Escritores Brasileiros Contemporâneos - n. 11 - maio/2020

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ESCRITORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS REVISTA LITERÁRIA-ARTÍSTICA EDIÇÃO 11

Nº. 11

Maio/2020


EXPEDIENTE

EDITORIAL

Revista pertencente à Editora Matarazzo. Email: livros@editoramatarazzo.com / thmatarazzo@gmail.com Telefone: (11) 3991-9506. CNPJ: 22.081.489/0001-06. Distribuição: São Paulo - SP. Diretora responsável: Thais Matarazzo - MTB 65.363/SP. Depto. Jurídico: Tatiane Matarazzo Cantero. Periodicidade: mensal. Formato: digital. Capa: arte digital de Ulysses Galletti, colaborador dessa revista.

Nesses tempos difícies que toda a humanidade passa devido à pandemia do COVID-19, devemos viver em isolamento social e colaborarmos para a não disseminação do vírus. Muitos escritores e poetas tem aproveitado esse momento para organizarem escritos e obras, produzir novos trabalhos, enfim, utilizando a criatividade para preencher o tempo e espantar a melancolia. Algumas dessas produções estão registradas na edição da nossa revista, que desta feita será publicada apenas no formato digital, pois a versão impressa não tem como ser distribuída como fazemos costumeiramente, esperamos em brever poder voltar a fazê-lo. Esse número traz poesia, matérias, entrevistas, dicas e entretenimento para todos os gostos. Boa leitura!

Edição 11 - Nº 11 - Ano II - Maio/2020.

A opinião e conceitos emitidos em matérias e colunas assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista Escritores brasileiros contemporâneos.

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Blog www.editoramatarazzo. blogspot.com

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Presente: Yasmim Jalloul fez uma animação do Coletivo São Paulo de Literatura. Ficou excelente! Obrigado, Yasmim!


em planos diferentes

Fomos dois em um; relacionamento intenso, lindo e extremamente discreto. Nossa relação sempre foi de respeito, de carinho, de franqueza e partilhada, em todos os aspectos, de comum acordo. Tudo que vivemos em todos os espaços sociais e particulares teve como base a nossa ideologia e os princípios que norteiam o caminho da felicidade, princípios esses que se pautaram no amor contido no coração, desconectados das convenções sociais que ditam regras de como e quando podemos ser felizes; assumimos todos os riscos com coragem e bom humor. Sempre fomos um em duas partes, diferentes na aparência, mas que se integravam harmoniosamente, nascemos para brilhar juntos, eu sei, porém estou há muito tempo internado, sem nenhuma perspectiva de recuperação; pandemia. Nosso tempo juntos foi um tempo de muita luz, alegria, acertos e de preservação completa da dignidade de cada um. Desejo que continue o seu caminho em paz, guarde as boas lembranças.

Aprendemos juntos a crescer, superar as nossas dificuldades e agradecer pelas nossas conquistas. Sem toque, sem beijo; no ar essa folha a voar para as minhas mãos.

Glafira Menezes Corti Professora, nascida e criada em Sampa, tem por essa terra um enorme carinho. Atua como Palhaça Pitanga. Cursou Iniciação Teológica para leigos. Membro da Academia Contemporânea de Letras. São seus os livros: “Tamborilando com Letras”, “Pra Você” e o livro infantil “Eu fizio porque quizio”. Gosta de brincar com as letras e as palavras como se fossem passos diferentes de uma dança de salão. Contato www.facebook.com/glafira.menezesdeoliveiracorti

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Dois corações,

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Por Ana Jalloul Para algumas pessoas livros podem parecer objetos misteriosos que simplesmente estão nas prateleiras das salas de aula, bibliotecas, espaços culturais e livrarias. Muitos jovens abdicam da escrita e da leitura por acharem algo chato, tendo em vista que quase tudo o que querem está autoexplicativo na palma das mãos através de vídeos no celular. No entanto, depois que os jovens mergulham e descobrem o processo de publicação por si mesmos, eles entendem quanto esforço e dedicação há em cada livro que leem.

E foi essa proposta “escrever um livro?”, que Thais Matarazzo e eu levamos para as Fábricas de Cultura na zona leste de São Paulo. Em nosso seminário Vamos escrever um livro?, abordamos desde o processo criativo até as etapas necessárias para seus textos ganharem nova vida em forma de um livro (impresso ou digital). Foi uma experiência desafiadora, pois em nosso seminário tivemos jovens de todas as idades escolares e de diversos cursos, entretanto, ambos saíram de lá felizes e impactados com a vontade de escrever um livro. Em nossa dinâmica se originaram textos e poemas fantásticos, onde alguns participantes perderam a timidez e aceitaram ler os seus textos para os demais colegas. Foram sorteados livros e distribuímos exemplares da revista Escritores Brasileiros Contemporâneos onde muitos afirmaram que dentro em breve também estariam na revista. Não há nada mais inspirador e gratificante do que ver materializado através dos textos o conhecimento adquirido pelos jovens em todos os cursos, seminários e oficinas nos quais eles têm participado nas Fábricas de Cultura. Poder incentivá -los os baseando em suas vivências, sentimentos e imaginação a escrever e publicar seus próprios livros,

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Vamos

S eminário Escrever um Livro?

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dá a eles uma oportunidade especial de aprender, crescer e explorar os limites do seus próprios potenciais. Logo percebem o quão recompensador e divertido pode ser escrever um livro! Todos nascemos criativos, todos temos o poder de imaginar e de escrever. Técnicas e outras habilidades, como olhar para um papel em branco ou computador e criar um texto, são muito bem vindos. Quanto mais se pratica a escrita, mais ela se desenvolve. Conhecer o processo de

um livro desde o rascunho até sua impressão com certeza farão estes jovens olharem de outra maneira quando tiverem um livro em suas mãos. Cada atividade promovida nas Fábricas de Cultura é um meio eficaz de fomento à educação e que terá papel fundamental para a evolução de cada indivíduo na sociedade. Esperamos em breve poder ler os livros destes jovens tão dedicados e animados que encontramos nas Fábricas de Cultura.

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Ana Jalloul, Thais Matarazzo, monitores e alunos durante o seminário “Vamos escrever um livro?”. Fotos: Gilberto Cantero

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Milton Nascimento grava a canção e o sucesso é imediato. Da janela lateral do quarto de dormir / Vejo uma igreja, um sinal de glória / Vejo um muro branco e um voo pássaro. / Vejo uma grade, um velho sinal. / Mensageiro natural de coisas naturais / Quando eu falava dessas cores mórbidas / Quando eu falava desses homens sórdidos / Quando eu falava desse temporal / Você não escutou / Você não quer acreditar/ Mas isso é tão normal / Você não quer acreditar / Eu apenas era Cavaleiro marginal lavado em Ribeirão / Cavaleiro negro que viveu mistérios / Cavaleiro e senhor de casa e árvores / Sem querer descanso nem dominical / Cavaleiro marginal, banhado em Ribeirão / Conheci as torres e os cemitérios / Conheci os homens e os seus velórios / Quando olhava da janela lateral / Do quarto de dormir / Você não quer acreditar / Mas isso é tão normal /

Você não quer acreditar / Mas isso é tão normal / Um cavaleiro marginal, banhado em Ribeirão / Você não quer acreditar Fernando Brandt / Lô Borges Mundo, 2020

Cruzamos o oceano desde Portugal rumo ao Brasil, a viagem em si já foi estranha, o aeroporto Sá Carneiro, no Porto, estava quase deserto. O embarque foi calmo, poucas pessoas usando máscaras, a chegada a Madrid, que sempre provoca uma grande tensão, pois o tempo é escasso para ir para o portão de embarque, transcorreu sem anormalidade, isto se não falarmos do que parecia ser uma travessia no deserto, pois fora os passageiros do nosso voo, apenas víamos uma pessoa ali, outra acolá. Já no avião dava para perceber quem estava tomando algum cuidado (máscaras, às vezes usadas erroneamente, luvas, etc.), e outros que desvalorizavam totalmente qualquer ação que pudesse causar algum perigo a si ou a outrem. Horas depois de uma viagem desconfortável aterramos em Guarulhos, a tripulação já com mascaras, os passageiros andando rápido, os funcionários do controle de passageiros equipados, assim como o pessoal da limpeza.

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B rasil, 1972 “P aisagem da Janela”

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Chegamos a casa onde iremos ficar por enquanto, até agora a vida ainda parece ser normal. No dia seguinte, uma passada pela farmácia, há que comprar o álcool gel, as notícias pouco ou nada dizem, mas sabemos que existem pessoas temerosas de nos encontrar, afinal viemos da Europa, e na Itália a situação agrava-se. Sábado é o grande dia, foi para isso que viemos: aniversário da Josy, 90 anos! Foi criado um grupo (agora tudo passa pelo WhatsApp) onde está explicado que a festa será num local ao ar livre, tudo muito amplo e que todos os cuidados possíveis serão adotados, o mesmo tempo fica bem claro que quem estiver com receio ou que possa estar nos grupos de risco não devem ir. A maioria aceita o convite e vai! Difícil foi controlar os abraços, somos uma família afetiva, nem sempre há a oportunidade de estarmos juntos. As fotos mostram que quebramos regras, felizmente passado esse tempo, verificamos que fomos abençoados e que nada de mal aconteceu a ninguém. Bem diferente de uma festa ocorrida aqui perto no dia anterior onde três pessoas vieram a falecer dias depois... Ao ler a notícia, sinto uma garra a apertar o peito, talvez tenhamos

sido verdadeiramente imprudentes, ou talvez não, mas sobre esse aperto, prevalecem os sorrisos de verdadeira felicidade da aniversariante, que realmente mereceu ter o seu dia condignamente comemorado. Dia 15 de Março, as notícias começam a divulgar o alastramento da pandemia. Cancelamos a viagem para o nordeste, tantos planos, as pessoas de lá envolvidas em preparativos para nos receber, mas o momento exige lucidez e ninguém em sã consciência deve brincar com a vida nem a própria e muito menos com a alheia. As agências de viagem começam a viver numa autêntica roda-viva, os telefonemas não param, começam as desistências, conseguimos que a companhia aérea nos dê um voucher cuja validade é de um ano. Certamente será dinheiro perdido, pois não há como pensar em regressar tão cedo. A Fátima, prima que nos iria receber e que organizou um programa maravilhoso, que nos daria a oportunidade de conhecer muito da história de nossa família, visitar a terra de meu pai e é claro estarmos cercados de parentes com banquetes pantagruélicos, como esse que listamos: Carne de sol desfiada acebolada, galinhas cozidas, feijão verde,


verdade nenhum de nós soubesse exatamente como agir. A empregada vai para casa, ela tem filhos e precisa ser preservada. Duas pessoas que trabalham nos cuidados da área externa continuam a executar suas tarefas, só os observamos através das janelas... Sábado, 21 de março, a família preocupada, informações diversas, os telefonemas não param e chegase à conclusão de que é imprescindível algumas decisões já! A principal é trazer imediatamente para cá os pais da minha cunhada, são idosos e tal como nós integram um grupo de risco. No final do dia eles chegam, assustados, confusos, aceitaram vir por influência das filhas, mas é muito difícil que consigam entender tudo o que se passa, sendo que o que mais lhes custa é saber que estarão afastados dos netos mais pequenos. Outra das decisões tomada é a de reduzir ao máximo a circulação de pessoas por aqui, dessa forma somente o meu irmão sairá tanto para trabalho (embora também esteja em Home Office), e a minha sobrinha conseguirá que a patroa faça uma divisão de trabalho, dia sim dia não. Passamos a estar em estado de alerta, a cada notícia, vamos incrementando os cuidados, álcool gel,

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arroz ao creme de leite, abóbora recheada, macaxeira cozida e frita na manteiga, farofa feita com farinha sergipana, batata doce cozida, queijo de coalho, manteiga de garrafa, saladas: couve, alface, rúcula, queijo de minas, ovos de codorna e azeitonas. Não bastasse tudo isso (este era o menu para o almoço de família), ainda teríamos vários passeios e é claro refeições deliciosas e que sabemos seriam preparadas com o maior carinho. Dentre as quais estava destinada uma buchada, prato tipicamente nordestino, o bode que seria sacrificado já estava no chiqueiro..., esta será com certeza a única criatura que não lamentará a nossa desistência (rs). Viagem para o nordeste cancelada, é hora de irmos para a casa do meu irmão já que o principal objetivo dessa viagem seria ficarmos o maior tempo possível com a Josy. Ainda não estávamos realmente cientes do estaria por vir... fomos a uma grande superfície, compramos livros, revistas, álcool gel (pouca quantidade) e nem sequer pensamos em coisas mais práticas. Novamente carregamos as malas, as conversas já continham resquícios de maiores preocupações, sabíamos que era chegado o momento do isolamento social, embora na

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álcool para desinfetar tudo o que aparece, janelas escancaradas para ventilar a casa ao máximo, quem sai de casa ao chegar despe-se na entrada e segue imediatamente para o chuveiro. Mesmo nós que apenas estamos em casa trocamos tudo diariamente, as máquinas de lavar e secar funcionam ininterruptamente. Certamente procuramos compreender que tais cuidados são necessários, embora nada nos impeça de experimentarmos medo, ansiedade, solidão. Da janela lateral meus olhos se perdem num imenso quadro verde. As palmeiras oscilam ao vento, uma araucária imponente, uma ou outra mancha colorida. (foto n.1) Estamos retidos há muitos dias, a janela permanece dia e noite aberta. Durante a noite as sombras indicam mistérios, medo, como o que senti ao encontrar o saruê escondido entre as folhas do mamoeiro.

Medo que nos acompanha a cada mensagem enviada pela companhia aérea que pela terceira vez cancela o nosso retorno, (de abril já estava remarcada para julho, e não temos ainda nova data!...). O tempo passa, há momentos mais difíceis, a saudade de todos, a difícil assimilação dessa realidade para a qual ninguém estava preparado, afinal é quase impossível acreditar que mesmo os criadores de ficção tenham algum dia ousado pensar que realmente o mundo iria parar. “Da janela lateral do quarto de dormir”, que continua aberta, nasce mais um dia, um barulho desperta-nos, a foto registra um casalinho de papagaios”. No Brasil, em maio de 2020 continuamos a cantar: “Você não quer acreditar / Mas isso é tão normal / Você não quer acreditar”.


U ma S abiá

Teu beijo está com gosto de despedida Teu olhar de última vez Tuas mãos tensas fogem das minhas Tua respiração ofegante Teus pés Impacientes procuram o caminho Teu corpo rebelde, não relaxa Uma luta Incessante, quando finda a magia do amor

Você é um pássaro Voando viu meu ninho vazio Resolveu descer e me conhecer Sou uma sabiá que vive a cantar Você também é um sabiá cantador Por esse mundo a cantar o amor O coração puro e livre de mágoas A esperança carrega no peito Deixa rolar os sentimentos nas águas Daquele rio meio sem jeito Não sei se vai fazer morada Nem sei se tem namorada A te esperar, fique tranquilo Não sou nada daquilo Que possa aparentar Sou uma sabiá cantante Que vivo a vida a cantar

Maria Cristina Arantes (Cris Arantes): pedagoga, poeta, cantora, musicista, artista “mambembe”, onde o povo está, lá estará. Possui um CD, nove antologias, revistas, etc. Postagens dos poemas em redes sociais e apresentações em Saraus Literários e Musicais. Possui um varal de poemas, que distribui em eventos. Tem poemas em áudios e vídeos, em revista e nas redes sociais. Membro titular da Academia Contemporânea de Letras, a ACL, cadeira12: Florbela Espanca.

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F inito

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A Mulher

do

Alcácer

narra a saga de quatro gerações de mulheres

Moçambique , Portugal e B rasil

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negras , entre

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Uma história épica, com e sobre mulheres fortes. Elas são negras, escravas, forras e livres. Pertencem a quatro gerações, cujas origens repousam no século 19, em uma das colônias portuguesas na África: Moçambique. A história é baseada numa genealogia imaginária, com personagens que vivem entre 1800 e 1962. Inspirada em reportagens e documentários sobre mulheres da etnia Macua, de Moçambique, Thais Matarazzo ressalta as influências e contribuições afros para a cultura lusitana, e a herança genética africana presente no DNA de parte da população portuguesa, especialmente em aldeias ao longo do curso do rio Sado e na cidade de Alcácer do Sal; entre outras curiosidades. Enredo A saga tem início com Ermelinda (1800-1898), africana da etnia Macua, de Moçambique. Escravizada e abusada sexualmente por Afonso e Adriano, filhos de seu proprietário português, ela é obrigada a servir Adriano Alves de Mello como mulher. Ao dar a luz a uma menina, Constança, Ermelinda não sabe se a criança é filha de Afonso ou Adriano. Registrada no nome de Afonso, por

este ser solteiro e sem herdeiros, Constança herda toda a fortuna do seu tutor, compra a liberdade da mãe, vive maritalmente com o primo Jacinto (filho de Adriano Alves de Mello com outra mulher), com quem tem duas filhas, Ada e Laurinda, e se muda com a família para Portugal, onde dirige com maestria os negócios e a quinta da Vila Morena, em Alcácer do Sal, na região de Setúbal. Em Portugal, adota mais quatro crianças e assume a criação de Irene da Cruz (18841962), nascida em São Paulo e levada a Lisboa pelo pai. A narrativa se desenvolve em diferentes tempos históricos: neste século 21, quando duas amigas universitárias se dedicam a descobrir a árvore genealógica da família de uma delas, de ascendência moçambicana, e entre os séculos 19 e 20.


Natural da cidade de Jataí-GO. Mestre e Doutora em Filosofia e Psicologia; Mestre em Educação, Administração e Comunicação; Especialista e Mestre em Educação Ambiental; Bacharelado e Licenciatura em Geografia; tem curso de inglês, desenho e artes plásticas; participação em mais de três dezenas de Antologias Literárias; autora de dez livros solo (poesia, conto, crônica, pensamentos, literatura infantojuvenil). Proprietária da Galeria Cultural “SÃO FRANCISCO CULTURART PLANET”, onde expõe um “Projeto de Educação Ambiental”, quadros e livros, de sua autoria, na cidade de Caldas NovasGO. Onde encontrar seus livros: Galeria “ S Ã O FRANCISCO C U L -

TURART PLANET” fone: 64.996443980 e no site www.livrariaasabeca.com.br

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R ossidê R odrigues Machado

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Bonecos da Roda de Samba de uma das exposições realizadas por Eunice Coppi no Centro Cultural dos Correios de São Paulo. Foto: Thais Matarazzo


Acervo Eunice Coppi

ra de Sabará. A artista plástica traz a Arte no DNA: seus antepassados foram artesãos, fabricavam máscaras, bonecas de pano, peças em barro entre outras produções manuais. Aprendeu a ter capricho nos trabalhos como sua avó Maria da Conceição Pinto, o avô Benedito Cecílio Pinto, e a bisavó Chiquinha, que também foi benzedeira. Eunice nos conta que “seu Mundo é de Papel”: o principal material com que confecciona as suas artes.

ENTREVISTA Eunice C oppi,

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artista plástica

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Impossível não se encantar com o trabalho de Eunice Coppi. Seus bonecos de papel, de barro ou de pano, são carismáticos. Sozinhos ou em conjunto, eles dialogam entre si e com os visitantes das exposições em que a artista toma parte. O colorido, a alegria, o movimento dos bonecos registram folguedos populares e religiosos, brincadeiras, momentos cotidianos, entre outros temas, registram aspectos da vida interiorana, memórias e percepções que Eunice traz da sua infância passada na cidade minei-

Quando você começou a trabalhar com papel para confeccionar bonecos? Foi em 1991, depois de um curso de empapelamento que aconteceu no projeto “Martim Cererê» desenvolvido pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo, sob orientação de Toninho Macedo, em São José dos Campos, onde resido. Prefere trabalhar com papel ou barro? Prefiro trabalhar com papel porque o barro é muito gostoso de mexer, mas as peças ficam muito pesadas e o papel me permite fazer peças grandes e facilita para carregar por causa do peso e o papel eu não preciso comprar eu reciclo.


Eunice e suas bonecas de pano

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Fotos: Geraldo Coppi

Qual foi a mostra que mais te emocionou? Foi a minha participação no Revelando São Paulo. Pude fazer muitos contatos e amizades, foi muito bom! Uma característica do seu trabalho é a representação da cultura popular. Essa influência vêm dos seus tempos de menina em Minas? Sim. Desde criança brincava com barro, não tinha muitos brinquedos e gostava de fazer um bloco de carnaval. Eu tinha muita vontade de desfilar no carnaval, mas não tínhamos dinheiro para fazer fantasias. Incentivado pela minha avó, eu fazia os personagens dos bloquinhos em barro.

Qual a peça ou o conjunto delas que mais aprecia? A peça que mais gosto é a “Promessa”, porque lembra a minha história. Na infância tive paralisia e minha avó fez uma promessa, morávamos em Sabará. O pagamento da promessa foi na igreja de Santo Antônio da Roça Grande, diversos fiéis vão até lá levar pagar promessas e levam peças de cera para a sala dos milagres. Então, essa peça me emociona demais: lembro que fui curada de paralisia infantil. Para 2020 tem agenda de exposições? Eu tinha algumas exposições agendadas, entretanto com a pandemia do COVID-19, foram adiadas. Espero que em breve elas aconteçam e eu possa continuar os meus projetos.

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Bonecos de barro e máscaras produzidas pela artista

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No período de 1996 a 2002 Eunice Coppi trabalhou no projeto “BAIRRO VIVO”, percorrendo inúmeras escolas e casa de culturas de São José dos Campos como monitora de oficina de empapelamento. Ensinava tanto a técnica folclórica e tradicional, com construção de bonecões e máscaras, como também o emprego da técnica do empapelamento para construção de objetos de utilidade doméstica e decoração. Participou com a família do grupo Piraquara por vários anos. Após um período em que se dedicou a outra atividade (sócia da Coppi Design), volta ao mundo das artes e recomeça a montar um acervo de peças (hoje com mais de 2000!) e se aprofunda na arte naif . Após um longo tratamento de saúde volta a expor seus trabalho em 2017,

com temáticas coletivas , representando fragmentos de lembranças de sua infância e adolescência. Participou de exposições em museus, biblioteca e instituições: Museu do Folclore de São José dos Campos, Museu Municipal de São José dos Campos , Museu de Ubatuba (Casarão do Porto). Museu dos Bonecos em São Paulo. Revelando São Paulo, Casarão da Pintora Adelaide em São Bento do Sapucaí, Museu Histórico e Pedagógico D. Pedro e Dona Leopoldina, em Pindamonhangaba, Shopping Taubaté (Concurso de Presépios), Centro Cultural Correios São Paulo: exposição “Meu Mundo é de Papel” explora temáticas como: Roda de capoeira, Grupo de Congada e Moçambique, Concurso de dança, Zé do Burro - vendedor ambulante, Aconteceu na Rua Medina, Dando milho pras galinhas, Festejos, Prosa de pretos velhos e outras..., Reencontro de amigas, Na beira do rio, Brincadeiras. Contatos da artista Facebook: Eunice Coppi E-mail: eunicecoppi@gmail.com WhatsApp: (12) 981026460


YaSUKE, O SAMURAI NEGRO Luiz Alexandre Kikuchi Negrão

Issufo, Yasufe, Yisake, Isaque, seu real nome perdeu-se no passado Assim como sua terra natal, Etiópia, Sudão do Sul ou Moçambique, E sua tribo... Yasuke é, sem que se a História comunique Às lendas e aos registros, o Guerreiro encantado! Da África a Goa na Índia, o hábito de monge A serviço da Companhia de Jesus com sabedoria Propagou a fé católica muito longe Em latim. Muitas línguas aprenderia.

O Samurai defendeu o Xogum e o filho. Com hábeis mãos, Contra Akechi Mitsuhide lutou pelos seus princípios. Com a tesa Kataná, “Mãe África!” - gritou a pleno pulmão.

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Passando por Malacca, Macau, chegou à capital japonesa. Recebeu do Xogum Oda Nobunaga o título de samurai irmão, Casa em Quioto, esposa, espada, que manuseava com respeito e destreza.

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BERTIOGA, RUMO AOS 30 ANOS Luiz Alexandre Kikuchi Negrão

Bertioga, com quase 30 anos a contar Do importante plebiscito que garantiu a vontade De seu povo nos destinos da cidade Com belezas a apresentar O Rio Itapanhaú corre das nascentes na Serra do Mar À foz no Oceano Atlântico onde lágrimas faz derramar Lá o Forte São João ergue-se imponente Na curva do rio com a Praia da Enseada. Sente.

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O vento forte leva as más lembranças de antes. De dia a vista alcança outras praias e ilhas distantes À noite o mar reflete o céu de nuvens, lua e estrelas Com o coração aberto e imaginação é fácil mantê-las.

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HERÓIS NEGROS Luiz Alexandre Kikuchi Negrão

Muitos negros foram e são a diferença: Sem as facilidades da vida reinventam-se o possível Vão atrás de seus ideais, para que o Bem vença E substituir o mundo velho pelo novo e factível. Chegaram à Casa Branca dos EUA, a saber, Barack Obama, Collin Powell e políticos negros que vêm se destacando. Little Richard, Billy Paul, Al Jarreau e outros têm fama; Outros superam os desafios diários e os considerandos.

Na História, Ganga Zumba, Zumbi, Limamo, Luiza Mahin, Luís Gama, Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Ruth de Souza, Renan Wangler, Toni Morrison, nas Artes lágrima se derrama Negar talento a eles ninguém ousa!

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Sade Adou, o Professor Hervé Silété Djibom e muitos imigrantes Às Américas, Europa e Oceania desembarcaram com talento Trazendo conhecimentos, língua e cultura como amantes De um mundo que transformam como o vento.

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O

primeiro volume

Memórias Reveladas: Territórios SP, da jornalista , escritora e editora T hais M atarazzo , se passa entre S é e L iberdade , em S ão P aulo Escritores brasileiros contemporâneos nº.11

da trilogia

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Fruto de extensa pesquisa nos arquivos públicos de São Paulo, a obra é mais um romance histórico de Thais Matarazzo Jornalista, pesquisadora, autora e editora independente, a paulistana Thais Matarazzo lança na Amazon.com, o primeiro volume de uma trilogia de fôlego: Memórias Reveladas: Territórios SP (Sé e

Liberdade), Editora Matarazzo. Autora de títulos que envolvem um profundo trabalho de pesquisa e respeito aos dados históricos, entre os quais Artistas Negros Da Música Popular e do Rádio (Editora Expressão e Arte), de 2014, Thais decidiu adicionar ficção às informações e dados históricos que recolhia dos arquivos públicos de São Paulo para dois volumes do livro de contos A Roda dos Abandonados: Destinos, de 2018. As obras se basearam nos livros de registro da Roda dos Expostos da Santa Casa de Misericórdia, na Vila Buarque, em São Paulo, onde eram depositados os bebês enjeitados, de 1825 a 1961. “Em 2018, eu era contra romance histórico. Achava que a história só tinha de ser apresentada com dados oficiais e olhar crítico, mas numa pesquisa sobre os bairros paulistanos, encontrei os livros das crianças que foram deixadas na roda, entre os séculos 19 e 20. Esse livro tem carga emocional muito grande, com base nas cartinhas de mães, bilhetes, fotografias. Aquilo mexeu muito comigo”, conta a autora. Voltando ao próximo lançamento de Thais, Memórias Reveladas: Territórios SP, trata-se do primeiro romance de uma trilogia que


abordará e resgatará as memórias das afrobrasilidades na cidade de São Paulo, nos bairros da Sé, Liberdade, Barra Funda e Bela Vista (Bixiga). O período temporal é o final do século 19 e as primeiras décadas do século 20, período de grandes transformações urbanísticas, políticas, sociais e culturais na urbe paulistana.

Como adquirir a obra Adquira o seu exemplar impresso diretamente com a autora (11) 99351-6689 ou o e-book na Amazon.com - Thais Matarazzo.

Declamador Edgar Pereira Louzi (76) é administrador de empresas e professor aposentado. Sua carreira artística como ator e declamador compõe uma atividade teatral baseada em monólogos. A peça As mãos de Eurídice, de Pedro Block, é uma das performances de destaque na carreira do ator. Pelouzi, nome artístico adotado, também é declamador de poemas e é possível observar em seu repertório os grandes poetas da tradição literária brasileira e portuguesa. O ator é notado pelo meio artístico por sua capacidade de memorização e disciplina que, aliás, são ingredientes básicos para a formação de um artista. Em breve Louzi fará a declamação do poema A filha do lenhador de Thais Matarazzo, quando retornarmos com o Sarau Cai na Roda no Museu da Santa Casa de São Paulo, organizado pelo Coletivo São Paulo de Literatura.

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Enredo O primeiro volume contemplará os bairros da Sé e Liberdade. O enredo gira em torno de diversos personagens, sendo a principal Elisa, uma afrodescendente que trabalha em um museu paulistano, sempre escuta seus colegas falarem de suas famílias e suas origens. Intrigada, ela resolve procurar um velho tio que lhe fará revelações surpreendentes sobre os seus ancestrais, a ligação familiar com festas religiosas e profanas, carnavalescas de São Paulo. Trata-se de um encontro com o passado, a memória e a cultura, desvendando sentimentos e tradições. Os três livros de Memórias Reveladas: Territórios SP tem ilustrações da artista plástica Camila Giudice.

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Os temperos da Florência Thais Matarazzo

Os

tem -

peros de

Florência

Escritores brasileiros contemporâneos nº.11

Por Thais Matarazzo

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Nesse período de quarentena devido à pandemia da Covid-19, as pessoas vivem um isolamento social como medida preventiva para que o novo Coronavírus não atinja a maior parte da população. Evitamos sair de casa para qualquer compromisso, porém, algumas saídas são imprescindíveis, como, para fazer compras no supermercado e ir semanalmente à feira livre (no meu caso), por exemplo. Eu, que nunca tinha me preocupado com esses trabalhos domésticos, precisei aprender a fazê-los. Meus pais já são idosos e não podem se expôr, sobrou para a escriba aqui! Ai, ai, ai... Foi então que se iniciou a “aventura das compras”. No meu caso, para ir à feira basta atravessar a rua, entretanto, até algumas semanas atrás, eu só ia à feira para comer pastel. Minha mãe me deu todas as dicas para que eu comprasse frutas, legumes, temperos e tudo o que fosse necessário para a nossa alimentação cotidiana. Nas primeiras vezes eu me “embananei” toda, não sabia escolher

direito, não conhecia a ordem das barracas. Foi um bagunça! Demorou para me habituar. Enfim, conheci melhor os feirantes, fiquei por dentro dos preços, aprendi a regatear, tudo constitui-se como uma troca de saberes. Agora já estou... quase... craque! (Só falta aprender a cozinhar... Tenho pânico desse vocábulo, mas se preciso for... Vamos lá!). Conversa vai, conversa vem, fiquei sabendo de alguns casos engraçados e outros nem tanto que se passaram (e continuam a acontecer) na feira de quarta-feira. Foi então que me ocorreu a ideia de escrever este livro, Os temperos de Florência, uma homenagem à minha nova experiência; aos feirantes (não é um ofício fácil!); em memória dos meus tios-avós, Maria Antônia Cantero Correia (19232008) e Manuel Correia (1921-1991), que foram feirantes em Peruíbe, litoral paulista; aos meus bisavós espanhóis, Ana Maria Doña (1894-1969) e Juan Bautista Cantero (1894-1973), agricultores e cujo mister honraram no solo brasileiro que os acolheu. E termino essa breve conversa com o leitor confessando um “pecado”: continuo a achar que a melhor “fruta” da feira é o pastel da Barraca do Japa, imbatível! As ilustrações estão excelentes e coloridas, como uma feira-livre, são da artista plástica Camila da série “Paulistinhas”.




R oda

dos

Expostos

Ricardo Cardoso Roda que gira Roda que chora No sino que toca Na noite chuvosa Roda da vida Roda que gira No muro gelado No abraço apertado

Roda, roda, roda Esperança, no sino que toca Roda gigante, abraço fraterno da Irmã que acolhe Roda da vida Roda esperança Roda compaixão Roda, roda, no sino que toca Roda, roda, a mãe que chora Roda criança na roda que olha Vira roda, na vida que roda Roda no lamento do sino que toca!

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Roda vida Roda esperança Na roda do abandono Abraço fraterno, na mão que acolhe

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