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SALVADOR DOMINGO 24/4/2016
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Promoção válida de 18/04/2016 a 07/05/2016. Consulte o regulamento e lojas participantes/Certificado de Autorização Caixa nº. 6-0656/2016.
#408 / DOMINGO, 24 DE ABRIL DE 2016 REVISTA SEMANAL DO GRUPO A TARDE
Sob fogo
CRUZADO le a v , jo ei b le a v e t n se re p Seu abraço e 11 vales-compra.
Entre manifestações pró e contra o impeachment, crianças tentam entender a crise na política
Compre de 18/04 a 07/05 e concorra a 11 vales-compra especiais.
A cada 250 reais em compras, troque por um cupom para concorrer a 11 vales-compra, 01 no valor de R$ 5 mil e os outros 10 no valor de R$ 2 mil, todos para serem utilizados no Shopping Itaigara*. Participe e dê o melhor presente para a melhor mãe do mundo.
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SALVADOR DOMINGO 24/4/2016
PEQUENOS CIDADÃOS
Muito visita escolas baianas e propõe que as crianças, tantas vezes incluídas nas discussões de adultos, contem suas versões para a crise política brasileira Texto CARLA BITTENCOURT carlapb@gmail.com TATIANA MENDONÇA tatianam@gmail.com Fotos LÚCIO TÁVORA luciotavora@gmail.com
SALVADOR DOMINGO 24/4/2016
Alunos da Escola Experimental mostram desenhos e brincam com o símbolo do panelaço
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PEQUENOS CIDADÃOS
Muito visita escolas baianas e propõe que as crianças, tantas vezes incluídas nas discussões de adultos, contem suas versões para a crise política brasileira Texto CARLA BITTENCOURT carlapb@gmail.com TATIANA MENDONÇA tatianam@gmail.com Fotos LÚCIO TÁVORA luciotavora@gmail.com
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Alunos da Escola Experimental mostram desenhos e brincam com o símbolo do panelaço
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U
ma coisa é certa. O Brasil está no fundo do poço”. Um suspiro um tanto desolado precede a frase dita por Leonardo Brito, 10 anos. Ao lado de seis colegas do 5º ano da Escola Experimental, em Brotas, ele passou uma tarde conversando com a Muito sobre o momento político turbulento que o país atravessa. Sentados numa mesa no laboratório de ciências, quase todos disseram que eram contra o impeachment de Dilma, por falta de provas. O encontro aconteceu antes do domingo passado, dia 17 de abril, quando mais de dois terços da Câmara dos Deputados decidiram encaminhar para o Senado o pedido de afastamento da presidente. Léo, por sua vez, não era a favor nem contra o impedimento. “Não quero que Dilma continue. Mas também não quero o impeachment, porque a gente tem coisas mais urgentes a resolver. Temos que pensar no que é melhor para o país. Primeiro, a gente tem que baixar a poeira. Como assim baixar a poeira? Os políticos estão sendo apressados em tirar a Dilma do poder. Na minha opinião, isso seria para os políticos corruptos livrarem-se da história”. A 13 quilômetros dali, na Escola Municipal Oito de Maio, em Paripe, o clima era diverso. Chegamos no meio de uma atividade em que a turma do 4º ano elegia qual dos três grupos em que a sala foi dividida tinha as melhores propostas para a escola. A votação foi animada, mas não mais do que o coro que se formou quando passaram das questões locais para as nacionais. “Fora Dilma! Dilma ladrona! Fora Dilma!”, gritaram, sem dar muita atenção à professora, que pedia que sossegassem. Só uma garota, Arislane Mota, 11, disse ser a favor da presidente, por falta de provas e por causa do Minha Casa, Minha Vida.
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POLITICÁRIO
Crianças de quatro escolas de Salvador, públicas e privadas, deram suas definições para termos e personagens políticos em evidência no Brasil: PANELAÇO. 1. É uma panela com laço (Deivid, 9). 2. É uma coisa que tem no meu bairro toda hora. Todo mundo pega a panela e a colher de pau e vai protestar (Lorran, 10). 3. É quando o povo se revolta com a pessoa que está liderando ele. Batem nas panelas para fazer barulho e revelar que não está tudo bem (Letícia, 10).
Naquela semana, Laili sentou para escrever, como se diz no Facebook, um textão sobre o assunto. Pesou o fato de que, além de professora, ela é mãe de Caio, 10, seu aluno nessa escola. Sua postagem questionava: “Temos que ter muito cuidado como estamos formando nossos filhos: queremos pessoas que destilam palavras de ódio e intolerância a quem pensa diferente?”. Ela mesma respondeu: “Não devemos deixar as crianças alienadas, mas o que a gente tem que ensinar é que há pontos de vista diferentes que devem ser respeitados”. O que não dá, na opinião da professora, é assistir a criança brigando por causa do que pensam seus pais. “Se está complicado para a gente entender, imagine para eles”.
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EDUARDO CUNHA. 1. É o presidente da Câmara (Marina, 10). 2. Alguém que pensou nele em primeiro lugar (Juliana, 10). 3. Pessoa da atualidade que é a mais corrupta do Brasil inteiro. Já deveria estar preso agora. Roubou milhões e milhões de reais e deixou o Brasil em um estado político terrível (Bernardo, 10).
EDUCAÇÃO CIDADÃ
A democracia permite que todos possam se manifestar, por Bernardo Fialho, 10
As crianças estão seguindo os humores alterados dos adultos e também se polarizam. No meio de improvisos e contações de história na aula de teatro, um aluno de 10 anos da Lua Nova, na Pituba, disparou, ao ouvir um colega falar sobre impeachment: “Dilma, sua vaca!”. Teve risadinha pelo xingamento, mas a professora Laili Flórez sabia que a turma não tinha ideia do que realmente estava sendo dito. “Mostrei que não era possível falar assim de mulher nenhuma. Não importava quem, tinha que ser respeitada”.
COXINHA. 1. É um a comida que voc ê faz a massa, bota frang o dentro, frita ela e come. Tem também a cox inha da nossa perna . (José Daniel, 9). 2. É uma pessoa qu e só se importa com ela mesma, que não está nem aí para os pobres. Eles acham que o partido deles é o melhor de todos e que tem que ter impeachment, mesmo que a pre sidente não tenha feito na da de errado. Só porque o presidente deles não foi eleito (Be rnardo, 10). 3. Eu não sei , mas já ouvi falar de acarajé. O acarajé foi quando o gover nador estava falando com outra pessoa no telefone: “Olhe, ma nde cinco mil aca rajés para mim”. Acaraj é era dinheiro. (Andrey, 11).
PETRALHA. 1. É da Petrobras. É coisa de petróleo, de minério (Mateus, 9). 2. Metralhadora de pé. Ou então é alguma pessoa que é corrupta (Isaac, 10) 3. Parece metralha, mas não sei o que é. Metralha é uma música e é uma arma (Jobson, 10).
A educadora Cleomar Manhas, responsável pelo projeto Crianças e Adolescentes no Parlamento, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), está certa de que política é coisa para criança. “Elas estão envolvidas com tudo o que está acontecendo e precisam opinar sobre as políticas públicas que as envolvem”. Para Cleomar, a escola é um espaço privilegiado onde as crianças podem adquirir informações de qualidade e “desapaixonadas” sobre o tema. “Há muitas manifestações equivocadas e interpretações parciais, que estimulam o ódio. A escola deve se contrapor a isso tratando desses temas de modo transversal, nas aulas de história, geografia e língua portuguesa, por exemplo. Tem de estar em acordo com a realidade, com o mundo dos vivos”, provoca. Cleomar defende que essa postura seja mantida durante toda a educação das crianças, e não só em situações-limite, como a que estamos vivendo. “A escola precisa repensar seu papel, de fato. Precisa ter uma visão ampliada e trabalhar com uma educação pautada para os direitos humanos, a democracia e a cidadania”. A educadora vai além e sugere que esse movimento se estenda aos pais, diminuindo as chances de possíveis saias-justas, já que muitas crianças acabam reproduzindo as opiniões que ouvem em casa. “A escola tem que ser um lugar democrático, acionando os espaços de participação, como conselhos e fóruns, com pais e mestres juntos, para mostrar às crianças que existem limites éticos”. Há também uma vertente que defende a instituição mais formal nas escolas da chamada “educação política”. Essa é uma das bandeiras do Movimento Voto Consciente, do qual Eduardo Seino, mestre em ciência política, faz parte. Ele acredita que essa aprendizagem poderia ajudar as pessoas a compreender melhor tudo isso que está acontecendo e a “cultivar determinados valores essenciais à democracia, como a tolerância, evidentemente em falta nos dias atuais”. E diz mais: “Muitas vezes, por não entender o seu
Dilma e Lula, vestido de presidiário, por Jobson Souza, 10
LAVA-JATO. 1. Os políticos corruptos desviam dinheiro para empresas que lavam o dinheiro e colocam na conta deles fazendo assim com que a polícia tente pegá-los e descobrir quem está fazendo isso e por quê. Esse ato da polícia é chamado de operação Lava Jato (Leonardo, 10). 2. Tem dois grupos, os certos e os errados. Os errados tentam fazer lavagem em vez de trabalhar para fazer as coisas certas. Mas isso é ruim porque no futuro vão descobrir e isso vai se voltar contra eles (Juliana, 10). 3. É a operação que investiga a quantidade de dinheiro roubado dos cofres da Petrobras (Raquel, 9).
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ma coisa é certa. O Brasil está no fundo do poço”. Um suspiro um tanto desolado precede a frase dita por Leonardo Brito, 10 anos. Ao lado de seis colegas do 5º ano da Escola Experimental, em Brotas, ele passou uma tarde conversando com a Muito sobre o momento político turbulento que o país atravessa. Sentados numa mesa no laboratório de ciências, quase todos disseram que eram contra o impeachment de Dilma, por falta de provas. O encontro aconteceu antes do domingo passado, dia 17 de abril, quando mais de dois terços da Câmara dos Deputados decidiram encaminhar para o Senado o pedido de afastamento da presidente. Léo, por sua vez, não era a favor nem contra o impedimento. “Não quero que Dilma continue. Mas também não quero o impeachment, porque a gente tem coisas mais urgentes a resolver. Temos que pensar no que é melhor para o país. Primeiro, a gente tem que baixar a poeira. Como assim baixar a poeira? Os políticos estão sendo apressados em tirar a Dilma do poder. Na minha opinião, isso seria para os políticos corruptos livrarem-se da história”. A 13 quilômetros dali, na Escola Municipal Oito de Maio, em Paripe, o clima era diverso. Chegamos no meio de uma atividade em que a turma do 4º ano elegia qual dos três grupos em que a sala foi dividida tinha as melhores propostas para a escola. A votação foi animada, mas não mais do que o coro que se formou quando passaram das questões locais para as nacionais. “Fora Dilma! Dilma ladrona! Fora Dilma!”, gritaram, sem dar muita atenção à professora, que pedia que sossegassem. Só uma garota, Arislane Mota, 11, disse ser a favor da presidente, por falta de provas e por causa do Minha Casa, Minha Vida.
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POLITICÁRIO
Crianças de quatro escolas de Salvador, públicas e privadas, deram suas definições para termos e personagens políticos em evidência no Brasil: PANELAÇO. 1. É uma panela com laço (Deivid, 9). 2. É uma coisa que tem no meu bairro toda hora. Todo mundo pega a panela e a colher de pau e vai protestar (Lorran, 10). 3. É quando o povo se revolta com a pessoa que está liderando ele. Batem nas panelas para fazer barulho e revelar que não está tudo bem (Letícia, 10).
Naquela semana, Laili sentou para escrever, como se diz no Facebook, um textão sobre o assunto. Pesou o fato de que, além de professora, ela é mãe de Caio, 10, seu aluno nessa escola. Sua postagem questionava: “Temos que ter muito cuidado como estamos formando nossos filhos: queremos pessoas que destilam palavras de ódio e intolerância a quem pensa diferente?”. Ela mesma respondeu: “Não devemos deixar as crianças alienadas, mas o que a gente tem que ensinar é que há pontos de vista diferentes que devem ser respeitados”. O que não dá, na opinião da professora, é assistir a criança brigando por causa do que pensam seus pais. “Se está complicado para a gente entender, imagine para eles”.
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EDUARDO CUNHA. 1. É o presidente da Câmara (Marina, 10). 2. Alguém que pensou nele em primeiro lugar (Juliana, 10). 3. Pessoa da atualidade que é a mais corrupta do Brasil inteiro. Já deveria estar preso agora. Roubou milhões e milhões de reais e deixou o Brasil em um estado político terrível (Bernardo, 10).
EDUCAÇÃO CIDADÃ
A democracia permite que todos possam se manifestar, por Bernardo Fialho, 10
As crianças estão seguindo os humores alterados dos adultos e também se polarizam. No meio de improvisos e contações de história na aula de teatro, um aluno de 10 anos da Lua Nova, na Pituba, disparou, ao ouvir um colega falar sobre impeachment: “Dilma, sua vaca!”. Teve risadinha pelo xingamento, mas a professora Laili Flórez sabia que a turma não tinha ideia do que realmente estava sendo dito. “Mostrei que não era possível falar assim de mulher nenhuma. Não importava quem, tinha que ser respeitada”.
COXINHA. 1. É um a comida que voc ê faz a massa, bota frang o dentro, frita ela e come. Tem também a cox inha da nossa perna . (José Daniel, 9). 2. É uma pessoa qu e só se importa com ela mesma, que não está nem aí para os pobres. Eles acham que o partido deles é o melhor de todos e que tem que ter impeachment, mesmo que a pre sidente não tenha feito na da de errado. Só porque o presidente deles não foi eleito (Be rnardo, 10). 3. Eu não sei , mas já ouvi falar de acarajé. O acarajé foi quando o gover nador estava falando com outra pessoa no telefone: “Olhe, ma nde cinco mil aca rajés para mim”. Acaraj é era dinheiro. (Andrey, 11).
PETRALHA. 1. É da Petrobras. É coisa de petróleo, de minério (Mateus, 9). 2. Metralhadora de pé. Ou então é alguma pessoa que é corrupta (Isaac, 10) 3. Parece metralha, mas não sei o que é. Metralha é uma música e é uma arma (Jobson, 10).
A educadora Cleomar Manhas, responsável pelo projeto Crianças e Adolescentes no Parlamento, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), está certa de que política é coisa para criança. “Elas estão envolvidas com tudo o que está acontecendo e precisam opinar sobre as políticas públicas que as envolvem”. Para Cleomar, a escola é um espaço privilegiado onde as crianças podem adquirir informações de qualidade e “desapaixonadas” sobre o tema. “Há muitas manifestações equivocadas e interpretações parciais, que estimulam o ódio. A escola deve se contrapor a isso tratando desses temas de modo transversal, nas aulas de história, geografia e língua portuguesa, por exemplo. Tem de estar em acordo com a realidade, com o mundo dos vivos”, provoca. Cleomar defende que essa postura seja mantida durante toda a educação das crianças, e não só em situações-limite, como a que estamos vivendo. “A escola precisa repensar seu papel, de fato. Precisa ter uma visão ampliada e trabalhar com uma educação pautada para os direitos humanos, a democracia e a cidadania”. A educadora vai além e sugere que esse movimento se estenda aos pais, diminuindo as chances de possíveis saias-justas, já que muitas crianças acabam reproduzindo as opiniões que ouvem em casa. “A escola tem que ser um lugar democrático, acionando os espaços de participação, como conselhos e fóruns, com pais e mestres juntos, para mostrar às crianças que existem limites éticos”. Há também uma vertente que defende a instituição mais formal nas escolas da chamada “educação política”. Essa é uma das bandeiras do Movimento Voto Consciente, do qual Eduardo Seino, mestre em ciência política, faz parte. Ele acredita que essa aprendizagem poderia ajudar as pessoas a compreender melhor tudo isso que está acontecendo e a “cultivar determinados valores essenciais à democracia, como a tolerância, evidentemente em falta nos dias atuais”. E diz mais: “Muitas vezes, por não entender o seu
Dilma e Lula, vestido de presidiário, por Jobson Souza, 10
LAVA-JATO. 1. Os políticos corruptos desviam dinheiro para empresas que lavam o dinheiro e colocam na conta deles fazendo assim com que a polícia tente pegá-los e descobrir quem está fazendo isso e por quê. Esse ato da polícia é chamado de operação Lava Jato (Leonardo, 10). 2. Tem dois grupos, os certos e os errados. Os errados tentam fazer lavagem em vez de trabalhar para fazer as coisas certas. Mas isso é ruim porque no futuro vão descobrir e isso vai se voltar contra eles (Juliana, 10). 3. É a operação que investiga a quantidade de dinheiro roubado dos cofres da Petrobras (Raquel, 9).
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taram convencer a filha de suas convicções políticas. Este papel, entretanto, também não caberia à escola, decidiram. “Eu disse: ‘Nunca vou te pedir para usar uma camisa vermelha. Você será adulta e tomará suas decisões. Mas não é a escola que vai determinar que você vista preto’”. A mãe da aluna contou à Muito que chegouaagendarumaconversacomadireção da escola, mas acabou desmarcando a reunião por questões pessoais. A ideia dela era propor um diálogo em vez da manifestação. “Na minha infância, estava sendo votada a Assembleia Nacional Constituinte e minha escola organizou um debate. Todos aprendemos com aquilo”, lembra. A diretora do Módulo Criarte, Teresa Brasileiro, disse que a escola não fez objeção à manifestação, mas que ninguém foi obrigado a vestir preto e que o ato não incluiu crianças – esteve restrito a professores e funcionários, embora alguns alunos tenham aderido. Pela faixa etária dos es-
Panorama político do Brasil, por Sophia Deway, 10
DELAÇÃO PREMIADA. 1. É um prêmio que um político ganha porque fez alguma coisa boa pelo país (Lorran, 10). 2. É um prêmio que o político ganha quando fez algo de ruim, como Eduardo Cunha. O prêmio pode ser o de maior roubo (Zeus, 9).
funcionamento, os cidadãos acabam se afastando da política e, seguindo a onda de notícias negativas apenas, criam uma relação de repulsa, pois tendem a associá-la somente à corrupção. É preciso quebrar esse raciocínio, mostrando que a política é muito mais do que isso e está no nosso dia a dia”. Seino reconhece que há um certo receio com a adoção da “educação política”, volta e meia associada a doutrinação. Por isso, reitera que sua característica mais importante é ser suprapartidária. “Como se começa qualquer aula de educação política? Dizendo em alto e bom tom que ali não é um espaço para defender nenhuma ideologia ou partido ou personalidade política”.
MANIFESTAÇÃO OU DEBATE? Mas, e se a escola decide tomar partido? Foi o que nos relatou a mãe de uma aluna do Colégio Módulo Criarte, na Pituba, que preferiu não se identificar. Em março, com a nomeação do ex-presidente Lula para o Ministério da Casa Civil e a divulgação de escutas
telefônicas nas quais ele conversava, entre outras pessoas, com a presidente Dilma, manifestantes em diversos estados brasileiros combinaram de ir para as ruas vestidos de preto, em sinal de “luto”. Um grupo de WhatsApp da escola informou, na véspera, que professores e funcionários seriam liberados para vestir preto. Na manhã seguinte, quando chegou com a filha de 9 anos à porta do Módulo, a mãe contou que muitas crianças, que estavam de farda, quando viram a cena, quiseram voltar para casa para trocar de roupa, assim como sua filha. “Foi ali que eu vi que a gente tinha que conversar”. Apesar de serem de uma família de esquerda, nem ela nem o marido jamais ten-
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IMPEACHMENT. 1. É quando o presidente pega o dinheiro do povo e usa para o seu lazer, para passear. Aí tem manifestação, protesto, com as pessoas dizendo “queremos Justiça!” (Ícaro, 9). 2. O impeachment é quando o povo brasileiro quer tirar o presidente ou algum político do seu cargo, quando ele comete algum crime (Marina, 10). 3. É quando um presidente é tirado de seu cargo porque teve um governo tão corrupto, mas tão corrupto, que fez tanto mal ao país, que é preciso sair (Bernardo, 10).
tudantes (até 10 anos), a diretora considera que política não é uma demanda e que, por isso, o tema não é levado para sala de aula. Seja no cenário macro, de escândalos e investigações, ou no cenário micro, da política do dia a dia. “Apenas quando os alunos trazem essas questões, nós trabalhamos”.
LÍDERES COMUNITÁRIOS
Personagens nacional e local, por Paola Pinho de Jesus, 9
O cenário é outro na Escola Municipal Baha’i, em Nova Brasília de Itapuã. Por lá, qualquer situação cotidiana tem significado político, explica a diretora Marinalva Estrela. Quando o telhado da escola quebra, o lixo acumula na rua ou quando é preciso fazer passeata em combate ao mosquito da dengue, pais, professores, funcionários e alunos se unem e todos participam. “Nessa hora, não interessa o partido de ninguém. A gente entende que as crianças são mais importantes”, observa a diretora. O próximo ato político, lembra Marinalva, é uma reunião no dia 30 deste mês, sobre o fardamento dos alunos. Há três anos, calças e camisas novas não chegam à Baha’í. Resultado: nos mais velhos, as fardas estão gastas e os mais novos têm que ir para a escola com a roupa de casa. Os estudantes se envolvem na discussão e a diretora se orgulha: “Eles gostam de participar. Em muitos, a gente já vê um líder comunitário em formação”. A Secretaria Municipal da Educação informou que as fardas foram distribuídas para as escolas da rede em dois lotes no ano passado. Porém não soube precisar o que houve no caso da Baha’i. No dia da visita da Muito, duas turmas do 4º e 5º ano da Baha’i se juntaram às outras escolas que visitamos para construir um “Politicário”, espécie de glossário político com os termos que estão em
GOLPE. 1. É quando você tem um namorado e ele mexe na sua bolsa e aí pega seu cartão sem você saber e usa (Iasmin, 9). 2. É quando a pessoa golpeia o outro, ou o povo, como um roubo de dinheiro. Mas não é certo falar roubo, porque a gente não tem provas do que aconteceu. É o transferimento de dinheiro. Mas xingar Dilma também é um golpe, ou postar vídeos inapropriados. O povo não tem provas porque não tá ali vigiando Dilma (Sophia, 10). 3. Golpe é quando antes das eleições os políticos prometem coisas, mas não fazem. Falam só para as pessoas votarem neles, para conseguirem cargos, dinheiro, emprego, e eles não fazem nada para a melhora do país (Ana Gabriela, 9). 4. É quando alguém promete que vai fazer uma coisa e depois engana. Dilma prometeu e não fez (Juliana, 10).
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taram convencer a filha de suas convicções políticas. Este papel, entretanto, também não caberia à escola, decidiram. “Eu disse: ‘Nunca vou te pedir para usar uma camisa vermelha. Você será adulta e tomará suas decisões. Mas não é a escola que vai determinar que você vista preto’”. A mãe da aluna contou à Muito que chegouaagendarumaconversacomadireção da escola, mas acabou desmarcando a reunião por questões pessoais. A ideia dela era propor um diálogo em vez da manifestação. “Na minha infância, estava sendo votada a Assembleia Nacional Constituinte e minha escola organizou um debate. Todos aprendemos com aquilo”, lembra. A diretora do Módulo Criarte, Teresa Brasileiro, disse que a escola não fez objeção à manifestação, mas que ninguém foi obrigado a vestir preto e que o ato não incluiu crianças – esteve restrito a professores e funcionários, embora alguns alunos tenham aderido. Pela faixa etária dos es-
Panorama político do Brasil, por Sophia Deway, 10
DELAÇÃO PREMIADA. 1. É um prêmio que um político ganha porque fez alguma coisa boa pelo país (Lorran, 10). 2. É um prêmio que o político ganha quando fez algo de ruim, como Eduardo Cunha. O prêmio pode ser o de maior roubo (Zeus, 9).
funcionamento, os cidadãos acabam se afastando da política e, seguindo a onda de notícias negativas apenas, criam uma relação de repulsa, pois tendem a associá-la somente à corrupção. É preciso quebrar esse raciocínio, mostrando que a política é muito mais do que isso e está no nosso dia a dia”. Seino reconhece que há um certo receio com a adoção da “educação política”, volta e meia associada a doutrinação. Por isso, reitera que sua característica mais importante é ser suprapartidária. “Como se começa qualquer aula de educação política? Dizendo em alto e bom tom que ali não é um espaço para defender nenhuma ideologia ou partido ou personalidade política”.
MANIFESTAÇÃO OU DEBATE? Mas, e se a escola decide tomar partido? Foi o que nos relatou a mãe de uma aluna do Colégio Módulo Criarte, na Pituba, que preferiu não se identificar. Em março, com a nomeação do ex-presidente Lula para o Ministério da Casa Civil e a divulgação de escutas
telefônicas nas quais ele conversava, entre outras pessoas, com a presidente Dilma, manifestantes em diversos estados brasileiros combinaram de ir para as ruas vestidos de preto, em sinal de “luto”. Um grupo de WhatsApp da escola informou, na véspera, que professores e funcionários seriam liberados para vestir preto. Na manhã seguinte, quando chegou com a filha de 9 anos à porta do Módulo, a mãe contou que muitas crianças, que estavam de farda, quando viram a cena, quiseram voltar para casa para trocar de roupa, assim como sua filha. “Foi ali que eu vi que a gente tinha que conversar”. Apesar de serem de uma família de esquerda, nem ela nem o marido jamais ten-
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IMPEACHMENT. 1. É quando o presidente pega o dinheiro do povo e usa para o seu lazer, para passear. Aí tem manifestação, protesto, com as pessoas dizendo “queremos Justiça!” (Ícaro, 9). 2. O impeachment é quando o povo brasileiro quer tirar o presidente ou algum político do seu cargo, quando ele comete algum crime (Marina, 10). 3. É quando um presidente é tirado de seu cargo porque teve um governo tão corrupto, mas tão corrupto, que fez tanto mal ao país, que é preciso sair (Bernardo, 10).
tudantes (até 10 anos), a diretora considera que política não é uma demanda e que, por isso, o tema não é levado para sala de aula. Seja no cenário macro, de escândalos e investigações, ou no cenário micro, da política do dia a dia. “Apenas quando os alunos trazem essas questões, nós trabalhamos”.
LÍDERES COMUNITÁRIOS
Personagens nacional e local, por Paola Pinho de Jesus, 9
O cenário é outro na Escola Municipal Baha’i, em Nova Brasília de Itapuã. Por lá, qualquer situação cotidiana tem significado político, explica a diretora Marinalva Estrela. Quando o telhado da escola quebra, o lixo acumula na rua ou quando é preciso fazer passeata em combate ao mosquito da dengue, pais, professores, funcionários e alunos se unem e todos participam. “Nessa hora, não interessa o partido de ninguém. A gente entende que as crianças são mais importantes”, observa a diretora. O próximo ato político, lembra Marinalva, é uma reunião no dia 30 deste mês, sobre o fardamento dos alunos. Há três anos, calças e camisas novas não chegam à Baha’í. Resultado: nos mais velhos, as fardas estão gastas e os mais novos têm que ir para a escola com a roupa de casa. Os estudantes se envolvem na discussão e a diretora se orgulha: “Eles gostam de participar. Em muitos, a gente já vê um líder comunitário em formação”. A Secretaria Municipal da Educação informou que as fardas foram distribuídas para as escolas da rede em dois lotes no ano passado. Porém não soube precisar o que houve no caso da Baha’i. No dia da visita da Muito, duas turmas do 4º e 5º ano da Baha’i se juntaram às outras escolas que visitamos para construir um “Politicário”, espécie de glossário político com os termos que estão em
GOLPE. 1. É quando você tem um namorado e ele mexe na sua bolsa e aí pega seu cartão sem você saber e usa (Iasmin, 9). 2. É quando a pessoa golpeia o outro, ou o povo, como um roubo de dinheiro. Mas não é certo falar roubo, porque a gente não tem provas do que aconteceu. É o transferimento de dinheiro. Mas xingar Dilma também é um golpe, ou postar vídeos inapropriados. O povo não tem provas porque não tá ali vigiando Dilma (Sophia, 10). 3. Golpe é quando antes das eleições os políticos prometem coisas, mas não fazem. Falam só para as pessoas votarem neles, para conseguirem cargos, dinheiro, emprego, e eles não fazem nada para a melhora do país (Ana Gabriela, 9). 4. É quando alguém promete que vai fazer uma coisa e depois engana. Dilma prometeu e não fez (Juliana, 10).
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SÉRGIO MORO. 1. Ele confessou tudo pro Jornal Nacional (José Daniel, 9). 2. Se não me engano, ele é uma das pessoas que ficavam do lado de Dilma e traiu Dilma (Isaac, 10). 3. Juiz que mandou fazer uma investigação no Guarujá porque Lula falou que foi o Minha Casa, Minha Vida que deu o triplex para ele. Ele queria prender Lula, mas não conseguiu por causa de Dilma (Andrey, 11).
evidência, a partir de definições e desenhos. Apesar das divididas, não faltou respeito à opinião do colega e ficaram algumas questões divertidas, como a de Emily Cristine Vasconcelos, 10. Lápis de cor na mão, ela precisava saber: “Lula tem bigode?”. As informações que as turmas da Baha’i compartilharam vinham da própria escola, dos noticiários e de conversas com a família. Emanuel Queiroz, 9, resumiu um conselho sobre corrupção: “Minha mãe sempre fala para eu nunca tentar fazer essas coisas”. Já Emily ouviu sobre o Brasil: “Meu pai fala que a coisa está feia e que a gente tem que melhorar a situação do país”. Cauã dos Santos, 9, disse o que achava mais importante: “Dinheiro não compra amor, nem amigo, nem pai e nem mãe”.
INFÂNCIA LIVRE Na internet, a participação de crianças nas discussões políticas aparece sem os filtros da escola. Em março, chamou a atenção uma postagem no Facebook do desenho de um menino: a presidente e o ex-presidente do Brasil apareciam feridos ao lado das legendas: “Morre Dilma” e “Morre Lula”. A reação do ser LULA. 1. Ele pode pai, ao compartilhar a produção escolar do filho, era de copreso de novo, s desclassificado. Ma memoração: “Meu filho, meu maior orgulho”. tem que ter provas “Os adultos não estão se colocando nesse debate de ma(José Daniel, 9). 2. eito Lula é o braço dir neira saudável”, observa a publicitária Marina Sá, uma das tes an E . ma de Dil criadoras do Movimento Infância Livre de Consumismo. CriaDilma era o braço direito de Lula do em 2012 por um grupo de mães da Bahia, o Milc milita na um (Sophia, 10). 3. Foi proteção dos direitos da criança e usa justamente a internet s rói he dos e revolucionários qu como espaço para aprofundar o debate. lutaram contra a Para Marina, as crianças estão perigosamente expostas a e ditadura militar qu no 85 19 até discursos desqualificantes. Uma briga de torcidas, ela compleexistiu das Brasil. Ele foi uma ta,naqualpessoasvestemcamisasdecoresdiferenteseseofenram pessoas que ajuda e dem. “Estamos perdendo a chance de falar de cidadania, de ina acabar com ess regime, uma das cluir as crianças com respeito, mostrando a elas, por exemplo, país. piores épocas do O que as pequenas corrupções do dia a dia levam às grandes cor(Bernardo, 10). 4. te que fez en sid pre exrupções pelas quais os adultos estão brigando”. lo mais corrupção pe le, Estar atento a essas miudezas é uma forma de os pais incluírem país. Por causa de Dilma fez corrupção o tema “política”, mas sem expor as crianças, acredita a psicóloga 10 também (Letícia, Josiane Gomes Soares, do Conselho Nacional dos Direitos da . os) an Criança e do Adolescente (Conanda). Para ela, cabe aos pais não
permitir ou incentivar pequenos gestos cheios de significado, como comprar jogos piratas, aceitar que os filhos cheguem em casa com o que não lhes pertence ou falsificar comunicados da escola, por exemplo. “Somos uma sociedade que se acostumou a pequenas corrupções, como se escalonássemos o grau de importância ou corrupção permitida ou não”. Um dos principais desafios, acredita a psicóloga, é estar atento ao excesso de informações às quais as crianças têm acesso. “Não é negar o cenário atual, bem diferente da época em que os pais de hoje eram crianças, mas respeitar critérios para incluí-las em espaços de discussão, como as redes sociais, por exemplo”. Consentir ou criar contas falsas para os filhos na internet, burlando a idade dos pequenos para estar ali, pode representar uma isenção de responsabilidade exatamente no momento em que os pais deveriam estar mais próximos e não mais afastados, defende a conselheira do Conanda. Uma isenção que, segundo ela, cobra um preço alto. “Tenho me deparado todos os dias na minha prática clínica com crianças que reinam absolutas em suas casas, onde pais coniventes estão cada vez mais acuados, sem saber o que fazer”.
NA ESCOLA E EM CASA Os alunos do 5º ano do Colégio Antônio Vieira, no Garcia, fizeram o Politicário na sala dos professores. Todos criticaram o governo, sendo a maioria a favor e a minoria contra o impeachment. A existência da corrupção norteou muitas definições, como a de “delação premiada”. Para Zeus Grimaldi, 9, delação é “quando o político fez alguma coisa ruim, como Eduardo Cunha faz. Por isso, ele ganhou o prêmio de maior roubo”. Letícia Viveiros, 10, achou que não podia haver prêmio para quem faz algo
Os dois lados da questão política, por Mariana Dias, 10
ruim. “Ganha é quem faz o golpe”. As frases dos alunos foram melhor explicadas por suas famílias do que pela escola. A arquiteta Gabriela Viveiros, mãe de Letícia, conta que a filha, muito curiosa, sempre quer saber de quem e do que os pais estão falando. Volta e meia, ela pede explicações para o que os dois tanto assistem na Globo News, único canal de TV que vive ligado na casa. A mãe prefere tirar as dúvidas, mas não interferir nas interpretações da menina. “Não discutimos muito sobrepolítica,maselaacabapriorizandoumladohumanistaporconta da formação que tem na escola”. Ao definir personagens políticos, os estudantes do Vieira seguiram caminhos diferentes. Para Juliana Knap, 10, Dilma “é a presidente que só foi eleita porque as pessoas acreditavam que ela ia fazer milagres”. Já para Bernardo Fialho, 10, Dilma “é uma presidente que batalhou muito na época da ditadura militar”.
DILMA. 1. É a presidente do Brasil. Só que é ladrona (Andressa, 9). 2. Uma pessoa que em vez de melhorar, piorou (Lorran, 10). 3. Estão acusando Dilma de muita coisa e ela pode até ter uma doença. Ela pode ficar preocupada em ir para a cadeia (Mariana, 10). 4. Tem pessoas que dizem que Dilma está fazendo isso, Dilma está fazendo aquilo... Tem até criança dizendo uma coisa dessas, se nem sabe direito o processo da Justiça. A gente é criança e não pode falar essas coisas sem saber direito (Sophia, 10).
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Na casa de Bernardo, seu pai, o historiador George Souza, conta que política faz parte de suaformaçãoe, por isso, ésempre um tema em casa. Mas, com cuidado, para que os filhos não entendam mal nem reproduzam “discursos de ódio meramente acusatórios” . A educação, para George, tem dois princípios. “Alertar para o fato de que o ódio não constrói e que fora da política também não se muda nada”. Tanto Bernardo quanto o irmão mais velho conversam com os pais e participam de comícios e outras manifestações desde pequenos. “Assim vão aprendendo a ser cidadãos por completo”. Mostrar os fatos e deixar que reflitam sobre o que estão vendo é como George diferencia educar de deformar. “Apesar do estrago que muitos adultos têm feito, sou esperançoso. Crianças são inteligentes e capazes de perceber que não se trata de governos ou governantes, mas da democracia do país”. «
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SALVADOR DOMINGO 24/4/2016
SALVADOR DOMINGO 24/4/2016
SÉRGIO MORO. 1. Ele confessou tudo pro Jornal Nacional (José Daniel, 9). 2. Se não me engano, ele é uma das pessoas que ficavam do lado de Dilma e traiu Dilma (Isaac, 10). 3. Juiz que mandou fazer uma investigação no Guarujá porque Lula falou que foi o Minha Casa, Minha Vida que deu o triplex para ele. Ele queria prender Lula, mas não conseguiu por causa de Dilma (Andrey, 11).
evidência, a partir de definições e desenhos. Apesar das divididas, não faltou respeito à opinião do colega e ficaram algumas questões divertidas, como a de Emily Cristine Vasconcelos, 10. Lápis de cor na mão, ela precisava saber: “Lula tem bigode?”. As informações que as turmas da Baha’i compartilharam vinham da própria escola, dos noticiários e de conversas com a família. Emanuel Queiroz, 9, resumiu um conselho sobre corrupção: “Minha mãe sempre fala para eu nunca tentar fazer essas coisas”. Já Emily ouviu sobre o Brasil: “Meu pai fala que a coisa está feia e que a gente tem que melhorar a situação do país”. Cauã dos Santos, 9, disse o que achava mais importante: “Dinheiro não compra amor, nem amigo, nem pai e nem mãe”.
INFÂNCIA LIVRE Na internet, a participação de crianças nas discussões políticas aparece sem os filtros da escola. Em março, chamou a atenção uma postagem no Facebook do desenho de um menino: a presidente e o ex-presidente do Brasil apareciam feridos ao lado das legendas: “Morre Dilma” e “Morre Lula”. A reação do ser LULA. 1. Ele pode pai, ao compartilhar a produção escolar do filho, era de copreso de novo, s desclassificado. Ma memoração: “Meu filho, meu maior orgulho”. tem que ter provas “Os adultos não estão se colocando nesse debate de ma(José Daniel, 9). 2. eito Lula é o braço dir neira saudável”, observa a publicitária Marina Sá, uma das tes an E . ma de Dil criadoras do Movimento Infância Livre de Consumismo. CriaDilma era o braço direito de Lula do em 2012 por um grupo de mães da Bahia, o Milc milita na um (Sophia, 10). 3. Foi proteção dos direitos da criança e usa justamente a internet s rói he dos e revolucionários qu como espaço para aprofundar o debate. lutaram contra a Para Marina, as crianças estão perigosamente expostas a e ditadura militar qu no 85 19 até discursos desqualificantes. Uma briga de torcidas, ela compleexistiu das Brasil. Ele foi uma ta,naqualpessoasvestemcamisasdecoresdiferenteseseofenram pessoas que ajuda e dem. “Estamos perdendo a chance de falar de cidadania, de ina acabar com ess regime, uma das cluir as crianças com respeito, mostrando a elas, por exemplo, país. piores épocas do O que as pequenas corrupções do dia a dia levam às grandes cor(Bernardo, 10). 4. te que fez en sid pre exrupções pelas quais os adultos estão brigando”. lo mais corrupção pe le, Estar atento a essas miudezas é uma forma de os pais incluírem país. Por causa de Dilma fez corrupção o tema “política”, mas sem expor as crianças, acredita a psicóloga 10 também (Letícia, Josiane Gomes Soares, do Conselho Nacional dos Direitos da . os) an Criança e do Adolescente (Conanda). Para ela, cabe aos pais não
permitir ou incentivar pequenos gestos cheios de significado, como comprar jogos piratas, aceitar que os filhos cheguem em casa com o que não lhes pertence ou falsificar comunicados da escola, por exemplo. “Somos uma sociedade que se acostumou a pequenas corrupções, como se escalonássemos o grau de importância ou corrupção permitida ou não”. Um dos principais desafios, acredita a psicóloga, é estar atento ao excesso de informações às quais as crianças têm acesso. “Não é negar o cenário atual, bem diferente da época em que os pais de hoje eram crianças, mas respeitar critérios para incluí-las em espaços de discussão, como as redes sociais, por exemplo”. Consentir ou criar contas falsas para os filhos na internet, burlando a idade dos pequenos para estar ali, pode representar uma isenção de responsabilidade exatamente no momento em que os pais deveriam estar mais próximos e não mais afastados, defende a conselheira do Conanda. Uma isenção que, segundo ela, cobra um preço alto. “Tenho me deparado todos os dias na minha prática clínica com crianças que reinam absolutas em suas casas, onde pais coniventes estão cada vez mais acuados, sem saber o que fazer”.
NA ESCOLA E EM CASA Os alunos do 5º ano do Colégio Antônio Vieira, no Garcia, fizeram o Politicário na sala dos professores. Todos criticaram o governo, sendo a maioria a favor e a minoria contra o impeachment. A existência da corrupção norteou muitas definições, como a de “delação premiada”. Para Zeus Grimaldi, 9, delação é “quando o político fez alguma coisa ruim, como Eduardo Cunha faz. Por isso, ele ganhou o prêmio de maior roubo”. Letícia Viveiros, 10, achou que não podia haver prêmio para quem faz algo
Os dois lados da questão política, por Mariana Dias, 10
ruim. “Ganha é quem faz o golpe”. As frases dos alunos foram melhor explicadas por suas famílias do que pela escola. A arquiteta Gabriela Viveiros, mãe de Letícia, conta que a filha, muito curiosa, sempre quer saber de quem e do que os pais estão falando. Volta e meia, ela pede explicações para o que os dois tanto assistem na Globo News, único canal de TV que vive ligado na casa. A mãe prefere tirar as dúvidas, mas não interferir nas interpretações da menina. “Não discutimos muito sobrepolítica,maselaacabapriorizandoumladohumanistaporconta da formação que tem na escola”. Ao definir personagens políticos, os estudantes do Vieira seguiram caminhos diferentes. Para Juliana Knap, 10, Dilma “é a presidente que só foi eleita porque as pessoas acreditavam que ela ia fazer milagres”. Já para Bernardo Fialho, 10, Dilma “é uma presidente que batalhou muito na época da ditadura militar”.
DILMA. 1. É a presidente do Brasil. Só que é ladrona (Andressa, 9). 2. Uma pessoa que em vez de melhorar, piorou (Lorran, 10). 3. Estão acusando Dilma de muita coisa e ela pode até ter uma doença. Ela pode ficar preocupada em ir para a cadeia (Mariana, 10). 4. Tem pessoas que dizem que Dilma está fazendo isso, Dilma está fazendo aquilo... Tem até criança dizendo uma coisa dessas, se nem sabe direito o processo da Justiça. A gente é criança e não pode falar essas coisas sem saber direito (Sophia, 10).
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Na casa de Bernardo, seu pai, o historiador George Souza, conta que política faz parte de suaformaçãoe, por isso, ésempre um tema em casa. Mas, com cuidado, para que os filhos não entendam mal nem reproduzam “discursos de ódio meramente acusatórios” . A educação, para George, tem dois princípios. “Alertar para o fato de que o ódio não constrói e que fora da política também não se muda nada”. Tanto Bernardo quanto o irmão mais velho conversam com os pais e participam de comícios e outras manifestações desde pequenos. “Assim vão aprendendo a ser cidadãos por completo”. Mostrar os fatos e deixar que reflitam sobre o que estão vendo é como George diferencia educar de deformar. “Apesar do estrago que muitos adultos têm feito, sou esperançoso. Crianças são inteligentes e capazes de perceber que não se trata de governos ou governantes, mas da democracia do país”. «