VERSOS RUINS
THIAGO OKAN
Ser normal como um qualquer que não é normal ser que se integra ser que é racional ser que busca ser sempre por igual diferente ser que sempre está ser que nunca é ser que é ser que quer ser o que não é complicado ansioso e com medo ser que sempre se questiona ser que acredita em tudo ser que daria um murro ser que apanharia calado ser complexo invejável ou que chora atordoado
sentir-pensar sentir-pensante sentir-ser sentir-agir sentir-falar sentir-sentir
houve um tempo em que o tempo não era tempo em que o tempo não existia em que o tempo não corria nem se esticava nem comprimia houve um tempo em que o tempo era só o tempo em que o tempo só existia em que o tempo só corria se esticava se comprimia e agora há um tempo em que o tempo é tempo em que o tempo agora é em que o tempo agora corre se esticando se comprimindo
eu leio o céu com medo eu leio azul de dia, anil nuvens brancas eu leio o céu com medo eu leio cinza, pesado, cinza nuvens densas caindo eu leio o céu com medo eu leio breu, estrelado é mais fundo do que penso esse último céu é que me amedronta mais profundo céu em que nada sou capaz
tenho olhado o mundo os olhos são diferentes sim, mudei os óculos mas acho que não foi isso o que aconteceu é que aqui não sei mas outro dia a agonia chegou e agora não quer sair mais
li Bandeira com muita saudade esses dias perdidos em coisas que nem lembrava mais caĂ os versos simples sem requinte ou excesso apenas o que deve ser dito saudade de tanta leveza e peso nas palavras mas sempre assim sem medida livre como sempre hĂĄ de ser
Estou em casa e escrevo de um computador velho. Velho mesmo. Catorze anos! Quem diria?! Escrevo coisas que me vêm a mente assim, bem fluídas. Minha cabeça é um turbilhão. Se percebe, escrevo um poema longe da forma em versos. Escrevo assim direto, como quem escreve um texto qualquer, de propósito. É meu poema-crônica. Inventei isso agora, essa coisa de nome, mas a estética em si, acho que quem inventou foi o Drummond. Enfim, eu ainda alimento essa minha vontade doida de escrever livros que nunca terminarei – até versos eu abandono!. Mas deixa. É assim mesmo. A poesia não se queixa e eu deixo esse rio seguir o fluxo.
Mário de Andrade disse que a poesia deveria ser livre do jeito dele e eu do meu aqui replico ele disse algo como como não querer medi-la na composição deixar que seja assim mesmo que saia sozinha que saia sem que nada a detenha nem a molde deixa os consertos pra depois deixa pra dar pontos nós só no fim depois que tudo já saiu e já não resta nada por dizer naquela hora
Eu tinha em minhas mãos muitas coisas que remetiam ao tempo de quando eu tinha realmente tempo Eu tinha em minhas mãos muitas coisas de quando eu tinha em mim um pouco de voracidade poética Agora eu praticamente não tenho nada Só tenho o que temer
COLETIVO CAÓTICA