UM POUCO DE TUDO

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Livro II UM POUCO DE TUDO Autor: Manuel Ernesto Morgado Prefácio Este segundo livro vai continuar na senda do primeiro. Tem um pouco de tudo, com ensaios políticos pelo meio. Vai continuar a ser variado. O passado misturado com o presente. Pode ser polémico, mas é aquilo que penso que devia de ser e não é… a Utopia. O Idealismo e a Utopia nem sempre andam de mãos dadas e nem sempre realizáveis. A fantasia da nossa História e o reverso da medalha. Polémico? Sim pode ser…

Dedicatória O nosso Idealismo é saudoso, assim como a nossa Utopia, porque nos animam a esperança, a lembrança e as nossas memórias. Do que é religioso, leigo e popular. É a nossa maneira de estar, com os nossos usos, com os nossos princípios e costumes. O nosso esquecimento é um facto inegável e por isso tem de ser recordado, tem de ser escrito para que não se apague. Para se aliviar a memória é preciso escrever. Portanto é uma dedicatória de todos nós, a todos vós. 1


Índice Título

índice

Os animais sabem …

75

Mar multifacetado

79

Vamos falar de futebol? A sua história

84

A feira de S. Mateus

90

Antagonismo político

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Realidades

98

Os assassinos que nós somos

7

A Desordem

102

Dissertação social

11

Carta saudosista

106

Ser ou não ser, opção

15

O reverso da autenticidade

108

Dissertação bíblica

19

O Homem perante a Sociedade e o Mundo

24

Polémica sobre a descentralização e regionalização… 110

História aparente do Homem

29

Solidão

114

Até ao ano 2000…

33

O Livro

117

Materialismo II

39

Não estamos sozinhos

118

O aventureiro, marinheiro e escritor maldito

46

Há conversa com a teoria da mecânica quântica

138

O Mundo aos meus olhos

51

História, a do Homem

54

Ideias e críticas políticas

57

A revolução

63

O uniformismo

66

As Beiras

69

A Serra da Estrela

71 2

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ANTAGONISMO POLÍTICO O antagonismo político é uma forma de luta de classe dominada contra o patronato, defendendo determinadas ideias de certos factores, como lutas de classes, conflitos territoriais, conflitos religiosos e culturais, que podem tomar forma por meios de combate ou de estratégias políticas. Portanto os factores de antagonismo político resumem-se a meios de combate com vários tipos de estratégia como os factores socioeconómicos, factores políticos territoriais e factores ideológicos de vária ordem; os meios de combate do antagonismo político pode chegar à violência material de vária ordem que pode chegar até à violência militar na forma mais gravosa; na violência económica que pode corresponder a grandes grupos económicos ou multinacionais a associações patronais, etc.; à luta política pelos vários partidos, à luta ideológica metendo de permeio o aparelho escolar, os meios de informação e as instituições confessionais. Nas estratégias temos a concentração e dispersão de meios que se resume a alianças e a coligações entre partidos; por fim temos a luta no sistema e contra o sistema implementado.

combatem para escapar a um mundo semelhante de uma ditadura ou quase, para defender os seus privilégios, e outros que não os querem perder, contra o assalto dos oprimidos e dos explorados, e é natural que cada um empregue todos os meios ao seu alcance, para alcançar o desejado fim, isto é, alcançar a vitória protelada pelo qual lutaram.

Normalmente o antagonismo político tende a exprimir-se pela violência, quando não se aceita as ideias do outro, ou porque certos indivíduos lutam para sair de uma situação miserável, em que outros

Cada um tende a puxar a brasa à sua sardinha de maneira repressiva, impondo as suas ideias à base da força, seja física ou mental, fazendo crer a todos que estão no lado certo e a lutar por uma causa justa. Esta luta é dada nas ruas e não no Parlamento. Porque no Parlamento, em princípio, advoga-se a democracia. Apesar da Lei da maioria ser uma forma mais civilizada que distingue os partidos se estão de acordo ou não, se aprovam ou não a Legislatura em que eles se debatem, é a forma mais cívica de lutar, menos brutal, em que se pode contestar que o número decide assim os problemas, mas não é inteiramente satisfatório, ainda que este princípio assente na ideia de que todos os homens são iguais por direito. Concretamente pode-se escolher entre a lei do número, a lei dos músculos ou a lei da bala para se impor uma determinada política, uma determinada condição de vida, limitando as liberdades de cada um, limitando os antagonismos, mas que não é uma revolução eterna, pois ela vai-se desgastando ao longo do tempo e acabará por modificar-se ou cair, a mal ou a bem. A classe oprimida e explorada é aquela que dá votos, é aquela que exige mais, é aquela que quer mais regalias e melhores ordenados, é aquela que se vai informando e formando e a evolução vai subindo de nível, em que os políticos têm que ter uma elevada visão, uma elevada compreensão do que se passa à sua volta, em que os meios de informação revelam-lhes os aspectos essenciais dos problemas sociais e laborais e eles têm que estar dispostos a daremlhes mais alguma coisa para manterem a sociedade coesa, e por isso têm que ter compromissos sérios e válidos para com todos. É importante que os políticos, os empresários e os gestores estejam

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Mas o principal problema que dá mais dores de cabeça ao estado de um país, são sem dúvida os factores socioeconómicos do proletariado e dos conflitos raciais existentes, que podem dar lutas mesquinhas e conflituosas de políticas radicais de extremos opostos, já que somos um País multirracial, herdeiro das gentes das antigas colónias, hoje independentes, mas que não deixa de ser problemático encaixar os diversos pensamentos ideológicos numa sociedade que se diz civilizada e não ter preconceitos de xenofobia.


atentos e a satisfazerem até certa medida, os seus operários, que se reparte por toda a sociedade em si. Não é só os sindicatos a realizarem as manifestações, pois nem toda a gente está sindicalizada, mas todas as instituições em si, se querem ter um bom ambiente, produção e ganhos, para além da inovação, têm que ter em conta a satisfação do seu pessoal trabalhador. Isto evita muitos dissabores nas cadeias superiores. É preciso ter visão, compreensão e humanidade. Como sabemos as relações entre classes são ao mesmo tempo, relações técnicas, sociais, com sentido ético por vezes, de exploração indevida, em que a luta de classes se desenvolve ao nível económico e ao nível ideológico. Não é nem devia de ser, mas que muitas vezes são obrigados a isso, serem competentes e dóceis. Para além das técnicas que deverão dominar e que são exigidas por um determinado nível de desenvolvimento económico, eles terão igualmente de aceitar a sua posição subordinada como naturais, eterna e imutável. sem permissão de subir de nível ou de escalão. Ora isto não só não é admissível como é degradante, em que o sujeito está a ser submetido. A isto chama-se exploração induzida que leva a pessoa a uma falsa situação que acha que é natural, quando na verdade é antinatural. Apesar de termos feito grandes progressos a todos os níveis, em todas as áreas sociais e tecnológicas, continua a haver um grande fosso de classes, quando devia de ser ao contrário. Ainda há uma visão capitalista bastante exploradora, assim como não há vontade governativa e política para acabar com este fosso, embora eles digam que estão a tentar, dando falsas promessas, promulgando para um futuro próximo, ir acabando com as distâncias. Aliás, nota-se bem no ordenado mínimo. É um escândalo autêntico. Há trinta anos que andamos a lutar por uns miseráveis 600 Euros, quando eles dizem que para o ano vão aumentar para (talvez…) 650 Euros, quando nesta altura já devíamos estar nos 800 Euros. 6

Os assassinos que nós somos Está inserido no nosso próprio ADN se queremos sobreviver a este mundo hostil, apesar de termos regras, muitas vezes somos obrigados a ultrapassá-las. Mas nós não somos os únicos. Por isso, quem me diz a mim que o Homem é o único ser pensante que tem uma linguagem em código aberto e não os outros animais que habitam também a Terra? Todos eles têm uma linguagem muito própria, mesmo que não seja compreensível para nós. Isto leva-nos a várias interpretações a vários níveis desde a linguagem fonética ao corporal, para além das nossas próprias acções. Na linguagem do cotidiano, o homem faz uso da linguagem verbal e não-verbal para se comunicar. A linguagem verbal integra a fala e a escrita (diálogo, informações no rádio, televisão ou imprensa, etc.). Todos os outros recursos de comunicação como imagens, desenhos, símbolos, músicas, gestos, tom de voz, etc., fazem parte da linguagem não-verbal. A linguagem corporal é um tipo de linguagem não-verbal, pois determinados movimentos corporais podem transmitir mensagens e intenções. Dentro dessa categoria existe a linguagem gestual, um sistema de gestos e movimentos cujo significado se fixa por convenção, e é usada na comunicação de pessoas com deficiências na fala e/ou audição. Nos animais utilizam a parte vocal e a parte corporal e todos eles têm um determinado significado. Sabemos quando ele está bemdisposto, zangado, e que emite sons de aviso. Eles não são assim tão diferentes de nós. A comunicação entre os animais diverge nas espécies, mas demonstra, muitas vezes, a capacidade de se comunicarem através de sons, gestos, cliques, gemidos etc. Assim como os chipanzés e orangotangos, também os golfinhos já foram 7


observados usando espelhos para examinarem manchas em seus corpos; as abelhas operárias, conforme diz Harald Esch, atingem a fonte de alimento seguindo uma dança de movimentos anteriormente feita pela abelha rainha; os macacos africanos gritam de formas diferenciadas para alertar os demais quanto aos predadores. Isto quer dizer que não há circuitos fechados entre nós e todos os animais, mas um circuito aberto em que é possível haver comunicação, se nós humanos os pusermos em pé de igualdade e haver compreensão de ambas as partes. Neste caso para o humano que é religioso e que considera que tem uma alma, porque é que não considerarmos que os outros animais, não terão também? Nós estaremos num pedestal acima de toda a criação? Lá por estarmos no topo da cadeia alimentar, não quer dizer que somos superiores a eles, apesar de eles não saberem fabricar utensílios, mas sabem utilizá-los. Superioridade? Por sermos o Homem sapiens-sapiens virados para o Cosmos? Na maioria dos casos nem fazemos o mínimo esforço para os compreender e a catalogá-los como animais de instintos e espertos e nós como os seres inteligentes. Nem sequer nos dignamos a pensar que faz parte da ecologia terrestre, e porque será tão variada, de todos os tamanhos, e que fazem simbiose com a vegetação, com o ambiente e com o rejuvenescimento da Natureza. Eles estão cá por alguma razão. A questão é muito mais complexa, entrelaçada, mais confinada ao próprio Planeta. Isto é mais complexo do que as teorias de Darwin, mais do que as teorias dos ecologistas, mais do que a concepção planetária. O Homem faz, dispõe e destrói e constrói e altera o Planeta sem muitas vezes querer saber das consequências imediatas ou futuras. Ele é um ser egoísta que muitas vezes só olha para o seu umbigo. Apesar de tentar atingir a perfeição, de ter toda a tecnologia ao seu dispor e de armas de destruição massiva, ele continua a transformar 8

o Planeta de maneira a que um dia seja inabitável para o ser humano. Por vezes temos a mania de que somos um deus e que temos o poder de criar ou de destruir, seja o que for. Infelizmente é para lá que caminhamos. Temos que ter consciência do que estamos a fazer ao Planeta. Temos que ter consciência de que temos de o proteger, se queremos que ela seja a nossa casa por mais algum tempo, embora já termos postos os olhos nas estrelas e noutros planetas. Nós não nascemos para destruir, mas para construir. Não nascemos para tirar, mas para transformar para melhor. Não nascemos para matar, a não ser em legítima defesa, mas para fazer nascer e crescer. Tudo está conjugado e entrelaçado em frágeis uniões, que comunicam entre si, que está tudo relacionado e interligado e que devíamos respeitar. Estamos a matar sem necessidade, estamos a destruir florestas sem necessidade, estamos a levar à extinção animais sem necessidade, quando na era tecnológica com novos produtos que substituem os materiais naturais e até os copiam, com as novas tecnologias e renováveis, porque é que continuamos a desmatar florestas, a matar animais e alterar a Natureza, transformando-a radicalmente. Ao longo do tempo o estado do planeta Terra tem vindo a piorar tendo como grande causador o ser humano. As alterações climáticas e degradações são cada vez mais visíveis, o que provoca desigualdades sociais perante as pessoas que deixam de ver os seus meios de subsistência salvaguardados. O conceito de Ecologia Humana designa o estudo científico das relações entre os homens e o meio ambiente, incluindo as condições naturais, as interações e os aspectos econômicos, psicológicos, sociais e culturais. A preservação e conservação do ambiente natural das diferentes espécies são conceitos de grande importância quando envolve as relações entre o homem e a biosfera. A humanidade devia de saber, devia de aprender nas escolas, de que é parte integrante de um universo imenso em 9


evolução, o Planeta onde vivemos é apenas um pequeno ponto, sendo o único sítio habitável conhecido. O bem-estar de toda a humanidade depende da manutenção de um ambiente saudável, tal como a diversidade das plantas e dos animais. A palavra valor pode significar merecimento, talento, reputação, coragem e valentia. Afirmando assim que os valores humanos são valores morais que afetam a conduta das pessoas. Esses valores morais podem ser também considerados valores sociais e éticos, e constituem um conjunto de regras estabelecidas para uma convivência saudável dentro de uma sociedade. Neste momento, estamos a passar por uma crise de valores que está a afetar a humanidade, que passa a ser mais egoísta, cruel e violenta. É necessário transmitir a importância dos valores humanos , que consistem na base de um futuro mais pacífico e sustentável. Face aos grandes problemas ambientais que ameaçam a vida na terra , fruto da negligência humana é urgente assumir atitudes capazes de garantir a sobrevivência do nosso planeta. É fundamental que cada um de nós adote atitudes verdadeiramente ecológicas. A política dos três "R" é, por exemplo, uma boa forma de ajudarmos o planeta e mudarmos algumas atitudes. Bem como, a reposição de árvores periodicamente e associações de proteção de animais e plantas. A História não é só do Homem. É de tudo o que representa um Planeta como o nosso. E não estamos a saber conservá-la. Estamos a ser levados para a nossa própria destruição.

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DISSERTAÇÃO SOCIAL A preguiça é muitas vezes indesejável e só em momentos de lazer é que podemos descomprimir, não antes, em trabalho ou em reunião, para que haja inovação, para que haja uma direcção a seguir num futuro próximo. Nada é tão degradante ao homem que não faz nada ou não quer fazer, que não pensa no presente, nem no seu futuro próximo, em avançar com determinação para uma empresa de sucesso, que contribua para a sociedade, para o futuro. Cai na rotina do embrutecimento psicofisiológico, como se ficasse paralisado no tempo, não ginasticando o cérebro, o aparelho simpático e psicossomático, não desenvolve os sinais devidos na massa encefálica e, portanto, não se consegue elevar psicologicamente e elevar-se exponencialmente. O indivíduo que está habituado a uma certa rotina de trabalho, a pensar só de uma determinada maneira, pois pensa em circuito fechado e não consegue abrir novos horizontes e descobrir novos caminhos, para outros regimes, outras expansões de trabalho e inovações de outros cargos, outras direcções que impõem uma nova abordagem de raciocínio, uma nova abordagem de trabalho, portanto uma nova maneira de pensar e agir. Se não conseguir abrir-se, a sua adaptação será difícil. Não basta ter técnica para trabalhar naquele ou aqueloutro trabalho se não souber evoluir e adaptar-se a uma nova situação, a uma nova maneira de estar e uma nova abordagem de pensar para conseguir resolver o problema e trabalhar em harmonia com a nova situação. Por isso é preciso estar aberto a novos horizontes e ter um certo conjunto de habilidades que lhe vai permitir encarar com naturalidade o novo emprego, o novo trabalho, adaptando-se facilmente a esta nova realidade. O Homem é adaptável a qualquer tipo de ambiente, a qualquer tipo de trabalho, se estiver qualificado para isso e se não estiver tem de qualificar-se, o que a empresa terá obrigação de o fazer ou qualquer outra 11


instituição para o efeito. Seja a curto prazo ou a longo prazo, a pessoa tem de estar preparada para o fazer e para isso tem de ter várias ferramentas ao seu dispor para levar a cabo uma determinada tarefa, seja ela qual for. A máxima potência do Homem é o querer. Querer é poder. É ter vontade para fazer algo. Pensa, materializa e constrói. As suas competências são ilimitadas, mas muitas vezes malgastas ou direcionadas. Muitas vezes há o querer, mas não há os meios com que fazer. Outras vezes há os meios para fazer, mas falta-lhe a força de vontade ou mão de obra qualificada para o fazer. É o suficiente para começar o embrutecimento do homem e da sua maneira de estar. Não evolui, não quer evoluir e mantém estupidamente a posição de não querer evoluir ou saber. Tem as técnicas ao seu dispor, mas a sua baixa educação e visão não o permite. Faz aquilo que os outros pensam e não aquilo que ele pensa, pois é mais fácil seguir o caminho que os outros lhes indicam, deixando-se viciar pelo inactivismo cerebral e braçal, vivendo à custa de outros. Torna-se num simples animal domesticado nas suas baixas convenções humanas. Veste-se, alimenta-se, trabalha quando há ou quando aparece, faz sexo e dorme, sem pensar no dia de amanhã. Faz aquilo que mandam e mais nada. Uma autêntica despersonalização individual sem qualquer tipo de carácter ou esperança de evoluir para uma vida melhor, ou está à espera que lhe caia alguma coisa do céu. Pode ser bom para os políticos, mas não é para a maioria da população, em que a maioria vive como térmitas. Vive do consumo e é consumida pela exploração do trabalho. Mal tem tempo para fazer seja o que for fora do seu âmbito de rotineiro. Alguém disse que a falta de tempo era desculpa de quem perdia tempo por falta de método. Pode ser verdade, mas tem o seu quê. Perde-se muito tempo em coisas mesquinhas e insignificantes. Outro alguém dizia que o tempo é dinheiro e por isso fazer bem e depressa é o lema. Sociedade de consumo que não é só 12

capitalista como economicista. E isto leva-nos a uma pergunta impertinente… Quem hoje apesar de haver socialismos, não se quer aburguesar? Fala-se muito em sociedades justas e igualitárias. Os factos apontam na direcção contrária… Se um indivíduo tem um carro, porque é que outro não há-de ter também? Á resposta é simples. Se não tens dinheiro para um carro, compra uma motorizada ou uma bicicleta. Costuma-se dizer que o Homem é igual ao nascer e ao morrer, mas a sociedade é que os divide ao longo da vida, fazendo fossos. Na vida do Homem, a melhor medida, deve ser constituída pelo seu próprio carácter e determinismo e não pelo seu poder ou fortuna. E isto deve ser introduzida na sua própria educação ao longo da vida. Para se melhorar a forma de viver de um indivíduo é criar uma empresa de tal ordem, em que se deve avaliar a espécie de comunidade que cria pelas suas variadíssimas técnicas sem fins lucrativos, de maneira a criar uma eficiente produção de géneros, de maneira ao aparecimento do orgulho e satisfação pelo trabalho de modo a enriquecerem a vida da espécie humana, não tornando-as simples engrenagens humanas fazendo parte de uma grande máquina. Seria maravilhoso que um indivíduo conseguisse ocupar-se com satisfação durante toda a sua vida até à sua reforma de maneira depois a apreciá-la devidamente feliz e sem sobressaltos. O problema é que isto não é para todos. É só para alguns. Hoje, poucos são aqueles que conseguem concretizar com satisfação o trabalho que faz. A maioria é por opção de segunda ou terceira categoria. Porque quando uma pessoa trabalha naquilo que gosta, faz por gosto, tem mais criatividade e produz mais. Não tem limitações. É tudo uma imperfeição que se torna numa perfeição autêntica, pois nada será monótono e cria sinergias. E isto torna-se em arte. E a arte nas suas variedades e vertentes está realmente no mundo em que vivemos, 13


vivendo em alegria, realçando a beleza das coisas, socializando harmoniosamente com a própria Natureza.

SER OU NÃO, OPÇÃO

Uma meta da qual estamos longe de a atingir, embora teoricamente possa ser alcançável, é uma Utopia nos dias de hoje, porque a sociedade em si, o sistema e as políticas ainda não estão suficientemente desenvolvidos. Além disso o Homem também não é um ser ainda perfeito, que ainda está em desenvolvimento, mas que ainda tem uma costela da sua natureza selvagem.

A realidade (do latim “realitas”, isto é, “coisa”) significa em uso comum «tudo o que existe». No sentido mais livre ou liberal, o termo inclui tudo o que seja preceptivo, acessível, ou entendido pela ciência, filosofia ou outro qualquer outro sistema de análise.

Também precisamos de nos libertarmos das preocupações económicas opressivas, dos impostos que pagamos que são excessivos e que não vemos os benefícios, para fazermos o que agradavelmente gostaríamos de fazer. Devemos de redopiar a noção de que qualquer modificação social constitua um processo susceptível de alterar os nossos status quo tranquilo. Devemos de lutar para libertar as nossas mentes acorrentadas de antiguidades, deixando que as torrentes sociais em modificação para o melhor ou para o pior, diferentes, avancem paralelamente à nossa linha de pensamento para podermos criticar positivamente as nossas próprias modificações sociais, os nossos defeitos e preocupações para promove-las para um melhor caminho, uma melhor maneira de viver. Só assim, vivendo diferentes maneiras sociais e políticas, nos poderemos comparar e divergir para um melhor caminho, modificando as linhas sociais e políticas, de maneira a tornarmo-nos uma sociedade modelo. É uma empresa grandiosa que pode demorar décadas ou mais, começando na educação e na mentalidade das pessoas. É através da História que as sociedades do futuro nos criticarão.

Para Platão, o homem estava inserido em dois tipos de realidades diferentes, que eram chamados por ele de realidade inteligível e a sensível. A primeira reflete aquilo que podemos distinguir e expressar a outrem. É a realidade imutável das coisas. A segunda, como o nome sugere, é aquela que afeta os nossos sentidos, que são dependentes e modificáveis. Essa divisão das realidades em que o ser humano está em contato é a famosa teoria das ideias de Platão. É possível fazer a distinção entre diferentes tipos de realidades já que, face à amplitude do conceito, circunscrevem-se os factos a certos sectores ou considera-los de formas particulares para realizar um recorte. Neste sentido, pode-se dizer que a realidade social é uma construção simbólica desenvolvida por uma sociedade determinada. É importante entender a diferença entre a realidade objectiva (aquela que existe independentemente do observador) e a realidade subjectiva (“construída” de acordo com a perspectiva individual). A realidade social, neste sentido, é uma combinação de múltiplas subjectividades, que leva a que uma comunidade analise aquilo que acontece a partir de certos parâmetros, prejuízos, etc.

A Utopia do passado é a realidade de hoje, como a Utopia de hoje será uma realidade no futuro. A própria História está sempre a reescrever-se.

São as pessoas que convivem numa mesma sociedade, por conseguinte, aquelas que constroem a realidade social a partir das interacções que mantêm entre si e com o meio. Neste processo dinâmico, a comunicação joga um papel essencial para a transmissão dos conceitos e para partilhar as ideias.

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Por extensão, a realidade social é influenciada pelos meios de comunicação massiva, que permitem levar uma mesma mensagem a múltiplos receptores em simultâneo. Isto revela o poder que os meios têm: uma ideia transmitida através deles pode modificar a realidade social, isto é, alterar a forma como a comunidade entende aquilo que acontece dentro da sua própria sociedade.

Muitas pessoas têm animais de todos os géneros a viverem consigo para se agarrarem a uma existência que para elas é real, para saberem que ainda existem, para se sentirem seguras e esquecerem-se que não passam também de simples animais sociáveis organizados, domesticados pelo sistema laboral e político, que vivem pela sua forma de pensar, pela sua forma de ser.

Um indivíduo sonha com a realidade, quando a realidade que vive não passa de um sonho, de uma ilusão dos nossos próprios sentidos. Não podemos transpor qualquer dimensão porque a nossa própria dimensão é volátil e quimera. Pomos medidas para poder medir aquilo que não é mensurável, porque os nossos sentidos deformam a versatilidade das dimensões de qualquer objecto, seja ela dimensional, tridimensional ou mais dimensões. Achamos que é um facto, uma realidade mas, tudo aquilo que escrevo não passa de uma alienação e dissertação dos meus sentidos, portanto dos mesmos sentidos etéreos que não passam de ilusões quiméricas para podermos agarrarmo-nos a qualquer coisa que sentimos crer, que seja uma âncora a que nos podemos agarrar, para nos segurarmos em terrenos escorregadios, quando não cremos, pois ele é invisível a qualquer objecto ou ser que sabemos que tem uma forma, um nome, quando pode ser outra coisa qualquer, qualquer outra coisa para servir ou ser servida. O nosso império dos sentidos é tão paradoxo e desigual, como maravilhoso e exponencial, que não podemos mesurar aquilo que temos diante dos nossos olhos, dos nossos pensamentos ou sonhos, pois tudo é relativo e sujeito à discussão, da nossa maneira de ser, de ver, de sentir, que tudo pode sair deturpado, deturpado daquilo que nós somos, isto é, imperfeitos.

Nada é tão subtil, nada é tão paradoxo que o ser humano, que o ser humano ser tão subtil e tão paradoxo nos seus impérios que não sentem, mas que sabem que existem, mas que não sabem daquilo que existe, quando aquilo que existe não sabem ou não querem ver. Muitos vivem numa realidade alternativa, numa realidade digital, que confundem com a realidade existencial dentro de uma sociedade com regras e com virtudes.

Não! Eu não sou eu. Sou qualquer outro ser pensante no multiuniverso presente e invisível, multidimensional de vários eus, que pode ser bizarro, mas ao mesmo tempo comum. Porque tudo o que existe deixa de existir na nossa não existência. 16

Nada mais do que um mudo auditório que me houve, mas que não me vê, sabem da minha presença, quando a minha existência não está presente, flutua em gás inerte que não é, pois é dinâmico e interativo, e que vê todos de um plano tridimensional ou multidimensional, com conhecimento das causas e efeitos, das vibrações harmónicas, pois é assim que se conhece as verdadeiras personalidades que não existem mas que metafisicamente existencialistas existem nos nossos planos dimensionais e percecionais. Tudo é e não é ao mesmo tempo. Basta pormo-nos em cada plano e vemos uma dimensão nova que não sabemos especificar, mas, no entanto, ela existe, pela teoria das cordas. Cremos crer naquilo que vemos, examinamos, experimentamos e andamos à procura dos factos, que nem sempre são palpáveis, enchendo o espírito de dúvidas e em que os próprios olhos não acreditam naquilo que vêm, pois a sua concepção de Universo e do conhecimento existente, nega a existência de tal facto. Os nossos sentidos estão condicionados e limitados não só pela nossa educação, da nossa religião, como do 17


cepticismo desmedido do que está a ver e que não quer acreditar, preferindo ficar “cego”, negando tal existência. Impõe-se a si próprio o ostracismo de querer elevar-se e de ir mais longe no conhecimento, e acho que não é um complexo hereditário. É o complexo do medo, do desconhecido, da heresia a que ficou sujeito, do impedimento da carestia educacional. É a isto mesmo que podemos especificar aos condicionalismos, aos fundamentalismos do pensar humano, na crítica fatalista, das suas poções mágicas religiosas, dos seus slogans estereotipados para fazerem lavagens cerebrais e sondagens às mentes humanas, que se deixam levar como cordeirinhos para o curral crematório das fatalidades, fazendo falsas felicidades das suas próprias existências. Vivem um mundo que julgam ver, creem naquilo que não vêm, quando estão num mundo que não vivem, nem creem naquilo que deviam de crer e ver, vivendo num mundo digital do Second Life. Para acabar é bom saber quem somos nós e há que saber qual é a nossa unidade social (a sociedade nacional), como País, qual é o quadro social (e portanto também territorial) no que se dá a luta de classes, quais são os nossos interesses dentro desse quadro e daí derivada qual é a nossa identidade nacional e social. É a nossa opção existencial do ser e do saber estar.

Dissertações bíblicas Todas elas podem ser discutíveis, polémicas, mas ninguém pode discutir que tem um fim de elevação humana, que tem uma moral, uma ética, seja qual for a religião que a pessoa professa, desde que não tenha princípios fundamentalistas. As religiões, quaisquer que elas sejam ou derivam, têm um princípio dogmático e baseiam-se sempre numa trindade. Para a maioria das pessoas que leem a Bíblia, a ideia de um único Deus, Javé, parece ser clara. No entanto, tanto a Bíblia quanto algumas descobertas arqueológicas deixam entrever que nem sempre foi assim. Antes de uma elaboração teológica monoteísta no antigo Israel havia uma realidade religiosa politeísta, da qual Javé também fazia parte. A pesquisa busca elucidar essa realidade, perguntando pela presença da divindade feminina, em especial Aserá, pelos impactos da reforma de Josias (em meados do século VII a.C., no antigo Israel) e as relevâncias da discussão sobre a Bíblia.

E esta é uma das várias verdades, uma das nossas opções.

Esta dissertação tem como objetivo fazer uma discussão sobre o (a) jovem na bíblia hebraica e seus provérbios e, a partir desta reflexão, fazer uma crítica dos provérbios e ditos populares sobre o (a) jovem na bíblia e hoje. Começa por uma abordagem das palavras que davam significado para pessoas hoje chamadas de jovens, na cultura bíblica hebraica. Contextualiza as palavras, percebendo que os (as) jovens, com o desenvolvimento da história, foram sendo excluídos da sociedade. Refaz o caminho da constituição do sistema monárquico em Israel, em vista de perceber as estruturas de dominação que se formaram com o advento da monarquia da parte dos anciãos. Aborda também o movimento sapiencial na perspectiva de constatar que este movimento literário foi cooptado pelos anciãos para justificar seus interesses próprios de dominação social. Discute,

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Temos que ter claro que o nosso carácter histórico como seres humanos está marcado pola sociedade e a época na que vivemos, que no nosso caso é em Portugal no presente. As nações, os povos e as classes existem objectivamente e determinam o nosso papel na história. O carácter nacional não nos faz nem melhores nem piores que outro povo, só nos faz únicos. Em síntese: toda a obra social concreta tem um carácter histórico e nacional. Portanto, não podemos falar de Pátria, povo, nação, sociedade, ou classe obreira, sem ter identificado de qual estamos a falar.


também, a questão do conflito de gerações existente na cultura hebraica e hoje. E, por último, faz uma abordagem dos provérbios sobre os (as) jovens hoje, percebendo as estruturas de dominação implícitas nos mesmos. Faz uma crítica dos provérbios, questionando como acontecem as relações em vista da libertação dos (as) jovens. Vivemos uma crise ambiental sem precedentes na história mundial, causada pela ideia antropocêntrica de mundo da sociedade Moderna. Textos ecocêntricos do Antigo Testamento da Bíblia possuem valores distintos dos ideais sobre a natureza propostos pela Modernidade. O presente trabalho destaca, a partir de uma pesquisa bibliográfica e através de uma abordagem temática que não faz a exegese dos textos e sim apresenta os estudos feitos pelos exegetas, os valores ecocêntricos contidos nos textos de Gênesis 1,1-2,4a; 6-9, Êxodo 23,10-11, Deuteronómio 22,6- 7; 20,19-20 e 23,13-15, Salmos 8 e 104 e o livro de Jó. Percebe-se que os valores contidos nestes textos da tradição judaico-cristã podem ser utilizados pela educação ambiental de forma interdisciplinar, contribuindo para o atual processo de construção do novo paradigma ecológico. É tão actual como o foi no passado. Têm valores que nos conduzem ou deviam de conduzir para uma vida mais salutar. Nos tempos modernos, a visão de que a Bíblia deve ser aceita como historicamente exata e como um guia confiável para a moralidade tem sido questionada por uma corrente de muitos acadêmicos, no campo da crítica bíblica. A maioria dos grupos cristãos afirmam a inerrância bíblica, e muitas vezes se opõem a interpretações da Bíblia que não são tradicionais, ou "leitura comum". Alguns dos círculos mais conservadores cristãos acreditam que a tradução King James da Bíblia é a única tradução exata inglesa da Bíblia, e aceitam-na como infalível. O fundamentalismo cristão, assim como grande parte do judaísmo ortodoxo, apoiam fortemente a ideia de que a Bíblia é um registro histórico preciso de eventos reais e uma das principais fontes de orientação moral. 20

Além dos problemas sobre a moralidade, a inerrância ou historicidade, subsistem algumas dúvidas de que os livros deveriam ser incluídos na Bíblia (cf. Cânon bíblico). Judeus descontam o Novo Testamento e os judeus e os cristãos desacreditam na legitimidade dos apócrifos do Novo Testamento. Mas, se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente. Gálatas 5:15 A crítica bíblica é uma atividade necessária para o aprofundamento do nosso conhecimento bíblico e teológico. As afirmações do texto bíblico são basicamente teológicas, devido a isso, é impraticável ousar fazer uma análise exegética crítica sem levar em consideração o conteúdo teológico do texto. Não devemos nos esquecer de que não pode haver uma boa teologia sem crítica. Também não pode existir uma boa crítica sem teologia. A Bíblia, definitivamente, não é um livro de ciência, antes, suas preocupações e enfoques são teológicos. Sua preocupação não está no “como” e no “quando”, mas no “quem” e no “por que”. Consequentemente, qualquer intérprete que se aproxime das Escrituras não pode ignorar esse “fundamento” em seu processo interpretativo. Vivemos em uma sociedade onde as pessoas querem tudo na hora, são muito exigentes e cobram bons resultados o tempo todo seja no trabalho, na escola, em casa e até dentro da própria igreja. Mas, nós não somos máquinas! Somos seres humanos e estamos sujeitos a falhas. O problema é que alguns não conseguem entender isso e a única coisa que sabem fazer é nos criticar. Eu mesmo já recebi várias críticas durante a minha vida e acredito que ninguém gosta de ser criticado, principalmente quando esses julgamentos não fazem sentido. A ciência tenta provar pela prática, a religião pela teologia e filosofia, mas hoje isto só não chega, porque a informação vem de todo o lado e muitas vezes costumamos questionarmo-nos sobre o 21


porquê, se é mito ou realidade, se é histórico e se realmente aconteceu. A prática pela ciência é a descoberta, é a procura de utensílios, de papiros, da procura dos lugares aonde se julga que os factos se passaram, descritos na Bíblia e noutros livros antigos. Portanto, estudam os fenómenos que os livros religiosos descrevem. Em algumas coisas são bem-sucedidos, noutras nem tanto, pois ronda o paranormal e outros fenómenos como a levitação e outros, em que existe bastante ceticismo em explicar tais fenómenos e de como acontece, qual é o estado e a zona cerebral que comanda tais forças. A transmissão de pensamento, a telepatia, a viagem astral. É um campo obscuro da ciência, quase tabu, em que se realizaram algumas experiências em humanos e animais, e agora com a nanotecnologia, a bio nanotecnologia e a teoria quântica, a teoria do entrançamento, está-se lá a chegar. Com aquilo que sabemos hoje, cosmologicamente, podemos interpretar os livros religiosos sobre outro prisma, com uma visão mais alargada e sem dogmatismos. Mas para mim, a Bíblia ou qualquer outro livro religioso, é antes de mais um livro sobre conduta social, de como nos devemos comportar e relacionar com os outros, fazendo uma melhor sociedade, do qual ainda hoje andamos à procura. É também antes demais, um livro histórico, um livro de como a Humanidade nasceu, um livro que dá as regras da maneira como nós devemos de viver. É um livro que nos conta os erros, as imperfeições, as fragilidades que temos e a ascensão que almejamos um dia ter. Nós somos a imagem dos nossos deuses. Nós somos os adamitas. Nós somos os filhos ilegítimos dos anjos caídos. Somos as diversas raças que espalharam pelo Planeta. Pode-se mesmo dizer que nós fomos criados em ambiente controlado e numa proveta há milhares de anos. Pode-se também dizer que nós pertencemos às estrelas, que somos filhos delas, de alguma que explodiu algures no Universo e que chegou a Terra, ou de outro suposto planeta, que aterrou aqui, que alguém nos diz que cada 22

quantum de energia, cada “grão” de matéria, está ligado a um quantum espiritual. Portanto todo o Universo, para além da matéria, também é espiritual. Até o próprio Einstein diz-nos que até onde as leis da matemática se referem à realidade, não são certas; e até onde são certas, não se referem à realidade. Hoje com os progressos existentes e a História sempre a reescrever-se, pode-se dizer que nada é imutável, e as leis estão a ser mudadas ou transformadas pelas excepções que nem sequer vislumbraríamos num passado recente e outras num futuro ainda distante. Isto quer dizer que Deus também joga aos dados. A nossa mente não consegue abranger o infinito, embora tenha conhecimento dela, não tem a clarividência necessária para se elevar a um novo grau, a um degrau superior. Claro que tudo isto é relativo e discutível, até prova contrário, é o que temos de apalpável agora. E isto só se altera quando tivermos nova informação, novos factos e novas ideias de maneira a alcançarmos o que hoje não é possível. Voltamos ao princípio. Será que a religião seja ela qual for, está no nosso ADN? Será inteligente dizermos à carne que é da carne e ao espírito que é do espírito? Porquê? Elas não se conjugam? Claro que sim. A única diferença é que a carne é mortal e perecível e o espírito é imortal enquanto o Universo existir, porque ele é a Biblioteca de todo o conhecimento de todos os seres vivos inteligentes, no passado, no presente e no futuro. É a Trindade. Não existe Tempo. É intemporal porque nós somos limitados perante tal grandiosidade, perante tal imensidade.

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O homem perante a sociedade e o mundo O homem, sem dúvida alguma, é um ser eminentemente social, isto é, tem inerente em si à perpétua tendência a ser agrupar, de unirse a seus semelhantes, não só para lograr atender aos fins que busca e deseja, mas também para satisfazer suas necessidades materiais e de cultura. A vida do homem decorre em convivência: os indivíduos em todas as etapas de suas vidas, do berço ao túmulo, mantêm entre si mútuas e constantes relações de colaboração e de dependência. Dessa forma, pode-se considerar que a vida em sociedade é o modo natural da existência da espécie humana. Realmente, os homens a todo instante, para atenderem à satisfação de seus anseios e necessidades e conseguirem os fins almejados, unem-se, relacionamse, por meio de vínculos das mais variadas naturezas: econômicos, políticos, culturais, familiares, religiosos, etc., contudo a vida em sociedade, além dos benefícios que propicia ao homem, traz consigo a possibilidade da criação de inúmeras limitações que, em certos momentos e determinados lugares, são de tal modo numerosas e frequentes que chegam a afetar seriamente a própria liberdade humana; Poder Social: a questão do poder está inserida numa das temáticas mais importantes da vida social, afinal é ele quem trata diretamente da organização e funcionamento da sociedade. Com relação à estrutura desenvolvida, adotou-se a seguinte forma: de início, tratou-se do HOMEM NA SOCIEDADE: “A sociedade mais parece uma prisão que qualquer outra coisa. E a compreensão sociológica só nos ajudou a identificar mais de perto todos os personagens, vivos ou mortos, que gozam do privilégio de no oprimir”. E depois se tratou da SOCIEDADE NO HOMEM: “Cada sociedade produz o homem de que necessita”.

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A sociedade determina não só o que fazemos como também o que fazemos. A localização social não afeta apenas nossa conduta; ela afeta também nosso ser. Examinaremos mais três áreas de investigação e interpretação, as da teoria do papel, a sociologia do conhecimento e a teoria do grupo de referência. Embora um individuo médio encontre expectativas muito diferentes em diversas áreas da vida, as situações que produzem essas expectativas enquadram-se em certos grupos. Um papel, portanto, pode ser definido como uma resposta tipificada a uma expectativa tipificada. A sociedade pré-definiu a tipologia fundamental. A sociedade proporciona o script para todos os personagens. A relação do Homem com o mundo é marcada por uma enorme complexidade e diversidade de situações existenciais. O homem nasce num mundo que lhe é pré-existente. Este é um facto incontornável que é preciso ter sempre em conta. De certa forma todos somos o produto do meio em que nascemos, da nossa inserção cultural e social. Viver implica antes de mais nada uma adaptação às diferentes situações que nos deparamos ao longo da vida, o que é feito através de processos de socialização e aprendizagem. Esta visão global que é em todos os sentidos vasta e complexa, é de uma importância vital, porque apesar de tudo, compete ao Homem supervisionar a sua conduta perante o meio em que vive em comunhão com a Natureza, de ter uma autocrítica ajustável e determinante de maneira que possa mudar a sua maneira de viver e de não matar o que o rodeia, pelo contrário, melhorá-la. Claro que sabemos que em tudo o que tocamos, transformamos. Ao longo de milhares de anos que o Homem vem transformando o Planeta, e tem deixado uma pegada ecológica nada agradável. Tem vindo a escrever a sua própria história e alterando-se a si próprio e ao Planeta. No século passado e neste muita coisa se passou, muito 25


se evolui e muito se estragou e derramou fluidos perigosos por todo o lado, desperdícios e plásticos por todo o lado e pelos oceanos. Há muitos problemas sociais, raciais, rurais, em que são abrangidos por vários continentes, em que a guerra e a fome, as alterações climáticas, o buraco de ozono, nos deixam apreensivos, já para não falar de fundamentalismos e terrorismos que grassam alguns países e que põem as populações em alerta. É uma continuação do passado para o futuro, em ciclos, em diásporas. Todas estes acontecimentos pesam ou deviam de pesar na consciência das sociedades e da maneira como se comportam. Portanto vou citar alguns indivíduos acreditados pelas Ciências e vou também dar algumas explicações e criticar ou criticá-los, e até tentar acrescentar mais alguma coisa de valor sobre o assunto ou vários assuntos postos em cima da mesa, da actualidade, e da maneira como devíamos de encarar e de como os políticos na maior parte das vezes nem se incomodam a não ser quando lhes batem à porta. Para além do critério deles, do meu, fica em aberto o vosso critério, para poderem pensar sobre os problemas actuais que pesam sobre as nossas cabeças. Quero frisar também que tudo aquilo que escrevo, alguém já escreveu, alguém já alertou, é inteiramente independente e sem interesses ou simpatias por qualquer partido político. Não posso dizer que seja apolítico, porque não sou, mas também não demonstro tendências para novas políticas, a não ser para melhorar as que já estão, a terem uma nova visão, um novo paradigma, sobre tudo o que se está a passar no Planeta. O que quero dizer é que o Homem tem e deve de mudar de rumo, de abrir novos horizontes político-sociais para o bem-estar da Humanidade e do próprio Planeta de maneira que não faça acções e opções para a sua própria extinção. Porque o Homem criou fantasmas. Porque o Planeta e a Humanidade correm o grave risco de uma catástrofe irreversível, que já existe nalguns pontos do Planeta, se a estrutura política 26

actualmente em vigor não for alterada de forma drástica e acentuada durante as próximas décadas. Há já quem diga que vivemos já num ambiente de risco elevado e que as tendências que criam o presente nível de poluição, de aumento de temperatura, continuaram a aumentar o perigo e de reduzir as possibilidades de os controlar criativamente… Há quatro ameaças interligadas para o Planeta que ainda estão em acção e que continuarão: guerras de destruição em massa, excesso de população, poluição e quebra de recursos. Está a haver um maior aumento de aridez e recuo de terras aráveis. Todas elas têm um efeito acumulativo, que se interligam e fazem uma soma vectorial ou exponencial de uma maneira tal em que um problema de uma determinada área se torna mais difícil de ter uma solução para alterar a situação e reverte-la. Umas são mais fáceis do que outras, mas todas elas denotam deterioração e alteração de paisagem e temperatura. A base destes quatro problemas consiste na ineficiência dos Estados soberanos para gerir tais assuntos ou minimizá-los a curto espaço de tempo, e quando actuam, normalmente já é tarde. O que estamos a assistir hoje, já foi noticiado há trinta ou mais anos do que ia acontecer, e pouco ou nada se fez. Portanto, este é um dos principais problemas que nem as cimeiras de Quioto ou de Paris conseguem interagir com os países de maneira a conseguirem reduzir todos os níveis poluentes e de tentar baixar ou nivelar a temperatura. Há muitos “interesses”, muitos lobbies em sentido contrário, sem se preocuparem com a qualidade dos povos, da atmosfera ou dos CFCs. Mais buraco, menos buraco do Ozono, não importa. O que importa é o consumismo, a economia, o materialismo. O resto… Depois há-de de ser ver. Muitas coisas que vemos hoje e que não devíamos, deve-se à incúria, ao egoísmo e à avareza. Não há falta de informação. Há 27


falta é de cultura, de formação cívica e de educação. A nossa civilização estruturada, metódica, altamente industrializada, altamente comercializada, altamente cientificada, sejamos tão bárbaros, tão selvagens, tão cretinos, em comparação com os avós da Idade Média, ou mesmo ainda antes, ou que se vê ainda nas tribos ameríndias, nas tribos da Nova Guiné, Papua ou Austrália… Continuamos a ser os mesmos sapiens que sempre fomos, mas com novas armas, novas técnicas. Desde que o Homem apareceu que começou a poluição. Portanto a poluição existe há muito tempo, mas hoje tem proporções alarmantes em todo o Planeta. Acentuou-se mais com a Era Industrial nos fins do século XVIII, princípio do séc. XIX e tem vindo sempre a subir até aos dias de hoje. Há cidades em que a poluição é tal que mal se consegue ver a mais de três metros e as pessoas têm de usar máscaras para conseguirem respirar. As sociedades têm responsabilidades do que está a acontecer, não só dentro de si própria, mas em todo o meio ambiente que rodeia e vive, assim como a tem com o Planeta. Neste momento é o Homem que está a fazer ecologicamente a passada que devia de ser consciente, mas que está a mudá-la para a sua própria extinção. Tem as tecnologias ao seu dispor, tem a informação nas pontas dos dedos, tem a consciência de que deve melhorar a sua maneira de ser em relação ao Planeta em que habita, pois é um sistema delicado e complexo, em que todas as coisas estão interligadas e que o Homem está a mover forças que ainda não a compreende e não a controla. E estas forças podem virar-se contra ele mesmo. O Homem tem ou pelo menos devia de ter, responsabilidade sobre si próprio, responsabilidade perante a sociedade em que vive e pelas outras, respeito e responsabilidade pelo próprio Planeta.

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História aparente do homem Quando as pessoas assumem que tem nas mãos o seu destino e descobrem que a construção da sociedade depende de sua vontade e de suas escolhas, a democracia pode tornar-se uma realidade. Como a ordem social é criada por nós, o agir ou não agir de cada um contribui para a formação e consolidação da ordem em que vivemos. Por outras palavras, o caos que estamos atravessando não surgiu espontaneamente, mas fomos nós que o criámos. A desordem que tanto criticamos também foi criada por nós. Sabemos sobre tudo que o homem vive em uma preocupação perpétua, dando razão ao pensador alemão, que pregava a vida e dor e tédio, que estamos apenas sobrevivendo neste inferno dantesco e não é difícil notar que estas verdades são reais, que estamos sempre preocupados com nossas dívidas , buscando algo para adquirir mais conforto, mais amor, mais beleza; estamos sempre preocupados com nossas dividas, nosso trabalho, o que nos lança a um presente perpétuo, que não estamos vivendo no presente, mas estamos sempre vivendo ou no passado, ou no futuro; a sociedade de consumo que vivemos nos levou a esta loucura, a este presente perpétuo; estamos sempre buscando algo que nunca iremos atingir principalmente quando nós que vivemos na era do avanço tecnológico, nunca teremos uma duradoura paz nas nossas consciências... Pois invertemos a lógica que por séculos moveu a humanidade, aparecendo à necessidade que se cria o produto, nos dias de hoje e o contrário, crie o produto e depois estimule o desejo, a necessidade não é importante, se olharmos em nossas casas veremos que 80% do que acumulamos foi fruto de nossa insatisfação temporária connosco mesmo. 29


Por isso, por mais que tente fugir, não consigo, devido ao desejo de ter ou ser mais alguma coisa na vida. Estou encurralado por todos os lados por uma simples palavra: política, talvez duas: consumismo… Ambas não são assim tão pequenas, mas têm a sua complexidade. Tão teóricas, tão abstratas, como praticamente realizáveis, idealizáveis, por vezes sonhadoras e muitas vezes com péssimos frutos sociais. O que vemos nós nesta Terra pródiga de mil contrastes, fazem mil e uma vilanias, mil e uma explorações, mil e uma noites transformadas em pensamentos formosos e enganosos, de belos factos com péssimos proveitos de males cheirosos. O que vemos hoje nos povos, através dos seus credos, das suas políticas, das suas técnicas militares de suposta superioridade, que nos conduzem a um vazio, a nenhum sítio a não ser esterilidade de ideias e de propósitos. O Homem sempre foi um ser belicoso, bizarro e sonhador, que luta pela sua sobrevivência, pela sua supremacia, por vezes territorial e que no seu lazer edifica estátuas em seu louvor. Vai modificando, vai destruindo a Natureza que o rodeia, os animais, vai-se destruindo a si próprio por causa do seu egoísmo, da sua hipocrisia, da sua vilania, da sua própria natureza de animal entre os animais, que está no topo da cadeia e a todos dominar, deixando pouco espaço para a complacência, para a misericórdia, apesar de ser um ser suposto religioso, com alguma ética e moral. Deixemo-nos de religiões supérfluas, deixemo-nos de políticas artificiais que não nos conduzem a nenhum lado a não ser ao descalabro, ao caos, a revoluções e tumultos sociais. A política actual é uma autêntica poluição da verdade política, sem transparência ou casualidade de alguma verdade. Isso leva-nos a uma pergunta… Porquê a política e com que fim ela existe? Bom… Quer queiramos ou não, todos os animais superiores são políticos e fazem diplomacia e acordos. O problema não é a política em si, mas a maneira como a aplicamos para melhorar a nossa essência. Há muitas variedades e 30

ideais políticos, muitas vezes controversas e polémicas. Não é o comunismo que se praticou no passado recente, nem o de hoje, não é o socialismo, passado ou presente, não é a democracia liberal, não é a anarquia científica, muito menos uma ditadura, seja ela qual for, que leva o homem a viver em amena sociedade, em paz, harmonia, numa comunhão familiar mundial evolutiva. Isto não acontece porque somos imperfeitos, porque somos egoístas e não temos o sentido elevado de ver as coisas noutro patamar, de maneira igualitária. Afinal o que é que eu quero, o que nós queremos? Seremos assim tão ingénuos que continuamos a ver as coisas utopicamente? É uma questão imaginária e impossível de alcançar? Porque será? Seremos assim tão imperfeitos que não queiramos atingir a perfeição? Eu, tu, ele, nós, vós, não conseguiremos mudar a natureza do homem, se não mostrarmos as evidências? Queremos relembrar e efetivar o que os nossos ilustres antepassados pensaram, aquilo que hoje pensamos e alterámos, aquilo que os nossos descendentes tenham do melhor e do que pensarão no futuro, se os conseguirmos preparar para tal caminho. Aquilo que está escrito há muito tempo e que não conseguimos pô-la em prática, aquilo que escrevemos hoje e que não é possível pô-la em prática, aquilo que hão-de escrever para o futuro e que não conseguirão pô-la em prática tão cedo, não porque não queiramos, mas porque temos no nosso ADN a bestialidade, a violência da sobrevivência sobre o meio em que vive e a sua própria evolução morosa. O nosso caminho teve um princípio que está esquecido nas brumas do tempo e da memória, mas escrito pela História, parecendo que não tem sentido, mas é com um sentido que ele vai caminhando, a sua evolução o demonstra, pois ao longo dos tempos foi revolucionando a sua maneira de viver e de pensar, a partir do caos, da inflação dos sistemas adquiridos, da sua elevação e da sua 31


decadência, da sua própria entropia ao longo dos séculos, que conseguiu reverter. Ele próprio vai-se rejuvenescendo. Não é que o Homem seja um ser ignorante. Não!... Longe disso. Ele é um animal curioso que gosta de saber, gosta de descobrir, gosta de experimentar. Além disso também é um ser espiritual. Tem a noção da sua pequenez perante o grandioso, o infinito, de escalas astronómicas. O ser humano possui uma virtude que o diferencia de outros animais: a capacidade de ser criativo, ou seja, ele tem o poder de criar e modificar. Apesar desse diferencial, o mundo, assim como o universo, tem um padrão de estruturação e funcionalidade, sendo assim modificar esse padrão pode trazer severas consequências, se o homem não compreende como o mundo funciona de verdade e o modifica de maneira inadequada, a natureza o há de punir. Atualmente, a mente humana está mudando, agora o homem tem mais noção do mundo no qual abita, desta maneira ele realiza ações para consertar os erros que os antigos cometeram, mesmo assim, devido ao grande estrago ocorrido anteriormente, reestruturar o mundo da maneira adequada não será uma tarefa fácil, além do mais nem todas as pessoas contribuem para isso atualmente, mas, com o passar do tempo, todas as mentalidades podem mudar e o mundo pode ser reestruturado de maneira adequada, tornando-se estável. O problema é que a sua pegada ecológica é de tal ordem, que está a alterar o Planeta e todos os animais que nele vivem. Não só está a levar à extinção variadíssima fauna, como está a contribuir em aceleração, a sua própria extinção.

Até Ao Ano 2000… Estamos em 2018, ainda estamos vivos e passámos o século com distinção, tanto como foi na passagem do ano 1000. Claro que a nossa pegada ecológica deixou marcas para o futuro, assim como a queda de meteoritos em vários pontos do Planeta e outros fenómenos extremos. Portanto aquele mito que dizia que até ao ano 2000 viverás, depois de 2000 morrerás, passou. De algo histórico devidamente comprovado não há quase nada. O “não passarás” se refere à marca indelével que ficou nas almas de muitos como um limite para o desfecho final, após o qual haverá o início da tão almejada paz, ordem e progresso. Em muitos milhões de almas, essa mesma lembrança é despertada, por exemplo, pelo temor em relação a cometas, na realidade ao Cometa do Juízo! Um dos mais antigos exemplos desse aviso nos chegou por meio de Zoroastro, que também conhecia esse futuro evento. Ele viveu na Terra por volta de 500 anos antes de Cristo, tendo deixado a profecia onde Soashyant, o Juiz Universal, não levará indiscriminadamente todas as pessoas para o Paraíso espiritual. Os seres humanos deixarão a Terra e suas almas encontrarão uma estreita ponte pela qual terão que passar, no entanto a maioria não estará segura e despencará num abismo sem fundo e somente quem for julgado inocente poderá passar, e isso será feito de um em um. Várias provas disso estão no calendário descoberto dentro da Grande Pirâmide do Egito. Essa Pirâmide tem uma linha do tempo contínua de 6500 anos. Curiosamente o ciclo astronomicamente conhecido de 26 mil anos se fecha agora, após ser completado seu último quarto de volta.

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Além disso depreende-se do aturado estudo da Pirâmide que hoje a humanidade se encontra no ano de 2000 e não como se pensa comumente que estaríamos em 2012. Há evidências inquestionáveis que a Pirâmide marca o fim de seu calendário neste ano que estamos vivendo atualmente. Após o ano limite, 2012 ou 2000 na contagem do calendário da Pirâmide, não ocorrerá nenhum fim do mundo. Evidentemente o mundo, o planeta Terra, não irá acabar, mas a maneira errada de se viver isso sim vai acabar, não sem antes derrubar muitas coisas. A nova forma de viver será o salvo conduto para quem puder passar para adiante do tempo da execução do Juízo, após julgados pela pena de morte espiritual. Uma maioria não passará. Uma minoria passará. Entretanto esse processo levará décadas, e ninguém sabe se naquela Hora cada um haverá de prevalecer ou não. Portanto essa época é uma época de reflexão e da procura da elucidação da Verdade para a redenção de milhões de almas humanas que, entretanto, serão uma minoria. No século passado apareceram mais de 100000 profetas, a maioria falsos ou charlatões. A História está cheio deles desde os tempos obscuros da longa noite da vida do Homem, desde o seu berço. De tudo o que tenho lido, o que mais me sensibilizou e me chamou à atenção foi que no “Primeiro de Janeiro” vinha uma notícia na página de tempo livre, cujo título era o seguinte: « Fim do mundo será em 1983?» Já outros tentaram prever o fim do mundo e até hoje ninguém conseguiu tal proeza. O mesmo disseram para 2000. Antes disseram para o ano 1000. Lembro-me de um vidente famoso que viveu, se não me engano, no séc. XVIII e segundo reza a história ele nunca se enganou. Esse famoso personagem era o Nostradamus. O outro no século seguinte vislumbrou semelhantes visões até à Atlântida no passado e também para um futuro. Depende da nossa visão e interpretação… Lembro-me de ter lido também que ele fez profecias até ao fim do nosso século e que algumas até agora se têm 34

realizado. A que nos interessa mais, pois ainda estamos vivos para relatar os factos, foi que ele dizia que a Terra acabaria por fogo em 1990 (1999?), se não me engano. Bom… Estivemos muito perto por diversas vezes de começar a III Guerra Mundial. Foi por muito pouco… Quero frisar apenas a título de curiosidade que este senhor fazia as suas profecias com uma bacia ou terrina com água apenas. Ele conseguia “ver “através dela. Não utilizava a famosa bola de cristal como os outros falsos videntes que andam pelas feiras a enganar os incautos. Lembro-me de também de ter lido algures, não sei onde, que o Sol do nosso Sistema Solar, apesar da sua vastíssima idade, ainda tinha uma longa vida pela frente, como um número astronómico de 100X10 elevado a 23 anos ou milhões de anos, e que não nos devíamos de preocuparmos com a nossa vida e sustentabilidade, pois ele tinha energia para nos aquecer e alimentar por muito tempo. Parecendo que não, isto implica muita coisa. É que está tudo relacionado. Há outras teorias como a dos norte americanos John Gri e Stphen Plageman, que explicam que o nosso Sistema Solar se avizinha de uma catástrofe que desmembrará a Terra, através das leis físicas da atracção gravitacional dos astros, das formas elíticas de translação dos planetas que variam de ano para ano, mas não mencionam quando se dará a catástrofe. Bom… Se isso acontecer, também é daqui a milhões de anos. Note-se de que a Lua está a afastar-se da Terra 2,5 cm por ano. Quando a Terra deixar de ter influência sobre a lua, também será daqui a milhares de anos. Por enquanto a Terra só está a atrasar a sua velocidade à volta do Sol. Notar-se-ão que os dias serão maiores. O astrónomo húngaro que marcou o fim do mundo para 1983, que está radicado no Uruguai, pelo nome de Boris Cristoff, expôs a sua teoria do fim do mundo baseado em vários princípios que não vieram a confirmar-se, felizmente para nós! A primeira baseia-se em dados filosóficos legados pelos gregos sobre os quatro elementos: o 35


fogo, a terra, o ar e a água. Ele diz que estes elementos nos últimos 20 anos sofreram contínuos atentados que desmembraram o seu ciclo biológico. Ainda hoje estamos a cometer atentados a todos os níveis e estamos a transformar a Terra radicalmente. Ora, respeitante ao nosso Planeta é um problema que pode ser encarado sobre vários prismas, já que a nossa pegada ecológica é bastante pesada. Principalmente dois que mencionar: já nos apercebemos perfeitamente da mudança das estações, da temperatura, do tempo que vai influenciar directamente ou indiretamente todos os seres vivos e a estrutura da crosta terrestre. Apercebemo-nos perfeitamente que de ano para ano as estações já não correspondem ao calendário tradicional. A temperatura está a subir, as chuvas estão descontroladas, e as épocas que eram diferenciadas, já não são o que eram. Está-se a notar em várias regiões do Planeta que as temperaturas médias estão a mudar completamente, com zonas extremas, em que umas têm temperaturas mais altas e outras muito mais baixas. Não tem a haver com o Sol nem com o Apex do Planeta. Tem a haver com o Homem. O Apex, isto é, o eixo ondulatório da Terra, N, S, geográficos está mais inclinado para o Sol. De 27 em 27 anos nota-se um arco maior no eixo da Terra. Pode-se ver também que através do ponto vernal, ou seja, o ponto do céu onde se encontra o Sol quando na sua trajetória corta o equador celeste no equinócio da Primavera que varia por ano cerca de 50” de arco. A sua variação no céu é, portanto aproximadamente de 1º de arco em 72 A. Este fenómeno é conhecido por precessão dos equinócios. E como o ponto vernal não é fixo nas constelações do zodíaco em relação à Terra, pode medir-se o tempo pelas deslocações das constelações. O que acontece com o nosso Planeta, alterando as condições meteorológicas e fenómenos por vezes extremos, também acontece com os outros planetas, noutras condições, está claro, visto não terem vida ou complexos orgânicos, 36

pela sua diferença de massa e segundo os nossos conhecimentos actuais, embora se possam supor que existem nalguns planetas e luas do Sistema Solar. Estas causas são implicadas por oscilações do planeta e por conseguinte, variações do campo magnético no movimento de translação e de rotação sobre si próprio. Além disso, outra profecia em 2012, segundo o calendário Maia, caiu, porque não foi o fim do mundo, mas sim o fim de um ciclo e começo de outro. Outras profecias se seguirão em breve até ao ano 3000 e todas elas cairão ou serão refutadas, embora já por diversas vezes tivemos ao pé de uma grande catástrofe não só meteórica, como vulcanóloga, com fortes sismos e tsunamis. Os próprios tornados ou furacões estão de ano para ano a serem mais violentos devido ao aumento da temperatura da água. Portanto, mais destruição do foro apocalítico. Cristoff disse-nos que segundo os seus cálculos que em 1981 produzir-se-á a primeira fusão entre planetas maiores: Júpiter e Saturno. Não aconteceu e não acontecerá nos próximos milhares de anos, a não ser que haja algum fenómeno exterior e intrusivo ao Sistema Solar. O que ele previu só se dará provavelmente daqui a milhões de anos, pois ainda estamos todos cá e espero que por muito tempo, embora o Planeta já esteja saturado e um dia teremos de partir para outro lugar. Também o mesmo se verificará para Marte, Vénus e outros. Bom… Também só se tornará a realizar-se quando o Sol estiver a morrer e começar a engolir os planetas interiores, com a Terra inclusive e isso só daqui a milhões de anos poderá acontecer, já nessa altura já temos planetas colonizados noutros sistemas solares. Os cálculos deste senhor estão errados e muito aquém do espectável, principalmente para um cientista. Tanto ele como os norte americanos John Gri e Stephen Plageman estavam errados e equivocados e só estavam certos em parte, mas isso está a acontecer todos os anos e a todo o instante, porque todos os dias somos bombardeados com meteoritos. Tempestades temos em todas as 37


alturas cíclicas meteorológicas, embora sejam cada vez mais violentas; névoas, meteoros, cometas e auroras boreais, estão sempre a acontecer, estão sempre a abaterem sobre a Terra, mas não a destroem. A própria Terra tem uma grande capacidade de protecção intrínseca devido ao seu poder magnético, assim como a sua atmosfera que nos protege de raios cósmicos mortíferos. Além disso temos grandes protetores do Sistema Solar, como Júpiter e Saturno que até hoje têm protegido a Terra de grandes catástrofes cósmicas. Mas uma coisa é certa. Todos nós estamos a contribuir para que o Planeta um dia seja irrespirável, devido aos abusos que cometemos todos os dias com ele, pois a nossa pegada cada vez é mais pesada e leva a alterações drásticas no comportamento do Planeta, se não fizermos nada para baixar a temperatura actual que continua a subir. E isto não são profecias. São previsões. Todos os cientistas neste momento sabem, os políticos foram alertados e compete à maioria dos terrestres decidirem o que querem, se quiserem continuar a viver neste Planeta. Acabo com a profecia suposta para este ano: "Haverá desastres naturais e muitas nações do mundo enfrentarão mudanças", indicou o portal, acrescentando que as profecias de Nostradamus se referem à chegada ao poder de Trump, à sua política de imigração e à sua relação com a destruição de Israel. O ano só está a passar a meio, mas uma coisa é certa: O Trump está a fazer porcaria que chegue e é um perigo planetário. Está sempre a mudar de opinião. O que diz num dia, no outro desdiz. Espero, todos esperamos que tenha melhor senso, e que não viva só na hora, sem pensar nas consequências.

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Materialismo ii O Materialismo como política não serve os interesses do avanço tecnológico e ainda menos das pessoas, visto que elas são mais materialistas e economicistas do que os pensadores e idealistas imaginaram como força política, como técnica e como religião, já que esta a descarta. Mas os cientistas materialistas pensam que sabem, quando, na realidade e de verdade, não sabem. Não só ignoram, mas, o que é pior, ignoram que ignoram. Os cientistas materialistas saem continuamente com muitas teorias. Como exemplo, citaremos a da seleção das espécies: um insignificante molusco vai se desenvolvendo e dele saem outras espécies vivas mediante o processo de seleção até chegar ao homem. Podem demonstrar esta teoria? É óbvio que não! Não negamos que em cada espécie existem certos processos seletivos. Há aves, por exemplo, que migram em determinadas épocas. Ficamos admirados ao vê-las todas reunidas; que estranhas se tornam! Logo, levantam voo para atravessar o oceano e no caminho morrem, sobrevivendo apenas as mais fortes. Essas que sobrevivem transmitem suas características aos descendentes. Assim atua a lei seletiva. Há espécies que lutam incessantemente contra monstros marinhos e, à força de tanto lutar, tornam-se fortes e transmitem suas características a seus descendentes. Há animais que de tanto lutar vão se fazendo cada vez mais fortes, transmitindo suas características psicológicas a seus descendentes.

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A seleção natural nunca pôde apresentar uma nova espécie sobre o tapete da existência. No entanto, foram muitos os que atribuíram à seleção características de um Criador. A realidade é que os cientistas não sabem nada da vida nem da morte, nem de onde viemos, nem para onde vamos, e muito menos qual é o objetivo da existência, Por que? Porque simplesmente têm a consciência adormecida, porque não fizeram a Revolução da Dialética interior e porque estão no nível da hipnose coletiva, massiva, por falta da revolução integral que ensinamos nesta obra. A ciência materialista marcha pelo caminho do erro. Nada sabe sobre a origem do homem e muito menos de sua psicologia interior. Que a lei de seleção natural tenha existido, não negamos, mas ela nada criou de novo. Que as espécies variam através do tempo, não o negamos, mas os fatores de variabilidade de qualquer espécie só entram em ação depois que os protótipos originais se cristalizaram no mundo físico. Os protótipos originais de qualquer espécie viva se desenvolvem previamente no espaço psicológico, nas dimensões superiores da natureza, nas dimensões superiores que os cientistas materialistas negam porque não as percebem. E por que não as percebem? Porque estão hipnotizados psicologicamente. Se eles primeiro saíssem do seu estado de hipnose e depois falassem, seus conceitos seriam diferentes. Mas dormem, por falta de uma dinâmica mental e sexual. Um universo de força, matéria e necessidade não admite variações espontâneas nem acidentais. Essas variações ocorrem nas espécies por algo que eles próprios desconhecem. A ciência materialista não só ignora, mas o que é pior, ignora que ignora. A Antropologia Gnóstica psicanalítica está a mergulhar profundamente no passado. Esta raça humana que hoje em dia povoa a superfície da Terra não é mais do que uma raça de animais intelectuais equivocadamente chamados de homens. Vocês podem-se 40

ofender, se quiserem, mas antes de que esta raça de animais intelectuais existisse, houve civilizações de homens lemurianos, hiperbóreos e polares. Os animais intelectuais provêm da Atlântida, nasceram na Atlântida. Os homens reais da Lemúria, em seus últimos tempos, foram se retirando do cenário do mundo e foram deixando seus organismos para os elementais superiores do reino animal. À raça de animais intelectuais precedeu-lhe a dos homens que existiram na Lemúria, no continente Hiperbóreo e na calota polar norte que, naquela época, estava situada na zona equatorial. Em que se baseia a Antropologia Gnóstica psicanalítica para afirmar isto? Por que o diz? Baseia-se não só nas tradições registradas nos livros do Antigo Egito, da terra Inca, da terra dos Maias, da Grécia, da Índia, da Pérsia, do Tibete, etc., como ainda nas investigações diretas feitas por aqueles que conseguiram despertar a consciência por meio de uma revolução psicológica. Estamos entregando através desta obra todos os sistemas que são necessários para despertar a consciência. E quando vocês despertarem, poderão investigar e comprovar por si mesmos tudo isto que estou afirmando de forma enfática. Porém, é necessário despertar, para apalpar, ver, ouvir e sentir, e não ser vítima das teorias de Haeckel, Darwin, Huxley e tantos outros. Enquanto a lógica formal se rege pelo princípio da nãocontradição, a dialética se define justamente por admitir e reger-se pela contradição. Para a lógica formal “o pensamento da contradição é insustentável porque desqualifica todo o pensamento, que se torna uma opinião sem valor de verdade”, na dialética, por outro lado, a contradição constitui o motor mesmo do real e por esta razão o pensamento deve ser capaz de admiti-la (Cf. JIAPIASSU, MARCONDES, 1996, p. 54). Em outros termos, diferente da dialética, a lógica formal exclui o movimento, a própria mudança, o salto qualitativo e a produção do novo porquanto “implica numa relação de causa e efeito, tal que o efeito já está inteiramente contido 41


na causa” de modo que “o efeito mecanicamente, jamais pode superar a causa ou o sistema de causas; por isso, não pode haver outro desenvolvimento que não aquele monótono e vulgar do evolucionismo” (Q. 11, § 14, p. 1403; cf. também MARTELLI, 1996, p. 70). Em filosofia, materialismo é o tipo de fisicalismo que sustenta que a única coisa da qual se pode afirmar a existência é a matéria; que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e todos os fenômenos são o resultado de interações materiais; que a matéria é a única substância. Como teoria, o materialismo pertence à classe da ontologia monista. Assim, é diferente de teorias ontológicas baseadas no dualismo ou pluralismo. Em termos de explicações da realidade dos fenômenos, o materialismo está em franca oposição ao idealismo e ao metaficismo, deixando bem claro que o materialismo pode sim se corelacionar com o idealismo e vice-versa em alguns casos, mas o real oposto da materialidade é mesmo o sentido da metafisicidade.

que são democratas e leigos, que fazem a separação entre a democracia e a política da Igreja, o certo é que muitas vezes se confundem. Ora o socialismo científico, o materialismo científico não é mais do que uma combinação político-religião em que a técnica está desenvolvida de tal maneira que a formação humana exclui as divindades, os milagres, o dogmatismo, a superstição pelo oculto, pelas coisas desconhecidas e do poder da mente humana. Às vezes penso que querem que sejamos robôs ou zombies. Apesar de toda a evolução destes últimos anos, nenhuma destas teorias evoluiu para a prática, por mais que tentassem, mesmo que alguns países sejam ditatoriais e outros andem em constante guerra sem um fim à vista, como o Médio Oriente, a maioria teocrática e outros a Oriente, em que são comunistas, mas não são materialistas científicos e muito menos socialistas. A razão é simples. Estão a virar-se para o capitalismo, para economias emergentes e para a evolução materialista, mas de bens materiais e não de igualdade ou de equidade e a suposta democracia nunca viu a luz do dia.

O universo da técnica, o universo da ciência e da religião não se compadece com as teorias metafísicas do materialismo em sociologia das pessoas comuns, que pode ou não transformar num universo de técnica cerebral e seja livremente humano de acções e pensamentos de livre arbítrio. Isto não põe em perigo qualquer religião, a não ser que ela seja abafada ditatorialmente. E não é a doutrina de Marx ou de Engels que deita abaixo a doutrina de Cristo ou outra doutrina qualquer, porque, embora digam que não tem qualquer fundamento religioso, na verdade se vermos bem as coisas eles seguem a matriz da revolução das doutrinas existentes, inseridas numa nova política, numa nova visão, uma evolução ao longo dos tempos, e que no século passado apelidaram de socialismo científico.

A vida humana não é somente uma luta com a matéria, mas também uma luta com a sua consciência, com a sua ética e moral, perante a sociedade em si e o mundo que o rodeia. Tem uma responsabilização perante o Planeta.

Desde tempos antigos que a teocratização está entre os vários tipos políticos, fundindo-se, embora alguns países ocidentais digam

Para o marxismo, nada existe no mundo se não matéria em evolução, sendo essa matéria extremamente complexa, mesmo ao

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Temos que ver o materialismo em abstrato. Tanto o materialismo como o anarquismo são muito bonito na teoria, mas quando se passa para a prática, falha rotundamente. E quando é imposta pela força, mais tarde ou mais cedo acabará por cair por terra. Pela outra vertente a matéria abstrata é tudo aquilo a que chamamos como energia negra, matéria negra, é tudo aquilo que não vemos, que não apalpamos, mas é como o vento. Sentimos, temos a noção, mas não sabemos o que é.


nível mais simples das partículas subatómicas e o problema do indeterminismo que daí se extrai, não à incognoscibilidade da matéria para o observador ou o triunfo do irracional, mas o facto de que tudo não corresponde às falsas imagens mecanistas e simplistas que haviam sido forjadas de maneira antropomórfica. A matéria não é inesgotável, como muitos pensam, pois acham que os recursos são ilimitados. Quão longe estão da verdade! Está sempre a transformarse e nós estamos sempre a transformá-la e a extrair demasiados recursos que um dia se esgotarão. A vida e o pensamento são apenas propriedades da matéria, tentando-se, porém, de matéria altamente complexa e organizada, o que lhe outorga propriedades novas e evolucionárias. Não se deve assimilar o vivo e o inanimado, o homem como ser pensante e animal, com os outros animais, porque a complexidade quantitativa e material composta ou não, faz surgir qualidades novas e até mutações diferenciadas. Há apenas no ser vivo átomos e moléculas que pertencem ao suposto mundo inanimado, obedecendo às leis da físico-químico que deriva do mais simples para o mais complexo. De combinações simples para combinações mais complexas. Mas todas elas obedecem a determinadas leis, excepto, quando nos embrenhamos na teoria quântica e na matéria exótica em que as leis que estudamos não se aplicam aqui. É mais do que uma reflexão sobre a génese histórica de valores que a Humanidade vais descobrindo e vai aplicando novas formas de convivência, embora ainda permaneça ainda um vírus em estado selvagem dentro de nós. Segundo o Dr. Paul Chauchard, o estado das leis específicas da vida, e, principalmente a humana, que está sempre em evolução, conduz directamente a postular que o princípio energético humano é imaterial e imortal. Isto quer dizer que o ser humano é uma fonte de energia de grande potencialidade, autossubsistente, que lhe confere características vincadamente determinantes de tal complexidade que 44

ele de tudo o que o rodeia com uma tecnologia que há-de fazer senhor da sua galáxia impondo a sua lei dentro das leis, isto é, se ele próprio não se autodestruir primeiro. As possíveis futuras leis que o Homem vai pondo em prática aos poucos, consciencializando os seus semelhantes para este novo modo de vida, este novo paradigma de viver, mas que ainda estamos muito longe de ver a luz do dia, devido a que as pessoas são materialistas do seu próprio consumo, da capitalização de vida, do economicismo que os estados e nações impõem, “democraticamente”, e que elas próprias não se querem ver envolvidas, nem abdicar do seu modo de vida para uma sociedade que acham que é uma incógnita e utópica, na sua maneira de ver. As pessoas querem e usufruem de bens materiais, mas não querem o materialismo científico ou não, pois ficou demonstrado que na prática é um fiasco, assim como a anarquia científica. As mentes não se revolucionam de um dia para o outro e muito menos o status quo. Exemplos? Cuba, Coreia do Norte, Rússia, China e Venezuela, que está pelas horas da amargura em todos os aspectos sociais e materiais. Cuba está a mudar lentamente. China está a mudar e está a fazer uma revolução capitalista a todos os sectores e está a ter uma economia forte em todos os níveis, mas também tem o reverso da medalha em relação ao ambiente. A Rússia está ligeiramente mudada, mas já viu que os métodos antigos não deram em nada, apesar de ainda ter o sonho imperialista. Também tem um problema ambiental para resolver. Os outros, não se deve esperar muito. A maneira de como falam sobre a democracia tem muito que se lhe diga. É uma democracia ditatorial. Mas o Mundo está a mudar. Ainda neste século há-de-se de ver boas transformações, pois a tecnologia vai equilibrar muitas balanças. Pela parte negativa teremos o terrorismo e a sombra de uma III Guerra Mundial, para além dos efeitos das alterações climáticas.

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O aventureiro, o marinheiro, o escritor maldito Fernão Mendes Pinto é o autor de “A peregrinação” que devia de ser tão famoso e lido, como o de Marco Polo, mas não! Foi polémico e de muito incómodo para a monarquia, para os republicanos e até nos dias de hoje. Por questões políticas foi muito censurado, zombado, e quase esquecido, porque ele, pode-se dizer, foi um jornalista que relatou quase em directo, à altura, as nossas façanhas, muitas vezes não abonatórias e longe dos “bons costumes” dos portugueses, dos cavaleiros andantes, das estrofes camonianas, das fábulas e das ilhas dos amores. É um retrato das gentes do Oriente e do seu modo de vida e comércio. Conhecedor dos Vice-Reis da Índia e dos seus actos e políticas. Chegaram a parodiar com a descrição que ele faz no seu livro: Fernão, tu mentes? Minto. Porque chega-se a perguntar se no interesse histórico-literário, ele pela descrição que faz dele próprio e das narrações que faz, se é fantasia, se é uma imaginação poderosa e criadora, fértil e organizada, ou se são factos de experiências vividas ou se foi beber a outras fontes literárias. Mas de uma coisa é certa! Foram os jesuítas os primeiros a tentar desacreditá-lo. A primeira edição do livro dele foi em 1614, que nós conhecemos, ou pelo menos de fontes fidedignas, foi publicado trinta e um anos depois da sua morte. Há historiadores que acham que a obra foi mutilada e alterada em algumas partes. Fernão Mendes deve ter nascido por volta do ano 1510 e morreu por volta do ano 1583, cuja vida foi cheio de peripécias, aventuras e perigos. Foi uma vida bem recheada. Na visão deles, os orientais, em relação a nós, descrevem-nos como: “aparecem-nos de barbas compridas e vestidos de ferro e considera-os mais bárbaros do que os Chineses,

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Malaios, Japoneses, Abexins, Árabes e outros povos com quem nos contactaram.” Comparando Marco Polo e Fernão Mendes, as suas vidas foram quase equivalentes, enquanto um foi viajante por terra, o outro foi viajante pelo mar, isto tudo para que ficássemos com o monopólio da rota da ceda. O Prestes João das Índias estava a ser desvendado aos poucos pelos nossos interpretes exploradores portugueses. Estávamos na China, no Japão, na Austrália, na Indonésia, Nova Guiné e Papua. Estávamos em todo o Pacífico e Índico, com alguns padrões pelo caminho, algumas fortalezas construídas e muitos naufrágios e tesouros no fundo do mar. Há muita História não escrita, alguma escondida, alguns mapas roubados, outros destruídos, que agora aos poucos estão a ser desvendados, pois estivemos muito antes dos ingleses andarem por aquelas paragens. Antes de Colombo, Magalhães e James Cook. Para os exploradores de tesouros, há muita coisa por descobrir, desde a costa africana oriental, Médio Oriente, Índia, China, Japão, Austrália, etc.. Há diferenças na sua biografia, tanto nas lições de literatura portuguesa como nos manuais de antologia de autores portugueses, em que descrevem que grande parte das aventuras dele foi realizada na companhia de António Faria e até na Wikipédia. Ele nasceu em Montemor-o-Velho, de gente humilde e com dez anos foi servir para Lisboa em casa de senhora «assaz nobre». Passando cerca de um ano e meio, fugiu e embarcou para Setúbal, mas a caravela em Sesimbra foi aprisionada e roubada por um corsário francês. Por estas alturas havia corsários e piratas pela costa a pilhar e a roubar todos os tesouros que havia para roubar. Não só eram os corsários franceses, como espanhóis e ingleses. Foi nesta altura que começaram as suas peripécias, os seus trabalhos. Foi um golpe de sorte, ou destino, ou fado que ele e os seus companheiros foram desembarcados na costa alentejana, na praia de Melides, nus 47


e descalços, porque o mesmo pirata pretendeu assaltar um barco que vinha de S. Tomé. Nesta altura não havia corvetas, naus ou caravelas a vigiar a costa portuguesa e lutar devidamente contra os piratas que afligiam a nossa costa. O interesse estava nas caravelas que vinham de África e de outras paragens. Sabe-se hoje que não fez realmente parte da primeira expedição portuguesa que logrou alcançar o Japão, a 23 de setembro de 1543, mas sim duma das primeiras. Acontece que os governantes locais que o receberam não tinham ainda visto outros ocidentais e por isso reagiram dizendo-lhe que tinha sido o primeiro a chegar àquelas paragens. A chegada dos portugueses ao Japão foi muito celebrada, e perdura ainda na memória cultural japonesa, porque foi o episódio que permitiu a introdução das armas de fogo naquele país. O próprio Fernão Mendes Pinto insere-se nesse papel, descrevendo o espanto e o interesse do dito rei local (na verdade um daimio) quando viu um dos seus companheiros disparar uma arma enquanto caçava. Ainda pequeno, um seu tio levou-o para Lisboa onde o pôs ao serviço na casa de D. Jorge de Lencastre, Duque de Aveiro, filho do rei D. João II. Manteve-se aqui durante cerca de cinco anos, dois dos quais como moço de câmara do próprio D. Jorge, facto importante para a comprovação da sua descendência duma classe social que contradizia a precária situação económica que a família então detinha. Em 1537, parte para a Índia, ao encontro dos seus dois irmãos. De acordo com os relatos da sua obra Peregrinação, foi durante uma expedição ao mar Vermelho em 1538, Mendes Pinto participou num combate naval com os otomanos, onde foi feito prisioneiro e vendido a um grego e por este a um judeu que o levou para Ormuz, onde foi resgatado por portugueses. Acompanhou a Malaca Pedro de Faria, donde fez o ponto de partida para as suas aventuras, tendo percorrido, durante 21 acidentados anos, as costas da Birmânia, Sião, arquipélago de 48

Sunda, Molucas, China e Japão, grande parte desse tempo ao lado do pirata António de Faria. Numa das suas viagens a este país conheceu S. Francisco Xavier, influenciado pela personalidade, decidiu entrar para a Companhia de Jesus e promover uma missão jesuíta no Japão. Em 1554, depois de libertar os seus escravos, vai para o Japão como noviço da Companhia de Jesus e como embaixador do vice-rei D. Afonso de Noronha junto do daimyo de Bungo. Esta viagem constituiu um desencanto para ele, quer no que se refere ao comportamento do seu companheiro, quer no que respeita ao comportamento da própria Companhia. Desgostoso, abandona o noviciado e regressa a Portugal. Com a ajuda do ex-governador da Índia Francisco Barreto, conseguiu arranjar documentos comprovativos dos sacrifícios realizados pela Pátria, que lhe deram direito a uma tença, que nunca recebeu. Desiludido, foi para a sua Quinta de Palença, em Almada, onde se manteve até à morte e onde escreveu, entre 1570 e 1578, a obra que nos legou, a sua inimitável Peregrinação. Esta só viria a ser publicada 20 anos após a morte do autor, receando-se que o original tenha sofrido alterações às quais não seriam alheios os Jesuítas. Deixou-nos um relato tão fantástico do que viveu (a Peregrinação, publicada postumamente em 1614), que durante muito tempo não se acreditou na sua veracidade; de tal modo que até se fazia um jocoso dito com o seu nome: Fernão Mendes Minto, ou então ainda: Fernão, mentes? Minto! Esta ideia de que o que contava era demasiado fantasioso para poder ter-lhe realmente acontecido parte do princípio que se pode julgar um texto do séc. XVI com os critérios de hoje, mas na verdade o texto é uma inestimável fonte de informação para conhecermos o que sucedia aos navegadores e aventureiros que iam a caminho do extremo-oriente nas caravelas portuguesas, mesmo que nem todas essas coisas tenham acontecido realmente a Fernão Mendes Pinto e que ele tenha compilado alguns relatos que ouviu das suas viagens. 49


Ele principia por dizer que será sua obrigação agradecer a Deus o tê-lo tirado sempre são e salvo de tantas desgraças e perigos, pois quis assim conservá-lo para poder fazer sua «rude e tosca escritura», que por herança iria deixar a seus filhos, a fim de que eles, vendo os trabalhos do pai, nunca desanimassem «co’os trabalhos da vida (…) por grandes que sejam». Ele não só deixou esta herança para os filhos, mas para toda a Nação, para que todos nós pudéssemos ler. Este livro é tão importante e narrativo como as viagens de Marco Polo. Apesar de tudo, devemos de ler, isto é, temos a obrigação de ler a Peregrinação, como temos a obrigação de ler Camões. A diferença da Peregrinação está no homem simples, no medo, nas coisas simples e simplificadas e não na superioridade e da grandiosidade e religiosidade do Homem em si. Tinha uma sensibilidade apurada, uma piedade quando toca a vítimas da guerra ou de conflitos entre as gentes, principalmente no que toca às mulheres. O estilo dele é natural e espontâneo e põe muitas vezes a linguagem na terceira pessoa, nos indígenas, nos locais, de um impressionante realismo. Pode-se dizer que Fernão Mendes Pinto aprendeu através da Universidade da Vida, pois foi moldado através das suas viagens pelo Mundo. É uma outra forma descritiva dos Lusíadas. «Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!» «…Antes, em vossas naus vereis, cada ano, Se é verdade o que meu juízo alcança, Naufrágios, perdições de toda a sorte, Que o menor mal de todos seja a morte.» 50

O mundo aos meus olhos Posso ter muitos defeitos, posso ser muito ingénuo, até posso ser um imbecil, por vezes hipócrita, até ser algumas vezes alienado; mas aquilo que sou com estes defeitos todos, como um cidadão normal, daquilo que escrevo, daquilo que critico, a minha maneira de pensar, mal ou bem, daquilo que ouço dos outros, por vezes acho que o defeito não está em mim, mas nos outros. Por vezes compreendo, por vezes não, outras fico pasmado e outras fico aborrecido, poucas vezes estarrecido com os acontecimentos a decorrerem perante os meus olhos. Perante o meu conhecimento que não é muito, mas que vou apreendendo, o ambiente que me rodeia, a política em que vivo, os países que estão em conflito, o Homem em questão, perante si próprio e perante a sociedade em que vive, inclusive eu, dá muito para apreender, para pensar e para escrever, embora tudo possa ser subjectivo. É que tudo está em constante mudança e em evolução ou em revolução. Se me perguntarem se sigo aquilo que por vezes digo, aquilo que escrevo… Claro que digo que sim. Pelo menos a maior parte. Porque às vezes sou inconstante. Outras vezes vejo as coisas por outro prisma que nunca tinha olhado e mudo de posição e de opinião. Não é ser como o vento. É tentar ver as coisas por todos os ângulos e não se consegue ver todos ao mesmo tempo. Demora algum tempo até que nos decorra de maneira imprevista outra visão. Temos pressupostos de que nunca abdicaremos até saber que está errado ou não se coadunar connosco. Como indivíduo livre, independente e responsável, tenho de seguir o código ético, de que o princípio da liberdade é igual ao princípio da responsabilidade e quanto mais livres somos, mais responsabilidades temos. Este é o caminho de que todos nós devíamos de seguir. Infelizmente não é assim. A perfeição 51


humana por vezes é uma quimera, quando nos transformamos em monstros. As coisas são como nós somos. Fazemos tudo à nossa semelhança. Significa que a melhor educação, as melhores instituições não aperfeiçoam a natureza do homem, pois somos defeituosos à nascença e levamos muitos anos a aprender. Mas é nesta aprendizagem que sabemos o que nós queremos no agora e para o futuro. A evolução da espécie humana depende da evolução da política, da sociedade em si, da economia, da tentativa de igualdade de género, equitativa e igualitária, dentro de uma democracia evolucionista. Para a maior parte das pessoas, é uma questão de lógica: Abrimos os olhos e vemos o mundo. Quando o despertador toca, vêem-se os números vermelhos, a cor da colcha e do pijama, as folhas verdes da árvore do lado de fora da janela e o tecto que, provavelmente, já precisa de uma nova camada de tinta. A visão fornece-nos 80% de todas as impressões do nosso meio ambiente. Os poderosos processos de urbanização que ganharam forma durante o século XX concederam aos arquitectos material para construírem abordagens ideológicas tomadas directamente da cidade e da sua acelerada transformação. No passado a visão também era semelhante, embora as técnicas e os materiais, fossem diferentes, assim como para o séc.XXI, os materiais são outros e mais evoluídos, tecnológicos. Baseados em descrição e análise, seguem dois objectivos: um, a operar dentro da arquitetura, procura informar o processo de projecto enquanto o segundo, procura ramificar-se para fora da disciplina e aspira a trazer outras audiências para a compreensão da cidade. As transformações da sua morfologia, as implicações das forças económicas, culturais ou políticas são alguns dos temas abordados.

a maioria dele, como um todo, porque está escondido, mas que faz parte do elenco. É a analisar a centralidade dos processos de socialização familiar na formação da reflexividade individual, com base numa abordagem biográfica. Uma visão diacrónica dos percursos individuais é crucial para compreender não só o modo como a capacidade de cada pessoa de pensar em si mesma no mundo é desenvolvida ao longo do curso de vida, sendo estruturada decisivamente no seio da família, mas também a forma como o impacto da socialização familiar na formação de competências reflexivas ocorre diferenciadamente de acordo com o enquadramento socioeconómico da família. Neste caso, cada família vê o mundo de uma forma diferente e tenta enquadra-se nele, inserindo-se na sociedade como um todo, assim como no mundo do trabalho. Mil palavras não chegam para descrever os dias em que o mundo mudou. Aqueles pontos de não retorno que direcionaram o curso da História. Há imagens que simbolizam e representam esses dias. Como a de um homem negro a sair de 27 anos de cárcere. Ou a dos cidadãos que se libertam através do voto. Ou a de quatro homens a anunciar a guerra. Mas elas não mostram todos os rostos nem as vozes. Mil palavras, mil vozes, mil olhares, é pouco perante a grandeza e a maneira de como olhamos o mundo, a sociedade e o ambiente em que vivemos. Mil pensamentos, mil sonhos, mil sorrisos para que o mundo aos nossos pés continua para uma vida melhor e próspera, apesar de haver alterações no Planeta por nossa própria culpa. Tem de haver uma consciencialização global ou o Planeta está condenado, assim como a nós próprios.

O Mundo aos meus olhos é precisamente um pouco de tudo isto. É uma envolvente em que só vemos a ponta do icebergue e não vemos 52

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História, a do homem Deixemo-nos de idealismos, de sonhos de fadas, tanto do passado, como do futuro ou como será no futuro, quando devemos centrar-nos nos dias de hoje. O que vemos nós, por esta Terra pródiga de mil e um acontecimentos, de mil e uma vilanias, de mil e umas coisas bem feitas, mil e umas noites de formosos pensamentos, de invenções e tecnologias e que mesmo assim continuamos a ser uns bárbaros. O ser humano possui uma virtude que o diferencia de outros animais: a capacidade de ser criativo, ou seja, ele tem o poder de criar e modificar. Apesar desse diferencial, o mundo, assim como o universo, tem um padrão de estruturação e funcionalidade, sendo assim modificar esse padrão pode trazer severas consequências, se o homem não compreende como o mundo funciona de verdade e o modifica de maneira inadequada, a natureza o há de punir. Atualmente, a mente humana está mudando, agora o homem tem mais noção do mundo no qual abita, desta maneira ele realiza ações para consertar os erros que os antigos cometeram, mesmo assim, devido ao grande estrago ocorrido anteriormente, reestruturar o mundo da maneira adequada não será uma tarefa fácil, além do mais nem todas as pessoas contribuem para isso atualmente, mas, com o passar do tempo, todas as mentalidades podem mudar e o mundo pode ser reestruturado de maneira adequada, tornando-se estável.

Nascido da ação dos homens em relação com o mundo e com outros homens, o conhecimento se torna produto social e, por isso, é inconcluso, apresenta-se em diferentes níveis e modos, e sua acessibilidade está diretamente ligada às múltiplas formas de interação e organização sociais e aos tipos de linguagem que o expressam. Ora, se o conhecimento é uma categoria fundante do homem ser que se sabe no mundo, sua acessibilidade deve ser garantida como condição sine qua non ao exercício da dialecticidade necessária à existência humana. Aí está o papel da educação, o Ser Mais do homem na sociedade, a busca pela sua valorização e aprimoramento constante. A missão da educação refere-se à orientação aos sujeitos em relação ao mundo onde se situam e isso representa um acto cognoscente, no qual os sujeitos envolvidos podem e devem agir como sujeitos de aprendizagens, mediatizados pelos objetos cognoscíveis que buscam conhecer. A partir do pensamento de Piaget, parece evidente que para ele o desenvolvimento cognitivo dos seres humanos acha-se configurado em um processo sequencial, ou seja, ocorre a partir de fases do desenvolvimento, sendo, portanto cada uma das fases necessária para a organização da fase subsequente.

A compreensão antropológica do conhecimento e sua implicação na visão do acto pedagógico como acto de conhecimento é uma categoria fundamentalmente do pensamento freireano. Freire situa o homem como um “corpo consciente”, capaz de saber-se no mundo com o qual se relaciona e no qual exerce sua capacidade própria de perceber/compreender/sentir/transformar e comunicar-se.

Apesar de o Homem ter evoluído, sempre foi um ser belicoso, por vezes bizarro, outras vezes sonhador, que o leva a fazer grandes empreendimentos, mas que também o leva a fazer guerras, monumentos, intrigas e diplomacias, visões para o futuro, para uma tentativa de alcançar a perfeição e a supremacia. E para alcançar tudo isto, ele transforma todo o ambiente à sua volta. Destrói para construir. Claro que nós somos o fruto do Cosmos, que é através da destruição que nasce a vida. Não vivemos num ambiente calmo, mas num ambiente tumultuoso, nada pacífico, em que todos os dias temos que lutar pela sobrevivência. Assim é o nosso Planeta, o nosso Sistema Solar, a nossa Galáxia.

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O Homem é um caminho em si, com um determinado princípio, que por vezes não tem sentido, mas que é consentido pela Natureza das coisas. Ele próprio cria o seu próprio destino, vira o sentido da História fazendo uma revolução, uma mudança de ideais de maneira a poder desfrutar de melhor vida e impulsionar a Humanidade para mais um salto na evolução. Esta evolução não se faz sem haver caos, inflação, uma política por vezes incerta, à procura de um rumo, até procurar o caminho certo, fazendo uma pausa de paz por um determinado período, até a uma nova revolução, uma nova transformação para uma etapa mais acima, para um outro nível superior. Como homem, preservo muito a liberdade do tudo, sem, contudo, atropelar os ideais do meu próximo. A liberdade não é um estado inicial a todos, um estado natural que nasce connosco. Pelo contrário, é um estado que tem de se conquistar e de preservar, de se lutar por ele e de alcançar o seu idealismo, que é uma condição que é garantida pela força, pela perseverança, pelo carácter do indivíduo. Tudo o que existe na natureza é livre, mas tem regras rígidas, mas com uma abertura suficiente para a sua evolução. Ela tem de ser respeitada por todos. De uma coisa eu sei para a Humanidade: o progresso material é importante assim como o processo intelectual, com a barriga suficientemente satisfeita para que haja condições requeridas de aperfeiçoamento de elevação do Homem. A inspiração e a inovação é, muito importante para que a sociedade dê um salto para a frente. As coisas são o que os homens são. Mas o princípio de ser Homem começa com a educação, com a instrução e saber viver em sociedade, tecnológica ou não, de respeitar a Natureza e o ambiente em que vive. A própria sociedade tem o dever de educar o homem e de o reformular para dar o seu contributo. 56

Ideias e críticas políticas No campo da política há muito que se lhe diga, há muitas ideias díspares, ideais e presunções. Não é uma questão de esclarecimento, mas sim de acrescentar mais alguma coisa, pois de pesar centenas de anos desde os gregos em questão de democracia, ainda há muito por dizer. E para isso é preciso de estar a par de alguns livros políticos, de alguns líderes actuais ou do passado, para termos uma ideia geral daquilo que teremos de enfrentar perante diversas ideologias, de maneira a poder esclarecer as minhas ideias e do caminho que seguir, politizar-me sem ser político, mas o conhecimento básico para saber com linhas me hei-de cozer, para o meu bem e para o bem do País, embora eu seja uma gota perdida no meio do mar. Isto, porque acho que toda a gente deve de saber minimamente o que quer para si e para o País e para isso tem de saber nas entrelinhas o que os políticos de diferentes cores querem dizer. Faz parte da cultura social, ou pelo menos devia de fazer, para não se deixar enganar das “verdades” que os políticos acham para o País. É sobre esta cultura que o Povo devia de estar atento, e muitas vezes não está deixando-se embalar por bonitas frases sem sentido e sem coerência para um futuro próximo ou a médio prazo. Acho que toda a gente devia de saber as bases mais rudimentares dos vários partidos e dos fundamentos que eles apregoam, para quando forem a votos, saberem em quem hão-de votar, sabendo os seus objectivos e propósitos que querem fazer para o País, pois a maior parte das promessas, nem sempre são cumpridas. Se uma pessoa quiser estudar na teoria e na prática e se tiver dinheiro para isso, uma determinada política, e para saber se é verdade ou não do que se diz de uma determinada política, de um determinado país, é ir lá e ver com os próprios olhos os factos, embora 57


haja muitas coisas que essa pessoa seja proibida de ver, porque não interessa que venha a lume o que se passa nesses países. Por exemplo: Coreia do Norte, Cuba, alguns lugares da Rússia, da China e outros. Também sei que ao longo das épocas, ao longo das crises de vária ordem, de algumas revoluções e convulsões sociais, as políticas foram mudando e evoluindo ao longo da História. Hoje temos no Planeta vários tipos de políticas dos quais podemos estudá-los todos ao mesmo tempo devido as comunicações mundiais e à tecnologia existente hoje. E destas políticas, podemos somá-las todas e evoluir para uma melhor política, uma melhor economia mundial, para um novo modo de comércio que abranja todo o Planeta. Hoje temos meios para tudo isso, e, contudo, há uma disparidade assombrosa entre pobres e ricos que não devia de estar a acontecer, que devíamos de ir pelo caminho contrário ao do presente, com políticas de aproximação de qualidade de vida comum a todos. Isto não se está a verificar. Verificamos as diferentes ideologias até aos dias de hoje e a sua evolução: Liberalismo Liberalismo é o sistema político econômico com base na liberdade política e econômica. E iniciou-se no século XVII através da ideologia proclamada pelo filósofo inglês John Lock. O liberalismo marcou a idade média e se estendeu por séculos diante. A finalidade dos pensadores da época era cessar as guerras religiosas e melhorar as vidas das pessoas naquele momento. O movimento ganhou força através do filósofo escocês Adam Smith no século XVIII. No entanto, nem todos os governos tiveram boa aceitação ao movimento, como aconteceu na Revolução Russa, onde o episódio foi praticamente anilado. Em outros países como nos 58

Estados Unidos o liberalismo foi responsável por tornar o país na maior democracia do mundo. O liberalismo deu a luz ao Capitalismo e ao término da Segunda Guerra Mundial o mundo ficou dividido entre dois sistemas: O Sistema Liberal, conhecido como Capitalista dominado pelos Estados Unidos e o Sistema Socialista liderado pela União Soviética. Um ponto positivo do liberalismo foi o surgimento da democracia, mas os críticos políticos destacam também a desigualdade social, a pobreza e a exploração do trabalhador. Absolutismo Durante o período dos Séculos XV e XVIII, o Absolutismo foi predominante no sistema político dos países da Europa e foi o responsável pelas mudanças que ocorreram no continente no final da Idade Média. Suas principais características foram: A centralização do poder ficava inteiramente nas mãos do rei. Ele criava as leis sem a aprovação do povo. Impostos e tributos eram criados conforme a necessidade do reino, como gastos com a manutenção de uma guerra, por exemplo. A burguesia o apoiava e em troca o rei procurava unificar a moeda e fornecia segurança. O rei também interferia nos assuntos religiosos chegando ao controle do clero e usava de extrema violência sob o povo, tendo o direito de vida ou morte sobre qualquer um. O sistema econômico desta época foi o Mercantilismo, em que se procurava diminuir as importações, incentivar as exportações e explorar as colônias de maneira a cada vez mais enriquecer os cofres dos reinos. Alguns reis desta época: Henrique VIII e Elizabeth I da Inglaterra e Luis XIV, dinastia dos Bourbons. 59


Capitalismo Capitalismo é o princípio político em que a distribuição da renda fica nas mãos das instituições privadas com fins lucrativos. Os lucros, as ofertas, os preços são decididos pelos empresários, que vendem seus produtos, serviços, investem, criam com livre decisão e o governo pouco interfere. Os donos das empresas ficam com os lucros, embora atualmente em algumas empresas brasileiras, no final do ano dividem resultados através do PLR (Participação dos lucros e resultados). É o sistema dominante no mundo e originário do liberalismo. É um sistema que incentiva o crescimento econômico, há liberdade nas negociações, proporcionando a criatividade, o individualismo e a competitividade social, em que a maioria quer um “lugar ao sol” e isto a qualquer preço. Segundo os americanos, o capitalismo simboliza a liberdade, porque cada um pode ser dono do seu próprio negócio Socialismo O socialismo é o sistema político em que o governo controla toda a distribuição de renda do país procurando reparti-la de maneira igual entre todos. Qualquer propriedade deve ser pública ou coletiva, e o governo deve proporcionar igualdade de oportunidades e meios a todos de maneira a não haver injustiças sociais, e todos possam ter acesso a saúde, educação e salários similares. Segundo Karl Max o socialismo derruba classe dos mais ricos e conclui que somente com a derrota da burguesia é possível a ascensão dos trabalhadores. Não há um sistema político perfeito. Tanto o Capitalismo como o Socialismo trouxeram benefícios e malefícios à sociedade. Um trouxe enriquecimento exacerbado para uns e empobrecimento de outros, porém, há oportunidades maiores para o crescimento pessoal e individual. No outro, o ideal de igualdade é bem-vindo, porém a 60

história mostrou que mesmo com a divisão dos bens, os pobres continuaram pobres, e muitos governos não souberam administrar os bens de maneira a ascender economicamente seus países. A maior representação da derrota do Socialismo foi à queda do muro de Berlim, em 1989. Segundo o poeta e ex-militante do partido comunista, Ferreira Gullar, a ideia do capitalismo, ou seja, a competição, o individualismo, o egoísmo, a necessidade de se sobressair entre os outros é algo que já nasce com o ser humano e não tem como o socialismo prevalecer ainda que proponha a igualdade entre todos. Alguns filósofos defendem este impasse sugerindo um sistema de governo misto, onde o governo controlaria algumas áreas e deixaria livre outras para o sistema privado proporcionando igualdade social sem massacrar a individualidade natural do ser humano. Mas hoje devido a várias crises que começou na América do Norte e se alastrou para a Europa e Ásia, temos políticas mais economicistas ditadas pelos mercados internacionais e, portanto, a maneira de fazer política também mudou em todos os sectores de todos os países. Isto tudo é polarizado em dois sentidos. Ideologia política. Você é de direita ou de esquerda? Ideologia, eu quero uma para viver. Resta saber como viver e com quem viver! Pois!... O problema é esse. Cada cabeça, cada sentença, até que prevaleça o bom senso, democraticamente é aquele que tem a maioria, mesmo que não aprovemos, mas temos que ter a consciência de viver nela pacificamente até dar para o torto. Palavras como liberdade, opressão, dominação, cerceamento, escravidão, controle, coação. Essas palavras são usadas desde os primórdios da humanidade, quando o neocórtex se desenvolveu, o 61


Homo Sapiens passou a questionar sua vida, a vida em toda a sua extensão. O desejo de ter liberdade, de poder fazer o que bem quiser, quando quiser, com o tempo, fora cerceado. Se pensarmos na existência de único ser humano, ele é livre, pois não há outro (s) ser (es) humano (s) para lhe importunar. Mesmo assim, diante dos próprios limites, há de ponderar. Por que errei? Como posso encontrar solução? Deliberação. Claro que, também, por não conseguir solucionar, imediatamente, irá se sentir perdido, desmotivado, limitado. A quem culpar pelo próprio limite? A ele mesmo? Ou algo fora de si? Possivelmente, a existência de superstições, crendices. Dizer que são péssimas, é errado. Graças à formação do neocórtex, os primeiros seres humanos puderam deliberar. Antes do neocórtex, apenas o diencéfalo ou cérebro intermediário. Ódio, amor, medo, raiva, ciúme, tudo está no diencéfalo. Para saber localizar, coloque seus dedos indicadores, em cada pavilhão auditivo. O cérebro intermediário coordena todas as atividades do organismo humano, por exemplo, pulmões, coração, glândulas. Fugir, diante de alguma ameaça, o cérebro intermediário age. Tudo isto está na nossa maneira de conviver e de viver com a política no nosso dia a dia e depende de país para país. Depende também da sua formação cívica e cultural. Temos a mania de criticar tudo e todos, mas também temos de ter a consciência de que os políticos também são humanos e também erram. Não podemos tolerar é as mordomias que fazem à custa do Povo. As massas também têm memória e inteligência e quando estão fartas de serem exploradas actuam e explodem com violência. Há vários países hoje que estão nestas circunstâncias. E nestas circunstâncias temos várias políticas na clandestinidade para derrubar o governo sobre diferentes maneiras, como a subversão ou guerrilha. Termino como comecei. Ideias, factos e críticas. Liberdade! 62

A revolução Quando um epílogo revolucionário dos traumas políticos adquiriu na mundividência ocidental não apenas um pretenso carácter de universalidade e transversalidade em todas as esferas da vida social, como também um estatuto demiúrgico, no intuito de instaurar novo(s) sentido(s) para a velha (des)ordem. Dois equívocos permanecem, todavia, enraizados nessa autointerpretação: o pressuposto de que o acto revolucionário representa, na sua expressão prometeica, um desafio trágico à (des)ordem instituída; a convicção de que a gesta revolucionária consuma, no seu gesto messiânico, uma expectativa escatológica em ordem à instauração de um paraíso na terra. Grande parte - para não dizer todas - das epopeias revolucionárias modernas e contemporâneas, nada mais representam do que simulacros da mítica luta ancestral contra a fobia da desordem. O rito sagrado e inaugural de espetar uma haste no ventre da terra, a partir do qual as sociedades arcaicas instituíam o centro de gravidade da vida comunitária, perdura de certo modo na aspiração revolucionária de domínio já não de um caos ontogénico como no mito, mas do distúrbio das pulsões sociais e políticas. Assinalar o umbigo do mundo, a partir do qual se delimitam as fronteiras dos novos areópagos e se acertam os ponteiros pelo relógio dos novos tempos, suscita na liturgia revolucionária a mesma primordial e demanda das sociedades míticas pela ordem. As discussões filosóficas sobre o desenvolvimento do conhecimento científico que tiveram lugar ao longo do século XX, via de regra, se apoiaram em exemplos extraídos das ciências físicas. O facto de a física ser a ciência experimental melhor assimilada pela linguagem da matemática, fez com que esta ciência passasse a ser tomada como modelo metodológico para as demais ciências empíricas. 63


Assim, os sistemas epistemológicos da primeira metade daquele século privilegiaram as análises lógico-matemáticas do conhecimento científico, deixando de lado, não apenas as questões filosóficas sugeridas pela investigação experimental, como também todo o contexto social e intelectual subjacentes ao conhecimento científico. Embora recentemente tenha crescido o interesse pela filosofia de outras disciplinas científicas, notadamente pela filosofia da biologia, o modelo paradigmático para a filosofia da ciência continua a ser, todavia, a física. Quanto à ciência química, sua utilização pelos filósofos da ciência foi muito escassa nos debates epistemológicos, pois, para a maioria desses filósofos, esta ciência, embora contasse com uma estrutura teórica própria, era, em última instância, redutível à física. Uma demonstração dessa seletividade epistemológica é fornecida pelas principais publicações que tratavam da filosofia da ciência nos países ocidentais. A revolução não quer dizer sempre guerra. Há vários tipos de revolução. Uma delas é cultural, outra é estrutural, outra é a das mentalidades e civismo, outra como a ambiental, tecnológica e outras tantas revoluções que se fizeram ao longo da História. O problema é que para evoluir a civilização em que estamos inseridos e se quisermos mudar alguma coisa na nossa pegada planetária e até regional, qual é a revolução que queremos ter, sem danificar o Planeta. Qual é a necessidade para readquirirmos o nosso lugar na civilização ocidental e mesmo planetária, para que a comunhão com a União Europeia seja um sucesso e culta? É que o problema é que a UE está sempre a caminhar a duas ou três velocidades. É necessário um esforço viril, um esforço supremo para quebrar resolutamente com o passado, mas respeitando a memória dos nossos avós, dos seus legados, virando a página para um futuro melhor e próspero. Não sejamos à luz do século passado, espectros de uma suposta vida 64

emprestada evidenciando a mentalidade do século XIX, quando devíamos de olhar para o futuro, aprendendo com os erros do passado, para melhorar a nossa vida. A esse espírito mortal, oponhamos francamente o espírito moderno, embora haja mentalidades do século VI ou VII impondo o terrorismo até nós. Oponhamos a mentalidade negativa e de abusos sexuais da Igreja, a mentalidade retrógoda, à não indiferença ou a uma fria negação de tais actos, mas a ardente firmação de uma nova mentalidade, de uma nova maneira de estar, de uma nova alma, de consciência livre, a contemplação directa do divino pelo humano, porque todos somos humanos e todos erramos, de elevar a filosofia em todos os sectores, a ciência em todos os aspectos, na crença no progresso, na renovação incessante da humanidade a lutar para a sua própria elevação, utilizando os seus próprios recursos inesgotáveis do seu pensamento, de maneira que a sua inspiração nos leve a um bom porto, porque a nossa pegada tem pesado bastante no comportamento das condições do Planeta, da nossa maneira de viver poluindo desnecessariamente, quando há alternativas amigáveis do ambiente e do nosso próprio organismo. Temos que ser uma raça virada para o futuro, para o modernismo. Temos que ser a vanguarda do Planeta, dando novos cérebros aos cérebros do Planeta, desvendando novos caminhos ao Mundo, desbravando novos horizontes, novos pensamentos revolucionários, não só a nível planetário, como a nível solar e cósmica. A revolução não quer dizer guerra. Quer dizer paz, evolução e crescimento. Não quer dizer licença para fazer, mas sim ordem no processo; não quer dizer prisão, mas sim liberdade, a verdadeira liberdade de evoluir e dar novos mundos ao Mundo. Nós não somos um Povo decadente. Somos um Povo evolucionista. Acredito no progresso e na evolução. 65


O uniformismo O uniformismo é um padrão. Um padrão que as empresas impõem, um padrão que o consumismo actual impõe, que tende a impor até na maneira de se vestir. Isto só devia de ser normal em determinadas instituições estatais como as forças militares ou paramilitares. É por todos reconhecidos como pessoas de defesa de um País ou de uma Nação, e não como sociedades anónimas. Benjamin Constant chamava a atenção para a circunstância do centralismo democrático destruir a variedade local em nome da construção do Estado, esquecendo a variedade local, em nome da atracção pelo centro, surgindo a tendência para a uniformidade. Também o urbanismo das sociedades industrializadas seguiu o conselho de Le Corbusier que recomendava um único modelo de construção para todos os países e para todos os climas. Do mesmo modo o desenvolvimentismo, em nome da concepção ferroviária da história, concebeu que todos os grupos humanos caminhariam para o mesmo fim político, económico e social, passando pelas mesmas estações e usando do mesmo pronto a vestir organizatório e cultural, num campo de cultura onde também foi beber o uniformismo totalitário. Tudo se baseia nessa ideia de massificação destribalizadora oriunda do cartesianismo geométrico e construtivista que destruiu a variedade da imaginação construtora, tudo submetendo à mesma paleta de um arquiteto estadual que até ousou construir pelo intervencionismo pedagógico um homem novo. As leis físicas da natureza, como por exemplo as leis da gravidade, da termodinâmica, e do movimento, são ensinadas com a inferência de que elas sempre estiveram e sempre continuarão a estar em ação. 66

Semelhantemente, com as grandezas físicas (tais como a velocidade da luz, a intensidade das ligações químicas, as propriedades físicas e químicas das substâncias), há de novo essa inferência de que os valores e as propriedades determinados atualmente são os mesmos que teriam sido determinados em qualquer tempo, quer no passado, quer no futuro. Estamos a viver numa sociedade de uniformes, isto é, temos a tendência de um consumismo uniforme em que as pessoas se vestem quase da mesma maneira, trabalham quase da mesma maneira, mal pensam, coabitam, fazem sexo e levantam-se na manhã seguinte vestindo quase a mesma coisa, correndo para o trabalho em transportes públicos apinhados, passando os olhos rapidamente pelo jornal, ou os ouvidos atentos ao rádio, das notícias que vão dando, entrando numa rotina interminável sem se preocupar muito com o resto, comportando-se como um cidadão normal, invisível, desconhecido de milhões que andam ao pé de si, sem se preocupar contudo com o estado do vizinho ao lado. Esta maneira de viver, de conviver no mundo actual tecnologicamente evoluída, os indivíduos tendem a comportar-se uniformemente numa grande variedade de situações, já que as regras são iguais para todos, e todos se conformam com as regras em vigor, sem discussão de maior. É a esta constância comportamental que nós aplicamos o termo de personalidade, embora cada indivíduo tenha a sua própria personalidade, a sua própria visão do mundo que o rodeia, deixa-se enrolar pelo facilitismo comportamental passando a ter uma personalidade colectiva e rumando todos pelo mesmo sentido sem constatação alguma. Os problemas ou os supostos problemas comportamentais de tais sociedades estão ou são estudados pelos investigadores de personalidades à compreensão do seu desenvolvimento, da sua capacidade de meditação, entre o estar só ou em família e o estar em sociedade ou no trabalho. 67


Há uma formação e uma interpretação, até uma formulação psicanalítica de tais comportamentos, seja a nível consciente, seja a nível subconsciente. O modo comportamental do indivíduo nem sempre é pacífico, nem sempre se adapta às circunstâncias da sociedade ou do emprego, sendo um desajustado, um desequilibrado da sociedade. Isto cria várias determinantes inconscientes do comportamento antissocial, de conflito, de mecanismos de autodefesa e de motivação ou desmotivação no comportamento humano. Há um determinismo psicológico não só da sociedade, mas até de uma imposição invisível de um partido político dominante. E a uniformização não é boa para a evolução da Humanidade. A uniformização esbate a intelectualidade, a genialidade, e o carácter do indivíduo.

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As beiras As Beiras, tão bonitas e variadas, natureza fértil e encantadora de climas extremos e tonificadores, de puro ar cristalino e estonteante. Tão díspare, ora cheia de penedos encastelados, a subir em ameaças pelos montes encavalitados, ora amena e aprazível nos vales húmidos e nos planaltos exuberantes de cultura e arvoredo, é um parque nacional onde as gentes vão gozar a sombra e deleitar-se numa manta ou numa cama atada entre pinheiros, ou a gozar das belezas da costa a apanhar o Sol e as delícias do mar e de saber amar, comungando com a Natureza. Beira tão presenteira, que ninguém esquece, centro e coração de Portugal de gente humilde e simples, desde a Serra da Estrela ao pinhal de Leiria, do Rei, das caravelas que foram construídas para os novos mundos. Lá no meio, mesmo no interior, Viseu das brumas de Viriato, e de outros tantos heróis, tendo mais acima Lamego das cortes e das lendas, onde o Rei primeiro teria sido proclamado às terras de Portugal de então, reclamando a Castela e Leão a primazia, tendo perto da fronteira espanhola a Guarda, cheia de História e de heróis lendários que guarda a fronteira com ferocidade. E a descer, quase ao lado, do outro lado da Estrela a Sul, temos Castelo Branco, lavradora pacífica, a pensar no dia da feira e na folhinha agrícola, arroteando bonacheiramente as leivas, as faias e o seu artesanato vistoso. No alto, no meio da Serra da Estrela, temos a Covilhã industrial, um pouco estudantil e vanguardista, com actividade febril, fumarenta, buliçosa, na placidez serena da paisagem, por vezes bucólica, mas impressionante. Mais para baixo, nos vales temos Coimbra, para as planas de arrozais e choupais da Beira-Mar, com o plácido Mondego a beijar as margens, com os mitos e lendas perfumadas de santidade e bondade da Rainha Santa, com os 69


túmulos sagrados de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I, os primeiros reis da Grei, como da antiga e triste história de D. Pedro e Inês na Quinta das Lágrimas, da sua Universidade mediaval que deu tantos ilustres doutores, de poetas e cantores, Camões a cantou, em que o fado de Coimbra nisso é ilustre e único. E na senda do Mondego, chegamos à Figueira da Foz, que oferece aos nacionais e estrangeiros o mar e a praia alva, todas as comodidades da nossa civilização, a beleza da terra e das suas gentes, o luxo modernista de uma zona balnear encantadora. Aveiro na costa arriba, cidade piscosa, farol da Beira, o banheiro que espera a Província interior para lhe dar os banhos de mar; e, na barra nova, no seu porto, vemos os bacalhoeiros partirem para a Terra Nova. Cidade revolucionária e evolucionária, a primeira em ciências tecnológicas, dão novas visões ao País e ao Mundo. Mais para baixo temos Leiria, do rei D. Dinis, o lavrador, dos amores, das lendas de ursos, da plantação do pinhal para conquistar e segurar as dunas de areia e tirar terra ao mar. Depois temos Tomar, terra dos templários, que mais tarde se transformou na Ordem de Cristo, que foram daqui para Sagres e darem novos mundos ao Mundo. E outras tantas terras perdidas nas serranias e nos vales que merecem ser mencionadas e que não estão. Assim são as Beiras. Enormes, variadas, únicas e tão diferentes, feitas de grandes gentes que dão um colorido especial ao País. O folclore, os mitos e as lendas, os dólmenes e as antas, assim as determinam há mais de 12500 anos. Talvez haja mais para dizer e escrever sobre as Beiras, mas devido à sua exuberância, não é possível expor tudo, todas as suas maravilhas. Todos os seus recônditos. Há sempre alguma coisa esquecida, um ponto perdido na memória, nas brumas da História, que um dia há-de ser escrita por alguém.

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A serra da estrela Desde os meus dez anos, quando fui para a Beira Alta viver com os meus avós paternos, porque os meus pais estavam em África e a minha avó materna e uma tia tinham falecido em Lisboa aonde vivi os meus primeiros anos, não tinha mais ninguém para tomar conta de mim, e por isso fui para o Norte interior, aonde tinha família chegada. Ainda estive na escola lá da aldeia, mas cedo fui para Viseu, aonde fui internado num colégio. Nas férias vinha para a aldeia e ia muitas vezes à Serra. Mas o que gostava mais de ir para a Serra era na altura da caça, não só dos coelhos, mas das perdizes e andava com os cães a calcorrear como batedor aqueles vales e montes, saltar riachos, saltar para cima dos penedos e ver aquela paisagem deslumbrante, umas vezes a perder de vista, outras fechadas por altas escarpas e rochas graníticas encavalitando fragas e vales em U, que outrora estavam cobertas por uma grande quantidade de gelo, geleiras e glaciares da última Era do Glaciar. Andávamos pela Cabeça do Velho, pela Cabeça da Velha, pela Lagoa Comprida, pelo Mondeguinho, lá para cima, perto de Piornos e outros tantos lugares. Gostava de calcorrear por esses lugares todos espantando a caça, gritando, fazendo eco por esses vales e encostas, fazendo-me ouvir por longas distâncias e ao mesmo tempo dando sinal da minha presença ao meu Avô ou ao meu Tio, assim como aos cães e ao mesmo tempo ia espantando a caça. Aquilo que mais me desgostava e não compreendia muito bem, era porque os caçadores matavam as raposas e os lobos, se não era para comer. Achava injusto a caça a estes animais. Mas aos javalis já não, porque tinham uma carne saborosa. Eram uns porcos selvagens e perigosos, mas que serviam de alimento. Para mim a Serra tinha de tudo um pouco e era sinal de aventuras.

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Ela era o habitat de muitos animais, para além do homem. As magníficas paisagens da Serra são o habitat de mamíferos como o lobo, o javali, a lontra, a raposa, a geneta e o coelho-bravo-europeu, sendo sobrevoadas por aves como a águia-real e a águia-de-asaredonda, o falcão peregrino, o bufo real, o milhafre preto e as perdizes. Já para não falar do cão Serra da Estrela, um ícone em criação, que é um bom ajudante dos pastores da região, assim como um bom cão de guarda, devido ao seu porte. Então a floresta é maravilhosa e variada, conforme a altitude e os contrafortes inclinados, mas suportados por uma densa vegetação. Por entre o verde e as rochas pode descobrir-se a campânula, verdadeiro símbolo da Estrela, o sargaço, a saxifraga spathularis e o zimbro, ao mesmo tempo que se erguem, frondosas, árvores como o castanheiro, o carvalho-roble, o carvalho-negral, o pinheiro bravo e a azinheira. Em planaltos e vales do interior da serra, entre pastagens, despontam a urze, o rosmaninho e a giesta. Mãe de três rios que nascem nas suas entranhas e se dividem em várias direções a tentarem chegar ao mar. Na minha adolescência tomei banho em todos eles. Andei por este Planalto aos saltos. O Planalto Central é dominado pela Torre e pelas elevações ro chosas, volumosas, alcantiladas, encontradas sobre muitas formas, denominadas Cântaro Magro e Cântaro Gordo. Na serra da Estrela nascem em vários pontos da Serra fios de água fresca, os rios Mondego, Zêzere e Alva, e nela existem também algumas la goas que para nosso deleite e prazer nos abençoa, (Comprida, Escura, Cântaros, entre outras. Os grandes nevões do I nverno quando são rigorosos e prolongados no tempo, são aproveitados para a prática de esqui (sobretudo Piornos, Penha s daSaúde e Penhas Douradas) revelando-se uma inestimável fonte de receitas para a economia da região e, portanto, esta Serra é uma concorrida estância de turismo e repouso. A História dela diz72

nos que foi sempre povoada desde tempos antigos. Outrora, na serra da Estrela, praticava-se e ainda nalguns pontos a transumância; as ovelhas que vinham dos vales mais abaixo das povoações, permaneciam nos vales da Serra, no Verão, deslocavamse, no Inverno, para aspastagens das vertentes abrigadas do Douro, para os restolhos dos campos mais baixo, para os vales dos campos do Baixo Mondego ou ainda para as planuras do Campo de Ourique no Alentejo. Actualmente a transumância está em declínio; apenasos planaltos mais elevados recebem, no Verão, o gado vindo, em camiões, em roulottes e outros transportes como o comboio, da terra chã e confiados pelos donos a pastores profissionais. Continuando na senda dos três rios, eram como irmãos que um dia desataram a correr para o mar, desafiando-se entre eles, de quem seria o primeiro a chegar ao mar. Cada um seguiu o seu caminho, diferente, uns para Norte e mais tarde para Oeste, outros para Sul e mais tarde para Oeste, pois o mar ficava para os lados do Oeste, para onde o Sol costumava deitar-se. O Zêzere correu como doido até ao Sameiro, depois recuou para Sul e depois com a cegueira de ser o vencedor, enfiou-se pelo Tejo, pensando que era o mar… Já o Alva furioso e cego, espumante e branco, prateado resplandecente, quando o Sol lhe bate, vai correndo cego e veloz e viu uma toalha de água espelhada, revolta como um oceano, mas que era apenas o Mondego calcorreando por entre vales apertados antes de chegar a Coimbra, que era o seu irmão e rival. O Mondego sorriu ao embaraçado irmão, que caiu na ratoeira sem saber, pois, julgava que tinha chegado ao mar, mas caiu nos braços possantes do seu irmão, que o submergiu, o engoliu para sempre. Só o Mondego chegou ao mar.

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Assim, dos três rios que nasceram na Serra da Estrela, só um chegou ao mar, mas que é o maior rio de Portugal. É assim que me lembro da Serra da Estrela, desde a minha infância. Recapitulando, a Serra da Estrela tem uma altitude de 1993 metros na Torre, com uns desníveis impressionantes e maravilhosos, de uma rara beleza paisagística, podemos viver intensamente a pureza do ar, do seu silêncio, de uma visão deslumbrante, quando o tempo está límpido e transparente, olhando para Oeste é capaz de se ver o mar e para Norte outras serras. É um Parque Natural por excelência que para além de apreciar a sua beleza dá para fazer muitos tipos de desportos, tanto de Verão, como de Inverno; como, passeios por trilhos, de bicicleta TT, moto TT, desportos radicais e parapente. Tem vários níveis de dificuldade, dependendo do estado e do conhecimento que o desportista amador ou profissional tem da Serra, pois ela também tem muitos sítios perigosos e misteriosos. É um espaço que me diz muito, não só das lembranças da infância, das peripécias que vivi lá, mas é um lugar que continuo a admirar, a deslumbrar-me e sempre que posso, dou sempre um salto até lá. É muito bom para aliviar e soltar o espírito e estar em comunhão com a Natureza. É indescritível. É quase um lugar sagrado.

os AnimAis sAbem… Muitas vezes vi comportamentos estranhos em vários animais domésticos e nunca soube interpretá-los convenientemente, talvez devido à minha ignorância e adolescência da altura, até os factos e os dados se concretizarem, como os tremores de terra. Eles sabiam com bastante antecedência que qualquer coisa ia acontecer e que podia ser grave ou não para nós e para eles. Até as aves tinham atitudes fora do seu comportamento normal que só os entendidos sabiam ao olhar para elas. Os velhos sabiam olhar para o céu, para o horizonte e para as aves e sabiam predizer como seria o dia de amanhã. No Verão, ou mesmo na Primavera com a chegada das andorinhas, algumas pessoas já com uma certa idade e sabedoria popular, quando viam as andorinhas a voar tão rente ao chão, elas previam mudança de tempo. Normalmente as pessoas do campo estão habituadas a interpretar as nuvens, as aves e o pôr do Sol e predizer qual será o tempo no dia seguinte, se vai chover ou fazer vento suão. As pessoas da cidade não sabem interpretar os sinais do Tempo. Eles estão à espera das notícias dos jornais ou da rádio, a dizer qual e como vai ser o tempo no dia seguinte. Não se incomodam a olhar com olhos de ver e sentir as vibrações que pairam no ar e a interpretá-las. Vão algumas vezes à janela, olham para baixo e pouco para cima. Estão nos seus afazeres e ignorando tudo o resto, no seu dia a dia, na sua rotina entediante de trabalho casa, casa trabalho, não abrindo horizontes para novas modalidades de saber estar, apreciar e conviver com a Natureza. Quem vive no campo, adquire ao longo dos anos, e por passagem oral, uma experiência que vai adquirindo ao longo dos anos, a faculdade especial de previsão das mudanças de tempo. Aqui aplica-

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se a Universidade da Vida, o estudo e a interpretação do voo de certas aves, os hábitos de certos animais, determinadas colorações do céu, das formas particulares das nuvens, sem aqueles chavões dos meteorologistas, em que tudo isto pode constituir o objecto de previsões mais ou menos seguras, para o dia a dia do agricultor ou do pastor de rebanhos. Eles não sabem explicar bem para nós, citadinos, a relação existente entre o que observam e as mudanças do tempo e as mudanças de atitudes das aves ou dos animais que têm a seu cargo, ou até mesmo os selvagens. O seu saber é fruto da experiência evidenciada ao longo dos anos, do que diziam os mais velhos, dos saberes populares, da transmissão oral de pais para filhos, ou dos avôs para os netos em noites de serão. Isto aplica-se a todos os animais sem excepção e as pessoas que sabem olhar com atenção para os seus comportamentos, sabem as condições do tempo que está em mudança. Eu lembro-me que na escola aprendi a fazer um higrómetro com cabelo humano. Tanto o cabelo humano, como o de qualquer outro animal, os pelos crescem ou retraem conforme a humidade existente no ar. Fazíamos uma escala, depois de fazermos várias experiências com o cabelo seco e com o cabelo molhado, riscando na tábua e escrevendo tempo seco, meio seco, meio húmido e húmido, chuva. Era assim que tínhamos o nosso higrómetro caseiro, para medir a humidade atmosférica. Os nossos trabalhos de campo era levar o higrómetro para o ponto mais alto do monte e registarmos os valores ao fim de 15 a 20 minutos. Depois íamos para o sítio mais baixo, para um vale e ao fim de algum tempo fazíamos as medições. Os valores eram obrigatoriamente diferentes e tínhamos que registar tudo isso para depois levarmos para as aulas e explanarmos os nossos trabalhos. Portanto os higrómetros que normalmente temos nas nossas casas, são constituídos por uma substância que tem a 76

propriedade de absorver a humidade da atmosfera e, como consequência disso, variar o volume. Esse volume será indicado numa escala graduada, o estado higrométrico com que vemos se o tempo vai estar bom ou se vai chover. Seja como for todos os animais pressentem qualquer anomalia que se passa na profundidade da Terra e dos seus tremores, pois a Terra não é estática, mas dinâmica. Há dois tipos de antecipação: a longa, em que os bichos percebem o tremor muito antes de acontecer (até três semanas), e a curta, em que isso ocorre algumas horas antes de os humanos se darem conta. Em ambos os casos, os animais fogem para longe da área afetada. Os que vivem em cativeiro ficam irrequietos. Uma possível explicação para a antecipação longa é que a tensão nas placas gera alterações nos campos magnéticos da região, o que pode ser sentido pelos bichos. Outra hipótese é que, também devido à tensão, o solo emitiria radiação infravermelha, a qual pode ser vista por algumas espécies de serpentes e insetos. Cientistas especulam que a antecipação curta ocorra porque alguns animais conseguem ouvir sons de frequência baixa (pássaros e elefantes) ou alta (roedores) vindos do solo. Outra teoria é que há vários tipos de ondas sísmicas e os bichos sentiriam as primárias (que chegam mais rápido, mas são menos agressivas). Parecendo que não, os animais têm muitos segredos que nós nem sequer imaginamos. Os nossos animais domésticos, caseiros como os cães e gatos sabem mais de nós e das nossas doenças, do que nós próprios ou o nosso médico de família. É que os animais têm uma espécie de radar, de GPS na cabeça. A conclusão das pesquisas de alguns especialistas, é de que são de pouco ou nenhum valor o olfato e a memória visual dos lugares que os animais cruzaram. Em muitos casos, era na verdade impossível tomar consciência dos espaços percorridos – por exemplo, no caso de viagens aéreas ou de trem (e pensemos que os citados animais escolheram meios e estradas 77


totalmente diversas daquelas usadas durante a viagem de ida). Tudo se passa como se os animais tivessem um mapa magnético na cabeça, um “radar” funcionando o tempo todo, capaz de conduzir seus passos em situações críticas. Uma espécie de GPS biológico. Acho que as pessoas deviam de ter mais atenção aos animais e à maneira de como eles se comportam, pois eles podem salvar a nossa vida. Na Europa e na China, zonas sujeitas a abalos sísmicos, todos prestam atenção quando animais em cativeiro – como aqueles trancados em zoológicos – mostram sinais de inquietação. Desde a antiguidade há relatos que falam dessa capacidade de previsão dos animais, que, bem antes do momento da catástrofe, começam a comportar-se de maneira estranha, mostrando um forte desejo de abandonar a casa do dono e fugir para longe, como se previssem, ao mesmo tempo, salvar a própria pele e avisar às pessoas de que não é mais o caso de permanecer naquele lugar. Pode-se dizer também que os animais têm uma empatia com as pessoas bastante forte e que são telepáticas. Eles podem receber os nossos pensamentos e nós podemos receber os deles, se soubermos interpretá-los. E neste caso tive pequenas experiências com diversos animais, tanto do comportamento deles, como do meu, pois eles sabem que não sou um perigo para eles e que normalmente não ultrapasso a fronteira invisível entre a minha presença e a deles, mantendo e respeitando a distância, que até pode ser de poucos metros como aconteceu uma vez com um lobo de bom porte, com várias raposas e um veado. Nunca me deparei com um javali, mas se for à zona de Sesimbra, de certeza saberei qual será o comportamento deles e do meu, já que eles estão habituados às pessoas. Nunca liguei a estes pormenores até relativamente à pouco tempo, quando comecei a ver e a ler histórias sobre os comportamentos dos animais perante catástrofes naturais, perante pessoas que estava quase a ter AVC´s, e a dar a sua vida para nos salvar. Ainda temos muito que aprender. 78

Mar multifacetado Desde muito novo que em Agosto ia para a Figueira da Foz com os meus pais, passar um mês de praia, que era considerada na altura como a “Rainha das praias”. Desde que me lembro foi a partir de 1958 que comecei a ir para esta bela cidade, com os meus pais, avós, padrinhos, tios e primos. Sempre cheia de gente que vinha de todos os lados do País, e até do estrangeiro. Era quase como se fosse tradição familiar em que o mês de Agosto tinha de ser passado na Figueira da Foz, porque em finais de Setembro ou meados de Outubro era para passar quinze dias numas termas. Cedo aprendi a andar sozinho ou em grupo familiar ou de amigos de ocasião, pela cidade e muitas vezes em vez de irmos para o mar, íamos para a piscina que havia em frente ao mercado, que era bastante concorrida, e outras vezes quando o tempo estava mau e o mar bravo, também íamos para a piscina do Grande Hotel. Nessa altura o mar estava junto ao forte de Santa Catarina, a praia até Buarcos não era muito larga e havia esgotos a céu aberto até ao Cabo Mondego. No Inverno o mar galgava a estrada e inundava as casas que estavam mais perto da praia, principalmente em Buarcos, que aquele largo era martirizado pelas maiores marés de Lua cheia. Mas outra coisa que me marcou muito, a qual eu assisti algumas vezes e que me ficou na minha memória, era quando as barcaças e as traineiras tentavam sair para o mar e mais tarde quando tentavam regressar e entrar para o porto. Nessa altura não havia os paredões, que existem desde meados da década de setenta, que protegessem as embarcações. Quem comandava era o mar, dependendo do seu humor na altura, mas eram o tamanho das ondas que assustavam os pescadores e tentavam e faziam os possíveis para que as embarcações não se afundassem. Tanto a saída como a entrada 79


tinha de ser ritmada com a ondulação e com a rebentação. Era o mestre da faina da barcaça que estando de pé e ao leme, dava ordem aos homens que tinham os remos, quando tinham de remar ou parar à espera que passasse a nova onda. Quando a onda passava, tinham que remar o mais rápido possível, para fugir à que vinha de trás. E era assim que eles conseguiam entrar na Foz do Mondego até ao porto em segurança, que não era fácil, visto muitas vezes as ondas serem maiores que as próprias barcaças, pondo a embarcação a 45 graus na vertical e os homens tinham que se segurar bem aos acentos para não serem cuspidos. As embarcações tinham que estar sempre perpendiculares à onda, se não elas voltavam-se ao contrário. Algumas vezes a própria força das ondas levavam as barcaças contra as rochas ou à areia existente junto à piscina e ao mercado, passando o Forte. As traineiras era a mesma coisa, apesar de serem maiores e terem motor, tinham que entrar e sair com muita cautela e sempre pelo meio do rio, para não serem arrastados para as rochas ou para o areal. Era um cenário bastante dramático, em que os familiares dos pescadores se amontoavam na foz, junto ao forte em gritaria e em choros. Acompanhavam-nos sempre à saída e à entrada em altos alaridos, outras vezes dando força e esperança, outras vezes em desespero à espera que cheguem salvos a terra.

também recebe atributo. Tanto material, como humano. Mete medo e merece respeito, quando está furioso.

A saída do Mondego para o mar não era pacífica. Dependia muito da enchente ou do vazar. O mar era o patrão e conforme o seu humor, assim eram as suas marés. Era ele que ditava as leis, assim como as condições meteorológicas eram boas ou adversas, cinzento e com nevoeiro, em que não se enxerga nada, ou radioso e maravilhoso com um Sol bastante luminoso, ameno e de uma brisa suave.

De uns e outros, desde o Forte até ao cais de atracagem, uma multidão está em aflição. Todo o espaço junto ao rio, grita de dor. Estão aqui as mulheres jovens e namoradeiras, as mães, as filhas com as gargantas sufocadas, e que perguntam numa ânsia:

O mar na foz enrolava-se, subindo o rio, enquanto as ondas ondeando suavemente para o areal iam morrendo lá e voltado ao mar outra vez, convidando a um mergulho. Mas a foz não é bem assim… O mar dá, o mar tira. O mar alimenta, dá o pão a muita gente, mas 80

O tempo e o mar piorou… A foz está fechada, envolvida em novelos sobre novelos de espuma esverdeada, sarapintada de branco. Para lá da foz, da arrebentação, ainda um pouco longe, umas vinte ou trinta traineiras esperam pacientemente que haja uma acalmia ou ordem da Capitania, para poderem entrar. Escurece mais, as nuvens ainda sobrecarregam mais, tornando ainda mais negro o fim de tarde. Pelo Forte de Santa Catarina e pelas rochas circundantes, acode o mulherio, com a saia pela cabeça, a correr, gemendo e chorando, gritando, bradando aos céus em orações para que nada aconteça. Algumas são muito velhas e trotam desengonçadas, com gritos de desespero: - Ai o meu rico filho, que o não torno a ver… Outra mais nova: ai o meu rico marido que já não o volto a ver… Não desesperem. Talvez arribem mais a Norte, ou lá para a Nazaré. Os salva vidas estão a postos. Mas a capitania está renitente e insegura… Com este tempo, quem é que se atreve?

- Viram-nos? Viram-nos? Aonde é que eles estão? Aonde se encontram? A barcaça onde anda o seu homem não está aqui, está muito para lá da foz. - Oh, Jesus! 81


Talvez não esteja ao largo. Talvez esteja se dirigindo para outro porto… E um velho pescador explica: - Está aí a companha do Manel. Vem lá ao fundo, conseguiu passar. Olhem! Vem aí outra com a vela rasgada. Esperem… Esperem… - E os da ti’Xica? - Por ora não se sabe deles. O meu rico filho! O meu rico filho!... Um bando de mulheres chega à última hora, vindas de mais longe, com as mesmas lágrimas e os mesmos olhos de pasmo. - Senhor dos Navegantes, acudi-lhes! Meu rico Senhor!... É agora! É agora!... O piloto-mor dá o sinal com a bandeira e com um feixe luminoso, visto que mal se vislumbre à distância qualquer silhueta. Do seu olhar, do seu saber, da sua experiência, depende a vida de muitos. Daqueles homens simples e rudes, que arriscam a vida para pôr na mesa a comida. É agora!... Os barcos, levantados ao alto da onda ou arrastados para os abismos cavados entre vagas, avistaram-na lá ao longe, um vulto muito ténue. Alguns mais atrevidos remam, tentando fugir aos vagalhões e alcançar o cais, aonde mora a segurança. No cais toda a gente sufocou, numa rodilha de dor. As mulheres caem de joelhos, torcendo as mãos e os aventais, clamando a vida deles.

Ó coração de Maria, pidi ao Senhor por eles! Chagas abiertas, coração ferido, sangue derramado de Nosso Senhor Jesus Cristo, ponde-vos entre eles e o perigo! Acalmai o mar e o vento!... Uma bate punhadas no peito, outra rasga a cara com as unhas: - Perdão para o meu filho nessas águas malditas! Um cenário dantesco de dor, de desespero, vendo aquela gente a declamar clemência perante as forças da natureza. Aquela horrível suspensão durou longos minutos. Alguns barcos conseguiram passar, outros tentam passar, alguns hesitam e se não se resolvem podem ser apanhados por uma vaga ainda mais forte e maior. E foi isso que aconteceu… Uma vaga forte apanha-os, sacode-os e os despedaça entre cóleras e espumas. No cais um grito… Um grito aterrador, um grito inútil, se ninguém os vai tentar salvar. Os que estavam mais perto lançaram-lhes boias, outros cordas, e outros pediram o salvavidas para os tirar da água, já que a barcaça e o pescado estavam perdidos. Conseguiram a custo tirá-los da água. Desta vez o mar não reclamou vidas. Só bens materiais. No final as lágrimas eram de alegria, abraços e de alívio, mas que ficará na memória para todo o sempre. É uma profissão de alto risco, em que os familiares andam sempre com o coração nas mãos, em que se envelhece mais cedo, com o tempero do sal e dos humores do mar. Ele dá alegrias, dá lazer e prazeres, belezas enormes, tesouros, mas também dá dor, suor, sangue, choro e morte.

Pidi por eles, Senhor Jesus Cristo! O meu home! O meu home!... Todos os familiares dos pescadores arrastam os joelhos nas pedras gritando, como se tivessem em Fátima: 82

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Vamos falar de futebol? A sua história O futebol parece ser um desporto moderno, mas não é! Tem milhares de anos e que foi evoluindo ao longo dos séculos. É um desporto que move multidões, move paixões, sentimentos por vezes violentos, que passou a ser do povo para o povo, que as elites assim controlavam melhor os seus súbitos. Dêem-lhes vinho, pão e arena, e eles ficaram contentes. A origem dos jogos perde-se na noite dos tempos desde o aparecimento do Homem na Terra. Na Pré-História e durante milhares de anos os jogos estavam ligados a festas em honra dos deuses que se celebravam principalmente nos Solstícios e nos Equinócios, ou em favor de algum grande acontecimento que ficou registado nas memórias de todos. Sabe-se que na Pré-História, embora um pouco duvidoso, um dos jogos em determinadas festas em que várias tribos se juntavam para celebrar um determinado acontecimento, uma delas era combater contra um urso, que o esfolavam e que a cabeça servia de bola numa espécie de jogo entre as tribos. Costumavam morrer alguns indivíduos. Outro dos jogos era uma espécie de luta Greco-Romano dentro de um círculo a tentar apanhar a cabeça de um animal. Aquele que conseguisse apanhar a cabeça do animal ganhava o troféu. Aquele que saísse fora do círculo, perdia ou quando era deitado ao solo sem ter podido apanhar a cabeça do animal em causa. Mais tarde, na desaparecida e lendária Atlântida, as festas em honra de Poseidon, continha muitos jogos tais como corridas de cavalos, corridas de carros de combate, corridas de mensageiros, lançamento de lanças e arcos de flechas, uma espécie de tourada ou tipo de rodeo 84

em que os protagonistas eram mulheres, embora também houvessem homens, bastante elásticas e musculadas em que a finalidade era saltar sobre touros selvagens e fazer habilidades sobre eles. E… Também um desporto com uma espécie de bola em honra a todos os deuses, por vezes violento com muita gente dos dois lados a tentar levar a bola para um dos extremos da arena. Quem conseguisse chegar a um dos lados, ganhava. Valia de tudo, empurrões, desde murros a pontapés para levar a bola para um dos extremos da arena, enquanto os espectadores de ambas as facções gritavam incentivos. Sabe-se também que o futebol foi inventado pelos Incas, Maias e Astecas, mas também há pessoas eruditas no assunto que dizem que o futebol vem do Oriente, da Ásia; no período eneolítico do Japão, da fase Jômon à de Yayoi, praticou-se um jogo designado por “kemari”, consistindo em sucessivos toques com o pé numa pequena bola de couro que estava suspensa a uma certa altura do chão. Na China, nos prelúdios da nossa era (32 a.C.), o imperador Cheng-Ti era um entusiasta de um jogo que ainda hoje é extremamente popular em Macau sob o nome de «bolinha», também de couro, todo ele voltado à habilidade e à perícia na condução da pequena esfera de couro. Na Europa, na Idade Mediaval e Média já se jogava futebol, mas foi proibida, por ser um jogo demasiado viril, violento, em que muitas vezes as pessoas ficavam feridas com gravidade, e algumas até morriam. Portanto o futebol é um dos jogos que se praticam há mais de dois mil anos. Há quem diga que tem mais de dez mil anos, antes do dilúvio universal. Mas foi na Grécia que os jogos se tornaram mais relevantes a que os gregos deram o nome de Jogos Olímpicos. Esta competição atlética, descritos nestes moldes através da História é a mais antiga do Mundo. Os primeiros Jogos Olímpicos conhecidos tiveram lugar em Olímpia em 776 a.C... Estes jogos efectuaram-se em honra aos 85


deuses do Olimpo por os ajudarem na vitória contra os Persas em Maratona, onde se efectuou o encontro entre Gregos e Persas, em que um soldado grego serviu como mensageiro, para dar as boas novas a Atenas e correu 42,195 km, a distância que separava estas duas cidades. Estes jogos são efectuados de quatro em quatro anos para celebrar este acontecimento, em que Hermes era o patrono, porque era o mensageiro dos deuses e era suposto proteger os escritores, atletas, negociantes, viajantes, ladrões e vagabundos e era também o dos pastores e dos seus rebanhos e também trazia a boa sorte. Claro, que nestes jogos também havia uma espécie de futebol em couro entrelaçado, e várias equipas em competição. As olimpíadas gregas terminaram em 394 d.C., e os romanos mais tarde tentaram continuar, mas com a queda do império Grego e pouco mais tarde pelos romanos, os jogos perderam-se durante séculos e só voltaram nos finais do século XIX, mais precisamente em 1896. Como descrito atrás, os jogos são efectuados de quatro em quatro anos, mas desta vez será sempre num país diferente. Os atletas de várias nações competem em variadíssimos desportos, entre eles o futebol. Desta vez os vencedores não recebem uma coroa de ramo de oliveira, mas medalhas. São de ouro para o primeiro lugar, de prata para o segundo e bronze para o terceiro, mas nenhum prémio monetário. O futebol tem regras específicas que foram evoluindo ao longo dos tempos, embora variando de país para país, em que hoje as regras são iguais para todos. Em quase todas as civilizações da antiguidade é possível encontrar registos ou descrições de jogos semelhantes ao futebol actual como por exemplo na China há mais de 2500 anos, já se praticava um jogo muito semelhante, mas foi na Grã-Bretanha durante o século XIX que as suas regras começaram a ser definidas e a aproximar-se das que hoje são praticadas. O primeiro regulamento data de 1823 e nas décadas de 1850-1860, o futebol passou das escolas para os clubes. A primeira associação inglesa surgiu em 1863 86

e representava os clubes de várias cidades. O Futebol começou a tornar-se conhecido em Portugal nas últimas décadas do século XIX, trazido por jovens britânicos residentes em Portugal que estudavam em Inglaterra, assim como por estudantes portugueses que de lá regressavam. Em Portugal, o primeiro encontro de futebol experimental aconteceu em 1888 por iniciativa de Guilherme Pinto Basto e o primeiro jogo oficial foi em 1889, no Campo Pequeno, entre portugueses e ingleses. Em 1893, o futebol foi abraçado pela Real Casa Pia de Lisboa e, pouco a pouco, generalizou-se às outras escolas e clubes da cidade. A organização de torneios oficiais só começou em 1907, o que levou à criação da Liga da Associação de Futebol que, em 1909, se filiou na FIFA. O primeiro sítio onde se jogou futebol em Portugal foi no Largo da Achada, na freguesia da Camacha, Ilha da Madeira, no ano de 1875. O desporto foi introduzido por Harry Hinton, jovem britânico que estudava em Londres, mas que residia na Ilha da Madeira, cujo pai tinha uma quinta naquela freguesia, onde costumavam passar os Verões. O jogo foi jogado com uma bola trazida de Inglaterra depois de explicadas as regras. Testemunhos orais confirmam a rápida e crescente popularidade do desporto que em breve se alastrou a toda a freguesia e brevemente ao resto da ilha. Um pequeno monumento foi erguido para comemorar este feito no Largo da Achada. Em Portugal Continental a primeira pessoa responsável pela sua aplicação terá sido Guilherme Pinto Basto (de acordo com os seus irmãos Eduardo e Frederico terá trazido a primeira bola de Inglaterra). Foi ele que teve a iniciativa de organizar uma exposição do novo jogo que teve lugar em Outubro de 1888 e foi também ele que organizou o primeiro jogo em Janeiro do ano seguinte. A partida teve lugar onde é hoje a Praça de Touros do Campo Pequeno opondo a equipa de Portugal à da Inglaterra. A portuguesa venceu o jogo 2-1. Consequentemente, o futebol começou a atrair a atenção da alta sociedade. 87


Mais tarde começou a ser praticado em academias e levou à fundação de clubes em todo o país. Até o final do século, associações como Club Lisbonense, Grupo Desportivo de Carcavelos, Braço de Prata, Real Ginásio Clube Português, Estrela Futebol Clube, Académico Futebol, Campo de Ourique, Porto Cricket, e Sport Clube Vianense foram fundadas para praticar este desporto ou secções criadas para competir. A primeira partida, entre Lisboa e Porto, realizou-se em 1894 e foi assistida pelo rei D. Carlos. O Clube Internacional de Football (fundado em 1902) foi a primeira equipa portuguesa a jogar no estrangeiro derrotando, em 1907, o Madrid Football Club na capital espanhola. No Brasil a história não foi muito diferente da de Portugal. A história do futebol no Brasil começou em 1895, pelas mãos dos ingleses, assim como na maioria dos outros países. Os primeiros clubes começaram a se formar neste período. Assim como a fundação dos clubes, a prática também era restrita à elite branca. Diz-se que a primeira bola de futebol do país foi trazida em 1894 pelo paulista Charles William Miller. A aristocracia dominava as ligas de futebol, enquanto o desporto começava a ganhar as várzeas. As camadas mais pobres da população e até negros podiam apenas assistir. Somente na década de 1920, os negros passaram a ser aceitos ao passo que o futebol se massifica, especialmente com a profissionalização em 1933. Alguns clubes, principalmente fora do eixo Rio de Janeiro e São Paulo, ainda resistiam à modernização e continuavam amadores. Mas com o passar do tempo, quase todos foram se acomodando à nova realidade. Diversos clubes tradicionais e consagrados abandonaram a elite do futebol, ou até mesmo o desporto por completo. Durante os governos, principalmente de Vargas, foi feito um grande esforço para alavancar o futebol no país. A construção do Maracanã e a Copa do Mundo do Brasil (1950), por exemplo,

foram na Era Vargas. A vitória no Mundial de 1958, com um time comandado pelos negros Didi e Pelé, o mestiço Garrincha e pelo capitão paulista Bellini, ratificou o futebol como principal elemento da identificação nacional, já que reúne pessoas de todas as cores, condições sociais, credos e diferentes regiões do país. A Fundação Internacional de Futebol (FIFA) data de 1904 e passou a ser responsável pela organização da taça do mundo, que se realiza de quatro em quatro anos, desde 1930. Na fase mais recente da estrutura dirigente de futebol internacional, encontra-se a criação da UEFA (União das Associações Europeias da Futebol), criada em 1954 com o objectivo de dinamizar o futebol europeu. A Federação Internacional, as confederações regionais, as federações nacionais e as associações locais (em cada país) possuem o poder jurisdicional sobre este desporto e a estes órgãos cabe a tarefa de resolver qualquer conflito com ele relacionado.

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O futebol tem várias variantes, como é o caso do futebol americano e do australiano. Apesar de todas as suas variantes, o futebol é um desporto de multidões em que os protagonistas, as estrelas se elevam a deuses. Antigamente este desporto era em honra dos deuses. Hoje são os jogadores que são endeusados, que levam ao delírio o público, que movem milhões de euros, de dólares ou reais. Hoje o futebol não é só um desporto. É uma empresa bem montada que move milhões e que eleva os seus jogadores ao alto patamar do panteão de deuses, tais como Pelé, Eusébio, Puscas, Maradona e tantos outros num passado recente, como os de hoje que idolatram Ronaldo e Messi. É assim que é o futebol, este desporto apaixonante, que cativa e deixa pregado o espectador ao chão, com emoções ao rubro, tanto no passado, hoje, como será no dia de amanhã.


A FEIRA DE s. Mateus Quando estava a estudar em Viseu no Colégio S. Agostinho na altura em que começava as aulas em meados de Setembro ou princípios de Outubro, ficava sempre contente não pelo começo das aulas e rever os meus amigos, mas por poder andar na feira. Gostava daquele reboliço, daquela barulheira de mistura de vários sons, como música bastante alta e as vozes dos feirantes com megafones a tentarem vender a sua mercadoria. Era uma festa para nós que furávamos tudo para ver as novidades do ano. Mas começamos pelo princípio. A sua história, que segundo me disseram era muito antiga, do tempo dos reis. Bom… Fui buscar aos anais da História, o seu princípio e como foi criada. A antiga Feira Franca de Viseu, atualmente conhecida como Feira de S. Mateus, foi criada pela Carta de Feira concedida pelo rei D. João I em 10 de janeiro de 1392. A nova feira franca anual tinha início no dia de Santa Cruz (3 de Maio) e durava um mês. Em data desconhecida, mas ainda no reinado de D. João I, a feira passou a realizar-se no dia de S. Jorge (23 de Abril) e foi transferida para Vila Nova (na área da Cava de Viriato) onde existia uma capela dedicada ao santo. Tanto a mudança de data e de local, como os privilégios anteriormente concedidos foram confirmados por D. Duarte em 1436, excetuando a isenção de metade da sisa. Após anos de dificuldades, a feira anual de Viseu foi reanimada pelo Infante D. Henrique (Duque de Viseu), que obteve do seu irmão D. Pedro (como regente em nome de D. Afonso V) autorização para a realização de uma feira anual “na cerca da ualla” (Cava de Viriato), a iniciar 8 dias antes do dia de Santa Iria e a terminar 8 depois (12 a 28 de Outubro), com os privilégios e liberdades da Feira de Tomar. O exclusivo da construção e aluguer das boticas foi entregue ao 90

Infante, sendo as respetivas rendas destinadas à construção da sua capela no Mosteiro da Batalha. D. Afonso V confirmou, em 1449, a autorização ao infante D. Henrique, alterando o período de realização da feira anual para 15 dias, a começar no dia de Santa Iria (20 de Outubro a 4 de Novembro). Em 1460, o Infante D. Henrique entregou os rendimentos da feira anual ao Cabido da Sé de Viseu, ficando os cónegos com a obrigação de rezar missa em sua memória todos os sábados de cada ano e missa em honra de S. Jorge na sua capela e no seu dia, bem como a manutenção da capela de S. Jorge. Após a morte do Infante, em 1461 o Cabido tomou posse da feira. Uma década depois, o Cabido solicitou a D. Afonso V a alteração da data da feira, que passou a realizar-se a partir do Dia de Todos os Santos (1 de Novembro), já que em Outubro os mercadores da região acorriam à feira de Medina del Campo e a população local estava ocupada normalmente a trabalhar nas vindimas. Em 1501, após uma interrupção de 4 anos, a feira voltou a realizarse, tendo D. Manuel I autorizado a sua transferência para o interior da cidade, a pedido do Cabido devido à insalubridade da Cava e às “desonestidades” que por ali se praticavam. Todavia, a documentação do século XVI regista novas dificuldades de manutenção da feira anual, que acabou por instalar-se no Rossio da Ribeira. Em data incerta, que alguns historiadores atribuem ao século XVI, a feira passou a realizar-se em setembro, por altura do dia de S. Mateus (21 de Setembro). Entretanto, o Senado Municipal assumiu a organização da feira, como atesta uma provisão régia de D. Maria I, datada de 1797. Nessa época, a feira anual de Viseu era já considerada uma das mais importantes do reino. Assim o confirmam, entre outros testemunhos, as Memórias Paroquiais de Viseu (1758) ou o relato de viajantes estrangeiros como Heinrich Link que, após a sua visita a Viseu em 91


1798, afirmou que a cidade era “particularmente famosa pela única grande feira em Portugal, que aqui tem lugar anualmente”.

século XX. A feira anual assumiu em definitivo o papel de festas da cidade e o feriado municipal passou a ser o dia de S. Mateus.

Entre os finais do século XIX e os inícios do século XX, a feira foi definhando, não só pela diminuição da sua utilidade como mercado, devido às profundas alterações nas dinâmicas da comercialização de bens a nível nacional, mas também por falta de um bom projeto credível para local de revitalização. Apesar de decrépita, após 1910, a feira ainda continuava a ser um período de convívio da comunidade local, durante o qual os namoros ganhavam alento… Todavia, para além de alguns memoráveis espetáculos circenses, do cinematógrafo, do aparecimento da primeira barraca de farturas, por volta de 1914, e da construção de um coreto, a feira desses tempos trouxe poucas novidades. À beira da extinção, acabou por beneficiar de um projeto de renovação, implementado pelo executivo municipal a partir de 1927, segundo um novo modelo de Feira-Exposição e Festa Popular, com expositores, concertos, circo, concursos, provas desportivas, fogo de artifício, iluminações artísticas e pórticos decorados. Surgiu então o primeiro cartaz anunciador da feira (1928) e a primeira revista (1930). Foi também introduzido (em 1929) o primeiro dia com entrada paga, denominado Dia de Viriato, já que as verbas obtidas se destinavam inicialmente ao Monumento a Viriato. Nas décadas seguintes, o recinto da feira foi sendo requalificado, os pavilhões de exposições e outras estruturas foram surgindo, a iluminação artística tornou-se uma imagem de marca. Novas tradições afirmaram-se na Feira, como a Marcha das Aldeias, os bailes do Salão de Chá dos Bombeiros Voluntários, o caldo verde e as enguias. A integração de manifestações culturais e desportivas no programa foi crescendo entre a década de 40 e a década de 70 do

Entre o 25 de Abril de 1974 e 1994, o recinto da feira estendeuse às duas margens do Pavia e a programação desportiva e cultural ampliou-se substancialmente. Os espetáculos musicais assumiram cada vez mais importância no programa. Em cada ano passaram a estar disponíveis exposições temáticas, salões de pintura e de banda desenhada, ciclos de cinema para adultos e para crianças, festivais de folclore nacional e internacional e exposições de artesanato regional. Em 1995 surge um novo modelo de gestão da feira com a constituição da Expovis - Promoção e Eventos Lda, com dois sócios fundadores – a Câmara Municipal de Viseu e a Associação Empresarial da Região de Viseu (AIRV) - entidade que passou a ser responsável pela organização de toda a área da feira. Entre 2003 e 2005, no âmbito do programa Pólis, concretiza-se uma profunda reorganização do espaço e das infraestruturas da feira. Desaparece o emblemático “picadeiro”, ponto de encontro incontornável, e os pavilhões de exposições, surgindo o Pavilhão Multiusos. Em 2014, a Expovis entra em processo de extinção, sendo substituída em 2016 pela Viseu Marca, a nova entidade organizadora da Feira de S. Mateus. Entretanto, em 2015 dava-se início à revitalização da feira, com alterações ao nível da sua programação e promoção, bem como da disposição do recinto. Entre a aposta na conquista de novos públicos e a reconciliação com as tradições históricas da feira, em 2015 assistiu-se, por exemplo, ao regresso das sessões de cinema e do mítico “picadeiro”, a avenida que atravessa todo o recinto da feira desde a porta de Viriato até ao palco.

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Acabando esta resenha histórica, vamos ao meu tempo de jovem estudante, na década de 60 do século passado, ainda garoto, que sempre que podia, fugia à vigilância do colégio e ia à feira. Algumas vezes ia com meus familiares à noite, mas no tempo das aulas ia durante o dia com os meus amigos, irmãos e primos numa correria louca e entrávamos pelo lado da estação, que era o caminho mais perto e rápido a partir do colégio. Estávamos todos em “pulgas” à espera do dia, do primeiro dia da feira para poder espreitar e ver tudo com olhos de fome, não de comida, mas de todas as novidades que a feira podia fornecer. Eram filas infindáveis de barracas de madeira, de lona ou de chapa metálica, de um lado e nos extremos tínhamos os comes e bebes, farturas, algodão doce, pipocas e outras iguarias e no outro extremo os carroceis de todos os tipos e feitios para a pequenada e para os adultos. Uma multidão enorme passeia na rua entre barracas de todos os tipos, olhando para um lado e olhando para o outro, acotovelandose, empurrando-se, fazendo ziguezagues, por que era impossível ir a direito. O ruído era ensurcedor, uma misturada de vários ruídos de autofalantes, de vozes gritando, tentando que sejam ouvidos, uma algazarra descontrolada, para além do vozear da multidão que passa, música bastante alta e no meio disto tudo eu vou tentando furar, esquivar, sendo empurrado por vezes, de tropel. Roçam por mim, ou eu roçava por eles, por vezes, roupas macias, outras ásperas arranham-me a cara; ora passam por mim perfumes delicados, outros nem tanto, uns com casacos domingueiros a cheirar a naftalina com uma mistura almiscarada de cheiro a suor e a mofo. E eu vou passando, esgueirando, e, ao mesmo tempo vendo tudo o que se passava ao meu redor, tentando não perder uma pitada desta confusão, mas que me satisfazia. Os meus olhos não estavam parados. Estavam sempre a girar por todo o lado. 94

As tendas com uma grande variedade de objectos, estão abertas de um e do outro lado da rua; na parte das roupas, vêem-se principalmente as quentes samarras, para prevenir o Inverno que está a chegar; noutras vêem-se botas de cano alto, chancas de madeira, tamancos e chinelos de solas de madeira, sapatos de sola de borracha ou de capa dura de animal, sapatos finos, enfim! Uma variedade para todos os gostos e para todas as carteiras. Mais além temos as barracas de objectos miúdos, são as mais vistosas, brilhantes e os seus donos anunciam aos microfones as suas propagandas, que alegram os nossos olhos, as cores garridas do amarelo, do vermelho, do azul, o metálico dos brinquedos, com que gostávamos de brincar. Tínhamos os olhos postos nas bolas, automóveis de todos os modelos, grandes e pequenos, aviões, pistolas, espingardas, raquetes, gaitas de boca, flautas de lata e de plástico e tantas outras coisas com que nos deliciávamos ver. Ao lado brilhavam as miudezas, joias baratas, canivetes, caixilhos e outras bugigangas; nas barracas de cutelaria brilham também os faqueiros e outros objectos metálicos; brilham as joias e as pratas, o ouro trabalhado nas tendas dos ourives; noutras há jarras e porcelanas esbeltas e caras, noutras vasos e bilhas de barro, louça regional; na barraca seguinte ouve-se uma voz de homem a dizer «Vai andar! Vai andar!» e o ruído característico de uma roleta a rolar até perder a velocidade e parar nalgum ponto a dizer o que irá sair: é a barraca dos alumínios. De seguida, um pouco mais à frente, chega-me ao nariz o cheiro forte a fritos: é a barraca das «farturas», quentes e saborosas. Lá andam atarefados os cozinheiros de barrete e avental branco e as mesas cá fora estão cheias de gente a comer e a beber. Mas o que mais queria e me apetecia para além disto tudo era a zona dos divertimentos. É um sítio bastante frequentado pela pequenada e pelos graúdos. Aí, é uma enorme confusão e o ruído ainda é maior, para além da grande movimentação existente, pois 95


toda a gente quer um lugar nos carrinhos de choque ou nos carroceis. Os alto-falantes fazem-se ouvir bastante altos, procurando sobreporse uns aos outros, berram mais alto, como se fosse uma desgarrada. O barulho dos carroceis, onde giram, aos altos e baixos, girafas às pintas, cisnes brancos, cavalos e burrinhos alegres, para além de carros, tudo anda à volta, tudo roda, num movimento ensurdecedor; o rolar metálico dos carros de pista fere-nos as orelhas, mas não nos importamos com isso e muito menos com o trepidar do motor da motocicleta do «Poço da Morte» que do alto da estrutura estamos a ver e que nem sempre aparecia por lá. Depois a seguir veem, no meio de tudo isto, os pregões mais variados de vários lados, enquanto no ar giram os cestinhos, os aviões, dos quais eu adorava voar, e as cadeirinhas. Todas estas barracas, de cores muito vivas, apresentam figuras que atraem os olhares. Era impossível não olhar para elas.

iluminação multicolor toda. Muito mais bonita. Ficou-me sempre na memória, desde a meninice, continuou pela adolescência e depois como adulto. É uma das feiras da Beira Alta que vale a pena visitar.

Claro que eu andava nos carrosséis, nos aviões e nos carrinhos. Já não gostava de andar nas cadeirinhas e na «montanha russa», quando havia, nem na roda grande, que nem sempre lá estava. Mas já me divertia e ria, quando entrava na barraca dos espelhos. Era hilariante ver-me nesses espelhos e tomar formas bizarras em que o meu corpo se transformava, baixo e gordo, alto ou magro, anão ou disforme. As horas passam a correr e eu nem dou por isso. O tempo parou… Foi preciso chamarem-me várias vezes, abanarem-me para ir embora. Agarraram-me e à força saí do recinto. Foram horas felizes em que o tempo parece que se prolongou sem que se notasse. Foram horas mágicas! Todos os anos em que estive em Viseu ou na aldeia, a alguns quilómetros de lá, sempre que possível ia sempre à feira, nem que fosse só por umas horas, não só para matar saudades, mas quase como se fosse uma necessidade. Começou a ser quase como uma tradição. Uma obrigação. Claro que há noite a feira é muito mais vistosa, com aquela 96

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REALIDADES A vida está cheia de contratempos e de muitas disputas ao longo da vida, lutando por uma vida melhor e estabilização a todos os níveis. O problema é que sofremos reveses, por vezes complicados e outros de fácil solução, a que somos obrigados a lutar nesta selva humana e de contrastes, de variadíssimos pontos de vista. A base de todo o homem é, por conseguinte, viver no máximo rendimento, tanto nas horas de trabalho, como nas horas livres. Mas há muitos homens que não sabem como fazê-lo, como preencher o tempo no máximo conforto e bem-estar, sabendo fazer a gestão de horas como deve de ser, sem por em causa a sua saúde. A ciência hoje tem o dever de explicar, ensinar e exemplificar o homem de como se deve viver bem e agradavelmente, juntando-lhe o bom ao útil, da sabedoria à alegria, da sensatez ao ócio racional, com mordomias saudáveis, tanto para a mente, como para o físico. E isto devia de fazer parte de um povo ou grupo de povos, pois uma Nação que é formada por este conjunto de pessoas devia de fazer História, pois têm um passado em comum, que deve de ser respeitado. Só são aqueles que cumprem um destino histórico diferente do universal, que lutam pela elevação de um povo. Daí deriva que é supérfluo verificar se uma Nação possui as características de uma unidade geográfica, de raça ou de língua, pois somos uma mistura de raças, alguns dialetos e de tolerância religiosa. O que interessa aqui é se é importante determinar se universalmente, possui unidade de destino histórico. Se todos nós caminhamos pelo mesmo caminho, pelo mesmo rumo. A época clássica compreendeu isso com a clareza habitual, com a inteligência de saber qual é o seu lugar no mundo. Por isso nunca empregaram os termos de «Pátria» ou «Nação» no sentido romântico, nem se basearam no seu patriotismo no obscuro 98

amor à terra. Preferiram o contrário, expressões como «Império» ou «serviço de Reis», isto é, expressões que se referem ao instrumento histórico. Apesar de manifestações da cidade das luzes sobre «Repúblicas», invadirem o nosso País, até ao princípio do século XX, as ideias e os ideais ficavam-se por palestras e reuniões à porta fechada, indo poucas vezes ao Parlamento. Portanto há uma maneira de ver o lado histórico das expressões e das várias correntes que perfilaram no passado, ficando registadas na nossa memória e de alguns manuscritos que foram esquecidos nalgum recanto de uma biblioteca. Neste caso a realidade histórica não conhece ideais, mas apenas os factos. Não há verdades supremas, só há realidades. Não há razões, justiças, conciliações nem fins; há apenas factos. A História refere-se apenas a factos, relatos de factos. Aqueles que não conseguem compreender isto, escusam de escreverem livros políticos, mas sim romances ou novelas. As realidades estão muito longe das fantasias de alguns autores que estudaram as sociedades, pois a ditadura da economia e da riqueza está cada vez mais nas mãos de poucos e os pobres estão cada vez mais pobres, estão em divergência em vez da convergência, que os políticos palram. A sociedade coletivista não existe a não ser em teoria. Há uma grande diferenciação desta mitologia que num passado recente apregoavam. Há demasiada hipocrisia, há demasiado irrealismo na luta de classes e muita corrupção nas classes superiores, de tal ordem de que é um rico para um milhão de pobres. É impossível que esta sociedade que sobrevive, consiga ter resultados nobres de vida e de lazer, para além do trabalho mal remunerado. É impossível ter uma vida melhor em virtude da natureza dos homens.

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É que o Estado não devia de ser um proprietário monopolista, castrense, portanto esterilizante. Devia de ser ao contrário de tudo isto, não uma democracia encapotada. Não há liberdade política individual sem independência económica pessoal. A liberdade está directa e intimamente ligada à independência económica. A sociedade colectiva abafa o indivíduo, fá-lo calar, ameaçando-o com a morte social. Neste momento vê-se muito disto pelas greves que estão a fazer por todo o País. As necessidades de segurança não devem, em caso algum, abafar as exigências da liberdade, mesmo debaixo de fogo. Não podemos recuar perante o terrorismo, ou perante outras forças que tendem a abafar as nossas liberdades. E isto tem a haver com o cidadão comum, com o operário, que deve aprender a velar, ele próprio pelos seus interesses e pelo sue desenvolvimento e não deixar a sua vida nas mãos alheias, que o possam prejudicar. Actualmente o cidadão é politicamente menor que nada pode empreender se não se juntar a outros para ter maior força, sem estar sujeito aos partidos políticos, dando voz à sua indignação ao Poder, perante determinadas injustiças ou abusos de poder. O cidadão ou o operário deve de ter interesse próprio sob a sua condição social e política, para pôr fim ao regime actual, hipócrita de políticas do governo por procuração, ou a ser obrigado a manifestações para ser ouvido. Devido à crise recente, que ainda não passou, a sociedade em si, vive pelas horas da agonia, devido a medidas restritivas do Governo. A evolução da sociedade neste momento está em suspense.

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As realidades que temos não são as realidades que desejamos ou a que sonhamos, mas as diferentes realidades que temos por opção, visto não termos aquilo que queremos. Poucos são aqueles que têm uma profissão com que sonharam. A maioria escolhe não por vocação, mas por opção visto que o caminho que deseja está-lhe vedado, por já estar ocupado ou por não ter notas suficientes para lá chegar. A vida é assim, como a sociedade se escalona. Não se pode passar da pequena para a grande sociedade pelo mesmo processo, mas por evolução, cultura e civismo. É necessário nestes casos um factor de coagulação que não é associativa, mas de domínio, de imposição numa determinada sociedade que impõe regras e vive de regras. A relativa homogeneidade de que gozamos de plena liberdade em várias realidades, de várias raças que se unem numa só, de várias línguas que se tornam numa só, é o resultado de anterior unificação política. Por conseguinte, nem o sangue nem o idioma fazem o Estado Nacional, pelo contrário, é o Estado Nacional que nivela as diferenças originais dos glóbulos vermelhos e de sons articulados que os unificam em seres pensantes e racionais, visando um bem comum. É esta realidade que é construída sob vários alicerces que se unem e sustentam a sociedade e, por conseguinte, um Estado delineado por fronteiras físicas. Não basta proclamar que se ama a paz, quando a realidade e os factos dizem outra coisa. Trata-se de ser bastante forte para impor a paz aos que querem a guerra exemplificando, demonstrando que há outros caminhos, outras realidades. Não apenas verbalismos. As coisas são o que os homens são. Isto significa que as melhores instituições têm de se aperfeiçoar melhor. Não é com ilusionismos que se fazem reformas, nem se eleva a sociedade a um estado superior. 101


A desordem A desordem é todo o fenómeno que, em relação ao sistema considerado, parece obedecer ao acaso e não ao determinismo do sistema, tendo tudo aquilo que não obedece à estreita aplicação mecânica das forças segundo os esquemas pré-fixados da organização ou organizações que não se compadecem em se fazer ouvir através de manifestações, por vezes violentas com as forças da ordem. Ultimamente tem havido desordens de vária ordem a vários níveis, que levam a convulsões sociais em que os governos não conseguem desarticular devido a exploração indevida de mão de obra, a salários baixos, a migração que vem do Norte de África e Médio Oriente e escravatura humana. Uns são combinados, outros são espontâneos e outros por ajuntamentos por mensagens nas redes sociais. Há um caos total no Planeta que pode ser um perigo para os governos e para os locais de uma determinada região, visto haver sempre violência pelo meio. Os nacionalismos, os radicalistas e os terroristas aumentam este cenário de caos. Por vezes temos a sensação de viver numa sociedade tumultuosa, incontrolável e vandalista, o que não é bem assim, pois as forças da ordem tentam controlar as investidas. Mas o vírus, continua lá, para minar o Governo. A desordem pode descambar em: desarrumação, incoerência, agitação e confusão. É nestas últimas três que a desordem social se apoia para se manifestar não só contra o sistema em vigor, como contra o Governo. Portanto a ausência de ordem, seja em direito ou política, é uma perturbação da ordem pública que pode ser organizada ou não, que se manifesta contra algo, produzindo por vezes o caos. 102

Não há dúvida que estamos mergulhados numa crise em todos os sentidos e a vários níveis que podem provocar a desordem, portanto o caos. Ainda não conseguimos sair dela totalmente, mas conhecemos os seus efeitos muito bem, assim como os factos a que estamos sujeitos, não porque queremos, mas que nos foi imposto do exterior e que se infiltrou no interior a todos os níveis. Somos um País fácil e volátil às crises exteriores, assim como às perturbações sociais. Não temos força suficiente para sermos autónomos. Estamos sempre dependentes do exterior. Estamos mergulhados numa crise ética sem precedentes, e não só. A corrupção solta e o desvio de dinheiro público é uma vergonha nacional. É um deboche para uma população que vive nas filas das Seguranças Sociais, das reinserções sociais. A crise é ética e de valores. As práticas desvelam esta sacanagem, com o perdão da palavra, quando o discurso de político é mascarado e revelado no acto do exercício de poder. Delegado por nós que votamos, sempre com as velhas desculpas de jogar a culpa em quem precedeu quando chegou ao Governo. Alguém sempre é culpado, menos quem está no poder. A população portuguesa empobrecida cansou deste jogo de palavras. Este jogo que não possui cara partidária, diga-se de passagem. Parece que todos jogam na mesma equipa e estudaram na mesma escola do mamanso, das sanguessugas e vampirismo, que lhes ensinou que o poder corrompe. O Poder Político caiu muito em baixo nestes últimos anos, levando à desacreditação completa. Neste momento a série de greves a que o Povo Português está a assistir é vergonhosa, porque se chegou à conclusão que os Sindicatos não estão a lutar ao lado dos trabalhadores por melhores salários e condições, mas sim por questões políticas e mordomias, causando um prejuízo elevadíssimo à economia de um País. Hoje qualquer idiota pode fazer greve e fazer manifestações a dizer qualquer baboseira sem nexo e a”chorar” por melhores condições. 103


E nisto tudo está pelo meio a droga… Podemos falar aqui do estado paralelo de direito chamado narcotráfico. A droga está presente e vendida em todos os andares sociais. O crack deixou de ser um produto a ser consumido pela classe pobre, há muito tempo. Vivemos tempos delirantes de um País que recebe eventos de todo o Mundo, turistas de todo o Mundo, cujas autoridades não acham tempo para prenderem pequenos criminosos e até os grandes, porque os juízes os soltam. Hospitais, saúde pública de qualidade, educação e valorização do magistério. Formação séria para uma juventude que está desejosa de ingressar no mercado de trabalho. Sem falar no emblemático problema da segurança. E a saúde? A saúde está pelas horas da amargura. Estão em greve em todos os sectores e os cuidados estão a ser sacrificados, cujos utentes estão em perigo de vida. É o caos total na saúde e não só. Esta é a desordem que ninguém quer, mas que está a acontecer desde o Norte ao Sul do País. Já não é um fenómeno. É um parecer de bem-estar inaudito e ruinoso para todo o cidadão. É que isto não é viver em democracia. Não se deve fazer greve por se fazer ou por questões políticas. A greve deve de ser um conceito de luta legal para melhorar a vida do trabalhador e não ser uma manifestação política. Isto é falta de ética, de transparência e sentido cívico.

Woody Allen recita: “Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher.” Com as migrações em curso de África para a Europa, da América do Sul para América do Norte, a desordem está estabelecida. A guerra no Médio Oriente e noutros países é a continuação do caos. O terrorismo é outra forma de provocar a desordem e o caos. O efeito de estufa e as alterações climáticas por nós provocadas é outra forma de provocarmos o caos e a desertificação em vários pontos do Planeta com o aumento da temperatura. Neste momento estamos a viver no caos e na desordem, na verdadeira acepção da palavra. Vivemos num eixo hipercomplexo que não pode ter retorno se não se tomar medidas. Tanto este Planeta, como todos os seres vivos, são um Organismo Vivo, e é preciso respeitá-lo. Não é preciso dizer que do caos vem a ordem, que da desordem vem a bonança. As coisas não acontecem por acaso. Claro que as coisas funcionam através da desordem, podem nascer do caos ou da desordem, do ruído, do erro, que pode não introduzir necessariamente um aumento da entropia do sistema, não ser necessariamente degenerativas, podendo ser mesmo regenerativas. A questão é a seguinte: estaremos cá para ver a diferença?

Uma nação sem regras e sem ética sempre será tutelada pelo caos. Estamos em 2018. Pode-se dizer que Durkhiem foi um profeta. Aqui, enquanto milhões votam no próximo paredão do Big Brother, outras se organizam porque é direito ético achar as melhores formas de luta contra a corrupção. Este texto também acolhe vandalismo, porque há sempre vandalismo, ou aproveitamento de uma manifestação para tal. Seria usar armas parecidas e perdemos o poder de falar e a nossa legitimidade, mas é precisamente isso que acontece, infelizmente. 104

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Carta saudosista Estimo que ao receberes esta carta, te encontres de perfeita saúde, assim como todos os teus. Nós por cá vamos andando conforme podemos, pois, a idade vai pesando e as maleitas também e a família vai diminuindo aos poucos e aos poucos vamos ficando sozinhos, espalhando os familiares pelo Mundo, para terem uma vida melhor, pois aqui não dá. Olha, António, foi-nos entregue a tua missiva com a notícia do nascimento da tua menina e um cartão de Boas Festas com o seu retrato. A família está a aumentar e ainda bem! Ficamos contentes e exaltados por esta tua lembrança. Foi uma boa prenda de Natal. Muitos parabéns por nascer mais um na família e desejamos tudo de bom para ela. Ela é muito bonitinha, mas espero que da próxima seja um rapaz. Um casal ficava muito bem em vocês. Ela é muito parecida contigo, embora tenha as feições da mãe. Faz-nos voltar atrás, de quando tu nascestes, a primeira roupa, o primeiro sorriso, a primeira papa, a primeira palavra, as primeiras tentativas de andares. São coisas que não se esquecem. Desejamos-te as melhores felicidades e espero que acompanhes o crescimento da tua filha. São tesouros que ficam para sempre. É uma grande alegria não só para vocês, mas para nós como avós. Aos poucos nós estamos a ficar quase sozinhos. Os tempos de outrora são meras lembranças que guardamos com saudade. O melhor tempo que temos é quando criamos os filhos e vemos as suas evoluções ao longo do tempo, até ao dia em que eles nos têm de deixar-nos e fazerem a vida deles. Mas a vida é mesmo assim. Eles serão a nossa continuação e por aí adiante. Até agora ainda temos tido alguma sorte que também já está a acabar, visto o Xico, já tem trinta anos, 106

solteiro ainda, não há meio de se resolver, arranjou e vai trabalhar para longe de nós, tal como os outros e vocês. O Manuel encontra-se neste momento em Espanha e a Maria Manuela no Luxemburgo. Eles têm de ganhar a vida e lá ganha-se mais do que aqui. Outros tentaram e não tiveram tanta sorte. Lembras-te do teu amigo Ferreira? O filho da Maria Albertina? Vocês eram da mesma idade, diferença de dias, e vocês andaram sempre juntos até à vossa partida. Morreu… Morreu quando vinha de França para cá de férias. Teve um grande desastre. O Ronaldo, filho dos Tavares, que está emigrado para lá, e que está a passar férias cá neste momento, deu-nos a triste notícia, embora já tínhamos ouvido nas notícias acerca do desastre, que eram por estas zonas, mas não disseram os nomes. Claro que ficámos chocados, por mais um filho da terra ter morrido e os outros estarem em perigo de vida. Todos os anos lamentamos acontecimentos destes. A ânsia de vir para Portugal é imensa e esquecem-se da segurança e do descanso. Esperamos mais notícias deles, embora não sejam animadoras, tenhamos esperança, principalmente pelas crianças. Termino com muitas saudades vossas e apelo que tenham muito cuidado para quando quiserem passar férias connosco, tenham atenção à estrada e ao vosso descanso. Todos os dias rezamos por todos vocês, para que nada de mal vos aconteça. Nós sabemos que a vida é complicada, mas não a estraguem. Sem mais, um grande abraço e que tudo vos corra pelo melhor. Novamente, saudações nossas, com muitas saudades de vós, para toda a família. Um beijo.

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O reverso da autenticidade Para muita gente é um problema viver a realidade, dizer as verdades e vivem sempre em suposta mentira, que pensam eles, os protege. O reverso da autenticidade é o falso-parecido, o bem parecido, o que se faz de importante e que na realidade só faz teatralidade, a aparência tomando o lugar da realidade enganosa e falseada. A teatralidade inerente às relações humanas na sociedade não só nas cidades, como nas províncias, que se acham burguesas ou de falsos ricos, que se pavoneiam pela sociedade. não passam de trastes humanos, embrulhados em mentiras, de gentes mascarados de falsos doutores, burlescos e larápios do tempo perdido na fome e na miséria que querem esconder a todo o custo, fazendo teatro. É um mundo escondido, vaidoso, inseguro, desenraizado e frágil, que é incapaz de se situar com realismo na sociedade em que se julga englobado, mas que não é capaz de abarcar, e ao mesmo tempo permeável ao sopro da moda longínqua e encharcado de arcaísmo um pouco vão, vivendo acima das suas possibilidades, inconsciente e contente com esta inconsciência e inconsistência de vida, que não leva a lado nenhum, e que além disso nem é vida! Nesta sociedade em que os dados estão de tal modo viciados e falseados, do faz de conta, parecendo um teatro melodramático, por vezes trágico-cómico de Gil Vicente. Isto torna-se ou podem tornarse gente amargurada, cínica com uma determinada envergadura de loucura, de amargura viral que pode até tornar-se violenta. Isto é um mundo artificioso com que temos de viver e empurrá-lo para longe, não dando tréguas à ignorância, à estupidez, ao que é mesquinho, mas combatendo com a educação e cultura, a necessidade de identificação dos seus valores, efectivos ou sonhados, mas que se tenta alcançar, fazendo uma ponte, um equilíbrio entre os dois horizontes. É trazendo a harmonia da sua sã vivência em sociedade que podemos alcançar altos valores, fugindo ao snobismo, ao exagero de pretensões pouco ignomiosas da realidade, que enfrentamos todos 108

os dias, no nosso dia a dia, como se fosse uma luta titânica... Todos os dias tentamos lutar contra o reverso da autenticidade e de tudo o que ela representa. Mais dia, menos dia a realidade tem que vir ao de cima. O problema é se já vale a pena lutar para fugir do irrealismo, já que tão embutida está confundindo a verdade com a mentira, a realidade em irrealidade e vice-versa. Como se fosse um filme de loucos, ou voando sobre um mundo da fantasia, em que o cérebro está de tal maneira embutido em nevoeiros, confundindo tudo e todos, sem sequer reconhecer a si próprio, como se fosse um zombie, um vegetal que tem uma ligeira sensação de presença do que está ao seu redor, mas nada mais. A fantasia excessiva funciona como um mecanismo de defesa que proporciona uma satisfação ilusória. Por exemplo, ao entrar na puberdade é comum que os adolescentes comecem a imaginar sobre a experiência de ter um namorado, sobre como será a primeira relação sexual… Mas alguns levam as fantasias tão a sério, que se alimentam delas e se fecham para o mundo real. Começam a acreditar que elas são melhores do que encarar o futuro parceiro, pois têm o controle da história que criam e não precisam sair da zona de conforto. Pois!... Precisamente este problema é muito concreto não só na adolescência, como nos adultos que se refugiam em vidas que na realidade não têm. Em termos cibernéticos, é como viverem no “Second Life”. Fogem dos problemas do trabalho, do quotidiano em casa, dos problemas monetários e no desgosto de não terem uma vida melhor. Querem fugir da realidade e da sociedade consumista em que estão inseridos. E se não souberem combater e enfrentar a realidade, sucumbem completamente que nem um psicólogo ou sociólogo consegue erguer tal personalidade. Não passarão de farrapos humanos. De zombies abstratos da realidade… Uns seres vegetais. 109


Polémica sobre descentralização e regionalização... Há quarenta anos que ouço determinadas vozes de que o País precisa de activar a regionalização e outros a descentralização de poderes e outras instituições... Até hoje tudo está na mesma. Muitos assobiaram para o lado, como Cavaco Silva sobre a regionalização, e muitos autarcas sobre a descentralização como a Câmara do Porto ou outras. O poder de influências e a corrupção nas altas instâncias gostam da centralização e não de separação de poderes. Politicamente, o regionalismo é uma ideologia política que se prende nos interesses de uma região em particular ou grupo de regiões tradicionais ou formais (divisões administrativas, subdivisões nacionais, etc.). Muitas vezes se torna o embrião de nacionalismos após a fragmentação de impérios geopolíticos mal disfarçados de 110

pseudo-nações, etc. Mas no nosso caso a regionalização é uma fragmentação em partes iguais entre o Norte, o Centro e o Sul. Portanto em princípio a Regionalização é um conceito de organização do Estado Democrático, de poder uno mas partilhado pelas diversas parcelas com potencial diferenciado do território, que assim podem contribuir de forma específica mas integrada para a valorização mais proveitosa de um País, sobretudo quando ele se integra e faz parte de uma comunidade alargada, como é o nosso caso da Comunidade Europeia ou Europa das Regiões. O Regionalismo é um valor potencial da natureza de um Povo, com características e vontade própria e arreigada nas tradições e cultura específica, na maneira de ser e de se afirmar, até na capacidade de se organizar e corresponder aos desafios que lhe são colocados pelo interesse colectivo de um País que defende em princípio as liberdades da democracia, do pluralismo e da universalidade de conceitos. Bem conjugados e aproveitados, estes valores podem servir para que o desenvolvimento de uma comunidade regional se processe de modo harmonioso e potenciador das suas características e potencialidades, esvaziando tensões reivindicativas sem sentido e fragilizantes da discussão cívica e cultural da mesma comunidade. Este é o meu modo de ver sobre o que é regionalização. A Ciência Política e o Direito Constitucional conhecem três formas de descentralização territorial: a descentralização administrativa nas autarquias locais, dentro dos Estados unitários; a descentralização politico-legislativa nas regiões autónomas ou comunidades políticas, como é o caso da Espanha e da Itália; e a descentralização politica-legislativa mais profunda, nos Estados federados dentro de Federações, que pode ir até à entrega de algumas parcelas de soberania aos Estados federados, como são exemplos, ainda que muito diferentes entre si, a Alemanha, os Estados Unidos, a Suíça e o Brasil. Portugal escolheu bem. Quer pela sua dimensão, quer pela nossa tradição histórico-cultural, não se justifica que a descentralização territorial em Portugal vá para além da descentralização meramente administrativa sem prejuízo da 111


atribuição do estatuto de regiões autónomas à Madeira e aos Açores. É fácil de definir a descentralização administrativa nas autarquias locais. Ela consiste na entrega às populações locais da gestão, por órgãos por elas eleitos, dos respectivos interesses públicos, em medida a definir e que vai fixar a dimensão da descentralização. Pressupõe, portanto, a entrega pelo Estado às autarquias locais de atribuições próprias destas e da consequente entrega de competência aos respectivos órgãos na medida necessária à satisfação dessas atribuições. A descentralização não se confunde, portanto, nem com a desconcentração de competência dentro das hierarquias do Estado (que, desde logo, a Constituição trata como conceito diferente do da descentralização), nem com a transferência de órgãos ou serviços do Estado de Lisboa para o interior do País (a chamada deslocalização), nem com o Governo passar a reunir-se periodicamente fora de Lisboa, nem com as presidências abertas do Presidente da República. A eventual passagem do Tribunal Constitucional para Coimbra ou da Direcção-Geral da Energia para Sines, ou do Ministério do Mar para Aveiro ou Faro ajudaria a desenvolver o interior, mas nada teria a ver com a descentralização, embora seja vulgar ouvirmos dizer o contrário. Se é assim tão fácil, porque é que a oposição se opõe à descentralização, mesmo que seja só administrativa? A resposta é semelhante à da regionalização. Lobbies, tráfico de influências, corrupção e perda de poderes. Preferem ter tudo centralizado. E isto viu-se em vários organismos do Estado, como nas escolas em super-escolas ou agrupamentos em superagrupamentos, super-esquadras da polícia, e outros. Falam, mas não querem fazer nada. Têm medo de perder influência e mandatos, mordomias a que estão habituados e subterfúgios baixos de políticas, que o cidadão comum é menosprezado a não ser só nas eleições.

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Solidão A solidão não é um “papão”, não é nosso inimigo, é simplesmente um estado de alma. Muita gente tem medo da solidão, quando muitas vezes é uma necessidade de acalmar a alma, fugir ao ruído, fugir à multidão. O de querer estar só, simplesmente só. A solidão é uma necessidade, não é uma doença. Embora o Homem seja um animal social, que gosta de interagir com os outros, gosta de estar integrado numa determinada sociedade, muitas vezes temos que fugir a este bulício do dia a dia, que por vezes nos enlouquece, para um lugar mais aprazível e sossegado. Ninguém deve ter medo da solidão, pois ela é muitas vezes uma boa companheira. não deve desvirtuar a solidão, pois ela tem música e beleza na companhia da Natureza. Portanto a solidão é um sentimento no qual uma pessoa sente uma profunda sensação de vazio e isolamento. A solidão é mais do 113


que o sentimento de querer uma companhia ou querer realizar alguma actividade com outra pessoa não porque simplesmente se isola, mas porque os seus sentimentos precisam de algo novo que as transforme. Uma pessoa que é independente não deve de ter medo de estar só. Aquelas que precisam e são dependentes de alguém ou de qualquer outra coisa, então têm um medo aterrador da solidão, pois não conseguem elevar-se, pensar e resolver os problemas que lhe afligem. É uma pessoa enfraquecida que não sabe estar só, nem mesmo na companhia de um qualquer animal doméstico. A falta de satisfação pessoal e a solidão dão momentos mórbidos nas pessoas que as levam a uma depressão. Mas também não sabem como evitar; para elas este é um problema, mas não encontram uma maneira de solucionar ou de viver com isso sem serem sobrecarregadas. Também aumenta o número de pessoas que experimentam ansiedade em seu dia a dia. Frequentemente, ambas as realidades aparecem juntas ou até abraçadas com uma depressão. A solidão não é abandono. Também não é uma angústia existencial que parece estar a viver num vazio. A solidão não é nada disso e além disso, nunca estamos sozinhos, mas acompanhados por tudo aquilo que nos rodeia, embora não a sentimos, nem nos damos conta. Para mim, a solidão por vezes é desejável. Eu gosto muito de fazer caminhadas no meio da multidão, sem ver rostos, veículos, mas ver a Natureza em si, que me rodeia. É na solidão que a nossa alma se eleva e se lava. Tira peso dos nossos ombros, ruídos que nos atormentam, a salgavariada das vozes das pessoas, músicas barulhentas, dos carros, aviões. Muitas vezes a solidão é uma bênção. E isto ficou provado há muito tempo, quando obrigaram as pessoas e crianças a viverem comunitariamente num determinado espaço. Notou-se algumas vezes que as crianças se isolavam, ficando sozinhas nalgum recanto, sossegadas sem fazer nada ou a brincar com algum objecto. Depois notou-se que os adultos depois de uma discussão, tinham a necessidade de ficarem sozinhas, para se acalmarem e por as ideias em dia. E isto só se pode fazer na solidão, no silêncio, em harmonia com o ambiente que nos rodeia a solo, com

a Natureza. Claro que não nos torna santos, mas com mais sabedoria, mais discernimento, ver os acontecimentos com mais clareza. Não há necessidade de fugir de si mesma, mas de se encontrar a si própria. Em muitos casos, o que existe é um conflito não resolvido, que vem da infância. Nesses primeiros anos somos muito vulneráveis, e qualquer experiência de rejeição ou abandono deixa grandes marcas: feridas abertas que não cicatrizam por falta de cuidados. Talvez alguma figura amada não esteve lá. E nesse vazio se instalou um medo reprimido. Ao estarmos sozinhos, é possível que nos reencontremos com essas sensações dolorosas e angustiantes, que a percepção que adquirimos do mundo permaneça muito presente hoje. Também pode acontecer que o medo não esteja direccionado à solidão como tal, mas a alguma faceta de nós mesmos. Talvez exista algo que não queremos ver ou reconhecer. É por isso que evitamos esses encontros com o mais íntimo de nós, o que só pode ocorrer na solidão. Também podemos ter formado uma opinião muito negativa sobre estar sozinhos. Talvez não tenhamos realmente experimentado e evitamos isso, porque não conhecemos as vantagens desse estado. Da mesma forma, a solidão se torna perturbadora quando nos percebemos como pessoas incapazes de enfrentar a vida. Precisamos de outra pessoa para nos apoiarmos, para nos abrir novos horizontes. É que estar sozinho não é estar preso, pelo contrário! Para começar a se relacionar com os outros saudavelmente primeiro você precisa aprender a estar sozinho. Pense que, pelo menos em parte, o medo da solidão é também um medo da vida, porque a única pessoa que nos segue por todos os lugares somos nós mesmos. Não há que ter medo da nossa própria sombra.

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O livro Pega num livro para que ninguém te censure É uma demanda em forma de espada como cultura E a educação na outra mão Mais do que medir distâncias entre culturas É a que pele percorre pelo pensamento É o que ele percorre pela imaginação E no cimo de uma montanha Que vês a vastidão para além do horizonte Como no cimo de um outeiro, sob a copa de duas belas árvores Em que a sua sombra cobre a Natureza E ao lado há quatro blocos feitos de mármore, Que caiu para trás na erva verde... Ruínas do passado que conta uma História, Uma gesta ou um romance Uma aventura fictícia Que até pode ter acontecido... E por estes acontecimentos Peço a todo o coração fraternal Que me assista na hora derradeira Que afaste a pompa e a gabarolice Que não é o meu forte, mas que acontece Mas é a verdade e que ninguém contesta Muito menos ignora Gosto de ser como antigos cavaleiros Como antigos cavalheiros Que nos meus braços, estreito as nobres damas Que dou no meu coração em chamas. Também sou um cavaleiro das estrelas 116

E pinto no imaginário belas telas Iluminadas à luz de velas Como se fossem pontos luminosos de estrelas. São esses pensamentos São esses momentos Que estão no nosso coração Como se fosse uma oração. Pega no livro e abre Maneja como se fosse um sabre Abre a tua mente Para que haja semente Para que ela desabroche E florir na tua sapiência.

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Não estamos sozinhos Ponto azul Há noite quando olhamos para o céu e vemos aquelas estrelas todas, pensamos e talvez imaginamos outros mundos, outras terras, com outros seres. Perante esta imensidão de milhares de estrelas brilhando no céu nocturno, perguntamo-nos a nós próprios se estaremos sós ou se haverá mais seres semelhantes a nós ou não. Serão os seres humanos os únicos possuidores de olhos que sondam as profundezas do Universo, ou haverá mais quem o observe? Seremos os únicos construtores de engenhos que alargam os sentidos naturais, ou haverá mais? Seremos os únicos possuidores de espíritos que se esforçam por compreender e interpretar o que é visto, o que é sentido, ou haverá outros espíritos à procura das mesmas respostas que nós? É impossível perante tantas estrelas, e cada estrela ter pelo menos um planeta, tantas galáxias até aonde um telescópio pode alcançar, a resposta é muito possivelmente de que não podemos estar sós. Não podemos acreditar que estejamos sós, pois os mitos existentes na Terra, as lendas e os escritos do passado remoto, apontam para que não, visto que as maiorias das religiões foram fundadas por deuses que desceram à Terra e que a própria Bíblia diz que fomos feitos à imagem de Deus. Uma coisa é certa: apesar de toda a procura de vida extraterrestre, politicamente, ela é censurada a todos os níveis e tentam desvalorizar os ufologistas e os factos que aparecem um pouco por todo o Planeta. A única maneira de por as teorias e conceitos de vidas extraterrestres, de tecnologias exóticas e de filosofias e conceitos políticos evoluídos de outros planetas, é escrever livros de ficção científica, pois eles não são censurados nem ridicularizados pelos cientistas proeminentes, gerando controvérsias. 118

Em comparação de animais inteligentes ou não, o burro é considerado estúpido, assim como a galinha. Mas não tem nada de estupidez. Todos eles seguem uma hierarquia e sabem estar, sentir e compreender o seu ambiente em que vivem. Assim da mesma maneira que vemos o leão e a águia, que os consideramos orgulhosos e soberanos, mas que sabem aquilo que querem e dominam o seu ambiente; vemos o pavão como um vaidoso, a raposa como um animal astuto, mas que na realidade todos os animais são inteligentes, astutos e têm manobra de aprendizagem no seu ambiente natural. Muitas vezes também nos esquecemos de que somos animais, apesar de estarmos no topo da cadeia alimentar, que também somos comida para muitos animais, apesar de sermos aparentemente, os mais inteligentes, para além dos golfinhos, orcas, baleias e chimpanzés, polvos. É quase inevitável que a atribuição de motivações humanas em querer dialogar com animais e ter acções com os animais nos leve a partir do princípio de que, se pudéssemos estabelecer comunicação com certos animais, encontraríamos neles inteligência humana, como no caso dos chimpazés, orangotangos, golfinhos, orcas e até polvos. Nada disto é incongruente, se pensarmos a nível galáctico, de quantas formas pensantes podem existir em diferentes ambientes galácticos. A supremacia aqui na Terra foi dada ao Homem, à imagem de Deus e a criação de outros seres ao seu dispor, segundo textos bíblicos. Esta interpretação pode ser significativamente de que o ser humano tem alma e os animais não. Que há uma centelha de divindade e de imortalidade no Homem, enquanto os outros animais não tem. É uma questão de visão, de interpretação religiosa, mas que na ciência os factos são outros e nem sempre estão de acordo, embora derivamos de primatas, mas com algumas lacunas pelo meio. A evolução da civilização também está ligada aos astros e à sua observação, à imaginação desses mundos. A noção da pluralidade 119


dos mundos desceu das alturas rarefeitas da especulação filosófica até à esfera literária com o primeiro relato conhecido e que se assemelha às modernas histórias de ficção científica envolvendo viagens interplanetárias. Mas voltemos à Terra. Este Planeta é fértil em variadíssimos seres vivos, alguns deles vivem em ambientes extremos e ácidos e de altas temperaturas e outros em temperaturas extremamente baixas. Se não fossem descobertas pelos cientistas e robôs marinhos de profundidade, e mesmo em Yellowstone, nos seus rios e lagos, assim como nos geysers, ninguém pensaria que existiriam tais seres, como em grutas, a que chamaram ou apelidaram de estremófitos. Estes seres estranhos levam-nos a pensar em seres astrobiológicos, não só do nosso Sistema Solar, mas de outros planetas da nossa Galáxia. A imaginação será fértil neste campo, mas teremos de levar estes factos terrestres para Marte, já que é o Planeta mais estudado até agora, e que tem vários robôs lá, provar que ainda tem vida e que no seu passado teve água, mas que agora deve estar debaixo do seu solo. Vénus no seu passado também teve semelhanças com a Terra. Sabese agora que há muita água espalhada não só no nosso Sistema Solar, na nossa Galáxia, mas em todo o Universo. Nós somos um ponto azul, que mal se vê de Plutão. Mas mesmo assim é apelativo verificar a nossa insignificância perante tal vastidão e andar à procura de vida noutros lugares. Por isso não podemos ignorar, não podemos de procurar, não podemos de deixar de pensar, que há outros seres pensantes, mais ou menos evoluídos que nós e não esquecer o assunto pura e simplesmente, por censura, politicamente, já que estamos novamente na corrida para o espaço, mas atrasados 60 anos, pois deixámos de ir à Lua, e fazemos viagens suborbitais para a estação Espacial e pouco mais, comerciais, turísticas ou não, quando devíamos de estar mais evoluídos nas viagens espaciais e não mandar só avatares. Devíamos de estar a galopar a Via Láctea. 120

A vida e a geração espontânea Há uma miríade de planetas habitáveis só na nossa Galáxia e portanto, mais de dois biliões em todo o Universo, no nosso Universo, visto segundo as novas teorias, há vários universos paralelos e antagónicos, isto é, universos de matéria e universos de antimatéria. Só aqui, é inimaginável a quantidade de possíveis planetas habitáveis e de seres exóticos de todas as maneiras e feitios que possam existir. E tudo isto tem um senão! É que apesar de estar na zona de habitabilidade e lhe faltar vida, de nada vale. O surgimento da vida pode levar milhões de anos e depende das circunstâncias favoráveis à criação de vida e a «geração espontânea» das coisas vivas têm que ter um «caldo» original, em que as espécies podiam ter-se formado, uma após outra, dos elementos mais simples e depois dos elementos mais complexos, vindo os seres pensantes em último lugar. Também temos a panspermia, isto é, vida celular ou vírus que viajam em meteoros ou cometas e que caem num determinado planeta, providenciando os princípios de vida. Panspermia explica a hipótese de que a vida existe em todo o Universo, distribuída por meteoros, asteroides e planetoides. Em suma ela propõe que seres vivos que podem sobreviver aos efeitos do espaço, ao estilo dos extremófilos ou tardígrados, ficam presos nos escombros que são ejetados ao espaço ou por colisões entre pequenos corpos do sistema estelar e planetas que abriguem vida, ou mesmo por catástrofes maiores de natureza similar. Os tardígrados ou similares viajariam dormentes nos destroços por um longo período de tempo antes desses colidirem aleatoriamente com outros planetas ou misturarem-se com discos protoplanetários de outros sistemas estelares. A hipótese da panspermia cósmica é uma das hipóteses acerca de como surgiram as primeiras formas de vida no planeta Terra. Portanto foram os microrganismos que começaram que se multiplicaram em condições favoráveis, que começaram com os 121


princípios da vida. Ainda hoje continua a cair na Terra meteoros com alguma água e compostos de carbono e princípios de ADN. Até os cometas que passam perto da Terra deixam um pouco das poeiras da sua cauda, com algumas células complexas. Também na Estação Espacial foi notada pelos astronautas, nos vidros exteriores e nalgumas superfícies do complexo, células algo complexas, quase em estado letárgico. Até na atmosfera superior, quase na orla do espaço, existe vida. É uma nova abordagem de definir o que é vida e em que ambientes, ela pode viver, e levar este conceito para a astrobiologia e estudo do comportamento do ser humano em ambientes de microgravidade. Isto leva-nos a pensar que existe vida por todo o Universo e que pode haver vida em qualquer planeta que esteja dentro do círculo que pode conter vida, por mais simples ou complexa que ela seja, e em que ambientes que podem ser extremos e venenosos para nós. E voltemos ao princípio... Estaremos sós? Poderíamos pensar que meio milhão de civilizações se aproximariam do nosso Universo de meio milhão de maneiras diferentes, criando meio milhão de padrões culturais diferentes, meio milhão de orientações científicas, meio milhão de comunicação e compreensão, dependendo do seu estado mais ou menos avançado da sua civilização; mais meio milhão de movimentos artísticos, literários, de divertimentos e formas de comunicação e compreensão, em que algumas civilizações são capazes de transmissão e recepção através do fosso que separa as espécies inteligentes. As lendas, os mitos, os folclores, as religiões dizem-nos que tivemos visitas extraterrestres. A Idade da Pedra «diz-nos» e «falamnos» que houve civilizações extraordinárias, que ensinaram os autóctones terrestres em várias áreas como a agricultura, a medicina, e as técnicas de construção grandiosas que ainda hoje contemplamos admiravelmente.

Temos de compreender que apesar do fenómeno ufológico que nos dias de hoje aparece, parece haver um axioma de que civilizações avançadas extraterrestres não devem de intervir na nossa civilização. Mas esta tese é deitada ao chão porque desde que o primeiro primata e hominídeo começou a andar ereto pelo Planeta, os extraterrestres agiram em nosso proveito e ensinaram as eles a sobreviverem melhor em ambientes hostis e por conseguinte fomos evoluindo extrapolando as nossas capacidades, em que eles eram considerados deuses e respeitados e venerados como tal. Portanto podemos chegar a uma conclusão que muitos não gostam, é de que as civilizações extraterrestres existem, provavelmente em grande número, e interagem connosco ao longo de milénios, sem nos apercebermos, apesar das distâncias interestelares serem demasiado vastas para serem penetradas. Quer queiramos ou não, somos uma espécie agressiva e guerreira, pois há sempre um ponto ou vários pontos quentes no Planeta em que certos povos estão a guerrear-se ou a praticar actos de terrorismo. Pensando deste modo, também haverá extraterrestres, civilizações que podem mover-se livremente pelo espaço, que andam à procura de novas presas e que ainda e espero que nunca, apareçam no nosso «quintal», e que ainda não deram pela nossa presença. Portanto, devemos de pensar nos prós e contras em enviar mensagens para o espaço à procura de seres inteligentes, procurando sinais pelo programa SETI e outros. E o mais certo será encontrarmos sondas ou robôs biológicos, avatares de uma longínqua civilização, pois as viagens espaciais podem demorar anos luz. Também temos de pensar para que não nos aconteça o mesmo, quando nós e os espanhóis foram para o Novo Mundo na época dos descobrimentos. Uma civilização superior predadora pode levar-nos à extinção. É uma razão bastante lógica que se deve concluir que toda a civilização dominada por outra superior acaba por sucumbir, sem que daí resulte qualquer proveito para qualquer delas.

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De uma coisa é verdadeira! Nós somos filhos das estrelas e para as estrelas iremos, mais tarde ou mais cedo. Está no nosso ADN de herdar o Universo que nos rodeia e depois mais além, sozinhos ou não, é imperativo chegar ao espaço e explorá-lo, por muitas razões, em que uma delas é a sobrelotação populacional, em que o Planeta Terra está a chegar ao seu limite e está a transformar-se rapidamente para uma eclosão catastrófica, que pode levar-nos à extinção se não tivermos controle e inverter o ciclo em que estamos a viver neste momento. É importante que os homens tenham ideias para contrariar o que se passa no Planeta, para além do seu progresso, na sua materialização histórica dos acontecimentos, esperando que alguém tenha um click num determinado momento e resolva um problema que já não é latente, mas à vista de todos, e comunique as ideias aos outros, para trabalharem em conjunto para melhorar a vida na Terra, diminuir as alterações climáticas, as emissões de carbono e proteger o ambiente, utilizando materiais ecológicos e amigáveis, deixando os combustíveis fósseis e outros materiais venenosos, com pensamentos que podem servir para a indústria espacial de curta e longa duração. Porque saber a ciência sem conhecimento e imaginação é letra morta, não vai a nenhum lado, nem evolui. Lessing disse que: «O valor do homem não é aferido pela verdade que ele detém ou julga deter, mas sim no esforço sincero que ele fez para chegar à posse dessa verdade». Isto porque é fácil cair em equívocos, em mal-entendidos e de que devemos de reconsiderar a nossa posição e função na sociedade em que estamos inseridos, mas também no Universo. Como há várias realidades, várias verdades e uma miríade de opiniões, temos que enveredar para o que é mais verosímil, para os factos e para o que está encoberto por uma neblina espessa, que são só rumores, são só especulações, aparências verdadeiras ou falsas, mas que alguém apontou ou disse e que não se pode provar. Karapâtri disse que “Uma ilusão é uma falsa aparência,

mas uma falsa aparência tem, forçosamente, como base uma realidade”.

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A nossa biologia e o espaço O nosso corpo está adaptado à superfície terrestre e à sua gravidade, e mesmo assim não nos adaptamos a todos os ambientes existentes na superfície da Terra, tanto em altitude como em profundidade, tando na água ou debaixo de terra. Temos limites. Acima desses limites temos que levar suportes de vida. Tanto animais como as plantas aguentam viver até aos 3000 metros, mas acima disso têm muita dificuldade. Nas grutas até aos 100 metros de profundidade, existem animais, mas não humanos, pois mal conseguem respirar e as temperaturas são elevadas. Na água mal chegamos aos dez metros sem suporte de vida. Por isso nós damo-nos mal em microgravidade e podemos ter falência de órgãos ou alteração na estrutura óssea e até na própria visão, para não falar em confusão, pois os sentidos não “sabem” o que é em cima ou em baixo. Estar no espaço é complicado, mas que temos de superar se queremos ir em exploração de novos planetas semelhantes à Terra. Nós somos respiradores de oxigénio e compostos de carbono, com um pouco de todos os ingredientes de uma estrela que explodiu há milhares de anos. Portanto é importante estudarmos a nossa biologia em todos os campos, pois a medicina espacial é muito importante, se quisermos viver em ambientes hostis. Apesar da censura em volta de seres de outros planetas existentes, não só da política dos países, como das agências espaciais, temos que estar preparados para conhecer outros seres galácticos, termos contingências para encontros com outros seres, sejam de que tipos forem, e não sermos tão homofóbicos, xenófobos ou racistas, como somos aqui na Terra em relação a determinadas raças. Não é só escrever e relatar em livros de ficção científica, ver filmes de ficção


científica que se prepara uma população terrena para a existência de outros seres que a nossa imaginação possa conter. Temos de estar preparados para encontrar espécies inteligentes e de interagir pacificamente com eles, de maneira a não sermos engolidos por eles, mas de troca de informações e tecnologias, pois temos muito que trocar e explorar. Conforme as espécies, podemos ter aliados ou inimigos, predadores. É neste contexto que temos de ter cuidado. Uma das obras científicas que um dia pode ser verdade, se não for já nalguma galáxia longínqua, foi escrita por James White em Hospital no Espaço e em Médico Espacial, em que ele expõe como se divide os seres tão variados e tão exóticos, como alguns tóxicos, pequenos ou grande, gigantes, em ambientes tão variáveis, como fantásticos. Com fisionomias tão díspares e tão invulgares, que a mente humana não as concebe tal tipo de vida. Para uma pequena visão do que estou a descrever podemos começar por nós próprios, humanoides, chimpanzés, gorilas, respiradores de oxigénio em que há quatro raças distintas, outras tantas sub-raças e híbridos em todas elas. Dependendo do tipo de estrela como o nosso Sol e do tipo de planeta como a Terra, haverá muito mais raças bípedes humanoides na nossa Galáxia, determina como serão os seres inteligentes. E dentro destes estão os reptilínios bípedes, os draconianos e os insetoides, podendo incluir também seres vegetais inteligentes e caranguejos gigantes inteligentes em ambientes aquáticos, assim como polvos, golfinhos e outros seres. E depois há outros seres transparentes, porosos, amorfos, que se podem transformar em qualquer ser, e alados de variadíssimos tipos e estaturas. Depois estão os vivem em ambientes de cloro, de sódio, de enxofre, metileno, metano, dióxido de carbono e tantos outros ambientes, de tantas variedades de planetas. É impressionante a lista e ainda mal começamos a roçar a superfície desta miríade de seres vivos. Por isso é muito importante que a biologia e a medicina espacial estejam de mãos dadas, assim como a nanotecnologia, e bio quântica

e a psicologia aeroespacial. A ciência a vários níveis, com as tecnologias aeroespaciais têm de estar em conjunto para conseguirmos superar os ambientes hostis do espaço e superar as nossas dificuldades biológicas e estarmos ao nível de sociedades mais avançadas.

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As ciências e as tecnologias A mitologia dos povos cultos primitivos é sempre histórica. De Ramon J. Sender. Que débil é a nossa mente, sempre pronta a perturbar-se, a inquietar-se, quando se lhe apresenta, de súbito, o mínimo facto inexplicável? Em vez de dizer simplesmente: “Não compreendo por que se me escapa a causa”, imaginamos logo de seguida espantosos mistérios e poderes sobrenaturais. Guy de Maupassant, El.Horlá. Isto é o mesmo dizer que temos sociedades altamente sofisticadas na Terra e ao mesmo tempo temos nativos em vários pontos do Planeta, a que chamamos selvagens, ignorantes, que vêm aviões e outros objectos voadores e lhes chamam de pássaros alados metálicos, que rugem como um trovão. E os descrevem, esculpindo na pedra ou pintando nas grutas, juntamente com o quotidiano das suas vidas simples, de simples agricultores ou caçadores recolectores. Passa a ser folclore, descrita na dança e na passagem oral, de geração em geração. É que ainda hoje há uma diferença abismal de civilizações que chega a ter mais de vinte mil anos de diferença. O Admirável Mundo Velho e o Admirável Mundo Novo. São a nossa imagem do passado e o nosso estudo,


embora ainda haja tribos na Amazónia e noutros lugares do Planeta, que nunca viram o homem branco e esperemos que continuem assim. Continuem puros e sem interferências. Hoje na era da inteligência artificial ligada a todos os nossos electrodomésticos, aos nossos smartphones, a todos os computadores, aos carros e ao espaço, temos que juntar toda esta dinâmica e as possíveis interações de todas as ciências conhecidas, de todas as tecnologias aplicadas, de toda a sua filosofia em geral, da epistemologia em geral que deixa de ser verdadeira, devido a novas descobertas e horizontes, da história da ciência que está sempre a evoluir, haverá sempre um debate intelectual a nível mundial, em que se tenta juntar tudo num só prisma. A teoria do tetraedro hoje de Michel Paty já não é compatível devido a novas ciências e teorias em que a filosofia das coisas pode entrar, nas noutro patamar, noutro conceito desta assimetria sempre a evoluir, em que cada vértice do tetraedro já não chega devido a novas matérias, em que o campo da diversidade é maior, a sua complexidade aumenta e há e haverá sempre novas abordagens, em que a filosofia se desloca perante novas verdades, novos horizontes, novas descobertas. Os desdobramentos são contínuos e com as alterações climáticas em cima da mesa, assim como o futuro da Terra e do Homem, cientistas, sociólogos, antropólogos, filósofos e políticos, pois tudo vai ter há mesa dos políticos e do poder em geral, têm de discutir a melhor maneira de salvar a situação que pode ser irreversível num futuro próximo, e de viver melhor, protegendo o ambiente no seu todo. É indiscutível a vitalidade destas interações, mesmo quando

prevalece a radicalidade de alguns sectores, de alguns autores e das suas intenções de hegemonia. Tem de haver um projecto de todas as Nações para um problema comum e para o futuro da humanidade. Toda a ciência deve de ser ajudante da evolução social, tem de ter uma constituição ética, moral e social de tal modo, de que não pode ser neutra em relação há humanidade, nem aos seus perigos, mas tem responsabilidade cívica e política, da qual está e deve ser investida para o bem social. A ciência é apresentada como uma importante forma de poder, sobretudo em sua relação com a alta tecnologia que hoje conhecemos, mas que temos de a levar para o espaço, o que já se está a fazer, mas longe ainda dos objectivos, que estão atrasados 60 anos, porque as teorias do conhecimento não está só cingida à Terra, mas a todo o Sistema Solar, por enquanto. A perspectiva construtiva, inovadora, que inclui não somente a noção de linguagem, técnica ou não, método e objecto construídos, mas também a ideia de que a legitimação dos conhecimentos científicos se constrói social e historicamente, parece impor-se cada vez mais no decorrer do nosso novo século, não só por curiosidade do desconhecido, mas porque desde pequenos estamos a formar uma geração digital, que só sabe mexer em botões e deslocar ecrãs tácteis. As tendências mais recentes desenvolvem a noção da ciência contextual, contingencial, circunstancial, resultante da combinação de factores sociais e económicos. As vertentes contemporâneas mais raciais conferem à ciência estatuto semelhante a outras manifestações culturais como a religião e

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a arte, considerando-a uma prática mais humana e mais caótica do que se acreditava anteriormente, visto que já estão a fazer Ias humanizados, copiando-nos e interagindo connosco no dia a dia, como se fosse uma constituição lógica de evolução, um nosso prolongamento cerebral, física, não implicando contudo uma questão de racionalidade científica, mas algorítmica. Tudo é uma questão matemática. Portanto temos de contemporizar para a nossa biologia corporal, com as novas tecnologias biológicas juntando médicos, químicos e biólogos a quântica e a nanotecnologia para a nova era dos descobrimentos espaciais, pois como estamos a ver, a Terra já é pequena demais para nós. Segundo Canguilhem “Uma teoria geral do meio, do ponto de vista autenticamente biológico ainda está para ser feita pelo homem técnico e sábio, no sentido do que foi tentado por von Uexkull para o animal e Goldstein para o doente”. Mas isto nos dias de hoje já está a ser feito e posto em prática. Tudo é uma questão de políticas e de quem está no poder dar o seu aval ou não. Tanto podemos avançar ou podemos recuar, dependendo da visão de quem pode, ou ser clandestino e fazer na mesma. É que um político normalmente não é filósofo, nem sei se teve alguma vez esta disciplina. Portanto segundo Foucault, no seu tempo diz porque a filosofia hoje é inteiramente política, e inteiramente histórica. É a política imanente à história e a história indispensável às políticas. É uma abordagem interessante, mas que deixa algumas lacunas quanto às ciências exactas. É só uma questão filosófica, mas que pode legitimar aquilo que aprendemos por intermédio da

ciência, que se baseiam em princípios racionais considerados superiores. Mas para isso temos de ser arqueólogos para descortinar a verdade ou uma suposta verdade enterrada num determinado lugar, pondo de parte as teorias, as ideias, os postulados e tentar descortinar através das ruínas expostas, ver com outros olhos, o que nos quer dizer ou tentar dizer, pelos poucos objectos que estão à vista e tentar ver o campo como um todo. E a partir daí fazer história e situá-la no tempo. É tudo uma questão de pesquisa, de descoberta e dos utensílios que tem à sua disposição, e então ter uma visão geral ou parcial das ruínas. É olhando e estudando o passado que no presente vivemos com todas as tecnologias e ciências à nossa disposição, que podemos olhar o futuro com a confiança e que poderemos imaginar ou especular como será daqui a 100 ou 1000 anos. Como viveremos e que sistemas estelares conquistaremos. Tudo o que temos hoje é graças à exploração espacial. Em todos os campos temos uma mãozinha da tecnologia espacial nas nossas próprias casas, nos hospitais e centros de investigação, na exploração de Marte e até na Lua. A Estação Espacial tem-nos dado muita coisa útil e prática aqui na Terra, que esperamos levar até aos confins do nosso Sistema Solar, num futuro próximo. Estamos agora a reescrever a nossa própria história, a nossa própria filosofia, as ciências e até a nossa própria cultura, perante tantas inovações com que lidamos no nosso dia a dia. O saber empírico, como a biologia, a economia

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política, a psiquiatria, a medicina, ciência mecanicista e tecnológica, etc., já não obedece a esquemas suaves e continuístas de desenvolvimento que normalmente se admite, mas já vem em catadupas de qualquer ponto do Planeta, de Ocidente a Oriente, de Norte a Sul. Já não há casos isolados de centros de pesquisa. O conhecimento é sempre uma certa relação estratégica em que o homem se encontra situado e não se deixar ultrapassar pelos acontecimentos. É essa relação estratégica que vai definir o efeito de conhecimento e por isso seria totalmente contraditório imaginar um conhecimento que não fosse de natureza obrigatoriamente parcial, oblíquo, perspectivo e de não fugir à crítica e de prática de laboratório para ser reconhecido como verdadeiro e credível e pronto a ser aplicado. Neste contexto de relações de poder e de liberdade, que podem ser complexas, mas que levam sempre a algum lado. Na perspectiva de sociedades capitalistas o poder em si pode ser negativo e por vezes repressivo, mas possui uma eficácia produtiva e uma positividade que precisa de ser reconhecida, assim como a gestão de recursos humanos nas diversas áreas produz uma série de saberes específicos, bem remunerados, capazes de auxiliar na função de evoluir um País e serem dóceis no ponto de vista político e produtivos do ponto de vista económico. Há vários pontos de vista, várias opiniões completamente opostas, mas que podem ser absorvidas para um bem comum.

O poder do Estado O aparelho do Estado é um instrumento específico de um sistema de poderes que o ultrapassa e o complementa, independentemente das suas ideologias. Por esta razão, nem o controle, nem a destruição do aparelho de Estado, como muitas vezes se pensa, são suficientes para fazer desaparecer ou transformar, em suas características fundamentais, a rede de poderes, em uma sociedade. Não se trata, contudo, de minimizar o papel de Estado, mas de reconhecer que este não é o único órgão de poder efectivo. Há muito pouco tempo, alguém disse que para deitar um Governo abaixo, precisava só de 100.000 Euros… O Governo pode ir abaixo, mas os princípios ficam lá, as mentalidades continuam, assim como os preceitos de governar. È preciso reconhecer que os poderes não estão situados em nenhum ponto particular da estrutura social; eles estão em toda a parte. Até na nossa própria casa! Eles funcionam através de uma rede de dispositivos interdependentes em todas as camadas sociais. Mas para aqui, o que interessa é o que um Governo pode fazer como ciência política para poder evoluir não só o seu País, mas todo o Planeta com vista à exploração espacial, embora haja bastante resistência neste ponto de vista, pois muita gente acha que é dinheiro deitado fora, enquanto a maioria da humanidade está a passar fome. De maneira global, pode-se dizer que as disciplinas são técnicas, todas elas, para assegurar a ordenação social e das multiplicidades humanas, em todos os sectores e áreas de

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desenvolvimento e inovação, e levá-las ao conhecimento das pessoas e sua implementação. A competição entre políticos, assim como as suas ideologias, levam sempre a processos de desenvolvimento humano e não só. O mesmo também se aplica entre os cientistas. A competição entre segmentos de comunidade científica é o único processo histórico que realmente desemboca na rejeição de uma teoria que antes era aceite ou na adopção de outra, enquanto não se provar que essa teoria por meio de experimentação laboratorial ou não se aplica nos factos que podem ser demonstrados. Para descobrirmos como as revoluções científicas ocorrem, têm de ser anunciadas por canais próprios e por documentários especializados, para além dos noticiários, para o público em geral saber e os mais interessados aprofundarem. Para irmos mais além teremos de examinar não apenas o impacto da natureza e da lógica, mas também as técnicas de argumentação persuasiva que se revelam eficazes no interior dos grupos muito especiais que constituem a comunidade dos cientistas. Por isso é que existem as cimeiras e congressos das ciências e tecnologias. Os paradigmas existentes são realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes. Mas de cada vez que resolvemos um paradigma, aparece outro com mais perguntas do que respostas, com mais interrogações do que afirmações. É assim em matéria, de como vivemos e convivemos neste Universo.

Neste momento somos uma sociedade digitalizada, tendo como servos Ias para nos ajudar em todos os campos e sermos uma sociedade totalmente tecnológica e dependentes de energia para alimentar toda a nossa sociedade. Esta é a nossa nova racionalidade, a nossa nova filosofia. É nesta esteira de tais indagações, a pergunta que se põe pela racionalidade a que fomos conduzidos pelo braço epistemológico da história da ciência e da tecnologia aplicada, faz-nos avançar e remeter para um tripé de uma suposta filosofia estabelecida pelo racionalismo e pela lógica do que é a racionalidade, a objectividade e a verdade ou verdades, de modo que o questionamento de um envolve a todos e que seja aceite por todos. Hoje ou num futuro próximo, as questões estão postas, caminhos estão indicados, faltando-nos encontrar novos caminhos e novas respostas.

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As vantagens da educação As vantagens de educação de qualquer nação, como as possibilidades oferecidas pela época moderna, são inequívocas. As novas maneiras de ensino levam a uma melhor aprendizagem dos alunos e a ver com outros olhos o meio ambiente em que vivem e apreendem a olhar tudo como um todo. Por isso a vantagem da educação consiste na expansão do conhecimento geral, do conhecimento do Eu através da participação de uma cultura multipolar e multirracial. Um indivíduo pode viver mais do que a sua própria vida e pensar mais que os seus próprios pensamentos. Pode-se elevar sobre


fatalismo e o fanatismo de existências solitárias, e mesmo em fundamentalismos religiosos, sejam eles de conjunto de pessoas, vocações ou nações. Todos devem ter o direito à educação e à sua formação. O preço dessa vantagem é a disposição de manter o eu em recesso, quando necessário, de repensar as suas premissas e colocar um ponto de interrogação no fim dos absolutos, pois nada é absoluto, irrevogável ou eterno. Há sempre alterações, há sempre mutações. Não se pode apreciar a mente educada sem dar-se conta do aspecto positivo que reveste os actos exploratórios do ceticismo, do compreendido ou não, mas de um cérebro com um estado de incerteza fértil. Se a maioria da humanidade querer superar-se, tem de aprender a olhar para cima, para o céu estrelado. Ela tem de expandir-se para além da sua própria casa e enfrentar mundos hostis, se quiser sobreviver no futuro. E a educação faz parte deste princípio, filosoficamente ou não. E para isto tudo é preciso liberdade. Liberdade de escolha, de opções e de pensamento. A libertação progressiva da esfera cultural está relacionada a uma série de transformações decisivas para a dinâmica da vida cultural de qualquer País, entre as quais se destacam a constituição de um público consumidor cada vez mais extenso, a diversificação de instâncias de consagração e difusão dos bens culturais e, sobretudo, o aparecimento de um corpo de agentes numerosos e diversificados em todas as matérias e artes: artistas e intelectuais profissionais, professores, empregados altamente especializados, médicos, biologistas, cientistas, etc..

Uma das ideias centrais que hoje se debate sobre o papel da ciência no mundo contemporâneo refere-se à natureza social do conhecimento científico, porque hoje está muito compartimentada, muito especializada em todas as áreas. A aceitação do carácter social da ciência implica a necessidade de analisá-lo à luz dos interesses, crenças e critérios de validade compartilhados, que orientam a actividade dos diversos cientistas e da sua interacção com outros actores sociais. Hoje tem-se de reconhecer que a educação tem de ser democratizada, normalizada e em evolução constante, mas não standernizada, pois há vários métodos de ensino, para se atingir o mesmo fim. Portanto não pode haver uma padronização educacional, mas abrangente, de novas áreas de conhecimento. As vantagens da educação pode levar-nos muito longe, mesmo para fora deste pequeno ponto azul, que tanto amamos, mas que ao mesmo tempo tanto desprezamos e fazemos tanto mal, poluindo-o e transformando-o numa lixeira. Apesar de tudo é a nossa casa, que devíamos de cuidar melhor. Devíamos de mudar a nossa maneira de pensar e de aprender a conviver com ela, respeitando-a. Apesar de tudo chego a pensar que estamos a terraformá-la a todos os níveis, como se fosse um planeta desconhecido para nós vivermos. É este o nosso paradigma.

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Há conversa com a teoria da mecânica quântica Há anos que costumamos ir ao Porto passar uns dias em casa de pessoas amigas, que há muito são consideradas como se fossem da família. Umas das vezes fomos lá pelo Natal e pelo jantar tive uma conversa animada e acalorada com um dos familiares que me dizia que a mecânica quântica era uma treta, que nada daquilo era verdade… Não me lembro de como começou esta discussão e de como fomos lá parar, mas parece-me de que estava a falar de ciência e de astrologia, das novas inovações, quando de um momento para o outro estava a dizer que a mecânica quântica tinha muitas aplicações desde a astrologia até à medicina. Essa pessoa dizia que nada disso era plausível e tentou dar-me várias explicações. Os ânimos estavam um pouco exaltados e acalorados, bem bebidos e bem comidos, com um Porto a acompanhar e um pão-de-ló a empurrar, cada um de nós a tentar demonstrar que o outro estava errado. Às vezes alguns familiares e até a minha mulher nos mandavam calar, pois a discussão não fazia sentido e temiam que a situação piorasse… Eu dizia que só estávamos a falar e expor os pontos, e não a discutir, embora falássemos em voz alta como se estivéssemos zangados. Foi e ainda continua a ser uma das discussões mais acaloradas que tive até hoje! Infelizmente esse senhor já morreu a algum tempo convencido de que muitas tecnologias e ciências descobertas nessa altura não passavam de fantasias e que não eram aplicáveis no nosso quotidiano.

vêm. Desde o Eletromagnetismo ao laser e maser, da teoria do gato vivo dentro da caixa, gato morto dentro da caixa, e as ironias que me atirava à cara de que estas acções em laboratório não passava de fantasias e que o gato estar em dois estados ao mesmo tempo era anedótico. Era inconcebível de como um átomo, um ião, mesão ou quaker, pode estar entrelaçado e estar ao mesmo tempo em dois pontos totalmente opostos. Eu disse que a suposições macroscópicas não tem nada a haver com a nanocróspica, pois é um mundo bizarro, exótico em que as leis da física não se aplicam nestes estados, mas que os cientistas ainda hoje estão à procura de respostas, pois os campos a investigar são imensuráveis, assim com as suas aplicações. Os átomos podem tomar posições coerentes em estados diferentes, assim como fases descoerentes. Aquilo a que chamaram “gatos de fases”. Até se falou em teleportação da informação e não só, através da Teoria da Informação Quântica, em que se enviava uma informação sobre o estado quântico de um átomo. Ele fitou-me demoradamente, ficou em silêncio bastante tempo e afinal ele disse-me: Não estou convencido! Isso tudo são falácias. Não é possível conseguir ver um átomo a mover-se e ainda por cima estar de dois ou mais sítios ao mesmo tempo e afinal, quais foram os avanços em medicina quântica, para além da biotecnologia, que segundo você diz, existirem?

Eu comecei por dizer que a mecânica quântica e a nanotecnologia estavam entrelaçadas e interligados nas novas tecnologias e invenções e que era muito diferente do mundo macrocosmo, até daquilo que para nós é palpável e que os nossos olhos

Eu estava perante um bom opositor, um descrente dos novos avanços e tecnologias, mas recordo-me que ele não era o único, pois até no meio científico havia muitos que não acreditavam e mesmo alguns chamavam-se dissidentes quânticos. Acho que não eram só preconceitos, acho que havia muito mais em todos os ramos sociais. Era uma nova filosofia, uma nova abordagem de ver as coisas, que levaram esta controvérsia para debates mais sérios dos fundamentos desta teoria física. Eram problemas em que as pessoas não se adaptavam perante esta revolução. Devem de ser considerados

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preconceitos profissionais, questões filosóficas e ideológicas, mudanças culturais e geracionais, a diversidade de ambientes sociais, culturais nos quais a Física aplicada ou não, foi praticada ao longo do século XX. Mas o factor positivo disto tudo é que houve avanços teóricos e conceituais, inovações técnicas e sucessos em experimentos mentais e reais, bem como expectativas de aplicações tecnológicas que vieram a acabar com a controvérsia e com a dissidência. O problema estava em mim, que pode-se dizer, quase analfabeto quântico, com os princípios básicos de física, em explicar ao meu interlocutor as partes práticas da mecânica quântica e os benefícios para a Humanidade. Perante isto, também fiquei calado por algum tempo. O resto dos familiares até olharam para nós, admirados por tamanho silêncio. Tive que reorganizar os meus pensamentos para voltar a atacar e desenvolver as práticas e experimentos que já se estavam a fazer. De uma coisa eu sei: a Teoria quântica encontra-se numa situação única da história da ciência e até no desenvolvimento da Humanidade. Isto levou-me a pensar que tinha de rever novamente o que tinha lido sobre as teorias d Albert Einstein, Boris Podolsky e de Nathan Rosem, entre outros, que balançaram e evoluíram os alicerces da mecânica quântica. Estava a ver qual era a maneira mais simples de dar exemplos da praticidade no nosso dia a dia. Até porque há outros campos que interagem com a física quântica para a física de partículas, nuclear e do estado sólido. Finalmente acabei com o silêncio e disse-lhe que ia tentar explicar para que servia a mecânica quântica nos nossos dias. Ele olhou-me para mim e disse: espero que não passe de mitos!... Ou de mentiras, pois ainda não ouvi ou li, qualquer propósito para o nosso dia a dia. Mal sabia eu que ia ser a última vez que íamos ter uma conversa acesa deste género e que ele nem sequer imaginava a ascensão meteórica de novas tecnologias, que hoje não dispensamos. 140

Pouco tempo depois ele faleceu e tive bastante tempo sem ir ao Porto. De qualquer maneira eu insisti com ele, para que me ouvisse e depois fizesse as suas elucubrações… - Então disse: Na verdade, é bastante difícil de imaginar o mundo como conhecemos hoje sem algumas dessas invenções que chegam do estrangeiro, principalmente da América, como os transístores de estado sólido, que estão nos rádios hoje, em vez de válvulas; as televisões a cores, as telecomunicações, os lasers em aparelhos de leitura de CDs, discos magnéticos, ressonância magnética nuclear na medicina, para diagnóstico, e é só para citar alguns exemplos, pois há muito mais, mas estes são os que nos dizem mais, pois são mais palpáveis de se ver e utilizar. - Por isso o senhor pode ter alguns destes exemplos nas suas mãos! Há uma grande evolução nestes últimos tempos e até as notícias de vez enquanto nos dão conta disso. - Pois!... Mas nem sempre é de acreditar. Eles também se enganam! - Mas há coisas que são óbvias!... Respondi eu. - Mas há outras que não são! Você está a ver muita ficção científica! - É quase como dizer que não acredito em bruxas!.... Mas que elas existem… Existem!... O que quero dizer é que estas impossibilidades que não consigo ver ou enxergar podem estar nas nossas mãos?... Isso é uma parvoíce autêntica! - Ok!... mas isto não tem nada a haver com bruxarias ou alquimia. Tem a haver com ciência! Não tem nada a haver com transmutações, mas sim com reorganizações do átomo, com o estudo e prática da teoria das ondas ondulatórias dos fotões, e outras mais.

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Não tem nada a haver com artes místicas nem com magias ou ilusões de óptica. - Mas isso é só teoria! ´É só falácia!… Não tem nada de concreto, nada de palpável!... É só filosofia barata. - Ok! Não vale a pena bater mais no ceguinho. Por mais evidências que demonstre, você não acredita. Acho melhor ficarmos por aqui. Estávamos num impasse completamente opostos e não valia a pena estremar mais a situação, já que estávamos em ambiente familiar, natalícia, e a conversa esmoreceu, achando por bem mudar o rumo dos acontecimentos e falar de coisas mais banais, pois esta conversa já demorava à mais de três horas e já se estava para lá da meia-noite, embora disséssemos que haveria mais temas para debater num futuro próximo, que infelizmente, nunca veio a acontecer. O cepticismo é muito comum, mas ter alguns objectos à frente do nariz, nas suas mãos, que foram recentemente descobertas e evoluídas, é ser mesmo obtuso ou ter espírito de contradição. Há algumas pessoas que são assim… Eu sei que ler a descrição da teoria da mecânica quântica não é fácil, assim como a teoria da relatividade. É difícil de absorver e de compreender se não tiver as bases mínimas para tal, ou se não estiver nos modos mais simples para pessoas com poucos conhecimentos poderem acompanhar. Nada é fácil! Claro que habitualmente a Física Quântica não é a mesma coisa que a física que damos nas escolas. Ela dá ao público, aos filósofos, mas também aos físicos, a impressão de ser totalmente construída pelo pensamento e, até mais, por dispositivos experimentais, do que de ser dada pela natureza ou de ter efeitos 142

práticos para nosso benefício, como concebemos que fazem com as teorias mais clássicas da Física. Fazem da Teoria Quântica um misticismo que não devia de ser, mas de terem uma visão e interpretação realista. A penetração da mecânica quântica nas actividades sociais e culturais mais diversas é notória nos nossos dias e que pode ser avaliada através de uma simples consulta ao Google. E esta busca é variadíssima como se pode constar desde a medicina quântica, à mecânica quântica e a sua aplicabilidade. Parecendo que não, há muita procura por comunidades mais diversas para além das académicas que compartilham o mesmo lugar e tempo na sociedade. Está em igual plano, para além do conhecimento científico, a arte, a mitologia e outras criações culturais de espírito humano, sempre curioso, e que pode ser do domínio público. Para terminar digo que a mecânica quântica é a base de diversos ramos da física, incluindo eletromagnetismo, física de partículas, física da matéria condensada, e até mesmo partes da cosmologia. A mecânica quântica também é essencial para a teoria das ligações químicas (e, portanto, de toda a química), biologia estrutural, e tecnologias como a eletrónica, tecnologia da informação, e nanotecnologia. Um século e um pouco mais, de experimentos e trabalho na física aplicada provou que a mecânica quântica está correta e tem utilidades práticas. Parecendo que não, ela está em toda a parte e os cépticos vão desaparecendo aos poucos, dando a mão à “palmatória”, perante tais evidências. Até na Natureza ela está contemplada, mas ainda mal interpretada pelos cientistas.

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