Fomento à CRIAÇÃO
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No Brasil, o artesanato ocupa cerca de 8,5 milhões de pessoas, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Com inserção forte no interior do Estado, a manutenção dessa expressão cultural conta com forte apoio em Pernambuco de instituições como a Fundarpe, Sebrae e AD Diper. As ações de incentivo vão desde a consultoria de qualificação da atividade artesanal à criação de mecanismos que facilitam a comercialização das peças. De olho na produção de 60 grupos produtivos, somente o Sebrae-PE atende em média 500 artesãos espalhados pelo Estado.
A expertise na instituição atua junto a esses coletivos trabalhando nas áreas de gestão, capacitação, inovação e mercado. “Trabalhamos o produto desde a matéria-prima até a comercialização, oferecendo aos seus produtores oficinas, palestras, visitas técnicas”, informa Fátima Gomes, gestora de projetos de artesanato do Sebrae, no Recife. A atuação da instituição já resultou em vários cases de sucesso espalhados por todos os cantos do Estado. Grupos como a Tapeçaria Timbi (Camaragibe), Mulheres de Argila (Caruaru), Cana Brava (Goiana) e Ceramistas de Cabo do Santo Agostinho estão entre as associações
que receberam a consultoria da instituição. Fruto desse trabalho permanente, neste ano o prêmio TOP 100 de Artesanato selecionou dez unidades produtivas do Estado entre as 100 mais competitivas do País. “Em geral, esses coletivos procuram as prefeituras em busca de apoio técnico, que os encaminham ao Sebrae. No Cabo, por exemplo, os artesãos de hoje viviam de produzir filtros d’água e vasos. Sentiram então a necessidade de recriar seus produtos. Hoje contam com um centro de artesanato para sua produção”, conta Fátima Gomes. Trabalhando com foco na produção artística, a Fundarpe atua no fomen-
EXPEDIENTE DIRETOR DE REDAÇÃO Ivanildo Sampaio (sampaio@jc.com.br) DIRETOR-ADJUNTO Laurindo Ferreira (laurindo@jc.com.br) EDITORA-EXECUTIVA Maria Luiza Borges (marialuizaborges@jc.com.br) DIRETORA COMERCIAL Roseane Gonçalves (roseane@jc.com.br) EDITORAS Cláudia Santos (csilva@jc.com.br) e Moema Luna (mluna@jc.com.br) REPORTAGEM Juliana Godoy (jgodoy@jc.com.br) e Rafael Dantas (rdantas@jc.com.br) Cláudia Santos e Moema Luna DIAGRAMAÇÃO e ILUSTRAÇÃO Isadora Melo e Tomaz Alencar FOTOGRAFIA Michele Souza FOTO DA CAPA Michele Souza TRATAMENTO DE IMAGEM Alexandre Lopes, Claudio Coutinho e Jair Teixeira
vinícius lubambo/divulgalção
texto rafael dantas
Artesãos do Cabo receberam consultoria do Sebrae e recriaram seus produtos
to às políticas públicas. “Fazemos o acompanhamento da produção artesanal do ponto de vista da arte. Discutimos as tendências e os elementos culturais que envolvem o trabalho dos artesãos”, diz Severino Pessoa, presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Enquanto a Fundarpe olha para o processo produtivo, o Programa do Artesanato de Pernambuco (Pape), instituído em 2008 e sob a responsabilidade da AD Diper, é focado na comercialização. Além da promoção da Fenearte, o Pape leva os artesãos per-
nambucanos a feiras em outros Estados e trabalha ao longo do ano com a Unidade Móvel de Comercialização, que funciona como uma loja móvel a serviço do artesanato pernambucano. Através do Pape — que já administra o Centro de Artesanado, em Bezerros — será inaugurado em agosto o Centro de Artesanato de Pernambuco, no Armazém 11 do Porto do Recife. “A Fenearte é economia, criação de emprego e renda. Num momento em que há seca em Pernambuco, a arte e a cultura são alternativas à agricultura”, diz o presidente da AD Diper, Márcio Stefanni.
michele souza /jc imagem lorização do artesanato no País, que faria 80 anos em 2012. Nesta edição o público vai conferir a proposta lúdica de um quarto de criança decorado com brinquedos populares e miniaturas de cadeiras. “O universo dos brinquedos populares é fantástico e o interessante é que ele nasceu da impossibilidade de as crianças comprarem brinquedos industrializados e terem que produzi-los”, explica Roberta. A sala é outro ambiente montado na feira, que tem como destaque uma releitura da cadeira Bertoia, um clássico do design italiano. “Utilizamos
de Roberta Borsoi, que é filha da arquiteta. “Lembro que ele era muito grande e que permitia às pessoas dormirem nele”, recorda. Há, ainda uma mesa com tampo feito de coqueiro e um aparador semelhante às grades de madeira de carrocerias de caminhões.
Uma cama cujo encosto são sacos usados para armazenar açúcar estará em exposição no quarto de casal também montado no espaço. Vale lembrar que todos esses ambientes são decorados com várias peças artesanais, muitas das quais podem ser adquiridas na Fenearte.
ARTESAN ATO
texto cláudia santos
a estrutura de metal da cadeira, que foi revestida por um trançado de malha feito por artesãs do bairro de Casa Amarela”, detalha Bete. Outro destaque é o sofá de vime, desenhado por Janete e que foi produzido por artesãos em Gravatá. O móvel faz parte das lembranças
como decoração
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Quem visitar o Espaço Interferência Janete Costa este ano vai se surpreender com a existência de uma praça em pleno centro do local. Lá é que vão acontecer as palestras com designers renomados (veja matéria na página 7) e será também uma área de encontro. Mas os visitantes que sempre curtiram as sugestões de decoração com peças artesanais, podem ficar tranquilos: esta feira traz três ambientes com uma estética muito criativa. Idealizado pelas arquitetas Roberta Borsoi e Bete Paes, o espaço é inspirado nas ideias de Janete Costa, uma pioneira na va-
MADEIRA
Inspirado nas ideias de Janete Costa, Espaço Interferência mostra sugestões de ambientes decorados com artesanato
E l e s esculpiram um estilo
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texto cláudia santos
Trabalhar com a madeira é sempre um desafio. Além de ser uma matéria-prima cara, esculpir um bloco sólido, com ferramentas rústicas como um formão, é uma tarefa que requer não apenas criatividade, mas também paciência, pois necessita de tempo. Talvez por isso, em geral, as produções mais importantes em madeira estejam na arte popular e não em peças de artesanato. Mas se o processo de produção é trabalhoso, o resultado é de encher os olhos. Que o digam os frequentadores da Fenearte que costumam visitar a Alameda dos Mestres, sempre repleta de obras dessa tipologia.
As produções em madeira mais importantes estão na arte popular e não no artesanato
Pernambuco, aliás, é pródigo em gerar esses artistas da madeira. O colecionador e pesquisador Tibério Tabosa afirma que alguns são emblemáticos, já que criaram um estilo muito peculiar. “A gente olha uma peça feita por um desses artesãos e de cara já reconhecemos quem é o seu autor”, explica Tabosa. “É o caso
do Mestre Fida, que parece ter buscado sua linguagem nos ex-votos”, analisa. Há quem faça analogia da obra do mestre de Garanhuns com as estátuas gigantes da Ilha de Páscoa. Comparações à parte, o fato é que sua produção faz sucesso na feira, em especial seu famoso homem-cata-vento, escultura articulada
com braços grandes que se movem com a ação do vento. Outro de estilo inconfundível é o de Marcos Siqueira, também de Garanhuns. “Suas peças são sempre um auto-retrato”, resume Tabosa. Com rostos arredondados e lábios grossos, as figuras talhadas pelo mestre sejam anjos e santos, cangaceiros, pescadores, vaqueiros e até a sua mais famosa, a Boneca de Roca, tem lá a sua semelhança com seu criador. Impossível também não reconhecer a arte sacra de Roque Santeiro. “Em geral são peças muito grandes”, ressalta o colecionador. Os santos do mestre de Petrolina
fotos michele souza /jc imagem ser presenteada ao Papa João Paulo 2º. A pedido do governador Eduardo Campos, produziu uma imagem de São Bento que foi entregue ao Papa Bento 16. Na galeria dos mestres, que deixaram seu estilo incomum na madeira, estão ainda Marcos de Sertânia, com suas figuras delgadas - “que lembram muito os quadros de Modigliani”, como ressalta Tabosa – mestre José Alves, de Olinda, e sua forte influência afro, além do mestre Seu Hele-
no, de Tracunhaém, cuja marca registrada são os trios coloridos de forró com seus chapéus e bigode. Também devem ser destacados o estilo de Luiz Benício, que usa madeira do Vale do Catimbau, em Buíque, de Pintor, famoso mestre de Petrolina, e a xilogravura (que tem matriz em madeira) do mestre J. Borges. A Fenearte, portanto, é uma boa oportunidade para levar para casa uma obra de arte com a cara da criatividade dos mestres pernambucanos.
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possuem um acabamento refinado e são ricos em detalhes que mostram o quanto ele bebeu na fonte do barroco tão comum nas igrejas brasileiras. A arte sacra pernambucana também tem como estrela Manoel Santeiro, um dos muitos filhos talentosos de Ibimirim, cidade onde nasceram artesãos famosos. Sua arte foi reconhecida até pelo Vaticano, ao fazer uma imagem de Santa Paulina, a pedido, do então presidente Fernando Henrique Cardoso, para
MADEIRA
Seu Heleno criou uma estética inconfundível com seu trio de forró (acima), assim como Marcos de Sertânia com suas figuras delgadas (à direita)
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Hoje tem espetáculo? Tem, sim, senhor! E o palhaço? Vem, sim, senhor! O encantador mundo do circo aportará na 13ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato - Fenearte especialmente para a criançada presente no Centro de Convenções. E para deixar de vez a preocupação dos papais e mamães de lado, a Escolinha de Artes do Recife também preparou uma programação especial com foco no tema da feira, o centenário do mestre Luiz Gonzaga. Malabares, pernas de pau, palhaços e mágica são algumas das vivências do circo que o Grupo Arricirco mostrará para as crianças. De acordo com Roberto Lessa, coordenador da feira, o mezanino será um dos espaços principais para entreter a garotada. “Vamos contar, ainda, com música, apresentações teatrais, além de alguns trabalhos com reciclagem”, conta Roberto, que garante: diversão não vai faltar. “Os pais podem levar as crianças tranquilamente que não vai faltar atividades para eles”, afirma. Uma das opções de quem quer visitar a feira sem se preocupar é deixar os filhos no espaço da Escolinha de Arte do Recife, logo no início do Pavilhão. Com duas entradas, o local permite que os pais e mães busquem a galerinha apenas no final do percurso proposto pela Fenearte. “Elas entram no início e podem ser pegas faltando cinco ruas para o final da feira. É uma maneira que os pais têm de percorrer os estandes sem precisar se preocu-
par com as crianças”, explica Everson Melquíades, diretor da escolinha. Para entreter os pequenos foram preparadas três oficinas só sobre o Rei do Baião. A primeira, Brincando com Luiz Gonzaga, propõe uma interação lúdica entre as crianças e a história do Mestre Lua. “Nosso objetivo é que eles conheçam um pouco mais sobre o artista de maneira divertida, através de jogos e interações artísticas”, completa Everson. A segunda oficina, Modelando barro com Luiz Gonzaga e a terceira, Pintando com Luiz Gonzaga, se aproveitam das composições do rei que mais têm a ver com a criançada. Para isso, contaram com a ajuda do músico Diviol Lira, que realizou um estudo só sobre essas canções. “Ele nos cedeu sua pesquisa musical e para cada dia da feira escolhemos uma música diferente. A partir delas, as crianças poderão pintar ou modelar figuras do seu imaginário”, diz o diretor. S E G U R A N Ç A Para garantir a segurança da galerinha, a Fenearte disponibilizará pulseiras coloridas para identificação de cada uma e evitar que elas se percam. Para os que ficarem na Escolinha de Artes, o sistema é o mesmo. Mas além das pulseiras de identificação é realizado um cadastro do responsável e apenas ele está autorizado a retirar os pequenos do local. “Preparamos uma equipe multidisciplinar, especializada, para garantir o bem-estar de todos”, garante Everson.
FENEARTE
também
para as
crianças texto juliana godoy
União faz a
teragir com o artesanato. É destinada aos artesãos e ao público em geral e o melhor: é de graça. A primeira delas será dia 9 (próxima segunda-feira) com a paulista Adélia Borges. Seu currículo é de peso: jornalista e professora de história do design da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), de São Paulo, Adélia foi diretora do Museu da Casa Brasileira. Ela vai abordar o conteúdo do seu mais recente livro Design + Artesanato - O Caminho Brasileiro.
Na terça-feira (10), Heloísa Crocco, premiada designer gaúcha, que oferece assessoria a várias comunidades de artesãos, vai falar sobre as experiências desse trabalho. Heloísa também vai abordar a pesquisa que ela denominou de Topomorfose, um estudo sobre o veio do tronco das árvores e seus anéis de crescimento, que ao ser cortado resulta em grafismos, padrões e texturas. A pesquisa acabou transformando-se num livro. Quem também vai abordar os temas de seu
livro é o tecelão e designer mineiro Renato Imbrosi que fecha o ciclo de palestras no dia 11 (quartafeira). Sua obra Desenho de fibras, artesanato têxtil no Brasil, escrito com Maria Emília Kubrusly, narra a experiência de 30 anos trabalhando em parceria com artesãs de tecelagem de Minas Gerais. Imbrosi participou de mais de 140 projetos no Brasil e em países africanos como São Tomé e Príncipe e Moçambique. As palestras começam sempre às 16h.
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Três renomados designers farão palestras no Espaço Interferêcia, entre eles a paulista Adélia Borges, autora do livro ao lado
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Já há algum tempo designers e artesãos vêm trabalhando juntos em projetos de revitalização do artesanato. Uma união que visa tornar as peças artesanais mais contemporâneas, sem no entanto, macular o que elas têm de original e espontâneo. Tudo no espírito da chamada economia solidária. “Muitos designers entram em contato com algumas comunidades para resgatar o artesanato e incluir um olhar mais atual ao trabalho desses artesãos. É uma maneira de ajudá-los a comercializar as suas peças para que possam viver daquilo que produzem e serem incluídos no mercado”, detalha a designer e arquiteta Bete Paes. Mas trata-se de um processo de mão dupla, no qual os designers também são influenciados pelo universo criativo dos artesãos. Essa troca era algo defendido pela arquiteta Janete Costa e, para comemorar os 80 anos dessa pioneira na arte de unir o artesanato na decoração de ambientes, a Fenearte traz três renomados designers para fazer palestras. Elas vão acontecer no Espaço Interferência que leva o nome da grande dama da arquitetura pernambucana. Em comum os especialistas falam sobre como design pode in-
reprodução
texto cláudia santos
arte
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