ESCRITORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS - Nº. 05

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ESCRITORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS Revista Literária Edição 5

nº.5

Junho-Julho/2019


EXPEDIENTE

EDITORIAL

Revista pertencente à Editora Matarazzo. Email: livros@editoramatarazzo.com / thmatarazzo@gmail.com Telefone: (11) 3991-9506. CNPJ: 22.081.489/0001-06. Distribuição: São Paulo - SP. Diretora responsável: Thais Matarazzo MTB 65.363/SP. Depto. Jurídico: Tatiane Matarazzo Cantero. Periodicidade: bimestral. Formato: A5 (14,8 x 21 cm). Tiragem: 1000 exemplares. Capa: Tatiana Matarazzo Cantero e Giovanna Campos Matarazzo.

Esta edição é dedicada à Poesia. Dos meses de abril a junho promovemos o concurso Versejando com Imagens VI, foi concorrido, e o conseguimos concluir com êxito. Em seguida, acontecerão saraus e sessões comemorativas, em São Paulo e no Rio de Janeiro, para a entrega dos prêmios aos contemplados do Versejando, e para celebrarmos a Poesia, a Literatura, os Poetas e os Escritores, e nesses espaços a nossa revista será distribuída gratuitamente. A ilustração da nossa capa é da artista plástica Laura Maria, ela se inspirou nos elementos constantes do Versejando: pinturas, fotografias, versos, muita poesia e a homenagem ao centenário de nascimento da escritora Tatiana Belinky. Seguimos em frente. Desejamos uma boa leitura!

Edição 5 - Nº 5 - Ano I - Jun-Jul/2019. A opinião e conceitos emitidos em matérias e colunas assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista Escritores brasileiros contemporâneos. Blog www.editoramatarazzo. blogspot.com

O Coletivo São Paulo de Literatura se apresentou no dia 9 de junho na Biblioteca Adelpha Figueiredo, no Pari, em São Paulo. Comemoramos o aniversário de Glafira Menezes Corti. A programação integrou os festejos do Jornal do Brás e dos 201 anos do trdicional bairro paulistano. ►

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Obras arte digital de Ulysses Galletti www.facebook.com/Galeria-de-Arte-Digital-Ulysses-Galletti-2234767160173541/

Quadrangulos

Vinte oito triângulos

Crucifixo

LeC

Trinta e dois cubos

Prof. Marco Antônio Vila

Lacoste

CPGG


POEMAS DE ANTONIO MÁRIO BASTOS - TONHO DO PAIAIÁ Essa LUA

O SOL, A LUA, O DIA

Lua do luar belo e carinhoso Que enternece casais amantes Lua que agora como d’antes Embriaga um coração teimoso

E o sol, dormente e revirando no leito lunar, Em delírios e sonhos aguarda companhia,

Lua que com seu olhar sisudo Mira aqueles vadios de alma pura Lua que acolhe todos, todo mundo Disseminando amor e candura

Esperando a sirene do amanhecer tocar A brindar a montanha com belos e calorosos raios do dia.

Lua que do alto reflete o sol Ignora frio, seca e neve Esperando a chegada do arrebol Iluminando os caminhos de quem a segue

Sem parturientes, Sem maternidades, Sem parteiras, Sem obstetras, Sem enfermeiras Sem maqueiras

Lua que na montanha vê o ciúme Sem mesmo este ela abraçar Sentimento que por certo vem a lume “Quando o vento chama a chuva pra dançar”.

Nasce um esperado, belo e novo dia!

Antonio Mário Bastos - Tonho do Paiaiá: nasceu no Povoado de São José do Paiaiá, Município de Nova Soure, Estado da Bahia, em 1951. Formado em Professor Primário (Curso Pedagógico, ensino fundamental), Colégio Cenecista Professora Maria Ferreira da Silva, em Nova Soure, no ano de 1970; Bacharel de Administração de Empresas (1979) e Bacharel em Direito (1998) pela Universidade Católica do Salvador, com Especialização em Direito Tributário Estadual pela Universidade Federal da Bahia (1998). Escreve crônicas, causos e poesias com publicação em redes sociais e em seu blog pessoal. 4

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ENTREVISTA COM MARIA PAULA V. ZURAWSKI Por Glafira Menezes Corti Nossa entrevistada para esta edição é Maria Paula V. Zurawski, doutora em Educação pela Faculdade de Educação, professora universitária e aAtriz do Grupo Furunfunfum de teatro para crianças. Conversamos com a dra. Maria Paula sobre a importância da leitura e o teatro para o público infantil. 1- Segundo as suas pesquisas o contato das crianças com formas contemporâneas do teatro provoca transformações. Como são percebidas e acalentadas essas mudanças, registradas por você durante o seu trabalho, pela família da criança e pelo professor? O teatro proporciona sempre uma experiência transformadora para as crianças, mesmo que seja um teatro tradicional. Mas precisa ser bem feito e considerar o público a quem se dirige, no caso as crianças, como inteligentes e sensíveis. Uma criança não é um “vir-a-ser”, ela já “é”. Mesmo bem pequenas, as crianças são capazes e competentes para participar de uma experiência teatral.

O que ocorre com relação a formas contemporâneas de teatro é que a experiência se amplia, pois o teatro contemporâneo tem uma relação significativa com o real e com a imediatidade, e pode integrar, em seus fazeres, outras linguagens, como a performance e as Artes Visuais. O teatro contemporâneo também prevê a participação mais ativa do público durante o espetáculo, inclusive dentro dele; e expande o campo teatral, propondo possibilidades de fruição e participação que extrapolam a ideia de “palco e plateia” tradicional. Em minha tese de doutorado, Tramas e dramas no Teatro para Bebês: entre significações e sentidos1 (FE-USP, 2018) pesquisei o teatro para bebês, uma forma teatral contemporânea que, como o próprio nome diz, considera a potência do bebê e sua possibilidade de participar desde muito cedo de uma situação artística e estética. Estar no teatro para bebês parece ser algo importante também porque cria empatia e um sentimento de pertencimento entre as famílias. Também promove, para os educadores da primeira infância, uma ampliação do olhar para as capacidades expressivas dos bebês. 2- Ao se pensar na produção de um espetáculo para o público infantil, quais são os pressupostos que não podem faltar ou que devem nortear a criação da peça teatral? O grande encenador russo Constantin Stanislavski disse certa vez que um teatro dirigido ao público infantil deveria 1 Disponível em http://www.teses.usp.br/ teses/disponiveis/48/48134/tde-12122018134858/pt-br.php


ser “igual ao teatro para adultos, só que melhor.”. Seu comentário revela uma atenção à qualidade das produções que tenham crianças como público, apontando para a necessidade de mais esmero e cuidado nos aspectos que estão envolvidos na montagem de um espetáculo: o texto, a preparação dos atores, a direção, a cenografia, os figurinos, a música, entre outros. Assim, um teatro para crianças não precisa ter um excesso de intenções didáticas, nem ter compromisso com uma “moral da história”, só porque se dirige às crianças. Pode ser um belo espetáculo, sem precisar “ensinar” nada, porque a própria experiência teatral já ensina às crianças sobre participação, coletividade, emoção, poesia e beleza. Também não é necessário infantilizar personagens ou situações, exagerando na caricatura - isso é muito comum quando atrizes e atores representam o papel de crianças. Outro erro comum no teatro infantil é “suavizar” situações de sofrimento, acreditando que as crianças devem ser poupadas da tristeza, da raiva, da dor ou do medo presentes em muitas histórias. As crianças são capazes de enfrentar esses sentimentos e muitas vezes nos surpreendem com sua forma de entender e lidar com eles. Enfim, teatro para crianças não é “qualquer coisa”, nem “mais fácil” de fazer do que o teatro para adultos. Muito pelo contrário: requer compreensão do que é ser criança, requer estudo e competência artística. 3- Conte um pouco sobre o seu livro “O trabalho do professor de Educação 6

Infantil”. O seu propósito ao escrevê-lo e como foi a divulgação. Este livro foi escrito em parceria com colegas também professoras e pesquisadoras da Educação Infantil. É o resultado das nossas reflexões sobre a educação de crianças pequenas em contextos coletivos (creches e escolas), durante muitos anos, desde a época em nós mesmas éramos professoras de crianças pequenas. Nosso propósito foi compartilhar com professoras e professores de todo o Brasil possibilidades bem atuais de trabalho com as crianças desde bebês até 5 anos (faixa etária da Educação Infantil). É um livro bem completo: nele se encontra a análise e as decorrências, para as instituições, das legislações recentes sobre esta etapa do Ensino Básico, que todo professor deve conhecer; e também uma reflexão profunda sobre a integração entre o cuidado e a educação de crianças pequenas, característica desta etapa da educação, inclusive com um olhar especializado sobre as questões de Saúde na escola da primeira infância. O livro também apresenta ideias sobre o trabalho do professor, como organizar ambientes e rotinas. Acabamos de fazer uma revisão e lançar uma versão atualizada em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular de Educação Infantil (BNCC-EI). O livro foi editado pela Editora Biruta, que é excelente e muito parceira, e que se encarrega em divulgá-lo e distribuí-lo por todo o Brasil. Tem sido muito bem recebido, o que nos deixa muito felizes.

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VERSEJANDO COM IMAGENS VI Foi um sucesso a sexta edição do nosso tradicional concurso. Recebemos 62 poemas, todos de qualidade, sendo um trabalho dificultoso para as juradas Ana Gonzalez, Hilda Milk e Regina Brito, personalidades ligadas à literatura e às artes, realizarem suas escolhas. Somente dez poemas foram contemplados, cada poeta ou poetisa receberá uma placa, que são dedicadas a nomes ligados à literatura do passado e do presente, são eles: Venha comigo Morena II de Adílson Maraucci Pacheco (Honra Paulo Bomfim), Última morada de Pedro Paulo Penna Trindade (Honra Tatiana Belinky), Livre da pena de Anne Mahin (Honra Carolina Maria de Jesus), Trem da vida de Lucas de Oliveira Amorim (Honra Luiz Vieira), Um velejador Poeta de Isabel Cristina Nogarotto (Honra Conceição Evaristo), Ode à borboleta de Glafira Menezes Corti (Honra Ademir Medici), Tatiana virou palavra de Carmem Toledo (Honra Glafira Menezes Corti), Reduto da infância de Mari Pionório (Honra Germano Gonçalvez), Gerações de Jucilene Bertolotti (Honra Verônica Marcílio), e Procurando Estrelas de Dermival Silva de Souza (Honra Ana Jalloul). As placas e certificados serão enEscritores brasileiros contemporâneos

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tregues em duas sessões comemorativas: em 29 de junho, na Câmara Municipal de São Paulo, e no dia 23 de julho, no Hotel Carioca, no Rio de Janeiro. A homenageada desta edição é a saudosa escritora Tatiana Belinky (1919 - 2013). Foram nossos apoios culturais nesta sexta edição do concurso: Academia de Artes Ciências e Letras da Ilha de Paquetá - AACLIP, programa Arado Literário (TV Atlântica), Crocreate MKT Digital, revista Verniz Artes Visuais, grupo Escritores sem Fronteiras, e Hotel Carioca.

A escritora Conceição Evaristo esteve na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, para a inauguração do Sarauzódromo, em 18/4/2019. Na foto com a jornalista Thais Matarazzo. -

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Tatiana virou palavra* (7º lugar) Carmem Toledo

As palavras são brincantes meninas Que às vezes se lançam sobre nós Para pedir presentes, as traquinas! Elas pulam, dançam e rodopiam Porque querem poesia virar Para falar sobre algo que viram Não é que hoje a escolhida fui eu Para esse sonho realizar? Vou usar a luz que a língua me deu As palavras eu vou tirar pra dançar Agora, vão virar poesia Mas, afinal, o que querem me contar? Doce Tatiana queremos saudar! Ela, que tanto brincou conosco, Permanece sol a nos iluminar Aqui chegou ainda pequenina Brasileira de alma se tornou E virou mulher, a russa menina Conheceu, bem cedo, da guerra as dores Por isso, ao Brasil, ela veio Para só lembrar do tempo das flores Que plantaram naquela longa estrada Como diz aquela bela canção Que pelo mundo todo foi cantada Agora, Tatiana é das nossas No firmamento, virou palavra E vira poesia com outras moças Que no lugar de alma tinham versos Sem a métrica deste planeta, Mas em sublimes estrofes imersos.

27 de Junho, às 20 horas - Caminhada Noturna pelo Centro - Tatiana Belinky 100 anos - com Laercio Cardoso de Carvalho. Convidada: Thais Matarazzo. Ponto de encontro: em frente ao Theatro Municipal, Praça Ramos, s/nº. Informações: 3256-7909. Grátis. 20 de Julho, às 11 horas - Homenagem à Tatiana Belinky, abertura da exposição, bate-papo com Thais Matarazzo e Sarau do Coletivo São Paulo de Literatura. Biblioteca Hans Christian Andersen, Av. Celso Garcia, 4142, Tatuapé, São Paulo, tel.: (11) 2295-3447. I Bienal Literária de Taubaté - ocorrerá nos dias 24 e 25 de agosto, na Faculdade Anhanguera (unidade da Vila das Graças), e a Editora Matarazzo e o Coletivo São Paulo de Literatura marcarão presença. Além da literatura e escritores, também participarão pintores, escultores, artesãos, shows de dança e de música e muitos outros artistas. José D’Amico Bauab, nosso querido amigo Zezinho, durante a sua apresentação nas festividades dos 20 anos do Centro de Memória Eleitoral - CEMEL, no TRE, em São Paulo, ocorrida em 7 de junho último. Foto: Luiz Alexandre K. Negrão


Portrait of a young Swiss Woman” de Jean Etienne Liotard,

VENHA COMIGO MORENA II (1º lugar) Adílson Maraucci Pacheco

Venha comigo morena. Tudo que eu quero, É o seu Amor. Saiba me Amar Morena, Pois, nada tem a perder. Venha comigo morena, E a vida aprender a viver, Porquê as coisas mais puras da vida, Estão num ato de Amor. Venha comigo morena, E a vida me ensinar a viver. Venha comigo morena, Que a vida quero viver. Venha comigo morena, Porque estou louco para renascer.

ÚLTIMA MORADA

(2º lugar) Pedro Paulo Penna Trindade Luzes da rua alumiam as lápides frias e folhas voam com o sopro do vento. Flores murcham nos vasos sem água e corpos desaparecem com o tempo. Velhos jazigos acolhem a todos que chegam, com repiques de sino que da capela ecoam. As datas nas placas sinalizam o nunca mais, enquanto cruzes e santos a todos abençoam. A vida é rápida como as floradas do inverno. Sejamos leves como as aves que voam alto, sábias e verdadeiras para o infinito incerto!

Não vá embora morena, Porque as saudades, Meu coração irá corroer. Fique comigo morena. O que será de mim sem você. Não vá embora morena, De saudades, irei morrer. Fique comigo morena, Pois, sem você, Não saberei, mais viver. Escritores brasileiros contemporâneos

O Jardim da Morte (1896) de Hugo Simberg

A vida é relâmpago tal um cometa que seduz. Vivamos com serenidade as virtudes humanas e a última morada será um eterno facho de luz! -

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Portrait of a Black Girl (1895) do pintor Anton Azbe.

LIVRE DA PENA (3º lugar) Anne Mahin Vai, Maria, eleva teu canto, seca teu pranto, dispensa o lamento. Vai, Maria, enterra tuas dores, colhe tuas flores, esquece o tormento. Vai, Maria, livre da pena, da cela pequena, está aberta a saída. Vai, Maria, afasta a loucura, também a amargura, de nada duvida. Vai, Maria, que o tempo não espera, a vida é quimera, passa, corre, voa. Vai, sim, Maria, que teu sonho é alado, teu nome, sagrado, tua sina... agora... tão boa.

TREM DA VIDA (4º lugar) Lucas de Oliveira Amorim Uns mais velhos outros conservados uns são vazios outros lotados um maior e outro menor mas no final tudo igual. Independente de tudo,


Fotografias: Márcia Costa ODE À BORBOLETA (7º lugar) Glafira Menezes Corti Minha borboleta, Estar aqui nesse momento, sentir você mover-se Sem nem precisar virar, nem sondar por qual caminho Suas asas irão me enfeitiçar, perceber o som dessa asas Enfeitadas com um colorido excêntrico, pelo Criador Transformadas de um modo sutil, certeiro e encantador...

UM VELEJADOR POETA (6º lugar) Isabel Cristina Nogarotto Sou um velejador... Amante da literatura. Pela palavra me declaro. Pela palavra me revelo. Pela palavra sou poesia. Uma brisa em movimento Ou um poeta sonhador. No fascínio das letras, Eis o meu mar de sonhos! Em minha nau poética, Levo apenas versos do bem, Estrofes de fé e esperança. Em minhas embarcações, Carrego um pouco de paz E um tanto de Deus. E, nas ondas da vida, Um único desejo: Ser águas cristalinas Dentro de cada coração No versejar da alma.

Amor, mistério encravado, mais que afeto introvertido, Verdadeiramente ousado, por vezes explosivo e temido, Atribui à lua, presente do Universo, um cordel de encantos Pra o nosso amor celebrar, e confirmar o farfalhar quádruplo Subindo e descendo sob o vento que canta gemendo, ritmado. E pra alegria desse colibri e do nosso bem querer partilhar, Ele, quem fez da lua prateada uma cúmplice camarada, A testemunhar a ternura das orgias da noite estrelada, Entrega toda a bela natureza, plena de pureza Aos eternos dengos do nosso chamego, minha fada.

Tão somente... ser amor!

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Lenda de Paquetá por Regina Brito

GERAÇÕES (9º lugar)

Fotografia: Fahimi Ganimi

Jucilene Bertolotti Gerações

REDUTO DA INFÂNCIA (8º lugar) Mari Pionório Um quintal concretado com muretas que te desafiavam dando as mãos ao imponente limoeiro que insistiu em ficar... Os gatos ocupavam todos os cantos exalando liberdade, num tom provocativo que te fazia ousar fazer gatices também... Foi com eles que desde cedo ela aprendeu que amar é antes de tudo ser livre. A Editora Matarazzo e o Coletivo São Paulo de Literatura estarão na:

Ah, filho! Quanta saudade, sinto!!! Entro no seu quarto. E na parede, Vejo o seu retrato. Como não lembrar? De vê-lo chegar! E, já da escada, me chamar: - Mãe, mãe, mãe! Meu coração se enche de alegria! Deus me presenteou com a sua vida! Nem mesmo o infinito do mar, É capaz de mensurar, A alegria que foi te gerar! Como é duro te ver partir! E, sua vida seguir... É, chegou sua vez de casar! Encontrou alguém para amar, Sua família formar. E, muito nos alegrar! Mais uma geração, Que bênção! Nosso mundo colorido, Se fez mais florido, Com a chegada do nosso menino!


Portrait of a young black boy on a Liverpool Street (1844) por William Windus

gente

A Editora Matarazzo esteve presente na festa comemorativa dos 20 anos da Academia Taubateana de Letras, ATL, em 31 de maio passado. O evento teve lugar no auditório da Santa Casa de Misericórdia de Taubaté. Fotos: Maria Marlene N. Teixeira Pinto.

PROCURANDO ESTRELAS (10º lugar) Dermival Silva de Souza E ele seguia a percorrer galáxias A procura de estrelas, mal sabia Que habitava uma dentro dele Sem perceber ofuscava seu brilho Por buscar nos outros, o que existia nele Foi quando descobriu o universo Viu uma luz ofuscante no fim do túnel Seu brilho era minguante

Por que estava tão distante Quando se aproximou percebeu Crescente, quanto era brilhante Intenso, reluzente e gigante

No domingo 26 de maio o Coletivo São Paulo de Literatura apresentou o Sarau do Ó na Praça Antônia Picerne Espinosa, na Freguesia do Ó. O evento contou com o apoio da Prefeitura Regional Freguesia / Brasilândia.

E aquele que se sentia lua Descobriu se sol iluminando o dia Seu calor incandescente Hoje aquece os corações de muita Escritores brasileiros contemporâneos

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MAIS QUE UM ALMOÇO (Junho/2019) Ana M M González Era um domingo de sol ao final de três dias de congresso cheio de tudo o que se espera dele. Palestras, mesas redondas, cafés e mais cafés, badalos, surpresas boas e outras nem tanto, pouco dormir. Mistura boa junto do trabalho acadêmico. Depois do almoço eu iria, enfim, de volta para casa. Esse último tempo na cidade de Salvador me levaria à casa de um amigo, convivência mais do que desejada, necessária. Amizades se alimentam de convivência. Ao chegar na casa que era enorme, de estilo bem brasileiro, um tanto colonial, janelas grandes, portas de bandeira alta, encontrei uma agitação, barulhos, conversas esparsas aqui e ali, pelos cômodos da casa. Dia de festa? Não. Somente uma coincidência feliz: era um almoço que reunia amigos da casa. Eu, incluída. Alvissareiro presságio. Enquanto eu ajudava no preparo da comida, percebia um movimento na parte de frente da casa que era fora da agitação urbana. Uma espécie de jardim com gramado. No meio desse terreno, foi montada uma mesa grande, com cadeiras e bancos. Acomodaram-se, então, o casal hospedeiro, filhos, amigos dos filhos, amiga da família e eu. Éramos pouco mais de dez pessoas. A comida chegou cheirosa e colorida. A conversa correu viva e com graça entre o balanço, ao vento, dos galhos de uma grande árvore que nos dava sombra. Era larga e farta. Os risos, as falas e comentários entrecortados, as descobertas e as divergências de opiniões, assuntos interrompidos. Os pratos iam e vinham, os copos tilintavam.

Salgados e doces. Uma grande mesa, um clima de descontração. Na verdade, uma cena comum. Todos podemos ter tido algo semelhante. Festividades com amigos, conversas e gargalhadas com gente querida. Mas, eu não podia me distrair da leitura atenta de vários aspectos. Haveria significados, algo a mobilizar os sentidos, outro tipo de alimento. Não podia perder detalhes localizados em aspectos da cena, elementos estéticos sutis. Era mais do que a mesa comprida, a sombra da grande árvore, o sol a se infiltrar insistente pela folhagem em transparências, a comida preparada a muitas mãos, o olhar participativo de todos, cuidado e carinho. Uma beleza em todos os detalhes daquela cena, capaz de acalmar os sentidos. Fina emoção. Tudo, com certeza, fazia daquela refeição muito mais do que aparentava. Na verdade, tratava-se de um banquete. Haveria por certo também deuses escondidos pelos cantos e pelos galhos da árvore hospedeira. Como se não bastasse tudo isso, o amigo, antes que eu me fosse, chamou-me de lado. Um olhar cúmplice se adiantou. E eu percebi que lá vinha mais uma surpresa. Conduziu-me, então, a um lugar no grande terreno em volta da casa, uma pequena elevação. Lá, em um banco daqueles de praça, contou-me a meia voz, quase em segredo: “Costumo sentar para olhar o pôr do sol”. O cansaço da sua rotina diária tinha um momento especial naquele lugar, de onde se avistavam mais verde e largura de horizonte, uma parte da cidade. Recebi a quase confissão dentro do coração. Um presente. Que sorte a minha. Não havia dúvidas, era dia de especial celebração. O abraço de despedida foi longo e quente. Voltei a casa feliz.


AMAR, AMOR EM PAQUETÁ Regina Brito

O mar conspira, nos une e nos segrega da maldade alheia. Nosso AMOR é assim. Amor de mar calmo. Amor amoroso. Amor de imensidão. Amor sem tormentas.

CAOS

E quando nos encontramos? Aí formamos um maremoto... Somos dois em um.

Regina Brito

Mas alguém nos vigia e nos protege... São os santos protetores dos GOLFINHOS.

E se perguntava a todo instante... Por que o meu filho? Isso é uma constante.

São os DEUSES MITOLÓGICOS. Ou a DIVINA OIÁ. E nos guia... Nos acolhe em seu peito, Quando surgem as tempestades.

O tempo passou, o tempo passa e passará... Ontem foi o meu, amanhã será o seu, o dela, os nossos...

Somos felizes, não somos? Seríamos muito mais se o MAR não fosse poluído POLUÍDO PELA MÃO DO SER Escritores brasileiros contemporâneos

Vi aquela mulher Sem uma lágrima sequer Porque sua vertente secara, totalmente.

Por que você meu?

morreu em vão, filho

Seu sacrifício valeu? Nãããããoooo! -

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FADOS! Thais Matarazzo 1º de junho de 2019: aconteceu o concerto de Joana Amendoeira, Pedro Amendoeira (guitarra portuguesa) e João Filipe (viola de Fado) na Casa de Portugal de São Paulo. Uma belíssima apresentação que envolveu música e poesia codificados nos lindos Fados interpretados pela voz melodiosa e doce de Joana e os acompanhamentos dos seus músicos. O dia nublado e o frio (tão típico do nosso outono) não espantarou as centenas de pessoas que compareceram e lotaram o salão de festas da Casa de Portugal. Joana Amendoeira prestou diversos tributos a poetas, fadistas, e compositores, dentre eles, Maria da Fé, Fernanda Maria, Amália Rodrigues e Carlos do Carmo. Os Fados de Tiago Torres da Silva, temas CD Muito depois, foram os destaques na apresentação. Lindas melodias e belas letras poéticas. O público ficou emocionado com a interpretação da fa16

dista nascida em Santarém. O show faz parte da turnê Tudo Muda e da programação das festividades do “Dia de Portugal de Camões e das Comunidades” na capital paulista. Gostei muito quando Joana anunciou que iria cantar Lua Branca da nossa Chiquinha Gonzaga, segundo a fadista “Lua Branca é um autêntico fado”, não sou musicóloga, mas acredito que esse ritmo luso pode ter influenciado a produção da maestrina brasileira, uma vez que ela residiu em Portugal durante vários anos no início do século 20. Eu amei! A fadista também contou ao público que a nova turnê Tudo Muda era um reflexo das mudanças que aconteceram em sua vida pessoal e profissional; Joana apresentou em seu concerto outras músicas, como, Todo cambia (Julio Numhauser) do repertório da cantora argentina Mercedes Sosa. Acredito que para os brasileiros presentes ao concerto, a ternura da interpretação de Joana e a ricas e vibrantes musicalidades de Pedro e João, nos trouxeram a ancestralida- As fadistas Joana Amendoeira e Maria de Lourdes de do fado e

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uma saudade infinita de Portugal e da sua cultura. Pelo menos foi o que eu senti! Numa amálgama de passado e presente, os Fados apresentados nos fizeram viajar no tempo e na sensibilidade. Ao terminar o show, o trio foi ovacionado pela plateia. Estive presente ao concerto junto com meus queridíssimos amigos: Jefferson Silveira e Marta Perin do programa Cantares de Além Mar, e do padre Armenio Rodrigues Nogueira e Cipriano Gomes (acompanhado da sua senhora) do programa Caravela do Fado, ambos transmitidos pela Rádio 9 de Julho AM. Encontramos muitos amigos e personalidades da comunidade luso-brasileira, em especial, foi uma alegria rever a querida e talentosa fadista Maria de Lourdes, de quem eu também sou fã e costumo chamá-la de “Rouxinol fadista”. Para terminar, assim como muitos admiradores, ao final da apresentação, nos dirigimos ao camarim para felicitar os músicos e a fadista. Muito atenciosa e simpática, Joana Amendoeira atendeu a todos com atenção e carinho e tirou diversas fotos e distribuiu autógrafos nos seus CDs. A noite de 1º de junho foi muito especial para mim, voltei para casa muito feliz e embalada pelo Fado. A música, assim como todas as Artes, possui esse poder de nos tocar e nos fazer sonhar: o concerto fez-me sentir mais perto do meu amado Portugal! Parabéns aos organizadores e patrocinadores da Noite de Fados com Joana Amendoeira.

Gustavo Milk tem 19 anos e faz teatro desde o ensino médio. Cursou a Escola de Teatro Macunaíma e atualmente faz graduação na Universidade Itálo Brasileiro, onde a cada final de semestre acontece uma peça. Engana-se quem pensa que vai assistir uma peça amadora: os meninos são da mais alta qualidade em desempenho no palco, ensaiam durante quatro meses. Hoje o grupo está em cartaz com a peça A Fantástica Fábrica de Grampos, um musical que entre uma canção e outra vai dissertando sobre a vida de Mariquita, uma menina vinda do interior em busca do sonho de ser artista na capital, e encontrar o pai desaparecido. O Milk, como é carinhosamente chamado pelos amigos é do grupo de comediantes, faz um mímico solitário que é apaixonado pela vedete da peça, Sasha. Ao ser questionado se vai seguir carreira, Gustavo não tem dúvida: “Vou sim, pois quando alguém faz o que gosta, faz com prazer. Eu tenho uma forte veia artística desde criança, pois quando menino ainda aprendi a tocar teclado com aulas no Youtube; a seguir passei a desenhar, aprendendo primeiramente online; depois a minha mãe deu-me, no meu aniversário, alguns livros sobre o assunto”. Mais informações sobre o espetáculo, acesse: www.italo. com.br

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quando tiver jogo me deixa ficar debaixo da tua cama? Eu só quero receber e dar amor, só amor!!!!

VIRA-LATA Cris Arantes Meu nome é Biriba minha sina é a rua. Quero uma família para dizer que é minha. Hoje não tenho nada. Sou cão sem dono. Vivo caindo de sono por essas quebradas. Como quando me dão, bebo água quando chove, banho ah.... também. Você que está me vendo me leva para a tua casa. Sou legal, você vai ver, se me jogar uma bolinha vou correndo buscar. Faço as minhas necessidades na rua, mantenho a higiene, sou limpinho. Quando você chegar do trabalho faço bastante festa. Sou ótima companhia, você nunca se sentirá só. Cuido da tua casa, ninguém entra, mas 18

A história do Biriba foi inteiramente criação da minha imaginação. Vendo a sua carinha através da foto feita pela fotógrafa Fahimi Ganimi, concorrente no do concurso Versejando com Imagens VI, promovido pela Editora Matarazzo, enterneci-me, senti a necessidade de escrever. Era um versejar através da imagem dele, criei a história de um cão a procura de uma família para ser sua. Não tinha conhecimento nenhum da realidade. Através da poesia, procurei levar emoção aos que leriam meus escritos. Tomei conhecimento da real situação do Biriba quando publiquei nesta rede social. A sua atual tutora, Cláudia Conforte entrou em contato comigo, emocionada ao ler o poema que fiz para o seu filhote de quatro patas, levando-a às lagrimas. Confesso que também fiquei emocionada e feliz em saber que a história real teve um final feliz. Seu nome hoje é Hugo, amado, tem uma caminha quente, alimentado, protegido, a felicidade da casa da Cláudia. Acorda todos os dias alegre, carinhoso, retribuindo o lar que ganhou e o amor que recebe, devolve em dobro com seus lambeijos.

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Amar é uma ousadia cobiçada pela vontade de Viver intensamente a vida sob o comando do coração. Glafira Menezes Corti Em algum lugar, num tempo único de encantamento, cartas foram escritas e trocadas por dois jovens que vivenciavam ali o nascimento de um grande amor, que nem mesmo as dificuldades causadas pelas diferenças sociais foram suficientes para diminuir, nem impedir o crescimento, o fortalecimento desse nobre sentimento e a fascinação que os mantinham amantes convictos. Pra Você mais que uma obra romântica é um convite que faço para o leitor viajar comigo para um tempo distante e ao mesmo atual. Sentir o envolvimento dos protagonistas adolescentes integralmente, os medos, os conflitos, a insegurança, a ousadia e o destemor próprios de um amor e de uma paixão que transcendem o entendimento da razão. Pra Você é um livro que descreve, através das cartas, os gestos de carinhos de dois corações persistentes, na busca da emoção maior da Vida Viva, o amor,cujo esconderijo tem como cenário, a plenitude da realização do sonho de caminharem juntos. “... amar-te é sentir o mundo em tudo que de mais puro nele há. É descobrir novos paraísos, é ansiar pela vida...” (Trecho do livro Pra Você)

** Glafira Menezes Corti é autora dos livros Pra você e Tamborilando com letras. Contatos: glafira@zipmail.com.br / www.facebook.com/glafira.menezesdeoliveiracorti Escritores brasileiros contemporâneos

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POEMAS DE LUIZ ALEXANDRE KIKUCHI NEGRÃO NIKKEIS

FESTA JUNINA

Japoneses e descendentes vêm deixando Suas marcas pelo mundo inteiro! Desde os 148 corajosos que saíram levando Com Van Reed esperanças. Ó Espírito Sobranceiro!

No mês de junho as Festas Alegram as pessoas com suas músicas e danças. O fogo da antiga deusa Vesta Mantém a perenidade e as lembranças!

Trabalhando, Construindo cidades e países inteiros, Os nipônicos vêm sonhando Com melhores dias e paradeiros Não em bandos E sim em grupos, são cooperativos e alvissareiros Ou a sós, como o bardo Paulo Watanabe declamando! Artesãos maneiros De ricas Cultura e Língua, são verdadeiros Representantes de um mundo admirando.

Mais do que o dinheiro, a Alegria atesta A tradição dos festejos. Fartura e comilança No Brasil, Portugal e Espanha alegram as Festas E entretêm, em especial, as crianças! Alegres e honestas As comemorações de São João (San Xoán/San Juan) têm suas andanças E depois vem a sesta! Os fitilhos e as bandeiras com arestas Rodam em uma grande dança. Tristeza não resta!

Luiz Alexandre Kikuchi Negrão: participou da bela Coletânea Histórica Para Sempre 32 - volume II, com o artigo Os Ideais Democráticos de 1932, pela Editora Matarazzo. Escreveu poemas como Netos de Hiroshima e A Luiz Poças Leitão Junior, o Pocinhas, e pende de publicação alguns no projeto Folhas Vivas, bem como elabora o projeto Coração Brasileiro, biografia autorizada pela família do saudoso Dr. Emeric Lévay. Publicou inúmeros artigos em sites jurídicos. 20

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SONETOS DE AMÉRICO SERVÍDIO O BAILE

ENTARDECER

As noites são alegres quando há festa E o salão adornado com suas flores É quando o coração se manifesta Na paixão envolvente dos amores

Com nuvens multicores no poente Facetadas com brilho fascinante Num crepúsculo demais comovente Cai o dia em visual deslumbrante

Os pares já espalhados no salão De repente começam a ressoar Vários instrumentos numa canção Maravilhosa para dançar

Aves peregrinas em voo indiferente Cortam os espaços na paisagem indescritível Onde um pássaro em gorjeio irresistível Despreza a sombra que provém do Oriente

Na elegante magia de seus passos E compassos fazendo evolução Os casais como aves no espaço

A tarde caindo em sua inefável beleza, Como um sonho embriagador, já entorpecida, Se esvai num sentimento de tristeza

Vão transformando em realização, Alguns sonhos a colher os pedaços Dos frutos que alimentam a união

Restam ainda sonhos de paixão sofrida No ocaso dos romances e, com certeza, Florescerão amanhã no renovar da vida

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São Paulo

de todos os tempos

Geraldo Nunes Jornalista, radialista e escritor. Participa das coletâneas da Editora Matarazzo desde 2016.

A BANDEIRA PAULISTANAE SUA HISTÓRIA Historicamente eram chamadas “bandeiras”, as expedições organizadas pelos bandeirantes que partiam da São Paulo de Piratininga em busca de pedras preciosas, escravos e expansão do espaço geográfico brasileiro. Eram assim chamadas porque seus líderes costumavam carregar nessas expedições a Cruz de Cristo, símbolo da coroa portuguesa. Após a proclamação da República surgiram símbolos estaduais e municipais, entre eles o brasão de armas da cidade de São Paulo com os dizeres em latim, “Non Ducor Duco”, ou seja: “Não sou conduzido, conduzo”. Depois, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, houve a supressão de todos os símbolos exceto a bandeira nacional. Restituída a democracia, esses símbolos voltaram a ser exibidos, mas a capital paulista acabou ficando sem ter uma bandeira oficial até 5 de março de 1987, quando o então prefeito Jânio Quadros, através da Lei 10.260/87 instituiu uma bandeira municipal inspirada na Cruz de Cristo dos bandeirantes. Como em tudo o que fazia, Jânio provocou 22

polêmica pois não quis submeter sua proposta à apreciação dos vereadores e decretou a instituição da bandeira por conta própria. Sua decisão foi de certo modo acatada, o pavilhão paulistano segue sendo erguido diante dos prédios públicos e das solenidades municipais. Precisou, entretanto, passar pelo crivo legislativo e sua manutenção se deu na forma da lei 13.331/02 que revogou a disposição anterior, acrescentando formalidades sobre a utilização do símbolo nos gabinetes, escritórios ou autarquias municipais, ou ainda em solenidades, honrarias e diante de monumentos e demais matérias correlatas. Passando a ser tratada pelo nome formal; Bandeira do Município de São Paulo, assim se descreve: retangular, de branco, com uma cruz vermelha, firmada, aberta e de braços alargados, da Ordem de Cristo, tendo encontro sobre o cruzamento de seus braços, um círculo de branco, debruado de vermelho, carregado do Brasão de Armas do Município. A cruz evoca a fundação da cidade à sombra do colégio dos padres jesuítas e, por ser a da Ordem de Cristo, alude aos primórdios da colonização do Brasil, época em que surgiu São Paulo. Seu círculo é o emblema da eternidade, como afirmativa do ânimo de que se investem os munícipes em defender a perene posição de São Paulo como capital e cidade líder de seu Estado.

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UMA ROSA PARA DOLORES (7/7/2019) Para todas as participantes do concurso Dolores Duran: Arte das Palavras Femininas. Thais Matarazzo

Criei outra rosa de versos Com cores e palavras Minhas e de outras mulheres Composta de rimas várias Cantaremos em uma ária. Foi a rosa mais linda que encontrei E será está que te ofertarei Uma rosa multíplice De pétalas compostas de poesia E cada pétala é uma poetisa.

Queria te ofertar A rosa mais linda que houver Uma rosa multíplice De pétalas compostas de poesia Cada pétala será uma poetisa Orvalhada de estrelas Dolores tornou-se uma roseira Que exala ternura antiga E encantos de muitos bens Que o tempo não consegue levar Cada canção de Dolores Forma um buquê de sentimentos Amarelo, branco, vermelho, Saudade, amizade, paixão Com pingos de chuva que ontem caiu Daquela roseira apanhei uma rosa Que celebra as etapas da vida Do despertar à despedida Da timidez à ousadia Contempla a noite e o dia Escritores brasileiros contemporâneos

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Ilustração Laura Maria -

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DOLORES DURAN: ARTE DAS PALAVRAS FEMININAS Por Thais Matarazzo O Coletivo São Paulo de Literatura em parceria com o Museu da Santa Casa de São Paulo realizaram este concurso poético. A homenageada foi a compositora, poetisa e cantora Dolores Duran (1930-1959). Sendo um concurso somente para mulheres. Dolores foi uma das estrelas da era de ouro do rádio brasileiro, atuou na Rádio Nacional. Carioca de nascimento, sempre viveu no Rio de Janeiro junto com sua família. Teve presença marcante nas noites cariocas e paulistanas. Na década de 1950 a região da Vila Buarque, onde também localiza-se a Santa Casa, era onde estavam as boates grã-finas e com música de qualidade ao vivo. Por ela desfilaram grandes cantoras como Dolores, Maysa, Ângela Maria, Dora Lopes, Isaurinha Garcia, Elza Laranjeira entre outras. As músicas de Dolores são cantadas até hoje. Ela viveu intensamente seus amores, fato refletido em suas composições. Foi uma das pioneiras em gravar as próprias músicas, quebrando o tabu diante dos compositores que dominavam o mercado fo24

nográfico. Exprimiu suas ternuras e angústias no auge do samba-canção, abriu espaço para as mulheres compositoras e poetisas da música popular brasileira, assim como Maysa, Dora Lopes e Helena de Lima. As juradas do certame foram Carmem Toledo, Claudia Perestrelo e a dra. Elizângela Dias, as organizadoras foram Ingrid Ribeiro Souza e Thais Matarazzo. Recebemos 44 poemas concorrentes O concurso poético Dolores Duran: Arte das Palavras Femininas contemplou dez ganhadoras, cada uma receberá um certificado que fará menção honrosa às compositoras brasileiras, com exceção da fadista Ada de Castro, uma compositora de mérito e fã incondicional de Dolores Duran. A ideia deste concurso nasceu após uma conversa com Ada que vemos em Lisboa em 2017, ela nos

Dora Lopes e Dolores Duran, anos 1950. Acervo Denise Duran

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contou que das cantoras e compositoras femininas, tinha predileção por Dolores e profunda admiração por sua poesia, por isso, resolvemos homenageá-la também. As artistas homenageadas são: Dolores Duran, Ada de Castro, Maysa, Linda Baptista, Dora Lopes, Carminha Mascarenhas, d. Yvonne Lara, Alaíde Costa, Helena de Lima e Silvinha Telles. Foi um lindo projeto que uniu pessoas ligadas à poesia e à literatura de todo o Brasil. A seguir os poemas contemplados.

CLAMOR DE PAZ (1º lugar)

Margaret Cruz Não! Elas suplicaram! Eles não ouviram Debaixo das suas tumbas ouvia-se um canto Gregoriano de dor! Foi só a parte que lhes coube neste latifúndio? Que horror Rita Lee já tinha cantado: ... “não provoque... é cor de rosa choque”

Inconformados, lá no céu juntaram-se em círculo na prosa: Mario Lago e Ataulfo Alves Mandaremos um buquê de camélias Não podem matar as nossas Amélias, Sentou-se cabisbaixo, sem fala: Benito de Paula Ela jurou desfilar para mim Era a sua mulher brasileira em primeiro lugar e que triste fim Amigo, não bata! São mulheres empoderadas Elas merecem ser bem tratadas Chico Buarque só pediu para que elas se mirassem no exemplo das mulheres de Atenas Olha no que deu: mataram as nossas Helenas e não se zangue Sobrou um cálice de vinho tinto de sangue No país do samba, Brasil, bem devagar, devagarinho: Martinho da Vila Mulheres de todos os tipos de todas as raças querem carinho Assassinaram até você que foi o meu bem querer... Madalena... Madalena

Era uma cantiga de roda infantil “O Cravo brigou com a Rosa...”, só brincadeira pueril Eles esqueceram: “Em mulher não se bate nem com uma flor” Só porque nasceram lindas Evas do gênero: feminino Na morte foram vítimas do hediondo crime: feminicídio

Entre as nuvens surge um anjo: Dalva de Oliveira Ela vem na frente e agita a sua Bandeira Branca Joana Dárc por um momento em silêncio estanca Atrás de todas elas em procissão Seguem na luta as MULHERES PELA PAZ em oração!

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DOLORES DURAN

O INVENCIONISTA

Jane Baruki Ferreira

Mari Pionório

Sofreste a rejeição, desde a gestação. Buscou no mundo o amar. Mas... não conseguiu se encaixar. Identificaste com o cantar. Encontrar o teu espaço, envolta, em um abraço. Sentir o mundo em si, tudo foi negado a ti. Quantas vezes sentiste um nada. Desaparecer, do universo almejava. Pois, nunca foste amada, da forma como idealizava.

Recolhe folhas no chão Como se fossem pedras preciosas Agrupa gravetos, pedrinhas e lascas Como se fossem peças raras de colecionador

(2º lugar)

Quanto sofrimento! Oh! Vida sofrida! Lutaste contra o preconceito e a pobreza. Tentaste, adquirir uma identidade. Buscando nobreza, dignidade e liberdade.

(3º lugar)

Corre sem olhar para trás feito furacão Como se tivesse asas motorizadas nas costas Lidera expedições em árvores e muros com desafiadoras escaladas Como se já tivesse certeza que lá em cima é mais acolhedor Desenha na terra Dá a “volta ao mundo” no gira-gira Ora é aviador Ora ousa ser paraquedista E quem diria? Existe um mundo dentro do mundo Num parque de escola pública já há muito esquecida.

Agora na eternidade, cantas para as almas doentias. Nas noites de agonias, preenchendo-as de amor, paz e serenidade.

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DOR: EM TRADUÇÃO POÉTICA

Então rabisco, escrevo, bem poetizo o que sinto. Por mais que seja verdade, digo que invento, que minto.

(4º lugar)

Anne Mahin E a dor que me chega, em verso, prosa e canção, sem fazer segredo de si, se hospeda no coração.

Insisto que não falo de mim, que não sou eu a confessar, que o que estampo nos poemas não é minha reza no altar.

Vem pra me tirar da vida a vontade, o gosto, o prazer; avança com a tristeza, me ofertando o sofrer.

Mas é apenas o que me resta: Linhas impressas em agonia. Só não morro de uma vez, porque me salva a poesia.

Por sonho não realizado, amor não correspondido, amizade pra sempre desfeita, doce pecado cometido. Por saudade da paixão, vontades que não me dei, músicas que não ouvi, beijos que não provei. Vento quase brisa no rosto, flores amarelas de ipê, pores do sol no outono, passeios que não fiz com você. E a dor se agiganta, tomando o espaço de tudo, do grito que não ecoa, lasso ou pétreo... tão mudo. Escritores brasileiros contemporâneos

Denise Duran em 1960 -

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A ÚLTIMA MULHER

LOUCOS SOLTOS

(5º lugar)

(6º lugar)

Ruth Olinda Gentil Sivieri

Edna Santos Almeida

Foram tantos e incontáveis teus amores Que embriagaste em perfumadas teias, Com risos e beijos cheios de ardores Prendendo corações em tuas peias.

O poema louco foge à estrutura, E não vai enjaulado, Não tem camisa de força, Nem carro de hospício parando na porta, Ele corre... Epa! Ninguém põe a mão nele! Ninguém se mexe! Ele tem licença poética! Ele cospe a cara de quem olha de lado. Tira a roupa e anda nu para as moças Dane se sociedade insana. Tem um sexo avassalador Sente o mundo tesudo, Num minuto e goza que tremi. E não cobra o ofício! Já nasceram com o reboliço de não aguentar suas veias. Latejando sem tomar tarja preto porque é naturalista. A crise de ansiedade não catalogada. Enquadra-o num quadro sintomático “vagabundo” Vai trabalhar pra publicar sua ritmia cardíaca. Quem cura o anjo disfarçado de diabo que caiu na via láctea,

Facetas mil apresentaste junto a elas Levando doçuras e todo teu encanto, Carícias lindas no olhar e frases belas Que celeremente trespassava em pranto. Ilusão somente destes a quem te ofereceu, Infinito amor e fidelidade total Na crença de que seria o único amor teu Entreguei-me ao teu encanto sem igual. Vai e faze o que bem quiseres, Pois sei que agora, no entanto, Não fui a última de tuas mulheres, Mas a que mais te amou e ama tanto.

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Com o crânio afetado de sensibilidade esquizofrênica? Ele soa parafernália, pornografia, o amor, as censuras e as volúpias E ri rios do que fez. Há cidade deles. Os desajustes dos loucos angustiados por dinheiro. Os que adoecem de verdade e não escrevem, fazem filas nas calçadas. Eles tomam rivotril e dormem Acordam como relógio bradando seus diabos... O aloprado da palavra pergunta: quem é louco? Ele vomita á qualquer hora a dose dobrada do seu medicamento: o esquecimento E chora feliz com a arma apontada pra si: morram imbecis! E sente o silêncio que lhe dá tapa nas costas Eles sorriem como se não existissem nem um e nem o outro.

FLORESCER COM TOQUE SUAVE (7º lugar)

Suely Moraes Michiute M ulher U nica L eal H eroina E ncantadora R eal Todas mulheres sendo elas de Arte, Compositoras, Cantoras e Mães Que deixam suas marcas Mostrando o valor da essência na alma Conquistam espaços com o trabalho Através do talento misto de dons, Que embelezam a natureza com a suavidade do som. Ouvir, sentir as coisas belas É como abrir a chave da longevidade, Aprendendo a curar as feridas deixadas pela saudade. Saudade que nos traz lembranças, com conteúdo de habilidade, Seguida do passado que nos faz refletir e expressar os sentimentos. São lições que encantam nossos corações, trazendo mulheres determinadas e com muita fé.

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São exemplos deAmor, Perseverança, Coragem e Inteligência São dádivas para serem vividas e conduzidas para vida toda, Onde aprendemos o valor da escalada para chegar ao topo.

ESSE VAI E VEM (8º lugar)

Caroline Costa Nunes Lima Essa lua cheia de si Essa vida cheia de nós Saudade que não chega ao fim Vontade não nos deixa a sós Saber que não tem pra onde fugir É de dentro que se cala a voz Essa luz da lua sobre mim Esse vinho e o que vem após Lança a calma com esses olhos em mim Traz mais vida, cores e faróis Quando penso que chegou ao fim Vem você, transforma em laços os nós!

A cantora e compositora Carminha Mascarenhas, 1959

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IDENTIDADE (9º lugar)

Creusa Maria Alves Minha história vou contar Para minha identidade mostrar Nasci em Paraíbuna estado de SP No bairro do Gibraltar; ******************* De uma dor de barriga Que fez minha mãe de madrugada Correr pro mato em disparada Não se sentindo aliviada A parteira foi chamada; ******************* Nasci morrendo de fome Mamava a noite inteira Minha mãe não podia nem Se virar na esteira; ********************* Meu nome foi escolhido Pelo meu avô querido De uma linda história Que ele havia lido; ******************** Creusa, uma princesa encantada Que um homem se apaixonou E uma feiticeira rejeitada Com vestido de noiva se vingou; *************************** Apesar da trágica história Creusa me traz alegria De poder carregar com satisfação O nome que meu avô queria! Escritores brasileiros contemporâneos

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************************* Mas logo minha família veio para a cidade Mogi das Cruzes, onde vivo na atualidade Neste lugar criamos raízes; E aqui somos felizes; **************************** **** O casamento aconteceu; E minha história enriqueceu; Reconheço que minha vida é plena; Por meio deste poema.

Compositora e cantora Maysa, 1959 -

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CONFIDÊNCIAS DE DOLORES (CANÇÕES) (10º lugar)

Regina Brito CONCEIÇÃO / tinha FALSOS AMIGOS/ vivia na SOLIDÃO./ E umas MANIAS/ que via como CASTIGO/ COISAS DE MULHER/ E se perguntava: O QUE EU FAÇO POR CAUSA DE VOCÊ?/ Pare! NÃO ME CULPA, por favor./ Que ESTRANHO AMOR, nunca se viu igual./ ONDE ESTARÁ O MEU AMOR?/ OLHA O TEMPO PASSADO/ NAQUELA NOITE DO MEU BEM/ FOI UM FIM DE CASO?/ OUÇA, por favor: LEVA-ME CONTIGO, PELA RUA/ Ai, COISA MAIS TRISTE!/ Oh, desejo tanto!/ UMA NOITE DE PAZ e UMA CANÇÃO DA VOLTA/ Esse é o NOSSO DESTINO.

Alaíde Costa, 1965

Helena de Lima, 1963 32

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Sábado 22 de junho foi uma data festiva! No Salão Nobre do Museu da Santa Casa de São Paulo, localizado na Vila Buarque, aconteceu o Sarau Cai na Roda, o lançamento da antologia Versejando sem Fronteiras, e a entrega dos certificados do concurso poético Dolores Duran: Arte das Palavras Femininas, um concurso somente para mulheres. O cerimonialista foi o Rodrigo Gutenberg e a mesa de autoridades foi composta por Ingrid Ribeiro Souza, historiadora do Museu, Denise Duran, e pelos membros do Coletivo São Paulo de Literatura (parceiro nesse concurso do Museu): Thais Matarazzo, Hilda Milk e Ricardo Cardoso. Foi apresentada a peça curta As linhas de Dolores de Carmem Toledo, contou no elenco com Karin Gama (Dolores Duran), Gilberto Cantero (sr. Armindo), Hilda Milk (d. Jose-

fa), Ygor K a s sab (o Amor), e Maria Flor (Maria Fernanda). As juradas do concurso foram Claudia Perestelo, Carmem Toledo e a dra. Elizângela Dias (abaixo na tabela o nome das contempladas). Foi lançado o jornal Matarazzo em Foco, edição junho, tendo como JackMichel “A escritora 2 em 1”. Diversos poetas e poetisas participantes da antologia Versejando sem Fronteiras estiveram presentes e puderam mostrar ao público alguns dos poemas participantes do livro.

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Vemos, da dir. para a esq., Ricardo Cardoso, Creuza Alves, Margaret Cruz, Mari Pionório, Jane B. Ferreira, Denise Duran, Hilda Milk, Thais Matarazzo, Ingrid Ribeiro Souza, Carmem Toledo, Rodrigo Gutenberg (no alto) e Karin Gama. Foto: Gilberto Cantero

Vemos, da dir. para a esq., Carmem Toledo autora da pela “As linhas de Dolores” e o elenco formado por Hilda Milk, Maria Flor, Gilberto Cantero, Karin Gama e Ygor Kassab.




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