"Para entender a prisão, tem que estudar a rua"

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ABRE ASPAS n MILTON JÚLIO DE CARVALHO FILHO n ANTROPÓLOGO

«Para

entender a prisão tem que estudar a rua» Texto TATIANA MENDONÇA tatianam@gmail.com Foto ADILTON VENEGEROLES asvvas@gmail.com

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SALVADOR DOMINGO 29/1/2017

Há quase 25 anos investigando o sistema prisional brasileiro, o antropólogo Milton Júlio de Carvalho Filho, 52, volta e meia pensa em sair, em ganhar a liberdade. Mas há algo ali naquele lugar que todos querem evitar que o mantém fisgado. Para ele, as prisões são sinônimo de emancipação. “Eles perdem e se recuperam o tempo todo, de maneira intensa. Absorvi muito isso para a minha vida pessoal”. Não esquece de um rapaz, Cláudio, que faleceu preso, e que costumava dizer que era “infalível”, porque tiravam tudo dele e ele nunca ia à falência. “Achei maravilhoso e fiquei querendo ser uma pessoa infalível também”. Já do sistema prisional brasileiro não se pode dizer o mesmo. Cronicamente esgotado, ganha as páginas dos jornais nacionais e estrangeiros quando mostra sua face mais terrível diante do cotidiano já medieval: as chacinas de pessoas tuteladas pelo Estado. Só este ano, pelo menos 136 presos foram mortos. Professor da Universidade Federal da Bahia, Milton está há um ano pesquisando a ocorrência dessas grandes rebeliões e fez uma conta rápida para a Muito: dá uma média de uma por semestre, com cerca de 14 mortos em cada conflito. Para ele, a situação só irá melhorar quando passarmos a olhar de modo mais inteligente a relação entre as prisões e as ruas.


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