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haverá sempre são paulo
MeMóRIaS paUlIStanaS
anSelMO vaScOncellOS
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Nesta edição comemorativa ao aniversário da cidade de São Paulo, quem ganha um presentão somos nós da revista EBC. Sim! Trazemos a seguir uma crônica do genial ator eclético, comediante, diretor, roteirista e escritor anselmo vasconcellos.
O artista divide conosco a lembrança da ocasião em que conheceu Ronald Golias, de quem é fã. Trabalharam juntos no programa Bronco, na TV Bandeirantes, na década de 1980. No elenco também desfilavam artistas pioneiros da televisão nacional: Nair Bello, Renata Fronzi, Ivon Curi, Agnaldo Rayol, Laerte Marrone, entre outros.
Anselmo é versátil: possuí trabalhos destacados na TV, no cinema e no teatro. Por três décadas foi professor da mais antiga escola de teatro da América Latina, a Martins Pena. Promove workshops com técnicas de interpretação para televisão e teatro em diversas cidades brasileiras e alunos de todas as idades.
Recebeu diversos prêmios na sua trajetória artística.
No cinema já atuou em mais de 50 filmes, tendo estreado em 1978, no longa Se Segura, Malandro! Um dos seus trabalhos de destaque foi a personagem Eloína em A República dos Assassinos (1979), Miguel Faria Jr.
Na TV Globo atuou em novelas, minisséries, seriados, programas humorísticos, integrou o elenco do Zorra Total, no qual interpretou vários personagens.
Anselmo tem uma carreira extensa de trabalhos fantásticos que fica difícil enumerar todos.
Vamos à crônica!
Anselmo Vasconcellos
Na cabine do Trem de Prata, deitado vejo no janelão a paisagem deslizar lenta e sonora como uma cadencia antiga de samba. Rumo a São Paulo que desconheço de respirar a imensa confusão de ruas, avenidas e tantos concretos desconexos para quem nada sabe de suas modernidades, seus vestígios históricos do passado colonial.
Vou conversando com o genial Augusto César Vanucci no vagão restaurante do trem, temos o mesmo destino. Vou trabalhar com o maior clown moderno. Ronald Golias vai voltar à cena e estou na sua trupe artística. Vanucci é o diretor geral da Tevê Bandeirantes e alinha para mim seus planos. Meus olhos brilham, ele me diz.
Já na varanda do quase clássico Hotel São Raphael, no Largo do Arouche, contemplo as famosas avenidas, canções que já ouvi e que agora leio na paisagem. Logo um carro me conduz cortando a cidade até o Morumbi. Chego na sede da Band e lá encontro os maravilhosos artistas. Nair Bello, Renata Fronzi, Laerte Morroni, Tácito Rocha, Walter Breda, Sandra Anemberg e Adriano Stuart me recebem com carinhosa satisfação. Que luxo, penso. O Golias me abraça com ternura e estou diante do meu ídolo da adolescência. Meu tutor de transgressões, meu vagabundo sonhador da comédia icônica Família Trapo. Ele me enaltece com seu convite para ser o amigo do Carlo Bronco Dinossauro. Que mais o menino Anselmo pode querer? Quero, digo ao Golias, que você abra esta caderneta escolar na página 22 e leia o que está escrito, em voz alta, por favor. Entrego o documento roto para ele que perplexo com o pedido inusitado, me atende.
O aluno Anselmo Carneiro de Almeida Vasconcellos está suspenso por 3 dias por insistir em imitar o comediante Ronald Golias em sala de aula causando tumulto entre os alunos, prejudicando o bom andamen-
to das aulas. Golias me olha em silêncio e faz no seu rosto aquela máscara irônica, debochada,
marcante de seu personagem Bronco. Eu, imediatamente o imito replicando em mim a careta pontual. Cumplicidade explícita.
À noite vamos jantar no Restaurante tradicional da boemia paulista, O Parreirinha. Encontro artistas notáveis. Lima Duarte, Paulinho da Viola, Plínio Marcos com seus livros à venda e vários profissionais da televisão e do cinema estão por ali no convívio etílico que vou aprendendo a beber e farei isso por anos, bons anos de bem colhida safra.
Naquela minha primeira noite em São Paulo com as pernas trêmulas me despedi do gigante Golias e ele me disse: É o começo de uma bela amizade.
Foi uma enorme honra ter a participação deste grande artista brasileiro em nossa revista.
Valeu!
Em uma oportunidade futura desejamos trazer para os nossos leitores uma entrevista com Anselmo Vasconcellos focalizando o seu trabalho literário.
Fotos: acervo pessoal de Anselmo
Vasconcellos
ROnaldO GOlIaS
Golias, quem não se recorda das suas atuações na televisão e no cinema brasileiro?
Nos últimos anos de sua carreira, Golias interpretava o personagem Pacífico em programas no SBT. Transmitia alegria, simpatia e bom-humor aos telespectadores.
Ator e comediante de grande popularidade, seu verdadeiro nome é José Ronald Golias, nascido em São Carlos, interior de São Paulo, em 4 de maio de 1929.
Aos 8 anos fez sua estreia nos palcos, como artista amador da Escola Dante Alighieri na sua cidade natal.
Transferiu-se para a Capital em 1940, começou a praticar natação no Clube Regatas Tietê, em seguida, ingressou no grupo Acqua Loucos. Golias sugeriu que as apresentações deveriam ter diálogos para demonstrar mais dinamismo. Seu palpite foi certeiro, suas performances chamaram a atenção do público, logo, estaria participando do programa Calouros em Cena, da Rádio Cultura.
Foi em 1957 que recebeu o convite de Manuel de Nóbrega para participar de um quadro humorístico no programa A Praça da Alegria, na TV Paulista. Sua fama cresceu.
O próximo passo foi o cinema, tomou parte nos longas: Vou te contá (1958); Os três cangaceiros (1959), de Victor Lima, quando contracenou com Ankito e Grande Otelo; O homem que roubou a Copa do Mundo (1961), Um marido barra-limpa (1967); e Golias contra o Homem das Bolinhas (1969).
Seu grande destaque foi na TV. O personagem Carlos Bronco Dinossauro foi um dos pontos altos da Família Trapo, programa exibido pela TV Record entre 1967 e 1971. Golias contracenava com Jô Soares, Ricardo Corte-Real, Cidinha Campos, Renata Fronzi e Otelo Zeloni,
Trabalhou em diversas emissoras. A partir da década de 1990 tornou-se fixo em A Praça É Nossa, no SBT, comandado por Carlos Alberto de Nobrega, onde permaneceu até 2005 interpretando personagens como O Profeta, Bronco, Pacífico e Professor Bartolomeu. Foi protagonista de outros programas na mesma emissora, A Escolinha do Golias com Nair Bello, SBT Palace Hotel (2002) e Meu Cunhado com Moacyr Franco.
O artista faleceu em 27 de setembro de 2005, aos 76 anos, em São Paulo.
Em 2007 a prefeitura de São Carlos inaugurou a Praça Ronald Golias em homenagem ao humorista no bairro de cidade Aracy, e em 2016 inaugurou o Memorial Casa Ronald Golias na rua Geminiano Costa, 401, na casa onde artista residiu.
Já Serra Negra, SP, o homenageou com uma estátua em bronze, em tamanho real, onde está sentado em um banco da praça em frente à prefeitura. A estátua se tornou grande ponto de visitação na cidade, onde locais e turistas vão ao local e posam para fotos ao lado da imagem.