2º Ciclo de Estudos – Mestrado em Ciências da Comunicação Variante em Estudos dos Média e Jornalismo
Fotojornalismo – A perda do sentido informativo 2015
Docente: Prof. Doutor Fernando Zamith Ciclo de Estudos: 2º Ciclo Unidade Curricular: Seminário de Jornalismo Especializado
Resumo O fotojornalismo está numa constante mudança, pelo que cada vez mais se confunde o que é fotojornalismo, com o que é fotografia publicitaria. Como tal, neste ensaio, mostrei as diferenças que estão subjacentes a estes dois tipos de fotografia e defenderei o valor de notícia que está subjacente ao fotojornalismo. Contudo, tenho como tese que o sentido informativo do fotojornalismo se está a perder e é este argumento que irei defender. Numa primeira fase iremos abordar a história da fotografia, o que levou ao aparecimento do fotojornalismo, mencionando a revolução industrial e o primeiro fotojornalista remunerado, tendo como objetivo ser fotojornalista em situação de guerra e que o seu trabalho não era essencialmente reportar a verdade, mas sim o lado positivo da guerra, fugindo ao essencial do fotojornalismo, como iremos ver mais adiante. De seguida iremos abordar a questão do analógico e do digital, tendo em conta o aparecimento da Internet, que leva ao aparecimento do jornalismo participativo, da interação e da credibilidade. Irei dar especial destaque ao valor notícia das fotografias jornalísticas, e que essa noção está a perder a sua essência, confundindo-se com outros tipos de imagem. Isto tudo deve-se à transição do analógico para o digital, que citando David Burnett “ (…) where digital will take us in photojournalism is impossible to know.” Reforçando a ideia anterior, é o meu objetivo, e desta reflexão, entender se o sentido informativo do fotojornalismo se está a perder, e que cada vez é mais difícil encontrar as diferenças entre fotojornalismo e fotografia publicitaria, e neste ensaio tentarei defender o que está mal e supostas alterações, face à rápida mudança que o digital trouxe, tendo em atenção alguns exemplos.
Palavras-chave: Jornalismo; fotojornalismo; valor-notícia; interatividade; credibilidade; internet.
Abstract Photojournalism is in constantly changing, so increasingly confuses what is photojournalism, with what is advertising photography. As such, this trial showed the differences that underlie these two types of photography and defend the news value that Página 2 de 12
underlies the photojournalism. However I have a thesis that the informative sense photojournalism is being lost and it is this argument that I will defend. In the first phase we will address the history of photography, which led to the emergence of photojournalism, citing the industrial revolution and the first paid photojournalist, aiming to be a photojournalist in situations of war and that their work was not essentially report the truth, but the positive side of the war, fleeing to basics of photojournalism, as we shall see below. Then we will address the issue of analog and digital, given the emergence of the Internet, which leads to the emergence of participatory journalism, interaction and credibility. I will give special emphasis to the news value of news photographs, and that this notion is losing its essence, mingling with other image types. All this is due to the transition from analog to digital, which citing David Burnett "(...) where digital will take us in photojournalism is impossible to know." Reinforcing the idea earlier, it is my goal, and this reflection, understand the informative sense photojournalism is being lost, and that it is increasingly difficult to find differences between photojournalism and advertising photography, and in this essay I will try to defend what is and alleged bad changes in the face of rapidly changing the digital brought, having regard to some examples.
Keywords: Journalism; photojournalism; news value; interactivity; credibility; Internet.
Introdução Na atualidade, o fotojornalismo tem sofrido um pico exponencial de importância relativamente ao que se sucedia. A fotografia é cada vez mais uma porta de entrada para o jornalismo e a sua relevância tem crescido substancialmente. Contudo foi com a passagem do analógico para o digital que se verificou o maior crescimento desta área de especialização do jornalismo, onde cada vez ganhou mais adeptos, devido à facilidade que se registou. Antigamente eram precisos mais de vinte minutos para enviar uma fotografia para a redação, quando se fazia a cobertura de algum acontecimento, mas com o aparecimento da internet, a situação inverteu-se e estamos perante a era do instantâneo. À medida que o fotojornalista vai fazendo o seu trabalho, vai enviando essa
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informação em tempo real para as redações que constantemente vão atualizando a notícia, na web. Porém, e apesar do enorme sucesso que o fotojornalismo tem ganho nestes últimos anos da era digital, nem tudo que é fotografia tem valor de notícia, uma vez que muitas vezes estamos perante fotografias publicitárias. Segundo Jorge Ferreira (2003) “o advento das novas tecnologias de informação, especialmente a internet, parece provocar uma nova revolução no acesso à informação, agora armazenada em novos suportes eletrónicos e em espaços não topológicos e, como consequência direta, um retorno a visualidade na comunicação mediada. Em outras palavras, a comunicação antes mediada pela escrita, tem sido afetada pela mediação dos sistemas virtuais”. Para melhor entendermos, e contextualizarmos, os factos, iremos analisar o aparecimento do fotojornalismo, a sua história, o primeiro fotojornalista, definição e suas funções, a passagem do analógico para o digital, desde o papel impresso para a Multimedialidade. “A fotografia constitui um ponto de partida dos mass media que desempenham hoje um papel todo-poderoso como meios de comunicação (…) A fotografia tornou-se na linguagem mais corrente da nossa civilização” (Sontag, 1986).
História da fotografia Foi durante a revolução industrial que surgiu, mas além de ser desenvolver durante a segunda metade do século XIX, iria desenvolver-se também ao longo do século XX. Se já era dispendioso a impressão das letras, fazê-lo com imagens era ainda impensável para alguns. Foi então que a prensa de Gutenberg viria a desencadear um novo panorama na história da imprensa. “Com a fotografia abre-se uma janela para o mundo. A fotografia inaugura os mass media visuais” (Freund, 1995). E foi a partir daqui que se instauraram novos usos para a fotografia. A intenção associada à fotografia era de evidenciar os factos como eles aconteceram na realidade, sendo que “congelava” aquele momento, não parando o tempo, mas sim guardando um fragmento da realidade, que serviria mais tarde para atestar a veracidade daquilo que viria a ser dito. E é através dessas fotografias que quem não estava presente, poderia ver como tudo se tinha passado, criando valor aos olhos de quem a via. Contudo, nem todos viram na fotografia as mesmas finalidades que seriam, normalmente, procuradas. Roger Fenton, o primeiro fotojornalista remunerado, na área, Página 4 de 12
foi contratado para a Guerra da Crimeia, onde a finalidade da sua máquina fotográfica era de retratar o lado “positivo” da guerra, não mostrando a verdadeira face. O conceito de fotojornalista começava a divagar e o valor de notícia, que falaremos mais adiante, perdia-se. “ (…) a imagem fotográfica interrompe, para, fixa, imobiliza, separa, descola a duração, captando apenas um único instante. Espacialmente, do mesmo modo, fraciona, retira, extrai, isola, capta, recorta uma porção da extensão.” (Dubois, 1992). Alguns jornalistas, como é o caso de Jacob A. Ris, privilegiaram o uso da fotografia como crítica social e às condições económicas que se faziam sentir na altura. “Os fotógrafos davam especial atenção à injustiça social, pois tinham o objetivo de retratar uma realidade oculta” (Martins, 2013)
Fotojornalista “O fotojornalista é uma faceta do jornalismo que se joga, sobretudo, nos jornais e revistas e nos meios on-line” (Sousa, 2011). Mas será que o fotojornalista é qualquer cidadão, qualquer pessoa com uma máquina digital, que cada vez mais estão acessíveis a todos, e com acesso à internet? Facilmente, somos bombardeados nos telejornais, com pedidos para que enviemos as nossas fotografias/vídeos, sem qualquer critério ou noção jornalística para que á priori sejam publicados por esses mesmos órgãos de comunicação que prescindem de ter uma equipa profissional no terreno, em detrimento de passar o dia inteiro na secretaria a ler os emails e esperar pela “generosidade” do cidadão. Mas o grande problema não reside nessas circunstâncias, reside sim no facto de, muitas vezes, os fotojornalistas estarem mais preocupados em captar um bom retrato, do que em fotografar um certo momento, um certo instante que dura apenas um segundo. Estão cada vez mais preocupados com questões estéticas e com a necessidade de fotografar cada vez mais, uma vez que têm a necessidade de enviar instantaneamente fotografias para as redações para que estas atualizem as notícias em tempo real, e que possam publicar slideshows multimédia na internet. Assim, em vez de o utilizador ter apenas uma fotografia do acontecimento, tem a possibilidade de ver o acontecimento de vários ângulos e óticas, o que cria uma maior interação. “Um jornalista sem fronteiras nem limites é um jornalismo descaracterizado que só forçadamente pode ser encarado como verdadeiro jornalismo, capaz de providenciar Página 5 de 12
informação útil e significante aos cidadãos e de lhes permitir construir conhecimentos relevantes sobre a realidade” (Sousa, 2011). Mas, já que tocamos neste ponto, é de salientar que apesar de o fotojornalismo seguir as pisadas da fotografia publicitária, a situação acontece no inverso, uma vez que as fotografias publicitárias estão cada vez mais interessadas em mostrar a essência da imagem, algo que desperte a emoção, em detrimento dos ângulos, poses e enquadramentos. “Assim cada vez menos se consegue identificar a que paradigma pertence uma determinada fotografia (…)” (Sousa, 2011). Mas esta fotografia jornalística não se encontra sozinha nas capas dos jornais, pois há a necessidade de se estabelecerem relações entre o verbal e o não-verbal, pois como Jorge Pedro Sousa diz “não há duas interpretações iguais da mesma fotografia”. Apesar de a imagem ser um testemunho e uma prova do que aconteceu, “O diálogo crescente entre os dois géneros é outra revolução – textos não-verbal e verbal se relacionam (…) ” (Paiva; Salin; Ferreira; 2007). Tendo por base as palavras de Jorge Pedro Sousa (2011), em que o mesmo atribui duas dimensões diferentes ao fotojornalismo, em sentido lato (mais abrangente) e em sentido estrito (quotidiano), acredito que seja esse um dos grandes problemas que o fotojornalismo apresenta. O facto de qualquer um poder-se denominar por fotojornalista, pelo simples facto de possuir uma câmara digital e acesso à internet, estando no local certo, à hora certa, não o torna um profissional da área jornalística. Não possui a experiência do terreno, a consciência ética necessária, nem o reconhecimento e formação para tal. O facto de o cidadão participar ativamente na atividade jornalística faz dele um cidadão ativo e interessado, mas nunca um jornalista-cidadão.
Do analógico ao digital Segundo Jorge Felz Ferreira (2003), o fotojornalismo na web dá-se por dois meios. “Como procedimento analógico, baseado em foto – scanner – web e, mais recentemente, com as evoluções da tecnologia digital, em um outro, mais rápido e dinâmico: máquina – web (…) maior velocidade, maior número de imagens, menor custo e em menor tempo”. “Surgem novos flashes e comercialização das câmaras equipadas com lentes mais luminosas e filmes mais sensíveis; emergência de uma geração de repórteres com um nível social elevado; Atitude experimental e de colaboração intensa entre Página 6 de 12
fotojornalistas, editores e proprietários das revistas ilustradas; inspiração do interesse humano.” (Sousa, 2002). Foram estes e mais alguns, que Sousa enumera como responsáveis do fotojornalismo atual e do seu crescimento. Com o aparecimento da fotografia digital, os hábitos, técnicas, métodos e procedimentos caíram em desuso e foram ultrapassados. Isto há sensivelmente 25 anos. Porém, o digital sozinho não teria tido o sucesso que tem, se não fosse a Internet por trás, que despoletou novas formas de participação, consumo e abanou a credibilidade, que iremos ver adiante. Contudo, com a abertura do digital à internet, os fotojornalistas depararam-se com a participação ativa dos cidadãos e com o envio de certas fotos, de certos acontecimentos, em ângulos diferentes, e por vezes melhores, de histórias que estes estariam a cobrir. Mas a internet não viria só a favorecer a participação ativa. Com a possibilidade de suportar qualquer formato, estaríamos diante a convergência da fotografia (estática), com o vídeo (movimento), com os conteúdos verbais, nomeadamente o texto e o som. Estes quatro elementos viriam a trabalhar em uníssono. “Isso leva o fotojornalismo a novas esferas de significância, a novas e específicas formas de abordagem da realidade (Munhoz, 2006). Para defender esta convergencia jornalística, apoiamo-nos em Salaverría: “La convergencia periodística es un proceso multidimensional que, facilitado por la implantación generalizada de las tecnologías digitales de telecomunicación, afecta el ámbito tecnológico, empresarial, profesional y editorial de los medios de comunicación, propiciando una integración de herramientas, espacios, métodos de trabajo y lenguajes anteriormente disgregados, de forma que los periodistas elaboran contenidos que se distribuyen a través de múltiples plataformas, mediante los lenguajes propios de cada una” (Salaverría; García; Masip, 2008). É com o avanço tecnológicos, na vertente digital, que se criam novos formatos de produção, mais flexíveis, tornando o mercado muito mais desafiador e abrangente. E a partir daqui que nascem novas rotinas e novas formas de se divulgarem as notícias. O produto final está cada vez mais alterado, uma vez que se usam cada vez mais elementos na produção jornalística, desde som nas imagens e vídeos. Em detrimento de usar apenas uma fotografia numa publicação/artigo, o ciberjornalista pode agora utilizar um slideshow onde pode agrupar imensas fotos, acrescentando valor à notícia. Além de que os fotógrafos amadores puderam começar a divulgar os seus trabalhos artísticos em plataformas próprias e autónomas, como é o caso do blogs. “Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, os novos consumidores são ativos. Se os antigos Página 7 de 12
consumidores
eram
previsíveis
e
ficavam
onde
mandavam
que
ficassem
(comportamento de manada) os novos consumidores são ativos. Se os antigos consumidores são previsíveis, ficavam onde mandavam que ficasse, os novos consumidores são migratórios, demonstrando uma declinante lealdade a redes ou a meios de comunicação. (Jenkins, 2006). Como defendemos neste ensaio, que a essência do sentido informativo do fotojornalismo está-se a desmoronar, João Peixoto (2011), entre linhas, evidência isso mesmo: “A narração/descrição de cenas captadas ou até mesmo inserção de depoimentos de fontes as quais se faziam presentes no momento da captação das imagens. Tal procedimento afasta ainda mais o conteúdo fotojornalístico de uma suposta objetividade procedimental e o aproxima de uma cobertura mais aberta e participativa”. Segundo o autor, cada vez mais se privilegia a interação e a participação ativa dos cidadãos, em detrimento da objetividade e do valor notícia dos acontecimentos. Contudo, face a esta convergência digital que se faz sentir nos tempos modernos, é necessário repensar num novo modelo de negócio e o desafio é criar valor de notícia, acima de tudo. Defendemos que o fotojornalista deve envolver-se com as suas fontes, procurar a verdade e captar a essência dos momentos, mas sem se perder a noção do que é fundamental, não a estética do momento fotográfico, mas a verdade.
Valores-notícia Quando falamos em valor da notícia, apoiamo-nos em Sousa (1998) que transporta grande parte desses valores oriundos do jornalismo para o fotojornalismo. De entre
esses
destacam-se:
Intensidade,
surpresa,
proximidade,
continuidade,
previsibilidade, redundância, curiosidade, proeminência social, interesse humano, institucionalidade, conflito, oportunidade e exclusividade. “Os critérios têm uma natureza esquiva e opaca que, para os fotojornalistas tem a ver com as imprecisas ideias “do que é importante “ e da intuição (do “faro”) para a foto notícia. (…) a socialização, a aculturação e a aprendizagem pelo acerto/erro e pela imitação levam os fotojornalistas realmente a intuir, sem saberem explicar muito bem, aquilo que deles se pretende” (Sousa, 1998: 98). Quando a fotografia por si só desperta a nossa atenção e é dela que nos recordamos, podemos constatar que a mesma tem valor-notícia, mas nem tudo é notícia e é aí que reside o problema. Para os fotojornalistas que trabalham o online, Página 8 de 12
sabem que o importante é enviar fotos, e mais fotos, para ocupar espaço nas plataformas online. “O facto de cada vez mais ser importante ser o primeiro a dar a notícia e isso prossupõe antes da concorrência, leva a que o valor-notícia tenha perdido o seu sentido. E é esta urgência, da necessidade de notícias e de deadlines cada vez mais curtos, que traz ao de cima as maiores consequências que o jornalismo enfrenta. “A história do fotojornalismo é uma história de tensões e ruturas, uma historia do aparecimento, superação e rompimento de rotinas e convenções profissionais, uma historia de oposições entre a busca da objetividade e a assunção da subjetividade e do ponto de vista, entre o realismo e outras formas de expressão, entre o matizado e o contraste, entre o valor noticioso e a estética, entre o cultivo da pose e o privilégio concedido ao espontâneo e à ação, entre a foto única e as várias fotos, entre a estética do horror e outras formas de abordar temas potencialmente chocantes e entre variadíssimos outros fatores. E é também uma história que assiste, gradualmente, ao aumento dos temas fotografáveis, o mesmo é dizer, uma história que assiste à expansão do que merece ser olhado e fotografado” (Sousa, 2004: 14). Os avanços tecnológicos e a facilidade de trabalhar com os mesmos possibilitaram mudanças, a curto prazo, que pareciam impossíveis. Mas essas mudanças têm que ser usadas corretamente e em prol do cidadão. Pois muitas são as vezes que o digital contribuiu para a manipulação do real, nomeadamente a modificação/alteração do fotojornalismo, para tentar criar algo que não existia ou que não foi possível captar. Se isso acontecer, em situações mesmo necessárias, o leitor deve ser avisado de que está perante uma montagem, pois nem sempre é possível perceber isso através da nossa intuição. “Os avanços tecnológicos melhoram o rendimento, mas o seu uso desenfreado, sem ponderação, condiciona e atropela o nosso tempo (Chikaoka, 2010)”.
Fotojornalismo vs. Fotografia publicitaria Sendo que é nosso objetivo neste ensaio, entender que o sentido informativo do fotojornalismo se está a perder caindo no âmbito da fotografia publicitaria, creio ser correto distingui-las para que não restem dúvidas. Página 9 de 12
O fotojornalismo resulta do acaso, do instante, do momento. Enquanto na fotografia publicitaria o fotógrafo procura montar uma cena, em primeiro lugar, preparar os ângulos, a iluminação e todo um cenário envolvente que captará aquele momento para a eternidade, enquanto o fotojornalismo se concentra em assuntos da atualidade. Na “fotopublicidade” nada é feito ao acaso. Seguindo a definição de Georges Péninou: “el fotógrafo de imprensa capta una escena cuyo sentido há intuído, pero la escena preexiste al sentido. El fotógrafo publicitario construye una escena en torno a un sentido; el sentido preexiste a la escena”. Contudo, entendo que a cada dia que passa, o fotojornalismo perde o seu valor informativo, pois há uma tendência para alguns fotojornalistas estarem mais interessados no lado estético das suas fotografias, para que estas sejam capa de jornal ou apareçam em destaque, em detrimento de uma fotografia rápida e que sintetize um acontecimento. Muitas são as vezes em que o próprio fotojornalista usa programas para manipular as fotografias e as mesmas deixam de ser fotografias com valor de notícia, ou seja fotografias jornalísticas e começam a entrar no campo da fotografia publicitária, onde a estética é mais importância que o acontecimento. Assim, estes fotojornalistas são responsáveis pela perda do sentido informativo do fotojornalismo, uma vez que são os próprios que são deterioram a sua noção, definição e conceito. Além de que, cada vez menos se usa apenas uma fotografia para descrever um acontecimento, visto que no panorama atual, o uso de slideshows (várias fotos) é o que predomina, pois é mais atrativo para alguns leitores que escusam de ler os textos na íntegra, para perceber o acontecimento. Enquanto isso, há ainda fotojornalistas que usam fotografias de valor jornalístico, fora do contexto, o que as torna meras fotografias publicitárias, onde o seu objetivo principal é captar a atenção de alguém, perdendo na íntegra o seu valor-notícia.
Conclusão Como constatamos ao longo deste ensaio, a mudança do analógico para o digital foi feita de uma maneira tão rápida e brusca que faltaram colocar alguns pontos nos “is”. Contudo, e como referimos, é possível distinguir o fotojornalismo da fotografia publicitária, mas para quem não tem certos conhecimentos, torna-se uma árdua tarefa. “ (…) o fotojornalismo é e será sempre uma atividade forte e ambígua (…) “. (Sousa, 2011). Porém, há ainda quem desconheça que o objetivo primordial do fotojornalismo Página 10 de 12
não é “vender” imagens bonitas ou bem enquadradas, mais sim reportar os factos como aconteceram, sendo uma prova viva do que realmente se passou. “ (…) A ambição máxima do fotojornalismo parece continuar a corresponder à mais antiga vocação da fotografia: dar testemunho.” (Sousa, 2011). Contudo, é mais que necessário repensar o fotojornalismo, de modo a que não se confunda com a fotografia documental, nem com a publicidade, e acima de tudo, os próprios fotojornalistas têm que entender a sua essência, e por mais que os editores pretendam fotos “bonitas” para a capa dos jornais, têm que ser estes a bater punho e a evitar edições de imagem e manipulações de algo que não existe.“A imagem colhida no local do acontecimento (...) a verdade da imagem recolhida no local empresta à notícia uma veracidade e objetividade maior do que a simples descrição do acontecimento” (Canavilhas, 1999;5). Há a necessidade de usar o fotojornalismo a favor da sociedade e de maneira responsável e socialmente aceite, pois se isso não acontecer, o fotojornalismo vai continuar a perder a sua essência e o seu sentido informativo vai-se apagando aos poucos, ficando apenas as ilustrações e manipulações que só pretendem aumentar as vendas. “Hoje em dia, tudo que existe, existe para acabar numa fotografia” (Sontag, 1986). Se o objetivo primordial do fotojornalismo é dar testemunho e reportar os acontecimentos a quem não esteve no local, então as manipulações e edições de imagens são um dos inimigos e que contribuem para que o sentido informativo e valor de notícia se deteriorem com o tempo. Deste modo, é necessário repensar a essência do fotojornalismo e da sua principal função: Prestar testemunho, que pressupõe que tenha valor de notícia, isto é, que contribua para a sociedade.
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Artigos Online http://niemanreports.org/articles/from-film-to-digital-whats-lost-whats-gained/: Consultado em 15 de Maio de 2015.
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