CD, Iplay, 2008). Filmografia: O Fado da Bia (documentário, 2012).


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CARDOSO, Berta. (Berta dos Santos Cardoso. Lisboa, PT, 21/10/1911 - Lisboa, PT, 12/7/1997).

Fad. Filha de Américo Melande Cardoso e Rosalina Jorge dos Santos. Por influência de um dos seus irmãos, Américo dos Santos, que era violonista amador, estreia-se no Salão Artístico de Fados, no Parque Mayer, com apenas 16 anos, em 1927. O êxito da sua atuação fez com que fosse contratada para trabalhar nessa casa. No tempo em que o fado começa a ser cantado no teatro de revista por cantadores profissionais, e já não por atores e atrizes a representar nas peças, Berta aparece como uma das cantadeiras que faz longa carreira neste tipo de espetáculo. Sua estreia acontece na revista Ricócó, em 1929, no Teatro Maria Vitória. Em1932 é convidada para integrar a Companhia Maria das Neves. Passou a fazer parte do elenco protagonizado por Beatriz Costa. Partem para o Brasil, onde trabalharam vários meses. As interpretações de Berta tem tal sucesso que são vários os jornais brasileiros a destacar a sua forma de cantar e a calorosa recepção do público presente nos espetáculos. Na década de 30, tal como Ercília Costa, Berta tem um papel fundamental no 1º período de internacionalização do fado, com deslocações que inserem nesta rota o Brasil, as ilhas da Madeira e Açores e as colônias africanas. Neste contexto surgiu, em 1933, o Grupo Artístico de Fados, formado pelas cantadeiras Berta Cardoso e Madalena de Melo, e pelos instrumentistas Armando Augusto Freire (Armandinho), Martinho d’Assunção Júnior e João da Mata. Nos anos 1950/60, realizou diversas gravações para a etiqueta Estoril. Desta época em diante, passou a trabalhar mais nas casas de fados, deixando as cansativas viagens de lado. Desde 1961 até ao final da década seguinte, estabeleceu-se no elenco da Viela, casa onde foi, também, homenageada em 1967. Deixa as lides artísticas em 1982, quando atuou no Poeta, espaço aberto, nesse mesmo ano, pelo poeta José Luís Gordo e a sua esposa, a fadista Maria da Fé. Discografia: Cruz de guerra (78 rpm, Columbia, s.d.), Uma hora, duas horas (78 rpm, Columbia, s.d.), A enganada (78 rpm, Odeon, s.d.), Último pedido (78 rpm, Odeon, s.d.), Lés a lés (75 rpm, Odeon, s.d.), A minha casinha (78 rpm, Columbia, s.d.), Marinheiros de Portugal (78 rpm, Columbia, s.d.), Cruz de Cristo / Desgarrada - dueto com Joaquim Pimentel (78 rpm, Victor, 1939), A visit to Portugal (LP, Capitol, s.d.), Não vou contigo (Columbia, s.d.).

CARMINHO

(Maria do Carmo de Carvalho Rebelo de Andrade. Lisboa, PT, 20/8/1984). Fad. Comp. Filha da fadista Teresa Siqueira e de Nuno Rebelo Andrade. Aos dois anos mudou-se com a família para o Algarve. Ouvia em casa fados e músicas brasileiras, estas através das telenovelas que tinham em suas trilhas sonoras canções de Chico Buarque, Elis Regina, Milton Nascimento, Tom Jobim e Vinícius de Morais. Em 1996, regressou com a família a Lisboa, passaram a morar no Bairro Alto. Os pais abriram uma casa de fado, o Travessa do Embuçado, e Carminho passou a ter maior contato com o fado e os fadistas. Cantou em público pela 1ª. vez aos 12 anos, no teatro Coliseu dos Recreios. Aos 15 anos passou a cantar com frequência na casa de fados da família. Aos 21 anos, depois de terminar o curso de Marketing e Publicidade no Instituto de Arte, em Lisboa, viajou pelo mundo durante um ano, participando em missões humanitárias na Índia, Camboja, Peru e Timor. No regresso, decidiu investir na carreira artística. Em 2005 recebeu o “Prêmio Amália”, na categoria de “Revelação feminina”. Em 2012 lançou o seu 2º disco intitulado Alma, sendo que a edição brasileira inclui duetos com Chico Buarque (Carolina), Milton Nascimento (Cais) e Nana Caymmi (Contrato de Separação). Em agosto de 2014, participou, junto com Camané, Raquel Tavares e outros artistas do projeto Amália Hoje, dentro da 2ª. edição do Festival de Fado no Brasil. Os espetáculos aconteceram nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2015, recebeu a comenda da Ordem do Infante D. Henrique. Em 2013, atuou na abertura do Carnaval de Recife, PE, e realizou espetáculos grandiosos no Rio de Janeiro, São Paulo e por outras cidades brasileiras. Atualmente é uma das artistas portuguesas mais conhecidas e com projeção internacional. Discografia: Fado (CD, EMI, 2009), Alma (CD, EMI, 2012), Canto (CD, Warner, 2014).


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Filmografia: Fados (2007).

CASTRO, Ada de.

(Ada Antunes Pereira. Lisboa, PT, 13/8/1937). Fad. Comp. Nasceu na freguesia do Castelo o que a levou a adotar o nome artístico de Ada de Castro, em referência ao seu bairro. Ainda jovem tornou-se atriz amadora no Grupo da Juventude Operária Católica. Em 1960, estreou no rádio e no restaurante típico O Faia. Teve duas madrinhas artísticas, Hermínia Silva e Maria José da Guia, as quais, em diferentes ocasiões, colocaram sobre os seus ombros o simbólico xaile fadista. Durante anos foi intérprete exclusiva dos restaurantes Folclore e Sr. Vinho, em Lisboa. Atuou em rádio, TV e cassinos. No teatro de revista, participou de Tudo à mostra, no Teatro Maria Vitória, em 1966. Gravou além de fados, marcha populares, nomeadamente aquelas que foi madrinha. Excursionou por diversos países: Espanha, Holanda, Dinamarca, Suécia, China, Itália, Argentina entre outros. No Brasil esteve durante quase seis meses, em 1968/1969, atuou em quase todas as capitais. No Rio de Janeiro, trabalhou no restaurante Lisboa à Noite, do empresário Joaquim Saraiva. Foi uma das fadistas que mais realizou gravações, em sua discografia incluem-se 25 LPs e 80 compactos (simples e duplos), reedições em CD e participações em várias coletâneas. Criadora de inúmeros êxitos como, Gosto de tudo o que é teu, Cigano, Deste-me um cravo encarnado, Rosa caída, Sou fadista, Novo fado da Severa, Amor é rosa bravia, Alguém mandou-me violetas; Mãos frias, coração quente; O mangerico, Na hora da despedida etc. Atualmente afastada das lides artísticas, apresentase esporadicamente em casas de fado, espetáculos de beneficência e TV. Discografia: Lisboa cheia de luz (Decca, 1973), A Severa que me diga (Decca, 1973), Alguém mandou-me violetas (Decca, 1974), Guitarra meu encontro (Decca, 1993), Ada de Castro (CD, Movieplay, s.d.), Ada de Castro vol. 2 (CD, Movieplay, s.d.).

CARVALHO, Olivinha.

(Olívia Corvacho. Rio de Janeiro, RJ, 30/3/1930). Fad. Filha de Antônio e Zulmira Corvacho, portugueses da região de Viseu. O pai foi cantor de rádio, por curto espaço de tempo, e sua mãe fez radioteatro. Aos cincos anos, estreou na Rádio Cajuti (depois Vera Cruz), cantando fados. Em 1940, aos dez anos gravou seu 1º disco 78 rpm com o vira Folhas ao vento e o fado Evocação, na Columbia. Em 1936, é convidada por Joaquim Pimentel para estrear no teatro de revista, de quem recebeu a alcunha de “Severinha”. No decorrer da década de 40, fez brilhante carreira infanto-juvenil na revista tendo participado das peças A feira livre, A cuíca está roncando, Guela de pato, Assim até eu, De papo pro ar, Boa nova, Rosa cantadeira, Quindins de iaiá, entre outras, contracenando com Amália Rodrigues, Luíza Satanela, Dina Tereza, Antônio Silva, Josefina Silva e Beatriz Costa. Cantou em diversas emissoras de rádio e viajou por todo Brasil. Em outubro de 1947 respondeu a revista Carioca porque ao invés de se interessar pelo samba preferiu o fado: “A arte não tem nacionalidade. Para sentir a arte em toda a sua plenitude, basta que a criatura tenha sensibilidade. Eu me dedico ao fado por vários motivos. Meus pais são portugueses, e eu, brasileira; dois motivos importantes para que eu gostasse de tudo que diz respeito a Portugal. Gosto do fado, porque sou espontaneamente muito sentimental. Naturalmente, como brasileira deveria preferir o samba, que aprecio muito, mas, no fado eu me sinto mais à vontade”. Aos 17 anos assinou seu 1º contrato fixo com uma emissora, a Mayrink Veiga. Além de fadista também atuou como radioatriz. Durante vários anos foi contratada da Rádio Nacional, a mais famosa do país. Seus sucessos em disco foram com as músicas, Rosinha dos limões (1952), Lavadeiras de Portugal (1956) e Canto o fado (1966). Na TV Continental, do Rio, apresentou o programa Domingo em Portugal. Em Portugal, Olivinha era conhecida através das reportagens de jornais, revistas e também pela comercialização dos seus discos. Recebeu alguns convites para atuar na terra de seus pais, mas nunca os aceitou por não serem vantajosos. É torcedora fanática do Vasco da Gama Futebol Clube. Nos anos 80 passou a se apresentar com menos assiduidade. Atualmente, vive retirada na companhia da irmã.


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Discografia: Juramento / Quanta saudade (78 rpm, Star, 1949), Ai, Mouraria / Tudo isto (78 rpm, Star, 1950), Pode ser mentira / A fonte das sete bicas (78 rpm, Copacabana, 1954), Grão de arroz / Quis Deus que eu fosse fadista (78 rpm, Copacabana, 1955), Canção do mar / Aldeia da Pedra Branca (78 rpm, Copacabana, 1956), Sou vascaína / Alfama (78 rpm, Copacabana, 1957), Saudade vai-te embora / Isto é Lisboa (78 rpm, Mocambo, 1962), Recordando Portugal (LP, Copacabana, 1958), Isso é Portugal (LP, Movieplay, 1960), Domingo em Portugal (LP, Beverly, 1975). Filmografia: Pif Paf (1944), Cem garotas e um capote (1946), Esta é fina (1948), Fogo na canjica (1948), Eu quero movimento (1949).

CHAÍNHO, Antônio. (Antônio Dâmaso Chaínho. Santiago do Cacém, Alentejo, PT, 27/1/1938).

Guit. Comp. Os pais eram proprietários da Tasca do Faúlha, onde se reuniam amantes do fado. O pai tocava guitarra portuguesa e a mãe cantava. Incentivado pelo pai, Antônio começou a dedilhar a guitarra e aos 13 anos passou a se apresentar em público. Como autodidata, o estímulo para o seu aperfeiçoamento e profissionalismo surgiram das audições dos programas da Emissora Nacional de Lisboa, onde se apresentavam os guitarristas José Nunes, Raul Nery e Jaime Santos. Cumprindo serviço militar em Moçambique e dada a reputação de exímio guitarrista, passou a ser solicitado para acompanhar os artistas que se deslocavam a estes locais para atuações. Neste período, exerceu grande atividade musical, tendo-se profissionalizado em 1961. Em 1966, retornou a Portugal, fixouse em Lisboa, dedicando-se exclusivamente a carreira de instrumentista. Apresentou-se em diversas casas de fado como A Severa, Folclore e Faia. Destacou-se como acompanhante de grandes artistas como, Alfredo Marceneiro, Antônio Mourão, Carlos do Carmo, Francisco José, Frei Hermano da Câmara, Hermínia Silva, Lucília do Carmo, Maria Teresa de Noronha entre outros. Paralelamente, gravou discos e programas de rádio e TV com um grande número de fadistas, ao mesmo tempo que desenvolveu a atividade de produtor na Rádio Triunfo. Em maio de 1988, Chaínho atuou no Brasil, ganhando muitos elogios da imprensa local. Em finais dos anos 80, começou a trabalhar outros formatos musicais para além do que já lhe era conhecido, desenvolvendo temas da sua autoria. Com efeito, participou e apoiou experiências e incursões no fado das cantoras brasileiras Fafá de Belém e Gal Costa. Em finais de 1999 deslocou-se de novo ao Brasil. Desta feita, nasceu no ano de 2000, em colaboração com Celso Fonseca e Jacques Morelenbaum, o álbum Lisboa-Rio, com uma cuidada seleção de repertório entre originais e clássicos da música brasileira. Diante de toda sua experiência musical, em 2001, passou a integrar o corpo docente na Escola de Guitarra do Museu do Fado. Discografia: Solos de Chaínho (Rapsódia, s.d), Guitarra Portuguesa (Moviplay, 1980), Antônio Chaínho e Marta Dias ao vivo no CCB (CD/DVD, Moviplay, 2003).

COELHO, Irene. (Irene Aparecida dos Santos Coelho. Rio Claro, SP, 4/7/1921 - São Paulo, SP,

7/6/2008). Fad. Rad. Empr. Irene Coelho foi um dos maiores expoentes do fado no Brasil. Embora brasileira, ao longo de toda sua vida, dedicou-se totalmente a divulgação da cultura musical lusa. Literalmente, Irene trocou o samba pelo fado. Foi batizada como Irene Aparecida Raymondo. Seu pai era italiano e sua mãe brasileira, filha de portugueses da região de Leiria. Ao completar 12 anos, em 1933, deixou Rio Claro e foi residir com sua família na vila ferroviária no Alto da Serra, atual Paranapiacaba, pertencente ao município de Santo André, SP. Para a diversão dos moradores havia o Clube Lira Serrana, onde Irene teve seu 1º contato com o fado. Aos 15 anos foi estudar canto e guitarra portuguesa com o prof. Alfredo Bastos na cidade de Santos. Estreou cantando fados na Rádio Atlântica de Santos, no programa Saudades de Portugal. Por volta de 1939, passou a estudar canto com o prof. Joaquim Gallas, na capital paulista. Conheceu o português Manuel dos Santos Coelho, comerciante e


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guitarrista. Casaram-se em julho de 1940. Após nove meses de casados, Manuel presenteou a esposa com um programa de rádio, o Melodias Portuguesas. Em 1942, o casal resolveu tentar a sorte no Rio de Janeiro, então Capital Federal e polo cultural e artístico do Brasil. Durante todo o período que permaneceu na Cidade Maravilhosa recebeu o apoio do fadista Manoel Monteiro. Em 1943, recebeu de Monteiro e Joaquim Pimentel o slogan “Princesinha da Canção Portuguesa”. Pela etiqueta Continental, em 1945, gravou seu 1º disco com os fados Amor eterno (Antônio Ferreira / Américo Morais) e Tua guitarra (Belmiro A. Veiga), tendo como acompanhantes nas guitarras portuguesas Antônio Ferreira e Fernando de Freitas. De volta a São Paulo, em 1953, abriram o restaurante típico Marialva à Rua Luís Góes, 994, na Vila Mariana. No interior havia um local exclusivo dedicado ao fado, o Retiro dos Marialvas, por onde passaram Lucília do Carmo, Manuel Fernandes, Francisco José, Terezinha Alves, Dina Tereza, Manoel Monteiro, Fernando de Freitas, Maria Girão, Arminda Falcão, João Proença, Quincas Gonçalves, Alcino Ribeiro, Anita Menezes, José Luso, Rosa Maria Rabelo, Salúquia Rentini e outros. Durante o aniversário do IV Centenário de São Paulo, em 1954, o casal Coelho presenteou o público com um novo restaurante, o Solar da Alegria, localizado à Rua da Consolação, 394. Quando o programa Melodias Portuguesas completou 25 anos, Irene e Manuel decidiram se presentear com uma viagem de passeio a Portugal. Entre os meses de abril a junho de 1966, percorreram as terras lusas de ponta a ponta. Em Lisboa, os dois frequentaram todas as casas de fado e teatros. Durante sua carreira foi alvo de muitas homenagens. São seus sucessos, Nª. Srª. de Fátima, Chinelinhas, Bairros de Lisboa; Milagrosa Izildinha, Cachopa do Minho, Sete saias, Bailinho da Madeira e Bailinho das couves. Na década de 80, Irene Coelho, já viúva, passou a administrar o restaurante Aviação, no bairro de Santana, por onde passaram vários nomes da música portuguesa e brasileira. Durante 66 anos seguidos, apresentou o programa Melodias Portuguesas, que passou por diversas rádios de São Paulo. Discografia: Chinelinhas (78 rpm, Continental, 1947), Nª. Srª. de Fátima (78 rpm, Continental, 1947), Bairros de Lisboa (78 rpm, Continental, 1948), Fado Irene Coelho (78 rpm, Continental, 1949), Dança do corridinho (78 rpm, Continental, 1953), Eterna morada (78 rpm, Continental, 1953), Estudantina portuguesa (78 rpm, Copacabana, 1957), Irene Coelho (Alvorada, 1966), Portugal canta com Irene Coelho (LP, Phonodisc, s.d.), Melodias Portuguesas (LP, Beverly, 1969), Coração português (Beverly, s.d.),

CORRÊA, Alípio.

(São Paulo, SP, 1919 - São Paulo, SP, janeiro de 1992). Guit. Filho de portugueses, durantes décadas foi músico da comunidade portuguesa de São Paulo, sendo bastante solicitado para tocar em shows, rádios e restaurantes típicos. Foi casado com Margarida Corrêa.

COSTA, ERCÍLIA.

(Ercília Botelho Farinha Salgueiro). Costa da Caparica, Almada, PT, 3/8/1902 - Algés, Oeiras, PT, 16/11/1985. Fad. Atriz. Comp. Filha de Manoel Farinha e Virgínia Maria Botelho. A sua estreia como profissional ocorreu em Lisboa, PT, no retiro “Ferro de Engomar”. A carreira de Ercília, como cantadeira de Fado no Teatro, ter-se-á iniciado em Portugal, no ano de 1927, no Teatro da Trindade. Depois atuou em várias revistas neste teatro e ainda no Maria Vitória, Coliseu dos Recreios, Variedades e Avenida. Em 1934 Ercília fez uma digressão pelo Brasil, Argentina e Uruguai. Voltou ao Brasil em 1936 para integrar o elenco da revista Peixe Espada de que faziam parte, entre outros, Eva Stachino e Adelina Abranches, atuando no Teatrp República. Depois a Companhia atuou no Casino Antárctica, em S. Paulo, Brasil, apresentando a revista Sol de Nossa Terra. No final desse ano Ercília voltou ao Teatro República para participar, com a mesma Companhia, nas revistas Arraial e Ai-Ló. Atuou, em janeiro de 1937, ainda no Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro e de S. Paulo, bem como na Emissora Nacional Brasileira P.R.E. 8. De volta a Portugal ainda em 1937 fez


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parte dos elencos das revistas A Boca do Inferno e Pão Saloio, ambas no Teatro Apolo, em Lisboa. Em outubro desse ano a fadista atuou no Teatro da Comédie des Champs Elysées, uma das melhores salas de Paris, com grande êxito. Já em Portugal, no Teatro Apolo, Ercília Costa cantou, em novembro, com pleno êxito, na revista Pão Saloio, interpretando “os seus apaixonados fados e canções”. A opereta Coração de Alfama foi representada em 1938 no Coliseu dos Recreios e teve a participação de Ercília Costa. Depois esta peça foi à cena no Brasil, no Teatro Recreio, também com a participação da fadista. Ainda nesse ano fez parte do elenco da peça Olaré quem brinca no Teatro Recreio e depois no “Alhambra”, cineteatro da Cinelândia do Rio de Janeiro. Ercília deslocou-se em 1939 aos Estados Unidos para atuar na Feira Mundial de Nova Iorque e fazer uma digressão por 22 Estados americanos. Em 1940 estabelece contatos de amizade com Cármen Miranda. No mesmo ano regressa a Portugal, atua com grande êxito na revista Ora vai tu!..., no Teatro Maria Vitória, em Lisboa e participa na Exposição do Mundo Português, representando o Fado de Lisboa. No Coliseu dos Recreios, Ercília Costa, atuou, em 1941, nas revistas Toma Lá Cerejas! e O Pé Descalço. Fez em 1943 uma turnê pelo Centro e Norte do País, tendo ainda atuado no Retiro dos Marialvas, ex “Café Mondego”, e em 1944 no “Luso”, e no Coliseu do Porto. Voltou ao Brasil em 1945 e ali se manteve em parte do ano seguinte, permanecendo 15 meses, integrada na Companhia Alda Garrido. Regressada a Portugal ingressou no elenco da revista Estás na Lua, em cena no Teatro Apolo, substituindo Amália Rodrigues que iniciava a sua participação nas filmagens de Capas Negras. Em 1947 voltou aos Estados Unidos. Em Portugal participou no filme português Madragoa, de Perdigão Queiroga, em 1952, tendo estreado no Cinema Monumental, em Lisboa. Ercília Costa, a “Santa do Fado” retirou-se da sua atividade artística em 1954. Regravou alguns dos seus fados, sob insistência da editora Continental, em 1972 e o seu último trabalho discográfico foi editado em 1977, um LP da Série Museu do Som, Morte da Severa, da Imavox, numa produção de Nunes Forte. Ercília Costa, A Santa do Fado foi o título de um vídeo, realizado e produzido em 1984 por Nunes Forte, uma biografia resumida da fadista. Discografia: Fado da Alfama / Fado do Passado (Brunswick, 1929), Negros Traços / Fado Corrido (Odeon,1930), O Meu Filho / Fado sem Pernas (Odeon,1930), Fado Aida / Fado Ercília (Odeon, 1930), Um Desgosto / Amor de Mãe (Odeon,1930), Desilusão / A Minha Vida (Odeon,1930), Fado Dois Tons / Rosas (Odeon,1930), Divina Graça / Saudades (Odeon,1930), Fado Tango / Fado de Lisboa (Odeon,1930), O Filho Ceguinho / Duas Glórias (Odeon,1930), Meu Tormento / Saudades Que Matam (Odeon,1930), Soldado Desconhecido / Fado da Amargura (Odeon,1930), Pobreza Envergonhada / Pesar Profundo (Odeon,1930), Cantiga da Rua / Florinda (Continental,1945), Ercília Costa - Morte da Severa (LP “Museu do Som”,Imavox,1977), Ercília Costa - As primeiras gravações 1929-1930 (CD, FAROL - TRADISOM, 2009). Filmografia: Amor de Mãe (PT, 1932), Amargura (PT), Lisboa 1938 (PT), Madragoa (PT, 1952).


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D

DINA TEREZA (Dina Moreira. Oliveira do Douro, Vila Nova de Gaia, PT, 24/11/1902 - Poá,

SP, 7/4/1981). Atriz. Fad. Filha de Agostinho Moreira e Rosa Tereza. De família humilde, foi dada aos cuidados de uma senhora inglesa, do Porto, que a educou dos quatro aos 13 anos de idade. Aos dez anos, Dina já sentia enorme atração pelo teatro. Aos 13 anos fugiu de casa e acabou por integrar a companhia de revista do teatro Águia Douro, na praça da Batalha, no Porto. Estreou como corista no teatro de revista, no antigo Teatro Nacional (atual Teatro Rivoli), na peça O triunfo é paus. Ao longo de 1920 firma-se no teatro, embora não tenha conseguido grande protagonismo. Trabalhou, entre outras, nas revistas O mexilhão, Areias de Portugal, Há festa na Mouraria e O arroz-doce. Em 1929, o Diário de Lisboa organizou um concurso para escolha da protagonista do filme A Severa, baseado na obra homônima de Júlio Dantas, com produção de Leitão de Barros. Dina Tereza foi escolhida para protagonista, seu perfil se adaptava à figura da cigana Severa (Maria Severa Onofriana, 18201846). Foi seu maior sucesso e tornou-se marca registrada da sua trajetória artística. Dina imortalizou os versos: “Oh! Rua do Capelão / juncada de rosmaninho! / Se o meu amor vier cedinho, / eu beijo as pedras do chão, / que ele pisar no caminho!...”. Em 1933, o empresário Francisco Serrador resolveu trazê-la ao Brasil. Foi um sucesso. Retornou, em seguida, algumas vezes até que resolveu fixar residência na capital paulista, em 1951. Nos anos 1960, comprou terras na zona rural da cidade de Poá, SP. Construiu o “Sítio Rosário” e o habitou até seu falecimento. Vivia cercada de lembranças de sua vida artística e pelo carinho dos seus afilhados e vizinhos. Guardava uma guitarra que lhe foi oferecida, em 1931, pelo Marquês de Lavradio. Em 1966, a Revista do Rádio promoveu o retorno sentimental de Dina, a artista viajou para o Rio de Janeiro e apresentou-se na Rádio Vera Cruz e na TV Rio. Discografia: O Velho Fado da Severa (78 rpm, His Master’s Voice, 1931), O Novo Fado da Severa (78 rpm, His Master’s Voice, 1931), Vira (78 rpm, His Master’s Voice, 1931), Feira d’Alcântara (78 rpm, His Master’s Voice, s.d), O garoto (78 rpm, His Master’s Voice, s.d), A Severa (LP, Evocação, 1990). Filmografia: A Severa (1931), Varanda dos Rouxinois (1939).

DUARTE, Aldina.

(Aldina Maria Miguel Duarte. Lisboa, PT, 22/7/1967). Fad. Comp. Pesq. Trabalhou em jornal e rádio. Quando já trabalhava no Centro de Paralisia Cerebral, compunha o coro do grupo Valdez e as Piranhas Douradas. Aos 24 anos conheceu o fado através de Beatriz da Conceição. Começou nas lides fadistas no Clube do Fado, em Lisboa. Trabalhou na editora EMI e colaborou em diversos discos de outros artistas, como fadista e compositora. Em 1992, apareceu no filme Xavier a cantar A Rua do Capelão, rodado em plena Mouraria. A 1ª. vez que se apresentou em palco, cantando fado, foi na peça Judite, nome de guerra, de Almada Negreiros, no Teatro São Luís. Em colaboração com o encenador João Mota e Paulo Anes, Aldina Duarte criou as “Noites de Fado” no Teatro da Comuna, onde foram convidados fadistas e atores que faziam leituras de poetas portugueses, como Beatriz da Conceição, Manuel de Almeida, Maria da Nazaré, Carlos Paulo e Manuela de Freitas. Nesse ciclo de eventos, trabalhou com Camané, com quem posteriormente casou e viveu dez


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anos, ajudando-o na escolha de repertórios para os seus discos. Em 1997 passou a atuar na casa de fados de Maria da Fé, o Sr. Vinho. A sua aprendizagem e estudo do fado são manifestas no respeito e admiração por outras fadistas, como Maria José da Guia, Lucília do Carmo e Hermínia Silva. Na Sociedade Portuguesa de Autores estão registados mais de 70 poemas da sua autoria. Para além dos que a própria Aldina interpreta nos seus discos, outros intérpretes gravaram letras de sua autoria. Já viajou por diversos países a divulgar o fado. Em agosto de 2014, Aldina apresentou na Caixa Cultural São Paulo, na Praça da Sé, além dos shows, a artista participou de um bate-papo com o público onde focalizou suas experiências artísticas e episódios da cultura musical portuguesa. Discografia: Apenas o amor (CD, EMI, 2004), Crua (CD, EMI, 2006), Mulheres ao espelho (CD, Roda-lá-Music, 2008), Contos de Fados (CD, Roda-Lá Musica, 2011), Romances (CD, Sony, 2015). Filmografia: Xavier (1992). Aldina Duarte: Princesa Prometida (documentário, por Manuel Mozos, 2009).


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F

FALCÃO, Arminda.

(Arminda Falcão Waldeck. Coimbra, PT, 14/12/1906 - São Paulo, SP, 31/12/1974). Fad. Comp. Cantou pela primeira vez na Rádio Educadora Paulista em fevereiro de 1934, no mesmo dia em que estreou o programa Horas Portuguesas, do guitarrista João Fernandes. Trabalhou nas rádios Educadora, Record e Tupi, onde ficou até o final de sua carreira. Participou da inauguração da TV brasileira em setembro de 1950. Foi uma das intérpretes portuguesas mais conhecidas em São Paulo. Gostava mais do teatro do que do rádio, atuou como amadora em revistas e operetas. Sua irmã Alice Silva, soprano lírica, a acompanhou em diversas gravações e em shows por todo Brasil. Discografia: Alegres raparigas (78 rpm, 1945), Fado do 31 (78 rpm, 1953), Rendas de Portugal (78 rpm, 1950), Alegres raparigas (78 rpm, 1945), Sucessos de Arminda Falcão (LP, Magisom, 1961). Filmografia: Quase no céu (1949).

FELIX, Dam.

(Antônio Damaso Pereira Felix. Funchal, Ilha da Madeira, PT, 27/9/1956 - São Paulo, SP, 19/2/2013). Fad. Cantava desde criança. Na adolescência participou de um concurso de novos valores no rádio madeirense e foi aprovado. Passou a cantar no programa Tu cá, tu lá. Aprendeu técnicas de canto e outros rudimentos musicais ao ingressar no Orfeão Madeirense. Em 1972 tornouse o vocalista da banda (pop/rock) Os Lordes. Em 1970 veio ao Brasil visitar familiares e se encantou com o país. Regressou depois de alguns anos e se apresentou em programas de TV como o Caravela da Saudade. Cantou em diversos restaurantes típicos. Seus sucessos são Padeirinha, Portuguesa bonita e Pomba branca. Passou a integrar o elenco artístico do Abril em Portugal nos anos 80. Apresentou-se por todo país. O último restaurante que atuou foi na taberna Cais do Porto, em São Paulo. Em julho de 2009, participou do projeto Nossa Língua, Nossa Música, apresentado no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Na ocasião, foi acompanhado por Mário Rui, a guitarra portuguesa, e José Carlos Rogiero, ao violão; dividiu o palco com as irmãs Tetê e Alzira Espíndola. Discografia: Outras vidas, outros fados (CD, s.d.), Cheiro de fado (Cd, s.d.), Fadistas em destaque vol. I (CD coletânea, Califórnia, s.d.).

FERNANDA MARIA (Maria Fernanda Cavalheira dos Santos. Lisboa, PT, 6/2/1937). Fad.

Empr. Desde a idade escolar que cantava para os vizinhos os fados aprendidos graças à radiotelefonia, sobretudo os fados de Amália. Aos 12 anos resolveu abandonar o lar para se tornar independente. Foi para casa da avó, passou a trabalhar na loja Guarda-roupa Anahori, onde continuou a cantar quer para as empregadas, quer para os artistas que iam escolher os trajes de cena. Depois, resolveu ser empregada de mesa (garçonete) na Adega Patrício, cuja proprietária era a fadista Lina Maria Alves. Vez ou outra conseguia até cantar. Aconselhavam-na a ir à Emissora Nacional, prestou provas e foi e aprovada - tinha 15 anos -, pouco depois passou a tomar parte no programa Serão para Trabalhadores. Desde então, deixou o emprego e abraçou a carreira de fadista. Nos primeiros cinco anos, trabalhou,


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exclusivamente, na Emissora Nacional. Depois fez parte do elenco de uma casa típica e, em 1964, apareceu como atração na revista Acerta o Passo. Seguidamente, apareceu na TV e gravou muitos discos. Mais tarde, abriu a sua própria casa de fados, Lisboa à Noite. Símbolo máximo do fado castiço, Fernanda Maria foi distinguida em 1963 com o Prêmio da Imprensa, na categoria “Fado”, e, em 2006, com o Prêmio Amália Rodrigues, na categoria “Carreira Feminina”. São êxitos do seu repertório os fados Não passes com ela à minha rua e Zanguei-me com o meu amor. Discografia: Um amor sem amor (Alvorada, s.d.), Não me leves os meus beijos (Alvorada, s.d.), Leio em teus olhos (Alvorada, s.d.), De loucura em loucura (Alvorada, s.d.), Nasci num dia de sol (Alvorada, s.d.), Fados (LP, Fonodisck, s.d.), Essencial - Fernanda Maria (CD, s.d.), O melhor de Fernanda Maria (CD, s.d.).

FERNANDES, Adelina.

(Adelina Laura Fernandes. Lisboa, PT, 26/1/1896 - Lisboa, PT, 12/1/1983). Atriz. Fad. Empr. Célebre cantora e atriz do teatro musicado. Na infância, estreou-se nos palcos pelas mãos das educandas do Asilo Santo Antônio, em Lisboa. Foi a atriz Palmira Bastos que a viu em uma récita amadora e acabou por oferecer a sua 1ª. chance profissional. A sua estreia deu-se, em 1909, no Éden Teatro com a peça Aqui d’el-rei. Em 1920 tem um dos seus maiores sucessos ao interpretar o fado na revista Burro em pé. Seguiram-se as peças: Talismã (1922); Fruto proibido (1924); a opereta Mouraria (1926), onde interpreta a fadista Cesária; Bairro Alto (1927); Rosa enjeitada (1929) e Cacho doirado (1939), que marcou a sua última aparição em cena. Fez dezenas de viagens ao Brasil, sempre integrando companhias de revistas, sua presença sempre era destaque. Em meados da década de 1920, período de ascensão da sua carreira, gravou diversos discos, como nenhuma outra artista portuguesa o tinha feito até então. Discografia: Misérias (78 rpm, His Master Voice, s.d.), Fado de Lisboa / Arco do Cego (78 rpm, His Master Voice, s.d.), Fado da triste feia (78 rpm, His Master Voice, s.d.), Fado do Rouxinol (78 rpm, His Master Voice, s.d.), Alma da guitarra (78 rpm, His Master Voice, s.d.), A Senhora da Saúde (78 rpm, His Master Voice, s.d.), Fado Cesária (78 rpm, His Master Voice, s.d.), Fado do Algarve (78 rpm, His Master Voice, s.d.), Nossa Senhora do Ar (78 rpm, His Master Voice, s.d.), Garoto da rua (78 rpm, His Master Voice, s.d.). Filmografia: Os Fidalgos da Casa Mourisca (PT, 1919), Tragédia de Amor (PT, 1924).

FERNANDES, Manuel

(Lisboa, PT, 912/1921 - Lisboa, PT, 20/5/1994). Fad. Aos 15 anos cantava, como amador, nas tabernas e coletividades de recreio em Lisboa. Estreou como profissional em 1938, no Retiro dos Marialvas. Paralelamente, trabalhava como tipógrafo. Em 1944, estreou na opereta Os Magalas, cantando uma desgarrada com Hermínia Silva e Carlos Ramos. Cantava também em programas da Emissora Nacional. Casou-se, em 1946, com Adelaide Cardoso, também intérprete de fado, conhecida como a “Miúda de Alfama”. Quando nasceu a 1ª. filha, Isaura, Manuel compôs a música Vassourinha, que se tornou um dos seus grandes sucessos. Em 1953 esteve por três meses no Brasil, apresentando-se em São Paulo, na Adega do Douro e no Solar da Alegria, em programas de rádio e chegou a gravar o seu 1ª. disco. Teve uma carreira profissional muito ativa e diversificada em atuações em casas de fado, em apresentações na rádio e na TV. Realizou excursões na Ilha da Madeira, Açores, Angola, Moçambique, França, Brasil, Inglaterra, África do Sul, E.U.A. e Canadá. Afastou-se das lides artísticas em 1987. Discografia: Vassourinha, Cair em Graça, Letreiro de Bar, Canção dos ciúmes.


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FERREIRA, Maria Alice. Cant. Fad. (Maria Alice de Souza Ferreira. Porto, PT, 28/4/1943

- Muriaé, MG, 15/11/2015). Fad. Atriz. Filha de José Ferreira e Maria Alice de Souza Ferreira. Aos dez anos de idade iniciou a carreira artística ao ser levada para o rádio pelo comunicador Varela Leal, onde cantava música portuguesa, tangos e sambas. Aos 12 anos, participou do concurso realizado pelo Jornal de Notícias e o empresário Domingos Parker, na Feira Popular do Porto. Quem venceu o certame foi Maria da Conceição - futura fadista Maria da Fé -, e Maria Alice sagrou-se princesa. Em 1955 passou a fazer muitos shows por todo Portugal. Nesse mesmo ano, cumpriu curta temporada na Ilha da Madeira, junto com José Viana, Hisa Valli e Os Conchas. Aos 14 anos fez uma turnê pelo norte de Portugal, junto com Amália Rodrigues e sua prima Maria Amélia Canossa. Em 1958, o empresário portuense Domingos Parker a inscreveu no concurso de fados intercidades, levado a efeito no Teatro da Ribeira Velha, à Avenida das Naus, em Lisboa. Maria Alice foi coroada Rainha das Fadistas, como intérprete de fados castiços, tendo como padrinhos, Hermínia Silva e Tristão da Silva. Na adolescência, deixou o Porto e transferiu-se para a capital com a família. Passou a cantar na Emissora Nacional onde eram seus colegas Paula Ribas, José Antônio, Mimi Gaspar, Domingos Marques, Maria de Lourdes Resende, Maria Clara, Carlos Nascimento entre outros. A seguir, estreou no teatro de revista no Parque Mayer. Trabalhou nas companhias dos empresários Hermes Portela, José Miguel e Giuseppe Bastos. Apareceu, com destaque, nas peças Sol e Dó, É canja triunfo é espadas e Bate o pé. Em 1959, tonou-se crooner da orquestra do maestro José Magalhães, da boate Maxime, do empresário José Saraiva. Depois de uma pausa na carreira, por razão do 1º casamento, Maria Alice voltou às noites lisboetas. No início março de 1969 é convidada para uma temporada no Brasil. O empresário Joaquim Saraiva a contratou para cantar durante seis meses nos seus restaurantes Lisboa à Noite, no Rio de Janeiro, e a Adega Lisboa Antiga, em São Paulo, neste último, dividia o show com Terezinha Alves e o cantor romântico Dino Meira, sendo o acompanhamento do guitarrista Aquiles Bernardo e dos violonistas Alípio Correia e Alcídio Guerra. Retornou a Portugal, em seguida, viajou e cumpriu agenda nos E.U.A e Canadá. Decidiu fixar residência no Brasil. Trabalhou em vários restaurantes típicos e percorreu o país a cantar o fado. Nos últimos anos, Maria Alice retirou-se da vida artística e foi residir na companhia da filha na cidade de Leopoldina, MG. Não gostava de ser rotulada como fadista, afirmava ser uma intérprete eclética, entretanto, no Brasil, destacou-se como fadista. Discografia: Maria Alice Ferreira (Alvorada, s.d.), Eu e tu (Alvorada, s.d.), Preciso demais (LP, 1983), Tudo ou nada (CD, s.d.), Maria Alice Ferreira Ao Vivo (CD/DVD, s.d.).

FLORINDA MARIA (Maria Florinda da Silva Leandro Piteira. Lisboa, PT, 25/7/1937). Fad.

Comp. Aos dez anos começou a cantar em festas, aos domingos, cantava no Retiro do Pancão, em Almada, era um encontro de variedades artísticas. Em 1953, ganhou a Grande Noite do Fado. Em julho de 1955, no Salão Luso foi apadrinhada por Anita Guerreiro, conquistou por igual mérito, com Julieta Estrela, o concurso Rainha das Cantadeiras, organizado pelo jornal A Voz de Portugal, na categoria “dicção e casticismo”. Após a vitória, estreou profissionalmente no elenco do Café Luso, onde foi apadrinhada por Isabel de Oliveira. Foi casada com o jornalista José Rodrigues Piteira. Dentre suas criações estão os fados: Malva rosa, Fadista novo, Desejo meu e Saídos do meu ventre sem destino, os dois últimos com músicas sua. Viajou por vários países como Inglaterra, França, Espanha e E.U.A. Em maio de 2014, para comemorar seus 60 anos de carreira, a Associação Cultural O Patriarca do Fado organizou uma festa realizada no restaurante típico O Timpanas, em Alcântara. Discografia: Florinda Maria (Estúdio, s.d.), Passaste (Rapsódia, s.d.), São para ti (Alvorada, s.d.), O meu desejo (Estúdio, s.d.).


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FLORÊNCIA

(Porto, PT, 12/9/1938). Fad. Rad. Filha de Manuel Francisco Cunha e Aucília Martins Cunha. Desde muito nova sentia-se fascinada ao ouvir os fados interpretados por Amália Rodrigues. Aos 13 anos concorreu como representante da freguesia do Bonfim, no Porto, ao Concurso das Cantadeiras do Norte de Portugal, que ganhou. Este certame, que teve a sua final no Coliseu do Porto, foi composto por uma série de eliminatórias realizadas entre jovens cantoras provenientes de Lisboa e Porto, 12 de cada cidade, das quais uma seria eleita Rainha das Cantadeiras. Florência defendeu o fado Madragoa, do repertório de Deolinda Rodrigues. Em maio de 1953, vai com seus pais viver no Brasil. Fixam residência no Rio de Janeiro. Em 1955, o fadista Manoel Monteiro a ouviu cantar em uma festa e a levou para a etiqueta Todamérica, onde gravou seu 1º disco (78 rpm), com os fados Adeus Mouraria (L. Barbosa) e Primavera (D. Mourão / Ferreira / P. Rodrigues). Em seguida, cantou em alguns programas da Rádio Nacional. Acabou por ser contratada pela Rádio e TV Tupi, ganhou um programa só seu e atuou em outros ao lado de Francisco José. Trabalhou em diversos restaurantes típicos e viajou pelas principais capitais brasileiras divulgando o fado. Frequentemente, realizava temporadas na Adega Lisboa Antiga, em São Paulo. Casou-se em janeiro de 1961, com o lisboeta Serafim Ramos Rodrigues e juntos abriram o restaurante típico O Tamanco, que brevemente mudaria de nome para Balada de Coimbra, situado à Rua Frei Caneca, 302, na capital paulista. Por lá passaram Tristão da Silva, Tony de Matos, Francisco José, entre outros. Em 1966, regressou a Portugal atendendo o convite do empresário Domingos Parker, começou a cantar no Cassino do Estoril, ao que se seguiu todos os outros cassinos do seu país. Passou a gravar discos para a etiqueta Orfeu e continuou com vários espetáculos divididos entre a música popular e o fado. Casa-se com Domingos Parker, com quem teve uma filha, Sônia Cristina. Em 1975, estreia-se no teatro de revista na peça O último tango em Lisboa, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Em 1979, participa do Festival RTP da Canção com uma música que marcou toda uma fase da sua carreira, Comboio do Tua (Mário Contumélias / Manuel José Soares). Neste mesmo ano, participou como atração principal na revista Alô Lisboa! Daqui Porto!, onde criou o fado Maria Tripeira e a canção Farrapo da Festa. Realizou dezenas de viagens por Portugal e no exterior, junto das comunidades portuguesas emigradas. Apesar de viver sempre no Porto, Florência conquistou fama nacional. Em 1992, foi eleita Rainha da Rádio Nortenha pelos leitores do jornal Festival. O projeto Caixa Ribeira realizou-se em 2015, no Porto, reunindo no palco diversas gerações do fado em mais de dez espetáculos. Dentre os fadistas, destacaram-se Florência, Cidália Moreira, Fábia Rebordão, Fernando Fernandes e Felipa Cardoso. Apresenta Portugal a cantar na Rádio Festival do Porto, programa que comanda há mais de 20 anos, tendo começado na Rádio Clube Matosinhos. Discografia: Florência de Fátima (LP, Todamérica, 1959), Canção de Portugal (Ofir, 1966), Sings de best of Amália (LP, 1974), Florência (Orfeu, s.d.), Moda da Amora Negra (Orfeu, s.d.).

FREITAS, Conceição

(Conceição Lemos Freitas. Monte, Funchal, Ilha da Madeira, PT, 6/12/1954 - 1º/1/2017, São Paulo, SP). Fad. Comp. Em 1964, aos nove anos, emigrou juntamente com seus familiares para o Brasil, fixaram residência na capital paulista. Na adolescência gostava de cantar músicas de Roberto Carlos e Agnaldo Timóteo. Aos 14 anos, participou de um concurso interpretando Meu Grito (Roberto Carlos) e conquistou o 1º lugar. Por influência da mãe, passou a ter aulas de canto com o prof. e guitarrista Manuel Marques. Em 1969, passou a cantar no programa Melodias Portuguesas, de Irene Coelho e no restaurante Aviação, em Santana. A seguir, foi contratada para o elenco artístico do restaurante típico Lar Português, do radialista madeirense Ernesto de Castro. Trabalhou nos restaurantes Aviação, Lar Português, Casa de fados, Templo do fado, Alfama dos Marinheiros, Abril em Portugal, Adega Lisboa Antiga, Mansão Portuguesa, além de ter cantando em clubes e em diversas associações portuguesas. Atuou na renomada pousada Rio Quente, em Caldas Novas, GO, e por muitos outros lugares do Brasil. Em 1999, esteve em Portugal a passeio, como


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convidada, cantou em algumas casas de fado, como a Lisboa à Noite, da fadista Fernanda Maria. Ficou afastada durante dez anos da carreira, em 1991, voltou a cantar no Alfama dos Marinheiros, onde manteve-se por 25 anos. Discografia: Adeus Mouraria (CD, s.d), Nem as paredes confesso (CD, s.d).

FREITAS, Fernando de. (Fernando Macedo de Freitas. Lisboa, PT, 1º/9/1913 - Lisboa, PT,

18/3/1988). Guit. Comp. Instr. Aos nove anos começou a trabalhar no Coliseu dos Recreios em trupes de palhaços excêntricos, parodistas musicais, tocando violino, bandolim, banjo e cavaquinho. Aos 12 anos aprendeu com o pai a tocar na guitarra o Fado Corrido. Nesta mesma época, participava das Cegadas de Carnaval. Profissionalmente, estreou como guitarrista em 1929, aos 16 anos, no Solar da Alegria, levado por Alfredo Marceneiro. Passou por diversos restaurantes, cafés e retiros, acompanhando Ercília Costa, Adelina Fernandes, Maria Albertina, Teresa Gomes e Zulmira Miranda (atrizes de revista). Em 1935, com o advento da Emissora Nacional, foi contratado como guitarrista e acompanhou, com o violonista Abel Negrão, a fadista Maria Teresa de Noronha, nas suas atuações radiofônicas. Em 1937, esteve em Paris com Armando Machado e, em 1944, foi ao Brasil acompanhar Amália Rodrigues no Cassino de Copacabana, no Rio de Janeiro. Seguiu de muito perto a fase inicial da carreira de Amália Rodrigues, para quem compôs Ronda dos Bairros (com letra em alexandrinos de Francisco Santos) e Sardinheiras (com letra de Linhares Barbosa), inclusive a acompanhando nas suas primeiras gravações na etiqueta Continental. De 1945 até 1965 fixou residência no Brasil. Acompanhou grandes nomes do fado no Brasil e teve suas composições gravadas por vários intérpretes como Cidália Meireles, Irene Coelho, Maria Girão, Tristão da Silva, Manoel Monteiro, Maria da Luz e Terezinha Alves. Formou em 1945 a Orquestra Portuguesa de Guitarras e gravou, para a Continental, vários discos 78 rotações, com as composições: Rapsódia Portuguesa, Rapsódia Russa, Variações em Mi Menor, Retalhos Portugueses, Variações em Lá Menor e Lisboa/Coimbra, todos com arranjos seus. Em 1965 regressou a Portugal, atuando durante alguns anos na Adega Machado. Em 1966, acompanhou Fernando Farinha na viagem que este fez aos E.U.A e ao Canadá. Compôs ainda, entre outras músicas, A canção da neve (criação de Berta Cardoso), Fado Napoleão (criação de Frutuoso França), Trem desmantelado (com letra de Carlos Conde), Fado barroca e Fado das romarias. A partir de 1971, passou a integrar o elenco do restaurante O Faia, no Bairro Alto, ao lado de Ilídio dos Santos, Martinho d’Assunção e Orlando Silva, permanecendo ali por 16 anos, acompanhando entre outros, Lucília do Carmo e Carlos do Carmo.


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G

GENTIL, Lenita. (Maria Helena Gentil do Carmo. Marinha Grande, Leiria, PT, 6/8/1948). Aos

12 anos foi viver com sua família para o Porto. Filha de um músico, estreou, em 1962, nos microfones dos Emissores Reunidos do Norte, interpretando canções do maestro Resende Dias. Lançada ao grande público através do programa de televisão Riso & Ritmo, tornou-se profissional e mudou-se para Lisboa. Vencedora dos festivais de Espinho e Figueira da Foz, foi galardoada com o “Oscar da Imprensa” em 1968. Em 1966 e 68, Lenita venceu o Festival de Aranda del Duero (Espanha) e representou Portugal noutros festivais internacionais realizados no México, Polônia, Romênia e nas Olimpíadas da Canção, realizadas na Grécia, onde recebeu o prêmio da crítica. É convidada a participar no cinema no filme Os Toiros de Mary Foster em 1972. Em 1977 é a vez do teatro de revista, participando na revista Em Águas de Bacalhau. Lenita Gentil, cuja versatilidade é uma das características que marcam a sua carreira, que passa não só pelo fado, como também pela música ligeira e marchas populares atuou em diversas casas típicas de fado, tais como o Fado Menor e, mais tarde, no Faia. Tem realizado ao longo de sua carreira inúmeros espetáculos e viagens praticamente por toda a Europa, inclusive alguns países do leste. Viajou também à Austrália, Macau, Hong Kong, África do Sul, México, E.U.A. e Canadá. Continua a cantar atualmente. Discografia: O mundo é de todos (Alvorada, s.d.), Fado triste do Campo Pequeno (Orfeu, s.d.), Por todo amor do mundo (Decca, s.d.), Fado (LP, Ovação, 1987), Os sucessos de Lenita Gentil (CD, Moviplay, 2005).

GIRÃO, MARIA.

(Maria Girão de Freitas. Salvador, BA, 29/3/1928 - Lisboa, PT, 9/4/2007). Fad. Guit. Comp. Filha de portugueses. Cantava desde oito anos de idade, isso aconteceu durante uma festa escolar, misturou o samba com o fado e assim começou sua carreira. Tornou-se uma conhecida fadista nas cidades de São Paulo e no Rio de Janeiro. Aos 18 anos, em 1946, casou-se com o guitarrista Fernando de Freitas, que tinha vindo ao Brasil com Amália Rodrigues, em 1945. Tiveram quatro filhos, o mais velho, o cantor Fernando Girão. Na década de 1950 recebeu convite para visitar Portugal, durante dez meses, percorreu em temporadas artísticas, Portugal e as colônias africanas. Em 1964 separou-se de Fernando de Freitas. Em parceria com cantor português Toni Silva, abriu, em 1966, um restaurante típico O Fado, à rua 13 de maio, no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Na década de 1970 mudou-se para Portugal. Chegou a gravar alguns discos e continuou a carreira. Nos seus últimos anos de vida, viveu na Casa do Artista, em Lisboa. Gravou discos em Brasil e em Portugal, nomeadamente composições de Fernando de Freitas. Discografia: Foste ingrato (78 rpm, 1946), Cabelo branco (78 rpm, 1946), Duas estrelas (78 rpm, 1954), Nasci na Mouraria (78 rpm, 1960), O Fado subiu o morro (78 rpm, 1960), Um quadro na Mouraria (78 rpm, s.d.)


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GONÇALVES, Marly. (Santos, SP, 19/10/1956). Fad. Filha do casal de portugueses, Armando

Gonçalves e Maria Odete Antunes, que vieram para o Brasil em 1952, provenientes da Lousã. Na infância costumava ouvir os discos de Amália Rodrigues e decorava as músicas com facilidade. Aos 12 anos cantava nas festas escolares e em reuniões familiares. Sua estreia profissional no fado aconteceu em agosto de 1995. Ganhou impulso ao aceitar o convite do cantor Roberto Leal para atuar no restaurante O Marquês, em São Paulo. Atuou como radialista no programa Bom dia Portugal, da Rádio Cacique de Santos, juntamente com Luciano Duarte e Luiz Abílio. Em 1998, recebeu o Jubileu de Prata do Troféu Brás Cubas, em Santos, sendo considerada a melhor cantora de fados no Brasil. No ano seguinte, ao fim de uma apresentação no Centro Português de Santos, ganhou uma viagem para Portugal. Em Lisboa, pode visitar muitas casas de fado e cantar como convidada. Em 2010, foi postado na internet, um vídeo seu, interpretando Saudades do Brasil em Portugal (Vinicius de Moraes), acompanhada por Carlão e o guitarrista Mário Rui. Neste mesmo ano, os irmãos e músicos Ricardo e Renato Araújo estiveram em Moscou, divulgando a música portuguesa em espetáculos grandiosos. Os shows aguçaram o interesse do maestro Dmitry G. Belinskiy, do Clube de Música Folclórica da Rússia e diretor artístico do Quarteto Skaz, que pode assistir o vídeo de Marly. Em 2012, veio o convite para Marly e os irmãos Araújo atuarem na França e na Ucrânia (antiga União Soviética). Marly foi desafiada a cantar o Hino de Sevastopol. Foi um sucesso, sendo recebida de braços abertos pelos ucranianos e russos, de quem teve o privilégio de conhecer a cultura e a disciplina rígida na área das artes. Pela 5ª. vez, em junho de 2013, Marly e os irmãos Araújo estiveram na cidade litorânea de Sevastopol, na Ucrânia, levando a música portuguesa e se apresentando no Festival Samarodik, que reúne centenas de jovens instrumentistas procedentes de vários países do mundo que participam de um concurso cujo grande momento é a Noite de Gala com a apresentação dos vencedores. Discografia: Marly Gonçalves (CD, 2000).

GONÇALVES, Mavilda.

(Mavilda dos Prazeres Gonçalves Alves. Rio Caldo, Braga, PT, 28/9/1948 - Brasil, 3/8/2009). Fad. Filha de Alexandre José Alves e Conceição das Neves Miranda Gonçalves. Estreou sua carreira no início dos anos 70, no restaurante A Tipoia, em Lisboa. Em seguida, cumpriu contrato de seis meses no Japão. Em 1972, regressou a Portugal e logo recebeu novo convite para viajar, desta feita para o Brasil. Veio para São Paulo, contratada pelo restaurante Abril em Portugal, do casal Graciety e Antônio Saraiva da Costa. Dividia o show com Maria José Valério e Sebastião Manuel, sendo acompanhados por Waldemar Pilp (guitarra), Antônio Rogiero (violão) e Maria Braga (órgão). Participou do programa Caravela da Saudade, de Alberto Maria Andrade, na TV Tupi, Canal 4. Seu fado mais conhecido é Parreirinhas (Maria Nelson / Casimiro Ramos). Deixou de cantar no começo dos anos 80. Faleceu no Brasil, país onde viveu por 36 anos. Discografia: Fado (Ofir, s.d.), Se me deixares eu digo (Ofir, s.d.).

GONÇALVES, Quincas.

(Joaquim Gonçalves Sobral. Viseu, PT, 22/5/1913 - São Paulo, SP, s.d.). Filho de Manuel e Libânea Gonçalves Sobral. Irmão do cantor Nelson Gonçalves. Tinha dois anos de idade quando seus pais deixaram Portugal e viajaram para o Brasil. Percorreram vários estados, possuíam vida nômade. Em meados dos anos 1920, a família instalou-se na capital paulista, moraram nos bairros do Canindé, Pari e Brás. Quincas e Nelson iniciaram seus estudos no Liceu Eduardo Prado e, depois, no ginásio Manuel de Nóbrega. Quincas concluiu o ginásio e foi trabalhar no comércio. O pai era boêmio, tocava violão e cantava fados e modinhas, costumava levar os filhos para cantarem nas feiras-livres e corriam o pires para recolher moedas. Em 1935, Quincas começou a cantar no programa Horas Portuguesas, do professor João Fernandes, na Rádio São Paulo. Esteve


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ainda nas rádios Cruzeiro do Sul, Excelsior e Record. Tornou-se um fadista popular nos meios artísticos da capital paulista. Em 1938, com um amigo abre o Bar e Café Quincas & Marques, à Avenida São João, 2026. O local tornou-se ponto de encontros entre artistas. Em 1952 e 1956, realizou duas temporadas na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Nos anos 50, foi proprietário da Taverna lusitana, onde apresentava música ao vivo. Na década de 60, já com a decadência da fase artística do rádio, Quincas e muitos de seus colegas ficaram sem espaço no campo artístico. Tornou-se sócio do restaurante Adega Lisboa Antiga e depois trabalhou como motorista de táxi. Discografia: Prece de amor / Já perdoei (78 rpm, RCA Victor, 1942), Doce saudade / Minha oração (78 rpm, RCA Victor, 1945), Nem as paredes confesso / Mentira (78 rpm, RCA Victor, 1956).

GOUVEIA, Luiz.

Comp. Músico conceituado no meio musical luso-brasileiro. Teve suas composições gravadas por Irene Coelho, Manoel Monteiro, Joaquim Pimentel, Amílcar Nogueira, José Luso e Quincas Gonçalves.

GLÓRIA DE LOURDES

(Maria da Glória Pires. Miranda do Douro, Trás-os-Montes, PT, 9/5/1944). Fad. Empr. Filha de Antônio Joaquim Pires e Josefina Augusta Lavrador. Emigrou para o Brasil em 1961. Três anos depois, com o incentivo das irmãs, tomou parte no concurso de fados organizado pelo programa Portugal no Mundo, do jornalista Santos Mendes, na TV Tupi. Conquistou o 1º lugar e seu prêmio foi um contrato de três meses com o restaurante Adega Lisboa Antiga. A partir de então, realizou excursões por diversas cidades brasileiras. Cantou nos mais importantes restaurantes típicos e casas de fado de São Paulo e do Rio de Janeiro. Foi casada com o fadista Mário Rocha. Sua 1ª. atuação internacional aconteceu na Argentina. Em 1982 foi laureada como a “Melhor Cantora do Ano” escolhida pelos leitores do jornal A Voz de Portugal. Nesta mesma época, foi a Portugal e em Lisboa cantou, durante três meses, no restaurante O Faia. Em fevereiro de 2009 passou a apresentar, em parceria com o fadista Sebastião Manuel, o programa Quem Somos Nós, transmitido pela TV Aberta de São Paulo, dedicado à música portuguesa e seus intérpretes radicados no Brasil, especialmente, na capital paulista. Atualmente, faz parte do elenco artístico da taberna Cais do Porto, dirigido por sua irmã Tereza Morgado. Discografia: Amigo brasileiro (1980), Fado, Amor e Poesia (LP, s.d.), Fado na intimidade (CD / DVD, 2011).

GUERREIRO, ANITA. (Bebiana Guerreiro Rocha Cardinali. Freguesia da Pena, Lisboa,

PT, 13/11/1936). Fad. Atriz. Começou a sua carreira profissional aos 16 anos de idade, depois de se apresentar como candidata ao concurso “Tribunal da Canção”. Para o Teatro entrou em fevereiro de 1955, participando na revista Ó Zé Aperta o Laço, no Maria Vitória. Seguiram-se cerca de 40 revistas de grande êxito como Fonte Luminosa, Cidade Maravilhosa, Há Festa no Coliseu, Mulheres de Sonho, Chá-Chá-Chá, Revista é Sempre Revista, Festa é Festa, Curvas Perigosas, Pernas à Vela, Com Jeito Vai, O Reboliço, Toca a Música, Isto é Delas, Sopas e Descanso, O Trunfo é Espadas, Com Sal e Pimenta, Na Brasa, É Canja, Pão, Pão… Queijo, Queijo, Grande Poeta é o Povo, Mãos à Obra, Peço a Palavra, Frangas na Grelha, Há... Mas são Verdes, Não Há Euros P’ra Ninguém, entre outras. Também participou em comédia, como O João Valentão. Fez parte dos elencos de várias telenovelas e séries televisivas portuguesas.


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Atuou várias vezes na casa de fados “Luso”, em Lisboa, e em outras casas de fado. Há muito que faz parte do elenco privativo da já célebre casa de fados O Faia, no Bairro Alto. A sua presença tem sido marcante na Rádio, na Televisão e em inúmeros espetáculos por todo o território português e no estrangeiro. As Marchas Populares de Lisboa têm há muito contado com a sua participação, quer a cantar quer como madrinha de várias delas. Discografia: Catavento / Desilusão / O pescador / A nossa terra (Alvorada), Esta Vida São Dois Dias / Boneca de Trapos / Quando Se Gosta / Lisboa Que Canta (Alvorada), Tia Anica / Casa de Santo António / Como Ela Falava / O Meu Amor (Bel Air), Obrigada Lisboa - Pardais de Lisboa / Obrigada Lisboa / Pregão de Lisboa / A Razão da Minha Vida / Meu Porto, Linda Cascata / Ai Tempo, Tempo / Cantem o Fado Castiço / Cada Um Sabe de Si / Oh Minha Mãe de Saudade / Porto Cidade (Discossete 1987), Tia Anica / Senhora da Saúde / Vieste / Não sofras mais coração (Estoril), Marcha de Benfica / São João Bonito (FF / Marfer / Riso e Ritmo), Miúdo de Esquina / Navios no Horizonte, Calçadinha à portuguesa / Hermínia de Lisboa (1983), Os Filhos dos Pobrezinhos / O Fado Mora em Lisboa / As Voltas do Amor / A Minha Filha (1966), O Fado É Portugal / Escadinhas da Saúde / Os Beijos Também Cansam / Fado Assim Não É Fado (1967), Lisboa Já Dança na Rua / Santo António Veio a Alfama / Fado da Sardinhada / Não Passes à Minha Rua (1970), Cheira a Lisboa / Voz do Povo / Festa é Festa / Sinos, Marcha de Benfica / Fado Novo / Catavento / Rua dos Meus Ciúmes / Ó Póvoa do Varzim / Lisboa tem mais um fado / São João Bonito / Fado das Caravelas / Pescadores / Rua Sem Luz / Jovens Namorados / Chico Marujo de Alfama, Se não gostasse de ti / Há mais marés que marinheiros / Sou Tua / Ai, Ai Lisboa / Eu cheguei muito depois / Senhora da Saúde / Lisboa ribeirinha / Aquela Rosa da Mouraria / Era um Marinheiro / O fumo do meu cigarro / Lisboa da Beira-Mar / O fado é povo. Gravou ainda outros discos. Filmografia: Lisbon de Ray Milland (1956), A Maluquinha de Arroios de Henrique de Campos (1970), Morte Macaca de Jeanne Waltz (1997).

GUIA, Maria José da. (Maria José dos Santos da Guia. Angola, África, 16/10/1929 - Lisboa,

PT, 2/9/1992). Fad. Muito nova foi morar em Lisboa, no bairro da Alfama. Por volta de 1944 aconteceu a sua estreia profissional no Café Luso. Em seguida, atuou em diversos locais como no Retiro da Severa e na Adega Machado, casa onde permaneceu durante muito tempo. Participou em várias revistas dos teatros Maria Vitória, Variedades e ABC, em espetáculos onde popularizou vários fados, mas a sua preferência seria mesmo o circuito das casas de fado de Lisboa. Foi casada com o jornalista Amadeu José de Freitas. Suas gravações mais conhecidas são: Coimbra, Lisboa antiga, Casa portuguesa, Sempre que Lisboa canta, Marcha do Centenário e Ronda fadista. Nos anos 70, foi contratada para cantar em Luanda, na casa de fado Muchima. Em 1975, já estava de volta a Lisboa, bastante adoentada. Ainda voltaria a cantar em casas de fados, discotecas, cassinos e no restaurante típico Mal Cozinhado, no Porto. Discografia: Não é preciso (LP, Alvorada, s.d.), Fados (Estúdio, s.d.), Quatro fados (Estúdio, s.d.), A voz do fado (Ofir, s.d.).


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J

JANES, Alberto.

(Reguengos de Monsaraz, Évora, PT, 13/3/1909 - Lisboa, PT, 23/10/1971). Fad. Comp. Filho Maria do Carmo Fialho e de Armando Janes. Desde pequeno, Alberto demonstrava interesse e uma habilidade especial pela música e pela escrita, mas formou-se farmacêutico e químico. Após a morte do pai, assumiu a farmácia da família. Em sua terra, gostava de frequentar tertúlias e compor de improviso. Foi durante uma dessas reuniões que escreveu o fado Foi Deus. Conseguiu chegar até Amália Rodrigues e lhe entregou a música, que se tornou um sucesso do seu repertório. Compôs ainda para Amélia os fados: As rosas do meu caminho, Fadista louco, Um fado nasce e Vou dar de beber a dor (A Casa da Mariquinhas), É ou não é; Oiça lá, ó Senhor Vinho, entre outros.

JORGE FERNANDO (Jorge Fernando da Silva Nunes. Lisboa, PT, 8/3/1957).

Comp. Violo. Prod. É autor de canções como Boa noite solidão, Búzios, Quem vai ao fado, Trigueirinha e Chuva. Com quatro anos já acompanhava o avô a cantar fado. Aos 16 anos teve a sua primeira experiência profissional, quando trabalhou com Fernando Maurício. Deixou definitivamente para trás a sua carreira de futebolista. Com 19 anos conheceu Alcino Frazão, um dos maiores guitarristas da história do fado, e começou a tocar com ele. Um ano depois já fazia parte do grupo de Amália Rodrigues depois de ter substituído Alcino Frazão numa atuação com o Carlos Gonçalves e ele o ter convidado para tocar com Amália. Em 1986 é editado o seu primeiro LP, Enamorado. O álbum Oxála é editado em 1993, sendo bastante elogiado pela crítica. Em outubro de 2005 comemorou os seus 30 anos de carreira com um concerto no Fórum Lisboa, que contou com a participação de Argentina Santos e Celeste Rodrigues. Colabora com o rapper Sam The Kid com quem actua nas Festas de Lisboa de 2008. Além da banda de Sam the Kid, em palco estiveram Custódio Castelo (guitarra portuguesa) e Filipe Larsen (viola baixo). Em fevereiro de 2016 recebeu a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique. No seu trabalho como produtor assinou entre outros, trabalhos para Rodrigo, José da Câmara, António Pinto Basto, Mariza e Ana Moura.

JÚLIA FLORISTA (Júlia de Oliveira. Lisboa, PT, 1883 - Lisboa, PT, 10/6/1925). Fad. Guit.

Filha de José de Matos e Maria José Oliveira. Desde criança vendia flores nas ruas, daí seu apelido. Consta que possuía uma bonita voz. Foi uma figura popular do fado e de Lisboa, citada em crônicas de vários escritores como D. João da Câmara, Júlio Mardel de Arriaga, Dr. Júlio Dantas, Paulo Barreto e Malheiro Dias. O fadista e compositor Joaquim Pimentel lhe dedicou os versos de um fado homônimo, Júlia Florista: “A Júlia Florista / Boêmia e fadista / Diz a tradição / Foi nesta Lisboa / Figura de proa da nossa canção...”.


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L

LEAL, Cândida. (Maria Cândida Leal. Douro, PT, 30/12/1893 - Rio de Janeiro, RJ, 27/12/1954).

Fad. Atriz. Estreou como atriz-mirim na Companhia Infantil do Teatro Águia de Ouro, no Porto. Sua estreia na fase adulta se deu em 1908, no Theatro Apolo, como integrante do elenco da Companhia Ruas. Em 1911 migrou para o Brasil, como integrante da Companhia de Carlos Leal, mesma época que estreia no cinema, atuando no filme A Dançarina Descalça (1911). Atuou em revistas, burletas e operetas, sempre com muito sucesso. Na década de 1920, ingressou no rádio brasileiro, sendo uma das primeiras cantoras de fado radiofônicas do país. Em 1929 foi eleita a “Rainha do Fado” pelo jornal A Pátria. Em 1933 foi contratada pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fazendo parte do elenco do Programa Rádio Miscelânias, apresentando pelo locutor Gramaury. Ainda em 1933, Gramaury vai para a Rádio Cruzeiro do Sul e leva Cândida com ele, onde ela continuou cantando músicas portuguesas. Nesta rádio, protagonizou a opereta A Severa, na versão adaptada para o radioteatro. Em 1937 transferiu-se para a Rádio Educadora, fazendo parte do elenco do programa Voz Traço de União, dirigido por Manoel Caramés. No mesmo ano, assinou com a Rádio Guanabara, onde participou do programa Vasco da Gama. A partir de 1938 gravou dois discos em 78 rpm pela Victor, em dueto com o cantor José Lemos. Foi seu último trabalho artístico. Depois disto, Cândida Leal afastou-se definitivamente da vida artística. Discografia: Linda vida (78 rpm, Victor, 1938), Boa noite, raparigas (78 rpm, Victor, 1938), Vira do terreiro (78 rpm, Victor, 1939), Filigranas Portuguesas (LP, Coletânea, RCA Camden, 1960). Filmografia: A Dançarina Descalça (1911), Ubirajara (1919), Coração de Gaúcho (1920).


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MARIA ALBERTINA

(Maria Albertina Soares de Paiva. Ovar, PT, 1912 - Lisboa, PT, 27/3/1985). Fad. Atriz. Foi uma importante fadista ou “cantadeira”, como era anunciada em seus espetáculos. Passou a juventude no Porto. Mudou-se para Lisboa e começou a cantar em 1931, na peça História do Fado, interpretando fados de Coimbra, no Teatro Maria Vitória. Seguiram outras revistas e operetas onde sua voz sempre era destaque. Em 1932, conquistou o prêmio “Guitarra de Ouro”, concurso organizado pelos jornais Diário de Notícias e O Século. Ganhou o título de “Melhor cantadeira” conferido num concurso promovido pela Rádio Luso. Em 1933, participou do filme A canção de Lisboa, interpretando o Fado dos beijos quentes. Inaugurou o Retiro da Severa no Luna Parque e, em janeiro de 1934, estreou como atriz na revista Vista Alegre, contracenando com Carlos Ramos o célebre quadro de Malhoa, O Fado. Atuou em casas particulares como a da Duquesa de Palmela, do banqueiro Ricardo Espírito Santo e nos palácios do Conde da Torre e de Fontalva. Estes locais foram conciliados com passagens na rádio, casos da Emissora Nacional e Rádio Clube Português. Viajou pelo Brasil, Argentina, E.U.A., Canadá e França. Na revista, o seu maior sucesso é o Fado da Sardinha Assada, da revista de 1934, Sardinha Assada. A convite de Antônio Ferro, participou do Pavilhão Português na Exposição Internacional de Paris, na França, em 1937. Realizou shows de fado e folclore, cantando inclusive em duas rádios de Paris. Na década de 60, foi contratada para cantar no restaurante típico O Faia, lá permanecendo vários anos. É mãe de Cândido Mota, locutor da rádio e TV. Discografia: Fado Maria Albertina / Fado da paixão (78 rpm, Victor, 1934), Amor de mãe / Fado luso (78 rpm, Victor, 1934), O melhor dos melhores - Maria Albertina (CD, s.d.). Filmografia: A canção de Lisboa (1933), Bocage (1936).

MARIA ALCINA (Maria Alcina Pinto da Costa Duarte. Cetos, Castro Daire, PT, 12/3/1939).

Fad. Empr. Aos 14 anos, em 1953, viajou para o Brasil junto com sua mãe e com o irmão Fernando. Veio conhecer o pai e acabaram por fixarem residência no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Começou a cantar profissionalmente aos 20 anos, em 1959, levada por Edson Santana, o “Rei Momo”, que a convidou para participar do seu programa Era do Rádio, na Rádio Vera Cruz. Neste mesmo ano, organizou seu próprio programa, Maria Alcina, a voz de além mar. Na 1ª. parte do programa apresentava música portuguesa e, na 2ª., somente música brasileira. Em 1964, iniciou sua trajetória na TV, tendo participado dos programas Casa do Casimiro e Domingo em Portugal, ambos na TV Continental. No programa Casa do Casimiro conheceu o fadista e compositor Antônio Campos, com quem formou uma dupla imbatível na interpretação da desgarrada. Os dois viajaram pelo Brasil por mais de 30 anos, sempre com sucesso nas suas apresentações. Em 18/12/1976 abriu as portas do seu restaurante típico A Desgarrada, em Ipanema. Tornou-se um dos principais pontos de encontros da música portuguesa no Rio de Janeiro. Foram 23 anos, de 1976 a 1999, que Maria Alcina esteve à frente e representou Portugal no Brasil na Desgarrada. Por lá passaram: Carlos do Carmo, Antônio Chaínho, José Maria Nóbrega, Antônio Mourão, Amália Rodrigues, Antônio Campos, Lúcia dos Santos, Sebastião Robalinho, Mário Simões, Adélia Pedrosa, Terezinha Alves, Maria de Lourdes,


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Glória de Lourdes, Mário Rocha, Olivinha Carvalho, Hélia Costa, Cláudia Ferreira, entre outros. Em 1974, regressou a Portugal e cumpriu temporada no Cassino Estoril, sendo homenageada como a grande “Fadista Brasileira”. Participou como convidada especial de várias novelas da TV Globo, além de atuar por quatro anos, a partir de 2001, com o Tony Correia, no espetáculo teatral Navegar é preciso. Ao completar 30 anos de carreira, em 1989, foi homenageada com uma concorrida festa na Casa das Beiras, no Rio, quando recebeu a Comenda de Grão Oficial da Ordem ao Mérito do Governo Português, pela divulgação da cultura portuguesa no Brasil. Em setembro de 1993, foi inaugurada em Castro Daire a Avenida “Maria Alcina Fadista”. Neste mesmo ano, foi escolhida, por unanimidade, como representante dos artistas portugueses na festa de lançamento da Fundação LusoBrasileira para difusão da Língua Portuguesa, ocorrida no Canecão, quando se apresentou junto com Carlos do Carmo, Tom Jobim, Fafá de Belém e outros artistas. Durante as comemorações dos 500 anos do Brasil, em 2000, Maria Alcina participou cantando das festividades na TV Globo. O ano de 2002 foi especial para artista lusa por dois motivos: lançou o CD Confesso e no Carnaval deu o grito de saída da Escola de Samba Unidos da Tijuca, na Marquês de Sapucaí. É uma das fadistas que mais conquistou condecorações e homenagem em sua carreira artística. É a personagem principal do livroreportagem Maria Alcina: a força infinita do Fado!, de autoria do jornalista Ígor Lopes, editado no Brasil em 2016. Discografia: Maria Alcina (RCA Victor, 1973), Do fado à desgarrada, Maria Alcina e Sebastião Robalinho (LP, Popsteel, s.d.), Maria Alcina e Antônio Campos (LP, CBS, 1981), Confesso (CD, Som Livre, 2000), Fado & Choro (CD, 2014).

MARIA ALICE

(Glória Mendes Carvalho. Paião, Figueira da Foz, PT, 1º/9/1904 - Lisboa, PT, 13/2/1996). Filha de José Leal e de Maria José Mendes. Aos 14 anos vai viver em Lisboa em companhia do advogado Bernardino Morais, com que tem dois filhos. Estreou como profissional em 1928, no Ferro de Engomar, levada por Adelina Fernandes e Maria do Carmo. Em 1931, apareceu na opereta História do Fado, de Avelino de Sousa. Alcançou sucesso como cantadeira. Em 1932, viajou para o Brasil com a Companhia Portuguesa de Revistas de Estevão Amarante, composta também por Lina Demoel, Maria Sampaio, Alfredo Ruas, Santos Carvalho, Julieta Valença e outros artistas. Realizam temporadas no Rio de Janeiro e São Paulo. Maria Alice compunha a “Embaixada do Fado”, junto com o intérprete Manoel Cascaes, o guitarrista Casimiro Ramos e o violonista Miguel Ramos. Estrearam em maio de 1932, com a revista Ai-ló, no Teatro República do Rio de Janeiro. Voltaria em 1934, integrando o elenco da Companhia de José Loureiro. Conheceu Valentim de Carvalho e casaram-se na década de 40. Foi uma das primeiras intérpretes portuguesas a ter a sua voz registada em disco. Foi a 1ª a gravar discos para a editora Valentim de Carvalho, que utilizava como estúdio o Teatro Taborda. Discografia: Amei-te tanto / A sina minha, A enjeitada / Fui dizer adeus a barra, Fado tango / Fado traição, Feira dos amores / Ser fadista, Minha mãe / Perseguição, Fado menor / Fado triste, A Senhora do Pilar / O meu tesouro; todas gravações feitas em 78 rotações em disco Brunswick, em 1929, estes e outros temas foram lançados no CD Maria Alice - Arquivos do Fado, pela Tradisom Produções Culturais.

MARIA ARMANDA

(Lisboa, PT, 4/10/1942). Fad. Em 1968, ganhou a Noite de Fados da Casa da Imprensa, o que lhe proporcionou a gravação do seu 1º trabalho discográfico, O meu soldadinho. Durante sua trajetória artística, dividiu seu tempo em atuações em prestigiosas casas de fado, participações no teatro de revista do Parque Mayer, shows nacionais e internacionais. Em


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1976, esteve durante 14 meses seguidos no Brasil, apresentando-se em múltiplas excursões por várias cidades. Na década de 80 abriu sua própria casa de fados, o Malhoa. Seus principais êxitos são, O meu soldadinho, Só porque desenhaste a rosa branca, Mulher de qualquer povo da terra, Mãe solteira etc. Voltou à revista, em 2001, participando na peça Tem a palavra a revista. Em 2004, Maria Armanda passou a integrar o quarteto Quatro Cantos, com Teresa Tapadas, Antônio Pinto Basto e José da Câmara. As músicas interpretadas pelo conjunto vão de 1920 até fins dos anos 60, servindo de tributo, entre outros grandes nomes da música portuguesa, a Amália Rodrigues, Hermínia Silva, Tony de Matos, Fernando Farinha, Frei Hermano da Câmara, Max e Lucília do Carmo. Discografia: O meu soldadinho (1968), Maria Armanda (LP, 1972), Vai um fado ou um fadinho? (LP, Rádio Triunfo, 1982), Pedrito de Portugal (Strauss, 1995), Marchas Populares (CD, Vidisco, 1993), Do presente ao passado no fado (CD/ DVD, Vidisco, 2006).

MARIA DA CONCEIÇÃO. Fad. Empr. Popularizou em sua terra natal a toada Mãe preta,

de autoria dos compositores brasileiros Caco Velho (Matheus Nunes) e Piratini (Antônio Amabile). A música chegou a Portugal nos primeiros anos da década de 50. Foi um êxito colossal, as rádios tocavam sem cessar e as pessoas cantarolavam e assobiavam por todo o lado. Até que, de repente, a censura política de Salazar obrigou Maria da Conceição a alterar a letra cantada, designadamente os versos “enquanto que a chibata batia no seu amor/ mãe preta embalava o filho branco do senhor”, por “enquanto na senzala trabalhava o seu amor/ mãe preta embalava o filho branco do senhor”. A 1ª. gravação de Mãe preta aconteceu no Brasil, em dezembro de 1943, pelo Conjunto Tocantins, em disco 78 rpm. Consta que Caco Velho, se inspirou na imagem de uma mãe preta pintada num quadro de sua casa. Ele, então, mostrara a música a Piratini, líder de um dos mais requisitados regionais de Porto Alegre. A história foi esclarecida com a nova vinda de Maria da Conceição ao Brasil, em 1953, a convite do empresário Assis Chateaubriand, proprietário do Rádio e TV Tupi. De volta às plagas lusas, graças ao êxito de sua criação, abriu o restaurante típico Cantinho da Mãe Preta, em Alfama. Em 1955, Amália Rodrigues gravou o fado Barco Negro, com poesia de David Mourão Ferreira sobre a música da Mãe Preta. Este fado, que tem como tema o amor de uma mulher por um homem morto num naufrágio, foi um dos maiores êxitos de toda a carreira da fadista. Tanto que a letra original da Mãe Preta acabou mesmo por cair no esquecimento em Portugal e no Brasil. Discografia: Mãe preta / Rosário de fadistas (78 rpm, Odeon, 1954), Ai! Mouraria / Pode ser mentira (78 rpm, Odeon, 1954), Sinal da cruz / Canção do mar (78 rpm, Odeon, 1955), Maria da Conceição (LP, Parlophone, s.d.).

MARIA EMÍLIA (Maria Emília Vieira Crespo Simplício. Cartaxo, Santarém, PT, 20/3/1933).

Fadista. Obteve a carteira profissional em 1º de abril de 1965, mas a sua atividade fadista começou em 1954 no Concurso Primavera do Fado, concorrendo ao Fado Castiço. A sua bonita voz e o seu jeito de cantar fizeram com que o júri lhe atribuísse o 2º lugar no concurso. Em resultado dessa atuação e da classificação obtida recebeu convite para atuar na casa típica A Cesária. Em Lisboa fez também parte do elenco das casas de fado Tipoia, Faia, Adega Machado e Lisboa à Noite. Atuou em Angola e Moçambique. Em Luanda cantou no restaurante típico Largo do Chafariz, no retiro Embaixador e noutros conceituados restaurantes. Também atuou no Funchal, Ilha da Madeira. A sua presença nas rádios angolanas foi constante, com destaque para a Emissora Oficial e Rádio Clube de Angola. Também foram importantes as suas atuações no Rádio Clube de Moçambique. Discografia: Composições gravadas em disco - ORFEU - ATEP 6146, acompanhada por Jorge Fontes e o seu trio de guitarras, Esperança sem Esperança, Primavera da Vida, Amor Eterno, Ronda Fadista.


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MARIA DA FÉ

(Maria da Conceição da Costa Marques. Porto, PT, 25/5/1942). Fad. Empr. Começou a cantar ainda menina por influência de sua mãe. Aos 13 anos ganhou um concurso realizado pelo Jornal de Notícias e o empresário Domingos Parquer, na Feira Popular do Porto. Em 1959, com 16 anos, venceu o certame Rainha das Cantadeiras, apresentado no Palácio de Cristal. Em 1961, transfere-se para Lisboa e passa a cantar em diversas casas de fado. Até então usava para cantar seu verdadeiro nome, Maria da Conceição. O nome artístico, Maria da Fé, foi uma sugestão do fadista Raul Dias. Casou com o poeta e compositor José Luís Gordo em 1968. Em 1975, junto com o marido e Antônio Mello Correia, inauguram o restaurante Sr. Vinho, onde o fado é um dos atrativos, na linha da velha tradição das casas de fado. O 1º endereço foi à Rua das Trinas e, a partir de 1981, na Rua do Meio à Lapa, Madragoa, onde funciona até hoje. Tem diversos discos gravados e realizou diversos shows por todo Portugal e em vários países como, Espanha, Bélgica, Itália, Guiné, Angola, Moçambique, E.U.A, Canadá, Austrália entre outros. Esteve no Brasil em 1965, 1984 e na década de 90, atuando nas principais casas de espetáculo do Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1984 participa no filme To Catch a King, realizado por Clive Donner e protagonizado por Robert Wagner, onde interpreta dois fados, Cantarei até que a voz me doa e Portugal, meu amor. Gravou 30 LPs e vários CDs. Seus maiores sucessos são os fados Até que a voz me doa (José Luís Gordo / Fontes Rocha) e Valeu a pena (Moniz Pereira). Em 2006, Maria da Fé foi distinguida com o prêmio para a “Melhor Intérprete Feminina” pela Fundação Amália Rodrigues. Discografia: Valeu a pena (Estúdio, s.d.), Tradição (LP, EMI, s.d.), Divino fado (CD, 2003), Nome de fado (CD, 2005). Filmografia: To Catch a King (1984).

MARIA DA GRAÇA (Maria da Graça Neves Saramago. Lourenço Marques, Moçambique,

17/3/1919 - Lisboa, PT, 3/2/1995). Cant. Fad. Empr. Filha de Joaquim da Graça Neves e Alice Wahnom Neves. Na infância foi para Lisboa onde passou a viver. Desde bem jovem gostava de cantar para grupos de amigos e familiares às canções então em voga, quer portuguesas, quer brasileiras ou espanholas. Em 22/12/1939, aos 20 anos, estreou-se na antiga Emissora Nacional, interpretando dois sambas, Camisa listada e Adeus batucada. A sua carreira como cançonetista (cantora) foi fulgurante, sendo intérprete principalmente de ritmos brasileiros. Tornou-se a “menina bonita” da radiofonia portuguesa dos anos 40, e como tal a sua popularidade não podia ficar indiferente ao cinema. Em 1942, foi convidada por Lopes Ribeiro para o papel de Maria da Graça no filme O Pátio das Cantigas. O curioso é que nessa altura nunca tinha ido ao Brasil, como a personagem do filme dava a entender. Em 1942 Maria da Graça, Milú e as Irmãs Remartinez, formaram um quarteto musical que obtêm bastante sucesso na altura. Em 1945 iniciam-se as filmagens de mais um filme luso, com o título Ladrão Precisa-se, de Jorge Brum do Canto que conta no seu elenco com Maria da Graça ao lado de Leonor Maia, a eterna “Tatão” do filme O Pai Tirano; Virgílio Teixeira e Pedro Navarro. Mas o assunto de conversa durante as filmagens era a notícia do futuro casamento de Maria da Graça, que vem a decorrer no final desse ano, ainda durante as filmagens desse longa-metragem. Em julho de 1946, Maria da Graça e o marido José Marques Saramago partem para o Rio de Janeiro em lua-demel, e acabou por assinar contrato com a Rádio Globo, onde permaneceram por três meses. Pouco depois, cantou em um recital de duas horas no Teatro Carlos Gomes. Passou a cantar regularmente em programas da Rádio Globo, interpretando não apenas fados, mas igualmente sambas e canções brasileiras. Foi um sucesso absoluto. Em 1950 volta a Portugal, mas por pouco tempo, pois, em 1951, regressou ao Brasil onde fixou residência. Nos seus programas de rádio interpretava majoritariamente fados, como queriam os ouvintes. Adquiriu de Francisco José, em 1963, a casa típica Adega de Évora, no Rio de Janeiro, onde cantava o seu repertório, nunca deixando de cantar na rádio e mais tarde na


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TV. Obteve um sucesso enorme no Brasil, tendo uma legião de fãs não só brasileiros como argentinos, por isso só voltaria a Portugal em 1982, onde ainda editou um disco com o nome Voltei, álbum que contem os seus êxitos de dos anos 40. O Estado de Guanabara, atual estado do Rio de Janeiro, atribuiu-lhe o Título de Cidadã da Guanabara. Discografia: Docinho de iaiá / Isso é Brasil (78 rpm, Continental, 1947), Valsa do amor / Me dá iaiá (78 rpm, Continental, 1948), Evolução do fado / Assim é melhor (78 rpm, Continental, 1948), Cantando tudo / Saudade (78 rpm, Continental, 1949), Lá vem a baiana / Varinas de Portugal (78 rpm, Continental, 1949), O meu bairro / Flores da Mouraria (78 rpm, Continental, 1950), Sucessos em ritmo de fado (LP, Continental, 1962), Portugal sempre (LP, CBS, 1966), Rapsódia Portuguesa (LP, CBS, 1967), Adega de Évora (LP, CBS, 1969).

MARIA DE LOURDES

(Maria de Lourdes Sampaio dos Santos. Silgueiros, Viseu, PT, 16/3/1949). Fad. Filha de José dos Santos e Maria da Ascensão Sampaio da Costa. Emigrou para o Brasil em 1956, aos sete anos. A família fixou residência na capital paulista. Em 1963, com a irmã gêmea Maria Olinda, ingressaram no Grupo Folclórico Esticadinhos de Cantanhede, idealizado pelo publicitário e apresentador Alberto Maria Andrade, que comandava na TV o programa Caravela da Saudade. Durante cinco anos viajaram por várias cidades e realizaram inúmeras apresentações. Em 1966, Andrade percebendo que a voz de Maria de Lourdes sobressaia-se as demais do grupo, a convidou para cantar fados no seu programa. O fadista Manuel Taveira tornou-se seu empresário. Em 1967, aos 18 anos, estreou nas noites paulistanas, cumprindo temporada na Adega Lisboa Antiga. O sucesso não tardou a chegar. Participou de diversos programas de TV: Hebe Camargo, Bolinha, Mulheres, Sílvia Popovick, Bruna Lombardi, Athayde Patrezzi. Apareceu nas novelas Meu Rico Português, Cara a Cara, Meus Filhos, Minha Vida. O filme Verde Vinho, com direção de Manuel Gama, alcançou sucesso no Brasil e em Portugal, tendo como artistas principais o ator e cantor luso Paulo Alexandre e ator o brasileiro Dionísio Azevedo. Maria de Lourdes apareceu cantando uma desgarrada com o fadista Mário Rocha, em cena gravada no restaurante Abril em Portugal, em São Paulo. Cantou em vários restaurantes típicos como, Adega Lisboa Antiga, Alfama dos Marinheiros, Abril em Portugal, Mansão Portuguesa entre outros. Já atuou em clubes sociais, casas de shows, ginásios esportivos, pousadas, restaurantes típicos - em turnês por Portugal e em Casas de Comunidades Portuguesas na América do Sul. Cantou em quase todos os estados do Brasil como Pará, Manaus, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Pernambuco entre outros. Esteve na Argentina, nos anos de 1997 e 98, contratada pelo Clube Português. Para comemorar os 45 anos de carreira, gravou o CD O fado que não cantei, em Portugal. Desde 2010, tem viajado a Portugal anualmente e se apresentado, como convidada, em diversas casas de fado lisboetas. Discografia: Barco negro (LP, Cartaz Discos, 1978), Privilégio (LP, Fermanta, 1986), Portugal com amor (LP, Som Livre, 1978), Maria de Lourdes (CD, s.d.), O fado que não cantei (CD, 2013). Filmografia: Verde Vinho (ou Romance de um imigrante, 1981).

MARIA DA NAZARÉ (Barreiro, PT, 9/2/1946). Fad. Em 1960, aos 14 anos, cantava no coro

da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, FNAT (atual INATEL). Um dia, por brincadeira, os guitarristas José Nunes e Amadeu Rami a convidaram a cantar o fado. O maestro Duarte Pestana gostou e a escalou para cantar fados. De 1964 a 67, participou do concurso Primavera do Fado, da Casa da Imprensa. Nas duas primeiras vezes, venceu em 2º lugar, no 3º anos conquistou a honrosa 1ª colocação. Em seguida, ingressou na Emissora Nacional. Participou de inúmeros programas no rádio e


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TV. Cantou nas melhores casas de fado de Lisboa. Viajou em excursões artísticas pelo Brasil, Angola, Moçambique, Grã-Bretanha, Bélgica, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Espanha. Foi distinguida com o “Prêmio Amália”, na categoria “Prêmio Intérprete”, em julho de 2013. Seus temas mais conhecidos são, Minha guitarra, O nosso grande amor, Pescador que vais pro mar, Fado mestre Baptista, Fui ontem à Mouraria e Fim da conversa no bate-papo. Discografia: Cada um (Decca, s.d.), Lá vai ele atrás de ti (Decca, s.d.), Meu grande, grande amor (Decca, s.d.), Saudades tenho-as aos montes (Decca, s.d.), Joia do fado (Cd, Metro-Som, s.d.), O Melhor de Maria da Nazaré (CD, Fantasy Day, s.d.).

MARINHO, Ciça. (Maria Anunciação Nunes Marinho. São Paulo, SP, 15/9/1957). Cant. Fad.

Faz parte da nova geração de cantores que se dedicam a este gênero musical no Brasil. Filha de portugueses, o pai é do Minho e a mãe da região da Beira Alta. O fado está presente na sua vida desde a mais tenra idade. Ainda menina, encantou-se ao ouvir a gravação de Foi Deus na voz de Amália Rodrigues. Aos 10 anos apresentou-se em público pela 1ª. vez em uma festa escolar, aonde estava presente o cantor Francisco Petrônio, que ficou impressionado com seu potencial vocal. Tentou levála para gravar um disco, mas o pai não permitiu. Em 1997, começou a cantar no “fado vadio” da taberna Cais do Porto, em São Paulo. A seguir, estreou como profissional no restaurante O Castiço. Já realizou vários shows pelo Brasil, sendo sempre acompanhada pelo seu marido, o violonista Sérgio Borges. Cursou canto na Escola de Música Tom Maior e teve aulas particulares de piano a cantora lírica Maude Salazar. Em 2012, lançou seu mais recente CD Além mar, além de mim, fazendo tributo aos dois países irmãos. Este trabalho discográfico traz um pouco da sua história e tem participação do fadista, músico e compositor português Jorge Fernando. Em Portugal atuou em casas de fado como Adega Mesquita, Casa de Linhares, Mesa de Frades, dentre outras. Trabalha também para o Grupo Trovadores Urbanos fazendo serenatas e shows com música brasileira, portuguesa, italiana, tangos e boleros. Discografia: Ciça Marinho Ao Vivo (CD e DVD, 2006), Minhas Raízes (2008), Além do mar, além de mim (2012). Filmografia: Fados (2007).

MARIZA (Marisa dos Reis Nunes. Lourenço Marques (Maputo), Moçambique, 16/12/1973). Fad.

Em menos de doze anos, Mariza passou de um fenômeno local quase escondido, partilhado apenas por um pequeno círculo de admiradores lisboetas, para uma das mais aplaudidas estrelas do circuito mundial da World Music. Vive em Portugal desde os três anos de idade. Criada em Lisboa, desde criança canta o fado. Em 2001 lançou o seu primeiro álbum, Fado em mim. A partir de então sua carreira ganhou o mundo. É uma das fadistas mais conhecidas da atualidade. Discografia: Fado em Mim (2002), Fado Curvo (2003), Transparente (2005), Concerto em Lisboa (2006), Terra (2008), Fado Tradicional (2010), Best Of Mariza (2014) e Mundo (2015).

MATIS, Alexandre.

(São Paulo, SP). Fad. Guit. Comp. Prod. Formado em Composição e Regência pela UNESP. Acompanha diversos artistas à guitarra portuguesa, em restaurantes, shows e gravações. Trabalhou nos restaurantes Cais do Porto Taberna e Portucale, na capital paulista. Seu repertório tem como base o fado castiço. Fez gravações para a TV acompanhando o prof. Manuel Marques e a cantora Fafá de Belém. Produziu o CD Fado e Poesia da fadista Conceição de Freitas e o CD Fado na Intimidade da fadista Glória de Lourdes. Assinou a trilha promocional do Grupo Sete Cidades e do documentário Canção d’Além-Mar (O Fado na cidade de Santos). Atuou como guitarrista


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na gravação do CD Açoreaneidade Capixaba, da cidade de Viana, ES. Tem como influências, entre outros, Fernando Maurício, Fernado Farinha, Ricardo Ribeiro, Manuel Mendes, Raul Nery, Mário Pacheco, e Mário Raínho. Discografia: Sou eu que em ti me vejo (CD, 2013).

MATOS, Tony de. (Antônio Maria de Matos. Porto, PT, 28/9/1924 - Lisboa, PT, 8/6/1989). Fad.

Cant. Comp. Empr. Filho de Antônio Júlio de Matos e Camila Rodrigues Frias, que utilizava o nome artístico de Mila Graça. Fez parte da Companhia Teatral Rafael de Oliveira, Artistas Associados, à qual pertenceu sua mãe e seu padrasto. Foi nessa companhia que se iniciou a cantar nos atos de variedades. Em 1938, quando esta companhia se encontrava instalada em Santa Comba Dão, o jornal local, o Beira Dão, fez menção ao jovem Tony de Matos, que 2º o referido periódico deliciou a assistência com a sua voz, cantando fados de Coimbra. Em 1948, estreou a cantar fados no Café Luso, em Lisboa, onde permaneceu dois anos. Em 1950, o editor Manuel Simões leva-o a Madri para gravar o seu 1º disco. O tema Cartas de Amor que se tornaria um de seus maiores êxitos. Em 1952, apareceu no teatro de revista. Em 1953 viaja pela primeira vez ao Brasil. Em São Paulo, o sucesso é tal, que o contrato inicial de três meses se prolongou por mais três. Em 1957 fixou residência no Brasil durante seis anos, onde com Maria Sidônio abriu, em Copacabana, o restaurante típico O Fado. Em 1963 decidiu regressar a Portugal. Em 1964 apareceu no cinema com o filme A Canção da Saudade, de Henrique Campos. Em 3/4/1965, recebeu no Pavilhão dos Desportos o Prêmio de Imprensa da Música Ligeira de 1964. Participou nos filmes Rapazes de Táxis (1965), O Destino Marca a Hora (1970) e Derrapagem (1972), neste último trabalhou como ator e produtor. Em 1966, concorreu ao Festival RTP da Canção com o tema Nada e Ninguém. Em 8/2/1969 recebeu o Prêmio da Imprensa, na categoria de “Fado” de 1968. Em 1974 fez uma excursão pelos E.U.A. onde alcançou enorme sucesso, o que o levou a fixar residência nesse país durante oito anos. De regresso a Portugal, ao lado dos fadistas Carlos Zel e Filipe Duarte, fundaram o restaurante Fado Menor. Em novembro de 1985 deu o seu 1º concerto no Coliseu dos Recreios. Participou em diversos seriados televisivos durante toda a década de 80. Criador de muitas músicas de sucesso como: Cartas de amor, Rosinha dos limões, Vendaval, Só nós dois, Sou romântico, Lugar vazio e Poema do fim. Discografia: A Rosinha dos limões / Cartas d’amor (78 rpm, Columbia, 1954), Serenata a Lisboa / Vira de roda (78 rpm, Columbia, 1954), Canta Maria / Não é amor (78 rpm, Columbia, 1954), Quem se adora não se encontra / Ao menos uma vez (78 rpm, Columbia, 1954), Vocês sabem lá / Foi em Lisboa (78 rpm, Todamérica, 1959), Alguém no cais / Ela (78 rpm, Continental, 1961), Vendaval (Carioca, s.d.), Tony de Matos (Estúdio, s.d.), Tony de Matos (LP, Copacabana, 1957), Foi em Lisboa (LP, Discolar, s.d.), Lado a lado (LP, SOM, 1963), O eterno romântico (CD, s.d.), Biografias do fado - Tony de Matos (Cd, EMI, 2004).

MAX.

(Maximiano de Sousa. Funchal, Ilha da Madeira, PT, 20/1/1918 - Lisboa, PT, 29/5/1980). Fad. Comp. Actor. Inicialmente exerceu a profissão de alfaiate, mas pouco depois dedicou-se à música. Estreou-se em 1927 no Funchal. Profissionalizou-se e em 1946 veio para Lisboa, integrado no conjunto de Tony Amaral, onde atuou como vocalista e inicialmente também como baterista. Depois cantou em espetáculos de norte a sul de Portugal, tendo-se tornado muito popular junto do povo. No Teatro fez parte dos elencos das seguintes revistas: Saias curtas (1953), Fonte Luminosa (1956), Elas são o espetáculo (1963), Pão, pão… queijo, queijo… (1967), Grande poeta é o Zé (1968) e Peço a palavra (1969). Na Rádio atuou em Portugal na Emissora Nacional e noutras estações emissoras. Como compositor foi autor de músicas que alcançaram grande sucesso como Pomba


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Branca e Porto Santo. A sua grande popularidade também foi conquistada com a interpretação das canções humorísticas A Mula da Cooperativa e o Magala. Max interpretou vários fados de Lisboa e de Coimbra de uma forma muito própria, inconfundível, bem como boleros, entre outros. Gravou vários discos e neles incluiu composições do folclore, como O Bailinho da Madeira. Atuou em vários países com destaque para a sua participação nos Estados Unidos, no programa de Grouxo Max, na NBC. Alcançou grande sucesso no Brasil. É também de destacar as suas participações em clubes de Hollywood e de Nova Iorque, bem como na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Espanha e Venezuela. Zip-Zip foi o último programa de televisão em que participou, no ano de 1969. Foi homenageado pelo Governo Regional da Madeira em 1979. Foi realizado um concerto dedicado a Max em 29 de maio de 2014, no Teatro Municipal Baltazar Dias, Funchal, Madeira. Discografia: Álbuns - Pomba Branca, Pomba Branca (Orlador, 1979), O Melhor de Max (EMI 1989), Sinal Da Cruz (Columbia). Singles e EPs - Pomba Branca, Pomba Branca / Quando A Dor Bateu Á Porta ‎ (Decca 1974), Ai Vem-Te Embora / Os Três Santos Populares (Columbia), Rancho Minhoto / Baile Camponês ‎(Columbia), Bate O Pé / O Ilhéu ‎(Columbia), Max, Humberto Madeira - O Homem Do Trombone / O Meu Tareco ‎(Columbia), Maximiano De Sousa, Thilo’s Combo - Casei Com Uma Velha (Decca), O Bailinho Da Madeira (Columbia). Compilações - Max - Saudade ‎- 2xLP- (Valentim De Carvalho, 1982), Noites da Madeira ‎- CD - (Edições Valentim de Carvalho, 2008), Essencial ‎-CD(Edições Valentim de Carvalho, 2014). Filmografia: Bonança & Cª (1969).

MAYA, Alice (Alice da Conceição Frutuoso Gonçalves de Campos. Moncorvo, Bragança, PT,

23/3/1934). Fad. Depois de concluir a instrução primária, cursou o liceu (ensino médio), completando o 1º ano. A sua vida artística iniciou-se quando era professora no Colégio Santo Antônio, em Lisboa, e cantou durante uma festa. Corina Freire estava presente e pediu-lhe que a procurasse em sua casa, pois tinha boa voz. Assim, se tornou aluna daquela insigne artista. Em 1964, Alice Maya apresentouse na Emissora Nacional e, entre 30 candidatas, foi a única admitida. A sua estreia, em público, deu-se no Pavilhão dos Desportos, a 23/5/1964, na festa das bodas de prata do tenor Luís Piçarra. Entretanto, gravou o seu 1º disco. Em 1965, foi à Ilha da Madeira, atuar nas festas do Marítimo e no regresso trabalhou nos cassinos do Estoril e Espinho e em vários espetáculos e serões da Emissora Nacional. Em 1966 voltou a ir à Madeira e gravou um novo disco. Cantava com alma e coração. Subitamente, e sem qualquer explicação aparente, abandonou a vida artística. Discografia: Assim que é o fado (Alvorada, s.d.).

MENDES, Aurélia. (Aurélia Fernandes da Silva. Portugal, 26/2/1896 - São Paulo, SP,

22/9/1966). Atriz. Fad. Comp. Atriz. Foi elemento de destaque de várias companhias de revista

portuguesas nos anos 1910/20. Conhecida como “Embaixatriz do Fado”, realizou inúmeras excursões pelo Brasil, onde fixou residência. No Rio de Janeiro, trabalhou na companhia do ator Carlos Leal, empresariado por Pascoal Segreto. Voluntariamente, atuou como enfermeira durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Ficou conhecida, em São Paulo, entre as décadas de 1930 a 1950, por suas atuações como fadista nos restaurantes típicos da cidade e no rádio. Em janeiro de 1917, Aurélia e João Rodrigues (ator português) apresentaram monólogos e números de fados na inauguração do Teatro São Pedro, na Barra Funda. Em 1955, foi residir na Casa do Ator, em São Paulo. Em 1961, ao completar 65 anos, foi homenageada pelo jornalista e apresentador Santos Mendes, no programa Portugal no Mundo, da TV Tupi-SP. Cantou Meu Portugal, música e versos de sua autoria, foi acompanhada pelo professor Manuel Marques.


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MEIRELES, Cidália. (Cidália Margarida Meireles Moritz. Porto, PT, 9/5/1925 - Lisboa, PT,

18/9/1972). Sopr. Cant. Fad. Empr. Remanescente do trio Irmãs Meireles, Cidália foi durante as décadas de 50/60, fadista e intérprete da canção lusa da Rádio e TV Record de São Paulo. Filha de José Delfim Pinto de Meireles e Deolinda Augusta de Jesus. Junto com as irmãs, na infância, chegou a se apresentar na Rádio Clube do Porto. Em 1941, transferiu-se com a família para Lisboa. Ingressou na Emissora Nacional como solista, no seu repertório constavam fados, canções populares e internacionais. Por sugestão da poetiza Fernanda de Castro, esposa de Antônio Ferro, diretor da Emissora Nacional, Cidália, Milita e Rosária formaram o trio Irmãs Meireles, em maio de 1943. Viajaram, durante dois anos, por diversas regiões de Portugal, Ilha da Madeira e Açores a fim de recolherem músicas folclóricas, para divulgarem na rádio. Cantavam com orquestra e à capella, uma técnica pouco usual na época, sendo dirigidas pelo maestro Tavares Belo. Em abril de 1947, receberam um convite para uma temporada no Brasil. Contratadas pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, apresentando programas exclusivos. Realizaram espetáculos beneficentes e em boates. Seguiu-se uma turnê por outras capitais brasileiras e países da América do Sul e Central. Regressam a Portugal em 1949, mas surgiu um novo contrato no Brasil. Cidália acaba por casar-se com um brasileiro, em 1951, e o trio dissolve-se. Fixou residência na capital paulista, enquanto as irmãs e os pais permaneceram morando no Rio de Janeiro. Em 1954 volta a cantar em programas avulsos das rádios Bandeirantes e Nacional. Um ano depois, é contratada pela Rádio e TV Record, Canal 7. Ganhou programas exclusivos e que cativaram o público. Tentou, a princípio, divulgar as músicas do repertório das Irmãs Meireles, mas o público queria ouvi-la cantar fados. Em 1957, gravou um LP todo dedicado ao fado, Adega da Cidália, nome do seu programa na TV Record. A direção musical e arranjos são do maestro italiano Henrique Simonetti e sua orquestra. Viajou e cantou por todo Brasil. Em 1965, por problemas políticos, regressou a sua pátria na companhia do marido e dos seus pais. Inaugurou dois hotéis, em Lisboa, junto com o esposo. Na RTP, apresentou alguns programas como, Cidália nos céus de Portugal e Tu cá, tu lá. Travou uma luta pela divulgação da autêntica música portuguesa deturpada pelo avanço de novos ritmos, principalmente estrangeiros. Foi uma luta quase solitária, a artista recebeu muitas críticas, o que lhe causou dissabores. Em 1968, Cidália e o maestro Joaquim Luís Gomes são convidados para integrar o corpo de jurados do III Festival Internacional da Canção Popular, realizado no Rio de Janeiro. Em novembro de 1969, as irmãs organizam novamente o trio para uma apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro: um espetáculo beneficente em prol das obras da Costura e Lactário Pró-Infância, CELPI, da qual Milita Meireles fazia parte da diretoria. De 1970 a 72, Cidália produziu e apresentou a Tribuna dos Artistas, na Rádio Clube Português. Discografia: Quimera / Saudade (78 rpm, Continental, 1947), Maria Madalena / Coração porque amas tanto (78 rpm, Continental, 1949), Tal como outrora / Fado na alma (78 rpm, Continental, 1949), Lisboa de dois séculos / Três Marias (78 rpm, Continental, 1949), Música de Portugal (Estúdio, s.d.), Adega da Cidália (LP, RGE, 1957), Portugal no mundo (LP, Belter, 1969), Canção do mar (CD, RGE, s.d.), O melhor dos melhores - Cidália Meireles (CD, s.d.). Filmografia: Amor de Perdição (1943), Bola ao centro (1945), Um homem às direitas (1945), Aqui Portugal (1945), Os vizinhos do rés-do-chão (1947).

MONTEIRO, Manoel.

(Manoel dos Santos Monteiro. Cimbres, Viseu, 15/5/1909 - Rio de Janeiro, RJ, 26/11/1990). Fad. Rad. Considerado o pioneiro na divulgação do fado no rádio brasileiro. Filho de Antônio dos Santos Monteiro e Carlota dos Santos Trindade Monteiro. Já gostava de cantar desde menino quando auxiliava os pais na lavoura. Emigrou para o Brasil em 1923, junto com o pai, foram morar no Rio de Janeiro. Em 1927, seu pai adoeceu e retornou a Portugal, deixando o filho aos


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cuidados de parentes. Empregou-se no comércio, trabalhou no Rio de Janeiro e na Ilha de Paquetá. Em 1927, ingressou na Escola de Ballet do Theatro Municipal do Rio, onde se manteve até 1930, quando foi proibido de dançar devido a problemas cardíacos. Costumava assistir todos os espetáculos que as companhias de revistas portuguesas apresentavam nos teatros cariocas, especialmente, no Teatro República. O rapaz aprendia os fados em voga e vivia a cantarolar para quem o quisesse ouvir. Em 1930, iniciou sua carreira de fadista na Rádio Educadora do Rio de Janeiro, levado por guitarrista e compositor Manuel Caramés. Em 1934, na mesma emissora, lançou com Caramés o programa Voz Traço da União, que esteve no ar vários anos. Depois, comandou o Programa Manoel Monteiro, 1º na Rádio Educadora e depois da Rádio Vera Cruz. Foi levado por Carlos Campos para a gravadora Odeon, tornando-se artista exclusivo por mais de 20 anos. Foi o 1º artista português a fazer sucesso em disco, abrindo assim o caminho para que outros artistas viessem depois. Criou diversos sucessos como, O meu barquinho, Canto do ceguinho, Minha bandeira, Santa Cruz, Cimbres, Fado das trincheiras, Fado Manoel Monteiro e Salada portuguesa. Gravou um total de 127 músicas em discos 78 rpm e alguns LPs. Além de fados, gravou temas do folclore luso e marchas de carnaval e juninas. Em 1936, sua mãe e as duas irmãs, Maria e Fernanda, viajaram para o Brasil a passeio. Depois de um ano decidiram regressar a Portugal, mas Fernanda resolveu ficar com o irmão e também se tornou cantora de rádio. Em 1939, Manoel Monteiro e o sambista Moreira da Silva foram contratados para uma excursão artística em Portugal. Chegaram a Lisboa em 26 de maio, a bordo do vapor Monte Rosa. Foram recepcionados por colegas, jornalistas e admiradores. Logo, passaram a cumprir extensa agenda de shows. Coincidiu de encontrarem na capital lusa, a violonista e intérprete Olga Praguer Coelho (conhecida como “Embaixatriz da Canção Brasileira”), e seu marido, o poeta Gaspar Coelho. Aproveitando a estada dos três artistas brasileiros, a direção do Retiro da Severa, resolveu homenageálos em junho de 1939. Apresentou-se o quadro A Alma do Fado, com a colaboração dos fadistas Maria Emília Ferreira, Maria do Carmo Torres, Adelina Ramos, Natália dos Anjos, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, Júlio Proença, José Porfírio, Filipe Pinto, Xavier Pinto e Fructuoso França, acompanhados na guitarra portuguesa e na viola por Armandinho, Jaime Santos, Santos Moreira e Abel Negrão. Monteiro cantou na Emissora Nacional, assistiu as revistas do Parque Mayer e recebeu dos compositores Frederico de Brito e Raul Ferrão a marcha O meu barquinho, que se tornou seu grande êxito. A viagem seguiu para Coimbra, os dois cantores apresentaram-se no Teatro Avenida, sendo um sucesso. Acabaram por realizar espetáculos extras e foram homenageados pelos estudantes. Finalmente, em 26 de junho, alcançaram a cidade do Porto. Para Manoel Monteiro foi uma grande emoção. Estava próximo de alcançar a sua terra, Cimbres, em Viseu, e visitar sua mãe, a irmã Maria e outros parentes. No Porto, cantaram no Teatro Sá da Bandeira. Colheram mais aplausos e sucessos. Naquele momento, estava prestes a estourar a II Guerra Mundial. Com receio de complicações, Manoel e Moreira da Silva resolveram regressar ao Brasil em 11 de agosto de 1939. Gozou de enorme prestígio no rádio brasileiro. Excursionou por diversas cidades brasileiras, se apresentando em um sem-número de restaurantes típicos, circos, teatros, rádio e TV. Em 1949, foi homenageado pela classe artística com um evento realizado no Teatro Carlos Gomes, por ter sido o 1º cantor português a fazer sucesso no Brasil, abrindo assim o caminho para que outros artistas portugueses pudessem também se projetar e gravar discos no Brasil. Em 1992, em Portugal, foi lançado um pequeno livrobiografia sobre o artista, escrito por J. Gonçalves Monteiro, com colaboração do multiinstrumentista Fernando Pinto, sobrinho de Manoel Monteiro, filho de sua irmã Maria. Discografia: Santa Cruz / Minha bandeira (78 rpm, Odeon, 1933), Carta à minha mãezinha / Fado Brasil (78 rpm, Odeon, 1933), Rio de Janeiro / O canto do ceguinho (78 rpm, Odeon, 1933), Salada portuguesa / Moreninha (78 rpm, Odeon, 1933), Minha terra / Descoberta do Brasil (78 rpm, Odeon, 1935), Uma porta, uma janela / Chorando baixinho (78 rpm, Odeon, 1935), Guitarras de Portugal / Não desdenhes (78 rpm, Odeon, 1935), Salve Portugal / Amores da aldeia (78 rpm, Odeon, 1937), Cantando espalharei por toda parte / Oração ao sol (78 rpm, Odeon, 1938), Glória a Portugal / Procura por aí (78 rpm, Odeon, 1940), Cimbres / Fado Manoel Monteiro (78 rpm, Odeon, 1940),


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Chorando baixinho / Serões da aldeia (78 rpm, Odeon, 1949), Porque te persigo / Duas cartas (78 rpm, Todamérica, 1951), Rosinha dos Limões / Mariana (78 rpm, Todamérica, 1953), Uma casa portuguesa / Madragoa (78 rpm, Todamérica, 1953), Na minha aldeia / Fado das trincheiras (78 rpm, Todamérica, 1955), O meu barquinho / Colete encarnado (78 rpm, Todamérica, 1953), Manoel Monteiro (LP, Todámerica, 1959). Filmografia: Alô, Alô, Brasil! (1935).

MOREIRA, Cidália. (Cidália do Carmo Moreira, Olhão, Algarve, PT, 1º/1/1944). Fad. Desde a

infância tinha paixão pelo canto e pela dança. Aos 17 anos, já em Lisboa, estreou sua carreira na casa típica A Viela, à Rua das Taipas. Seu talento sobressaía pela garra e envolvência ao cantar, e também pela dramatização. Morena de cabelos pretos muito compridos, não tardou a que a apelidassem de “A Cigana do Fado”. Na década de 70, sobressai a sua presença no teatro de revista. Destaca-se, entre outras, nas revistas Cá vamos cantando e rindo, Ora bolas pró pagode e força, Força Camarada Zé. Viajou em excursões pela França, Espanha, Alemanha, África do Sul, E.U.A., Canadá, Brasil e outros países. Dentro das “Festas de Lisboa 2004”, no programa da Festa do Fado, Cidália Moreira integrou o espetáculo temático intitulado As grandes testemunhas, ao lado de Beatriz da Conceição, João Ferreira-Rosa e Vicente da Câmara. Suas gravações mais conhecidas são Primeiro amor (20 anos), Miúdo da rua, Lisboa meu amor, Balada para uma velhinha, Las manos, Falta aqui uma ceifeira e Ciúme é chama maldita. Atualmente, apresenta-se na casa de fados Coração de Alfama, em Lisboa. Discografia: Cidália ao vivo no Luso (LP, Gatefold, s.d.), O meu primeiro amor (LP, Imavox, s.d.), Las manos (Imavox, s.d.), A verdade do fado (LP, Rossil, 1981), Os meus fados (CD, s.d.), Fado Cigano (CD, s.d.).

MOURA, Ana. (Ana Cláudia Moura Pereira. Santarém, PT, 17/9/1979). Fad. Contr. A família

gostava de organizar serões em casa com fados e músicas angolanas. Aos 14 anos, inscreveu-se na Academia dos Amadores de Música de Carcavelos. Suas primeiras atuações na música dão-se com uma banda de covers Sexto Sentido (pop/rock), formado com colegas de escola. Em seguida, tem a oportunidade de cantar um fado num bar em Carcavelos, estava presente o guitarrista Antônio Parreira; ele se impressionou com a sua voz e a apresentou para a fadista Maria da Fé, que controu Ana Moura para atuar na sua casa de fados, o Sr. Vinho. Gravou o 1º CD Guarda-me a vida na mão, em 2003, com direção artística do músico e compositor Jorge Fernando. Em 2007, tornou-se nacionalmente conhecida ao lançar o CD Para além da saudade, sendo que a música Os búzios (Fado da procura), de Jorge Fernando, estourou nas paradas de sucesso, recebendo várias premiações. Ainda em 2007, participou no espetáculo dos Rolling Stones no Estádio de Alvalade XXI, em Lisboa, cantando, em dueto com Mick Jagger, a música No Expectations da banda britânica. Atuou em diversos países do mundo, E.U.A, Canadá, Áustria, Holanda, Alemanha, Brasil e outros. Juntamente com Mariza, Antônio Zambujo e alguns cantores brasileiros, Ana Moura participou do I Festival de Fado, no Brasil, em agosto de 2013, com espetáculos realizados em São Paulo e Rio de Janeiro. Este projeto, já está na 3ª. edição, procurando mostrar a renovação do gênero musical luso. Discografia: Guarda-me a vida na mão (CD, Universal, 2003), Aconteceu (Universal, CD, 2004), Para além da saudade (CD, Universal, 2007), Leva-me aos fados (CD, Universal, 2009), Desfado (CD, Universal, 2012).


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MOURÃO, Antônio. (Antônio Manuel Dias Pequerrucho. Montijo, PT, 5/6/1935 - Lisboa,

PT, 19/10/2013). Fad. Descobriu seu verdadeiro talento quando sua voz começou a se destacar no cumprimento do serviço militar. Passou a cantar, como amador, nas casas de fado. Seu 1º contrato foi com a Parreirinha da Alfama. Em 1965, estreou no teatro de revista E viva o velho, no Teatro Maria Vitória, onde interpretou Ó tempo volta pra trás, que se tornaria um dos maiores êxitos da música popular portuguesa. O lançamento de seus primeiros discos foram rodeados de uma campanha publicitária, em que a locutora Eugênia Maria e o programa Talismã, muito contribuíram para a sua promoção. Percorreu todo Portugal e cantou em vários outros países como E.U.A., Canadá, Austrália, Venezuela, África do Sul, França e Alemanha. Afastou-se dos meios artísticos e sociais na década de 1990. Seus principais êxitos são: Ó tempo volta pra trás, Chiquita morena, Meu amor, meu amor; Os teus olhos negros, negros; Fado do Cacilheiro e Varina da Madragoa. Faleceu na Casa do Artista em Lisboa. Discografia: Uma tarde em Salvaterra (Decca, s.d.), O fadista da nova vaga (RCA Victor, s.d.), Ouve lá o pá (LP, Decca, s.d.), Os maiores sucessos de Antônio Mourão, vol. I e II (LP, RCA Victor), Do Minho ao Algarve (LP, Decca, s.d.), Essencial - Antônio Mourão (CD, s.d.). O melhor de Antônio Mourão (CD, 2008).

NATÉRCIA DA CONCEIÇÃO (Vila Franca de Xira, PT, 20/7/1934 - Providence, Rhode

Island, E.U.A, 15/10/2009). Aos 12 anos foi viver em Lisboa. Sua maior atuação deu-se nas casas de fado, sendo suas madrinhas artísticas Ercília Costa e Berta Cardoso. Iniciou sua carreira em 1953 ao vencer um concurso patrocinado por um jornal de fado. Gravou diversos fados, entre eles estão: Agora choro a vontade, Sou tua, Não voltes, Fado antigo, O fado, a guitarra e eu; recordações, Saudades, Janelas de namorar, Essa mulher sou eu, entre outros temas. Em 1970, mudou-se para os E.U.A., onde participou como locutora de duas estações de rádio, voltadas a comunidade portuguesa, abertas por Antônio Alberto Costa. Cantou para o Presidente Bill Clinton em uma festa na Casa Branca na década de 90. Discografia: O fadista da nova vaga (1967), É sempre sucesso (1968), Folclore das províncias (1970), Meu amor, meu amor (1971), Se quiseres ouvir cantar (1973), Pregão da liberdade (1975), Canta o amor (1978), Oh razão da minha vida (1983), Álbum de recordações (1984), 25 Anos de cantigas (1989), Não há fado sem verdade (1989), A voz que volta (1992), Pensando em ti (1993), Magia do fado (CD, 2000).


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NORONHA, Maria Teresa.

(Maria Teresa do Carmo de Noronha de Guimarães Serôdio. Lisboa, PT, 7/9/1918 - Sintra, PT, 5/7/1973). Fad. Filha de Dom Antônio Maria Sales do Carmo de Noronha e de Dona Maria Carlota Appleton de Noronha Cordeiro Feio, descendentes dos condes de Paraty. Aristocrática por nascimento, tornou-se Condessa de Sabrosa, em 1947, pelo casamento com o 3º conde desse título, Dom José Antônio Barbosa de Guimarães Serôdio, guitarrista amador e compositor. Muito jovem gostava de cantar nas festas familiares. Teve formação musical, estudou canto e piano. Fez parte do coro do maestro Ivo Cruz. Sua carreira artística está ligada ao rádio, após ensaios com o guitarrista Fernando de Freitas e o violonista Abel Negrão, estreou na Emissora Nacional em 1938. Seus programas eram quinzenais e apresentados por Dom João Câmara. Interpretava fados castigos. Suas audições ganharam popularidade, e por ser uma fidalga a cantar fados, em geral, compostos por membros da nobreza, seu repertório ficou conhecido como “Fado aristocrático”. O programa manteve-se no ar por 23 anos, terminado em 1962, quando a artista resolveu terminar a sua carreira. Muito rigorosa com a qualidade dos músicos, escolhia profissionais de qualidade para os seus programas. Realizou poucas excursões artísticas, esteve na Espanha e no Brasil em meados dos anos 40. Em 1964, apresentou-se no Principado do Mônaco, para a família real e em Londres, na Embaixada e na Casa de Portugal, bem como na BBC, acompanhada pelo conjunto de guitarras de Raúl Nery. Seus sucessos foram: Fado das horas, Sete letras e Fado de Rio Maior, todos de autoria de D. Antônio de Bragança. Discografia: O fado dos cinco estilos (78 rpm,, 1939), Fado antigo (Decca, s.d.), Minha mágoa (Decca, s.d.), Ave Maria da Serra (Decca, s.d.), Fado velhinho (Decca, s.d.), Saudade (LP, Decca, s.d.), Essencial - Maria Teresa de Noronha (CD, CNM, s.d.), Patrimônio - Maria Teresa de Noronha (CD, s.d.).


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P

PEDROSA, Adélia. (Maria Adélia Pereira Parracho. Praia de Pedrógão, Leiria, PT, 30/11/1941).

Fad. Filha de Carlos Parracho e Maria José Pereira. Na infância cantava para vender folhetos junto a sua mãe na Praia de Pedrógão. Viajou para o Brasil aos 12 anos junto com os avós adotivos, estabelecendo-se no Rio de Janeiro. Aos 17 anos fez sua estreia no fado ao participar do Programa dos Astros, na Rádio Vera Cruz, apresentado por Joaquim Pimentel. Em 1964 transfere-se para São Paulo aonde atuou nos principais restaurante típicos da cidade e em espetáculos. Voltou algumas vezes a Portugal e cantou em sua terra natal. Esteve ainda na Argentina seis vezes. Foi sócia-proprietária de dois restaurantes portugueses na cidade de São Paulo. É uma das principais vozes do fado no Brasil. Atualmente reside na cidade de Pirassununga, SP, continua realizando shows. Discografia: Uma noite na Adega Lisboa Antiga (LP, Som Livre, 1975), Portugal com amor (LP, Som Livre, 1980), Só nós dois (LP, s.d), Adélia Pedrosa (Ofir, s.d.).

PERES, Fernanda.

(Fernanda Peres. Lisboa, PT, 13/03/1934). Atriz. Fad. Começou a cantar bem cedo, com apenas 10 anos de idade e rapidamente conquistou a todos os que ouvem a sua voz. Passou a ser conhecida como a “Miúda do Bairro Alto”, em homenagem ao bairro onde nasceu. A sua estreia deu-se no Peninsular, um retiro castiço que pertencia ao empresário José Miguel. Depois, passou para outros locais de fado como o Café Mondego, no Salvaterra e no Latino. No entanto, a Inspeção Geral dos Espetáculos recusa-lhe a carteira de artista pelo motivo de ser ainda muito nova. Aos 17 anos de idade, numa conversa de café com o ator Humberto Madeira e José Antônio, dois bons amigos, Fernanda Peres confiou-lhes a sua mágoa por ter abandonado a sua carreira. Foi por eles aconselhada a inscrever-se no Centro de Preparação de Artistas de Rádio. Ajudada pelo prof. Mota Pereira, Fernanda alcançou rapidamente a popularidade. Com 17 anos, venceu o 1º lugar no concurso promovido pela Emissora Nacional intitulado Concurso Nacional das Jovens Fadistas. Em 1952, no auge da sua carreira, é convidada para participar no filme Eram Duzentos Irmãos, de Armando Vieira Pinto. Neste filme popular, estreia dois fados da autoria de José Galhardo e Frederico Valério, são eles Eu gosto de um marinheiro e Gosto de ti. O filme serve para consolidar a sua carreira. Participou regularmente em programas de fados na Rádio e Televisão Portuguesa, RTP, granjeando grande popularidade devido à sua voz e sua bonita presença. Em 1957, participou no Festival da Canção Latina, em Gênova, com um dos mais belos fados do seu repertório, Nem às paredes confesso. Atuou por todas as salas do país, e ainda nas antigas colônias portuguesas na África, nos Açores e na Ilha da Madeira. Em 1967, no auge da carreira e sem qualquer motivo aparente, decide por término a sua vida artística. Regressou apenas em meados dos anos 70 para regravar os seus maiores sucessos a convite da Editora Riso e Ritmo. Vive atualmente retirada da vida artística. Discografia: Marcha do Bairro Alto / Marcha de Benfica (His Master’s Voice, 1955), Fado corrido / Fado das lágrimas / Já não te quero / Nem às paredes confesso (His Master’s Voice, 1958), Fado turista / Moirama / O amor e fumo / Cada um é como é (His Master’s Voice, 1958), Há toiros em Vila Franca / Marcha dos bairros / Fado antigo / Maria Feliz (His Master’s Voice, s/d), Anda comigo /


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Chico do Ribatejo (RCA Victor, 78 rpm, s/d), Os maiores êxitos de Fernanda Peres (Riso e Ritmo, 1973). Filmografia: Eram duzentos irmãos (PT, 1952).

PIMENTEL, Joaquim. (Joaquim Viana Pimentel. Cedofeita, Porto, PT, 17/7/1910 - Rio de

Janeiro, RJ, 15/7/1978). Fad. Comp. Rad. Empr. Muito jovem dedicou-se a prática do atletismo no Clube Acadêmico do Porto. Na adolescência transfere-se para Lisboa para residir com os padrinhos e prosseguir seus estudos. Nos tempos de escola já dava sinais da expansão de seu talento. Certa vez, enquanto cantava com uns amigos em um parque, um homem se aproximou e dirigiu-se a ele, pedindo que o rapazinho cantasse. Apesar do acanhamento, Pimentel cantou uma música em voga na época. Pouco tempo depois foi convidado para trabalhar em uma casa de fados. Passou a cantar no Retiro da Severa, firmando-se desde logo como um intérprete do fado, expressivo e de boa voz, que depressa se impôs no meio artístico lisboeta. Paralelamente, nunca deixou o esporte de lado: foi atleta do clube de futebol Os Belenenses e, em 1933, enquanto despontava na carreira artística os seus estudos iam de mal a pior na escola. Depois, foi a vez do jornal lisboeta O Século eleger o jovem intérprete como o “Fadista mais popular”. Este incentivo fez com que progredisse na carreira com muita determinação. Cantou pela 1ª. vez no Rádio Clube Português, de Lisboa. No seu repertório constavam fados e tangos. Trabalhou em vários teatros de Portugal. Ao completar 23 anos, em 1934, foi convidado pela companhia teatral “Embaixada do Fado” para ser o galã e fadista do elenco. Faziam parte desta companhia nomes consagrados do meio fadista como Maria do Carmo e Filipe Pinto. Essa viagem determinaria o seu futuro. No Rio de Janeiro, Carmen Miranda assistiu a estreia da revista da “Embaixada do Fado”, no Teatro República, reduto das companhias de revistas lusas. Ficou impressionada com a voz de Pimentel. Tratou de levá-lo para a Rádio Mayrink Veiga, emissora da qual era contratada, e fez com que seu patrício tomasse parte no programa Horas Portuguesas. O agrado foi imediato. Gravou seu 1º disco 78 rotações no Brasil, em maio de 1935, na etiqueta Columbia, com os fados Verdades e Malmequer, ambos de autoria, sendo o último escrito em parceria com A. C. Figueiredo. Depois de um breve retorno a Portugal, Joaquim regressou ao Brasil e, em setembro de 1936, foi contratado para a Rádio Nacional, depois foi para a rádio Ipanema onde ficou até 1940, e por fim, na Vera Cruz onde permaneceu por mais de 30 anos. Seu sucesso foi rápido, passou a ser tão popular nos meios radiofônicos quanto o fadista Manoel Monteiro. Anunciava a revista Cinearte em janeiro de 1937: “Joaquim Pimentel é um dos autênticos representantes da música popular portuguesa no rádio carioca. Tem discrição, autoridade e sentimento, ele possui um meio certo de emocionar o seu público - seja no ritmo dolente do fado ou na cadência viva das canções lusa. Cantou a variação portuguesa da valsa que Gilda de Abreu compôs”. Esta última referência diz respeito à participação do artista no filme Bonequinha de Seda (1936), produzido pela Cinédia e dirigido por Oduvaldo Viana. Na Rádio Vera Cruz criou o seu programa, Programa Joaquim Pimentel, que iniciou suas transmissões em 17 de outubro de 1942, e permaneceu no ar mesmo após a morte de seu criador, sendo continuado por seu parceiro musical, Antônio Campos e pela fadista Hélia Campos, até 2010. O programa revelou grandes astros da música portuguesa no Brasil como Adélia Pedrosa, Sebastião Robalinho e Antônio Campos. Durantes vários anos, atuou em espetáculos, na rádio e TV do Rio de Janeiro. Costumava praticar remo no Clube Vasco da Gama. Em fins da década de 1960, Joaquim Pimentel instalou-se em São Paulo, dedicando-se a administração e parte artística da Adega Lisboa Antiga, à Rua Brigadeiro Tobias, nº. 280, um restaurante típico por onde passaram os mais destacados artistas lusos da canção. Autor de dezenas de fados, muitos escritos em parceria, alguns gravados e cantados pelo próprio Pimentel, como, também, por outros artistas: Dá tempo ao tempo, Voltaste, Confissão, Não penses mais em mim, A freira, Só nós dois, Júlia Florista, Duas mortalhas, Deixame só, O teu destino, O melhor amor, Por que razão, coração?, O amor sempre acontece, Oh! Meu


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amor marinheiro, Saudade não vás embora, Vendaval e Caçador de mulheres. Retornou a Portugal diversas vezes para cumprir contratos de trabalho e rever seus parentes. Discografia: Teus olhos (78 rpm, Odeon, 1935), Que bom é ser português (78 rpm, Odeon, 1935), Soldados de Portugal (78 rpm, Odeon, 1938); Duas mortalhas (78 rpm, Columbia, 1938), Cruz de Cristo e Desgarrada - dueto com Berta Cardoso (78 rpm, Victor, 1939); Oh! Rosa (78 rpm, Odeon, 1941), Pátrias irmãs (78 rpm, Odeon, 1942), Joaquim Pimentel (Orfeu, PT, 1967). Filmografia: Bonequinha de Seda (1936).

PINTO, Ana Margarida. (Oliveira de Azeméis, PT, 9/6/1983). Fad. Estudou música dos seis aos 18 anos. A mãe costumava fazer serões de fado em casa. Formou-se na Universidade de Aveiro no curso de Novas Tecnologias da Comunicação, ao mesmo tempo, dava os primeiros passos como profissional nos meios artísticos, participou das coproduções Navio dos rebeldes (2004) e Fungagá da bicharada (2005), no Teatro da Trindade. Em 2008, na Gala de Fado em Homenagem a Fernanda Batista, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, recebeu o prêmio “Revelação”. Em 2009, integrou o elenco dos musicais da companhia Iberostar, na ilha de Maiorca, na Espanha. Em seguida, passou a se apresentar em casa de fado no Porto. Em 2011, transfere-se para Lisboa e passou a cantar no restaurante A Severa. Dois anos depois, recebeu o convite de Maria da Fé para integrar o elenco artístico do Sr. Vinho. Já levou o fado para vários países como, Espanha, França, Suíça e Holanda. Discografia: Na voz do vento (CD, 2010).

PONTES, DULCE. (Dulce José da Silva Pontes. Montijo, Setubal, PT, 8/4/1969). Arranj. Comp.

Cant. Fad. Poeta. Prod. Quando criança, aprendeu a tocar piano, estudando música no Conservatório de Lisboa, tendo também estudado dança contemporânea. Em 1988, no decorrer de um casting foi selecionada entre várias candidatas, e iniciou a sua atividade profissional na comédia musical Enfim sós. Em 1990 é convidada a integrar o espetáculo Licença para jogar no Cassino Estoril. Torna-se popular junto do público português através do programa de televisão Regresso ao passado. Em 1991 vence o Festival RTP da Canção tendo ido representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, onde cantou Lusitana Paixão. Um ano depois, gravou seu primeiro disco, Lusitana. Em 1995 lançou o álbum Brisa do Coração, gravado no Porto. O disco seguinte, Caminhos, foi lançado em 1996, contendo temas clássicos como Fado Português, Gaivota e Mãe Preta. Em 2013 realizou uma série de concertos pela Europa e América do Norte. Atuou em palcos como o Carnegie Hall e ao lado de nomes como Ennio Morricone, Andrea Bocelli e José Carreras.

PROENÇA, Maria Amélia. (Lisboa, PT, 21/10/1938). Fad. No começo da carreira utilizava

o nome Maria Amélia Marques. Aos oito anos, inscreveu-se no Grande Concurso Portugal, patrocinado pelo jornal Ecos de Portugal, tendo vencido e recebido a “Taça Amália”. Com a vitória do certame, passa a cantar em vários cafés, entre eles o famoso Casablanca. Faz a sua estreia, em 1948, apresentando-se no Teatro Casablanca, no Parque Mayer, propriedade do empresário José Miguel. Atuou em várias casas de fado como o Café Luso e o Sr. Vinho, ao lado de Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Tristão da Silva, Fernando Farinha e Carlos do Carmo. Ícone do fado castiço, o mais tradicional de Lisboa, fez a sua primeira viajem ao estrangeiro em 1972, chegando a permanecer sete meses em Macau, cantando também na Tailândia, Japão e Singapura. Entre os seus maiores êxitos estão Era só o que faltava e Duas cantigas. Em 2005, recebeu o “Prêmio Carreira” da Casa da


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Imprensa. Para comemorar seus 60 anos de carreira, editou uma coletânea com os seus mais célebres fados, acompanhada à guitarra portuguesa por Manuel Mendes, à viola pelo seu filho Carlos Manuel Proença, e à viola-baixo por Marino de Freitas. Entre os poetas que canta neste álbum destacam-se Ary dos Santos, Frederico de Brito e Eduardo Damas. Discografia: O grito da terra (Alvorada, s.d.), Reviver (Alvorada, s.d.), Oração para muitas horas (Trevo, s.d.), Fados (LP, Risos e Ritmos, 1979), Fados do meu Fado (CD, Ocarina, 2006).

PROENÇA, Júlio.

Fad. Comp. Empr. (Lisboa, PT, 25/10/1901 - Moçambique, África, 21/9/1970). Filho de Amélia da Conceição Proença. Sobrinho do cantador Antônio Lado. Aprendeu a cantar o fado com sua mãe. Aos 16 anos, em 1917, começou a cantar como amador. Em 1929, estreou-se profissionalmente na opereta Mouraria, no Coliseu dos Recreios, e, seguida, marcaria presença em inúmeras peças do teatro de revista. Paralelamente, exerceu a profissão de estofadordecorador de uma afamada casa do ramo em Lisboa. Atuou em diversos retiros como, Charquinho, Ferro de Engomar, Caliça e Pedralvas, entre outros. Em 1931, com Deonilde Gouveia, adquiriu o Solar da Alegria. Foi um dos primeiros cantores a atuar em rádio, cantou nas rádios Luso, Peninsular e Condes. Viajou por alguns países, no Brasil, esteve em 1953, cantou no Solar da Alegria e se apresentou na Rádio Piratininga, em São Paulo. Em 1946, foi homenageado com uma festa artística na Sala Júlia Mendes, no Parque Mayer, foi um tributo dos seus colegas e admiradores pela mudança para Moçambique do fadista. Discografia (78 rotações): Mentindo sempre, Olhos fatais, Como nasceu o fado, Mentindo, Três beijos, Meu sonho, Minha terra, Verbena, Fado Proença, Fado moral.

PROENÇA, Maria Amélia.

(Lisboa, PT, 21/10/1938). Fad. É atualmente uma das mais antigas fadistas portuguesas ainda ativas. Estreou-se ainda bem jovem como Maria Amélia Marques, até que Manuel Afonso notou a sua voz. Depois de pedida autorização ao pai, é inscrita num concurso de fados organizado pelo jornal Ecos de Portugal, o qual acabou por vencer. Com apenas oito anos de idade, recebe a Taça Amália Rodrigues, pelas mãos da grande fadista Ercília Costa. Após a vitória daquele concurso, passa a cantar em vários cafés, entre eles o famoso Casablanca. Atuou em várias casas de fado ao lado de Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Tristão da Silva, Fernando Farinha e Carlos do Carmo. A sua primeira excursão ao exterior dá-se em 1972, no Extremo Oriente, território na altura bastante aficionado no trabalho musical português. A viagem incluiu Singapura, Macau e Japão. Entre os seus maiores êxitos contam-se Era só o que faltava e Duas cantigas, assim como temas encontrados no repertório de Amália Rodrigues, Fernando Farinha, Fernanda Baptista, Maria Clara ou Simone de Oliveira. Em 2005, o seu trabalho como fadista imortalizou-se no documentário da BBC Mariza and the story of fado, em que interpreta dois temas, um do seu repertório e outro do repertório de Amália, Ai Mouraria, juntamente com Mariza. Foi também neste ano que recebeu o Prêmio Carreira da Casa da Imprensa. Para comemorar cerca de sessenta anos de sucesso, editou uma coletânea com os seus mais célebres fados. Entre os poetas que canta neste álbum refiram-se Ary dos Santos, Frederico de Brito e Eduardo Damas. Entre os grandes palcos que já pisou, somam-se o CCB, Lisboa, o Concertgebouw, Amesterdão, o Le Carré e no Royal Festival Hall, em Londres ao lado de Mariza. No Concerto do Milénio, no Concertgebouw, em janeiro de 2001, cantou acompanhada pelo Nederlanders Blazers Ensemble para uma audiência de mais de um milhão de telespectadores. As suas digressões já incluíram passagens pelos Países Baixos, Alemanha, França, Cabo Verde e Angola.


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R

RAMOS, Adelina.

(Lisboa, PT, 14/6/1916 - Lisboa, PT, 26/7/2008). Fad. Filha de Joaquim Ramos e de Hermínia Ramos. Em 1929, com 14 anos, cantou pela 1ª. vez no Grêmio Instrutivo Familiar Os Trovadores, neste ambiente as fadistas Ercília Costa, Berta Cardoso ou e Marceneiro. Em 1933 estreou-se como profissional. Viajou por todo Portugal e integrou o elenco de várias casas de fado, como, Retiro da Severa, Solar da Alegria e Luso. Em 1950, juntamente com o marido, abre A Tipoia, restaurante típico situado no Bairro Alto. Nos 22 anos da sua existência, Adelina Ramos dirigiu artisticamente o espaço, com intenção divulgar o fado e a boa gastronomia lusa. O Fado do cauteleiro é o seu 1º sucesso. É criadora dos fados Não passes com ela à minha rua, Ouvi cantar o Ginguinhas e Achei-te tanta diferença. Adelina Ramos retirou-se da vida artística em 1975. Em 1999, foi homenageada pelo Museu do Fado. Passou os últimos anos de vida na Casa do Artista, em Lisboa. Discografia: Adelina Ramos (Orfeu, s.d.); Fados do fado: Berta Cardoso / Márcia Condessa / Adelina Ramos (CD, Movieplay, 1998).

RAMOS, Carlos.

(Carlos Augusto da Silva Ramos. Lisboa, PT, 10/10/1907 - Lisboa, PT, 9/11/1969). Fad. Guit. Comp. Seu pai era porteiro da Real Câmara no Palácio das Necessidades, no reinado de D. Carlos, e costumava tocar trompa nas calçadas, portanto, Carlos cresceu num ambiente musical. Aprendeu a tocar guitarra portuguesa e integrou um grupo de estudantes do Liceu Pedro Nunes. Os primeiros contatos com o fado surgiram no bairro de Alcântara, onde residia. Em 1930 passou a acompanhar diversos fadistas no Retiro da Severa ou Café Mondego, e também no teatro de revista. A seguir, passou a cantar e acompanhar-se. Em 1939, acompanhou Ercília Costa numa excursão aos E.U.A., por iniciativa do embaixador português em Washington, Dr. João Bianchi. Nos anos seguintes, realizou excursões artísticas no Brasil, Espanha, Açores, Madeira, Itália, França e Egito. Em 1952, tornou-se artista exclusivo do restaurante A Tipoia, onde permaneceu até 1959, quando abriu sua casa, A Toca, no Bairro Alto. Fez diversos programas na Emissora Nacional e Rádio Clube Português. Gravou muitos compactos e LPs. Entre seus êxitos estão, Senhora do Monte, Anda o fado noutras bocas, Não venhas tarde e Canto o fado. Discografia: Fado canção de Lisboa (Columbia, s.d.), Mas sou fadista (Columbia, s.d.), Talvez voltes ainda (Columbia, s.d.), Fado é saudade (LP, Columbia, s.d.), Sucessos de Carlos Ramos (LP, Columbia, s.d.), Sempre que Lisboa canta (CD, 1998). Filmografia: Cais Sodré (1946), Lavadeiras de Portugal (1957), Fado Corrido (1964).

REBORDÃO, Fábia.

(Lisboa, PT, 28/3/1985). Fad. Comp. Aos 12 anos descobriu o gosto de cantar. Aos 14 anos foi finalista do programa Cantigas da Rua, exibido pela SIC. Nesta época, começou a escutar fado, tendo Amália Rodrigues como sua grande referência. Aos 15 anos passou a atuar profissionalmente nas casas típicas de Alfama, especificamente, na Taverna do Embuçado, no Clube de Fado, entre outras. Em 2002, a convite de Felipe La Féria passou a integrar o elenco


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de My fair lady, no Teatro Politeama. Em 2006, tornou-se cantora fixa da casa de fados Bacalhau de Molho na casa dos Condes de Linhares, onde canta até aos dias de hoje. É prima de Celeste e Amália Rodrigues. Em 2011, lançou seu primeiro CD, Oitava cor, com produção de Jorge Fernando. Em 2012 recebeu o “Prêmio Amália” na categoria “Revelação”. Esteve duas vezes no Brasil; na capital paulista, em 2012 e 2015, realizou espetáculos ao lado de Jorge Fernando, da fadista brasileira Ciça Marinho e do violonista Sérgio Borges. Discografia: Oitava cor (CD, 2011).

RIBEIRO, Alberto.

Cant. Fad. Comp. Ator. Empr. (Alberto Dias Ribeiro. Ermesinde, Porto, PT, 20/1/1920 - Lisboa, PT, 26/6/2000). Filho de Jerônimo Ferreira Dias e Laura da Silva Ribeiro Dias. Começou a cantar o fado, como brincadeira, aos oito anos de idade, acompanhando Cristiano, seu irmão mais velho, que gostava de tocar guitarra. Com nove anos, mudou-se com a sua família para o Porto, onde se estreou a cantar o fado no café O Portugal. Aos 12 anos de idade sofreu um duro golpe com o falecimento de seus pais. Com 14 anos, mudou-se para Lisboa. Sem dinheiro nenhum, empregou-se numa fábrica de tecelagem, mas isso mudou rapidamente, pois ao fim de duas semana apenas, já estava contratado para cantar no Café Luso. A sua estreia nessa famosa casa de fado deu-se em 1934, quando cantou o Fado Hilário. Passou a estudar canto com a professora Maria Antônia Palhares, que mal o conhece e ao escutar a sua voz, prevê que aquele jovem se tornaria em breve num ídolo nacional. Nos anos 30, foi se firmando como cantor de fados, cantando com bastante regularidade no Café Luso, ao mesmo tempo que se estreou na antiga Emissora Nacional. Em 1939, apareceu profissionalmente no Teatro Apolo, na revista Toma lá cerejas. O sucesso foi enorme. A partir daí nunca mais parou, participando em dezenas de revistas e operetas, tais como, Os sinos de Corneville; A viúva alegre; As pupilas do Sr. Reitor, Traviata; Nazaré; Alfacinha de gema; A leiteira de Entre-Arroios; Bolacha americana; Tiro-liro; Sempre em pé; Alto lá com o charuto; Cantiga da rua, entre outras. Em 1944 é contratado como 1ª figura pela Companhia de Revistas Célia Gamez, a maior figura do teatro popular da Espanha. Assim parte para aquele país, onde durante 18 meses alcança um sucesso sem precedentes. Gravou inúmeros discos em Barcelona dos seus maiores êxitos. De regresso a Portugal, é contratado por Pierro, pelo cachê maior que se havia pago no teatro português, para interpretar várias operetas, entre as quais Mouraria, ao lado de Amália Rodrigues, e que foi o maior êxito teatral em 1947. De tal forma, aquele par ganhou agrado do público que Armando de Miranda resolveu reuni-los no filme Capas negras, que esteve 25 semanas em cartaz. Em 22/4/1947, deu um novo passo em frente na sua carreira, fez uma viagem ao Brasil, assinou um contrato de dois meses com a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que foram prolongados por seis meses, tendo atuado em várias cidades. Trabalhou no Teatro João Caetano e na boate Night and Day. A convite do realizador português Chianca de Garcia, então radicado no Brasil, Alberto Ribeiro atuou como atração internacional na revista Leilão de garotas, no Teatro João Caetano. Em 1950, de regresso a Lisboa, participou como protagonista do filme Cantiga da rua, ao lado de Deolinda Rodrigues. Em seguida, seguiu para Nova Iorque e fez programas na National Broadcasting Company, NBC. Em 1952, casou-se com a atriz e dançarina espanhola Elita Martos. De 1954 a 64, desenvolveu exclusivamente sua carreira no Brasil. Tornou-se empresário, adquiriu vários imóveis e passou a administrá-los. No regresso a Portugal, deixou na administração de seus negócios seu irmão Alcino Ribeiro, também fadista. Em 1964, reaparece nos palcos do Parque Mayer, na opereta Nazaré, ao lado de Deolinda Rodrigues e Mimi Gaspar. D e repente, no auge de sua popularidade e prestígio, sem qualquer explicação, abandonou a vida artística, não mais voltando aparecer em público. Discografia: Rainha Santa / Feiticeira (78 rpm, Copacabana, 1948), Ana Maria / Guadiana (78 rpm, Copacabana, s.d.), Expedicionário / Espero por ti (78 rpm, Copacabana, s.d.), Marco do Correio / O emigrante (78 rpm, Copacabana, 1949), Coimbra / Casinha branca (78 rpm, Copacabana, 1952),


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Adeus Lisboa / Tudo isto é fado (78 rpm, Copacabana, 1952), Canção do marinheiro / Rosa d’Alfama (78 rpm, Copacabana, 1952), Canção do Alentejo / Não é amor (78 rpm, Copacabana, 1953), Foi Deus / Tudo é Brasil (78 rpm, Copacabana, 1955), Fado Hilário / Mondego sonhador (78 rpm, Copacabana, 1956), Alberto Ribeiro (LP, Copacabana, 1955), A voz de Portugal (LP, Copacabana, 1958). Filmografia: Ladrão de Luva Branca (1946), Um Homem do Ribatejo (1946), Capas Negras (1947), Cantiga da Rua (1950), Rosa de Alfama (1953).

RIBEIRO, Alcino. (Valongo, PT, 12/3/1929). Fad. Filho de Jerônimo Ferreira Dias e Laura da

Silva Ribeiro Dias. Irmão do cantor e ator Alberto Ribeiro. Veio para o Brasil em 1952, desembarcando do navio Serpa Pinto, no porto de Santos, SP. Viveu alguns anos no Brasil entre 1950/60. Cantou nos principais restaurantes típicos lusos em São Paulo e Rio de Janeiro. Discografia: Tejo e Guanabara e Mãe (78 rpm, Chantecler, 1960).

RIBEIRO, Alexandrina. (Lixa, Felgueiras, PT, 27/10/1945 - São Paulo, SP, 27/4/2011). Fad.

Filha de Agostinho Ribeiro e Albertina Rosa. Desde pequena gostava de cantar. Viajou para o Brasil, em 1960, na companhia de um irmão. Fixou residência no Rio de Janeiro, onde se casou. Em seguida, transferiu-se para a capital paulista. Principiou sua trajetória artística já madura, nos anos 1990. Trabalhou em parceria com o comunicador Fernando Lopes no rádio paulistano. Juntos apresentaram vários programas de rádio, Caravela lusitana da saudade, Portugal show e saudade, Almoço com a família luso-paulistana e Os imigrantes. Pertenceu ao elenco artístico do restaurante típico Portucale, em São Paulo. Na TV participou do Portugal das Caravelas, do Canal Comunitário. Em 2006, lançou o CD Tom magoado, com acompanhamento do guitarrista Otávio Miranda, dos violonistas Bonfim e Sérgio Borges. Discografia: Tom magoado (CD, 2009).

ROBALINO, Sebastião.

Fad. Comp. (Sandim, Vila Nova de Gaia, PT, 29/2/1934 - Rio de Janeiro, RJ, 17/1/2004). Filho do português Avelino José com a paulista Maria Vieira de Sousa. Desde jovem gostava de cantar o fado nas noites boêmias da Ribeiro do Porto, cultivou sempre o fado castiço, tendo como ídolo Alfredo Marceneiro. Chegou ao Brasil em abril de 1954, logo passou a cantar no Programa dos Astros, de Joaquim Pimentel, na Rádio Vera Cruz. Trabalhou nos restaurantes, Galo, Corridinho, Adega de Évora, Fado, Cantinho da Severa, Adega de Alfama e Lisboa à Noite, todos no Rio de Janeiro. Fez shows por todo Brasil. Em 1963, passou a apresentar o programa de rádio Mensagem de Portugal, que ficou no ar por 42 anos. Discografia: O fado e o mar, com Adélia Pedrosa (Todamérica, s.d.), Não me venham falar dela (CBS, 1968), Amor é fado, fado é saudade (LP, 1974), Sebastião Robalinho - os meus fados quando os canto (CD, Horizonte, s.d.).

RODRIGO

(Rodrigo Ferreira Inácio. Lisboa, PT, 29/6/1941). A sua estreia como fadista deuse aos 22 anos, ainda como amador, quando certa noite, pediu para cantar um fado na casa típica A Cesária, no bairro de Alcântara. O público presente nessa noite rendeu-se em absoluto à nova voz


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do fado. Em seguida, partiu pela Europa com o objetivo de ganhar dinheiro para um dia montar uma casa sua. Fez de tudo: trabalhou como empregado de café, descarregando caminhões de frutas, foi ainda operário de uma fábrica de iogurtes, lavou janelas etc, na França, Alemanha, Itália e Bélgica. De regresso a Portugal, durante alguns anos foi cantando sempre como amador em diversas casas de fado, contudo decidiu profissionalizar-se como fadista, o que veio a ocorrer em 1973. Três anos mais tarde, abriu a sua própria casa de fados, o Dom Rodrigo, em Cascais. Fez várias excursões por Portugal e pelo estrangeiro, sobretudo pelas comunidades de emigrantes. Em 1982, representou Portugal no Festival Autour du Monde, no Casino de Montecarlo, em Mônaco, e recebeu o título de “Cidadão Honorário” pelo Senado do Estado de Rhodes Island (E.U.A.). Gravou inúmeros discos ao longo da sua carreira artística. Continua atualmente a cantar o fado. Discografia: Há gente e gente (LP, Imavox, s.d.), Canto o Fado (LP, s.d.), Bocas do fado (LP, s.d.), O fado que canto (LP, Orfeu, s.d.), O melhor de Rodrigo (CD, Iplay, 2008).

RODRIGUES, Amália.

(Amália da Piedade Rebordão Rodrigues. Lisboa, PT, 23/7/1920 Lisboa, PT, 6/10/1999). Fad. Comp. Oriunda de uma família humilde, desde cedo mostrou aptidão para o fado, e por isso após cantar nas marchas de Lisboa, representando o bairro de Alcântara, é convidada para atuar numa das casas mais típicas e conhecidas da época, o Retiro da Severa. A sua estreia foi um êxito. O seu rápido sucesso levou a que rapidamente seja convidada a participar no teatro de revista. Nos anos seguintes, o seu êxito não para de crescer, toda a gente trauteia os seus fados: Fado Malhoa; Só à noitinha; Ai Mouraria, entre muitos outros. A sua popularidade aumenta muito, não só em Portugal como no estrangeiro, onde começou a visitar. Em especial no Brasil, tem uma aceitação sem precedentes. Aliás, é neste país que Amália gravou os seus primeiros discos em 1945. Quando regressou a Portugal, já uma verdadeira “estrela”. Depois de triunfar no teatro, o cinema não poderia ficar indiferente ao seu sucesso. Em 1947, estreia-se no grande ecrã com o filme de Armando de Miranda, Capas Negras. O longa-metragem foi um êxito retumbante, mantendo-se em cartaz durante 22 semanas consecutivas. Poucos meses mais tarde, foi novamente convidada para protagonizar um novo filme, desta vez ao lado de Virgílio Teixeira, o filme Fado, História de uma Cantadeira. O filme mantém-se 26 semanas em cartaz, batendo o recorde de audiência para um filme português. A partir de 1950, Amália não parou de viajar. Sucessivas turnês levam-na a África, às Américas, e acabou por ficar uma longa temporada no México onde obtêm um grande sucesso. Em seguida, parte para os E.U.A., onde, atuou pela 1ª vez em Nova Iorque, no La Vie en Rose, onde permaneceu 14 semanas em cartaz. Tornou-se na 1ª artista portuguesa a atuar na TV americana, no famoso programa Coke Time with Eddie Fisher, onde interpretou Coimbra. Em abril de 1956, atuou pela 1ª vez no Olympia de Paris. Em pouco tempo, atingiu na França o máximo do prestígio e de popularidade. As atuações sucedem-se, os discos multiplicam-se e o público cada vez se mostra mais entusiasmado com a “Diva do Fado”. Vários artistas franceses passam a escrever canções especialmente para ela, como foi o caso de Charles Aznavour que inspirando-se no Ai, Mouraria escreveu para Amália: Ay, Mourir Pour Toi. Sucedem-se várias reaparições no cinema, tais como nos filmes: Sol e Toiros, Vendaval Maravilhoso, Os Amantes do Tejo, Sangue Toureiro, Fado Corrido e As Ilhas Encantadas. Em 1970, atinge o auge da sua carreira discográfica em Com que Voz onde, sempre com música de Alain Oulman, cantou alguns dos maiores poetas da Língua Portuguesa. Em janeiro de 1970, partiu para Roma para atuar no Teatro Sistina. Logo, foi pela 1ª vez ao Japão, na cidade de Tóquio. O sucesso foi tal que Amália fez várias turnês pelo Japão, visitando outras cidades. Em 1972, no Brasil, estreou-se no Canecão do Rio de Janeiro com o show Um Amor de Amália, onde pela 1ª vez, cantou e contou histórias da sua vida. Em 25/4/1974, deu-se a revolução em Portugal que derruba o regime fascista, a Revolução dos Cravos. Amália, devido a um contrato que tinha para atuar na TV espanhola, partiu para Madri no dia seguinte. Em Lisboa, a sua grande popularidade


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internacional fez com que, de imediato, circulassem boatos de que a fadista tinha estado ligada ao regime deposto. Apesar dos boatos, Amália aparece pouco depois no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, onde cinco mil pessoas a aplaudem de pé, provando que o seu público nunca a abandonou. A partir dessa altura, realizou as mais longas turnês por Portugal, e o seu sucesso internacional continuava a aumentar, fazendo espetáculos por todo mundo. Em 1980, recebeu do Presidente da República a condecoração de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Logo, em seguida, é homenageada pela Câmara de Lisboa. Discografia: Perseguição / As penas (78 rpm, Continental, 1945), A Tendinha / Sei finalmente (78 rpm, Continental, 1945), Fado do ciúme / Olhos verdes (78 rpm, Continental, 1945), Mouraria / Carmencita (78 rpm, Continental, 1945), Duas luzes / Troca de olhares (78 rpm, Continental, 1945), Ai Mouraria / Sardinheiras (78 rpm, Continental, 1945), Aquela rua / Fado das tamanquinhas (78 rpm, Continental, 1945), Aquela rua / Fado lisboeta (78 rpm, Continental, 1945), Fado da saudade / Dá-me um beijo (78 rpm, Continental, 1945), Oiça lá ó Senhor Vinho (LP, 1972), Amália no Olympia (LP, EMI, s.d.), Amália Rodrigues Fado The Soul of Portugal (LP, CBS, 1960), Amália no Canecão (LP, Columbia, 1976), Um amor de Amália (LP, EMI, 1973).

RODRIGUES, Celeste.

(Maria Celeste Rebordão Rodrigues. Fundão, Castelo Branco, PT, 14/3/1923). Fad. Filha de Albertino Rodrigues e Lucinda da Piedade Rebordão Rodrigues. É uma fadista tradicional, das mais conceituadas do meio musical português, considerada uma referência pelas mais jovens gerações de intérpretes. A mãe interpretava canções da Beira e pertencia a um rancho, era conhecida como o “Rouxinol da Beira”, tinha uma voz potente. O pai era músico e tocava trompete, saxofone e clarinete. Celeste aprendeu com a mãe as cantigas regionais e aos cinco anos veio com a família morar em Lisboa. Passou a escutar os ceguinhos a cantar fado pelas ruas, acompanhados de acordeão, guitarra portuguesa e concertina. Aos nove anos foi trabalhar em uma fábrica de bolos, em seguida, junto com a irmã Amália, passou a vender artigos regionais e frutas. Amália começou a cantar em 1939, Celeste lhe seguiu os passos seis anos mais tarde. A sua carreira é impulsionada pelo empresário José Miguel, proprietário de várias casas típicas em Lisboa. Sua estreia deu-se em 1945, no Casablanca (depois Teatro ABC) e, dois meses depois, ingressou numa companhia teatral e partiu para o Brasil, acompanhando Amália Rodrigues na representação da opereta Rosa Cantadeira. No regresso a Lisboa deu continuidade à sua carreira de fadista, apresentando-se em várias casas de fado. Em 1957, tornou-se proprietária do restaurante típico A Viela, um espaço privilegiado para a convivência de poetas, intelectuais, cantores e de longas tertúlias, mas ao qual renunciou quatro anos depois. São destaques do seu repertório, Fado Celeste, Verde limão, A lenda das algas, Saudade vai-te embora, Gaivota perdida, O meu xaile e Olha a mala, que se tornou o seu maior êxito de vendas, entre os quase 60 discos que gravou. Esteve em vários países como o Brasil, Espanha, E.U.A., Canadá, Itália, Holanda, Congo Belga, África Inglesa, Angola e Moçambique. Atualmente, Celeste Rodrigues vive entre Lisboa e Washington, E.U.A., onde residem as suas filhas e os seus netos. Canta regularmente em casas de fados e espetáculos em Lisboa. Discografia: Celeste Rodrigues (Estúdio, s.d.), Celeste (Parlophone, 1957), As ruas (Parlophone, s.d.), Motivos Populares (Alvorada, s.d.), Lisbon’s Great Celeste Rodrigues (LP, Capitol, s.d.), Fado Celeste (CD, 2007). Filmografia: Fado Celeste (documentário, 2010).


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RODRIGUES, Deolinda.

(Deolinda Rodrigues Veloso. Lisboa, PT, 30/12/1924 - Lisboa, PT, 10/10/2015). Fad. Atriz. Aos oito anos já cantava na Sociedade Recreativa da União Familiar de Telheiras, em Lisboa. Em 1942 participou do concurso de fados organizado pelo jornal Diário Popular, intitulado Concurso da Primavera; era a única amadora no meio de inúmeros fadistas profissionais, mesmo assim, alcançou o 2º lugar. Em seguida, passou a cantar em diversos retiros e casas de fado. Não demorou muito para aparecer no rádio, sendo contratada pela Emissora Nacional, em 1946. Suas primeiras gravações em disco rapidamente caíram no gosto popular. Estreou-se no teatro de revista, em 1947, em Cartaz da Mouraria, no Teatro Apolo, ao lado de Hermínia Silva. Seguiriam diversas participações em revistas e operetas. Em 1948, o cantor e ator Alberto Ribeiro a convidou para fazer cinema. Deolinda aceitou e apareceu como cantora e atriz em Cantiga da Rua, ao lado de Ribeiro. O longa-metragem foi um êxito de bilheteria em Portugal e no Brasil. Em 1952, lança o fado Madragoa (João Bastos / Frederico Valério), seu maior sucesso. Foi destaque do elenco de várias casas de fado como O Faia, Adega Machado, Tipoia, Timpanas e Taberna do Embuçado. Em 1960 é a protagonista do filme O Passarinho da Ribeira, rodado na cidade do Porto. Em 1961, vem ao Brasil e durante um ano permanece trabalhando em rádio, televisão e espetáculos. Pelos seus 60 anos de carreira, foi homenageada, em 2004, pela Associação das Coletividades do Concelho de Lisboa, e, em 2005, pela Câmara Municipal de Lisboa com a realização de um espetáculo no Fórum Lisboa. Em 2007, foi aprovada e atribuída pela Câmara Municipal de Lisboa a Medalha Municipal de Mérito, Grau Prata, destacando Deolinda Rodrigues como um nome “incontornável da canção nacional na primeira metade do século XX”. Viveu seus últimos anos na Casa do Artista, em Lisboa. Discografia: Deolinda Rodrigues (Tecla, s.d.), Eu sou Lisboa (Imavox, s.d.), Aquela rua foi minha (Imavox, s.d.), De mãos dadas (LP, Da Nova, s.d.). Filmografia: Cantiga da Rua (1948), Madragoa (1952), O Noivo das Caldas (1956), O Passarinho da Ribeiro (1960).

ROGIERO, Antônio.

Violo. Acompanhou diversos nomes do fado no Brasil como Adélia Pedrosa, Maria de Lourdes, Terezinha Alves, Mário Rocha e outros.


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S

SANTO, Maria do Espírito.

(Maria Amélia Consciência do Espírito Santo. Lisboa, PT, fevereiro de 1938). Com sete anos, passou a viver com os avós maternos, por separação dos seus pais. Ao concluir a instrução primária, foi aprender o ofício de costureira de alfaiate. Passou para uma fábrica de malhas. Então, resolveu estudar e quando completou o curso comercial empregou-se num escritório. Sempre gostara de cantar e um dia, no emprego, encontrou uma senhora que era mãe de Luís Simão, que fazia versos pata canções e fados. Este propôs-lhe entrar num concurso e Maria do Espírito Santo venceu-o. Depois, concorreu a um certame da Emissora Nacional e foi aprovada, com a recomendação de frequentar, durante seis meses, o Centro de Preparação de Artistas da Rádio. Um ano depois, estreava-se aos microfones da Emissora Nacional onde se manteve durante vários anos. Mais tarde, passou a cantar na casa típica de fados a Toca, cujo proprietário era o fadista Carlos Ramos. O teatro de revista não ficou insensível ao seu talento e contratou-a para revistas de sucesso tais como, Põe-te a Pau e Bate o Pé. No cinema, deu o seu contributo ao filme Fado Corrido ao lado de Amália Rodrigues, em 1964. Fez várias viagens ao estrangeiro e participou do festival hispanoportuguês Aranda del Duero, onde arrecadou uma boa prestação. Participou de muitos programas de TV. Um dia, subitamente, decidiu terminar com a sua carreira artística, privando seus fãs de uma linda voz castiça do fado. Dentre suas gravações estão: Sou fadista sim senhor, Olha o touro, Igrejas de Lisboa, Noutro tempo e A Alicita costureira. Discografia: Fado da minha revolta (FF, s.d.), Fados Portugal - Maria do Espírito Santo e Manuel Fernandes (Monitor Records, s.d.), Ai se eu pudesse (Parlophone, s.d.), Queijo saloio (Estúdio, s.d.), Fados do Fado - Maria do Espírito Santo (CD, s.d.).

SANTOS, Argentina.

(Maria Argentina Pinto dos Santos. Lisboa, PT, 6/2/1924). Fad. Empr. Cantava, basicamente, no restaurante de que sempre foi proprietária, Parreirinha de Alfama. Pontualmente, aceitava alguns convites para cantar em festas de amigos e pequenas comemorações. De família humilde, desde criança percorria as ruas da Mouraria, bairro onde nasceu, levando recados e compras para senhoras. Depois, trabalhou numa peixaria onde esteve até 1950, quando abriu a sua casa, em sociedade com seu marido. Argentina Santos não pensava em cantar, até que um dia, alguém a convidou, por brincadeira, para entrar numa desgarrada na Parreirinha da Alfama. O resultado foi o agrado geral. Passou a acumular mais uma função: além de comandar a cozinha, também, cantava para os clientes. Carlos do Carmo, amigo e admirador, a levou para uma apresentação na TV, em 1994, e a partir de então, Argentina passaria a ser conhecida do grande público. Em 1995, a convite de Pedro Caldeira Cabral esteve em São Luís, MA, e depois, em 1999, atuou na Casa de Portugal, em São Paulo, com Carlos do Carmo. Apresentou-se ainda na Grécia, Escócia, França, Holanda, Londres e Itália. Pela Parreirinha da Alfama passaram grandes poetas do fado e compositores que lhe ofereceram músicas. Fados como A minha pronúncia, Chafariz d’El Rei, As duas santas e Juras são suas marcas registradas. Em 28/11/1999 foi-lhe prestado um tributo no Museu do Fado, onde cantaram para Argentina: Rodrigo, Jorge Fernando, Maria da Nazaré, Teresa Tapadas e Carlos do Carmo. Na altura, foi agraciada com uma medalha de louvor pelo engenheiro e vereador Antônio Abreu, da Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Lisboa. Atualmente, vive na Casa do Artista, em Lisboa.


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Discografia: Uma noite na Parreirinha de Alfama (Alvorada, anos 1960), Uma noite na Parreirinha de Alfama 2 (Alvorada, 1966), Parreirinha de Alfama (Marfer, 1968), Riso e Ritmo (LP, 1968), Argentina Santos (Rapsódia, 1972), Meu fado (Discossete, 1995), Fados do fado (CD, Movieplay, 1998), Antologia (CD, CNM, 2004), Cabelo branco é saudade (DVD, Promo Music, 2005). Filmografia: Fados (2007).

SANTOS, Ary dos. (José Carlos Pereira Ary dos Santos. Lisboa, PT, 7/12/1937 - Lisboa, PT,

18/1/1984). Comp. Escr. Filho de Carlos Ary dos Santos e de Maria Bárbara de Castro Pereira. Muito cedo começou a escrever poesia. Aos 14 anos, em 1950, a família custeou a publicação do seu 1º livro, intitulado Asas. Frequentou o curso de Direito e de Letras de Lisboa, mas não concluiu. Trabalhou como publicitário. Em 1954, são selecionados alguns de seus poemas e incluídos na Antologia do Prêmio Almeida Garrett, composta por nomes consagrados da poesia lusa. A seguir, tem publicado diversos livros, A liturgia do sangue (1963), Tempo da lenda das amendoeiras (1964), Fotos-grafias (1971), As portas que abril abriu (1975), 20 Anos de Poesia (1983), entre outros títulos. Como declamador registrou alguns discos como, Ary por si próprio (1970), Poesia Política (1975) e Ary por Ary (1980). Bastante versátil, seu maior sucesso junto ao público foram os poemas de canções e fado. É autor de mais de 600 poesias para músicas colaborando assiduamente com vários compositores, entre os quais estão, Nuno Nazareth Fernandes, Fernando Tordo, Alain Oulman, José Mário Branco, Paulo de Carvalho e Antônio Victorino de Almeida. Suas letras mais conhecidas são Estrela da tarde, Lisboa, menina e moça e Os putos, interpretados por Carlos do Carmo, que em 1977, gravou um LP só com músicas de Ary intitulado Um homem na cidade.

SANTOS, Saudade. (Saudade Cordeiro dos Santos, S. Pedro de Alva, Penacova, PT, 20/10/1929

- Lisboa, PT, 23/1/2015). Fad. Diferente das outras crianças que se dedicavam apenas a brincar, aos 13 anos de idade já se dedicava a exteriorizar a sua veia poética escrevendo poesias de sua autoria. Já em Lisboa, ao mesmo tempo que trabalhava numa firma de advogados, vai igualmente cantando em diversas casas de fado. Venceu em 1957 o concurso Rainha do Fado, realizado em Lisboa. Começou imediatamente a ser convidada para participar em programas da RTP e da antiga Emissora Nacional. Em 1963 vai numa excursão a Lourenço Marques, com o objetivo de cantar na inauguração de uma nova boate da cidade. Em 1964 surge no cinema interpretando um lindo fado no filme A Canção da Saudade, de Henrique de Campos. A fadista foi criadora de vários êxitos, entre os quais Ó meu amor, marinheiro. Do seu repertório fazem parte, entre outros, Chico da Mouraria, além de poemas da sua autoria. Participou no teatro de revista. Em 1964 recebeu um prémio da crítica norte-americana, com o seu o seu álbum de Natal gravado conjuntamente com o cantor Manuel Fernandes. Após o seu casamento, Saudade dos Santos decidiu abandonar a vida artística dedicando-se apenas à vida do lar.

SEBASTIÃO MANUEL. (Sebastião Manuel Carvalho Silva. Loulé, Algarve, PT, 11/11/1944

- São Paulo, SP, 18/9/2013). Fad. Empr. Estreou no fado pelas mãos de Beatriz da Conceição. Chegou a cantar na Emissora Nacional de Lisboa e na TV. Em meados de 1972, veio ao Brasil contratado pelo casal de empresários Antônio Saraiva da Costa e Gaciety Saraiva, proprietários do restaurante Abril em Portugal, em São Paulo. Alcançou êxito dividindo o show com Maria José Valério e Mavilda Gonçalves. Em seguida, em 1973, fez uma série de participações no programa Caravela da Saudade, na TV Tupi. Regressou a Portugal e voltaria mais duas vezes ao Brasil para novas temporadas. Na 3ª. vez decidiu fixar residência em São Paulo. Foi um dos intérpretes da trilha sonora da novela O


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meu rico português (1975), na TV Tupi, Canal 4. Viajou por diversos países como França, Espanha, Itália, Alemanha, Bélgica e Inglaterra. Tem gravados vários LPs, compactos e CDs. Realizou vários shows anuais. Em 1982 produziu e escreveu a peça Portugal em Revista, levada a cena na Casa de Portugal de S. Paulo. No elenco, além do próprio Sebastião Manuel, estavam Terezinha Alves, Adélia Pedrosa e o ator João Luiz Ximenes. Na parte musical, participaram Antero Martins (violão), Aquiles Bernardo (guitarra portuguesa) e Silva Júnior (violão). Participou inúmeras vezes da Marejada, festa tradicional portuguesa da cidade de Itajaí, SC, que acontece anualmente desde 1986. Junto com a fadista Glória de Lourdes, o programa Quem Somos Nós, de 2009 a 2012, na TV Aberta de São Paulo. Discografia: Foi Deus (Califórnia, s.d.), Não tem grilo (LP, Califórnia, 1976), Verde Vinho (CD, s.d.).

SERAMOTA, Isalinda.

Fad. Portuguesa de nascimento, veio para o Brasil ainda criança e sempre morou no Rio de Janeiro, RJ. Foi uma fadista de fama no rádio carioca nos anos 1930. Em 1932, o semanário Pátria Lusitana e a revista Lusitânia, promoveram um concurso para eleger a “Rainha da Colônia Portuguesa no Brasil”, a ganhadora foi Leopoldina Belo, Isalinda conquistou o título de “Princesa de Trás-os-Montes”. Possuía o slogan o “Rouxinol do Tua”. De janeiro de 1931 a setembro de 1941, gravou 11 discos com 22 músicas, na etiqueta Odeon. Discografia: Minha mãe (78 rpm, 1931), Fado da Mensagem (78 rpm, 1931), Fado da minha saudade (78 rpm, 1931), Trovas sentidas (78 rpm, 1935), Ser fadista (78 rpm, 1936), Raças gloriosas (78 rpm, 1941).

SIDÔNIO, Maria.

(Maria Sidônio Baracho Damião. Lisboa, PT, 13/9/1920 - Lisboa, PT, 29/3/2007). Cant. Fad. Empr. Filha de Jaime Damião e Clotilde Prazeres Baracho. Em 1943, estreou na Emissora Nacional. Em seguida, casou-se com o escritor Aníbal Nazaré. Pelas mãos do marido, ingressou no teatro de revista do Parque Mayer. Interpretava fados e músicas brasileiras. Em 1957, transferiu-se para o Brasil, nesta época já vivia em companhia de Tony de Matos. Juntos, abriram o restaurante O Fado, no Rio de Janeiro. Enquanto Tony cantava todas as noites, Maria Sidônio cuidava da direção artística do espaço, e, claro, cantava às vezes. Paralelamente, fez o curso de ceramista. Retornou a Portugal em 1965 e participou de várias mostras de cerâmica. Suas criações mais conhecidas são as figuras do Santo Antônio e os presépios, que a artista moldou até ao fim da sua vida. Os últimos anos da sua vida foram passados na Casa do Artista, em Lisboa. Discografia: Rosinha (78 rpm, Parlophone, 1948), Lá vem Rosa Maria (78 rpm, Parlophone, 1948), Olhei (78 rpm, Parlophone, 1948). Filmografia: A noiva do Brasil (PT, 1945),

SILVA, Tiago Torres da. (Lisboa, PT, 29/12/ 1969). Escr. Empr. Poeta. Prod. Teatról. Desde

1990 desenvolve atividades entre o cinema e a escrita. Sua primeira peça escrita foi Alguém me sabe dizer se estou vivo?!, que estreou em fevereiro de 1997, no Teatro Nacional D. Maria II. Outra peça de sua autoria, É o Mar Alfonsina, é o Mar, foi encenada pelo próprio autor e por José Neves, um monólogo inspirado na vida de Alfonsina Storni, com estreia durante a Expo98 e que representou Portugal no Festival de Teatro, em Curitiba, no Brasil, em 1999. Colaborou com várias publicações.


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Também assinou o texto de alguns espetáculos de Teatro de Revista no Parque Mayer, nomeadamente Preço único, Mamã eu quero e Hip Ho’parque. Amigo da fadista Amália Rodrigues, Silva foi o autor de um espetáculo teatral em homenagem à cantora, que teve como protagonista a atriz brasileira Bibi Ferreira, intitulado Bibi vive Amália, que apresentou-se em Portugal e em várias cidades do Brasil, em 2001. A cantora brasileira Jussara Silveira gravou o CD Água Lusa (Dubas, 2011) só com composições de Tiago Torres Silva, incluindo fados.

SIQUEIRA, Teresa. (Maria Teresa da Câmara de Siqueira de Carvalho Rebelo de Andrade.

Lisboa, PT, 6/3/1953). Fad. Mãe dos cantores Carminho e Francisco Andrade. Em 1990 lançou o disco Fado antigo. Em 2008 realizou-se um espetáculo em Alfama, por ocasião das festas de Lisboa, em que seus filhos a tiveram como convidada especial. Discografia: Se não fosse a poesia / Fado da minha morte / O vento agitou o trigo / Contradição (Alvorada, s.d.), Estrada / Só a morte de passagem / Meu amor que me dói tanto / Rouba ao vento a liberdade (Alvorada, s.d.), Fado antigo (Edisom, 1990).

SILVA, Hermínia.

(Hermínia Silva Leite Guerreiro. Lisboa, PT, 23/10/1907 - Lisboa, PT, 13/6/1993). Atriz. Fad. Empr. Iniciou os seus passos artísticos aos nove anos de idade, como amadoradramática. A sua enorme popularidade foi alcançada quando ingressou no meio fadista. Cedo se tornou presença notada nos retiros de Lisboa, que não hesitaram em contratá-la, pela originalidade com que cantava o fado. A canção dos bairros de Lisboa estava nas suas veias, não fora ela nascida, ali mesmo junto ao Castelo de São Jorge. Rapidamente, a sua presença foi notada nos retiros. Passados poucos anos, em 1929, Hermínia Silva estreava-se numa opereta do Parque Mayer, Ouro sobre Azul era assim que se chamava a peça estreada na esplanada egípcia. Seguem-se as peças De Trás de Orelha e OffSide. A sua estreia como profissional, registra-se em 1932, no palco do Teatro Maria Vitória, na opereta Fonte Santa onde cantou o célebre fado Sou Miúda. Era a 1ª. vez que o fado vendia bilhetes na revista. Alguns jornais da época, referiam-se a ela, como a grande vedete nacional, chegando a afirmar-se, que a fadista tinha “uma multidão de admiradores fanáticos”. A sua melismática criativa, a inclusão no fado, de letras menos tristes, por vezes com um forte cunho de crítica social, e o seu empenho em trazer para o fado e para a guitarra portuguesa, fados não tradicionais, compostos por maestros como Jaime Mendes, compositores como Raul Ferrão, criando assim o chamado “fado musicado”, aquele fado cuja música corresponde unicamente a uma letra, se bem que composto segundo a base do fado, e em especial, tendo em atenção às potencialidades da guitarra portuguesa. Hermínia Silva tornou-se assim, sem o haver arquitetado, num dos vértices do fado, tal qual hoje ele existe, enquanto estilo musical: Hermínia viria a trazer o fado para as grandes salas do teatro de revista, e viria a “inaugurar” a futura canção nacional, com acompanhamentos de grandes orquestras, dirigidas por maestros, que também eram compositores. A sua fama atingiu tal ponto, que o cinema quis aproveitar o seu sucesso como figura de grande plano. Efetivamente, nove anos depois de se ter estreado na revista, Hermínia integra o elenco do filme de Chianca de Garcia, Aldeia da Roupa Branca (1938), num papel que lhe permite cantar no filme. Nascera assim, a que viria a ser considerada, a segunda artista mais popular do século XX português, após de Amália Rodrigues. Depois de várias excursões no estrangeiro, com especial incidência no Brasil e em Espanha, Hermínia aposta numa carreira mais concentrada em Portugal. O seu conhecido e parodiado receio em andar de avião, inviabilizou lhe muitos contratos que surgiam em catadupa. Mas, Hermínia estava no céu, na sua Lisboa das sete colinas. Em 43, é chamada para mais um filme, o Costa do Castelo e, em 46, roda o Homem do Ribatejo. Hermínia vai sempre passando regularmente pelos palcos do Parque Mayer, fazendo sucesso com os seus fados e as suas rábulas de revista. Realmente, Hermínia consegue alcançar tal êxito no teatro, que o Secretariado


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Nacional de Informação, SNI, atribui-lhe o “Prêmio Nacional do Teatro”, um galardão muito cobiçado na época. Até 1969, em O Diabo era Outro, a popularidade da fadista encheu as telas dos cinemas de todo o país. Vieram mais revistas, mais recitais, muitos discos de sucesso. Mas, para quem quisesse conhecer a grande Hermínia bem mais de perto, ainda tinha a oportunidade de ouro, de vê-la ao vivo e a cores, sem microfone, na sua Casa, o Solar da Hermínia, restaurante que manteve quase até ao fim da sua vida artística. O seu lado de comediante vinha habitualmente ao de cima nas atuações, onde ficaram célebres as suas frases castiças: “Anda Pacheco!” (palavra de ordem dada ao seu acompanhante guitarrista de muitos anos) ou “Isso, bem picadinho que é para a voz sobressair!”, que deixavam sempre o público a rir às gargalhadas. No final da sua carreira, contava com a participação em mais de 60 peças de teatro de revista, dez operetas, cinco filmes, uma peça declamada e uma lista extensa de fados e canções. Recebeu ainda as mais diversas condecorações, nomeadamente a Ordem do Infante D. Henrique, a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e a Comenda de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa Hermínia Silva cantou quase até morrer. Discografia: Fado Hermínia / Soldado do fado (Columbia, 1938), O Gonçalo Velho / Sou miúda (Columbia, s/d), A Tendinha / Fado das toiradas (Columbia, s/d), Fado do arco / O dia em que nasci (Columbia, s/d), Fado da sina / A rua mais lisboeta (Columbia, s/d), A rosa enjeitada / Plagio (Casa Chico - Fabricacion Española, s/d), A rosa enjeitada / Plagio (DECCA, s/d), Eu não estou p’ra brincadeiras / Ter esperança (Columbia, s/d), Fado da contradição / Fado do cavaleiro tauromáquico / Fado da Senhora da Saúde / Fado da golegã (Alvorada, s/d), Fado da cigana / História do fado / Maldito fado / Fado do pirim pirim (Alvorada, s/d), Fado do pistarim / Fado das iscas / És livre / Severa moderna (Alvorada, s/d), A Tendinha / Fado das toiradas / Sou miúda / Fado da sina (Columbia, s/d), Amor vai-te embora / Fado do dota / Fado da melancia / Fado do João Ratão (Columbia, s/d), Eu não estou p’ra brincadeiras / Ter esperança / Fado das mãos sujas / Fado da ponta da unha (Columbia, s/d), Eu pus-te a mala na escada (DECCA, s/d), Cicerone de Lisboa (DECCA, s/d), Hermínia Silva (DECCA, s/d), Fado recordado (DECCA, s/d), Tascas das iscas (DECCA, s/d), Fado mal falado (DECCA, s/d), Marinheiro americano (DECCA, s/d), Vou dar de beber a alegria (DECCA, s/d), A Desfolhada da Hermínia (DECCA, s/d), Às gingas com elas (DECCA, s/d), Uma lição de folclore (DECCA, s/d), Eu sou assim (DECCA, s/d), A Hermínia canta Yé-Yé (DECCA, s/d), O padrinho da Hermínia (DECCA, s/d), Rosa camareira (DECCA, s/d), Festival da Invernia (DECCA, s/d), Lisboa antiga (DECCA, s/d), Hermínia Silva Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa (LP gravado ao vivo no Teatro Municipal São Luís, EMI, 1980), O melhor de Hermínia Silva (LP, EMI, s/d), Hermínia Silva, a história do fado (CD, Movieplay, 1993), Hermínia Silva, Lisboa antiga (CD, Caravela, s/d),. Biografia do dado - Hermínia Silva (CD, EMI, s/d). Filmografia: Aldeia da Roupa Branca (PT, 1938), O Costa do Castelo (PT, 1943), Um Homem do Ribatejo (PT, 1946), Ribatejo (PT, 1949), O Diabo era Outro (PT, 1969).

SILVA JÚNIOR. Violon. Brasileiro de nascimento, entre as décadas de 1940 a 1990, acompanhou a viola a maioria dos intérpretes portugueses em São Paulo, fazia dupla com Alípio Corrêa.

SILVA, Tristão da.

(Manuel Augusto Martins Tristão da Silva. Lisboa, PT, 17/7/1927 Portugal, 10/1/1978). Filho de Francisco Tristão da Silva e Teodora Augusta Martins. Desde os seus tempos escolares sentia devoção por duas coisas: o fado e o futebol. Quanto tinha oito anos, levaram-no ao Café Luso, a fim de ser ouvido pelo empresário. Mas como não tinha idade para cantar à noite, acabou sendo contratado pelo empresário José Miguel para atuar aos domingos de tarde no Café Mondego. Passou a ser conhecido pelo “Miúdo do Alto do Pina”. Depois de concluir a


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instrução primária, empregou-se como aprendiz de uma drogaria e aos 15 anos passou a marçano de serralheiro, ao mesmo tempo, a sua carreira artística ia progredindo. Aparecia regularmente cantando em muitas das sociedades de recreio e, posteriormente, nas casas de fado de Lisboa, tais como, Sala Júlia Mendes, no Parque Mayer, e no Café Monumental. Quando chegou a idade militar, modificou o seu gênero, passando do fado castiço ao fado-canção, para ter assim maior acesso à rádio, que compreendeu ser um veículo mais rápido e seguro para o êxito. Em 1954 foi admitido como artista da Emissora Nacional e passou a apresentar-se em vários programas, obtendo grande sucesso. Em 1955 excursionou pela Ilha da Madeira e, no ano seguinte, nos Açores. Fez ainda gravações na Espanha e uma deslocação a África, para além de ser dos primeiros artistas a apresentar-se nos programas da RTP, então transmitidos a partir da Feira Popular. No Brasil, onde viveu durante quatro anos, de 1960 a 64, atuou na Rádio e na TV Tupi do Rio de Janeiro e em várias casas típicas portuguesas da cidade. Participou de algumas peças teatrais. Em 1962, após realizar temporadas no restaurante típico Adega Lisboa Antiga, abriu sua própria casa de fados, Bairro Alto, que durou pouco tempo. Em seguida, fez excursões por Recife, Bahia, Porto Alegre, João Pessoa, Pelotas, Fortaleza e Brasília. Em Porto Alegre foi contratado para uma nova viagem, desta vez, para atuar na América do Sul, nomeadamente na Bolívia, Chile, Paraguai, Argentina, Uruguai e Peru. Em 1964, já em Portugal, atuou como atração no teatro na revista Férias em Lisboa. Passou pelos elencos das mais populares casas de fado de Lisboa. Gravou temas que se revelaram enormes sucessos populares, como Nem às paredes confesso, Calçada da Glória, Aquela Janela virada para o mar, Amor de mãe, Maria Morena, Chinela, Ai se os meus olhos falassem e Cara bonita. Veio a falecer num grava acidente de carro quando regressava de uma atuação na casa de fados, O Forcado. Discografia: Aquela janela virada pro mar / Kanimambo (78 rpm, Odeon, 1960), Ai, se os meus olhos falassem / Maria morena (78 rpm, Odeon, 1960), A notícia / Desejo alguém (78 rpm, Odeon, 1960), Uma vez mais / O olhar do Nazareno (78 rpm, Odeon, 1961), Canção do esquecimento / Palhaço (78 rpm, Odeon, 1961), Somos amigos / Talvez (78 rpm, Copacabana, 1963), Ai, se meus olhos falassem (LP, Odeon, 1960), O incomparável Tristão (LP, Copacabana, 1960), Nem as paredes confesso (LP, Orfeu, 1967), Guitarra toca baixinho (LP, Tecla, 1973), Tristão da Silva (LP, Orfeu, 1973).


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T

THIAGO FELIPE.

(São Paulo, SP, 28/10/1984). Fad. Começou a cantar aos 12 anos no restaurante Alfama dos Marinheiros, levado por seu pai, o fadista Antônio Carlos. Seguiram-se apresentações em outros restaurantes e shows pelo Brasil. Fez diversos shows com a fadista Ciça Marinho e Sérgio Borges (violão). Atualmente, apresenta-se no restaurante Rancho 53, em São Paulo. Discografia: Coimbra (CD, Califórnia, s.d.), É pá do fado (CD, 2010).

TORRES, Maria do Carmo. Nasceu em Fuzeta, no Algarve, PT. Ainda pequena, mudou-se

com os pais para Setúbal. Passou a cantar o fado como amadora quando trabalhava numa fábrica. Aos 19 anos cantou numa revista de Manuel Envia, no Salão Recreio do Povo, em Setúbal. Em seguida, cantou no Cassino do Estoril. Nos anos 20, transferiu-se para Lisboa e foi trabalhar como garçonete no café e restaurante Sul América até que surgiu a oportunidade de substituir uma cantadeira. Rapidamente ganhou destaque e cantou em diversos retiros, teatros e esperas de touros. Integrou a “Embaixada do Fado”, um grupo formado por atores, cantores e músicos, liderado por Alberto Reis, com Branca Saldanha, Filipe Pinto, Joaquim Pimentel, Lina Duval, Eugênio Salvador, Adelaide Santos, Maria do Carmo, Armandinho (guitarra) e Santos Moreira (viola). Viajaram até o Rio de Janeiro, desembarcando na Praça Mauá, em 12/9/1934. Realizaram temporada no Teatro República. Maria do Carmo Torres era anunciada como “Extraordinária Cotovia do Algarve, temperamento fadista de vivacidade natural e voz quente” (O Radical, RJ, 31/8/1934). Gravou para a etiqueta Odeon, em outubro de 1934, dois discos 78 rotações, com três fados, Fado dos Sonhos (Frederico de Brito / Alberto dos Reis), Viva o pagode (Raul Ferrão / Alberto dos Reis) e Amor humilde (Raul Ferrão / Alberto dos Reis). Em seguida, a “Embaixada do Fado” apresentou-se no Cassino Antártica, em São Paulo. Depois prosseguiram viagem por outras cidades paulistas e estiveram na Argentina e no Uruguai. Em 1946 afastou-se das lides artísticas, vindo a falecer nos anos 50 em Leça do Bailio, na região do Porto.

TRINDADE, Moniz. (Egas Moniz Félix Trindade. Barreiro, PT). Na juventude foi morar em

Setúbal, onde frequentou a escola primária. Fad. Comp. Instr. Mais tarde empregou-se na Companhia União Fabril, CUF. Começou a cantar entre amigos, que lhe pediam constantemente que o fizesse. Com 15 anos de idade deliberou constituir um conjunto para atuar em festas e em bailes. Mais tarde, já no Barreiro, fundou um novo conjunto musical na coletividade, Os Penicheiros. Começou como vocalista, depois aprendeu a tocar viola e mais tarde banjo. Inserido nesse conjunto atuou diversas vezes na Rádio Graça, em Lisboa. Tempos depois, passou a atuar na Orquestra Royal, passando, depois, por sucessivas orquestras de jazz que atuavam nas boates lisboetas como na Galgo, Andaluzia e Arcádia. É precisamente, como vocalista da Orquestra Arcádia, que se apresentou pela 1ª vez, como profissional, ao público da Feira Popular. Quem o escutou nessa noite, foi o maestro Tavares Belo, que poucos dias depois, foi buscá-lo no night club Arcádia e integrou-o na nova formação, que atua no Chave de Ouro, cujos programas eram transmitidos semanalmente pela Emissora


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Nacional. Rapidamente adquiriu grande projeção e logo foi convidado para gravar discos na Espanha. Posteriormente, foi aceito na Emissora Nacional. O cantor inclinou-se progressivamente para o fadocanção. É convidado a experimentar o teatro, participando na peça A Rosinha dos limões. Deu, então, início a uma extensa carreira internacional, na África, no Brasil (onde chegou a dirigir, no Rio de Janeiro, a Adega da Mouraria a partir de 1963) e em toda a América Latina e até nos E.U.A. Chegou a ter um repertório de mais de 600 canções em várias línguas. O seu talento de compositor foi então cada vez mais reconhecido no panorama da música portuguesa. Discografia: Lisboa do velho fado / Ai por Deus, mulher (78 rpm, Chantecler, 1962), Saudade (LP, s.d.), Barrete verde (Alvorada, s.d.), O pinola fadista (Alvorada, s.d.), Toiro! Oh toiro (Master, s.d.), Cabaret em Portugal (Polydor, s.d.).


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V

VALEJO, Maria. (Maria Joana Rosado Valejo. Reguengos de Monsaraz, Évora, PT, 30/3/1944).

Filha de Joaquim Garcia Valejo e Dulce Rosado Valejo. Aos 16 anos de idade, inscreveu-se no Centro de Preparação de artistas da Emissora Nacional, dirigido por Mota Pereira, onde ganhou certa experiência. Em 1961 estreou-se nos programas da Emissora Nacional e começou a atuar em diversos pontos da província. A sua ascensão artística fez-se gradualmente: discos e televisão, surgindo no teatro em 1965, nos palcos do ABC, na revista Zona Azul. A sua popularidade aumentou consideravelmente a partir do momento que incluiu no seu reportório composições da dupla Eduardo Damas e Manuel Paião. Especializou-se essencialmente no fado-canção e no fado-castiço. Passou a apresentar-se nas principais casas típicas de Lisboa, designadamente no Timpanas, Painel do Fado, Taverna D’El Rei - de que foi proprietária -, e mais tarde no Faia. Em 1969 veio ao Brasil, participando no Festival da Canção do Rio de Janeiro, interpretando Domingo em Lisboa. No Brasil, obteve grande êxito, atuando no restaurante típico Lisboa à Noite, do empresário português Joaquim Saraiva. Atuou igualmente na Grécia e na Espanha. A fadista tornou-se notada pelo guarda-roupa que enverga: saias curtas e o abandono do característico xaile, ficando conhecida como a “Fadista da mini-saia”. Em 2007, Maria Valejo é distinguida com o Prêmio Carreira na categoria de “Intérprete”, atribuído pela Casa da Imprensa. Discografia: Vamos ao Ribatejo (LP, Musicolor, s.d.), O segredo que eu te disse (LP, Alvorada, s.d.), Maria Valejo (LP, Alvorada, 1974).

VARELA, Ana Sofia.

(Ana Sofia Varela Fernandes. Lisboa, PT, 28/3/1977). Fad. Apesar ter nascido em Lisboa, Ana Sofia cresceu em Serpa, no Alentejo, para onde foi com apenas três anos. Aos 14 anos, começou a apresentar-se nas noites de fado organizadas na Casa do Povo de Serpa, interpretando fados de Amália Rodrigues e Nuno da Câmara Pereira. Em 1997, Carlos Zel a convida para ir cantar em casas de fado de Lisboa. Começou também uma colaboração com Mário Pacheco, com quem realizou espetáculos fora de Portugal. Em 2002, representou Portugal na Feira Internacional de Música Womad (World Of Music, Arts & Dance). Em 2005, foi distinguida com o Prêmio Amália Rodrigues para a “Melhor voz feminina”. No filme Fados de Carlos Saura, a fadista juntou-se a Vicente da Câmara, Ricardo Ribeiro, Maria da Nazaré e Carminho, para interpretar um medley de vários fados tradicionais, num quadro representativo da excelência das interpretações em ambiente de casa de fados. Já realizou shows em diversos países, como Espanha, Brasil, Grécia, Holanda, Reino Unido e Noruega. Discografia: Ana Sofia Varela (CD, 2002), Fados de Amor e Pecado (CD, Iplay, 2009). Filmografia: Fados (PT, 2007).

VARELA, Mimi.

(Júlia Ventura Varela Leal. Lagos, Faro, PT, 5/10/1931). Fad. Rad. Filha de Antônio Ventura e Júlia de Jesus Ventura. Quando jovem apresentava-se na Emissora Nacional de


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Lisboa, nomeadamente no programa Serão para Trabalhadores. Casou-se com o radialista Francisco José Varela Leal. Seguiram para o Porto e lá, sob o pseudônimo de Vanda Maria, cantava como solista de uma orquestra. A seguir, o casal Varela passou a apresentar um programa de rádio. Foi Varela Leal quem descobriu a fadista Maria Alice Ferreira, aos dez anos de idade, em 1953, quando ela cantava em uma festa escolar, no Porto. Levou a menina para se apresentar em um programa de auditório, dirigido pelo comunicador e empresário Domingos Parker. Viajaram para o Brasil em 1956 com duas filhas. Estabeleceram-se em São Paulo, SP. Mimi Varela chegou a cantar no programa Adega da Cidália, na TV Record, Canal 7, comandado por Cidália Meireles, e no Melodias Portuguesas, programa radiofônico de Irene Coelho. Em 1967, o casal passou a apresentar o programa Portugal Trilha Nova. Passaram pelas rádios Record, Tupi e ABC, onde estão até hoje. Mimi apresentou-se por todo Brasil e em diversos restaurante típicos de São Paulo. Em 2008, Mimi recebeu o título de Louvor Público Municipal, pela da Autarquia de Lagos, em Portugal. Discografia: Lisboa do Fado (Alvorada, PT, s.d.), Fados com Mimi Varela (LP, 1986), Coração na Voz (LP, 1992).

VILAR, Maria José. (Maria José dos Anjos Piedade. Foz do Douro, Porto, PT, 29/12/1928 - Rio

de Janeiro, RJ, 1994). Fad. Filha de Francisco da Piedade e Maria dos Anjos. Desde muito jovem quis cantar profissionalmente, mas a família opunha-se. Em 1949, inscreveu-se no concurso da Rainha das Cantadeiras de Portugal, no qual obteve boa classificação, chegando as finais. Justamente, nesta ocasião, veio para o Brasil e deixou o certame para trás. Viajou no navio Serpa Pinto e desembarcou no porto do Rio de janeiro em 3/12/1949. No ano seguinte, inscreveu-se como caloura no programa de Silveira Lima, da Rádio Tupi. A partir de então atuou em todas as emissoras de rádio e TVs cariocas e de São Paulo. Trabalhou também em quase todos os restaurantes típicos das duas cidades. Por volta de 1957 ou 58, casou-se com o violonista Leonel Vilar. Adotou o sobrenome do marido, passando a ser conhecida como Maria José Vilar. Conheceu o esposo através do fado, Leonel tocava violão e acompanhava todos os fadistas renomados. Seu verdadeiro nome era Leonel de Ávila Vilar, nascido aos 16/10/1929, no Rio de Janeiro e veio a falecer na mesma cidade, em 1979. Em 1959, Maria José teve uma das suas grandes emoções como artista: cantou para o Presidente da República Juscelino Kubitschek. Em 1967, junto com Maria Tereza Quintas, Adélia Pedrosa e Joaquim Pimentel foram convidados pelo Centro de Turismo de Portugal do Brasil, para uma viagem a Portugal. Em 1968, Maria José e Leonel Vilar separam-se. Um ano depois, foi contratada para uma temporada no restaurante O Magriço, à Rua Augusta, nº. 1388, na capital bandeirante. Considerada por seus colegas como uma fadista castiça de grande mérito. Era queridíssima em São Paulo. Sua temporada no Magriço estendeu-se por meses. Durante os anos de 1970 e 71, vamos encontrá-la trabalhando nos restaurantes Adega Lisboa Antiga e Abril em Portugal. Gravou vários discos. Discografia: Maria José Vilar (1967), Ouvindo Maria José Vilar (LP, Philips, s.d.), De degrau em degrau (LP, Caravelle, s.d.).

VILAR, Pedro. (José Amoroso Pedro. Alcains, Castelo Branco, 22/11/1949). Fad. Ator. Comp.

Empr. Prod. Iniciou a sua carreira como cantor em 1973 no Alerta Está, das Forças Armadas onde conheceu o cantor e locutor Antônio Sala. Nesse mesmo ano, gravou o seu 1º disco de fado e estreouse no elenco do Restaurante O Poeta. Em 1974 partiu para o Brasil onde gravou vários discos para a etiqueta RCA. Atinge o “Disco de Ouro”, em 1978, esteve dois meses consecutivos nas paradas de sucessos com a canção Canto a Portugal (versão de Un canto a Galicia, de Júlio Iglésias). Participou como ator, nas novelas Cara a Cara, da TV Bandeirantes, e O Julgamento e Meu Rico Português,


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da TV Tupi. Com Suzy Paula gravou a música Deus como te amo. Em 1980 regressou a Portugal e participou como fadista da revista Ó Zé arreganha a taxa, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e depois, no Teatro Variedades, em Lisboa. A seguir, iniciou uma turnê que o levou a permanecer vários meses nos E.U.A. e Canadá. A partir de 1988 a sua carreira dividiu-se entre espetáculos, gravações de discos e produções. Deixou de trabalhar em casas de fado em 1996. Durante seis anos foi produtor. Em setembro de 2014 comemorou 40 anos de carreira com um espetáculo no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Costuma apresentar-se anualmente no Brasil, principalmente na capital paulista. Discografia: Pedaços de mim (1988), Aprende este fado, Amor (CD, Strauss, s.d.), Fado de corpo e alma (CD, 2000), Minha vida Meus fados (CD, 2010).


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ZAMBUJO, Antônio.

(Beringel, Beja, PT, 19/9/1975). Fad. Comp. Mús. Cresceu ouvindo o Cante alentejano e cedo deslumbrou-se com o fado. Aos 16 anos, ganhou um concurso destino a descobrir jovens fadistas. Em seguida, mudou-se para Lisboa a fim de tentar a carreira artística como profissional. Passou a se apresentar no Clube do Fado. No musical Amália, de Filipe La Féria, interpretou Francisco Cruz, o 1º marido de Amália. Em 2004, debruçou-se no cancioneiro do sul e lançou o CD Por meu Cante, dedicado a música regional alentejana. No Brasil fez contato com Ivan Lins, Roberta Sá, Zé Renato e outros artistas da música, que passaram a colaborar com seus trabalhos discográficos. Participou do I Festival do Fado no Brasil em agosto de 2013, ao lado de Mariza e Ana Moura. Em junho de 2015 tornou-se Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. É um dos artistas portugueses que mais realiza turnês pelo mundo, já esteve nos E.U.A., Canadá, Bulgária, Espanha, Brasil, Noruega, Azerbaijão, Israel, Japão, Aústria, Inglaterra, França, entre outros países. O músico não se dedica somente ao fado, encaixá-lo em um único estilo é uma tarefa fácil. Em suas canções, traz referências da música tradicional alentejana e também da MPB. Discografia: O mesmo fado (CD, 2002), Por meu Cante (2004), Outro sentido (2007), Guia (2010), Quinto (2012), Antônio Zambujo ao vivo no Coliseu (2013), Rua Da Emenda (2014).


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O FADO NOS DISCOS 78 ROTAÇÕES BRASILEIROS (Artigo de Thais Matarazzo Cantero)

Os discos de 78 rotações passaram a ser gravados no Brasil em 1902 e a sua produção estendeu-se até 1964. Constam cerca de 700 gravações do gênero Fado, distribuídas em 33 etiquetas/gravadoras, sendo elas Artefone, Brunswick, Brazil, Califórnia, Columbia, Chantecler, Continental, Copacabana, Elite Special, Favorite, Gaúcho, His Masters Voice, Imperador, Jurity, Melodia, Mocambo/Rosemblit, Odeon, Ouvidor, Parlophon, Parlophone, Philips, Phoenix, RCAVictor, Record, RGE, Repertório, Sinter, Star, Victor, Victor Record’s, Todamérica e Zon-o-phone. As modalidades do fado encontradas nas etiquetas dos discos são tango-fado, fado-corrido, fado-canção, fado-fox, fado-brasileiro, fado-marcha e fado-slow. As primeiras gravações, na década de 1900, são geralmente números do teatro de revista, registradas por atores/cantores brasileiros e portugueses. Entre os anos de 1900 a 1910, os artistas que gravaram fados foram os seguintes: Antônio Santana, Bahiano, Banda Escudeiro, Carlos Dias Serra, Carlos Lima e Brandão, Celestino Silva, E. E. de Carvalho, Eduardo das Neves, Emília Oliveira, Grupo Vienense, José Bastos, ator Lino, Luiz Amabile, Maria Roldan, Orquestra Augusto Lima, Orquestra Luiz de Souza, Roberto Roldan, Vicente Celestino e Virgínia Aço. Na década de 1920, encontramos os seguintes nomes: Adelina Fernandes, Albino Xavier, Almeida Cruz, Almirante e Bando de Tangarás, Ana Albuquerque de Melo, Anita Gonçalves, Antônio Santana, Arthur Castro, Augusto Lopes, Banda Escudeiro, Banda Odeon, Baptista Júnior, Cadete, Carlos Campos (guitarra), Carlos Serra, Cynira Polônio, Delfina Victor, Desafiadores do Norte, Dimas Alonso, Eduardo Alves, Eduardo das Neves, Estevam Amarante, Eugênio Noronha, Fernando Albuquerque, Francisco Pezzi, Os Geraldos, Geraldo Magalhães, Grupo de Jesus, Henrique Costa, Horácio Rodrigues, Joaquim Ramos, João Matos, Jayme Redondo, Luiz Macieira, Dr. Lucas Junot, Manoel J. Carvalho, Maria Emília Ferreira, Mário Pinheiro, Medina de Souza, Miguel de Almeida, Olymphio Nogueira, Oscar Pereira Gomes, Orestes Bastos, Pepa Delgado, Pinto Filho, Paraguassú, Raul Gonçalves, Dr. Ricardo Borges de Souza, Risoleta, Salvador Costa, Santos Carvalho, Silvio Salema, Silvio Vieira, Stela Gil, Zaíra Oliveira, Zeca Ivo e Zulmira Miranda. Os cantores da década de 1930 são nomes ligados ao rádio, que estava iniciando sua fase de consolidação como veículo de comunicação de massa no Brasil. Registraram discos neste período: A. F. da Conceição (guitarra), Amélia Borges Rodrigues, Américo Ferreira, Antônio Coutinho, Antônio Lopes, Benício Barbosa, Berta Cardoso, Céu da Câmara, Dimas Alfonso, Dina Tereza, Esmeralda Ferreira, Ercília Costa, Fábia Gil, H. X. Pinheiro (guitarra), Isalinda Seramota, Ivone Guedes, João Fernandes (guitarra), José Galante, José Lemos, Joaquim Pimentel, Joaquim Seabra, Manoel Monteiro, Maria Albertina, Maria do Carmo, Mirandella e Nicolau Gomes Cunha. Nos anos 1940, encontramos nomes ainda hoje lembrados pelo público: Abílio Monteiro, Adeli-


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no Moreira, Amália Rodrigues, Arminda Falcão, Cidália Meireles, Fernando de Freitas, Francisco Albuquerque, Irene Coelho, Irmãs Meireles, Luiz Piçarra, Maria da Graça, Maria Guerreiro, Mário Azevedo (piano), Olivinha Carvalho, Orquestra Portuguesa de Guitarras, Quincas Gonçalves e Tomé de Souza. Artistas que gravaram na década de 1950/60, são marcados pelo período de transição entre a “Era do Rádio” e o início da TV no Brasil (1950). Muitas músicas editadas em discos 78 rotações, neste período, também foram lançados em LP (long-playing) a partir de 1951. Os intérpretes que registraram discos no Brasil nesta faixa temporal foram: Alberto Ribeiro, Albertinho Fortuna, Alfredo Duarte Jr. “Marceneiro”, Amílcar Nogueira, Aníbal Silva, Antônio Samil, Arnaldo Nunes, Arnaldo Rey, Carlos Antunes, Carlos Galhardo, Cauby Peixoto, Creuza Cunha, Dalva de Oliveira, Dina Perran, Estela Alves, Ester de Abreu, Fernando Batista, Fernando Farinha, Fernando José, Florência de Fátima, Francisco José, Gilda Valença, Hebe Camargo, Helena Gonçalo, Ilda de Almeida, Irene Macedo, Isaura Garcia, Ivon Curi, Joaquim Pereira, Joaquim Silveirinha, José de Azevedo, Léo Romano, Luiz Escobar, Lolita Rodrigues, Manuel Taveira, Maria Girão (ou ainda Maria Girão de Freitas), Maria de Lourdes, Maria da Luz, Maria Silva, Mimi Gaspar, Moniz Trindade, Nora Ney, Pernambuco do Pandeiro e seu Regional, Poly e seu Conjunto, Shegundo Galarza (piano), Raul Mota, Tereza Maria, Tereza Torga, Terezinha Alves, Tony de Matos, Trio Cigano, Trio Madrigal, Trio Melodia, Trio Irakitan, Zaíra Cruz e Zeca Afonso.


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MEMÓRIAS DA MÚSICA PORTUGUESA NO RÁDIO BRASILEIRO 1930-1960 (Artigo de Thais Matarazzo Cantero)

Foi por meio do rádio que a música popular (ou ligeira) portuguesa ganhou maior projeção a partir de 1930. Foram diversos os intérpretes, músicos e compositores que divulgaram as canções lusas por toda terra brasileira, entre estes artistas encontramos muitos brasileiros que dedicaram suas trajetórias artísticas a cultura musical lusa, tanto o fado (música popular urbana) como o folclore. Todo esse movimento musical já estava sedimentado a partir do começo do século passado e que resultou em um riquíssimo repertório potencializado através do rádio, do disco, do teatro, do cinema, ou seja, meios de propagação eficientes para a música por todo território nacional. Logo, as canções portuguesas caem em gosto popular: Uma porta e uma janela, Fado da Madragoa, Cantiga da rua, Meu barquinho, Arraial de Santo Antônio, Fado da Severa e alguns temas folclóricos estilizados como Pico Serenico, Tiroliro-liro, Oh! Rosa arredonda a saia e Vira do Minho. Toda essa aceitação musical está ligada a unidade linguística dos dois países irmãos, e também, ao fato da intensa presença da imigração portuguesa para o Brasil entre 1920 a 60, formaram-se grandes núcleos de comunidades luso-brasileiras nas principais cidades do país, especialmente, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Um pouco de história Antes de tratarmos na “Era do Rádio” vamos recuar um pouco na linha do tempo para relembrarmos que a popularização da música lusa primeiro aconteceu por meio do Teatro de Revista. Aliás, desde o final o final do século XIX grandes Companhias de Revistas Portuguesas se apresentavam nas principais capitais brasileiras, com destaque para o Rio de Janeiro, então Capital Federal. A partir de 1904 atores-cantores brasileiros, influenciados pelas revistas, passaram a gravar fados e outras canções portuguesas em discos mecânicos da Casa Edson, como, por exemplo, Baiano, Eduardo das Neves, Mário Pinheiro, Emília de Oliveira e Vicente Celestino. O Teatro de Revista ou Teatro Musicado (como é também conhecido) era bastante apreciado pelo público nos grandes centros urbanos, com ele a música popular se ampliou universalmente, o repertório folclórico misturou-se à produção urbana, estilizando danças e instrumen-


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tações. As fadistas mais apreciadas deste período são: Adelina Fernandes, Maria Alice, Ercília Costa, Maria Albertina e Hermínia Silva. Com a chegada do primeiro veículo de comunicação de massa no Brasil (1923), ou seja, o rádio, este vai tomar para si a tarefa de vulgarização da música popular. O rádio foi o responsável por um tempo de encantamento, assim como o cinema. Nas primeiras décadas da sua existência trazia muitas músicas, informações e prestações de serviço para os ouvintes. Ele sempre aguçou a imaginação do público. Quando à noite chegava às famílias costumavam se reunir na sala ao redor do aparelho receptor para escutarem uma programação recheada de qualidade. Toda a programação era feita ao vivo, exigindo muita atenção dos artistas e outros profissionais. Em um primeiro momento as irradiações eram feitas dentro de pequenos e fechados estúdios. Já na década de 1930 vão surgir os “aquários”: o público podia participar dos programas, mas ficava em um espaço separado do estúdio. Essa divisão era composta por uma parede com um vidro isolador, por isso era chamado de aquário. A seguir surgem os auditórios.

A música portuguesa no Rádio na década de 1930 Quando em 1932 o presidente Getúlio Vargas autorizou a veiculação de comerciais pelo rádio a situação do próprio veículo passa a evoluir. A primeira década de seu surgimento, 19231933, vai ser caracterizada como a “fase amadora”, as emissoras eram conhecidas como “rádio sociedade”, pois, os sócios contribuíam mensalmente com uma boa quantia em dinheiro para a manutenção e funcionamento da estação. Um aparelho receptor custava caríssimo e somente as famílias mais abastadas possuíam condições de adquiri-los. Os primeiros “artistas de rádio” serão os membros da alta sociedade que “tomavam parte das programações” de forma amadora a fim de contribuírem, sem compromisso profissional. Neste contexto, a jovem trasmontana Isalinda Seramota, que pertencia a uma família portuguesa do “society” carioca, vai ser uma das primeiras intérpretes da canção portuguesa do rádio brasileiro. Começou como amadora por volta de 1929. Seu slogan era “O Rouxinol do Tua”, gravou seus primeiros discos em 1930 pela etiqueta Odeon, alguns dos seus êxitos musicais: Fado mensagem (João Pereira) - 1931, Canção das lavadeiras (L. de Freitas Branco / A. Botto) - 1935, Fado da Madragoa (Raul Ferrão / Galhardo / V. Santana) - 1935. Em 1932 dois semanários luso-cariocas lançaram o concurso “Rainha da Colônia Portuguesa no Brasil”, quem venceu foi Leopoldina Bello, uma moça bonita, filha de uma família de classe média. Isalinda Seramota foi coroada “Rainha dos Trás-os-Montes”. As duas jovens ganharam como prêmio uma viagem pelas principais capitais brasileiras. Em abril daquele ano estiveram na Paulicéia. Isalinda realizou dois recitais, um no Theatro Municipal e outro no Teatro Colombo do Brás, em ambos foi acompanhada pelo guitarrista Manoel Caramês.


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Por volta de 1942, Isalinda se casou e deixou a carreira radiofônica. Já o primeiro intérprete masculino de músicas lusas no rádio carioca (leia-se brasileiro) foi Manoel Monteiro, em 1930. O cantor veio para o Brasil em 1923 juntamente com o seu pai. Natural de Cimbres, região de Viseu, Monteiro nasceu em maio de 1909. No Rio de Janeiro trabalhou em diversas ocupações ao lado do seu genitor. Aprendeu a cantar fados ao assistir as revistas portuguesas apresentadas quase sempre no Teatro República, da Cidade Maravilhosa, e ao mesmo tempo, através dos discos que eram tocados nas lojas que comercializavam produtos musicais. Foi em uma destas lojas que durante uma tarde o jovem Manoel parou para ouvir uma música que tocava no gramofone e começou a cantar junto, lá estava o guitarrista português Manoel Caramês (que já se apresentava no rádio tocando solos de guitarra). Caramês o escutou, ficou encantando com a voz do seu patrício e o convidou para se apresentar na Rádio Educadora do Rio de Janeiro. Não demorou muito para Monteiro se consagrar como fadista. Em 1933, o artista passa a ter um programa próprio mantido no ar com o auxílio de patrocinadores da comunidade lusa. Manoel Monteiro se integrou perfeitamente ao convívio com os cantores brasileiros. Dentro do Programa Manoel Monteiro a nossa música sempre esteve presente. Em 1935 participou, com destaque, do filme carnavalesco Alô, Alô, Brasil, da Cinédia, que contou com um desfile de “astros” e “estrelas” do rádio: Carmen e Aurora Miranda, César Ladeira, Elisinha Coelho, Francisco Alves, Sylvinha Melo, entre outros. Monteiro aparece a cantar a marcha Salada Portuguesa (Vicente Paiva / Paulo Barbosa), popularmente apelidada de “Caninha verde”, a música é temperada com temas luso-brasileiros. Um grande sucesso do seu repertório. Outros êxitos do intérprete foram: Santa cruz (Caramês / Domingos Santos), Minha bandeira (Caramês / Domingos Santos), Uma porta e uma janela (Antônio Vieira), Meu barquinho (Frederico Freitas / Raul Ferrão), Fado Manoel Monteiro (Antônio Ferreira / Gonçalves Dias). O fado tem seu acompanhamento mais autêntico feito por guitarras e viola portuguesa, e seu reduto de maior fama é o bairro da Mouraria em Lisboa. Há diversas variações deste gênero musical, o que mais teve aceitação fora de Portugal foi o fado de Lisboa. O fado de Coimbra, menos cultivado no Brasil, é caracterizado por ser cantado e acompanhado por estudantes (masculinos) da Universidade de Coimbra. O fadista e estudante Hilário é apontado como um dos primeiros propagadores do fado de Coimbra. A seguir, vão aparecendo outros fadistas grandiosos: Antônio Menano, Edmundo Bittencourt e Lucas Junot. Entre os guitarristas citamos: Armandinho e José Antônio Sabrosa. Em relação ao Dr. Lucas Junot ressaltamos que ele era brasileiro de nascimento. Nascido na cidade de Santos, litoral paulista, em 1902. Doze anos depois seus pais resolveram regressar a terra de Camões e lá o menino Lucas fez seus estudos. Durante sua vida acadêmica integrou a “Tuna Acadêmica da Universidade de Coimbra”, participando de duas digressões, em 1922 na Espanha e a outra, em 1925, no Brasil. É autor da letra do fado Santa Clara. Em 1929 chegou a gravar um disco no Brasil, pela etiqueta Columbia, com duas canções: Vira de Coimbra e Triste fado, sem indicação dos autores. Junot se acompanhava a guitarra e


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gostava de cantar o Fado do Passarinho (também conhecido como Passarinho da Ribeira), Fado Sepúlveda e Fado do Soldado Desconhecido. O Dr. Lucas Junot faleceu em Santos, SP, no ano de 1968. Duas vedetas portuguesas que merecem destaque por suas atuações tanto em rádio como no teatro brasileiro são: Dina Tereza (1904-1984) e Beatriz Costa (1907-1996). Dina Tereza esteve em terras brasileiras pela primeira vez em 1933, devido ao sucesso do filme A Severa, do qual foi a protagonista. A artista foi recebida com apoteose por todas as cidades onde passou. Voltaria aqui outras vezes, até que em 1951 decidiu fixar residência em São Paulo. Aqui cantou em rádio, fez shows, atuou em diversas revistas e algumas casas típicas nas principais cidades brasileiras. Afastada das lides artísticas faleceu em seu sítio localizado na cidade de Poá, SP, em 1984. Beatriz Costa esteve entre no Brasil antes de Dina, em 1924, veio integrando uma companhia de revistas. Uma curiosidade é que ela fez-se artista no palco do Teatro República, no Rio de Janeiro. Sua marca registrada era a sua franjinha. Na cinematografia portuguesa alcançou êxito nos filmes Canção de Lisboa (1933), Trevo de Quatro Folhas (1936) e Aldeia da Roupa Branca (1938), este último dirigido por Chianca de Garcia, grande nome das artes portuguesas, que depois fixaria residência entre nós devido a problemas políticos com o governo salazarista. Beatriz trabalhou na Rádio Mayrink Veiga em esquetes junto com o locutor César Ladeira. Atuou ainda em programas da Rádio Nacional, ali costumava divulgar suas criações musicais nas revistas e as marchas escritas especialmente para ela por compositores brasileiros, já que entre 1939 a 41, Beatriz atuou com sucesso no lendário Cassino da Urca, levada por Carmen Miranda. Neste período, gravou alguns discos com acompanhamento do conjunto Anjos do Inferno: A cachopa não é sopa (Antônio Manoel Lopes / Luiz Peixoto), Beatrizinha Antônio Manoel Lopes / Luiz Peixoto) e Não te cases, Beatriz (Antônio Almeida / Alberto Ribeiro / Arlindo Marques Júnior). Em 1936, Beatriz já contava com dezenas de êxitos na sua carreira fulgurante, na revista Arre, Burro, a artista conseguiu atingir o seu maior sucesso no teatro de revista. O espetáculo ficou um ano em cena em Lisboa e, a seguir por diversos meses no Brasil. Entre os textos estava o número A Professora e o Aluno, interpretados por Vasco Santana (a professora em travesti) e por Beatriz. Certa noite, ela entrou em cena e disse a mestra: “Senhora professora, pegame ao colo!”, uma vez que a vedeta tinha feito dois espetáculos de caridade e estava muito cansada. O público desatou a rir e esta frase ficou célebre em Portugal e no Brasil! A brincadeira virou até letra de uma marcha carnavalesca (de 1941), gravada pelo cantor e compositor Manezinho Araújo: “Pega-me ao colo Beatriz / Pega-me ao colo que no colo não faz mal! / Pega-me ao colo Beatriz / Pega-me ao colo e dá um viva a Portugal!”... Em seguida, Beatriz Costa montou sua própria companhia de revistas no Brasil, tendo como primeiro ator Oscarito. Percorreram os estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais. A crítica especializada considerou essa dupla de cômicos como a melhor daquele período. Os programas pioneiros dedicados exclusivamente à canção portuguesa no rádio carioca apareceram nas emissoras: Educadora, Rádio Clube do Brasil e Mayrink Veiga. O popular


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Jacob do Bandolim, em maio de 1934, se apresentou no programa Horas Luso-Brasileiras, na Rádio Educadora, no mesmo dia à noite, no Clube Ginástico Português, ao lado do guitarrista Antônio Rodrigues e dos cantores de fado Ramiro D’Oliveira e Esmeralda Ferreira. Jacob ficou surpreso com o interesse dos fadistas por seu violão. Além disso, comparecia as saborosas bacalhoadas e conheceu famosos artistas lusitanos como, Dina Tereza Severa e o guitarrista Armandinho. Boa comida, reconhecimento, experiência, mas nada de cachê. A fase fadista durou pouco. O seu amor pelo bandolim o levou para a música brasileira que o consagrou definitivamente. José Lemos foi um outro cantor muito apreciado nas décadas de 1930/40, através do rádio carioca. Entre maio de 1935 a 1948, gravou dezenas de discos 78 rotações, com fados e algumas músicas brasileiras, na etiqueta Victor. Em 1943 organizou o famoso conjunto Portugália, que o acompanhava em shows e gravações, o mais pitoresco é a composição deste grupo: Carlos Campos e Joaquim Reis nas guitarras portuguesas, Muraro e José Gouveia como pianistas; Dante Santoro no flautim; Luiz Americano no clarinete; João da Baiana no pandeiro; Pixinguinha na flauta e nos arranjos e Antenógenes Silva e Luiz Gonzaga nos acordeons, ou seja, um conjunto de música portuguesa com os melhores músicos nacionais. Outro nome que disputava a preferência dos ouvintes com Manoel Monteiro e José Lemos era o de Joaquim Pimentel (1910-1978), importante fadista, compositor e ator português. O artista chegou às terras de Vera Cruz em 1934. Veio com uma companhia de revistas. Foi Carmen Miranda que o levou para tentar a sorte na radiofonia carioca em 1935, ano que registrou seu primeiro disco 78 rotações pela etiqueta Odeon, com dois fados de sua autoria, Verdades e Malmequer (parceria com C. A. Figueiredo). Entre suas composições de sucesso destacamos: Só nós dois, Júlia Florista e Meu amor marinheiro. Também escreveu letras para algumas marchas de carnaval. Na radiofonia paulistana os primeiros programas que surgiram voltados para a divulgação da cultura portuguesa foram: Horas Portuguesas (1934), do professor João Fernandes; Saudades d’além Mar (1936), de Nuno Madeira; Melodias Portuguesas (1941), de Irene Coelho, e por fim, Longe dos Olhos Perto do Coração (1944), de Júlio Pereira. Por volta de 1929, a soprano e compositora Arminda Falcão (Coimbra, 1900), passou a cantar a música portuguesa em programas avulsos da Rádio Educadora Paulista. Contudo, considerava sua estreia profissional a data de 18/2/1934, quando foi ao ar a primeira edição de Horas Portuguesas. Trabalhou nas emissoras: Educadora, Record e Tupi, onde ficou até 1956. Gostava mais do teatro do que do rádio, atuou em revistas e operetas. Em 1949, tomou parte do longa-metragem Quase no céu, de Oduvaldo Viana, o elenco do filme era formado por artistas da Tupi como, Lolita Rodrigues, Lia de Aguiar, Hebe Camargo e Arnaldo Pescuma. Foi uma das artistas que participou da inauguração da TV Tupi em setembro/1950. Sua irmã, Alice Silva (contralto), gravou com a mana alguns discos 78 rotações. Arminda registrou cerca de 13 músicas em sete discos de 78 rotações e soma-se ainda a sua discografia um elepê intitulado Sucessos de Arminda Falcão (Magisom, 1961). Seus grandes êxitos musicais foram: Alegres Raparigas, marcha de sua autoria, gravada em 1945 e que teve tal repercussão que foi premiada no Porto, em Portugal, durante as “Festas de São João”; Fado do 31 (Alves Coelho), Vira (Arminda Falcão / Spartacco Rossi) e Rendas de Portugal (folclore português). Seu filho, Sérgio Falcão, foi um inspirado compositor popular, também foi intérprete


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de músicas argentinas e mexicanas. Arminda Falcão faleceu em 29/12/1974, em São Paulo. Nelson Gonçalves teve um irmão cantor de fados, era Quincas Gonçalves, português de nascimento. Fez sua carreira na “Terra da Garoa”, teve algumas atuações esporádicas na Rádio Nacional carioca. Não fez sucesso como o consagrado irmão, mas tinha um público fiel na Pauliceia. Gravou alguns discos, com destaque para os fados Prece do amor (João Fernandes) - 1942 e Minha oração (João G. Fernandes) - 1945. Chega à década de 1940 e nascem novos ídolos da canção portuguesa no rádio brasileiro. Na Capital paulista surge a fadista Irene Coelho. Dizem que Irene “trocou o samba pelo fado”, pois ela nasceu na cidade paulista de Rio Claro em 1921. Foi à primeira brasileira a ter um programa só com músicas lusas no rádio da Pauliceia, o Melodias Portuguesas, que permaneceu no ar por 66 anos (1941-2007). Irene sempre contou com o apoio de seu marido, o guitarrista Manuel Coelho, que compôs muitas músicas para sua esposa. Seus discos gravados aqui eram remetidos periodicamente para Portugal, lá pensavam que ela era realmente lusitana. Para esclarecer esse mal entendido Manoel Coelho e Afonso Martins escreveram o fado Irene Coelho, que diz: “Confesso sou brasileira / com altivez e agrado / canto a minha maneira / de Portugal o seu fado. / Eis a minha vocação / que o fado jamais engana / trago-o no meu coração / como qualquer lusitana. / Sinto no fado a beleza / de uma tradição ditosa / Minha origem portuguesa / torna-me bem orgulhosa”... Relativo às músicas de sucesso do repertório de Irene Coelho destacamos: Bailinho da Madeira (Max), Milagrosa Izildinha (Américo de Campos / Ado Benatti), Chinelinhas (Helena Moreira Viana / Hortência César) e Nª. Srª. de Fátima (Arlindo Pinto / J. M. Alves). Apesar de brasileira, dedicou toda sua trajetória artística em prol da cultura musical lusa até seu falecimento em 2008. Pela longevidade de seu programa até hoje encontramos admiradores da artista, que lembram de Irene Coelho com especial carinho e admiração. Uma das mais belas vozes lusas, com certeza, pertenceu ao cantor e ator Alberto Ribeiro. Expressão máxima da música popular portuguesa, justamente apontado como o “Cantor Romântico de Portugal”, ou ainda, “O Rouxinol do Mondego”. Nascido na bela cidade do Porto em 1920, desde cedo demonstrou seus pendores artísticos. Tomou parte em inúmeras películas portuguesas e espanholas. Um dos maiores êxitos cinematográficos de sua carreira foi Capas Negras, de 1947, onde junto com Amália Rodrigues, foram protagonistas. Este filme, tanto em terras lusa como brasileiras, permaneceu meses em cartaz. Alberto cantou em vários países do mundo. No Brasil, esteve diversas vezes a partir de 1948 em temporadas memoráveis por meio Rádio Nacional carioca e da Rádio Record de São Paulo, aliás, nesta cidade morava um irmão seu, também fadista, Alcino Ribeiro, que militou no rádio e trabalhou em diversos restaurantes típicos da capital bandeirante. Alcino gravou um único disco 78 rotações, pela Chantecler, com a canção Tejo e Guanabara (Pedrinho Almeida / Luiz Campos) e a valsa, Mãe (José Cosme / José Castelo). Alberto Ribeiro divulgou como poucos as páginas musicais do fado de Coimbra: Fado Hilário, Coimbra e Feiticeira, etc. Ainda registrou outros êxitos: Adeus Lisboa, Ave Maria, Marco do Correio e Areia Branca.


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Um acontecimento interessante é o da cançonetista Maria da Graça (1919-1995): em 1939 passou a cantar na Emissora Nacional de Lisboa, mas ao contrário de suas colegas não cantava músicas portuguesas e sim... brasileiras, com certeza! Seu amor pelo Brasil a fez desembarcar por aqui em 1946 junto com seu marido. Intérprete consagrada em Portugal não foi difícil singrar os caminhos radiofônicos do Rio de Janeiro. Logo, foi contratada pela Rádio Globo. Naquela emissora interpretava músicas de Ary Barroso, que era seu fã, tendo ainda cantando em dueto com Francisco Alves, o “Rei da Voz”. Constantemente era acompanhada ao piano por Maria José de Abreu, que lhe ofertou belíssimas páginas musicais como o choro Docinho de Iaiá (com Luiz Peixoto), o samba Isso é Brasil (com Luiz Peixoto), Valsa do amor (com Osvaldo Santiago) e o samba Me dá Iaiá (com Alberto Ribeiro). Percorreu todo território nacional cantando nossas músicas e as de seu país. Realizou inúmeras digressões pela Argentina. Em 1965, se tornou proprietária do restaurante típico Adega de Évora (que antes pertencera ao Francisco José), do qual, naturalmente, era a principal atração musical. Em 1982, após a morte de seus pais resolveu voltar a Portugal (Lisboa) para viver junto de suas irmãs. Os músicos instrumentistas nem sempre são tão populares como os cantores, salvo raras exceções. Não existem muitos registros sobre todos os guitarristas e violas luso-brasileiros que atuaram em nossa radiofonia. O primeiro nome que encontramos em nossas pesquisas ligado ao Rádio paulista foi o do professor de guitarra portuguesa Antônio Pires. A partir de 1927, Pires tocava em programas da Rádio Educadora Paulista e na Rádio Record. Neste mesmo período, no Rio de Janeiro, o guitarrista mais atuante e requisitado era o português Manuel Caramês, excelente músico e compositor. Como foi registrado anteriormente foi ele quem levou para o Rádio o fadista Manoel Monteiro. Já em meados da década de 1940 citamos a importância do guitarrista e compositor Fernando de Freitas (1913-1988). Ele veio para o Brasil em 1945, junto com Amália Rodrigues, que realizava sua segunda excursão artística na cidade do Rio de Janeiro. Freitas gostou do ambiente e resolveu ficar entre nós. Estabelecido em nosso país, primeiro residiu no Rio de Janeiro e depois em São Paulo. Fernando de Freitas influenciou uma geração de instrumentistas, lecionou aulas de guitarra por mais de uma década. Muitas de suas composições foram gravadas por cantores luso-brasileiros na década de 1940. Quando esteve em Salvador, a bela capital baiana, conheceu Maria Girão (1928), uma jovem de 18 anos, filha de portugueses, com quem se casou em 1946, em seguida transferiram-se para São Paulo. Baiana de nascimento, Maria Girão cantava desde oito anos de idade, isso aconteceu durante uma festa escolar, misturou o samba com fado, assim começou sua carreira. Tornou-se uma conhecida intérprete do fado na cidade de São Paulo. Sua especialidade era o fado castiço, com o marido aprendeu a tocar a guitarra portuguesa. Na década de 1950, Maria Girão recebeu um convite para visitar Portugal, onde permaneceu por dez meses, percorreu em temporadas artísticas, Lisboa, África e Moçambique. Alguns dos seus sucessos em disco: o fado Cabelo branco (Fernando de Freitas / J. M. Amaral), Rapsódia Portuguesa (arranjo de Fernando de Freitas), Pega o balão, marcha junina de sua autoria (assinou como Maria Girão de Freitas), e por fim, citamos O fado subiu o morro (Celso Mendes


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Nogueira) lançado em 1960. O casal teve quatro filhos, dos quais só um sobreviveu um até a idade adulta: o cantor e compositor Fernando Girão. Em 1964 separou-se de Fernando de Freitas. Em seguida, uniu-se ao fadista Toni Silva e abriram, em 1966, um restaurante típico O Fado, à Rua 13 de maio, no bairro da Bela Vista. Na década de 1970 mudou-se para Portugal. Faleceu na Casa dos Artistas de Lisboa em 9/4/2007. Da década de 1950 até os dias de hoje o guitarrista português de maior referência e importância é o professor e maestro Manuel Marques. Marques imigrou para o Brasil em outubro de 1955. Formou-se em conservatórios brasileiros em: piano, guitarra clássica, canto e caligrafia de Franco. Iniciou a sua “Academia Musical Manuel Marques” em 1969, na Pauliceia. Compôs mais de 700 músicas, entre estas constam algumas que se tornaram temas de telenovelas brasileiras: As Pupilas do Senhor Reitor, A muralha, Antônio Maria, e o filme Sertão em Festa, onde o maestro aparece a tocar uma viola brasileira. Gravou 28 LPs e seis CD, um gravado na França. Organizou o Trio Manuel Marques em 1981, com o qual gravou acompanhando diversos fadistas renomados e radicados no Brasil e múltiplos cantores renomados brasileiros, viajou com o trio pelo Brasil todo, com o “Concertos de Guitarras Portuguesas”. Em 2011, regressou a Portugal para viver junto a sua família. Em 1947, chega ao Brasil um trio de grande sucesso no rádio e no cinema português, as Irmãs Meireles: Cidália, Rosária e Milita. Interpretavam músicas do folclore português e usavam uma técnica especial, o canto à capela. Percorreram todo território nacional e alguns países da América do Sul e Central. Em 1951, o trio se dissolveu com o casamento de Cidália, que posteriormente, se lançou em carreira solo através da Rádio e TV Record de São Paulo. Milita se casou em 1952 e abandonou a carreira de cantora. Já Rosária também desenvolveu trajetória solo a partir de 1953, três anos depois realizou seu sonho de trabalhar nos Estados Unidos, lá se manteve por dois anos com êxito, regressou ao Brasil em 1958, em seguida, se casou e deixou de atuar. O trio registrou discos na Espanha. Depois, entre 1947 a 49, gravaram no Brasil para a etiqueta Continental, com destaque para: Pardalito que saltitas, Senhora do Almurtão, Josezito, Balada de Coimbra e Não vás ao mar Tonio. Também gravaram separadas alguns fados, boleros e músicas norte-americanas. As intérpretes, como aconteceu anteriormente com outros colegas lusos, não escaparam de gravar um disco com músicas carnavalescas, a marcha Minha linda lusitana (Claribalte Passos / Jorge Murad) e o frevo-canção Morena de Copacabana (Claribalte Passos), esta última canção foi incluída no primeiro elepê lançado no Brasil em 1951 pela etiqueta Sinter. Olivinha Carvalho é filha de portugueses, nasceu no Rio de Janeiro em 1930. Um dos ícones do fado no Brasil. Com apenas cinco anos de idade iniciou sua carreira na Rádio Cajuti. Um ano depois passou a trabalhar em teatro de revista com a vedeta portuguesa Luiza Satanela e o fadista Joaquim Pimentel, que a alcunhou de “A Severinha”. Atuou em diversos filmes nacionais. Em 1951, ingressou na Rádio Nacional do Rio, onde se tornou uma das grandes estrelas da emissora. Seus maiores sucessos em disco foram: Rosinha


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dos Limões e Lavadeiras de Portugal. Atualmente, reside no Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão, em companhia de sua irmã Idalina. A vedeta e radioatriz Salúquia Rentini chegou ao Brasil em 1948 com a companhia de revista do empresário José Ferreira, trabalhou no Teatro Carlos Gomes em Alto lá com o charuto, O passo da girafa, entre outras revistas. Acabou gostando tanto de nosso país que resolveu se estabelecer por aqui. Paralelamente a sua carreira no teatro musicado, Salúquia também trabalhou durante largos anos na Rádio Nacional como cômica e cantora de músicas brejeiras, como estas que a artista registrou em discos Odeon: o baião Sanfoninha do Mané (Francisco Neto), Corridinho de 1951 (J. G. Figueiredo / Osvaldo Santiago), Fado de Nazaré (Raul Ferrão / Fernando Santos) e a marcha Salúquia, de 1954, escrita especialmente para a vedeta pelo humorista Jorge Murad. Seu filho, o menino Luís Manuel, atuava desde 1954 no radioteatro da Nacional, fez sucesso em sua carreira infanto-juvenil. Salúquia faleceu em 2014, na Casa dos Artistas do Rio de Janeiro, onde residia desde os anos 90. Os anos de 1940 registram temporadas de grandes cartazes portugueses como Luiz Piçarra, Maria Gabriela, Maria da Luz e Amália Rodrigues. Vem à década de 1950 e nos revela Ester de Abreu, Gilda Valença, Francisco José, Tony de Matos, Tristão da Silva entre outros. Todos eles, sejam em discos ou em apresentações radiofônicas, incluem em seus repertórios números brasileiros adaptáveis a seu estilo, mas valem dos hábitos de seus antecessores, aceitando fados, chulas, viras e marchas alegres compostos por brasileiros “sintonizados” com o estilo. Neste período o rádio já atingia todas as camadas sociais, de maneira eficiente alcançava todo território nacional. Grandes cantores do eixo Rio - São Paulo passaram a se exibir em outros Estados e os mesmos quando chegavam muitos prefeitos decretavam feriado, até as escolas e o comércio local cerravam as suas portas. Quando os artistas se apresentavam o frenesi total, tão grande que até desmaios aconteciam... Era mais uma vez a “Magia do Rádio” em ação. Foi a fadista Maria da Conceição quem levou a toada Mãe Preta, dos compositores brasileiros Caco Velho e Piratini, para Portugal. Atuou na Rádio e TV Tupi de São Paulo em 1953. O êxito desta música foi tamanho que a intérprete abriu um restaurante típico na “terrinha” chamado Mãe Preta. As rádios tocavam sem cessar e as pessoas cantarolavam e assobiavam por todo o lado. Até que, de repente, a censura política de Salazar obrigou Maria da Conceição a alterar a letra, designadamente o verso “enquanto a chibata batia no seu amor/ mãe preta embalava o filho branco do senhor”, por “enquanto na senzala trabalhava o seu amor/ mãe preta embalava no filho branco do senhor”. Para driblar a censura, David Mourão Ferreira escreveu uma outra letra para Mãe Preta, dessa vez sobre uma história no mar, e Amália Rodrigues deu nova vida àquela música, agora chamada de Barco Negro. A canção conquistou diversos cantos do mundo e foi trilha sonora do filme Amantes do Tejo, de 1955. Lá na terra de Camões diferentemente do Brasil, quando uma melodia é composta ela pode receber várias letras. Segundo consta, posteriormente, a adaptação foi autorizada pelos compositores brasileiros. O sambista Caco Velho trabalhou


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em boates na França durante os anos de 1954 a 56. Uma noite, Amália estava a cantar Barco negro em uma boate, Caco Velho estava presente e duvidaram que ele fosse o autor daquela canção, então, a “Diva do Fado” chamou o compositor até o palco e o apresentou o autor da música, para a grande plateia presente naquele show. Amália Rodrigues esteve no Brasil pela primeira vez em 1944. Um ano depois voltou e teve a oportunidade de gravar seus primeiros discos. Foi a artista que mais viajou pelo mundo a divulgar a canção da sua terra. É considerada a maior representante do Fado no mundo. Participou de muitos filmes portugueses, entre eles Capas Negras (1947) e Fado - História de uma cantadeira (1948). O cantor Francisco José foi sem dúvida o intérprete português de maior cartaz no Brasil na década de 1950. Estreou-se profissionalmente em Portugal no ano de 1948, em pouco tempo transformou-se em um dos nomes mais populares da canção lusa, recebeu o slogan de “O coração que canta”. Fez a maior parte da sua trajetória artística em terras brasileiras, para onde veio em 1954. Suas gravações logo alcançam êxito e bateram recordes de venda. Sua criação mais conhecida é o fado Olhos castanhos (Alves Coelho), até os dias de hoje quando se fala em Francisco José de imediato as pessoas passam a cantarolar este fado. O artista também popularizou outras músicas como Guitarra chora baixinho. Em 1964, em uma de suas idas a sua pátria acusou a Rádio e Televisão Portuguesa - RTP, de pagar mal os artistas lusos. Essa acusação lhe custou um processo jurídico. Devido a este desentendimento só tornaria a cantar em seu país em 1980. A bela Ester de Abreu nasceu em Lisboa, em outubro de 1921. Seu nome completo era Ester de Abreu Pereira. Iniciou a carreira cantando em programas radiofônicos dedicados ao público infantil, tendo-se estreado profissionalmente na Rádio Nacional de Lisboa, em 1940. A cantora chegou ao Brasil em fins de 1948 contratada pela boate do Copacabana Palace e pela Rádio Nacional. Foi conquistada pelos pomposos contratos que surgiram e pela afetividade do povo brasileiro, acabou por ficar por aqui. Seu maior sucesso em disco foi à canção Coimbra (1952). Foi a cantora portuguesa de maior fama da Rádio Nacional do Rio nos anos 1950. Além de fados, Ester gravou baiões, sambas-canções e músicas brasileiras, como as marchas carnavalescas: Cabral no carnaval (Blecaute) e Ou vai ou racha (Luis Antônio / José Batista), ambas de 1953. Por volta da década de 1960 afastou-se das atividades artísticas, era o fim da “Era de Ouro do Rádio”. A intérprete continuou cantando para as plateias dos clubes e sociedades luso-brasileiras. Ester de Abreu teve duas irmãs: a mais velha, Julieta Valença, vedeta do teatro português, e a segunda era a cantora Gilda Valença, lisboeta nascida em 1926. Gilda deu os primeiros passos na carreira artística em 1938 em programas infantis na Emissora Nacional de Lisboa. Veio para o Brasil em 1952. Por muito tempo foi contratada da Rádio Mayrink Veiga e da TV Rio. Trabalhou em inúmeras revistas. É a criadora no Brasil da música Uma casa portuguesa (A. V. Fonseca / R. Ferreira / V. M. Sequeira), que artista apresentou ao público na revista É fogo na jaca, em 1953.


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Trabalhou como atriz em novelas e no filme Portugal, minha saudade (1973), com Mazzaropi. Faleceu no Rio de Janeiro em 1983. Ao lado de Francisco José o cantor Tony de Matos (1924-1989) foi outro ícone da música romântica portuguesa no Brasil. Por aqui Tony esteve pela primeira vez em 1953, atuou na TV Tupi e boate Oásis de São Paulo. Realizou excursões por diversos países da Europa, Américas, Índia e visitou a África. É considerado o “Frank Sinatra Português”. O romantismo foi sua marca registrada, é de sua autoria o fado Sou romântico, em todos seus shows o cantor era obrigado a interpretar esta página musical. Viveu no Rio de Janeiro de 1957 a 1964. Trabalhava na TV Rio. Com o dinheiro que ganhou na nossa terra abriu o restaurante típico O Fado. Era o local que Amália Rodrigues mais frequentava quando vinha ao Brasil, naquele momento. A belíssima voz de Tristão da Silva (1927-1978) imortalizou clássicos como Nem às Paredes Confesso, Maria Morena e Aquela Janela Virada pro Mar. Temas interpretados em estilo romântico que a voz grave e fortemente personalizada de Tristão da Silva eternizou. Em 1960 viajou até ao Brasil, onde acabou por permanecer durante por quatro anos, atuou na Rádio e TV Tupi do Rio de Janeiro e nas várias casas típicas portuguesas da cidade. Posteriormente, Tristão deslocou-se para São Paulo onde também trabalhou no rádio, na TV e nas principais boates da cidade. Foi proprietário do restaurante típico Bairro Alto, localizado no bairro da Luz. Fez uma longa digressão pelas principais capitais brasileiras. Cantou ainda na Bolívia, Chile, Paraguai, Argentina, Uruguai e Peru. O compositor Adelino Moreira, que entregou grandes sucessos a Nelson Gonçalves como Meu vício é você e A volta do boêmio, era português do Porto. Começou como cantor em 1947, mas não conseguiu êxito. Enveredou pela área da composição e então se deu muito bem. Apesar de se ter consagrado no cancioneiro “verde amarelo”, suas músicas trazem claras influências da sonoridade da guitarra portuguesa. Entre 1954 e 55 a cantora e atriz Carmen Miranda, que é portuguesa de nascimento, esteve no Brasil após 15 anos de ausência. A comunidade portuguesa queria agradá-la, então aproveitou o concurso da “Rainha do Rádio” e conseguiram que uma artista patrícia fosse eleita soberana. Assim, a intérprete Vera Lúcia, da Rádio Nacional, foi coroada a “Rainha do Rádio de 1955”. Foi Carmen Miranda que entregou a coroa, a faixa e o cetro a nova monarca em um baile no Teatro João Caetano na Cidade Maravilhosa. Vera Lúcia é natural de Viseu, nasceu aos 7/8/1930. Pequenina veio para o Brasil e aprendeu nossos hábitos e nossa música. Começou a cantar em 1948. Exima intérprete de samba-canção e bossa-nova. O final dos anos de 1950 vai marcar o declínio da fase artística do rádio. Os artistas vão migrar para o novo veículo, a televisão, que chegou no Brasil em 1950, mas demorou alguns anos para se consolidar sua popularidade. Pois, assim como rádio, os aparelhos receptores eram muito caros e a maioria da população não tinha condições de adquirir uma TV. Mas ainda neste período de transição, o rádio registrou temporadas memoráveis de mais “astros” da canção popular lusa como, Raul Mota, Maria da Luz, Fernando Farinha, Lucília do Carmo, Hermínia Silva, Helena Gonçalo, Maria de Lourdes Rezende, Maria Amélia Canossa, de Tomás Alcaide etc.


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A música portuguesa antes apresentada em programas ao vivo e com auditório passa a ser apresentada aos ouvintes somente através de gravações em discos. O fado vai buscar nova acolhida nos restaurantes típicos, nas entidades luso-brasileiras e na TV (embora de maneira esporádica).

Bibliografia

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BIBLIOGRAFIA GERAL

Livros

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Enciclopédia Fadista Luso-Brasileira TIRSO, Pires (org.). Almanaque do Rádio de 1951. São Paulo: s/n. Jan. 1951.

Internet

www.adeliapedrosa.blogspot.com.br www.cinemateca.com.br www.cardapiocultural.podben.com www.dicionariompb.com.br www.memoria.bn.br www.pauloborges.bloguepessoal.com www.portaldofado.net

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