Mr. Robot Zine

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thiago@okan:~$


Zero e Um É complicado. Todos os dias pessoas estão morrendo por conta da pandemia. Aqui no Brasil a situação não difere, inclusive, é uma das mais preocupantes. Mesmo assim, o país está “normal”. Pois é. Normal. Nas últimas notícias que vi hoje (20/09/2020), o número de mortos contabilizados ontem foi de mais de 800. Lembro que quando a Itália estava na casa das 700 mortes diárias em função da covid-19 a comoção era extrema. Onde foi então que parou toda aquela nossa emoção?


De repente, é como se todos estivéssemos sedados ou fingindo que tudo passou. É provável que muitos realmente não acreditem na gravidade da doença, e por isso estão seguindo o fluxo de suas “vidas normais”. Cabe lembrar, sobre a palavra “normal”, a grande adesão que teve por parte de muita gente a ideia de “novo normal”. Bom, logo vejo que isso não passa de um devaneio do “primeiro mundo”, coisa dos intelectuais de países “super desenvolvidos” que pensam o mundo olhando apenas pro próprio umbigo.


Basta descer um pouco a ladeira e bater de cara com a periferia do planeta. Essa coisa de “novo normal” aqui nunca existiu. O país continuou normal, o velho mesmo, é só sair pra rua e ver. O único adereço diferente, e que mesmo assim já começa aos poucos a sumir, é a máscara. E tudo isso, claro, movidos por uma palavra, “necessidade”. Sim, as pessoas precisavam encontrar variadas formas de se manterem vivas, além de lavar as mãos com água e sabão constantemente. Como visto na prática, aquela coisa de “estamos todos no mesmo barco” era só um delírio romântico da elite, que como sempre, estava completamente deslocada do chão, do mundo real.


Mas voltando ao assunto da máscara. A máscara, talvez seja esse o ponto. Agora de forma metafórica. Todas elas começaram a cair. Porém, quero me atentar para dois tipos: aquela máscara que disfarçava quem éramos e aquela que nos impedia de ver. A primeira ainda tinha olhos, a outra era completamente cega. Acho que foram as duas que caíram. Exatamente.


Havia um grupo daqueles que tinham a noção de que sempre fomos essa coisa meio louca, indefinida, escondida nessa falsa história de que somos um país de pessoas emocionais, receptivas, acolhedoras (o engraçado é tamanho sentimento não serviu pra gente pensar sequer no vizinho, e continuamos nesse hábito maldito de nos atropelarmos todo dia, não matando um leão diariamente, mas sim o semelhante), mas que mesmo percebendo isso, continuavam fingindo que aqueles rostos sorridentes que viam, eram todos verdadeiros. Por outro lado, tinham os que sequer possuíam olhos. Eram completamente incapazes de enxergar o mundo, apenas seguiam o fluxo como robôs, desviando dos obstáculos fazendo uso de seus sensores.


Até agora não tem outra narrativa que me convença do contrário. As pessoas são vazias e sempre foram. Vazias e egoístas. Eu poderia tentar compreender do ponto de vista científico das ciências sociais – pra compreender de forma macro – ou da psicologia – sob a ótica da análise do indivíduo –, mas não o faço. Também não quero. Não estou afim de relativizar, empregar meu olhar objetivo. Quero mais é ficar de cara, apático, abatido, vencido, entregar os pontos. A humanidade é isso mesmo, não parece ser essa coisa cartesiana, que reflete e pondera.


Na verdade, isso tudo, esse papo cartesiano, já caiu por terra mesmo, somos todos essa mistura inconsequente. A analogia perfeita não seria uma lógica booleana de 1 e 0, de sim ou não, de verdadeiro ou falso. Não. A gente é essa coisa louca, inexplicável, incompreensível e intrigante, como a mecânica quântica. Partícula e onda ao mesmo tempo, como a luz. Mas infelizmente, muito infelizmente, estamos nas trevas.




Logoff – Logout Tenho alguns vinte anos de vida. Se tenho tão poucos, imagina quantos vividos de fato. De fato, vividos são menos ainda. Tão menos… o menos do menos que já pudera eu viver. Mas, mesmo em tão pouco tempo vivido já não suporto aqueles diálogos dispersos entre velhos conhecidos que ultimamente passaram a me rondar. Era aquela com a qual eu mais gostava de conversar e de repente virou isto: “Oi”, “oi”, “e aí, o que está fazendo?”, “nada e você?”, “nada”, “como foi o seu dia?”, “normal, e o seu?”, “o meu também foi normal”, “aah”, “que tédio”, “é, que tédio”. Saí um pouco para respirar sufocando com a poluição.

e

acabei

me


Ainda nรฃo dรก pra hackear a mente


Viver é sempre uma série de tomadas de decisões forçadas.

É sim ou não...


...sempre a um clique...

...sem nunca poder testar. E tem gente que nem opçþes tem.


“Alguma coisa disso é real? Olhe para isso. Olhe! Um mundo construído em fantasia. Emoções sintéticas em pílulas, guerra psicológica em propagandas, produtos químicos em comida que alteram a mente, seminários de lavagem cerebral em mídia, bolhas de controle em forma de redes sociais.” - Mr Robot


Texto e desenhos: Thiago Okan 10/2020

@thiago_okan tjbass2013@gmail.com

Coletivo Eumesmo


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