POESIAS DO NELO - Vol. III

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Poesia iii

Poemas do nelo

Autor: Manuel ernesto morgado A maioria das fotografias sĂŁo pĂşblicas, tiradas do google. 1


Índice Prefácio Título

Página

Em toda a parte

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Por quem és

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É a mensagem com linguagem escrita emotiva e sonhadora, para além dos horizontes das paixões humanas, que me cativa, que vos cativa.

A voz do coração

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O rouxinol

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Serra da Estrela

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É na nossa fantasia e na nossa imaginação, que se escreve e se canta tais poemas que voam até às estrelas longínquas, como um raio de luz se vai ultrapassando através do nosso próprio eu.

Tarefas

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As palavras

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A aldeia

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Servir

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A vida

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Perdão das árvores

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A minha terra

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A vida

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A Lua

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Dualidade

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Tantas saudades!...

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O fado

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Sonhar

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Na vida

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Os dias

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A todos os destinatários que gostam da poesia, como modo de comunicação, que pode ser declamada ou cantada.

Dedicatória Do meu mundo, para o vosso mundo, vos dedico este livro de poemas. Do tempo que tem vários tempos, espero que percam um pouco comigo e se deliciem e imaginem os poemas no espaço, no vosso próprio espaço. 2

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Na penumbra do dia

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Fumos

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Viver

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Tempos

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Gentes do Norte

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Outros mundos

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Quando éramos garotos

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Fúria do mar

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Dor

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Tudo muda

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Recordar…

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Vicissitudes

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Democracia

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Lisboa

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Adoração

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Serrania beirã

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Baladas

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Quero viver

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Quase órfão…

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Inspiração

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Aos papeis …

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Guerras

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Perder

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Em toda a parte Em toda a parte e à parte se parte e se reparte com calor ou com frio por vezes se sente um calafrio. É a cruz o nosso calvário a nossa maneira de vida escondida num armário por vezes é aflitiva. É amor com calor é suor com fervor é a nossa simples sina que por vezes não atina. Em toda a parte não há esconderijo para onde dirijo o líquido não arde. Não é uma arte é uma maneira de viver que está em toda a parte em toda a parte conviver.

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Por quem és!... Tu mulher, ser complementar ao homem completa conseguem fomentar sem junção não se completa. Tu mulher quem és que pela tua beleza misteriosa e complexa és nos escraviza pela natureza

Por quem és mulher és a minha colher amor que vou beber beijar, sorver e comer. Por quem és e serás O amor que te dedicarei Ao pé de ti sempre estarei Acompanhada sempre estarás.

Um íman atraente uma paixão ardente uma conjugação de atracção que faz palpitar o coração. Que faz loucuras outras procuras mulher minha amada pelo amor és afamada. Por quem és mulher que verás por quem és serás ao mundo futuro darás frutos do teu ventre colherás. És o enigma que me ensina mas que sabes ser felina amorosa e sensível os teus actos te torna visível. 6

A saudade é um perfume que vem do passado, um perfume suave que nos lembra, os bons e maus momentos, um perfume que resiste ao tempo e na nossa memória. Amar não é perder a razão, pelo contrário, é elevar a vida ao poente máximo da nossa humanidade.

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A voz do coração Meu coração repousava em suave almofada em fraca palpitação arfava em pensamento louvava. Tinha alguma sujeição pois não se subjugava para quem o julgava acelerar o coração. Não que me perdesse não que não vertesse algumas lágrimas pelo rosto o doce amargo do mosto Que a vida contempla que nos lembra que a dor existe com o amor coexiste . Umas vezes oprimem outras vezes comprimem dão-nos problemas a resolver em actos temos de devolver.

Correndo por tudo correndo por nada e, contudo é uma mão cheia de nada. Nem sempre alcançamos o que almejamos muitas vezes nem avançamos o fundo do túnel vejamos. Mas é assim, sempre será a voz da razão a voz do coração a nossa vida terá. Terá o amor terá a dor terá o sofrimento terá o contentamento.

Calando e sofrendo a vida tem de continuar temos de lutar e suar assim vamos correndo 8

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Rouxinol Espera sereno o rouxinol poisado que a alvorada desperte que o Sol o aqueça, coitado porque o frio o aperte Abre as asas irrequietas porque elas não querem estar quietas querem levantar voo para o alto ascender o voo Chilrear ao Sol À sua luz e calor agradece o rouxinol todo o seu amor

Dás luz à Primavera dás sons maravilhosos dás vida à quimera em tons fervorosos. Todo o mundo se levanta todo o mundo canta fervilha de nascimento de sementes em rompimento. É festa, é canto canto do rouxinol de outros a esmo em rol ouvi-los é um encanto.

Cantando à Natureza cantando à beleza cantando à sua parceira fazendo amor na leira. Olhem as nuvens entre as aves olhem os céus no meio das naves elas são o encanto ao canto alegria que tira o pranto. Rouxinol divinal inigualável chilreio que me perco em devaneio no meio do quintal.

O cantar das aves canoras enche a alma de poesia, de amor e respeito pela Natureza e pela diversidade.

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Uma saudade inacabada que precisa de ser repetida.


Serra da Estrela

Tarefas

Alta serra no meio da Beira Alta penedia e pinheiros não falta Serra bonita e vaidosa Terra de Viriato bonita e idosa

Sempre houve gloriosas tarefas outras em tantas esferas em tantos distintos trabalhos e outros indistintos baralhos.

De águas frescas e cristalinas são raras e boas vitaminas serra das mil e uma fontes que nascem nos teus montes

Todas elas são iguais umas menos, outras mais todas elas são honrosas todas elas são honorosas.

Por vezes vagarosas, por vezes rápidas caem em inclinações fálicas até aos vales aonde se acalmam até ao mar suave palmam

Todas elas contam uma história para a posteridade faz história como se fosse uma vitória para o bem comum da glória.

Em três se dividem Uns para Norte rumam Outros para Sul vivem ao mar se aprumam.

Pois o melhor pão é feito com coração com o suor do cansaço seja duro ou escasso

Serra granítica e alta Terra da Beira Alta De branco ficas vaidosa no Verão ficas formosa.

É o nosso trabalho que nos dá o pão e a vida é a alegria devida que se vende a retalho. Variadas são as tarefas variados são os destinos gloriosas e sãs tarefas nos dão a vida sem desatinos.

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As palavras As palavras são como um cristal devem ser ditas como uma vestal outras são como o vidro é preciso serem ditas com tino. As palavras são gumes afiados não se aceitam fiados nem num pinhal armado com um punhal. As palavras são como incenso por vezes incendeiam é preciso consenso outras encandeiam.

As palavras desamparadas, inocentes outras contentes são a luz no firmamento outras são a noite de tormento. As palavras ocas levam o vento as boas bem me lembro umas são recolhidas outras são esquecidas. As palavras são doces como o mel outras são como fel algumas com sentido consentimento contido.

As palavras secretas vêm secretas vão muitas nem vintém têm apertam o coração. As palavras servem de oratória algumas de boa memória outras são imortalizadas outras amortalhadas.

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A Aldeia Algumas casas Algumas ruas e no meio das ruas um largo um pelourinho que tem uma fonte de água fria Que quem a bebe resfria existe tudo no meio desse largo existe de tudo um pouquinho que gosta de passar pelas brasas. Tudo isto tão sossegado tudo isto tão parado e o céu tão baixo que, quando alguém grita e não precisa de estar aflita ecoa por todo o vale lá para baixo. Um nome familiar alguém está a fiar tal som assusta pombos bravos outros animais escassos e acordam ecos no descampado em terras de arado.

É uma festa é uma giesta toda a gente dança toda a gente canta tudo se junta família e amigos na freguesia da junta é a nossa aldeia que já não está feia entre todos os amigos. Depois… Tudo passa Vão-se as gentes Ficam os velhos pesarosos Já são idosos, mas que foram valorosos A saudade novamente trespassa À espera do próximo Verão Com um aperto no coração Tristezas no peito sentes Até nova vinda Até nova alegria Gente nova veria e sentiria É um ciclo belo como a vindima.

Acorda vistosa saudosa e gostosa no Verão em pompa em que nada tomba pois a população triplica em emigrantes da terra duplica. 16

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Servir Há muita maneira de servir servir não é ser escravo nem bater uma no prego outra no cravo mas sim a mente abrir não só aquilo que prego, Mas como exemplo Como se fosse um templo. Seja madeira seja outro utensílio em qualquer eira seja João ou Basílio o interesse é ser servido e saber servir não precisa de ser fervido nem para cobrir. Pode ser tudo e mais alguma coisa não é lousa nem loiça mas é um bem precioso um bem valioso a todos e por todos mas não aos tolos é preciso saber servir a sabedoria abrir.

servir sem se abaixar servir sem contestar servir com um sorriso servir com um aviso servir sem quebrar.

A poesia é um sentimento musical no silencio da solidão entre a multidão, num sopro do coração. O amor é uma chama afiada de dois gumes, que dá alegrias e dores, paixões violentas ou não, que eleva ou baixa a alma e reduz a cinzas a sua miséria; é uma contradição de sentimentos com muitos condimentos. Meditar ao ar livre é saber viver e sentir a Natureza e comungar a sua beleza, evidenciando o seu futuro. A felicidade não é a solo. Tem de ter um consorte, tem de haver partilha. As grandes ideias nascem no cérebro, o pensamento é o prolongamento do cérebro que nasce e se lembra de experiências do passado que evidencia no presente, assim como os sentimentos, como se viessem do coração, mas que vem do mais profundo ser do “eu”, que inconscientemente vem ao de cima e nos faz quem somos e como somos. Uma parte deformada faz de nós assassinos ou ditadores ou inadaptados da sociedade.

Servir sem murmurar servir sem protestar servir sem se queixar 18

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A vida

Perdão das árvores

Tomai as rédeas da vossa vida porque a vida nada facilita se não tomais as rédeas do que é vosso no meu também não posso.

Não sei se serei carvão negro do coração daqueles que me incendeiam que mal nos encandeiam.

É que a vida é um dom É como se fosse uma nota de um determinado tom o acaso também vota.

Esquecem-se que damos vida a outras formas de vida damos oxigénio e purificamos o ar porque nos querem mal e nos levar

Que coisa é a mesma vida senão como uma lâmpada acesa que tem de ser coesa ela tem de ser repartida.

Se damos sombra e gratidão se damos o berço para o Homem porque é que eles nos comem em máquinas de pura maldição.

Será de vidro ou de fogo? O vidro que com um assopro se faz o mesmo que com um sopro se apaga o fogo de tudo será a vida capaz.

Damos bênçãos, cantos e perfumes e sofremos azedumes aquecemos com o lume do frio que vem do cume

Muitas voltas tem a vida mas não deixa de ser admiração quando se tem coração ela tem de ser atrevida.

Damos vida a quem nos tira a vida até no caixão ele descansa afinal mas que dói a ingratidão sofrida de um mal inútil feito só por mal. Qual é o prazer? Qual é o teu lazer de nos queimares teimares em continuares.

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Qual é a tua consciência Homem sem paciência que ingratidão e devoção homem sem coração.

A minha terra A minha terra está ligada Aos sonhos de aventura procurada Com saudade no coração não basta Por causa do destino nos arrasta. Vim de um continente Para outro continente. De pequena semente Noutro lado cresci contente. De África eu vim Para a Europa um fim Meus antepassados Aqui cresceram repassados.

O mar é profundo e tenebroso A alma por vezes tenebrosa é O mar é povoado de seres vivos A alma de seres celestiais Toda a profundidade Será em direcção Ao coração À elevação Ao ascetismo À comunhão com a trindade Cósmica.

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A minha terra está ligada ao meu coração africano mas não serei americano Mas à terra procurada. Europeu fiquei Alma que fisguei E contente fiquei Com saudade não sei. Agora é a minha terra É a minha guerra A minha felicidade a minha conflitualidade. 23


A vida

A Lua

A vida é o dia de hoje que a de ontem é passado o de amanhã é futuro é sombra que foge pois tudo é trespassado que se abre num furo como uma volta intensa uma corrida imensa num galope vertiginoso por vezes glorioso que principia no nascimento e que finda na sepultura. Não dá para fingimento a não ser na cultura, Ela dura um momento vai com o vento como uma estrela cadente como um amor ardente que se desfaz como a neve tal como o fumo se esvai a vida não é assim tão leve pois é folha que cai. Assim é a vida pois a tudo ela convida.

A lua passava levemente nas alturas Ela os céus atravessava a luminosidade não tinha roturas

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Lentamente a Lua passava Seus raios trespassava O ar frio da noite de Inverno O acariciar do vento terno Noite formosa e luminosa Sossegada noite charmosa que ao luar se namora Ao luar a chama evapora De paixão ardente De coração quente A Lua passava contente Formosa convincente. Lua de convicções De poetas em canções De êxtases em orações Lua fascinante de adorações.


Dualidade A saudade e a tristeza está na nossa natureza são sentimentos nossos condimentos São sons suaves e mornos às vezes apertados nos tornos da nossa vida a ritmo brando outras ela nos vai cobrando...

É uma suave melancolia de alma triste folia no mar da amargura se transforma numa ternura. É assim a saudade é assim a tristeza lágrimas sem falsidade lágrimas da nossa riqueza.

Por vezes de hálito perfumado de atmosfera doce impregnado por vezes de Primavera por vezes sonhos de quimera. Sentimento de perca de coração e alma aberta saudade e tristeza são actos de certeza Momentos de alegria por vezes tornam-se agonia outras ao contrário são sons de canário. Saudade e tristeza tristeza e saudade são factos com certeza até na sina da vaidade. 26

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Tantas saudades!...

O fado

As nossas saudades não são vaidades são mimosas paixões são as nossas palpitações

O fado nasceu num dia que não dava para a alegria na boca de um marinheiro num dia pouco soalheiro.

Que batem nos nossos corações que nos deixam as dores das satisfações pois é um mal do qual se gosta como se fosse uma aposta

O fado é triste como um choro uma corda de guitarra gemendo cantando sós sem coro alma triste sofrendo.

Sentimento de contentamento um mal de que se padece o doce mel do arrependimento que a teia da vida nos fornece.

O fado nasceu da saudade o fado nasceu da partida sentida sem falsidade da partida repartida sofrida.

É como se fosse uma pena um desejo que não se extingue mas que vale a pena ter de esperar e que não nos finte.

O fado é sina da vida é destino para lá do horizonte de uma saudade vivida um amor ficou e que a conte.

É o suave fumo do amor que padecemos de dor uma ausência esperada mas não desesperada.

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Sonhar

Na vida

Por vezes sonho sonho que sou um cavaleiro sonho que sou um guerreiro sonho o sonho que lá ponho

A vida por vezes é boa por vezes ribomboa como um trovão como se fosse uma palpitação.

A imaginação do sonho a de um guerreiro do ar nos horizontes desbravar a realidade por vezes é um sonho

A vida é satisfação a vida é insatisfação são duas faces não poética da mesma moeda.

e tento sonhar e povoar para além do ar e do mar por desertos, por sistemas solares para além destes todos lares

É tormenta que acalenta é alma que alenta que se vê tolhida num corpo colhida.

Eu sou um vagabundo sonhador que anda pela noite escura no palácio encantado da ventura que encontro de tudo e até a dor.

É como uma prisão e sem confissão do tempo e do espaço de alguém no regaço.

Cavaleiro de espada quebrada de brilhante armadura que por vezes anda pela amargura por aventura dobrada.

É vida que sorri é a alma que ri é um pouco da eternidade numa franca fraternidade.

Sonhar para acalmar sonhar para aclamar sonhar para a vida seja ela a vivida.

É corpo que nasce é alma que renasce é o espírito que continua ao longo da vida flutua.

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A vida até à morte é apenas um mote é apenas uma desconexão das coordenadas do coração. Cessou todo o movimento Cessou o esclarecimento Pode ser uma fatalidade Mas não é para a eternidade. É apenas uma transformação É apenas uma translação Desta vida para outra O espírito flutua noutra Noutra dimensão Noutra dissertação Num outro lugar Na eternidade com vagar.

Os dias Os dias passam os dias levam e caçam belos e maus pensamentos bons e maus contentamentos E eles tornam a passar todos diferentes todos indiferentes por eles a passear. Os dias são assim por vezes um festim por vezes um inferno como se fosse Inverno. Muda o tempo muda o pensamento imprevisível como a Natureza mas não deixa de ter beleza. Assim são os dias assim são as alegrias é como as voltas de um rio nunca passa pelo mesmo sítio.

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Na penumbra do dia

Fumos

Na penumbra do dia o dia vai esmorecendo o Sol vai-se escondendo o dia vai perdendo a alegria.

O simples despertar devia de ser respeitar respeitar os pensamentos viver sem lamentos

É neste pôr do Sol que a poesia abre o rol é que se abre a fantasia e se escreve poesia.

Pois à fumos alarmantes sinais preocupantes em vários pontos que não são meros contos.

No lusco fusco do horizonte avermelhado por vezes alaranjado as musas busco.

Políticas populistas são como pugilistas atacam a democracia e viram em ditaduracracia.

É na penumbra do dia é o que a pena faria escrevendo os sonhos sonhos que nas folhas pomos.

São fumos a pairar é fogo a lavrar em lume brando que vai cobrando. Democracia aproveitam para a minar e mentir mentes se deleitam fingem liberdade e sentir. São fumos, são nuvens são sinais, são ferrugens de que algo está mal o fel que destilam é fatal.

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Viver A vida é como um jogo é como jogar no totoloto é como uma lotaria em que a sorte varia.

Viver não é sofrimento viver não é lamento é juntar tudo sem dor e transformá-lo em amor.

Uns vivem bem outros a mal outros como convém todos têm sal Para apimentar a vida tal é a consorte a sina devida assim a vida comporte. Apesar de tudo a vida é um dom é ser sortudo melodia de bom som. De bons sentimentos em todos os compartimentos em todas as alegrias sem vidas vazias. Não se vive por viver todos somos um ser todos temos um direito é seguir a vida a peito. 36

É da morte que a vida nasce. É do fogo que das cinzas as plantas nascem. É da explosão de uma estrela que nascem novas estrelas, planetas e vidas. Assim é com toda a Natureza. Se estamos cá, devemos à morte de uma estrela que morreu á muito. Apesar de tudo, a ignorância é uma triste realidade para uns, mas oportuno para outros para singrarem na vida, pois o conhecimento não é para todos, assim como o Sol... Não devemos de ter o monopólio da verdade, seja ela qual for.

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Tempos Lá vai o tempo que era mais favorável mais agradável sem ser um lamento. Lá vai o tempo alterado imprevisível cujos estragos é bem visível de triste documento. Lá vai o tempo que era seguro de previsível e duro passou a instável em contratempo. Lá vai o tempo que o tempo era tempo estável e confortável era-nos mais favorável. Lá vai o tempo em que tudo era certinho não havia escombros no caminho boa Natureza que me lembro.

Lá vai o tempo havia tempestades sim mas nada como agora assim estas alterações vou temendo. Lá vai o tempo que já não me lembro desastres sempre houve na nossa memória sempre coube. Lá vai o tempo que o tempo tem histórias heróis com glórias que já lá vão no tempo. Lá vai o tempo Que aos serões se contavam histórias Derrotas e vitórias Vento a zunir convencendo. Lá vai o tempo Em que não havia medo Muito menos lamento Respeito sim, mas não medo.

Lá vai o tempo em que nada era alterado tudo estava destinado Sem tufões, desgraças que não recomendo.

Lá vai o tempo Que não há registo Tal velocidade no vento Que nunca foi visto.

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Gentes do Norte Gentes do Norte é gente forte simples e nobre dá e nada cobre. Gentes do Norte são de alma e coração gente de terra a terra com força na guelra.

Gentes do Norte gentes de boa comida de bom vinho forte mesa bem servida. Gentes do Norte Nem o Sul, nem o Centro Tem este porte Simpatia como epicentro.

Não há gente como ela dada e comunicativa ajuda quem está aflitiva não há mais ninguém como ela. Gentes do Norte gentes de bom coração actos de boa oração de amizade forte. Não interessa que clube seja não interessa que religião seja basta ser do Norte, bem-haja seja dará o que deseja e como deseja. Gentes do Norte seja rico ou pobre dão tudo o que têm e o que não têm. 40

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Outros mundos

Quando era garoto

A Terra é vasta é para lá do horizonte partir não basta nem ser forte como um bisonte.

Quando era garoto era bastante maroto saltava como um gafanhoto e era canhoto.

É ter sede de viagem é ter sede de partir e não mais vir não ser como uma vagem.

Quando era garoto era irresponsável por vezes era afável andava por vezes roto.

Outras terras, outros mundos por vezes imundos são pessoas, diferentes gentes outras culturas vigentes.

Quando era garoto essa mocidade gloriosa sem problemas e vitoriosa castelos de areia de arroto.

Alguns partem alguns voltam aventuras repartem ficam e não voltam.

Quando era ainda garoto o mundo era grande e meu nosso, vosso, dele e teu pulávamos como um gafanhoto.

Há outros espaços há outras terras aonde não há guerras de pobres e ricaços.

Quando era ainda garoto Fazíamos traquinices Com olhares de maroto Eram as nossas maluquices.

São outros mundos redondos, não corcundos é assim a diferente Terra em que se aterra. 42

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Fúria do Mar

Dor

Que me importa a fúria de amar se eu quero amar que me importa a fúria da Natureza se é o amor que quero dar.

Todos sentimos a dor De uma maneira ou de outra Não tem a haver com amor Mas também com outra.

Que me importa a fúria do mar amor quero exportar que me importa a fúria dos homens que para além de animais, têm muito para dar. Que me importa a fúria do mar contra a maré quero remar contra o ódio quero combater e não me deixo esmorecer. Que me importa a fúria do mar porque eu quero amar e tudo o mais não importa para além do que a alma suporta. Que me importa a fúria do mar Que para além do bem-estar É lutar pela felicidade Sem orgulho e sem vaidade.

Toda agente tem dor não tem cor e muito menos sabor mas a quem dói dá valor. Não é um sentimento mesmo que seja do coração nem é de arrependimento que sirva de oração. Não! A dor é física não é preciso ser tísico é para toda a gente ela é uma má agente. A dor sente-se não só no corpo como a alma convence-se através do seu sopro. A dor corrói a dor dói gritamos de dor nem desaparece com calor.

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Tudo muda A dor não tem cor não tem sentimento nem tem consentimento dela temos o amargo sabor... É um mal-estar um mal corporal uma doença a cavar nosso corpo temporal.

Todas as coisas que vejo partir todos os dias a vida irá mudar novas ideias irão parir no arame da vida vai pairar. Todas as coisas que eu vejo mudar o mundo se vai transformar aos poucos tudo mudará coisas antigas se esfumará.

É uma agulha Espetada no corpo É uma fagulha A queimar o corpo.

Todas as coisas que eu vejo partir todas as coisas que eu vejo mudar tudo passa por mim a rumar em várias direcções vai distribuir.

Dor é um mal-estar De corpo e alma Que não acalma Um vírus a devastar.

tudo muda, tudo se transforma algumas me transtorna outras não, outras sim tudo se altera, não tem fim. Embora tiramos proveito de peito para a frente a eito umas gostamos, outras não tal ditado nos diz o coração. Todas as coisas que vejo partir pois as próprias coisas mudam até nós mudamos e transmutam a outras ideias que hão-de provir,

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Todas as coisas que vejo partir fica a saudade como sentimento mas temos que ir e vir por vezes em sofrimento. Tudo vai, parte e reparte Há de tudo e muda o consentimento por vezes transforma o nosso firmamento mas nada fica aparte, nem faz disso alarde. Todas as coisas que vejo partir Todas as coisas que vejo mudar O Mundo se transforma a rir Nada o impede de se transformar. Seja a chorar ou a rir Seja a chegar ou a partir O destino é um desatino um fado que muitas vezes não atino…

Recordar... Há recordações e recordações guardadas nos corações esquecidas, foram aflições. São lembranças São esperanças que há muito partiram e não nos feriram. É como chuva fraca e devoluta molha, mas não bate na memória apague. Cai leve levemente suavemente caindo ao de leve vai lavando as recordações vai lavando as maldições são apenas palpitações ritmos lentos de corações. São recordações lavadas em água levando a mágoa para longe dos corações.

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Vicissitudes!... O bem geral não é general por vezes uma utopia por um canto de uma cotovia. São atitudes são vicissitudes que o bem particular não é circular. Novas tristezas más naturezas o tempo tem fel e as atitudes mel. É um comportamento mas não é firmamento não são tratos comuns nem bandos de atuns.

São vicissitudes da vida que a alma aviva são meras atitudes são simples plenitudes. Para um bem geral ou um mal geral somos apenas humanos muitas vezes desumanos... Temos tudo do bem Temos tudo do pior Alteramos tudo também Fede até o perfume da Dior. São atitudes nossas São atitudes vossas São vicissitudes Que não são plenitudes.

É a nossa avareza a nossa aspereza que é a nossa natureza dada como uma certeza. É a nosso modo que apenas troco a certeza por uma incerteza. 50

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Democracia Fazei-me senhores entender que não consigo compreender que todos reclamam aos ventos aclamam que vivemos em democracia mas evocam tirania em advocacia... Lavam os olhos, lavam as mãos como Herodes na escadaria como se fossem distantes irmãos que à plebe não escaparia tais críticas democratas no Parlamento não passam de bravatas. Há tiranos mascarados pacientes democratas de carvão estão mascarrados não passam de tecnocratas. Para que não possam apanhar triste sina me faz entortar.

viver em plena liberdade em plena felicidade e não uma fantasia uma ilusão por vezes vazia. Vivemos em populismo por falta de civismo uma ditadura encapotada medida avulsa deslumbrada por falta de senso político num voto apolítico. Fazei-me senhores entender que raio de democracia é esta para compreender que favores agracia na penumbra do poder que quer ficar sempre no poder.

Não há sátira que aguente para elevar esta moral se o político é imoral nem se aguenta de frente pois a tal ousadia fantasia de cobardia. Não é na democracia que nos favorecia 52

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Lisboa

Adoração

Lisboa, menina prendada lavada e prezada é um êxtase vê-la é sempre bom revê-la.

Não adoreis coisas efémeras pois todas elas são perenes todos têm os dias contados todos eles são apontados. Apesar de tudo e contudo Adorai a beleza adorai a Natureza pois ela tem sabedoria e não tem alegoria mas é a nossa alegria. Adorai as vistosas montanhas de alturas tamanhas que também são verduras em todas as alturas. Todos têm os seus segredos no meio dos arvoredos que digam os penedos entre os silvedos por onde correm os ribeiros que mais além se tornam rios nesta natureza bravios onde por vezes há veleiros nas águas calmas da foz aonde a multidão levanta a voz. Adorai tudo isto porque nem sempre é visto até aonde a vista alcança haverá sempre a esperança. Adoro esta Natureza, adoro esta beleza que com certeza

Esta é a Lisboa amada princesa sempre armada de sete colinas vistosas de vistas primorosas. Lisboa do destino e desatino dos gemidos da guitarra menina bonita com garra xaile aos ombros com tino Canta a finco gemendo o amor perdido que partiu com profundo lamento marinheiro que nunca mais viu. Esta é a minha Lisboa, pois ela continua boa a cativar novas gentes gentes que cativam gentes. Eu parto e torno a voltar os que vêm querem ficar não há volta a dar vêm para a amar. 54

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humano algum pode descurar mas sim procurar tamanha ascensão dentro do seu coração.

Serrania beirã Serra alta e fria neste Inverno nevosa linda e graciosa gente de grande cortesia. Serra penedia e alta neste tempo nada lhe falta Terá sempre companhia ao alto por esta via. Aldeia branca caiada ela nunca foi vaiada só quando cortam a estrada à Torre, vista estragada. Aldeia granítica vistosa nas encostas encosta Nesta serra aposta a vida sempre laboriosa.

A Natureza é a mais ampla poesia, a beleza que sai dela, é a que se pode chamar divina.

Serra pastoril alta e viril bonita e brilhante como um diamante.

A saudade é um perfume tão gostoso, suave como veludo, de alguém que foi próximo ou se perdeu, talvez partisse para outras paragens. É uma dor sem doer, é um sentimento de perda sem perder.

Não há outra igual Tu és factual A mais alta Toda a gente te exalta.

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Baladas

Quero viver

Todas as terras têm baladas algumas são bem-amadas e até são cantadas outras são simplesmente lembradas.

Quero viver quero amar não quero sobreviver não quero desamar...

São saudades de fadas de gentes antigas fadadas lendas cantadas ao luar sob focos luminosos a suar

não me apontem para a cova que não tenho nem deitem mais lenha para as achas pois a fogueira da vida já a tenho não me deem mais cachaças.

São baladas cantadas com amor e ardor são poemas com fervor cantadas e embaladas.

Porque simplesmente vivo porque respiro e acredito sou eu que ainda ando sou eu que ainda mando.

São cantares folclóricos mitos e lendas teóricos viajam como meteoros gnomos fantasmagóricos

Sou eu que ainda canto palpita o coração no meu canto sozinho me levanto ainda tenho encanto.

Andam por aí mas que nunca vi só em baladas só em lendas cantadas.

Tão cedo passa quando tudo passa no mundo dos deuses é uma devassa o tempo passa e devasta a idade do tempo desgasta.

São cânticos, são baladas De belos sonhos embaladas São relâmpagos furtadas Belas canções desfrutadas.

Pouco se sabe, tudo se imagina pois o sonho comanda a vida saíste a chorar da vagina mas alegre será a tua vida.

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Envolve-te de rosas, ama e bebe não te cales e barafusta é um dom que se recebe pois nada te assusta. Assim será, assim dará de querer viver, de querer amar o impossível se fará na boa direcção a remar. Não há mal em querer viver Não há mal em querer beber Da fonte da vida Da felicidade devida. Não há mal em querer amar Pois é fonte da harmonia É querer sarar sem parar naturalmente como uma sinfonia.

Quase órfão... Ter mãe e ter pai e não ser amado é uma tristeza tamanha dura sorte funesta que não é honesta como urze da montanha lá no alto vai no verão é queimado. É coisa bem desgraçada que não é abraçada se não há amor de pais mais tarde haverá ais quando tais filhos os ameaçam e batem os maltratam também... Há almas sem caridade gente sem paridade com pouca felicidade e muito menos piedade. Emblema de sofrimento ser quase órfão é como não ter coração desperdiçado sentimento mal cabe numa oração sem um único lamento sem um grito, sem um ai, vai vivendo ao trambolhão como não tivesse mãe nem pai. É como não ter vida e lutar por ela a pulso como dívida vivida

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que o triste não lamenta mas que vai lutando vai labutando no meio desta tormenta mas que não será e nem verá a ser filho da treva e do vício pois já está votada ao sacrifício que a vida é uma luta uma luta pela sobrevivência em pouca convivência mas que por ela se labuta.

Inspiração Poetas que aclamam musas Muitas delas são lusas Que a inspiração volte nas entrelinhas molde que ninfas sejam evocadas em poesias alocatadas são obras doces de poesias escritas por fantasias que a mente dita e a alma desdita. Elas são invocadas amadas e tresloucadas que são intocadas docemente adoradas que as lendas persistem cantadas elas existem. Poetas que evocam as musas não têm mentes obtusas Mas de mentes abertas ao mundo são libertas.

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Aos papeis... Muitos andam aos papeis outros fazem leis que não são para eles mas são para outros aqueles que subordinados ou não não valem um tostão. Aos políticos cabe governar e não desbaratar e muito menos cavernar estúpidos argumentos desbaratar aos papeis andam e mal mandam. Não é por arte e engenhos que se aplicam os enganos tal será a verdade da mentira que da ilusão nos tira que da fama faz tais empenhos a ilusão da verdade dos enganos Do favor de tais engenhos de tantos empenhos que nos cuidem que nos aliviem que da fama ninguém os tira tais ladrões sempre os vira.

que desbravam terras aráveis nem imortais são pois são pó até ao coração. São humanos, não são deuses. Andamos todos aos papeis aos desenganos vivemos nem sabereis e nem vereis surdos e mudos vivemos cegos por toda a parte que nos têm aparte. São vidas fugazes são vidas lastimosas nem do ar são ases nem floridas como as mimosas um caminho sem vida atrevida vida em dívida. Andamos aos papeis vivemos sem leis são apenas dos outros são apenas de aqueloutros não são os nossos nem são os vossos.

Uns são deuses outros são pobres miseráveis 64

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Guerras Há falsas guerras há falsas pazes em diversas terras são animais capazes Pois não valem leis sem costumes nem costumes sem leis nada que nos valeis não passam de estrumes. São como ovelhas ladinas por fora são mansos anhos por dentro lobos traquinas vorazes de males tamanhos.

Migração em formação caminha que dói o coração de quem vê que nem uma oração se lê pode valer a cada alminha. Sejam falsas ou verdadeiras são sempre guerras desgraçam sempre as terras fogem da morte das talhadeiras. Há muitos tipos de guerras Sejam elas quais forem São sempre más as porem Devastam vidas e terras.

Mas mais batalhas há do que aquilo se verá tantas mortes inúteis por meras terras fúteis... Sim, há falsas guerras verdadeiras guerras de fanáticas ideologias e de falsas teologias. Em convulsão põe a Terra nesta vasta guerra terrorismos prazenteiros em falsos mosteiros. 66

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Perder Não sei bem o que é perder não sei se é perder a alma ou é perder a calma por coisas fúteis de se ver... Por vezes estou perto de me perder não por ruas longas de se ver nem sei do inesperado do acontecer mal interpretado. Tão certo de me perder de coisas que desconheço pois aquilo que conheço não me perco do que queira ser Perco-me pelo que gosto por aquilo que aposto que para mim é lazer não gosto de a perder. Dentro do meu pensamento não é o perder ou do ser mas elevar ao firmamento o que se deve de ter. Não se perde por perder nem se morre por morrer vive-se para se elevar vive-se para se levantar. 68


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