Da Interação à qualidade: A diminuição da credibilidade do jornalismo no ciberjornalismo - Tiago Nog

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2º Ciclo de Estudos – Mestrado em Ciências da Comunicação Variante em Estudos dos Média e Jornalismo

Da Interação à qualidade: A diminuição da credibilidade do jornalismo no ciberjornalismo 2015

Docente: Prof. Doutor Hélder Bastos Ciclo de Estudos: 2º Ciclo Unidade Curricular: Seminário de Ciberjornalismo


Resumo Na atualidade, é cada vez mais comum o aparecimento de novos media ligados à internet e constata-se uma proliferação de novos blogs e websites dedicados à proliferação de notícias, sem que isso possa ser considerado jornalismo. Contudo, a verdade é que há uma grande adesão por parte da audiência a esses novos meios de comunicação, dedicados exclusivamente à divulgação de notícias pela Internet, e isso leva a que, por vezes, os meios de comunicação dedicados exclusivamente à atividade profissional jornalística usem esses websites como suas fontes de informação para a divulgação e partilhas de notícias em primeira mão, sem que confirmem a sua veracidade e autenticidade. Isto, porque com o aparecimento do ciberjornalismo, já não há tempo para a confirmação de factos e procura de novas notícias, porque o copy/paste é a nova moda, e a procura de notícias em agências nacionais é bem mais fácil e cómodo, uma vez que a celeridade impera no jornalismo, como o conhecemos atualmente. No entanto, os meios de comunicação não partilham notícias de qualquer website ou blog, apenas daqueles que possuem um grande número de seguidores, pois mais importante que ter leitores, é ter uma audiência empenhada em criar interação nas nossas páginas. Só que os jornalistas não estão dispostos a interagir e a caminhar lado a lado com a sua audiência, uma vez que são meros professores, eliminando aqueles comentários que não são tão positivos, e não colocam o seu público no pedestal que lhes é devido. Deixam que a audiência tome as rédeas da conversa, não respondendo às suas questões, nem criando a interação necessária, para que se criem novos tópicos e que o seu leque de seguidores aumente. Em contrapartida, estão dispostos a ficar sentados nas suas secretarias, enquanto navegam pela Internet em busca de novas notícias de última hora, e esquecem-se que determinadas fontes não têm a veracidade necessária para serem usadas, pois muito do material que é publicado por elas tem como objetivo atrair novos seguidores, e apenas isso. Assim sendo, os meios de comunicação que divulgam essas notícias sem verificar a veracidade das fontes, deparam-se com situações de conflito quando na realidade essas notícias são nada mais, nada menos que falsas notícias. Desmorona-se a credibilidade dos meios de comunicação, e mesmos dos jornalistas aos poucos, perdendo-se assim a qualidade das notícias. Neste trabalho pretendo identificar qual o papel do (ciber)jornalista na era do jornalismo participativo.

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Palavras-chave Jornalismo; ciberjornalismo; credibilidade; interação; qualidade

Abstract Today, it is increasingly common the appearance of new media connected to the Internet and finds it a proliferation of new blogs and websites devoted to the proliferation of news, without this can be considered journalism. However, the truth is that there is great enthusiasm from the audience to these new media, dedicated exclusively to the dissemination of news via the Internet, and this means that sometimes the media dedicated exclusively to the journalistic occupation use these websites as their sources of information to disseminate news and shares firsthand, without confirming its veracity and authenticity. This is because with the rise of online journalism, there is no time to confirm the facts and looking for new news, because the copy / paste is the new fashion, and the demand for national news agencies is much easier and convenient, a Since the speed prevails in journalism as we know it today. However, the media did not share news of any website or blog, just those who have a large following as most important to have readers, is to have a committed audience in creating interaction on our pages. Only that journalists are not willing to interact and to walk side by side with his audience, since they are mere moderators, eliminating those comments that are not so positive, and do not put your audience on the pedestal due to them. Let the audience take the reins of the conversation, not responding to their questions and creating the necessary interaction, in order to create new topics and its range of followers increased. On the other hand, they are willing to sit in their offices, while surfing the Internet looking for new breaking news, and they forget that certain fonts do not have the necessary truthfulness to be used, for much of the material that is published by they and it aims to attract new followers, and only that. Therefore, the media that publish these reports without checking the veracity of sources are faced with situations of conflict when in reality these stories are nothing more and nothing less than false news. Collapses to the credibility of the media and journalists themselves gradually, losing the main thing, that is the quality of the news.

Keywords Journalism; ciber journalism; interaction; credibility; quality

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Introdução Apesar de ter aparecimento há mais de 20 anos, em Portugal, o ciberjornalismo ainda é uma prática que não é familiar a muitos jornalistas, uma vez que não tiveram formação superior, para esta vertente. O que por si só implica, que determinados profissionais da área, devem ter isso em consideração e não reter a ideia de que jornalismo e ciberjornalismo têm as mesmas práticas. “ (…) Foi com alguma naturalidade que o jornalismo na web se desenvolveu num modelo muito semelhante ao do jornalismo escrito, adotando as mesmas técnicas de redação usadas na imprensa escrita.” (Canavilhas, 2006a). Para estes jornalistas, em grande parte, a web não era vista como um possível meio de comunicação pelo que “o jornalismo online não é mais do que uma simples transposição dos velhos jornalismo escritos, radiofónico e televiso para o novo meio” (Canavilhas, 2001). “ (…) Falta a muitos jornalistas portuguese formação, formação e mais formação”. (Bastos, 1996). Num estudo feito por João Canavilhas, “Os jornalistas online em Portugal” (2005), comprova-se que, mais de metade dos jornalistas abordados tinha formação oferecida pelas empresas, sendo que dessa metade, mais de 70% teve formação durante a actividade profissional. Contudo, a expansão tão rápida do jornalismo, levou a que não se pensasse num modelo de negócios sustentável, capaz de trazer retornos a esta prática, o que até hoje ainda não se conseguiu descodificar. “A dificuldade em encontrar um modelo de negócios que viabilize estes projetos é o grande entrave ao seu desenvolvimento (…) ”. (Canavilhas, 2006a). Assim sendo, os jornalistas não se encontram, em muitos casos, preparados para este novo desafio, o que leva a que desempenhem as suas funções como meros “secretários do copy/paste”, sem abandonar as suas secretarias na procura de notícias, pois é mais cómodo usar as redes sociais e os motores de busca, em vez de se tornar “um produtor de conteúdos multimédia de cariz jornalístico (…) “ (Canavilhas, 2001). Em contrapartida, estes jornalistas trabalham como meros moderadores de fóruns e blogs, através da gestão de comentários e partilhas, sem incentivar à conversa e nunca respondendo à sua audiência. Deste modo, não se cria a interação que é possível neste mundo virtual, mais conhecido como “aldeia global”, mas sim uma perda de interação e Página 4 de 15


subsequente diminuição da qualidade que as notícias poderiam ganhar, já que é mais fácil copiar as notícias dos jornais impressos e estampa-las na web. Não há uma adaptação consciente, o que se confirma na perda da qualidade, quando em muitos casos não se copiam notícias sem qualquer fonte, dos locais da Internet menos credíveis. “Os resultados mostram que os ciberjornalistas se ocupam predominantemente de teto, cultivam pouco fontes próprias, valorizam a imediatez e a credibilização das notícias e passam pouco tempo em contacto com as audiências” (Bastos, 2010). Deste modo, pretendo identificar o papel do (ciber)jornalista enquanto mediador e analisar que a diminuição da interação com os seus públicos/audiência, leva a que os jornalistas que trabalham na web, percam oportunidades únicas de grandes notícias, que por sua vez preferem utilizar notícias de outros websites, traduzindo-se numa tarefa menos penosa, mas com implicações maiores à posteriori. Manifesta-se, então, na diminuição da credibilidade daqueles jornalistas e subsequente na diminuição da fiabilidade do ciberjornalismo, que nos leva ao ponto principal que é “a perda generalizada da qualidade do jornalismo produzido nas redações digitais” (Bastos, 2012).

Novo panorama de jornalistas: ciberjornalista “O ciberjornalismo é uma actividade essencialmente sedentária, “de secretária”, em que as deslocações ao exterior são mínimas”. (Bastos, 2010). O que para alguns pode parecer simples, para outros é uma questão controversa. Mas afinal o que é um ciberjornalista, além de um jornalista da web, e o que faz? “(…) O ciberjornalista terá de redigir notícias, produzir fotografia, audio e vídeo, construir páginas web, transpor conteúdos impressos ou audiovisuais para a rede, acrescentar hiperligações, fornecer interfaces que permitam aos utilizadores o recurso a bases de dados diversas, desenvolver comunidades online, particularmente através de linhas de chat, etc …” (Bastos, 2006). A qualidade do jornalismo produzido nas redações digitais tem vindo a sofrer uma enorme perda de qualidade e credibilidade, de maneira geral, isto porque os jornalistas não estão preparados, nem com formação adequada ao gênero jornalístico em questão, nem com conhecimentos necessários sobre a área em questão. Em grande parte, foram reencaminhados para as redações digitais com as mesmas práticas que usavam nos Página 5 de 15


jornais impressos. “ (…) Com deadlines apertados tendem a concentrar o trabalho em tarefas de copiar e colar em vez de escreverem artigos próprios”. (Bastos, 2012). Como explica Hélder Bastos num dos seus artigos, “ O rigor na verificação dos factos foi outro dos pilares diluídos.” E com ele trouxe a insegurança, a incerteza e a banalização do jornalismo como hoje o conhecemos. O jornalista de 2015 já não tem tempo para confirmar primeiro os factos junto das fontes, pois ser o primeiro a anunciar o acontecimento tornou-se mais importante que assumir a veracidade do que é dito, “Dar primeiro e confirmar depois tornou-se, nos piores casos, um postulado pernicioso em voga.” (Bastos, 2012). Assim, este novo jornalista, cada vez mais multifacetado, “ (…) deixou de ser o gatekeeper para ser um gatekeeper entre muitos outros”. Como já se previa, os jornalistas têm, obrigatoriamente, que se reinventar, uma vez que o modelo open source encoraja à participação do cidadão na vida ativa da atividade jornalística, o que por si só compromete a credibilidade e qualidade das notícias, mas que se for acompanhada pela triagem e filtragem dos jornalistas com competências específicas para a função, irá promover este novo tipo de jornalismo sem comprometer a atividade jornalística no seu todo. Assistimos assim ao novo tipo de jornalista como “monitorizadores do portal de informação que é a web” (Bastos, 2012). Mas não é suficiente que seja um moderador, pois apesar de ser uma função que existe grande capacidade de atenção pelo facto de ter mil e umas tarefas pendentes, ainda é necessário que seja dotado de competências relacionadas com a multimédia desde HTML, edição de som, vídeo, imagem, entre outras. “As prioridades destes profissionais tendem a ser de outra natureza, mais virada para a valorização de factores, que poderíamos designar de curto alcance, relacionados com a instantaneidade, a adaptação e tratamento de conteúdos, a formatação, a distribuição multiplataforma, a monitorização, a concorrência e a produção multimédia” (Bastos, 2012). Apesar de ser um moderador e incentivar a troca de opiniões, o jornalista não pode perder o foco de que é um disseminador da informação e tendo a sua autonomia, deve ser objetivo naquilo que faz e escreve. O facto de os jornalistas actuais não estarem totalmente dotados “entre aptidões técnicas de ponta e qualidades jornalísticas tradicionais e muitas vezes acompanhado, e agravado, pela incipiente consciência ética

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e deontológica (…)“ faz com que se desmorone o papel de gatekeeper do jornalista. (Bastos, 2012).

Instantaneidade: diminuição da credibilidade “É correto ser o primeiro, mas primeiro é preciso estar correto” (Alves, 2011). Nunca uma citação caracterizou tão bem os tempos que são vividos. E no que diz respeito ao jornalismo, Alves não poderia estar mais correto. Não basta dar notícias em primeira mão e com isso ganhar mais leitores. É preciso que as notícias sejam verdadeiras, pois se forem falsas, os juízos morais são demasiado elevados e o preço a pagar não tem como ser medido. Mas como é que aferimos a credibilidade nos cibermeios? Para responder a esta pergunta, irei apoiar-me em Alexander & Tate. Assim sendo, para que se aferir a credibilidade de uma notícia, devem-se usar os seguintes critérios: 1) Autoridade. Isto é, quem é o autor do artigo/notícia e qual o seu background? A sua experiência profissional e académica permite-nos ter uma visão diferente sobre a notícia. Se for escrita por um estudante terá, certamente, aos nossos olhos, menos valor, do que aquela escrita, por exemplo, pelo José Rodrigues dos Santos. 2) Objetividade. Há que ser preciso nos factos e nunca subjetivo. Deveremos ter sempre presente a pirâmide invertida. Como? Quem? Onde? Quando? Entre outros. 3) Atualidade. Esta notícia interessa para o contexto atual do País? Terá valor para ser classificada como notícia? Qual o valor informativo da mesma? 4) Cobertura. Se somos nós que damos a notícia ou se é fornecida por parte de outra agência noticiosa ou uma fonte sem credibilidade. Mas também, como já foi referido anteriormente, a ausência de um modelo de negócio sólido que sustente um novo jornalismo de qualidade é responsável pelas incertezas que se fazem sentir. E este jornalismo instantâneo deve-se ao facto de as redações estarem cada vez mais reduzidas com os despedimentos coletivos dos jornalistas mais experientes, e além disso os que ficam não têm capacidade para dar resposta e ao mesmo tempo fazer um jornalismo de qualidade, “abrangente e proporcionado” (Kovach & Rosenstiel, 2004). Muitas das notícias são agora difundidas em primeira mão nas redes sociais, pelos denominados “jornalistas-cidadãos”.

E assim, há uma perda do controlo da Página 7 de 15


disseminação das notícias pelos jornalistas, que tentem, no mínimo, ser o primeiro meio de comunicação a divulgar essa informação. Por outro lado, a febre do empreendedorismo que se fez sentir nos últimos anos, levou a que se criassem plataformas “open source”, como o caso da Blasting News, onde qualquer cidadão pode escrever artigos e partilhar com a sua rede, sem supervisão, incentivado por prémios monetários, tendo em conta a popularidade das suas publicações. “ Há nos media online uma maior proximidade entre informação e entretenimento e essa proximidade pode afetar a credibilidade da informação.” (Bastos, 2010). A credibilidade muitas vezes também está relacionada com o facto de algumas notícias partilhadas não serem propriamente notícias, uma vez que os meios de comunicação social usam os seus websites para efeitos de publicidade, através de campanhas de Google Adwords e Google Adsense, vendendo os seus espaços, quando, em muitos casos, não são publireportagens. “ (…) Alguns média utilizam os seus sites apenas para efeitos de promoção e marketing (…) “ (Bastos, 2010). No estudo realizado em 2010, por Hélder Bastos, ciberjornalistas portugueses, 92,4% dos 67 ciberjornalistas inquiridos acreditam que o mais importante nesta atividade profissional é “publicar informação o mais rapidamente possível”. E o menos valorizando, surpreendentemente, é “interagir com os leitores/utilizadores”.

Qualidade Quando abordamos o tópico da credibilidade e associado ao mesmo estão factores negativos, isso irá influenciar a qualidade das notícias em causa, pois aquilo que não é credível, não tem qualidade. Contudo para analisar e avaliar a qualidade das notícias/publicações há um conjunto de critérios por vários autores, mais ou menos extensos, que nos permitem ver tudo de um diferente prisma. Para Salaverría há um conjunto de critérios que permite avaliar a qualidade do ciberjornalismo, e que são os mesmos do jornalismo: 1) Precisão. Se a notícia incide no ponto fundamental da questão e não é demasiado abrangente. 2) Imparcialidade. Se toma um partido ou não e analisa a notícia numa visão exterior. 3) Rapidez. Está relacionado com a instantaneidade, se consegue um exclusivo e/ou ser o primeiro a dar a notícia. 4) Correção. Se está disposto a admitir quando erra, nem que seja necessário Página 8 de 15


publicar no dia seguinte um pedido de desculpas pela informação errada. 5) Originalidade. Se não copia notícias na integra de outros órgãos de comunicação social (o mítico copy/paste). 6) Estilo. Relacionado com o estilo jornalístico. Além destes, enumera outros que são exclusivos do ciberjornalismo. São eles: 7) Multimédia. Cada vez mais usado no online, uma vez que permitem criar uma maior interação e pecar pela originalidade. Permitem criar slideshows e/ou vídeos. 8) Hipertexto. Permite a criação de notícias apoiadas em notícias anteriores, criando assim uma timeline na história dos acontecimentos que permite conhecer histórias a fundo, caso estas sejam provenientes de terceiras. 9) Interatividade. Os jornalistas desconhecem por completo que o enorme potencial da Internet reside nesta característica. O facto de os utilizadores poderem comentar e partilhar a notícias gera uma onda de divulgações que pode tornar a notícia na mais vista do dia, em apenas minutos. Para Fernando Zamith (2013) há um conjunto de critérios mais denso que permite avaliar a qualidade e credibilidade do ciberjornalismo. Entre essas características destacam-se: 1) Autoridade. 2) Precisão. 3) Objetividade. 4) Atualidade. 5) Cobertura. 6) Ética. 7) Contextualização. 8) Exploração. 9) Verificação/confirmação. 10) Correção. 11) Contraditório. 12) Hipertextualidade. 13) Multimedialidade. 14) Interatividade. 15) Instantaneidade. 16) Ubiquidade. 17) Memória. 18) Personalização. 19) Clareza. 20) Usabilidade. 21) Reconhecimento. E o facto de as redações terem diminuído drasticamente e os jornalistas de imprensa, sem experiência nenhuma em ciberjornalismo, foram reencaminhados para essas redações digitais, levou a que o preço a pagar fosse demasiado alto, e segundo Hélder Bastos, “ (…) foi o declínio da qualidade e da profundidade.” (2012). E sabendo que “a sua equipa não está preparada a nível técnico, para aprofundar-se no ciberjornalismo, e mesmo querendo cada vez mais leitores, investem pouco na formação e na equipa”. (Canavilhas, 2006a).

Interação Bordewijk e Van Kaam (1986) caracterizam a interatividade como algo conversacional, onde há interação humana, onde se faz nos dois sentidos. Já para Rost (2012) é completamente diferente. Há uma interatividade seletiva, indivíduos e máquinas, ou a interatividade comunicativa, entre indivíduos. E uma última, que é a fusão das duas primeiras, interatividade seletiva e comunicativa. Página 9 de 15


Como pode o ciberjornalista tirar partido da Internet, se num estudo feito por Hélder Bastos, no seu artigo “Ciberjornalista portugueses”, em 2010, concluiu que apenas 12,1%, de 67 ciberjornalistas inquiridos, interagem com utilizadores/audiência, e apenas 16,7% fazem gestão de fóruns online? Ainda nos primórdios iniciais da Internet, Lasica (1996) afirmava que a mesma “não é um megafone. A internet é conversação”. Só que, em 2015, muitos ciberjornalistas ainda não entenderam esse potencial, ou dão-se ao luxo de o ignorar. Mas a Internet, se não for utilizada corretamente, não é nada mais, nada menos, que um canal de comunicação como a televisão ou a rádio. Isto é, unidirecional. Deve ser o jornalista a tirar partido deste meio, através da interação com os seus utilizadores, pois será mais fácil “fideliza-los” a manterem-se em contacto diariamente naqueles blogs e websites, se o jornalista fomentar a discussão e a conversa. “O uso de máquinas e das suas aplicações não é, em si próprio, interativo. (…) As máquinas não podem produzir ou partilhar significado num sentido restrito. Mas, indubitavelmente, elas podem mediar – e facilitar ou impedir – comunicação interativa.” (Schultz, 1999). À medida que a interação aumenta e os discursos se cruzam entre os diversos utilizadores, cabe ao jornalista ser o moderador dos discursos, por exemplo, através de perguntas e ir reportando atualizações constantes. “A interação com os leitores torna-se parte integrante da notícia, à medida que esta evoluir” (Kovach e Rosenstiel, 2004). O jornalista assume o papel de gestão de informação, pondo-a organizada ao dispor da sua audiência. “O novo jornalista já não decide o que o público deve saber. Ajuda-o, antes, a ordenar a informação”. (Kovach e Rosenstiel, 2004). Contudo, como foi dito anteriormente, os ciberjornalistas portugueses parecem desconhecer a importância da interação neste estilo jornalístico e que daí derivam os melhores resultados. “A questão da interatividade, já identificada como ponto fraco em estudos precedentes, é uma das que permite verificar com maior nitidez os limites da prática ciberjornalística portuguesa.” (Bastos, 2010). E o facto de ainda não se ter encontrado um modelo de negócio capaz de fazer face aos avultados investimentos, é outro problema que compromete diariamente o ciberjornalismo em Portugal.

Conclusão A profissão que é o jornalismo tem cada vez mais vindo a encontrar pedras no caminho e o modelo de negócio para o sustentar é cada vez mais difícil de conceber, pois as fontes de informação gratuitas proliferam a uma velocidade estonteante, mesmo que Página 10 de 15


nem a qualidade se assemelhe. “Os ciberjornalistas portugueses estão também numa certa dessintonia com aquilo que é tradicional e historicamente valorizado no jornalismo, como descobrir a verdade (investigação), vigiar os poderes institucionais (…) ou influenciar a opinião pública.” (Bastos, 2010). As audiências habituaram-se a ler títulos e cada vez menos pessoas leem jornais, pois encontram facilmente aquilo que está nos jornais, partilhado nas redes sociais, sem que isso tenha custos e sem que tenham que ler artigos estonteantemente grandes. Mas os (ciber)jornalistas, aqueles que têm o poder de inverter a direção, preferem a redação digital, sendo que cada vez menos procuram as notícias. “O ciberjornalismo português tende a ser uma ocupação de “secretária”” (Bastos, 2010). Além de estarem confinados a uma redação e à Internet, durante todo o dia, são cada vez menos, para cada vez mais tarefas, e tarefas que têm que ser executadas da forma mais rápida, uma vez que a competitividade está cada vez maior e o que importa mesmo é dar notícias, sendo que a veracidade pode ficar para se comprovar depois. Além de confrontados com cada vez mais tarefas, cada vez menos ciberjornalistas nas redações, têm a obrigatoriedade de aprender a manusear novas ferramentas, desde o vídeo, imagem, som, entre várias outras, sendo cada vez mais multifacetados, pois o processamento de texto, apesar de continuar a predominar, vai perdendo força para o vídeo e para as imagens, que são possíveis de se introduzirem no ciberjornalismo. “O jornalista da próxima década será um jornalista multimédia (…) “ (Ayerdi, 2003). “Numa era em que qualquer pessoa pode ser repórter ou comentador na web, ‘passamos a dispor de um jornalismo bidirecional’, sugere Seeley Brown. O jornalista transformase em ‘líder de um fórum’ ou em mediador, deixando de ser simplesmente um professor ou conferencista. Os leitores transformam-se não em consumidores mas em ‘prossumidores’, uma forma hibrida de produtor e consumidor.” (Kovach e Rosenstiel, 2004). Em suma, a verdade é uma, a instantaneidade que os jornalistas tentam levar ao ciberjornalismo está a comprometer o jornalismo propriamente dito, a aniquila-lo aos poucos, uma vez que o sentido informativo das notícias é cada vez menor, e a sua credibilidade e qualidade também.

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