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DANIEL BESSA
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Conselho Consultivo da ATP
“SOU FÃ DO MODERNO P 12 A 14 "NO FUTURO PRIVATESÓ ERRAMOS LABEL” SE FORMOS CEO da Dielmar
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DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS
EMERGENTE
MÁRCIA NAZARETH VESTE AS PESSOAS COM FOTOGRAFIAS P 25
PERGUNTA DO MÊS
QUE NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO PARA A TÊXTIL? P4E5
DOIS CAFÉS E A CONTA
SÓNIA PINTO A GESTORA NÓMADA DO MODATEX P6
MODTÍSSIMO
SEM MÂOS A MEDIR NA ALFÂNDEGA VOLTA AO AEROPORTO
ANA PAULA RAFAEL
"Investir em marcas exige muito dinheiro e riscos acrescidos”, alerta Bessa
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FOTO: RUI APOLINÁRIO
TOLOS"
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CORTE&COSTURA
EDITORIAL
Por: Júlio Magalhães
Por: Manuel Serrão
Anabela Baldaque 52 anos A Designer de Moda nasceu em Vizela, mas vive no Porto desde a sua infância. Tirou o curso de Estilismo e Modelismo na Gudi, em 1983, quando existiam apenas duas escolas de moda. Para aprender mais teve de ir até Paris, onde o seu empenho lhe valeu um estágio em Florença com Emilio Pucci. Adora andar descalça, brincar com o neto Pedro, receber flores e rir!
ITV: QUANDO NASCE É PARA TODOS Textiles everywhere... and for everybody. À divisa que o Citeve promoveu no último Modtíssimo, do têxtil que está em todo o lado, eu ainda acrescento que o têxtil é para todos. Como o Sol, que quando nasce é para todos, também o têxtil nos dias de hoje veste ou satisfaz necessidades de toda a gente. Não é fácil encontrar um tipo de produto que esteja tão omnipresente nas nossas vidas pessoais e profissionais como o têxtil. Sendo esta uma das razões da sua longevidade é também a resposta que muitos encontraram (encontram) para prosseguir os seus negócios e a sua indústria, sem sair do setor, quando alguns produtos tradicionais deixam de ser competitivos. Lembrei -me de tudo isto na 2ª feira em que o protesto dos taxistas tradicionais contra os Uber atropelou a minha estada na capital. A estória é a mesma, porque a História se repete muitas vezes . Por um lado, é preciso inovar e não deixar que os nossos produtos/ serviços deixem de ser competitivos nos mercados em que estamos, mas por outro lado é preciso protestar quando nos querem impôr concorrência desleal. Porque os grandes senhores da família têxtil nunca foram gente de pôr os seus no meio da rua a berrar insultos, apedrejar os discordantes e atazanar a vida a meio mundo alheio à querela, é que as cedências de toda a ITV nos anos da adesão à CEE e seguintes continuam na coluna dos créditos a favor da têxtil, sempre que alguma nova questão salta para cima da mesa. Aqui no T permaneceremos atentos e vigilantes. Namoraste com Vizela e casaste com o Porto ou não há amor como o primeiro? Sim casei com o Porto - e voltava de novo a casar. Gosto muito desta alma que o Porto tem escondida, da criatividade espontânea que anda à solta.
coleção para amigos. Os santos da casa não fazem milagres. A marca cresceu porque a cultura de moda dos portugueses está a passar por vestir português. E sem grandes holofotes, Baldaque brilha e faz as mulheres ficarem mais elegantes e bonitas.
Ter uma loja na Foz é como ter uma loja no Bairro Alto em Lisboa, ou a tua "onda" é diferente? Ter uma loja na Foz, já lá vão 15 anos, foi com a intenção de quem quer a marca ir á procura e descobrir, além dos vestidos, um bairro e os cheiros únicos onde o mar se junta com o rio e se deteta sem misturas o que é um e o que é o outro. Abrir loja no Príncipe Real, em Lisboa, é também uma descoberta, temos de a procurar - só isso já é uma onda diferente não é? Sou uma rapariga discreta.
Quando desfilaste a primeira coleção no Portugal Fashion pensaste: sou uma estrela ou meti-me em boa? Ou o quê? O meu primeiro desfile inserido no Portugal Fashion foi quando da vinda das top model, Claudia Schiffer, Elle Macperson, Helena Christensen e Carla Bruni. A minha situação foi mais “ou o quê?”.... só no dia seguinte acordei e fiquei histérica com todos os aplausos que recebi, as críticas que os jornais me deram, o enorme destaque que a MTV me deu. Mas fiquei mesmo , o quê?… aquelas mulheres vestiram a minha roupa...Uau!
Quando uma estilista passa a desenhar para uma marca industrial, é como se perdesse a virgindade? Quando comecei, trabalhei na indústria e acho que devemos passar sempre por lá.
Sem raízes familiares no mundo dos têxteis , teria sido sempre estilista ou podias ser hoje uma bela engenheira civil? Seria sempre estilista. Hoje voltaria a ser estilista.
Os consumidores portugueses acham que os criadores já não fazem só roupa para os amigos, ou a Anabela Baldaque nunca foi uma coleção dessas? Na verdade a marca "Anabela Baldaque" nunca foi uma
Fazes parte integrante da moda portuguesa ou não há uma "moda portuguesa"? Sim, há uma moda portuguesa, sendo que a moda é global e a meu ver cada vez mais deveria ser individual :-).
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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Paulo Vaz Diretor: Manuel Serrão Sede: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Juliana Duque Telefone: 927 508 927 mail: jd.tdetextil@atp.pt Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Multitema Morada: Rua do Cerco do Porto, 365 - 4300-119 Porto
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“Vamos precisar de continuar a trabalhar para terceiros, mas tem de haver um maior equilíbrio entre as vendas de private label e marca própria”
PERGUNTA DO MÊS Texto de Raposo Antunes Ilustração de Tiago Lourenço
Pedro Pinto International Sales & Brand Development Manager da Dielmar
QUE NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO PARA A FILEIRA TÊXTIL? Tome pf nota do seguinte: as vendas online vão continuar a crescer; digitalizar todos os processos é o primeiro mandamento da nova Revolução Industrial, que abriu a porta à industrialização da costumização; o princÍpio de Lavoisier (na Natureza nada se cria tudo se transforma) virou moda e não podia estar mais “on fire"; ter marca e lojas próprias é uma aposta cara e arriscada mas, em caso de sucesso, compensa largo
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digitalização de todos os seus processos é um passo obrigatório para qualquer negócio, que nunca pode esquecer a importância das novas tecnologias de informação - é assim que Paulo Vaz, diretor-geral da ATP, lança a discussão sobre os novos modelos de negócio para a fileira do têxtil, o tema do XVIII Fórum Têxtil. Antecipando o debate de dia 19, no auditório do CITEVE, passamos em revista o estado da nação ITV em quatro áreas - vendas online, industrialização da costumização, economia circular e marcas e cadeias de retalho por onde passará o futuro da nossa indústria. “Essas quatro áreas são, de facto, as mais evidentes e estão identificadas na realidade industrial portuguesa”, sublinha Paulo Vaz, acrescentando que “há seguramente outras que ainda não têm expressão ou ainda não foram detetadas”. Vendas online “As economias mais avançadas estão a apostar fortemente nas vendas online”, diz o diretor-geral da ATP, acrescentando que, num prazo de cinco a dez anos, o comércio eletrónico representará “mais de metade das vendas das empresas”. A portuguesa Farfecht é apontada como um exemplo farol do que poderá ser o futuro comércio electrónico. “Vale mais de mil milhões de euros e este ano as vendas deverão andar na casa dos 450 milhões. Tudo digital”, diz. José Neves, um empresário portuense, desenvolveu um site que permite aos utilizadores comprar roupa e acessórios de luxo de mais de 300 lojas multimarca. No ano passado, a Farfecht faturou quase 300 milhões de euros. Este ano quer ultrapassar os 450 milhões. A empresa funciona como uma espécie de ponte entre uma audiência global e lojas de todo o mundo. Por exemplo, uma cliente em Lisboa pode comprar com facilidade um
vestido numa loja de Hong Kong ou Los Angeles e receber a encomenda em sua casa. A Farfetch trata de tudo. O mais comum continua a ser, no entanto, a coexistência de lojas físicas com as vendas online. Joana Ribeiro da Silva, administradora da Sonae SR, assegura que “o online tem crescido de forma incrível nos últimos anos”. E dá os exemplos da Zippy e da MO que lançaram os seus sites online há cerca de um ano “e as vendas têm superado as melhores expectativas”. Já Paulo Coelho Lima, administrador da Lameirinho, sublinha que o grupo já está nos sites da Amazon e da La Redoute. ”Começamos há dois anos. Os resultados são muito animadores. A loja online derruba todas as limitações geográficas à nossa expansão internacional. Sentimos que mais do que uma loja esta vai ser ‘a loja’”, diz. Para Ana Sousa, criadora da marca homónima, as vendas online “têm sido uma grande surpresa”: “O investimento inicial não foi barato, mas desde que a abrimos, há dois anos, a loja online é a que mais cresce em termos percentuais, tem custos mais reduzidos e permite-nos vender para mercados como a Austrália ou o Canadá, onde não estamos fisicamente”. Industrialização da costumização Ainda circunscrita ao vestuário tradicional, no modelo de negócio da industrialização da costumização, o fundamental, de acordo com Paulo Vaz, “é ter tecnologia que suporte tudo isso na relação com o cliente”. A Crialme, empresa de Paredes que diariamente faz 600 fatos por medida, de uma forma robotizada, é um dos exemplos luminosos da industrialização da costumização. Mas há outros casos de sucesso como a Dielmar. Pedro Pinto, International Sales & Brand Manager da empresa de Alcains, explica o processo: “Cada cliente começa por ter uma pequena
formação para preencher a sua ficha de medida. Depois escolhe o tecido, a cor, o forro, os botões, a cor debaixo da gola do casaco e dos bolsos”. Tudo isto pode ser feito numa loja física ou na Internet. No final, o cliente tem uma peça única com o seu nome. E não havendo alterações significativas de peso pode fazer o seu pedido de fatos em qualquer altura ou ponto do mundo. Pedro dá o exemplo do presidente de uma multinacional, baseado no distrito de Aveiro, que ia fazer uma viagem de negócios a África. Cliente da Dielmar, que tem as suas medidas em arquivo, bastou-lhe telefonar a encomendar os fatos - que mal acabaram de ser confecionados lhe foram prontamente entregues em casa. Robert Sherman, embaixador dos EUA em Lisboa, já declarou que continuará cliente da Dielmar quando regressar a Boston no final da sua missão no nosso país, encomendando os fatos pela internet. A Dielmar tem apenas uma máquina para a chamada customização, daí que a produção esteja limitada a 70 fatos por dia. “Nesta área, o volume de negócios ainda representa pouco,
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“Num prazo de cinco a dez anos, o comércio eletrónico representará mais de metade das vendas das empresas”.
Joana Ribeiro da Silva Administradora da Sonae SR
Maria José Carvalho Diretora de Produção Sustentável do CITEVE
Economia circular Reciclar, reciclar, reciclar é palavra de ordem da chamada economia circular. José Morgado, diretor do Departamento de Tecnologia e Engenharia do CITEVE, resume este modelo de negócio a uma ideia simples: “Pegamos em resíduos de um determinado produto que depois são transformados em produtos diferentes”. A H&M foi uma das primeiras grandes cadeias de distribuição
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“O online tem crescido de forma incrível nos últimos anos”
“Usar recursos mínimos; produzir o mínimo possível de resíduos”
mas estamos sempre em overbooking. A nível internacional verifica-se um boom na procura do fato por medida”, esclarece Pedro Pinto, acrescentando que 25 dias é o tempo médio entre a chegada do pedido e a entrega do produto, que nesta modalidade custa mais 40% que o pronto a vestir. Para Paulo Vaz, o salto em frente da customização será quando este modelo chegar ao sportswear. “Há já empresas a estudar essa possibilidade, que quando acontecer será uma verdadeira revolução no negócio”.
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Paulo Vaz Diretor-geral da ATP
a fazer surf em cima da onda da moda verde e sustentável ao lançar uma campanha de recolha de roupas usadas, na sua rede de lojas, dando em troca um vale de desconto numa compra futura, quem sabe se já fabricada com fibra reciclada. “Usar recursos mínimos; produzir o mínimo possível de resíduos”, é frase usada por Maria José Carvalho, Diretora de Produção Sustentável do CITEVE, para explicar a alma da economia circular. O aproveitamento dos resíduos da têxtil não é uma
novidade. A Recutex já o faz em Famalicão, desde que iniciou em 1968 a sua atividade industrial “Não é um negócio novo. Agora com as questões da sustentabilidade ganhou uma maior importância”, acrescenta Maria José. Os resultados da reciclagem de resíduos têxteis transbordam o setor. Muitos dos novos produtos são utilizados como isolamento térmico ou acústi-
co na construção civil. Servem também para papel de algodão ou telas para pintar. Outros desses têxteis reciclados são usados como suporte de jardins verticais ou de plantas aromáticas usadas na gastronomia. E até na agricultura como base de estufas para fazerem retenção de águas, utilizando-se aqui fibras com grande capacidade de absorção. Albertino Oliveira, da Sedacor (um grupo constituído por quatro unidades de produção, três em Santa Maria da Feira e uma no Alentejo), fala na estratégia vertical da empresa que vai desde a floresta (sobreiros) ao produto final. Quase 100% do produto que utilizam é o pó de cortiça que é depois transformado em tecidos, revestimento
e isolamento de paredes. A utilização nos têxteis é não só para o vestuário, mas também para almofadas, coberturas de cama ou de mesa. Mais de 80% do que produzem é exportado para 50 países. Marca própria e cadeias de retalho A aposta em marca própria e numa cadeia de lojas com presença internacional é um caminho que ainda poucas empresas da ITV começaram a trilhar. Paulo Vaz elege a Parfois, com 600 pontos de venda em todo o mundo, como uma exemplo a seguir e um caso a estudar. “Com um mercado interno curto e anémico, a ITV soube dar o salto em frente e hoje exporta mais de 75% do que produz. O passo seguinte é a afirmação internacional das nossas marcas”, diz o diretor-geral da ATP, acrescentando que se contam pelos dedos das mãos os exemplos de marcas portuguesas que atravessaram as fronteiras - Salsa, Tiffosi, Ana Sousa e Lion of Porches, Ziippy, Mo. “A deficiente aposta em marcas próprias é um dos calcanhares de Aquiles da nossa ITV”, afirma Pedro Pinto, dando como exemplo o facto da Dielmar ser uma das poucas marcas portuguesas de vestuário masculino tradicional que se apresenta nas feiras internacionais. “Vamos precisar de continuar a trabalhar para terceiros, mas tem de haver um maior equilíbrio entre as vendas de private label e marca própria. O que implica apostar em feiras, designers, modeladores e grandes stocks de tecidos. E o país tem de identificar o que quer vender lá fora - têxteis e calçado, serão seguramente. Mas para isso é necessário investir em publicidade e marketing. E não faz qualquer sentido que seja vedado às empresas com mais de 250 trabalhadores o acesso aos fundos do Portugal 2020 para a promoção externa”.
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DOIS CAFÉS & A CONTA Por: Jorge Fiel e Carolina Guimarães
Restaurante de Serralves Rua D. João de Castro 210 4 450-158 Matosinhos
FOTO: RUI APOLINÁRIO
Entradas: Tomate com mozarella e sopa Pratos: Filetes de peixe com salada russa Sobremesa: Bolo de chocolate Bebidas: Porca de Murça (branco), água e cafés
A GESTORA NÓMADA Até parece que tem bichinhos carpinteiros. Sónia não pára. Ao nascer do dia de 2ª feira sai de casa, em Coimbra, com uma mala na mão, o saco da ginástica na outra e mochila com o portátil (“É o meu posto de trabalho“, explica) e inicia uma semana em que percorrerá o país de norte a sul e de leste a oeste. É assim a vida dela. Anda numa roda viva desde o dia em que, há mais de cinco anos, aceitou a empreitada de ser a diretora geral do Modatex, o centro de formação profissional, nascido da fusão do Civec, Citex e Cilan. A semana até pode começar no Porto,
onde está a sede, mas é fatal como o destino que da agenda vão constar deslocações a Lisboa e à Covilhã, onde o Modatex tem delegações, à Vila das Aves e Barcelos, onde tem pólos ativos - ou, ainda, a Paredes, Marco de Canaveses, Santo Tirso, Lousada ou outros santuários da ITV onde o centro tem ações de formação em curso. “É difícil encontrar monotonia na minha agenda. E não é que, de vez em quando, eu não gostasse que ela existisse”, ironiza a diretora-geral do Modatex, que escolheu almoçarmos no Museu de Serralves, uma das suas cantinas quan-
Sónia Pinto
39 ANOS DIRETORA-GERAL DO MODATEX Nasceu em Oeiras, mas cresceu no Cacém, Sintra. A especialização em Recursos Humanos do curso de Economia (ISCTE, 1999) abriu-lhe as portas do mundo da Formação Profissional, onde entrou através de um estágio curricular no CINEL (o centro da indústria elétrica). A vocação confirmou-se logo no primeiro emprego, no Departamento de Formação Profissional dos Serviços Centrais do IEFP, em Xabregas, onde as suas capacidades de liderança logo deram nas vistas: dois anos depois estava a chefiar uma equipa. O primeiro contacto com a ITV foi em 2003, como vogal do Civec, que passou a dirigir em 2009. Quando há cinco anos, os três centros de formação profissional do setor deram origem ao Modatex, ela estava na pole position para ajudar o recém-nascido a dar os primeiros passos. Sónia tem um filha de nove anos, a Leonor, e há 12 anos mudou para Coimbra o centro de gravidade da sua vida pessoal
do está no Porto - as outras são a Cufra e o restaurante da AEP, que também ficam a uma distância a pé da sede do centro, localizada numa perpendicular da Marechal Gomes da Costa. “Não podia sempre estar fechada no meu gabinete, que aliás está sempre com a porta aberta”, esclarece Sónia, que empurrou a refeição (em que não dispensou a sopa) com um copo de branco e comentou “Pode não parecer, mas eu como muito bem” (e tem razão, não parece nada) quando surpreendeu o nosso olhar no pedacinho de bolo de chocolate com que acompanhou o café. Na gestão on the road que faz do Modatex, sempre que pode viaja de comboio, aproveitando a viagem para descansar ou trabalhar. Mas quando é indispensável recorre a um dos carros do centro. “Uso o que estiver disponível. Sou adepta de uma gestão de proximidade. Todos os dias falo ao telefone com todos os responsáveis do centro”. O desafio de pôr o Modatex de pé não era simples. “Eu queria construir algo de novo e único, com cultura e alma próprias, não a soma dos três centros”, recorda Sónia, que não esconde o orgulho pelos frutos do seu trabalho, que começaram a ver-se logo seis meses após a constituição do centro, quando ele foi auditado pela APCER e obteve a certificação de qualidade. Os números estão aí a fazer a prova dos nove da eficácia da sua gestão. Em 2015, mais de 14 mil pessoas receberam 1,2 milhões de horas de formação, de um catálogo de cerca de 100 cursos e workshops disponibilizados pelo Modatex, onde se incluem ações por medida a pedido das empresas e podem ser dadas nas fábricas. “Este ano, em Agosto, já íamos nos 10 mil formandos e mais de 900 mil de horas de formação”, acrescenta Sónia, com uma cara que se ilumina quando refere que o custo/hora no ano passado foi de 5,64 euros (em 2009 eram 10 euros). Mas não são só rosas. Também há espinhos. Apesar da imagem da ITV ter melhorado, ainda não é fácil arranjar desempregados em número suficiente para viabilizar cursos de formação pedidos por empresas que sofrem com a falta de mão-de-obra especializada. Mas esta contrariedade não chega para abalar o otimismo de Sónia uma gestora nómada, que acaba de obter o grau de mestre em Administração Pública pela Universidade de Coimbra, com uma tese sobre o Modatex.
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2. FEITO O CHECK IN, VIRANDO-SE À ESQUERDA DEPARAVA-SE COM OUTRA NOVIDADE, A ARTE TÊXTIL, UMA EXTENSÃO DA BIENAL CONTEXTILE…
FOTOSINTESE
1. SURPRESA! AO ENTRAREM NA ALFÂNDEGA, OS EXPOSITORES E COMPRADORES DERAM POR ELES NUM AMBIENTE DE AQUÁRIO. MAS, POR FAVOR, NÃO FAÇAM CONFUSÃO - SE HÁ COISA QUE O MODTÍSSIMO NÃO METEU FOI ÁGUA
SEM MÃOS A MEDIR NO MODTÍSSIMO 48
Não é só o Porto que está na moda. A moda também está no Porto e isso muito por culpa da Porto Fashion Week, um conjunto de iniciativas (Night Out, concurso fotográfico Fashion People, Fashion Film Festival…) apadrinhadas pelo Modtíssimo, que completou na Alfândega a edição 48, marcada por recordes de expositores e compradores, que rimam com o bom que a ITV vive. Para Fevereiro está já agendado o regresso ao aeroporto. Não há mãos medir. Let’s fly again!
5. NÃO BASTA SABER FAZER, É PRECISO FAZER SABER - E ESSA É A MISSÃO DA CAMPANHA FASHION FROM PORTUGAL
6. MUITA GENTE, ALGUMA BARAFUNDA, N REUNIÕES, POUCO DESCANSO… MAS UMA FEIRA QUE SE PREZE É ISSO MESMO. O MODTÍSSIMO NÃO É UM RETIRO ZEN
10. MUITA GENTE ADERIU À 2ª EDIÇÃO DA NIGHT OUT, CORRESPONDENDO AO FACTO DE TEREM TRIPLICADO OS ESPAÇOS COMERCIAIS A OFERECEREM DESCONTOS IRRESISTÍVEIS
11. MUITAS CARAS BONITAS E SATISFEITAS NUMA NOITE QUE, MAS IMEDIAÇÕES DO PASSEIO DOS CLÉRIGOS, LEMBRAVA A DE S. JOÃO
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4. …PARECE DE COURO, MAS NÃO É. PRODUZIDO PELA SEDACOR, USANDO CORTIÇA E ALGODÃO COMO MATÉRIAPRIMA, ESTE CASACO FOI O GRANDE VENCEDOR DO INOVATÊXTL
3. …VIRANDO-SE À DIREITA O ESTADO DA ARTE NA INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA, O ITECHSTYLE INNOVATION BUSINESS FÓRUM, RESULTADO DA PARCERIA COM O CITEVE
8. A PRIMEIRA COISA QUE JOÃO VASCONCELOS, SECRETÁRIO DE ESTADO DA INDÚSTRIA, FEZ MAL CHEGOU À ALFÂNDEGA FOI INTEIRAR-SE NO T (ONDE TINHA UM ARTIGO PUBLICADO) DO PENSAMENTO DE PAULO MELO
9. O MODTÍSSIMO É O PAI E A ÂNCORA DA PORTO FASHION WEEK, QUE COMPREENDE O CONCURSO FASHION PEOPLE. CASSIANO FERRAZ GANHOU A CATEGORIA PROFISSIONAL COM ESTA FOTO
7. O FÓRUM NOVOS TALENTOS DEMONSTROU QUE NÃO HÁ QUE TER MEDO: O FUTURO NÃO VAI DEMORAR A CHEGAR
13. COM O FILME “ANTHROPOS”, A BRASILEIRA RENATA SETE VENCEU O PRÉMIO DE MELHOR REALIZADORA NA CATEGORIA INTERNACIONAL DO PORTO FFF
12. A IMPAGÁVEL RITA BLANCO FOI A DIVERTIDA ANFITRIÃ DA ENTREGA DE PRÉMIOS DO FASHION FILM FESTIVAL (FFF), NO TERMINAL DE CRUZEIROS DE LEIXÕES
14. PRÓXIMA PARAGEM: AEROPORTO SÁ CARNEIRO, DIAS 15 E 16 DE FEVEREIRO. AH, E SE FOR EXPOSITOR FAÇA A SI PRÓPRIO O FAVOR DE SE APRESSAR A INSCREVER, POIS O ESPAÇO DISPONÍVEL NÃO É ILIMITADO
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VILAS BOAS RECUPERA FÁBRICA DA FILOBRANCA O presidente da Câmara de Famalicão, Paulo Cunha, inaugurou a 2ª fábrica da Érius em Riba d’Ave, Famalicão, que implicaram um investimento de dois milhões de euros do grupo Valerius, liderado por José Vilas Boas Ferreira e com centro de gravidade em Barcelos. A nova fábrica ocupa as antigas instalações da Filobranca, adquiridas há dois anos pelo grupo Valerius que conta no seu portefólio com marcas como a Sucre et Sel e a Concreto (comprada à Malhacila), e que, fora da área têxtil, tem a Camport e Ambar. Especialista na conceção e produção de vestuário em malha circular, a Érius exporta 100% da sua produção e fornece marcas de luxo como a Versace, Baldessarini, Diesel, Fendi, Roberto Cavalli, Karl Lagarfeld, Moschino e Tommy Hilfiger.
ERT vai preservar trabalho de Vhils nas instalações da Oliva que adquiriu
ERT COMPRA PARTE DA OLIVA Raposo Antunes
A ERT adquiriu uma parte substancial das instalações da Oliva, em São João da Madeira, onde planeia instalar mais uma unidade fabril, cujo projeto deverá ser discutido e votado na câmara local ainda este mês. A Câmara de S. João da Madeira, que adquiriu há alguns anos a chamada Torre da Oliva (onde funciona um espaço museológico) e dois edifícios para instalar indústrias criativas, tem a garantia da ERT de que será preservado o trabalho que o artista Vhils fez (ver foto) a convite da autarquia, num dos muros da unidade comprada agora pelo grupo de têxteis técnicos ERT. “Nem fazia sentido que assim não fosse, já que a ERT é uma empresa de São João da Madeira e sabe o que nós pretendemos fazer com a recuperação deste espaço”, afirmou fonte da autarquia. De resto, ao que o jornal T apurou, o assunto terá sido abordado num encontro casual, em Hong Kong, entre Vhils e responsáveis da ERT. Esta empresa dispõe também de um dos espaços que a autarquia disponibilizou na Oliva Creative Factory. Tudo somado parece dar a garantia que o
trabalho de Vhils será assim preservado. Quanto ao projeto que o grupo têxtil tem para o espaço que adquiriu (a antiga fundição da Oliva e outros pavilhões industriais, tudo implantado numa área que é atravessada por uma linha férrea e uma estrada interiores) representa quase o dobro em área do atualmente ocupado pelas chamadas indústrias criativas. Esta aquisição representará mais um salto no crescimento da ERT, que se apresenta como um grupo especializado em produtos “para aplicação em mercados competitivos, orientados para estilos de vida urbanos e modernos”. Com presença em Espanha, Polónia, Alemanha, Roménia e República Checa, a ERT emprega 530 pessoas e no nosso país conta com unidades industriais em Felgueiras e São João da Madeira. "O processo envolve a união de vários componentes. Pode ser espuma, malha, PVC, couro, ou o chamado não tecido. A união dos produtos faz o nosso composto", esclarece Manuel Campos, diretor de produção. A indústria automóvel representa 85% dos 76 milhões de euros de faturação deste grupo, que não lida diretamente com as marcas. Os seus clientes são os fornecedores de com-
ponentes (como a francesa Faurecia) para os fabricantes. Os esforços vão no sentido de criar produtos mais sofisticados. A compra de uma parte das instalações da metalúrgica Oliva (empresa referência que deixou de laborar há alguns anos), irá permitir uma espécie de interface espacial com a incubadora de negócios criativos. A Oliva Creative Factory, em São João da Madeira, abriu em Outubro de 2013 com um núcleo de arte. A incubadora de negócios criativos começou a funcionar dois meses depois, em Janeiro de 2014. Em 2015 dispunha de 24 empresas, uma escola de dança, uma cafetaria e perto de 50 postos de trabalho. Constituída em 1925, a Oliva dedicou-se inicialmente à indústria de fundição e serralharia, mas seria como fabricante das máquinas de costura que se expandiu nacionalmente. A laboração continuou durante cerca de 80 anos e as instalações que então ocupava rondavam os 130 mil m2. Algumas das áreas edificadas obedeciam, segundo alguns especialistas, aos princípios funcionais que o prestigiado arquiteto norte-americano Frank Loyd Wright imprimiu em vários edifícios por ele projetados para unidades fabris dos EUA.
MCM: MAIS 35 MILHÕES EM MOÇAMBIQUE A Mozambique Cotton Manufacturers (MCM) anunciou um investimento de 35 milhões de US dólares no aumento da capacidade do seu complexo industrial em Maputo, que inclui fiação, tecelagem tinturaria e confeção.
A Intelec Holdings é o parceiro local das portuguesas Mundotextil, Mundifios e Crispim & Abreu, que são as acionistas de referência da MCM, que trabalha a partir de algodão cultivado no Norte de Moçambique.
Portugal e África do Sul absorvem a totalidade da produção da MCM, que no entanto quer alargar a sua geografia de exportação aos Estados Unidos e outros países da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral).
“A ITV nunca teve uma grande dependência de mercados emergentes, que conheceram profundas quebras, como Angola e Brasil". Paulo Vaz diretor-geral da ATP, ao Expresso
MARC JACOBS É RACISTA POR CAUSA DAS RASTAS?
“Não vejo cor ou raça - vejo pessoas”, disse Marc Jacobs em resposta às acusações de racismo que recebeu por ter usado praticamente só modelos brancas com rastas (na foto Irina Shayk, Gigi Haidid e Kastie Klois) no desfile em que apresentou, em Nova Iorque, a sua coleção primavera/verão 17. Acusado de racismo “apropriação cultural”, Marc comentou achar engraçado não criticarem as mulhres de cor que esticam o cabelo.
ERMENEGILDO ZEGNA COMPRA BONOTTO A Ermenegildo Zegna comprou uma maioria de controle na empresa de tecidos italiana Bonotto. Nos termos do acordo, a família Bonotto manterá 40% do capital da companhia e será responsável pela gestão e direção.
20%
dos portugueses que trabalham na indústria transformadora são do setor têxtil e de vestuário
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X A MINHA EMPRESA
PAULA REGO NA ARTE TÊXTIL
Por: Raposo Antunes
6Dias Têxteis Internacionais
Rua André Resende, n.º 78, lugar da Gandra 4785-189 Trofa
Produto Tecidos, rendas, fazendas, meltons, jacquards, forros em variadas composições Faturação 7 milhões de euros Principais mercados Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Dubai (sendo o maior Portugal) Trabalhadores 20 Principais clientes: Salsa, Inditex, Sacoor, etc
Paula Rego fez uma nova incursão experimental na arte têxtil e o resultado está exposto até 12 de novembro na galeria Marlborough, em Londres. Trata-se de uma tapeçaria de grandes dimensões (2m40 de altura e 1m19 de comprimento), intitulada “A filha da águia”, inspirada num conto popular do século XVI.
VIOLAS COM MARCA NOS CABOS NÁUTICOS A marca própria Alpha Roper já vale 30% das vendas da Cotesi no segmento dos cabos para desportos náuticos, onde está presente em 20 países e faz um volume de negócios de cerca de dois milhões. Pioneira na Europa na produção de fios, cordas, redes e cabos de matérias-primas sintéticas e naturais, a Cotesi-Companhia de Têxteis Sintéticos foi fundada em 1967 e é o maior produtor mundial de fio agrícola.
83%
dos doutorados em Portugal exercem a profissão no Ensino Superior
No início era a garagem Tudo começa com um trocadilho. Não são 6 dias de têxteis internacionais, mas sim obviamente dos pais Dias e dos seus quatro filhos, também Dias. A história da 6Dias remonta a 28 de Agosto de 2006 quando Carlos Dias (o pai, então com 51 anos) resolveu separar-se empresarialmente dos seus cinco irmãos, todos eles sócios da Irmãos Dias, uma unidade com 200 trabalhadores dedicada à tecelagem, tinturaria e acabamentos e que funcionava precisamente no mesmo sítio onde agora está situada a 6Dias. Logo que montou a sua empresa, Carlos chamou a filha, engenheira têxtil, para trabalhar com ele. “Despedi-me logo da empresa onde trabalhava”, conta Patrícia Dias que é hoje o rosto principal desta unidade industrial. Nessa altura, Zulmira (hoje com 54 anos), a mãe de Patrícia, ainda era a responsável dos armazéns dos Irmãos Dias. E por lá ficou durante ano e meio, enquanto o marido e a filha lançavam as bases da nova empresa. Pelo meio, houve outro Dias, o filho Hélder, que teve de mudar de vocação. Este engenheiro agrónomo passou-se de armas e bagagem para a nova empresa do pai e é hoje o responsável pela parte logística e pelas compras. “O facto de ter crescido no meio dos tecidos fez com que aceitasse o desafio”, explica.
Para as contas do nome da empresa ficarem certas faltam ainda mais dois Dias. Mas esses, pelo menos por enquanto, só fazem mesmo parte da família, já que uma irmã é veterinária e quer continuar a ser e outro irmão, o mais novo, ainda é um jovem estudante. De início, o negócio da família Dias começou na garagem da própria casa que habitavam. A falta de espaço levou a que empresa viesse a alugar dois armazéns e fossem contratados alguns funcionários. O grande salto em frente acabaria por ocorrer em Janeiro de 2015 quando a 6Dias se instalou no espaço que agora ocupa. Nessa altura, a empresa tinha como trabalhadores 14 pessoas, além dos quatro Dias foram sendo contratados sucessivamente 10 funcionários. Importavam tecidos (“sobretudo da Europa, agora já é mais da China”, conta Patrícia), tingiam e estapavam. O produto final era vendido a grandes empresas como a Salsa, Tiffosi e Lion of Porches. Em 28 de Agosto de 2016, ou seja 10 anos depois da fundação, a empresa já tem 20 trabalhadores, produz essencialmente para a exportação (direta ou indiretamente) tecidos utilizados em vestuário. “É um projeto aliciante que começou do zero e em 2015 já teve um volume de negócios de 7 milhões de euros”, resume Patrícia Dias.
BRUXELAS DISTINGUE FAMALICÃO MADE IN O projeto Famalicão Made IN foi distinguido com uma menção honrosa dos Prémios Europeus de Promoção Empresarial, uma iniciativa da Comissão Europeia que visa distinguir as melhores práticas de promoção do empreendedorismo.
GASTAMOS UM ANO A DOBRAR ROUPA Em média, gastamos um ano e dez dias da nossa vida a dobrar e engomar peças de roupa, garantem os inventores da Foldimati, uma máquina que se propõe poupar-nos esse tempo, pois tem capacidade para dobrar, engomar e perfumar 20 peças de roupa secas, de cada vez. O inovador eletrodoméstico será posto à venda no próximo ano, com um preço indicativo de 750 euros.
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DAMOS FORÇA À SUA MARCA. Queremos ajudar a promover o seu negócio e criar valor num contexto nacional e internacional. Concretizamos a sua ideia, com criatividade, com dedicação e com uma experiência multidisciplinar de mais de 20 anos no setor, através de soluções de comunicação, de exposição e eventos em várias partes do globo. Consulte-nos. Porque acompanhamos as tendências com a sua marca.
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FAPOMED COM UMINHO A CAMINHO DA 3a PATENTE A Fapomed está a desenvolver, em parceria com a Universidade do Minho, um fato para trabalhar em ambiente controlado (salas limpas), que será a terceira patente neste domínio desta empresa que produz kits para blocos operatórios. Fundada por Orlando Lopes da Cunha, a Fapomed tem três fábricas (Felgueiras, Baião e arredores de Kiev, na Ucrânia) e um volume de negócios de 20 milhões de euros, dos quais 92% são feitos na exportação.
PEDRO PINTO TROCA FATOS DE HOMEM POR COLLANTS DE SENHORA Pedro Pinto deixou este mês o lugar de International Sales & Brand Development Manager da Dielmar, em Alcains (Castelo Branco), para assumir a direção comercial da Custoitex, dona da marca de collants Collove. “É um novo desafio fazer renascer esta marca portuguesa”, diz Pedro Pinto, acrescentando que “para qualquer profissional” é sempre estimulante integrar um projeto que é liderado por duas jovens que querem reposicionar a empresa e dar notoriedade às suas marcas, designadamente à Collove. “Sempre gostei de trabalhar marcas e foi isso que fiz nestes últimos cinco anos na Dielmar e é isso que vou fazer agora na Custoitex”, acrescenta. As metas traçadas por este engenheiro publicitário, com uma pós-graduação em contabilidade e gestão empresarial e um MBA, são “solidificar as marcas desta empresa no mercado nacional e promover o seu crescimento no mercado”, o que passará por uma maior participação nas feiras internacionais. Para além do desafio profissional, Pedro Pinto, natural do Porto e que foi durante vários anos dirigente da ANJE, junta o útil ao agradável, uma vez que o ingresso na Custoitex permite-lhe regressar à sua cidade em full-time, onde está radicada a sua família. A Custoitex planeia entrar no segmento de saúde e desporto com os collants e roupa interior sem costuras que produz. Uma loja online e a internacionalização também fazem parte dos planos. O projeto na área da saúde ainda aguarda parecer favorável do Infarmed. A linha desportiva já está no mercado. A empresa, que fechou 2015 com um volume de negócios de 2,1 milhões de euros, continua a trabalhar em três marcas, Coll, D’Ella e Collove, tem cerca de sete dezenas de funcionários e muitos deles acompanham a Custoitex desde a fundação há 40 anos.
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“Um dia, em Londres, entrei na Primark, de que só tinha ouvido falar. Vi um vestido de algodão bastante bonito e que custava duas ou três libras. Estamos loucos!?! Um vestido 100% algodão a valer metade de uma porcaria de um bilhete de metro para andar duas estações?". Agatha Ruiz de la Prada ao DN
ZARA HOME TAMBÉM É DETERGENTES A Zara Home começou a vender uma linha própria de amaciadores e detergentes num movimento que aprofunda a estratégia de alargar a sua atividade a negócios não têxteis iniciada com o lançamento de fragrâncias, perfumes e cosméticos. A Zara Home tem uma rede de 437 lojas (das quais 26 em Portugal) presente em 48 países.
TMG DE VOLTA AO PAGODE
O Grupo TMG está de regresso às suas instalações históricas em Vale de S. Cosme, habitualmente designadas por "Pagode Chinês"
O grupo TMG vai investir 52, 5 milhões no regresso às instalações históricas em Vale de S. Cosme (habitualmente designadas por Pagode Chinês), que dará origem a 151 novos postos de trabalho - anunciou a Câmara Municipal de Famalicão. No têxtil tradicional, a TMG estabeleceu em 2013 uma parceria com a Somelos, tendo encerrado duas unidades de produção nas instalações de Vale de S. Cosme, em Famalicão, e transferido a maquinaria e o pessoal para Guimarães. O novo investimento surge - de acordo
com a autarquia - na sequência da vitória da TMG num concurso internacional e implica a requalificação de alguns edifícios do complexo. Em causa, está uma linha de produção com elevada componente tecnológica que envolve duas sociedades da família de Manuel Gonçalves, a TMG Automotive e a TMG Tecidos. A TMG Automotive absorve o grosso do investimento a realizar, no valor de 45,5 milhões e tem 18 meses para implementar o projeto. Na TMG Tecidos, o investimento
é de 6,9 milhões e o prazo de execução é de apenas 3 meses. Apesar do grupo ter nascido em Famalicão, a TMG Automotive, especializada em desenhar e produzir tecidos plastificados e outros revestimentos para a indústria automóvel, tem a sua base industrial em Campelos, perto de Guimarães. Fundada em 1937 por Manuel Gonçalves, sob a designação de Fábrica de Fiação Tecidos do Vale de Manuel Gonçalves, transformou-se, em 1965, na Têxtil Manuel Gonçalves (TMG).
HÁ GLUTÕES QUE DEVORAM CORANTES Investigadores da Católica do Porto descobriram microrganismos capazes de degradar corantes usados na têxtil em menos de 24 horas, que serão uma solução inovadora para tratar efluentes industriais. O novo processo para tratamento de efluentes, que ajuda a reduzir o seu impacto ambiental, está a ser desenvolvido na Escola Superior de Biotecnologia, em colaboração com a Aquieto, empresa portuguesa que se dedica à comercialização de produtos auxiliares têxteis. De acordo com uma nota do Centro de
Biotecnologia e Química Fina (CBQF) da ESB, empresa portuguesa líder na comercialização de produtos auxiliares têxteis, esta investigação pretende "encontrar uma solução económica, eficaz e sustentável que auxilie na remoção da grande variedade e quantidade de corantes presentes nas águas residuais da indústria têxtil”. Uma tese de mestrado em Microbiologia, em que foi obtido um grupo de microrganismos capazes de reduzir ou eliminar da água a cor proveniente dos corantes usados para tingir as peças de vestuário foi
o ponto de partida desta investigação. “Estes corantes, eliminados juntamente com os efluentes e tratados nas estações de tratamento de águas residuais, não são facilmente degradados pelos microrganismos das ETARs, pelo que a sua presença nas águas têm implicações que vão além do nível estético”, explica a Católica, acrescentando que estes compostos corados e seus produtos de degradação “estão associados aos elevados níveis de toxidade nas águas, o que resulta num grave flagelo ambiental”.
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POLÍTICOS JÁ SE CONVENCERAM QUE A TÊXTIL TEM FUTURO
FOTO: RUI APOLINÁRIO
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n ENTREVISTA Por: Jorge Fiel e Paulo Vaz
Daniel Bessa 68 anos, é membro do Conselho Consultivo da ATP e preside ao Conselho Fiscal da Sonae SGPS, Galp e Bial. Dirigiu a Escola de Gestão do Porto e foi, até fevereiro, diretor geral da Cotec Portugal. Elaborou diversos planos estratégicos para a ITV. É licenciado em Economia pela FEP (foi um dos dois melhores alunos do curso), a cujo Conselho Diretivo presidiu apenas com 26 anos
a
creditar que a solução está no mercado interno é como viciar-nos numa droga dura e viver num ambiente ilusório onde há vacas que voam - afirma Daniel Bessa. Surpreende-o que a ITV antecipe o cenário ouro das exportações fixado para 2020?
Na altura achei provável, embora difícil, que se cumprisse o cenário prata. O cenário ouro parecia-me estar para além das nossas forças. Afinal vai ser atingido - e quatro anos antes! Fica provada a razão das pessoas que me atribuem o defeito de ser pessimista. A que se deve este desempenho extraordinário?
O crédito maior tem de ir para os empresários ou para as pessoas a quem estes confiaram a direção das suas empresas. O mérito é deles, porque sabiam onde queriam chegar. Não basta a conjuntura ajudar, pois, como dizia Séneca, não há ventos favoráveis para quem não sabe o porto onde quer chegar. Pôr as fichas todas na exportação foi a estratégia certa?
Julgar que o mercado interno tem de ser aumentado e que isso pode resolver os nossos males equivale a viciar-nos numa droga dura aliena-nos, atirando-nos para um ambiente ilusório, cheio de vacas que voam. Só uma pessoa que vive fora da realidade pode pensar que um mercado interno que vale duas milésimas da economia mundial, e inteiramente aberto, pode ser a solução para os nossos problemas. Não há margem para crescer no mercado interno?
Já deu o que tinha a dar. Há cinco anos a ITV exportava 65% da produção. Agora está nos 75%. Tem de
chegar aos 80% ou 90%. Cá dentro não tem margem para prosperar. O consumo interno não vai crescer. Há projeções demográficas que apontam para que, dentro de 30 anos, Portugal tenha cinco milhões de habitantes. Os empresários queixam-se dos obstáculos à competitividade...
A minha mãe, uma senhora hoje com 99 anos, tinha um dito: “A quem não pede, Deus não ouve”. Outros, num registo menos religioso, dizem que “quem não chora, não mama”. Chateia-me um bocado ser raro ouvir um empresário português dizer que as coisas estão a correr bem. Até pode dizer que as vendas estão e subir, mas quando se trata de resultados... Essa atitude é um problema cultural?
Tiro o chapéu aos empresários têxteis pelos resultados que têm conseguido, mas esconderem o seu sucesso é um mal um bocado português, uma atitude apenas compreensível e desculpável porque se o mostram, se aparecem de camisa lavada, o Estado e os sindicatos caem-lhe logo em cima (risos). A Geringonça detesta ver alguém com a camisa lavada (mais risos). As empresas saíram das crises muito descapitalizadas...
Já estavam descapitalizadas antes. Os níveis muito altos de endividamento das empresas são uma característica do capitalismo português. As nossas empresas trabalham com níveis de endividamento demasiado elevados face aos capitais próprios. E é engraçado porque em muitos casos os financiadores são os próprios empresários, que preferem fazer suprimentos a pôr capital. Porquê?
Há duas razões. A primeira é que o Estado trata melhor os juros que os lucros. Temos um sistema fiscal que desincentiva o aumento dos capitas próprios. A segunda razão é que se a empresa correr mal, o capital próprio é a primeira coisa a ser perdida. Ao fazer suprimentos, o empresário está a proteger o seu património.
No programa da Geringonça não há uma medida que ajude a desbloquear o país
Começou a dar explicações com 12 anos, para ajudar a pagar os estudos. Quando chegou a altura de escolher o curso foi para Economia pois à época não havia Direito no Porto e a família não tinha dinheiro para o manter a estudar fora de casa. “Sou um jurista frustrado”, ironiza. Em 1970, mal conclui a licenciatura logo começou a dar aulas na FEP. Esteve com António Guterres três anos na Oposição, como porta voz do PS (“Conheci muita gente, corri o país, o PS ficou muitas vezes com os cabelos em pé porque eu não via só defeitos no professor Cavaco Silva. O dr. Mário Soares chamou-me anjinho), e cinco meses no Governo (como ministro da Economia), de onde saiu a ganhar 1/6 do que ganhava antes - altura em que se reviu numa frase do Karl Marx que numa carta a um amigo se queixava de não conhecer ninguém como ele que se tivesse ocupado tanto de dinheiro tendo tão pouco.
Como se resolve isso?
Quando estava na Cotec, fizemos um top ten de medidas indispensáveis para tornar o ambiente mais favorável à inovação. Uma delas era que o fisco deixasse de beneficiar o financiamento através de créditos em vez do aumento dos capitais próprios das empresas. Isso chega?
Não há uma solução única. A dispersão de capital é outra possibilidade, mas os empresários portugueses lidam mal com isso, pois implica abrir a gestão da empresa e um rigor maior nas contas... Acompanhei
vários casos de investidores estrangeiros: traziam capitais e acesso a mercados importantes, como o americano ou chinês, em troca de uma participação no capital. Nenhuma dessas negociações acabou em casamento. O Banco do Fomento ajudava?
Costumo dar uma esmola a um pobre. Muitos amigos dizem-me que faço mal, pois não é dando esmolas que resolvo o problema da pobreza. Têm razão. Mas eu continuo a ser dado a esmolas, pois vou ajudando a resolver algumas situações. Acredito que o Banco do Fomento possa ajudar umas dezenas de empresas, mas isso não será mais que um pequeno contributo para resolver o problema. De onde podem vir mais contributos?
Andei metido até ao pescoço na criação de condições de acesso das PME ao mercado de capitais na Euronext Lisbon. Mas para que isso aconteça é preciso que os empresários queiram; e, de novo, servirá a muito poucas empresas. Ou seja, o problema também está nos empresários?
Estou habituado a dizer o que penso e a viver com as consequências disso. Converso com muitos amigos que têm dinheiro e querem investir em empresas industriais ligadas à exportação. Uma questão crítica é a de quem fica com a maioria. E eu aconselho-os sempre a ficarem maioritários, pois é muito legítimo recear que os minoritários sejam mal tratados.
Voltando à competitividade. Não acha preocupantes os custos da energia?
Na competitividade guio-me pelo Relatório do World Economic Forum (WEF) e efetivamente estamos muito mal no custo da energia. Isso deve-se a estarmos a pagar o investimento nas renováveis e o défice tarifário que foi acumulado nos tempos em que o petróleo subia e, por decisão política, o Governo não deixou que isso se refletisse no preço da energia, ficando a EDP credora desse diferencial - que agora estamos a pagar. As leis laborais prejudicam a competitividade?
Olha-se para o Relatório do WEF e as leis laborais estão do lado errado, não ajudam. Nesta matéria tenho dois heróis. João Proença,que, nos tempos da troika, aceitou fazer alterações à legislação, pagando por isso um preço muito elevado e António Chora que tem ajudado a Autoeuropa a ser uma das unidades mais produtivas da Volkswagen. São duas pessoas corajosas que merecem o meu respeito. O bom momento da têxtil, e de outros setores, prova que mesmo com leis adversas é possível ser competitivo. O que acha da política de reversões do Governo?
O termo é horrível. Significa voltar para trás, para o ponto de partida. Significa que o problema não existiu, que não se passou nada quando, em 2011, Fernando Teixeira dos Santos olhou para o caixa, viu que estava no fundo e obrigou José Sócrates a cair na real e a pedir ajuda.
Paulo Melo lamenta que não haja na banca quem perceba a fundo do setor...
Está desiludido com António Costa?
A banca gostava de dar crédito aos particulares para comprarem casa e consumirem; aos promotores imobiliários que não tinham dinheiro nem para o terreno, nem para construção; e ao Estado, adquirindo dívida pública. E adorava os chamados setores não transacionáveis. O que a punha em delírio era emprestar dinheiro às PT, EDP, CTT e PPP. Está pouca habituada a lidar com empresas normais.
Em junho do ano passado ouvi no rádio do carro António Costa dizer que Portugal era um país bloqueado, pois não tinha encontrado forma de responder aos desafios de uma economia globalizada. Tirei-lhe o chapéu pelo diagnóstico certeiro. O único problema é que do programa da Geringonça não consta uma única medida capaz de ajudar o país a sair desse bloqueio - e num ano de governo não dei conta de
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"A banca adorava os chamados setores não transacionáveis. O que a punha em delírio era emprestar dinheiro às PT, EDP, CTT e PPP. Está pouca habituada a lidar com empresas normais" Daniel Bessa
nenhuma ação nesse sentido. Como se desbloqueia o país?
Exportando. A aposta do Governo no mercado interno como fator de crescimento é totalmente errada. As empresas estão a fazer o caminho certo. Em seis anos, entre 2008 e 2014, o peso das exportações no PIB subiu de 28% para 42%.
Não vai ser possível estar nos negócios sem uma presença digital forte
Há margem para sermos competitivos na private label?
Benfica, Porto e Sporting estão na Champions mas têm poucas hipóteses de a ganhar. Já aconteceu e pode voltar a acontecer - Portugal ganhou o Europeu... - , mas as probabilidades são reduzidas. É outro campeonato. Mas se olharmos para a Liga Europa, as nossas chances de vencer aumentam. A private label é a Liga Europa da ITV portuguesa. Temos poucas hipóteses na Champions das marcas?
Somos bons no B2B. O favoritismo para a vitória na Champions do B2C vai para as marcas globais, com grandes redes de distribuição e um histórico na relação de proximidade com o cliente final. Esse campeonato, onde se ganha mais, mas também se investe mais e se correm muito mais riscos, está ao alcance de muito poucas empresas portuguesas. O nosso campeonato é o private label?
Sou fã de um private label moderno, que consiste em fazermos todo o desenvolvimento da peça e surpreender os clientes com as nossas sugestões. Este é um desafio para o qual estamos municiados. Se me disseram que vamos apostar para a nossa ITV ser líder no private label sofisticado, vou a jogo. Temos ideias, know how e capacidade industrial para sermos dos melhores do mundo. Investir em marcas está fora do nosso alcance?
Não digo isso. Há empresas, como a Impetus, que estão a ter sucesso nesse caminho. Mas é outro negócio, que exige muito
dinheiro e um risco acrescido, pelo que as empresas devem pensar duas vezes antes de se meterem nele, para não correrem o risco de serem o sapateiro que quer ir além da chinela. A inovação e os têxteis técnicos são outro caminho em que temos sucesso...
A inovação não é só têxteis técnicos. A tecnologia não é a única arma. Para ser competitivo no private label é preciso ter um departamento de desenvolvimento inovador, com engenheiros e designers, e ser capaz de propor produtos sofisticados aos clientes. Está ao par da evolução nos têxteis técnicos?
Pelo que sei as coisas têm corrido bem. O peso relativo dos têxteis técnicos tem crescido e isso é muito bom. Conheço bem casos como o da TMG Automotive, de que todos nós portugueses nos devemos orgulhar, porque se trata do melhor que se faz no mundo nessa área. Mas lá está, trata-se de um exemplo sofisticado de B2B, pois no final quem vende os carros são a BMW e a Mercedes. Também temos sucessos na economia digital como a Farfetch...
Numa entrevista concedida è newsletter da Cotec, José Neves foi muito claro a explicar que, do ponto de vista tecnológico, não precisou de ir para fora para ser competitivo. A retaguarda tecnológica está toda aqui no Porto e em Guimarães. Mas para crescer muito e rapidamente teve de ir para Londres, pois havia três coisas que não podia resolver em Portugal:
financiamento, comunicação e capacidade de marketing e comercialização.
As perguntas de
Como estamos do ponto de vista da economia digital?
A curto prazo não vai ser possível estar num negócio sem ter uma forte presença digital. Mas a economia digital não é só vender online. É um desenvolvimento horizontal. Muitas empresas têm um software de gestão financeira, outro de gestão de clientes, outro para as compras, mas o grau de integração entre todos eles é muito reduzido. Além de que na era digital é preciso descentralizar, dar autonomia às pessoas, aceitar o trabalho em casa. Quais são os desafios para a ITV na nova década?
O domínio da inteligência coletiva é muito importante, por isso uma associação como a ATP tem de sugerir linhas de rumo, caminhos, e apontar metas. Diria que temos de consolidar este patamar de competir pelo valor não pelo preço. Demos o passo que tinha de ser dado. Agora os novos desafios terão a ver com os volumes de vendas e quotas de mercado, neste posicionamento. A aposta deve ser mais quantitativa do que qualitativa?
Devemos fixar metas mais elevadas nas exportações (por que não seis mil milhões para 2025?), aumentar o peso dos têxteis técnicos e ter objetivos concretos para mercados exigentes como os EUA (por que não vender para lá 500 milhões?). Além de que o tema da rentabilidade e dos salários tem de ser posto em cima da mesa. O que quer dizer com isso?
Vender é essencial. Mas depois é preciso ver as rentabilidades. E, do ponto de vista social, a questão dos salários vai ser incontornável. Um dia a ITV portuguesa terá de reportar números sobre a sua rentabilidade, ter orgulho em pagar bem aos seus trabalhadores e não ter vergonha de declarar que está a ganhar dinheiro.
Alexandra Araújo Pinho Administradora da LMA
José Alexandre Oliveira CEO da Riopele
Os membros do Governo deveriam receber formação nas áreas que tutelam?
Concorda que a ITV foi quem melhor se adaptou a um mundo globalizado? Se sim acha que os políticos já se convenceram de que temos futuro?
Só lhes faria bem. A política é uma arte muito própria e integradora. Há duas artes que me fascinam: a Filosofia, que é o estado mais avançado do conhecimento, e a Política, por ser o estado mais avançado da ação. As competências dos políticos devem ser muito amplas, mas isso não dispensa saberes específicos nas áreas que tutelam. Tem faltado substrato técnico e conhecimento da realidade – veja-se a tese de que Portugal poderá crescer através do mercado interno... Mais apoios do Governo à têxtil seriam essenciais para nos levar à trajetória certa?
É uma área em que me declaro incompetente. Gosto muito de me sentar com um empresário a discutir a estratégia e o futuro para a sua empresa. Mas de apoios públicos percebo pouco. Não quer dizer que não sejam importantes; mas há quem tenha muito mais experiência do que eu nessa matéria, não è a minha praia...
Concordo. A ITV passou de um protagonismo muito negativo e de uma imagem que não era a melhor para um desempenho notável, em particular nas exportações. E sim, julgo que os políticos já se convenceram de que a têxtil tem futuro. Não há feira têxtil importante onde não apareça um político - e eles gostam de se mostrar junto de quem ganha... Acredita num acordo comercial com os Estados Unidos?
Tinha uma expectativa muito positiva da Parceria Transatlântica. Mas as coisas complicaram-se com o pedido de suspensão das negociações feito pelo presidente Hollande, um especialista em meter areia nas engrenagens. Os Estados Unidos são um grande mercado, onde a nossa ITV tem um presença reduzida, que poderia crescer muito com o acordo comercial. Seria uma oportunidade fantástica. Mas começo a ver o futuro com alguma apreensão. O que está a dar por todo o lado é Trump. Le Pen, Podemos, Brexit etc.. O mais provável é a globalização conhecer um retrocesso.
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Outubro 2016
FOOT BY FOOT FACILITA A VIDA NOS HOSPITAIS A Foot by Foot está a desenvolver um protetor de colchões completamente degradável, concebido a pensar na redução drástica de resíduos da indústria hospitalar. A empresa de Felgueiras planeia ter o novo produto no mercado em 2017.
AS ABAYAS DE SARA SÂO COOL E COLORIDAS
MIND SHIRT COMPRA ASSENTA A Mind Shirt adquiriu por 125 mil euros a Sociedade Têxtil da Assenta, uma fábrica de camisas em Torres Novas que estava em processo de falência, e prometeu manter a maioria dos seus 70 trabalhadores. Há cerca de um ano que o administrador da insolvência procurava ativamente um investidor que evitasse o encerramento da Assenta, dando assim seguimento à decisão aprovada pelos 329 credores de vender a fábrica com a manutenção dos postos de trabalho. Em março do ano 2015, a empresa tinha pedido insolvência por não ter capacidade económica para cumprir as suas obri-
gações e pagar as dívidas. O passivo era na altura superior ao ativo e as dívidas atingiam os 6,7 milhões de euros, de acordo com a lista de todos os que se constituíram como credores, uma centena dos quais eram trabalhadores que reclamavam o pagamento total de 1,2 milhões de euros referentes a indemnizações por despedimento e a subsídios de férias e de Natal de 2011 a 2013. A empresa atravessava dificuldades desde 2013, altura em que avançou para tribunal com um Processo Especial de Revitalização, no âmbito do qual foi aprovado um plano de recuperação, que, volvidos
dois anos, não estava a cumprir por não conseguir aumentar as vendas. Por isso, veio a pedir insolvência. No pedido de insolvência, a Têxtil da Assenta, que exporta 60% da produção (sobretudo para o Brasil, Angola, Moçambique, África do Sul, Bélgica, França, Inglaterra, Islândia e Suíça) argumentava ser "economicamente viável, porque tem uma boa carteira de clientes", mas estar debilitada em termos financeiros, por não "disponibilidade de tesouraria para custear a aquisição de matéria-prima e pagar os custos de mão-de-obra, de forma a poder aceitar e cumprir as encomendas”.
“Boho Abaya” é a nova marca de roupa feminina de estilo árabe mas cool, moderna e colorida, lançada pela portuense Sara Marques. Há dois anos a viver em Omã, onde o marido trabalha, Sara, 38 anos, vende nos mercados e através do Facebook. Começou a trabalhar num regime artesanal, com um costureiro local, mas face ao crescendo das encomendas, vai começar a produzir industrialmente em Portugal. “É engraçado porque em tribunal nós vestimos a toga, que é quase a abaya deles”, explica a empresária, que também é advogada. “Sempre fiz roupa para mim. Desde muito nova que desenhava, comprava tecidos e as costureiras terminavam. Tenho o vicio de comprar tecidos e ver materiais”, conclui.
“Temos de ter a ciência de perceber com clareza que as pessoas são a única coisa que realmente importa em qualquer organização, instituição ou empresas". Pablo Isla CEO da Inditex
NIKE GOLF FOCADA NA ROUPA E SAPATOS
PENEDO NO CLUBE DOS TÊXTEIS VERDES “A sustentabilidade é uma preocupação cada vez maior e, em alguns casos, um requisito fundamental para os nossos clientes. Termos a certificação STeP permite-nos penetrar em novos nichos de negócio”, explica Agostinho Afonso, administrador da Têxteis Penedo, uma das onze empresas que já aderiram ao Green Textiles Club. “Para além das vantagens de mercado, também devemos contabilizar ganhos de imagem de eficiência da empresa, devido ao estímulo gerado pelas exigências da certificação”, acrescenta. O Green Textiles Club reu-
ne PME interessadas na implementação da certificação STeP (Sustainable Textile Production) by Oeko-Tex® e/ou ISO 9001:2005 – e que cumpram com os requisitos estabelecidos no Aviso n. 2/ SI/2014. A. Sampaio & Filhos, Bê-Dex Têxteis, Clariause, Cordeiro, Campos & C.ª, Lopes
& Carvalho, Pafil Confecções, Pedrosa & Rodrigues, Silsa Confeções, Sonicarla Europa, Tapa Costuras e Têxteis Penedo são as empresas que já aderiram a este clube de empresas sustentáveis, empenhadas no aumento e disseminação das boas práticas. O Green Textiles é um clube aberto, pelo que ainda está a tempo de aderir. Se quiser saber mais informações e como se candidatar, contacte a ATP (Ana Paula Dinis, ana.paula.dinis@ atp.pt, tel.:252 303 030) ou o CITEVE (Assunção Mesquita, amesquita@citeve.pt, tel.:252 300 300).
A Nike Golf vai focar-se no vestuário e calçado, abandonando gradualmente a produção e comercialização de equipamentos, como tacos, bolas ou sacos de golfe. “Estamos empenhados em ser o líder incontestado no vestuário e calçado de golfe”, declara Trevor Edwards, brand manager da marca. No último ano fiscal, o segmento golfe da Nike teve uma péssima performance, com as vendas a caírem 8,2% para 706 milhões de dólares.
6 FEIRAS
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Outubro 2016
MEDICA 14 a 17 de novembro - Dusseldorf
FASHION SPV LONDON 15 a 16 de novembro - Londres
Barcelcom, Citeve, Collove - Custoitex, Fitor, Magicpharma
Faria da Costa, Gulbena, Orfama, Praia Lusitana, Nordstrom
JITAC 14 a 16 de novembro - Tokio
TISSU PREMIER 23 e 24 de novembro - Lille
A. Textil Serzedelo, Lemar, Trend Burel, Tintex
Sanmartin, 6 Dias, Quick Code
AGENDA DAS FEIRAS
RIOPELE PRÉ-NOMEADA PARA 8a EDIÇÃO DOS PV AWARDS Num mundo de 1 989 expositores, as etiquetas “made in Portugal” foram levadas até à Première Vision por 42 empresas, 32 das quais apoiadas pela Associação Selectiva Moda. Numa primeira sondagem feita às empresas que viajaram até à capital francesa, os resultados desta PV foram promissores e trazem muitos negócios à vista, o que está em linha com os resultados desta edição do certame, que ultrapassou os números daquela que se realizou em Fevereiro. De 13 a 15 de Setembro, os vários salões receberam mais de 56 mil visitantes, de 126 países à volta do globo. A Première Vision continua a ser um encontro de europeus, com a França, a Itália, o Reino Unido e a Espanha no top 4 dos visitantes. Esta continua a ser uma das feiras mais concorridas, pois a sua importância e abrangência é indiscutível, como explicou Noel Ferreira, da A. Ferreira & Filhos: “A escolha desta feira prende-se ao facto de ser um evento internacional de referência e por isso não se limita ao mercado francês”. Opinião também corroborada por José António Ferreira, da Texser – A Textil de Serzedelo, que afirma que “A Première Vision é a mais importante feira de tecidos do mundo, quer pela oferta quer pela procura.” A menção honrosa desta edição vai para Riopele, que foi pré-nomeada para a 8a edição dos “PV Awards”, na categoria de tecidos. Já de olhos postos no futuro, a grande maioria das empresas planeia voltar a participar na PV no próximo ano, já com data marcada de 7 a 9 de Fevereiro.
ÁSIA EM FORÇA NA MILANO UNICA
Na sua 23ª edição, a Milano Unica mudou-se para Fieramilano Rho e levou atrás os mais de seis mil compradores que foram até à capital da moda italiana encontrar os melhores artigos. Portugal levou na sua trupe dez empresas, quatro das quais apoiadas pela Selectiva Moda Albano Morgado, J. Areal Artigos Têxteis, Lemar e Sanmartin. Dos 382 expositores presentes, apenas 79 eram europeus, sendo que o grande destaque desta edição vai para a Rússia os países asiáticos – em particular a China, o Japão e a Coreia do Sul,
que estiveram representados no certame por empresas de grande dimensão. As empresas portuguesas foram atrás de novos clientes e de reforçar ligações com alguns já existentes. Alexandre Leitão, Marketing Manager da Sanmartin, resume a importância deste certame para a marca: “A Milano Unica representa uma boa oportunidade para a prospeção de novos clientes, reforçando assim a presença da Sanmartin como um player importante no setor da moda e da alta-costura internacional”.
Para além da mudança de local, esta edição da Milano Única ficou marcada pela organização simultânea de vários certames, como a Mipel (feira de acessórios e materiais em pele) e a Micam (salão de sapatos). Apesar dos números da feira serem semelhantes aos da edição de Setembro de 2015, a organização afirma que o volume de negócios desta edição foi mais significativo: uma consequência dos novos e mais rigorosos critérios de seleção dos visitantes, baseadas a nível de convites.
CALENDÁRIO DA MODA DE PERNAS PARA O AR A Tommy Hilfiger seguiu as pisadas da Burberry e Tom Ford e anunciou a sua adesão à nova moda do “Veja agora, compre agora”, que está a pôr de pernas para o ar os calendários das Fashion Week. Assim, em Fevereiro do próximo ano, a marca americana vai apresentar a sua coleção primavera/verão (não a de outono/ inverno, como era tradicional) que estará disponível para venda online e nas lojas físicas logo após os desfiles. Proteger as criações das imitações e contrafações é o objetivo deste súbito encurtar do longo ciclo da moda - o que era normal era haver um intervalo de quatro a seis meses entre a apresentação da coleção e o momento em que ela ficava disponível para os
compradores. “Num mundo que se tornou cada vez mais imediato, a forma de mostrar a coleção quatro meses antes dela estar disponível para os clientes é uma ideia antiquada e já não faz sentido. Os nossos clientes de moda querem que a coleção esteja imediatamente disponível”, argumenta Tom Ford. “Vamos mostrar a coleção à medida que ela está a chegar às lojas permitir que a excitação criada no desfile se traduza em vendas e em satisfação para os nossos clientes que desejam ter as suas roupas assim que elas estejam prontas”, conclui o designer, justificando esta aceleração no ritmo da moda e nos tempos que medeiam entre o atelier criativo, a fábrica e a expedição das peças para as lojas.
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O QUADRO DE HONRA DO CONCURSO INOVATÊXTIL 2016 Os prémios Inovatêxtil 2016, inseridos no iTechStyle Innovation Business Forum, foram atribuídos durante o Modtíssimo, que decorreu na Alfândega. Os prémios distinguem os melhores Tecido, Produto e Projeto inovado-
Produto
res expostos no decurso das duas edições do fórum em cada ano, concebidos e produzidos por individualidades e entidades, empresariais e outras, associadas à fileira têxtil.
Tecidos
Acessórios
ROUPAS APREENDIDAS NÃO VÃO PARA O LIXO A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) doou mais de 2 300 peças de vestuário apreendidas à Câmara de Famalicão, que por sua vez as vai distribuir por 43 instituições de solidariedade social do concelho.
FUNDO EUROZEO METE 17,5 MILHÕES NA FARFETCH Após ter tomado participações no site de vendas Vestiaire Collective e nas marcas Desigual e Moncler, o fundo Eurazeo investiu 17,5 milhões de euros na plataforma Farfetch, liderada por José Neves.
SEDACOR
LMA
HELIOTÊXTIL
Um casaco feito com cortiça e algodão, em alternativa ao couro animal, foi o vencedor do prémio Produto. Este casaco, produzido pela Sedacor, é feito com um tecido inovador de cortiça natural, combinando as características da cortiça e as propriedades do algodão.
O prémio para a categoria Tecidos foi atribuído à empresa LMA - sediada no Vale do Ave e que “veste” a polícia alemã, mas também de várias corporações de bombeiros e exércitos - por um tecido para vestuário desportivo e tecno moda que é impermeável e de fácil limpeza.
A utilização de circuitos electrónicos impressos em transfers têxteis (pela Heliotêxtil) que permite, por exemplo, que alguém que esteja com luvas possa mexer num ecrã tátil ou receber os sinais vitais de uma pessoa com um equipamento desportivo que disponha dessa tecnologia.
“Todos temos pelo menos uns jeans. Consciente disso, a indústria sabe que tem de se reinventar e a sustentabilidade é uma boa maneira de inovar" Elena Salcedo autora do livro “Moda ética para um futuro sustentável"
JEANS 501 DA LEVI’S EM VERSÃO SUSTENTÁVEL
QVINTO EM CALÇÕES DE BANHO Calções de banho inspirados na azulejaria portuguesa foram o primeiro produto da QVinto, uma marca de roupa inspirada da História de Portugal, que escassos meses após ter nascido já estava na Magic, em Las Vegas, a tomar conta de encomendas para clientes de Hollywood, Portland e Nova Iorque. É verdadeiramente uma história dos nossos dias e dos jovens empreendedores. No caso, são cinco (quatro portugueses e um japonês) e as idades variam entre os 24 e os 31 anos. Tudo começa no final de 2014 quando os primos João Filipe e João Miguel decidem em Lisboa virar-se para uma empresa com sede no Mindelo, em Vila do Conde, a Pure Cotton. A estes viriam a juntar-se entretanto Miguel Saraiva (27 anos) da Beat to Beat, uma empresa de organização de eventos, Manuel Ken (24 anos e de origem japonesa) e Frederico Oliveira (31 anos), piloto da TAP. Não era propriamente a área do têxtil que então unia os agora sócios da QVinto, mas sim precisamente os eventos ou a sua organização. Havia o lastro da Pure Cotton e sobretudo uma ideia: uma mar-
ca de roupa inspirada na história de Portugal. “Daí surgiu o nome Qvinto, relacionado com V Império de Fernando Pessoa”, conta Miguel Saraiva, CEO da Beat to Beat e agora sócio desta empresa de vestuário. Os dois primos João Filipe e João Miguel criaram o logo e a imagem da marca e alguns protótipos. Os outros três sócios juntaram-se já no início deste ano e trouxeram alguma dinâmica para a marca. Miguel Saraiva é licenciado em Marketing, Manuel Ken em Finanças. Para todos os efeitos, conta o CEO da Beat do Beat, a Qvinto “é uma marca que já nasceu com história”. Rapidamente, os cinco sócios perceberam que precisavam de alguém
do ramo. Foram buscar Inês Freitas, uma designer especializada em padrões, que se licenciou no ESAP, no Porto. Em Julho deste ano lançaram o seu primeiro produto: calções de banho inspirados na azulejaria portuguesa. Criaram uma loja online e dois meses depois lançaram-se no mercado externo com a participação na Magic, em Las Vegas. Porquê calções de banho? “Foi uma questão sazonal”, explica Miguel Saraiva. Das vendas online passaram para uma loja física nas Galerias de S. Bento, em Lisboa. Ao mesmo tempo continuaram a sua peregrinação pelas feiras de Nova Iorque e Londres. Sempre com sucesso. E a razão deste é simples, segundo Saraiva: “A qualidade do nosso calção de banho - é elástico, móvel, confortável e, sobretudo, original por ter a história de Portugal na origem da marca”. Quanto ao futuro, os sócios da Qvinto adivinham que será risonho. “Já estamos a produzir camisas e t-shirts para a próxima coleção Primavera/Verão”.
Numa de aproveitar a onda da sustentabilidade, a Levi’s lançou uma versão ecológica dos seus famosos jeans 501, confecionados em econyl, um nylon tecido a partir de refugo têxtil, fibras de tapetes velhos e restos de redes de pesca. “Este lançamento prova que os materiais sustentáveis podem ser usados para revitalizar produtos tradicionais”, comenta Giulio Bonazzi, CEO da Aquafil, a empresa que criou o nylon sustentável .
SALSA VAI INVESTIR 50 MILHÕES EM 50 LOJAS O plano quinquenal de expansão da Salsa, potenciado pelo músculo financeiro aportado pela Sonae, contempla um investimento de 50 milhões de euros na abertura de 50 novas lojas próprias, até 2020.
DONNA KARAN ESTÁ COM CALVIN KLEIN
A LVMH - Louis Vuitton Moet Hennessy vendeu a marca Donna Karan por 600 milhões de euros ao grupo norte-americano G-III Appareal, que tem na sua carteira marcas como Calvin Klein, Tommy Hilfiger, Karl Lagerfeld, Levi’s e Docker’s.
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X DE PORTA ABERTA Por: Carolina Guimarães
Daily Day
Praça General Humberto Delgado, 263 Porto
Produtos Roupa de homem, mulher e criança, calçado, decoração e marcas de estacionário Marcas Hugo Costa, Wolf & Son, Carla Pontes, SayMyName, Weekend Barber, Arminho, Mishmash, Rita, Lia Gonçalves, Paulino Spectacles Proprietário Filipe Prata
ROUPAS DE ISABEL II SAIRAM DO ARMÁRIO O vestido de noiva de seda marfim, bordado com dez mil pérolas, que Isabel II vestiu no dia do seu casamento, em 1947, com o duque de Edimburgo, é uma das vedetas da exposição de roupas da Rainha de Inglaterra que está aberta ao público até 8 de janeiro no Castelo de Windsor. “Um reinado: 90 anos de estilo a partir do guarda-roupa da rainha” é o título da exposição onde se pode ver um disfarce de Aladino, com calças de seda creme e uma camisa com bordados azuis, rosa e brancos, que a rainha usou para interpretar uma peça de teatro com a irmã, a princesa Margarida.
“O vestuário formal passou claramente de moda. Se considerarmos os últimos cinco a seis anos, a clientela deste segmento reduziu-se a metade" Valerie Tillon diretora do Departamento Fashion do Kantar Worldpanel
CRISE DO FATO OBRIGA BRIONI A APERTAR O CINTO
Muito mais que uma loja de roupa Esta não é só mais uma loja. Com o olhar posto sobre a Avenida dos Aliados, que considera ser o melhor sítio da cidade, a Daily Day abriu portas em Dezembro de 2015, com o objetivo de ser diferente e muito mais que uma mera loja de roupa. Fazem-se exposições, dão-se workshops, ouvem-se concertos, poetas ou simplesmente pensamentos de quem os quiser partilhar. É um espaço em constante mutação, preparado para aquilo que intitulam os Daily Day Callings, que, tal como o nome diz, chamam as gentes da cidade até à loja. O sucesso destes eventos tem sido tal que já chegaram a ter de fechar portas – e também por isso é que o plano para 2017 é alargar os horizontes e levar os Daily Day Callings para fora da loja. O objetivo destes eventos é relacionar a marca com a cidade, associando-lhe algumas formas de arte – mais do que uma contratação dos artistas, a Daily Day vê este processo como uma cooperação entre duas entidades que se complementam. Com um foco num público urbano, suficientemente eclético e esclarecido, a Daily Day pretende evitar o fast-fashion e tem em mente os problemas do século XXI, como a sustentabilidade e a origem do design e dos produtos. Por isso, procura que sejam sempre
mais do que meros objetos ou peças de roupa, porque a história por detrás de cada um deles importa. Essa filosofia reflete-se também no espaço, onde a arquitetura original do edifício – que data dos anos 40 - foi preservada, conferindo-lhe ainda mais significado. Com tradição nos trapos (a família proprietária está no negócio têxtil há 80 anos, com uma fábrica de confeções), a Daily Day também é marca, que segue o conceito e inspirações da própria loja, ocupando cerca de metade da sua área. Com roupa de homem e mulher a pensar no dia-a-dia, a exportação da marca é a palavra de ordem. O restante espaço está coberto de marcas portuguesas - como Wolf&Rita, Portuguese Flannel, La Paz ou Arminho, que perfazem à volta de 20 marcas -, num claro investimento na etiqueta “made in Portugal”. Há também um recanto especial dedicado à Chapelaria José & Baião, onde se encontram chapéus e bonés feitos à medida do freguês. Para já a loja física só existe na Invicta, mas a boa notícia é que em breve estará disponível a versão online , onde se poderão encontrar todos os produtos da loja portuense. O quartel general da Daily Day fica nos Aliados, mas o mercado é o resto do mundo.
A Brioni (grupo Kering) está a atravessar um doloroso processo de reestruturação, que implica a libertação de mão-de-obra - os 400 trabalhadores afetados representam 1/3 do seu pessoal. “O mercado do vestuário formal reduziu-se drasticamente o que nos obriga a reorganizar a produção”, explica um porta-voz da empresa. Mas os especialistas dizem que as dificuldades da Brioni também são filhas de erros da gestão, designadamente a concentração excessiva de vendas no mercado russo e uma aposta em fatos demasiado moda que confundiu a imagem da marca junto dos consumidores.
HUGO BOSS ABRANDA E BAIXA PREÇOS EM 20% A Hugo Boss está a abrandar o ritmo de expansão da sua rede comercial, abrindo este ano apenas 20 novas lojas. A rede de retalho do líder alemão de vestuário está a ser examinada à lupa, num esforço de racionalização que contempla, entre outras coisas, o encerramento de 20 lojas na China. Para estimular a procura, a Hugo Boss adotou uma nova política de preços, 20% mais baixos.
1,1 milhões de euros foi quanto recebeu Amancio Ortega em dividendos, referentes ao exercício de 2015 da Inditex, onde tem 59,2% das ações. O ano passado recebeu 961 milhões. O dividendo aumentou para 60 cêntimos, mais 15,4% do que foi pago em 2015
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M EMERGENTE Por: Jorge Fiel
Márcia Nazareth Fotógrafa, designer e empresária da NazarethCollection Família Casada com André, têm duas filhas, a Matilde, 12 anos, e a Clarinha, oito Formação Licenciada em Design Gráfico pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Casa Apartamento em Matosinhos, “perto do mar onde vou buscar as minhas energias” Carro Mercedes Classe A branco Portátil Surface da Microsoft Telemóvel iPhone Hóbis Pilates, fotografar e viajar Férias Onde houver mar e cultura Regra de ouro “Faz o bem, planta o bem, o resto vem”
FOTO: RUI APOLINÁRIO
Ela veste pessoas com fotografias O pai e a mãe cursaram Pintura, em Belas Artes. A avó materna, Maria da Luz Guimarães, criou a primeira empresa do Norte a fazer plissados. A avó paterna, Aurora Nazareth, foi mestre de guarda-roupa de grupos de teatro como o TEP ou o Seiva Trupe. Com estes antecedentes, era fatal como o destino que a vida de Márcia fosse perfumada pelas artes e acabasse por desaguar nos mares dos trapos. “Cresci no meios dos tafetás e ferros de engomar. A roupa acabada de passar é um dos cheiros que guardo da minha infância. Os vestidos dos séculos XVII e XVIII fazem parte do imaginário da minha adolescência. Apaixonei-me por peças de roupa fora do normal”, recorda Márcia Nazareth, 44 anos, designer , fotógrafa e empresária, entre outras coisas. Nasceu nas Antas, onde se fez mulher, e a opção por fazer o secundário na Soares dos Reis indicia claramente que nunca teve dúvidas: as artes e a sua vida iriam inevitavelmente entrar em rota de colisão. Aproximou-se da Fotografia, que se tornaria uma das suas grandes paixões, quando andava na faculdade, muito por culpa do seu primo Adriano Nazareth. Mas mal acabou o curso de Design Gráfico foi logo parar ao mundo da publicidade, andando entre o Escritório do Design, Logo (um ano) e o Conceito Gráfico até deitar âncora na Opal, onde se demorou três anos em que dormiu pouco e fez muitos trabalhos, entre o quais o da invenção de uma nova imagem para os Cafés de Cabo Verde. Após uma meia dúzia de anos a trabalhar por conta de outrém no mundo da publicidade, resolveu embarcar na aventura de, em 2003, fazer a sua própria agência, a AnazarethBranding - sendo que o A é a inicial da André, o marido (e sócio nessa empresa), que ela conhecera nos jantares de publicitários e não resiste a elogiar (“É a pessoa que mais me tem ajudado a ultrapassar todos os desafios da vida”). A aventura durou dez anos exatos, em que viveu dias felizes (recorda, entre outras coisas, o lançamento e imagem do restaurante daterra, bem como a campanha do antibiótico Clavamox, da Bial) e outros nem tanto. Navegou tranquila em mar chão e enfrentou tempestades, até que em 2013, recém chegada à casa dos 40 anos, pensou “é agora ou nunca!”, pôs termo à viagem da agência de publicidade AnazarethBranding - e mudou para a Fotografia e a Têxtil a agulha da sua vida profissional. A ideia era simples: colocar as fotografias que fazia em tecidos. O conceito também: pôr as pessoas a vestir fotografias. A marca Nazareth descolou há três anos, com a coleção (13 a 14 peças, com edições limitadas e numeradas de 25 exemplares cada) de t-shirts OhPorto, que como o próprio nome indica tinha o Porto como tema - e deu logo nas vistas ao ponto da atriz brasileira Regina Duarte ter aparecido nas revistas vestida com uma foto da ponte D. Luiz feita por Márcia. Pedras, madeiras, areias, gangas, telhados e outras texturas fotografadas por Márcia e passadas a preto e branco são os temas da coleção “Black”, a sétima, apresentada no último Modtíssimo. Pelo meio estão as coleções Fado, Lx. Air (com fotografias aéreas), Green e Beach, bem como duas extra-numeração, uma encomendada pela Casa da Música e outra dedicada a Berlim, a cidade que é a sua mais recente paixão. “Quando comecei, não fazia a mínima ideia da carga de trabalhos em que me ia meter. Mas ainda bem que não sabia, porque adoro o que faço”, conclui Márcia, que tem no Mercado de Matosinhos o quartel general da NazarethCollection, que define como “uma marca de vestuário que combina fotografais moda, explorando beleza, arte e cultura”.
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X O MEU PRODUTO Por: Isabel Cristina Costa
Fato Atex Tecrisk (Tecniquitel/CITEVE)
Materiais Malha técnica composta maioritariamente por viscose Lezing FR, aramida e fibras anti-estáticas Funcionalidades Respirável, proteção ao calor e chama, alta tenacidade e anti-estático Parceiros CITEVE e Tecniquitel
Uma segunda pele contra incêndios É um fato interior constituído por camisola e calças, 100% made in Portugal. Tem o nome Atex Tecrisk e está direcionado para a área da proteção ao calor e chama. O promotor é a empresa Tecniquitel – Sociedade de Equipamentos Técnicos SA, que estabeleceu uma parceria com o CITEVE O fato (ou roupa interior) está pensado exclusivamente para o mercado português, pelo menos numa primeira fase. Herman Alves, chefe de vendas do departamento de Proteção Ocupacional da Tecniquitel, revela que empresas como a Galp e a Repsol estão já a avaliar o conforto do Atex Tecrisk. “As expectativas são grandes relativamente ao potencial do negócio até porque se optou por criar uma marca própria em vez de recorrer a fornecedores deste tipo de equipamento”, acrescenta. Herman Alves orgulha-se do facto de o Atex Tecrisk ter sido criado e desenvolvido em Portugal, desde a matéria-prima à produção. “Sabemos que a chegada ao mercado representa um processo moroso, mas estamos já em conversações com o CITEVE para o desenvolvimento de novos produtos”, adianta. A primeira apresentação pública do fato do Tecniquitel aconteceu no última Modtíssimo 47, que se realizou no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. E chegou a ser selecionado para o Prémio Inova Têxtil 2016 do iTechStyle. Agora, no mercado, vê também os bombeiros como público-alvo. Direcionado para a área da proteção ao calor e chama, o Atex Tecrisk atua como uma camada protetora junto à pele, incrementando a proteção do utilizador. Além de ser um produto esteticamente apelativo, apresenta elevados níveis de ergonomia, performance e funcionalidade. A Tecniquitel, sediada na Abrunheira, em Sintra, conta com uma filial no Norte, concretamente na Maia. De capitais nacionais, a empresa conta com 40 anos de experiência em segurança industrial. Emprega 70 pessoas e fatura perto de sete milhões de euros. Entre os seus clientes estão as Forças Armadas (Marinha, Exército e Força Aérea).
MURALHA DA CHINA NO E.COMMERCE A China aumentou as taxas para os produtos importados e entregues pelo correio, argumentando que essa subida se destina a estabelecer condições de concorrência iguais entre os sites de e.commerce e as lojas físicas que vendem produtos estrangeiros. As novas regras no cross border shopping impostas pelo Governo de Pequim restringem o limite máximo de 270 euros por encomenda e de 2 700 euros/ano por consumidor. Para além deste limites, o comprador paga uma sobretaxa, além dos direitos alfandegários. A taxa de 10% habitualmente aplicada às compras em sites estrangeiros foi substituída por uma taxa de importação que varia entre os 11,9% e os 32,9%, de acordo com as categorias dos produtos.
“START UPS” ACELERADAS Famalicão vai ter um Comité Consultivo da Rede de Incubadoras, que pretende funcionar como um acelerador de “startups", que será liderado pela Câmara Municipal, em parceria com o CITEVE. ATP, Associação Comercial e Industrial de Famalicão, Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Ave; Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Médio Ave, CeNTI, CESPU Famagrow – Associação de Business Angels de Famalicão; Fundação Minerva, Oficina – Escola Profissional do Instituto Nun’Alvres e as empresas Riopele, Kortex, Shiningdetail e Têxteis Penedo integram o Comité Consultivo.
“É preciso que toda a gente saiba que a indústria têxtil europeia está empenhada no desenvolvimento sustentável e é a mais avançada no mundo neste capítulo" Serge Piolat presidente da Euratex
ZARA ACENTUA LOOK ECO E GREEN “Traga as roupas que já não usa e dê-lhes uma vida nova” é o lema da campanha #joinlife de recolha de vestuário usado lançada pela Zara, que conta já com 300 pontos de recolha na Europa e em Portugal conta com o apoio da Cruz Vermelha. As peças recolhidas poderão ter dois destinos. As que estiverem em bom estado ganham um segundo dono, na pessoas de alguém necessitado. As restantes serão recicladas e usadas no fabrico de novas fibras.
MANGO PROMETE SER VERDE EM 2017 A Mango comprometeu-se a utilizar fibras sustentáveis e recicladas em todas as suas linhas, a partir de 2017. No ano passado, a marca espanhola começou a recolher roupas usadas, que depois são separadas pela empresa Koopera, que ou as converte em nova matéria-prima ou lhes dá novo uso, como enchimento de sofás ou isolamento térmico.
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OPINIÃO 1996
Paulo Vaz Diretor-Geral da ATP e Editor do T
ESCOLHER VIVER
MINISTRO MIRA AMARAL NO 1º FÓRUM TÊXTIL Luís Mira Amaral, à época ministro da Indústria, marcou presença na primeira edição do Fórum da Indústria Têxtil, que teve lugar em abril de 1996, no grande auditório da Exponor. Tratou-se da primeira Grande Conferência organizada pelo e para o setor e teve a participação de mais de 450 congressistas. Além de Mira Amaral, nomes como Leo Gros, Jean-Claude Lagarrigue, Sid Smith e Peter Giernoth (estes últimos representando grandes associações congéneres de França, Estados Unidos e Alemanha, apresentaram comunicações, dando uma panorâmica geral da indústria têxtil, vestuário e moda) em todo o mundo. Um mundo que se começa a globalizar de uma forma imparável.
Tenho tido o privilégio de trabalhar com o professor Daniel Bessa em diversos projetos, entre os quais se incluem ensaios prospetivos, os planos estratégicos setoriais e o Fórum da Indústria Têxtil, que, nesta sua 18ª edição, completa 20 anos de existência, percorrendo a história recente da fileira têxtil e vestuário portuguesa, sendo testemunha, quando não mesmo antecipando, a sua evolução. Ver o setor através dos seus olhos e da sua fina inteligência foi uma vantagem que me permitiu distanciar de estereótipos e de outros bloqueios, possibilitando vivê-lo com sentido crítico, objetividade e positivismo. Na magnífica entrevista que dá ao T, talvez uma das mais interessantes que tenho lido nos últimos tempos, incluindo a imprensa generalista, Daniel Bessa, diz duas coisas que não deixam de impressionar: a primeira, o facto de o setor o surpreender positivamente por ter resistido mais do que esperava e ter tido a capacidade de se superar e de se reinventar, apresentando resultados extraordinários, muito para lá do que lhe seria esperado; e a segunda, cumprido um destino – sobreviver, ganhar um lugar de destaque no campeonato que escolheu jogar, sem deslumbramento e com realismo -, lhe faltar ainda alcançar níveis de rentabilidade superiores e, em consonância, poder pagar remunerações mais elevadas, o que significaria ganhar uma capacidade acrescida para, por um lado, captar investidores e novos empreendedores, e, por outro, atrair novos profissionais e mais qualificados. Estamos em pleno processo de inverter um ciclo. De vicioso para virtuoso. De passar de um setor maldito e destinado a desaparecer, ilustrado por bandeiras negras de sindicalistas e o desprezo de políticos e da Comunicação Social, para uma atividade tida como modelo, um “case study” internacional, cujo sucesso foi arduamente construído por empresários, trabalhadores e por todo um sistema que foi criado para o servir, incluindo a academia, os centros de competências e a Associação, esta Associação, a ATP, que nunca desistiu dele. Hoje, no momento em que se começa a celebrar o sucesso, estranha-se o aparecimento de muitos protagonistas que nada tiveram a ver com o trajeto e ainda menos com o resultado, que nunca foram vislumbrados quando se discutia a abertura dos mercados e a entrada da China na OMC, a reestruturação das empresas e as duras negociações com os sindicatos, quando a competitividade significava sobrevivência, mas que agora se apressam a ganhar palco, desenvolvendo retórica em nome próprio sobre uma narrativa para a qual pouco ou nada contribuíram. Triste, mas talvez expectável. Como diria o professor Daniel Bessa, que nos serve sempre de inspiração, é a vida, e não nos devemos chocar, aceitando aquilo que ela nos dá e transformando no bom sentido aquilo que nos está ao alcance. O futuro do setor não conhecemos, mas é já muito positivo que existam desafios para enfrentar e objetivos para alcançar, para que, daqui a duas décadas, outros certamente que não nós, possam dar testemunho de realizações que serão a expressão de uma vontade que se mantém inabalável, ao longo de gerações que se sucedem, de existir e querer continuar a existir, pois, a única coisa que muitas luminárias não consideraram quando prognosticaram o seu fim, é que este tinha escolhido viver.
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Maria José Carvalho Diretora de Produção Sustentável do CITEVE
Ana Paula Dinis Departamento de Relações Internacionais da ATP
CERTIFICAÇÕES ECOLÓGICAS SÃO UM NEGÓCIO?
QUAL A ORIGEM DO MEU PRODUTO
Um destes dias perguntou-me um empresário: “Qual a certificação ecológica mais indicada para a minha empresa?” Esta pergunta surge na sequência de um contacto desse empresário com um cliente, que lhe pediu uma coleção ecológica e certificada! A pergunta é simples. A resposta é que é um pouco mais complicada. Comecei por explicar que dependia das características ecológicas do produto ou da estratégia associada à coleção a desenvolver. Se, por exemplo pretender um produto que garanta a proteção da saúde humana, disse-lhe eu, o mais indicado será o Oeko-Tex® Standard 100. Se, por outro lado, quer desenvolver uma coleção com algodão (ou outra fibra natural), de produção biológica a mais reconhecida será a certificação GOTS (Global Organic Textile Standard). Tem ainda a possibilidade do Ecolabel (rótulo ecológico da União Europeia), que será indicado caso pretenda um rótulo mais diferenciador, por ter menos produtos têxteis certificados e ser mais difícil de obter. Já com o empresário completamente confuso ainda lhe falo da certificação Made in Green by Oeko-Tex®, explicando que neste caso, além do produto ter de ser certificado Oeko-Tex® Standard 100, as empresas com processos a húmido ou químicos (tinturaria, estamparia, acabamentos, etc.) e confeções, envolvidas na sua produção, teriam de ser certificadas STeP by Oeko-Tex® (Sustainable Textile Production). Esta certificação garante, disse-lhe eu de forma simplista, que o produto não tem substâncias nocivas para a saúde humana e foi produzido de forma sustentável. Existe no mercado, ainda acrescento, o rótulo Bluesign, que tem alguns princípios similares ao Made in Green e remato dizendo que estas são apenas algumas das certificações ecológicas, uma vez que existem mais de 100 tipos de certificações diferentes, só para artigos têxteis. Nesta altura, quase em desabafo, o empresário lança a pergunta: “afinal as certificações ecológicas são um negócio?” Este empresário só faz perguntas difíceis, pensei. Mas concordei, são de facto um negócio, já que se trata da compra de um serviço a uma entidade certificadora, pagando-se as taxas de utilização do rótulo de certificação, ensaios que são necessários, auditorias que têm de ser realizadas, etc... e, em troca, a empresa recebe um certificado e a autorização de usar o rótulo dessa certificação. De qualquer modo, reforcei, não basta pagar para ter a certificação. Não é como ir comprar um fato, em que desde que pague posso ter o fato que quiser. É necessário cumprir com os requisitos associados a esse sistema de certificação. O melhor, disse-lhe eu, uma vez que há clientes que dão preferência ou até exigem determinado tipo de rótulo ecológico em detrimento de outro, será, antes de tomar a decisão, verificar junto dos seus clientes ou mercado de atuação, qual a certificação mais indicada para o seu produto.
A dúvida sobre a origem de um determinado produto é frequente e ocorre sobretudo na fase de exportação, embora também possa aparecer no momento em que se desenvolve a etiqueta e nela pretendemos inscrever “Made in Portugal”. São duas situações completamente diferentes e por agora abordaremos a primeira. Nesta, o que está em causa é saber a origem de um produto, para determinar que direitos aduaneiros serão aplicados na importação num determinado país. A União Europeia (UE) tem Acordos Comerciais com um grupo alargado de países, no âmbito dos quais são concedidas preferências aduaneiras, reduções ou isenções de direitos, mas apenas para os produtos considerados originários. Para definir o que são produtos originários são estabelecidas, no âmbito desses Acordos, Regras de Origem Preferencial. Para os produtos têxteis e de vestuário tem vigorado, na maioria dos acordos, a regra da dupla transformação do produto, existindo um conjunto alargado de operações que não são consideradas de transformação suficiente para o efeito, como é o caso da tinturaria e de outros acabamentos. Tendo em conta a evolução desta indústria em termos de processos e o valor acrescentado que os acabamentos têm trazido ao setor, tornou-se essencial a revisão destas regras com o objetivo de as flexibilizar, permitindo a combinação entre um número mais alargado de operações. Assim, em 2011, fruto de um longo processo de reflexão e debate entre os membros da EURATEX – Confederação Europeia de Têxtil e Vestuário, entre os quais a ATP, foi apresentada a proposta da indústria europeia de têxtil e vestuário para as Regras de Origem Preferencial, no caso, a aplicar no âmbito da Convenção Regional Pan-Euromediterrânica (celebrada entre a UE, Islândia, Suíça / Liechtenstein e Noruega, ilhas Faroé, Turquia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Egipto, Cisjordânia e Faixa de Gaza, Israel, Líbano, Síria, Jordânia, Albânia, Bósnia Herzegovina, Macedónia, Montenegro, Sérvia e Kosovo). Um conjunto bem alargado de países com interesses muito específicos no contexto desta indústria foram a grande razão para o arrastar deste processo negocial. Após impasses, avanços e recuos, com vários pedidos de exceções, derrogações, flexibilidades, no 2oº trimestre deste ano, existia uma grande expectativa que depois do Verão teríamos, finalmente, boas notícias para a nossa indústria que, entretanto, tinha vindo a investir cada vez mais nalguns destes países e para quem estas regras são fundamentais. Mas, mais uma vez, reuniões e negociações adiadas, foram um balde de água fria e o mote para um conjunto alargado de ações de lobby, por parte da EURATEX e também da ATP, quer junto da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, quer junto dos seus representantes nacionais, mais uma vez frisando a importância da conclusão destas negociações para a competitividade da ITV europeia e portuguesa. Entretanto, uma nova data e uma nova esperança de conclusão do processo negocial até ao final deste ano.
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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara
Apesar de estar a assoberbadíssima de trabalho (“tem sido uma semana de loucos”, comentou, a propósito dos dias que antecederam o Portugal Fashion), Katty não se eximiu a fazer horas extraordinárias (não remuneradas) para cumprir o dever patriótico de ajudar António Guterres a vestir-se “comme il fault” para desempenhar as altas funções de secretário-geral da ONU
Um Guterres dandy para dirigir a ONU É até com alguma vaidade que o País felicita António Guterres pelo seu novo cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Como símbolo do nosso contentamento, preparamos um guarda roupa especial para que em janeiro o novo secretário-geral possa levar uma mala cheia de boas opções. Nas anteriores funções que Guterres desempenhava na ONU, dava com certeza, máxima prioridade ao conforto. Mas neste novo cargo, o de mais alta importância dentro da organização, a elegância ganha a corrida. Por isso preparamos opções ricas em textura e cor. A nossa primeira sugestão desenha cuidadosamente toda a figura do nosso Guterres num fato que é sem duvida uma ode ao dandismo. Um fato de três peças com padrão axadrezado em tons de cinza. Um lenço em seda lilás ocupa o lugar da tradicional gravata. Para fechar, uma elegante bengala em prata e sapatos Oxford com meias de seda. O segundo fato continua o mesmo registo dandy , obviamente não de forma existencial, mas meramente estética. Mantemos o fato de três peças e o padrão xadrez, mas desta vez mais pequeno e em tons mais claros, o que não o torna mais discreto. Optamos agora por uma bow tie num intenso vermelho sangue e um chapéu de coco preto para rematar o look vintage . Esperemos que este novo visual cative os cépticos que o tentaram desmarcar. Sabemos que imagem não é tudo, mas muitas vezes vale mil palavras.
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Outubro 2016
O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão
Los Ibéricos Rua do Castelo 3 4450-631 Leça da Palmeira tel. 224 965 049
De Espanha, nem bons ventos nem bons casamentos? Mas algumas brisas ainda escapam... É consabido que todas as regras têm exceções, mas esta exceção é especial porque, mais do que consabida... é com sabor! Dos maus ventos não me apetece falar, porque a meteorologia tem sido inimiga da nossa gastronomia. Basta-me lembrar a forma como o magnífico Shis foi varrido do mapa como doloroso exemplo. Mas quanto aos casamentos, se a história nos traz recordações menos felizes de uniões que nos correram muito mal, a contemporaneidade diz-nos que em termos de gastronomia, enologia e restauração há casamentos ibéricos que valem a pena e merecem ser celebrados por isso. E os casamentos gastam sempre muito tecido e tecem muitas malhas... sem esquecer que a Espanha é hoje o maior destino das exportações da ITV. O Los Ibéricos, que assentou arraiais em Leça da Palmeira, no famoso Largo do Castelo, à esquerda do mítico Batô, teve o engenho e arte de consumar este casamento excecional (nos dois sentidos de que é uma exceção e é muito bom)
BOA BRISA DE ESPANHA com uma elegância fora do normal entre as especialidades portuguesas e espanholas, em que nenhuma das duas sai a perder. Porque espantosamente (Voilá a segunda exceção) saem as duas a ganhar! Conseguir reunir num mesmo espaço alguns dos melhores achados das gastronomias portuguesa e espanhola é um desafio ambicioso, mas também muito complicado. Protagonizar este feito num ambiente descomprometido de um bom gosto apurado sai da exceção e já configura uma boa surpresa. Combinar estas duas valências com um serviço irrepreensível, em
que a simpatia anda sempre de mãos dadas com um profissionalismo evidente, já nos obriga a falar de um caso de sucesso óbvio. A decoração e o ambiente recriado no Los Ibéricos estão uns bons degraus acima dos anteriores locatários, mas é nas propostas vínicas e gastronómicas que a inovação marca pontos decisivos. Em vez de termos mais um bom restaurante de peixe em Matosinhos (onde eles já existem aos pontapés), o Los Ibéricos apostou numa carta de tapas e pratos que nos deixam escolher o melhor de dois mundos, sendo certo que os
mais valentes nem precisam de escolher. Modéstia à parte, eu incluo-me neste grupo, por isso, da última vez que lá rumei ataquei numa tábua de Bellota, mas também num queijo da ilha de São Jorge, nuns huevus rotos con jamón, e ainda nuns maravilhosos croquetes de espinafres. Após este conforto inicial a que não foi alheio um Quinta do Crasto branco que se encarregou de todas ligações com sucesso, o estômago hesitou entre o pato com arroz do mesmo e o chuletão Los Ibéricos. Optei pela “dobradinha” para não ferir suscetibilidades. Nem a da casa, que insistia num dos seus pratos estrela, nem a minha, que desde que descobri que o chefe fazia o “meu” pato com arroz de pato do antigo Bule, nunca mais de lá tirei o pensamento. Resultado da iniciativa de dois jovens valores da nossa restauração, o chefe Vitor Correia na cozinha e o Ricardo Ferreira na sala, que eu já conhecia do Di Vino, Bule e D. Juan, este Los Ibéricos tem muito boas pernas para andar. Até porque também está muito bem “calçado”, mas isso são contas de outro rosário!
Outubro 2016
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SOUVENIRS
MALMEQUER Por: Carolina Guimarães
Albertino Oliveira, 50 anos, diretor de Marketing Comercial da Sedacor. Vive com a mulher e os dois filhos – um menino e uma menina – em Paços de Brandão, onde passou a maior parte da sua vida. Para completar o quadro de família falta o cão, que não tem, mas gostava de ter. É um português do mundo e um homem dos sete ofícios – para além da área da cortiça, já trabalhou em setores tão diversos como os laticínios, madeiras, videojogos ou filmes
Gosta
Não gosta
A história dos portugueses no mundo Coldplay
Opressão mosquitos ingratidão corrupção
sol Beethoven amar trabalho de equipa Porto
tristeza maus condutores burocracia fado
filmes mar ler o Expresso sonhar passarinhos
lamechas solidão malandrice quem só sabe
do padrinho poder dizer o que penso Las Vegas
criticar mas não constrói nada doenças
sinceridade recordar cortiça bom senso Rio de
incuráveis esperar vinagre presunção
Janeiro objetivos conquistados humor U2 peixe
cebola crua estradas com buracos indecisão
e arroz de marisco boas conversas dançar os
prisão lavar louça trânsito falsidade hienas
meus filhos séries e documentários fotografia
nepotismo invejosos violência que esperem
ténis Pulp Fiction Paris festas cheiros do mar
por mim crise abuso do poder maus cheiros
e da montanha caminhar Alentejo produtos
livros muito densos semáforos vermelhos
portugueses degustar rir e fazer rir Pink Floyd
nabos esquecer de não gostar morangos
humildade doces Miami Smooth fm Gladiador
verdes ausência hipocrisia injustiças miséria
Lisboa lua liberdade Roma sinceridade Budapeste
humana pessoas mal-educadas
CALÇAS DO TIAGO VIRARAM CALÇÕES DA DIANA Seria de esperar que Diana Pereira, ex-manequim e a única portuguesa até hoje a ganhar o concurso Supermodel of the World, tivesse vestido muita roupa por esse mundo fora que a tivesse marcado para a vida. Mas numa prova de que as coisas mais simples são muitas vezes as que têm mais significado, Diana elege a sua peça favorita como sendo umas antigas calças do seu marido, Tiago Monteiro, que transformou nuns calções para si. “Ele já as tinha posto completamente de lado”, diz sobre as antigas calças Levi’s do marido. “Há uns dois ou três anos fiz delas uns calções para mim e adoro-os, levo-os para todo o lado”. Provando que uns calções de ganga conseguem ser tão versáteis como qualquer outra peça de roupa, Diana afirma que consegue “adaptá-los a todo o tipo de situações – em ocasiões mais relax, de praia e até mais compostas. Só não os consigo levar para festas de gala!” Diana Pereira foi a cara da última Porto Fashion Week’s Night Out. Depois de uma grande carreira como manequim e de se ter sentado ao volante de carros de corrida em várias provas nacionais, continua a explorar ambos os mundos mas de forma diferente. É agora apresentadora de televisão do “Volante”, um magazine semanal da SIC sobre automóveis e tornou-se uma empresária de sucesso, criando com a Botton uma linha de fitness para mulheres que está a conquistar os mercados internacionais.
Telling Textile Stories PALCO Frankfurt no Meno, Parque de Exposições. Mais de 2.850 expositores de todo o mundo com novidades em têxteis para a casa. ACÇÃO Uma ocasião única para descobrir têxteis para o lar e para hotelaria, para senti-los, para colocar encomendas e para observar de perto as tendências do sector. O SEU PAPEL Escrever a sua própria história de sucesso na Heimtextil: Troque informações sobre temas actuais com outros especialistas. Vá à descoberta das tendências no Parque Temático EXPLORATIONS e descubra texturas e amostras fascinantes. Deixe-se inspirar pelos nossos expositores e pelas Tendências 2017/2018. Mais informações e bilhetes em heimtextil.messefrankfurt.com info@portugal.messefrankfurt.com, Tel. 21 793 91 40
de 10 a 13. 1. 2017 de Terça a Sexta-Feira