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— índice —
CAPA
BMW 750Li: novo sedã topo de linha da marca alemã i
Por fora mudou pouco, mas inclui inéditos recursos eletrônicos e conforto de primeira classe. PÁG. 86
TOP Power
TOP Estilo
Achado em paiol
Viagem
Audi S3 ABT e Rolls-Royce Silver Ghost II Black One Spofec. PÁG. 24
Bolsa Bentley, relógio IWC, fone Monster, caneta Montblanc, drone Lily, poker set da Ralph Lauren, Canivete Victorinox e mochila britânica. PÁG. 30
O 911 nº 57, semidestruído, será reformado para o museu Porsche. PÁG. 40
Um tour no norte do país ibérico pelas lentes de Andreas Heiniger. PÁG. 50
James Bond
Prova histórica
Joia da coroa
Avaliados
Agente 007 ganha um esportivo exclusivo: o Aston Martin DB10. PÁG. 70
O rali de carros clássicos reúne amantes do esporte desde 1988 no México. PÁG. 96
Os 65 anos do Morgan Plus 4 revigorados pela tradição britânica. PÁG. 114
Avaliados
Avaliados
Avaliados
SuperSUVs
Chrysler 300C, PÁG. 122 Golf Variant, PÁG. 182
Mercedes-Benz SLK 300, PÁG. 190. Citroën C4 Picasso, PÁG. 198. Kia Sorento V-6, PÁG. 202
Subaru WRX STI, PÁG. 206 SIN R1, PÁG. 210
Bentley Bentayga entra para o Clube dos 300 km/h. E outros estão bem perto. PÁG. 130
Salões
Ensaio
TOP Colunistas
Peruas injustiçadas
Visões sobre o futuro dos carros: conectados, autônomos e elétricos. PÁG. 140
Paraquedismo em Boituva, interior de São Paulo, atrai mais adeptos. PÁG. 154
Mercedes-Benz 300 SL cupê e conversível. PÁG. 38 As leis de proteção ao desenho industrial. PÁG. 188
Cada vez mais bonitas, station wagons são alternativas aos SUVs e sedãs em vários mercados. PÁG. 166
Fórmulas distintas
Moto
TOP Serviços
TOP Prazer
Para quem gosta de acelerar
O mito e seus carros
O que há de novo no mercado
Frankfurt e Tóquio
Desempenho versus aparência
Sandero R.S. e speed up!, cada um de seu jeito, refletem o que foram os esportivos nacionais. PÁG. 174
Sofisticação por todos os lados
Carrera Panamericana
O que há de novo no mercado
Aventura radical
Honda NC 750X Fusão de conceitos e motor com dois cilindros herdados do 1,5 L do Fit. PÁG. 214
Descoberta surpreendente
Apego ao chassi de madeira
O que há de novo no mercado
Classics e Direito
Automação, blindagem e concierge ZF mostra como estacionar sem manobrista, crise no mercado e OnStar chega ao Brasil. PÁG. 220
Espanha surpreendente
O que há de novo no mercado Ferrari California T, PÁG. 62 Audi A4, PÁG. 78 MINI JCW, PÁG. 108
Os mais rápidos do mundo
Elas nunca desistem
Carro e vida
Rota 66, estrada mítica nos EUA, faz sonhar de olhos abertos. PÁG. 226
— equipe —
Fernando Calmon
Bob Sharp
Josias Silveira
Andreas Heiniger
Engenheiro e jornalista especializado desde 1967, Calmon, 67 anos, começou com o programa Grand Prix, na TV Tupi. Foi editor de Automóveis de O Cruzeiro e Manchete e diretor de redação da Auto Esporte. Também produziu e apresentou o programa Primeira Fila em cinco redes de TV. Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, estreou em 1999 e hoje é reproduzida em uma rede de 105 jornais, revistas, portais, sites e blogs. É correspondente no Brasil do site inglês Just-auto.
Carioca de 71 anos, mas radicado em São Paulo há 36, é um misto de jornalista, técnico e piloto, além de ser formado em Construção de Motores e Máquinas. Atua na imprensa automobilística desde 1973, e já trabalhou na Fiat, Volkswagen, General Motors e Embraer, nas duas primeiras em área técnica e nas duas últimas, como gerente de imprensa. Atualmente trabalha para revistas do Brasil e do exterior e é editor do site Autoentusiastas.
Costuma dizer que aprendeu jornalismo na Escola de Engenharia Mauá. Ou seja, mais um engenheiro que virou suco, ou melhor, jornalista. Josias, 67 anos, fez dezenas de revistas e foi um dos criadores de Duas Rodas e Oficina Mecânica. Tem paixão por carros e motos e até agora não descobriu se foi um hobby que virou profissão ou o contrário. Escreve sobre duas, quatro e até mais rodas há mais de quatro décadas, inclusive como colaborador da Folha de S.Paulo.
Suíço radicado no Brasil desde 1974, Andreas Heiniger é unanimidade quando o assunto é fotografia e profissionalismo. Apaixonado pelo que faz e com uma simpatia cativante, seu currículo está ligado à fotografia automotiva e inclui clientes como Volkswagen, GM e Fiat, além de outros trabalhos publicitários e editoriais para marcas como Natura e Havaianas. Andreas também conta com obras autorais como a série Vaqueiros, coleções expostas pelo mundo e prêmios como Clio Awards e Cannes Lions.
18
PUBLISHER CLAUDIO MELLO SILVIA COTURRI: Assistente de Direção CAROLINA ALVES: Gerência de Assuntos Corporativos PROJETO GRÁFICO MARCELLO SERPA MARCUS SULZBACHER: Diretor de Criação de Designer (Almap) PEDRO ZUCCOLINI FILHO: Designer (Almap) BRUNO BORGES: Designer (Almap) DIRETOR DE FOTOGRAFIA ANDREAS HEINIGER REDAÇÃO TOP CARROS FERNANDO CALMON: Diretor de Redação BOB SHARP: Editor Técnico JOSIAS SILVEIRA: Editor Adjunto RENATA ZANONI: Assistente de Redação LETÍCIA IPPOLITO: Revisão Geral ARTE ROSANA PEREIRA: Editora-Coordenadora MARIANA DIAS: Assistente de Arte ALINE GOMES: Finalização LUCIANO LEME: Tratamento de Imagens BRUNA LUCENA, PAULO BELEZA, MARCIO GUEDES e SERGIO FACUNDINI: Retoque de Imagens COLABORADORES BORIS FELDMAN , CLAUDIA BERKHOUT, GUILHERME SILVEIRA, GINO BRASIL, JOSÉ LUIZ VIEIRA, RAUL MACHADO CARVALHO , RONNY HEIN E ROBERTO MARKS (Texto) CLAUDIA BERKHOUT (Edição Ensaio) BETINA BERNAUER E CINTIA KISTE (Styling) BRUNO OBARA , FERNANDO QUEIROZ, JOSILDO MELO (Assistentes de Fotografia) FECO HAMBURGER (Fotos) PUBLICIDADE DIRETORA DE PROJETOS ESPECIAIS: Nathalia Hein DIRETORA DE MÍDIAS SOCIAIS: Flavia Vitorino HERMANN DOLLINGER: Executivo de Conta MARKETING GRETHA ARGYRIOU: Gerente FINANCEIRO ANTONIO CEZAR R. CRUZ (financeiro@topmagazine.com.br): Diretor MARCELA VALENTE (marcela@topmagazine.com.br): Assistente Circulação: REGIANE SAMPAIO (regiane@topmagazine.com.br) Atendimento ao Leitor: sac@topmagazine.com.br Assinaturas: assinatura@topmagazine.com.br Números Atrasados: (11) 3074 7978 Assessoria Jurídica: BITELLI ADVOGADOS Pré-impressão e Impressão: IPSIS GRÁFICA E EDITORA / Distribuição: DINAP S.A. contato@revistatopcarros.com.br TOP Carros é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691, 14˚ andar, Itaim Bibi, 04531-011, São Paulo/SP. Tel.: (11) 3074 7979. As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados.
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— TOP Power — POR GUILHERME SILVEIRA
Audi S3 ABT, um sedã voraz Sucesso de vendas da Audi no Brasil, o S3 sedã está longe
torque. Nesse nível mais extremo, o desempenho do
de ser considerado um modelo “comportado”. Além do
S3 se torna superior ao RS3 Sportback, um hatch com
sistema de tração integral Quattro, o S3 tem como diferença
motor 2,5-litros, de cinco cilindros e 372 cv.
marcante o motor 2.0 16V, um quatro-cilindros turbo.
A empresa também oferece como acessórios barras
Apesar de ser vendido aqui com potência declarada de
estabilizadoras mais grossas para os dois eixos, freios
280 cv, há quem afirme que ela fica em torno de 300 cv,
mais potentes e quatro modelos de rodas aro 18 ou 19 pol.
similar ao que é vendido no mercado europeu – e distante
O exterior ainda pode receber saias laterais diferentes,
do que está à venda nos Estados Unidos.
apêndices esportivos nos para-choques e ponteiras
Deixando essa polêmica de lado, o fato é que a tradicional
de escape em aço inox. No habitáculo primoroso desta
preparadora germânica ABT oferece dois kits que elevam
versão de topo, há disponibilidade de tapetes exclusivos
os padrões de esportividade do compacto da Audi. No
e soleiras de portas iluminadas.
primeiro estágio altera-se a ECU (modulo de controle
Excluindo o transporte, os kits são vendidos pela
eletrônico do motor), elevando a potência para 370 cv. Já o
filial americana por US$ 3.131 para o estágio Power e
torque máximo passa de 38,7 para 46,4 kgfm.
US$ 5.539 para o Power S – que não inclui os sistemas
No segundo (e mais radical) kit Power S, entra em cena
de escapamento, que podem ser montados em oficinas
um turbocompressor de maiores dimensões e, como
especializadas. Nada mau para um sedã compacto (versão
opcionais, tubulação de escape e catalisador com menor
básica já em produção aqui), que pode deixar muito esportivo
restrição. Isso entrega ao sedã 400 cv e 48,4 kgfm de puro
de sangue “rosso” para trás.
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−
1 23 4
1. Com kit ABT, Audi A3 pode chegar a 400 cv 2. Quatro opçþes de rodas com aros de 18 e 19 pol 3. Ponteiras de escapamento exclusivas 4. Visual e desempenho radical
25
— TOP Power —
26
Desempenho sinistro A marca britânica Rolls-Royce exalta exclusividade em mesmo nível do luxo que oferece em seus veículos. E este aspecto pode ser realçado com o kit da Spofec, criado para o Silver Ghost II. Provocativamente intitulado de “Black One”, inclui pintura da carroceria em tom de preto mais “profundo”, além de bodykit (para-choques e saias laterais) inteiramente feito de fibra de carbono, acompanhado de rodas douradas de aro 22 pol. Além do ar sinistro conferido ao distinto sedã, seu motor 6,6 BMW V-12 biturbo passa a render 710 cv, 108 cv a mais que o original. O tune up da preparadora alemã é feito por módulo eletrônico alterado em relação às ECU original (sistema tipo plug and play no chicote de fábrica), o qual aumenta a pressão dos turbos e altera tempo de injeção e ignição. Acompanha a receita um escapamento esportivo de aço inox com 5 kg a menos. Dessa forma, o Ghost, tanto em versão comum como na limusine, passa a fazer uso do monstruoso torque de 98 kgfm – disponível a apenas 1.800 rpm. Isso lhe confere aceleração de 0 a 100 km/h em 4,4 s e velocidade máxima de 250 km/h (limitada pela fábrica). Segundo a Spofec, o motivo de não ir além fica por conta do peso do Ghost (cerca de 2,5 t), muito elevado diante da limitação oferecida originalmente pelos pneus – no caso, Pirelli 265/30 na frente e 295/30 atrás. Frente ao motor superlativo, entram em cena freios a disco carbocerâmicas e molas de suspensão mais curtas, feitas para uso específico com as rodas de 22 pol. O módulo de controle da suspensão recebe uma central auxiliar, responsável por rebaixar o carro em 4 cm ao passar de 140 km/h. Para um veículo tão luxuoso e singular, este é o típico R-R para clientes exigentes de fato.
1 1. Um Rolls-Royce radical, no visual e no desempenho
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−
— TOP Estilo — POR RENATA ZANONI
BOLSA BENTLEY Nova coleção Bentley de acessórios para homens e mulheres
coleção, que conta com itens para atender ao mercado
promete fazer sucesso. As peças são indicadas para quem
Business, Home, Style, entre outros. As bolsas femininas
compartilha do moderno lifestyle, e foram produzidas
em couro, o conjunto de malas de viagem que se encaixam
artesanalmente, com materiais requintados e têm toda
perfeitamente no bagageiro do modelo Bentayga, o cobertor
atenção aos detalhes para os clientes mais exigentes
e os acessórios são só alguns exemplos do que os admiradores
satisfazer. Cerca de 300 novos itens foram incluídos na
da marca conseguem encontrar. bentleycollection.com
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RELÓGIO IWC Com caixa de aço, pulseira em couro de aligátor preta e fundo midnight blue, este relógio pertence à coleção Portugieser, da IWC. O modelo ao lado é o Annual Calendar – a prestigiada marca apresenta pela primeira vez um calendário anual com o mês, a data e o dia da semana indicados em três janelas semicirculares separadas na posição das 12 horas. Todo este estilo e requinte custa cerca de R$ 86.500 para os apreciadores da marca. iwc.com
FONE MONSTER Ele tem muito estilo em seu formato e, como é característica da marca, total nitidez de áudio e cancelamento de ruídos que elimina qualquer som externo. O fone Monster Inspiration Active Noise Canceling Over-Ear conta com um cabo ControlTalk para controlar a reprodução musical e as chamadas do celular ou de qualquer outro dispositivo portátil compatível. Também tem tecnologia que permite acesso com alguns dispositivos da Apple, como iPad e iPod nano. monsterproducts.com
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MONTBLANC LITERÁRIA A caneta Montblanc Edição Escritores faz parte da linha com edições limitadas e que agora homenageia o mestre russo Leo Tolstoy. O autor de obras épicas como Guerra e Paz é o mais novo homenageado da marca. O modelo teve como principal inspiração a casa no campo onde Tolstoy nasceu e viveu com sua esposa e filhos. Os detalhes da sua vida e obra podem ser percebidos em diferentes adornos da peça, como na tampa de resina cinza-escuro, o cone de resina marmorizada azul e os acessórios folheados a platina que refletem as cores encontradas nas capas de suas primeiras grandes obras, além de sua assinatura aparecer gravada na tampa. montblanc.com
LILY CAMERA Esse drone tem comandos automáticos para seguir,
alcançar velocidade de 40 km/h e chegar a 15 m de altura.
fotografar e filmar como você desejar, graças a um
A Lily filma em Full HD e slow motion, pesa apenas
mecanismo interno que faz a câmera ser comandada por
1,3 kg e é à prova d’água. Seus criadores são estudantes da
um rastreador (que se assemelha a um relógio) usado pela
Universidade de Berkeley, EUA, e a previsão é de que seja
pessoa em questão. Ela também pode ser controlada por
entregue em fevereiro de 2016 com valor aproximado de
meio de um aplicativo para iPhone e Android, além de
US$ 1.000. lily.camera
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POKER JAMES BOND O agente secreto mais poderoso e sedutor do mundo inspira seus fãs ao longo de gerações. Agora, a marca Ralph Lauren apostou no emblemático personagem e lançou um conjunto de poker James Bond. Com peças feitas em madeira nobre e fibra de cabono, além de fichas especiais e dois baralhos diferentes, o produto promete conquistar não só os admiradores de 007, mas também os amantes da jogatina. O poker set custa cerca de US$ 795. fancy.com
CANIVETE VICTORINOX A edição limitada do canivete Rangerwood Damasco, da Victorinox, veio com apenas 60 peças ao Brasil. A grife suíça conhecida pela excelência de seus produtos traz esse novo modelo, cuja lâmina feita em aço Damasco 60 HRC foi cuidadosamente polida, finalizada artesanalmente e feito com madeira de nogueira. Entre as comodidades, a peça conta com nove funções, entre elas, sistema de trava de segurança, saca-rolhas, abridor de latas e de garrafas, chave de fenda pequena e chave de fenda grande com trava. O acessório custa cerca de R$ 1.995. victorinox.com
MOCHILA FLEMING Para quem tem um estilo clássico e imaginativo ao mesmo tempo, as mochilas da marca Sophie Fleming London são perfeitas. Em couro vegetal italiano de primeira qualidade, são práticas e versáteis para combinar com diferentes looks do dia a dia. Todas as mochilas da grife britânica são feitas à mão e podem ser encontradas em diferentes cores, como azul, preta, vermelha e caramelo, mas dependem sempre da disponibilidade. O valor médio é de 300 libras. sophiefleming.co.uk
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— TOP Classics —
Asa conversível — Como o clássico cupê se transformou em charmoso conversível —
por Boris Feldman Quando se fala em “Asa de Gaivota”, mesmo quem não é tão
versão conversível, apresentada no Salão de Genebra em
ligado em automóvel se lembra do legendário Mercedes-
março de 1957. E, apesar de todo o badalo e originalidade,
Benz 300 SL cupê com as portas abrindo para cima. Esse
ninguém mais quis saber do cupê que teve sua produção
modelo surgiu em 1952, projetado por Rudolf Uhlenhaut
(1.400 unidades) encerrada nesse mesmo ano, pois o
exclusivamente para as pistas. A solução das portas, que
roadster (1.858 unidades, até 1963) era mais agradável no
o tornou icônico, não foi por charme, mas forçada pelo
verão e recebera vários aperfeiçoamentos mecânicos.
chassi tubular que avançava pelas laterais. Era um carro de corrida encarroçado.
Suspensão deu trabalho
Em 1953, o importador da Mercedes para os EUA, Max
A mecânica do conversível era a mesma, mas a suspensão
Hoffman, sugeriu a produção de uma versão de rua. A
traseira do cupê dava trabalho até para pilotos famosos
fábrica achou que Hoffman estava louco e negou. Ele
que o levaram a vitórias como Stirling Moss ou Rudolfo
insistiu e a Mercedes disse que faria, desde que garantisse
Caracciola. Na versão conversível, a suspensão foi
a venda de pelo menos 500 unidades. Ele topou e o cupê
aperfeiçoada, o carro ficou mais agradável e estável nas
foi apresentado no Salão de Nova York de 1953. Hoffman
curvas de raio curto, pois foi acrescentada uma mola sobre
vendeu toda a produção e encomendou mais...
o diferencial, ligada às duas semiárvores traseiras, que
Era o mais caro e rápido automóvel da época. Para aliviar
tornava mais difícil a variação da cambagem das rodas,
peso, muitos de seus componentes como capô, cockpit,
reduzindo o perigo nas curvas.
portas e tampa do porta-malas eram de alumínio. Aliás, as
O motor não mudou, foi o primeiro do mundo com injeção
iniciais “SL” significam Sport Leicht, ou “esportivo leve”,
direta de combustível, desenvolvida pela Bosch. Tinha seis
em alemão. Um dos problemas do carro era sua estabilidade
cilindros em linha, 3 litros, 215 cv e depósito separado com
(suspensão traseira, a exemplo do Fusca, tinha cambagem
capacidade 11 litros de óleo, conhecido como cárter seco.
variável) e, se capotasse, não havia jeito de sair pelas portas
O conversível 300 SL pesava apenas 1.140 kg, cerca de 100
que avançavam pelo teto e ficavam viradas para o asfalto.
kg mais que o cupê. A caixa de câmbio tinha apenas quatro
As exigências do mercado norte-americano, o principal
marchas, mas havia três opções de relações de diferencial.
do modelo, acabaram levando a fábrica a desenvolver uma
A aceleração era impressionante, para a época: de zero a
38
100 km/h em apenas 8,8 s. E uma espantosa velocidade máxima de 260 km/h. Sem rasgar o vestido A falta do ar-condicionado era compensada pelos cabelos ao vento. O chassi tipo treliça do cupê foi modificado para acomodar portas convencionais, e as mulheres já podiam entrar no carro sem rasgar o vestido e com janelas que se abriam para ventilar o interior (no cupê, o vidro era fixo e só era possível retirá-lo completamente). O porta-malas acomodava duas delas, desde que não muito grandes. Além do teto de lona, um metálico era opcional. Nos dois últimos anos de produção, o roadster ganhou Boris Feldman é jornalista e colecionador
freios a disco e motor com bloco de alumínio, demonstração de que a fábrica tinha especial atenção com o modelo.
−
de automóveis antigos.
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— O 911 número 57 está vivo! — A história do raro Porsche abandonado, que se tornou peça de museu, é simplesmente fantástica POR ROLAND LÖWISCH FOTOS RAFAEL KRÖTZ
Otto Schulte é especialista em carros antigos e assessora
anos, Bernd não sabia que possuía algo de valor. Achava
um programa da emissora de TV alemã RTL sobre
que não tinha nada, mas não encontrava forças para se
caçadores de antiguidades. O programa documenta a
livrar de seus velhos carros.
atuação de três personagens que, a pedido, visitam casas de acumuladores de coisas. A função deles é “garimpar”
Sapos ou príncipes
o porão, o sótão e o galpão procurando algo de valor que
Por fim, a filha dele teve a ideia de procurar ajuda no
possa ser vendido e render algum lucro aos donos das
programa de TV. Mal sabia ela que no velho celeiro dois
casas. Geralmente as somas obtidas não superam 1.000
“sapos” acabariam se transformando em “príncipes”. Ao
euros. Em alguns casos chegam, no máximo, a 4.000 euros.
entrar no galpão, o especialista Schulte notou dois Porsche
Mas quando Schulte foi chamado para visitar a casa de
911. A ferrugem havia destruído boa parte dos estribos e
Bernd Ibold, em Bardenitz, perto da cidade de Potsdam,
painéis laterais. Os para-lamas, bem como portas e bancos,
ficou chocado: no pátio, 19 carros estavam enferrujando
estavam faltando. Com a poeira grossa que envolvia os
– a maioria deles com mais de dez ou até 20 anos, muitos
velhos esportivos, mal dava para ver que um era vermelho
sem qualquer proteção contra as intempéries. Quase
e o outro, dourado.
nenhum podia rodar, e poucos ainda davam a partida.
Mesmo assim, Schulte avaliou que aficionados poderiam
O dono da casa lhe contou que sua paixão era consertar
ter interesse pelas carcaças e pagariam até 10.000 euros
automóveis, e que guardou os carros para ter uma
pelos “restos” dos dois carros, principalmente porque o
ocupação depois de aposentado.
dono lhe informou que havia guardado “em algum lugar” os
Problemas de saúde atrapalharam os planos desse
componentes que estavam faltando. Enquanto procuravam
homem simples, mecânico apaixonado de corpo e alma
o que faltava, o mecânico lhe confidenciou que certa vez
por carros e que tinha na oficina inúmeras ferramentas.
tentou adquirir peças de reposição em uma concessionária
Por questões financeiras, ele também precisava vender
Porsche, mas não deu certo porque lhe disseram que seu
a casa de campo com os celeiros cheios de objetos que
911 era muito antigo, de número 57.
guardavam a história de seus automóveis. Já com 70
Isso deixou Schulte perplexo...
Um dia no museu
Klein, que já havia desistido de procurar algum exemplar
Alexander Klein é diretor da gestão de automóveis do
do 901, queria apenas fechar uma lacuna na exposição:
Museu da Porsche e costuma receber com frequência
encontrar o mais antigo 911 ainda existente que,
telefonemas de pessoas que pretendem lhe oferecer uma
conforme havia descoberto, deveria ser o de número
verdadeira raridade. Mas ao atender o telefonema de
302503. Mas daí lhe apareceu esta oferta. Segundo o
uma mulher que dizia trabalhar na rede de TV RTL, ficou
cartão de identificação, o carro foi entregue ao primeiro
curioso. Ela perguntou se Klein queria comprar um Porsche
proprietário em 27 de novembro de 1964, na cidade de
antigo… “Que tipo de Porsche, senhora?” “Vermelho” é
Krefeld. E dali se perdeu qualquer rastro do Porsche
a resposta do outro lado da linha. “Tipo? Carro esporte.”
911 vermelho brilhante (cor de fábrica 6407 B/P) com
(Suspiros.) “A senhora pode me informar o que está escrito
bancos revestidos em preto pepita. Ibold deve ter sido, no
nos documentos?” “Porsche.” “Algo mais?” “Motor boxer de
mínimo, o quinto proprietário do carro.
seis cilindros, 300057, 130 cv a 6.100 rpm…”
Diante do interesse demonstrado por Klein, a mulher
A resposta deixou Klein atônito: o número 300057 lhe
pediu que a Porsche fizesse uma proposta financeira
pareceu mágico. Poderia ser do 57° exemplar fabricado da
imediatamente e disse que deveriam levar a quantia em
linha Porsche 911, ainda em 1964, quando se chamava 901?
dinheiro vivo para o vendedor. Mas Klein replicou que isso
não poderia ser feito assim, e que, antes, seria necessária uma avaliação de peritos. Sem a opinião deles, não haveria negociação. E, dessa forma, foi agendada uma visita de funcionários da Porsche à residência de Bernd Ibold. Dieter Landenberger, diretor do arquivo da Porsche, e o chefe da oficina do museu, Kuno Werner, foram juntos até Bardenitz. Ao chegarem lá, as câmeras de TV já os aguardavam. O especialista em negociações do programa da RTL queria ouvir um valor e que o acordo deveria ser selado ali mesmo, com um aperto de mãos diante das câmeras. Mas os dois representantes da Porsche se negaram a fazer qualquer acordo antes que o carro fosse avaliado por peritos independentes. Para isso, transportaram os dois 911 até Zuffenhausen.
— O carro foi encontrado com a ferrugem tendo destruído boa parte dos estribos e painéis laterais, sem para-lamas e portas —
Um verdadeiro original O nº 57 era realmente original. Isso pôde ser confirmado nas diversas numerações da carroceria e nas bases dos painéis de instrumentos, bem como nos painéis internos das portas com inscrições em giz. O estado deplorável, mas não totalmente arruinado, fez com que a Porsche decidisse comprar o carro: o valor oferecido foi de 107.000 euros. Algo raro, que deixou Otto Schulte surpreso, sobretudo porque o outro 911, dourado, ano de produção de 1967, foi avaliado como bom “doador” de peças, e a Porsche ofereceu mais 14.500 euros por ele. Bernd Ibold quase não acreditou: suas preocupações financeiras desaparecem em uma só tacada. E, melhor ainda, no futuro poderá apreciar “seu” 901 no museu da Porsche. Mas isso deverá demorar um pouco, algo em torno de dois anos. Segundo a primeira avaliação, será possível utilizar apenas 35% dos painéis metálicos da carroceria e aproximadamente metade dos componentes originais do carro. Além disso, cerca de 20% das peças originais foram perdidas. Atualmente, ele está sendo completamente desmontado. O câmbio e o motor, apesar de não pertencerem originalmente ao carro, também são de um modelo da mesma série. A pintura da carroceria será removida por um processo químico, para depois ser meticulosamente refeita – com novas chapas. Mas o teto e a seção frontal, com o número do chassi, além da base do painel de instrumentos, serão mantidos originais. Depois será instalado um novo conjunto de cabos de acionamento, nos quais serão utilizados conectores e conexões de época. Os instrumentos, o volante, os revestimentos das portas, os bancos e os vidros serão reformados cuidadosamente. Os trabalhos pesados de recuperação da carroceria e pintura não poderão ser realizados nas instalações do Museu Porsche, e ficarão por conta da fábrica. Todo o processo de restauração será realizado em conjunto com a Porsche Classic. Os trabalhos seguindo o padrão de originalidade Porsche deverão
custar
aproximadamente
250.000
euros.
Restaurado, o Porsche 911 número 57 – como todos os outros carros do museu – também poderá “sair de casa” para determinados eventos.
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— Ao procurar ajuda no programa de TV, a filha mal podia imaginar que no celeiro dois “sapos” se transformariam em “príncipes” —
1 1. Instrumentos, volante de direção e os bancos originais serão reformados
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A história do zero no centro O sucessor do Porsche 356 deveria se chamar 901. Mas, ainda durante a fase inicial de produção, a Peugeot apresentou um protesto por escrito, afirmando que havia registrado todas as denominações de modelos de automóveis com o zero no centro. Assim permanece a lenda de que foram montados 82 exemplares do Porsche 901, até que o modelo fosse denominado de 911. “Mas não há nenhuma prova disso”, afirma Alexander Klein. “Ninguém sabe realmente quantos exemplares do 901 foram fabricados. Existe um livro de produção onde alguém registrou à mão cada veículo fabricado. Uma página acaba no número de produção 82 com 901 e a seguinte começa com o número de produção 83 como 911. Mas isso não significa que a carta da Peugeot tenha chegado naquele momento.” Klein também detalha que dos primeiros cem exemplares do 901/911, nenhum carro era igual ao outro. “Cada exemplar era uma peça única, e a verdadeira maturidade da série surgiu depois”, explica. Dessa forma, os primeiros clientes foram, na realidade, motoristas “cobaias”: quando surgia uma reclamação sobre a entrada de água no veículo, o próximo carro recebia outra vedação. Se a maçaneta emperrava, o modelo posterior recebia novo desenho. No primeiro ano de produção, 1964, foi fabricado um total de 232 exemplares do 901/911.
−
PORSCHE 901 Ano de construção: 1964 Motor: boxer, 6 cilindros
— O teto e a seção frontal, com o número do chassi original, além da base do painel de instrumentos, serão mantidos —
Cilindrada: 1.991 cm³ Potência: 130 cv (96 kW) a 6.100 rpm Torque máximo: 174 Nm a 4.200 rpm Câmbio: 5 marchas, manual 0–100 km/h: 9,1 s Velocidade máxima: 210 km/h
1 1. Toda a originalidade Porsche será resgatada 2. Mesmo neste estado, a Porsche decidiu pagar 107.000 euros pelo raro exemplar
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— Espanha — Uma viagem através dos sentidos, para ver, provar e sentir POR CLAUDIA BERKHOUT FOTOGRAFIA ANDREAS HEINIGER
Do mar Cantábrico aos extensos vinhedos de La Rioja,
visitando igrejas, abadias e grandes catedrais como a
a Espanha nos convida a uma imersão em sua história
histórica Santa Maria, em Vitoria-Gasteiz. Nesta região
secular, de construções barrocas a projetos arquitetônicos
encontramos releituras dessa arquitetura em projetos
extremamente modernos embalados pelo acolhimento de
arrojados como os da Cidade do Vinho, com sua Bodega
um povo alegre e orgulhoso de sua origem.
Marques de Riscal, em Elciego, e o Museu Guggenheim, em
A chegada ensolarada, um mar brilhante e pessoas que
Bilbao, ambos assinados por Frank Gehry; ou de Santiago
lotam as ruas quentes em plena semana do fim de agosto
Calatrava para a Bodega Ysios, em Guardia, assim como
fazem de San Sebastian a porta de entrada de um roteiro
o da também premiada Zaha Hadid para a Bodega Lopes
inesquecível. Berço do famoso chef basco Juan Maria Arzac,
Heredia, em Haro – diferentes estilos que, em comum,
o antigo porto-porta de comércio da Europa, a cidade tem
mantêm e enaltecem as origens arquitetônicas da região.
uma qualidade de vida invejável. Aliás, isso é perceptível
Já nos primeiros contatos é possível perceber que o povo
em todo o trajeto: ali foi construída uma sociedade que
basco é extremamente politizado, é Vitoria-Gasteiz que
sabe tirar o melhor de sua gente e de sua terra. Em meio à
sedia o governo basco, independente do resto do país,
exuberância de patrimônios históricos e de uma hotelaria
comandando a vida da região com seu idioma particular,
estreladíssima, a gastronomia de alto nível vem mais e mais
o euskera. Orgulhosos de sua educacão de altíssimo nível,
atraindo turistas do país e do mundo inteiro: em lojas de
todos estudam em instituições públicas e é esta que lidera
comidas, bares e restaurantes que se espalham pelas ruas e
o ranking dentro da Espanha.
vilarejos, trazem o sabor dos produtos regionais à culinária
La Rioja nos apresenta toda sua história, cultura e filosofia
com toques gourmet harmonizando-se aos bons vinhos
por meio de suas bodegas centenárias, é na cidade de Haro
produzidos nas vinícolas de Rioja Alavesa e La Rioja.
onde se encontram a maioria delas. Todos vivem para o
Impossível não sentir o perfume da intensa religiosidade
vinho. Eles entendem do assunto e, mais que isso, sabem
50
51
1
2
1. Ruelas de San Sebastian 2. Praia de Zurriola, em San Sebastian
1
2
1. Museu Guggenheim, em Bilbao 2. Centro antigo de Vitoria-Gasteiz
da importância do vinho em suas vidas. Nas cidades, guias especializados nos levam a alguns bares para harmonizar de maneira correta o vinho e seus acompanhamentos. Contam histórias, apresentam as pessoas em volta e falam de: vinho. Hoje, o país é berço de alguns dos mais prestigiosos vinhos do mundo. Acontece todo mês de setembro a festa Vendimia, uma festa regional em que as famílias e amigos se juntam aos trabalhadores para colher o fruto e, no final, celebrar a nova colheita. Um país com um povo que encanta e convida para eternos retornos. Um rápido retorno.
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— Desde la Antigüedad, la elaboración de vino en La Rioja ha representado mucho más que una actividad económica. Los siglos han forjado el vino como un símbolo de identidad cultural —
1 1. Bodega Marques de Riscal, em Elciego
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1 1. Bodegas Ysios em Laguardia. Projeto arquitonico de Santiago Calatrava
— Sonho californiano — Ferrari California T MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO
POR JOSIAS SILVEIRA
V-8 biturbo 3.9 Gasolina 560 cv e 77 kgfm Automatizado, 7 marchas Traseira 4,57 m 2.67 m 2+2 340/240 litros 78 litros 700 km (estimado) 1.625 kg R$ 1.880.000
Gostar de carros esportivos e vinhos abre um leque de
E o California T gosta muito de acelerar: os 100 km/h chegam
locais ideais para rodar pelo mundo – como andar de
em apenas 3,6 s e, mais surpreendente, os 200 km/h, após
Ferrari pelo Napa Valley e Sonoma, a região vinícola
11,2 s. A máxima é de 316 km/h. Boa parte dos carros nacionais
da Califórnia, certamente uma das melhores receitas
não chega aos 100 km/h no mesmo tempo em que a Ferrari
antiestresse. Principalmente quando o esportivo italiano
alcança 200 km/h.
for um conversível como o California T, e o dia terminar
E lembrar que se roda com o mito italiano é sempre marcado
com uma prova de vinhos locais.
até pelo volante que, além do logotipo do Cavallino Rampante,
Essa foi a maneira de conhecer melhor este Ferrari turbo:
tem o charmoso botão de partida vermelho.
rodando pela Califórnia. Além de “saborear” a esportividade
Importado para o Brasil desde o final de 2014, já como modelo
do motor V-8 turbo de 3,9-litros de 560 cv, a ideia era
2015, o California T é um Ferrari “de entrada”, vindo de uma
aproveitar o lado Grand Tourer deste Ferrari: fazer
linhagem que homenageia o estado americano. Começou com
turismo com a capota abaixada, apreciando montanhas
o California 250GT, de 1957.
e vales cheios de parreiras ao norte da Califórnia. O mais
Talvez por isso o “T” nos Estados Unidos tenha um perfil
difícil é conciliar a vontade de acelerar o Ferrari nas
diferente de compradores por lá: é o modelo de Ferrari mais
estradinhas de serras cheias de curvas com o prazer de
usado no transporte diário. E para 70%, este é o primeiro carro
apreciar belas paisagens.
da marca, e 50% o usam no dia a dia, e não apenas para o lazer.
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— Com motor V-8 biturbo de 560 cv, o California T chega a 200 km/h em apenas 11,2 s. Um conversível para viagens rápidas —
1
1. Perfil aerodinâmico exigiu laterais com reentrâncias
65
A eletrônica foi bastante usada para segurança, além do
Pelo Napa Valley
que hoje já é convencional: por isso os 560 cv e os 77 kgfm
Ainda que seja teoricamente um 2+2, o banco traseiro serve
de torque máximos só são completamente liberados na
mais para bagagens ou crianças. Como em todo esportivo,
sétima e última marcha do câmbio automatizado de dupla
o porta-malas já é pequeno, 340 litros, e se reduz para 240
embreagem. Assim, tanto motoristas como pilotos podem
litros com a capota recolhida. Retrátil e rígida, ela se aloja
usar bem o California e seus mais de 500 cv com menores
automaticamente, junto com o vigia, no porta-malas, em
riscos. Para trocar as marchas manualmente, só pelas
apenas 14 s.
borboletas (paddle shifters) no elegante volante em couro.
E aí aparece realmente o maior prazer ao rodar. Com a
Claro, como convém a um esportivo de grife, a tração fica
capota abaixada, escuta-se melhor o nervoso ronco do V-8
para as rodas traseiras, inclusive para melhor distribuição
ecoando pelos barrancos.
de peso. Com o motor dianteiro colocado atrás do eixo da
Estabilidade irrepreensível e respostas muito rápidas
frente, 53% do peso se apoia na traseira e apenas 47%, na
ao acelerador e volante são marcantes como em todo
dianteira. A razão, segundo a fábrica, é que em frenagens a
Ferrari. A suspensão, claro, é firme, privilegiando
distribuição fica ideal, com metade em cada eixo.
a esportividade. Mesmo assim, se comportou bem
Além disso, o motor V-8, até pequeno para um Ferrari
nos poucos buracos que conseguimos encontrar em
(3.855 cm³), teve cuidados especiais quanto ao meio
estradinhas secundárias no oeste dos Estados Unidos.
ambiente. Com o câmbio de sete marchas, o motor funciona
E como sempre acontece com os esportivos, o melhor
em baixa rotação quando se roda tranquilamente, e o
são as estradas de asfalto liso e com muitas, muitas,
California T fica até econômico e com menores emissões
curvas. Seja na Califórnia, seja no Brasil.
de gases. Economiza 15% de combustível e emite 20% menos CO2 que seu antecessor.
— Napa Valley, no norte da Califórnia: um ótimo lugar para rodar pelos vinhedos com o California T —
Existem opções de modo de dirigir, do Eco ao Sport, que influenciam não só o comportamento do motor, como também do câmbio e da suspensão. E para os mais habilidosos ao volante, pode-se desligar inclusive o controle de tração e estabilidade. E aí se tem um cavalo selvagem nas mãos. Além de todo o infortenimento e a eletrônica que controla motor/câmbio, suspensão, estabilidade e frenagens,
1 2
o California T recebeu outra atenção em seu projeto: manter o ruído serrilhado e desafiante pelo escapamento, característico de um Ferrari, o que não é fácil num motor
1. No volante, o charmoso botão de partida 2. Quando a capota é abaixada, aumenta o prazer de dirigir
com dois turbocompressores, que abafam esse ruído. Outro cuidado dos italianos foi manter um perfil limpo na carroceria quase toda em alumínio (pesa 1.625 kg), sem adereços aerodinâmicos como defletores ou aerofólios. Para isso, foram colocadas grades e reentrâncias que, inclusive, transferem o ar quente vindo dos intercoolers (que esfriam o ar comprimido pelos turbocompressores) para a traseira do carro, diminuindo a turbulência. Um recurso tão eficiente que foi proibido na Fórmula 1.
66
−
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— 007, o mito e os carros — No novo filme, 007 contra Spectre, o agente James Bond ganha um modelo exclusivo: o DB 10, carro-conceito desenvolvido especialmente para as filmagens POR ROBERTO MARKS
Ele é boa-pinta, veste-se com elegância, viaja regularmente pelo mundo, só de primeira classe. Isso quando não tem um jatinho à sua disposição, além de ser hóspede preferencial nos melhores hotéis e viver envolvido em muita ação, não só em sua atividade profissional, mas também na vida pessoal, sempre ao lado de belas mulheres. Outro de seus prazeres é dirigir carros velozmente, de preferência um esportivo inglês. Ele é Bond, James Bond. Em 007 contra Spectre, o 24º filme da famosa série, o agente secreto James Bond (novamente interpretado por Daniel Craig) tem outra oportunidade de mostrar sua “habilidade” ao volante de um Aston Martin protagonizando momentos eletrizantes em perseguição filmada nas ruas de Roma. Este é o 12º filme da série em que 007 tem à disposição um modelo da tradicional marca inglesa. Mas em Spectre, em vez de um Aston Martin normal de série, Bond conta com um modelo exclusivo: o DB 10, carroconceito do qual foram fabricadas apenas dez unidades especialmente para o filme, sendo oito para gravações das cenas e mais duas que estão sendo utilizadas em ações promocionais. Uma delas será leiloada com a renda revertendo para fins beneficentes.
Parceria de 50 anos Esta é uma maneira toda especial de comemorar o relacionamento de 50 anos da EON, a produtora da série, com a Aston Martin. Vale lembrar que a primeira vez que um modelo da marca “atuou” em um filme de 007, a Aston “emprestou” o carro “mula”, utilizado pelo departamento de testes da fábrica, no qual foram adaptados radar, lançadores de mísseis e de cortinas de fumaça, metralhadoras, banco do passageiro ejetável, entre outros recursos. Foi em 007 contra Goldfinger, terceiro filme da série e que entrou em cartaz em 1964, que James Bond utilizou pela primeira vez o Aston Martin DB 5. Goldfinger também é considerada a película na qual se definiram as características que nortearam os roteiros das inúmeras sequências, já que pela primeira vez reuniu, além das belas Bond girls, ação, luxo, poder e, principalmente, um carrão
menos. Segundo Marek Reichman, diretor de design da
de sonho como a “cereja do bolo”.
marca inglesa, o DB10 se baseou em estudo de estilo: “Quando o Sam Mendes, diretor do filme, veio nos visitar
Carro-conceito
no começo de 2014, ficou encantado com um esboço no
Se o modelo normal de série DB 5 encantou o mundo na
mural do nosso estúdio e afirmou que aquele era o carro
década de 1960, o conceito DB 10 não deverá deixar por
que imaginava para Bond”.
72
— Este é o 12o filme da série no qual o agente do Serviço Secreto Britânico tem à disposição um modelo Aston Martin —
1 1. Um exemplar irá a leilão com a renda revertendo para fins beneficentes
73
realçado pelo desenho limpo do capô e das laterais, apenas com detalhes como os difusores de ar e vincos nas portas. A mecânica também é a mesma do Aston Martin Vantage V-8, motor dianteiro e tração traseira. Com cilindrada de 4.735 cm³, o motor desenvolve 430 cv a 7.300 rpm. Segundo a fabricante, o desempenho é semelhante ao do Vantage, com velocidade máxima de 305 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 4,8 s. O câmbio manual de seis marchas foi outro pedido do diretor Sam Mendes. O carro do vilão Mas não foi só James Bond que ganhou um modelo exclusivo em 007 contra Spectre. O “vilão” Hinx (interpretado por Dave Bautista), persegue Bond com o conceito Jaguar C-X75, proposta de modelo híbrido que a marca inglesa estava desenvolvendo com a consultoria da Williams Advanced Engineering, braço técnico da equipe de Fórmula 1. O projeto previa um motor de quatro cilindros, de 1,6 litro e turbocompressor, em conjunto com motor elétrico, como os atuais carros de Fórmula 1. Porém, segundo fontes da imprensa inglesa, parece que a proposta já foi “arquivada”. Como o carro estava pronto, sem Reichman disse a Mendes que seria impossível, já que
a motorização híbrida, foi equipado com o V-8 de 5 litros e
para construir o protótipo do carro a partir de um esboço
550 cv, do Jaguar F, e aproveitado em Spectre. Isso porque a
demora cerca de três anos. “Mas ele insistiu tanto e foi
Tata, grupo indiano que hoje controla Jaguar e Land Rover,
tão convincente que a diretoria da empresa, em conjunto
também é parceira da EON e já forneceu modelos das duas
com os produtores da série, decidiu produzir o modelo
marcas para as sequências da série nos últimos anos.
exclusivamente para o filme”, lembra o designer, que teve apenas seis meses para entregar os protótipos.
Bond girls
Para finalizar os carros em tempo tão exíguo, a equipe de
E, além de belos carros, para todos os gostos, Spectre
Reichman usou compósito de fibra de carbono na construção
também tem no elenco duas belas Bond girls, apesar de
das carrocerias e aproveitou a plataforma VH, do modelo
esta expressão ter, atualmente, conotação negativa no
Vantage, precisando aumentar ligeiramente o entre-eixos
universo feminino. Não só devido ao protagonismo cada vez
para acomodar a carroceria conceitual, que se caracteriza
maior das mulheres no mundo, mas também porque uma
pelos balanços curtos, devido ao posicionamento das rodas
das personagens é interpretada pela atriz italiana Monica
nas extremidades, e destacada seção frontal, com perfil
Belucci, que, dizem, já ser uma “cinquentona”.
inspirado no “bico” de tubarão.
Bela e ainda muito sensual, Monica foi escolhida pelo próprio diretor Sam Mendes para interpretar Lucia
Design elegante
Sciarra, viúva de meia-idade de um mafioso que se apaixona
Nesse frontal, a clássica grade dos modelos Aston Martin
por Bond após ser salva por ele. O contraponto para a
ganhou uma nova interpretação, ficando em posição mais
beleza morena de Monica Belucci é a loira e também bela
baixa e voltada para trás. Isso, aliado à linha de cintura
atriz francesa Léa Seydoux, que interpreta a personagem
elevada e a área envidraçada rebaixada, proporciona um
Madeleine Swann, médica de personalidade forte que, a
visual bem intimidante, mas ao mesmo tempo elegante,
princípio, não se impressiona com Bond.
74
−
— Em 007 contra Spectre, Bond novamente se envolve com belas e enigmáticas mulheres, interpretadas por Monica Belucci e Léa Seydoux —
1
2 3
1. As cenas de perseguição foram gravadas à noite pelas ruas de Roma 2. A bela e sensual Monica Belucci interpreta uma viúva na vida de Bond 3. Cartaz promocional do novo filme OO7
75
— Veneza a seus pés —
Audi A4 MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO POR FERNANDO CALMON
4 cilindros 2 litros Turbo Gasolina 190 cv e 32,6 kgfm Automático, 7 marchas Dianteira 4,72 m 2,82 m 5 480 litros 54 litros 1.286 km 1.405 kg R$ 160.000 (estimado)
Pode até parecer provocação, mas a Audi diz que não. Já
Dimensionalmente, também, poucas mudanças: mais
que a italiana Alfa Romeo ressurgirá das cinzas com o
1,4 cm na distância entre-eixos (de 2,81 m para 2,824 m)
Giulia, nada como a sofisticada cidade de Veneza para o
e de 2,6 cm no comprimento (de 4,70 m para 4,726 m). No
lançamento mundial à imprensa da nona geração do Audi
entanto, passageiros se sentem melhor a bordo. O espaço
A4 (nascido Audi 80).
para pernas no banco traseiro cresceu em 2,3 cm e para
O carro tem cerca de 90% de peças e conjuntos novos
cabeças dos passageiros da frente, em 2,4 cm. O porta-
ou modificados, embora seja difícil de notar diferenças
malas manteve os 480 litros de volume, mas o vão de
em estilo. Você sabe que algo mudou, mas deve prestar
acesso foi alargado.
atenção no desenho da grade, capô, faróis e lanternas,
Todos os motores são novos – três a gasolina e quatro a
para-choques dianteiro e traseiro, além da linha de caráter
diesel. Duas curiosidades: motor V-6 que restou é a diesel,
lateral. Tudo bem sutil.
e a fábrica optou trocar downsizing e por suave upsizing
Por outro lado, a marca alemã investiu muito em aerodinâmica
em um dos motores a gasolina. Assim, o anterior quatro-
e na diminuição de peso. Tanto que o Cx (coeficiente de
cilindros de 1,8 litro agora tem 2 litros, ganhou 30 cv, mas
forma) é de apenas 0,23. O ganho de massa chegou a 120 kg,
manteve o mesmo torque de 32,6 kgfm a uma faixa mais
dependendo da versão e com aumento de rigidez da carroceria.
ampla de 1.450 a 4.200 rpm. Graças ao novo processo de 80
— Todos os motores e câmbios são novos. Potência subiu até 25% e consumo de combustível diminuiu até 21% —
combustão, batizado de ultra (com “u” minúsculo), consegue consumo médio teórico (padrão europeu “camarada” e gasolina com 8% de etanol) de 20,8 km/l. Esse motor de 190 cv será o primeiro a chegar ao Brasil, no segundo trimestre de 2016. Acelera de 0 a 100 km/h em 7,2 s. Na versão Quattro (tração 4x4), a potência e o torque sobem para 252 cv e 37,7 kgfm, respectivamente, com 0 a 100 km/h em 5,8 s. Outros motores mais potentes ainda virão. A caixa de câmbio automática CVT saiu de linha, substituída pela automatizada de dupla embreagem e sete marchas, S tronic, agora em nova geração. Sua alavanca de comando é bem curta, mas com um pomo largo de
1
ergonomia perfeita. O novo A4 tem nada menos de 30 recursos de assistência
1. Mudanças de estilo foram propositalmente sutis. Seu peso diminuiu até 120 kg
eletrônica de segurança ao motorista. Destaque ao 81
— Em versões oferecidas de início faltou o banco do motorista com ajuste elétrico. Motor básico: 1,4 l/150 cv (aqui, flex) —
sistema adaptativo de controle de distância em trânsito congestionado, associado ao sistema desliga/religa. Deu para constatar, nos arredores de “terra firme” de Veneza, que o carro para, acelera e acompanha automaticamente o fluxo de veículos até 60 km/h, mesmo em curvas (desde que com faixas pintadas no asfalto), mantendo distância de segurança. No entanto, há uma limitação. A cada 10 s, o sistema semiautônomo de direção avisa por meio de luz de
1
advertência ser necessário colocar pelo menos uma mão no volante para que a caixa de direção “sinta” essa ação. Se o motorista não o fizer, cessa a assistência, que pode ser
2 3 4
1. Quadro de instrumentos personalizável. Tela multimídia central não é tátil 2. Até 65 km/h, condução autônoma, mas a cada 10 s uma mão deve tocar no volante 3. Telas para passageiros do banco traseiro não estilhaçam, em caso de acidente 4. Há opção de amortecedores com carga variável pela primeira vez no A4
religada. Modelos mais novos da Volvo utilizam o mesmo recurso, até no Brasil. A Audi alega que a legislação não permite ainda condução autônoma (sem pelo menos uma mão ao volante) e, por isso, há dúvidas se será oferecida aqui. Com a ajuda de novos materiais e melhor fluxo de ar, o
82
A4 ficou mais silencioso internamente, no mesmo nível do topo de linha A8, segundo o fabricante. Colabora para isso a função de roda-livre no câmbio automatizado. Suspensões independentes têm cinco braços, tanto na frente como atrás, tornando a dirigibilidade um dos pontos altos. Há opção de amortecedores ajustáveis (conforto ou esportividade) e direção eletroassistida que varia a sua relação em função da velocidade e do ângulo de esterço para quem realmente aprecia explorar todo o potencial – seu e do automóvel. Cockpit virtual para reconfigurar o quadro de instrumentos (inclui rotas do GPS), projeção de informações no parabrisa, áudio Bang & Olufsen com efeito tridimensional, dois tablets na parte posterior dos encostos de cabeça dianteiros e faróis de LED com acompanhamento em curva são outros opcionais. Sistema de infortenimento inclui conectividade 4G e conexão wi-fi para integração com sistemas Android e Apple de telefones inteligentes, além de recarregar suas baterias por indução sem o incômodo de cabos e conectores.
−
83
— BMW 750Li A nave aterrissou — POR SESIL OLIVEIRA
Com o fim da Primeira Guerra I mundial, o Tratado de
de lazer em viagens. O senão são os apoios para os pés, cujo
Versalhes, assinado em 1919 pelas potências europeias,
revestimento muito claro no carro avaliado certamente
determinava que as empresas alemãs não poderiam
ficará manchado em pouco tempo de uso.
fornecer itens como motores para aviões. Com isso, a
O Série 7 tem duas versões de carroceria: padrão e longa,
Bayerische Motoren Werke (BMW), oriunda da união dos
motores V-6 e V-8 – o câmbio é sempre automático de oito
engenheiros Karl Rapp e Gustav Otto, filho de Nicolaus
marchas e a tração, integral. Para o Brasil, virá apenas a
Otto, criador do motor a combustão interna mais utilizado
opção maior (14 cm extras) e mais potente, 750Li xDrive. O
do planeta, afastou-se dos projetos aeronáuticos. Quase
preço não foi divulgado, mas quando o modelo chegar, em
100 anos depois, a sexta geração do Série 7, uma verdadeira
2016, custará mais que os R$ 464.750 da versão anterior,
nave feita para cruzar o mundo com as quatro rodas no
sem blindagem. A BMW homologará ao menos duas
chão, premia a tradição e engenhosidade da Fábrica de
blindadoras que trabalharão com o modelo.
Motores Bávara, significado da sigla BMW, em português. Uma das apresentações do carro ocorreu no autódromo de Monticello, nos arredores de Nova York. Os EUA são o segundo maior mercado do sedã no mundo – o primeiro é a China. O programa, feito na semana do US Open, último Grand Slam da temporada 2015, incluiu hospedagem no mesmo hotel, onde alguns dos principais tenistas do planeta estavam, e ida e volta de helicóptero para a pista. Segundo executivos da BMW, o objetivo desses mimos era mostrar o tipo de experiência vivida pelos compradores do modelo. É verdade que o Série 7 oferece ao “piloto” várias soluções tecnológicas, como a que permite comandar os sistemas de som e conectividade por meio de gestos – embora seja inédito em automóveis, o recurso está em TVs da Samsung há pelo menos três anos. Mas o novo sedã foi claramente pensado para proporcionar o melhor em termos de conforto e facilidades para quem viaja atrás. Os dois bancos individuais traseiros são como poltronas da classe executiva de companhias aéreas de primeira linha. Revestidos de couro (há várias opções de cor e até de textura), têm vários ajustes elétricos, oito níveis
— Totalmente renovado, sedã chegará ao Brasil em 2016 na versão de topo, carroceria longa e tração integral de série —
de massagem e podem ser reclinados de forma que os passageiros viajem praticamente deitados. Há ainda luzes de leitura individuais, cortinas para as janelas e vigia, e por aí vai. O console central com mesas dobráveis inclui recursos como entradas USB e auxiliar e um tablet de 7 pol, por meio do qual é possível ajustar desde o sistema de entretenimento – há telas de vídeo nas costas dos bancos dianteiros – até a temperatura e o fluxo de saída do ar-
1
condicionado com zonas individuais de climatização, além de abrir e fechar o teto solar. Na prática, a área traseira
1. Acabamento interno requintado mistura materiais nobres, como couro, madeira e alumínio escovado
pode ser transformada em um escritório ou em um espaço
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89
No visual, as atualizações que deixaram o Série 7 em linha com a mais recente identidade global adotada pela BMW proporcionaram mais elegância ao sedã. A dianteira longa, com uma leve “caída” do meio do capô para a frente, cria a impressão de que o carro é menor do que seus 5,24 m de comprimento sugerem e o faz parecer mais baixo. Ele parece estar “socado” no chão. A adoção de tecnologia full-LEDs permitiu sofisticar o desenho dos faróis e dobrar o alcance dos fachos de luz, para 600 m. O Série 7 é o primeiro BMW a ter o sistema, que estreou no i8, modelo esportivo da divisão de veículos elétricos da marca. As suspensões, a ar, têm ajuste automático e deixam o sedã firme, sem variações de distância em relação ao solo em arrancadas (quando a frente tende a levantar) e frenagens bruscas (mergulho), acelerações ou curvas, independentemente da ação do motorista. Colaboram para isso a ótima distribuição de peso (50% para cada eixo) e os amortecedores, também com respostas automáticas que se adaptam ao tipo de piso e topografia da via. Atrás, a tampa do porta-malas está mais alta e a inclinação do vigia “disfarça” o tamanho do terceiro volume, embora haja bons 515 litros de capacidade no porta-malas para acomodar com tranquilidade as bagagens de até quatro ocupantes. As lanternas também foram redesenhadas. Com a utilização de materiais leves na construção, como compósito de fibra de carbono, alumínio e plástico de alta resistência, o sedã pesa 130 kg a menos que a geração anterior. A tecnologia disponível para o motorista impressiona. As câmeras para auxílio em manobras, por exemplo, captam imagens panorâmicas ou de diversos ângulos da carroceria, como se estivessem espalhadas pelo ambiente, e as projetam na tela da central multimídia. Dá até para fazer um giro virtual de 360 graus ao redor do carro. Outro destaque é a chave, batizada pela BMW de Display Key. Maior que qualquer outra que você já viu, lembra um pequeno smarthphone e tem tela tátil. Por meio dela dá para checar várias informações do carro, como quantidade de
Na pista, foi possível conferir algumas das virtudes no novo
combustível no tanque, autonomia e plano de manutenção.
sedã. O motor 4.4 V-8 biturbo de 450 cv e 66,3 kgfm a partir
A cereja do bolo dessa chave é um sistema que funciona
de 1.800 rpm acelera o Série 7 – de 0 a 100 km/h em 4,3 s, de
como controle remoto e permite estacionar o sedã estando
acordo com o fabricante – de forma vigorosa e progressiva.
do lado de fora (algo bastante útil em vagas apertadas).
As trocas de marcha são imperceptíveis, e o sistema de freio
O recurso, disponível no mercado europeu, ainda não
é muito bem dimensionado. Apesar de sua massa, o sedã
teve o uso liberado nos EUA, o que impediu a avaliação
desliza sobre a pista, e o ronco grave do V-8 cria a sensação
de seu funcionamento.
de que a qualquer momento a decolagem terá início.
90
−
— Dois únicos passageiros na traseira viajam em bancos individuais, que parecem poltronas —
1 1. Com linhas elegantes, capô longo e vigia que avança sobre o porta-malas, o sedã parece ter menos que seus 5,24 m
91
BMW 750Li xDrive MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO
V-8 4,4 litros Gasolina 450 cv e 66,3 kgfm Automático, 8 marchas Integral 5,24 m 3,21 m 4 515 litros 78 litros 640 km 2.091 kg R$ 550 mil (estimado)
POR ROBERTO MARKS
— À moda mexicana — Em sua 28a edição, competição reúne apaixonados por carros de época e clássicos no trecho mexicano da “Carretera Panamericana” POR ROBERTO MARKS FOTOGRAFIA ANDREAS HEINIGER
Uma competição automobilística bem peculiar. Assim
fechados de velocidade pura com outros apenas de
pode ser definida a “Carrera Panamericana”, reservada para
deslocamento, nos quais os participantes “tentam”
carros de época e clássicos, que também procura celebrar
respeitar a velocidade máxima indicada pela sinalização, a
a mítica prova de mesma denominação realizada no
competição atual difere da “Carrera” original, que era uma
começo dos anos 1950. A moderna “Carrera”, ou corrida, é
prova de velocidade. Seu percurso era de 3.507 km, dividido
organizada desde 1988 e já está em sua 28ª edição, atraindo
em oito etapas realizadas em apenas cinco dias, sendo que
no mês de outubro participantes de diversos países para
em muitos trechos os carros mais potentes rodavam longos
competir por sete dias no trecho mexicano da “Carretera
períodos a velocidade máxima, em torno dos 300 km/h.
Panamericana” (ver boxe), como o francês Philippe Alliot,
Isso há 60 anos, o que provocou muitos acidentes graves.
ex-piloto de Fórmula 1 e vencedor da edição de 2014.
No novo formato, a “Carrera” tem sido relativamente mais
Com as características de um rali, que alterna trechos
segura, mas nem por isso menos exigente, já que com
98
mais de 3 mil km de percurso total faz com que as etapas diárias tenham, em média, cerca de 500 km. Em cada etapa é realizado um prime — prova especial em trecho de velocidade pura com estrada fechada ao trânsito —, que vai definir a classificação final da prova. Como a disputa utiliza a principal estrada que atravessa o México de norte a sul, os participantes precisam aguardar a polícia rodoviária terminar a imprescindível varredura do percurso antes de sua liberação para a prova especial. Regulamento “caseiro” Enquanto é realizada a prova especial, os motoristas de caminhões, ônibus, carros e motos que estão em viagem são obrigados a ficar aguardando a liberação da estrada naquele trecho determinado. Outra peculiaridade dessa prova é o regulamento, que mistura carros de diversas épocas de fabricação divididos em múltiplas categorias. Oficialmente, ela é reservada para todos os modelos fabricados de 1940 a 1972, mas o regulamento privilegia os carros híbridos à moda mexicana, ou seja: qualquer automóvel fabricado no continente americano, antes de 1955, pode ser dotado de mecânica moderna, mesmo que seja de outra marca. Com isso, a disputa pela vitória tem sido monopolizada pelos carros americanos do começo dos anos 1950, em especial os modelos Commander e Champion da finada marca Studebaker — encerrou atividades em 1967 — fabricados em 1953 e 1954. As versões cupê desses modelos, denominadas Starlight e Starliner, foram desenhadas pelo americano Robert E. Bourke, que trabalhava sob a supervisão do renomado estilista francês radicado nos
— Com características de rali de velocidade, a Carrera é disputada por duplas, sendo que muitas delas são formadas por casais — 1
2
1. Equipamento de navegação típico de provas de rali são utilizados pela maioria dos concorrentes 2. Um charmoso clássico: Alfa Romeo Giulietta Sprint Speciale
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Estados Unidos, Raymond Loewy, e se caracterizam pelo
bólidos “mexicanos”, ou mexidos americanos, que nas
estilo muito arrojado para aquela época, com carroceria
provas especiais podem rodar facilmente a 300 km/h.
de perfil bem baixo e aerodinâmico. Essas carrocerias são montadas sobre chassis especiais de stock cars americanos
Locação de carros
equipados com um motor V-8 small block.
O domínio dos modelos Studebaker é acachapante: nas
A preferência é pelo motor Chevrolet V-8 de 350 polegadas
28 edições disputadas, eles venceram 21, inclusive a
cúbicas (5,7 litros) que, devidamente preparado, pode
deste ano. Por sinal, desde 2007 só Studebaker vence. A
desenvolver algo em torno de 600 cv. Como o peso total dos
Ford e a Mercury, com duas vitórias cada, e Oldsmobile,
carros não passa de 1.500 kg, isso garante uma excelente
Kurtiss e Jaguar, com uma, completam o quadro de marcas
relação peso- potência de 2,5 kg/cv. Dessa forma, mesmo
vencedoras. A vitória do Jaguar, a única de um carro
modernos e potentes modelos europeus como o BMW M3,
europeu, foi obtida em 1990 pelo veterano piloto inglês
que podem participar da prova hors-concours, sem direito
de provas de longa duração, Alain de Cadenet, com uma
a classificação e premiação, sofrem para acompanhar os
réplica do C-type. Mas dois renomados pilotos de rali, o 100
— A entusiasmada participação do público é outra particularidade típica da competição que demora sete dias —
sueco Stig Blomqvist e finlandês Harri Rovanperä, também já venceram a competição, com Studebaker... Essa supremacia da marca americana tem incentivado um negócio que rende bom dinheiro às equipes mexicanas: a locação de carros para estrangeiros. E foi isso que fez o casal franco-brasileiro, Hilaire e Laura Damiron, ele parisiense, ela paulistana, que se conheceram no Brasil, mas hoje moram no México. Com o apoio da TAG Heuer, que também patrocinou o evento, foram a sensação da competição deste ano disputando a liderança até a sétima e última etapa, a qual venceram com o Studebaker 1954.
1
Mas, na soma final dos tempos das provas especiais, ficaram em segundo lugar, apenas 23 segundos atrás dos
1. Participação ativa dos visitantes no evento
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vencedores na classificação geral, a dupla de mexicanos Emilio Velazquez e Javier Marin Caballero, com outro Studebaker, só que 1953. Assim como Hilaire e Laura, muitos casais participam da Carrera, o que também é outra peculiaridade que distingue essa competição. Mas a mais impressionante se refere à participação do público. É surpreendente o número de espectadores, tanto nas largadas das etapas, realizadas de madrugada, como nas chegadas, nos fins de tarde, mas também tem muita gente pelo caminho, em especial nos trechos das provas especiais, e a vibração confirma a paixão do povo mexicano pela Carrera.
— O casal franco-brasileiro foi uma das sensações da prova deste ano disputando a liderança e chegando em segundo lugar —
1 2
3
1. Os carros estão equipados com preciso sistema de rali 2. O casal Laura e Hilaire Damiron foi a sensação da prova 3. Cartaz promocional da Carrera deste ano
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−
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La Carrera em La Carretera “Carrera” é um nome mágico para os automobilistas, uma referência à mítica prova de estrada realizada no México, na primeira metade da década de 1950, da qual foram disputadas cinco edições épicas marcadas pelo elevado nível de exigência, com longos trechos percorridos a médias de velocidade altíssimas, que consagraram marcas e pilotos. Mas também foi um evento obscurecido pela tragédia, que ceifou 27 vidas, entre participantes – pilotos e mecânicos –, além de espectadores que aos milhares ficavam postados à beira da estrada. A organização da competição foi incentivada pelo governo do México com o propósito de comemorar a pavimentação dos cerca de 3.500 km do trecho nacional da Carretera Panamericana, a proposta de uma estrada unindo o Alaska, no extremo norte da América, a Ushuaia, no extremo sul. A concepção dessa estrada transnacional foi definida na Conferência dos Estados Americanos, realizada em Santiago do Chile, em 1923, e referendada no Congreso Panamericano de Carreteras, organizado na cidade de Buenos Aires, em 1925. O México foi o primeiro país a cumprir sua parte no tratado, o que, até hoje, não foi realizado por alguns dos países signatários. A primeira edição da Carrera Panamericana foi realizada em 1950 e a última, em 1954. A prova de 1955 estava programada, porém o terrível acidente ocorrido na 23ª edição da 24 Horas de Le Mans, em junho daquele ano, em que morreram mais de 80 espectadores, fez o governo mexicano desistir definitivamente de promover a competição, já que as corridas de automóveis também sofriam fortes críticas no próprio México em razão dos muitos acidentes fatais ocorridos nas cinco edições da “Carrera”.
— Desde 1988, a competição procura resgatar a tradição da mítica “Carrera Panamericana”, disputada na década de 1950 — Os cartazes também procuram relembrar a Carrera original
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— Divertimento garantido — MINI JCW MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO
POR JOSIAS SILVEIRA
2.0 turbo, 4 cilindros Gasolina 231 cv e 32,6 kgfm Automático, 6 marchas Dianteira 3,87m 2,49 m 4 211 litros 44 litros 530 km 1.220 kg R$ 153.950
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Poucos carros merecem tanto a definição de “just for fun”.
de um carro de luxo, sistema desliga/religa o motor e
Basta ter o volante nas mãos para aparecer diversão pela
ainda a possibilidade de diversas personalizações, de
frente. O MINI é assim, principalmente com o sobrenome
rodas de 18 pol até a pintura do teto e retrovisores em
John Cooper Works. O primeiro que recebeu a bênção do
“vermelho chili”, lembrando que o JCW é um carrinho
preparador John Cooper ainda era um carrinho popular
bem apimentado.
inglês e, em 1960, ganhou 60% a mais de potência, chegando a “fabulosos” 55 cv. A associação Mini e Cooper nunca cessou, e quando o Mini, já nas mãos da BMW, mudou radicalmente em 2001, passando a ser MINI, ela continuou em 2001 sob forma de kits produzidos pela John Cooper Works, firma fundada no ano anterior por Michael, filho de John. Os kits só eram instalados nas concessionárias, mas em 2005 um acordo foi selado entre a MINI e a JCW, passando os kits a virem de fábrica. Assim como existe a divisão M para os BMW, há a JCW para os MINI; a versão JCW, surgida em 2015, é a mais potente da marca até hoje: o motor 2 litros (BMW) de quatro cilindros turbo entrega 231 cv, 4,2 vezes mais potência que seu antecessor de 1960. Na estrada O MINI cresceu 10 cm nesta terceira geração, com exatos 3,81 m de comprimento, mas não é pesado (1.220 kg) e mantém o “kart feeling”, rápido de reações em curvas, boa aceleração e frenagem. O JCW reage muito rapidamente, ainda mais com tanta potência e, principalmente, torque. Seu turbocompressor TwinPower com dupla voluta para a turbina garante ótimas acelerações desde quase a marcha-lenta graças aos 32,6 kgfm de torque entre
— Preparado pela John Cooper Works, este MINI mostra o “kart feeling”, reações rápidas e esportivas ao volante —
1.500 rpm e 4.800 rpm. Acelera rápido (0 a 100 km/h em 6,1 s) e chega a 246 km/h, tudo mostrando excepcional vigor. O câmbio automático ZF de seis marchas tem três modos de funcionamento, do ecológico ao esportivo. Sua suspensão também se amolda ao modo de dirigir e à velocidade, sendo uma das maiores responsáveis pelo comportamento firme e esportivo. Mas é uma suspensão de curso reduzido, que sofre em pistas esburacadas. Em asfalto liso, porém, a satisfação é garantida, principalmente
1
em trechos montanhosos, onde surpreende ainda mais.
2
Todo o restante – de recursos de conforto e segurança, 1. Motor turbo de 231 cv traz boa performance 2. O MINI pode ser personalizado com rodas maiores e teto vermelho
passando por acabamento e acessórios – não deixa dúvidas da presença da BMW. Traz a eletrônica completa
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— Tradição na forma mais pura — Tradicional marca inglesa faz série comemorativa especial para o modelo Plus 4 POR ROBERTO MARKS
A Morgan Motor Company está comemorando o 65º
pela equipe de técnicos da AR Motorsport – divisão da
aniversário do lançamento do modelo Plus 4. Aproveitando,
fábrica especializada na preparação dos modelos para as
a tradicional marca inglesa lançou uma série exclusiva
competições de carros clássicos bastante populares na
denominada AR Plus 4, da qual fabricará apenas 50
Inglaterra. A principal novidade nesta versão especial é o
unidades. Curiosamente, o desenho da carroceria da nova
motor, que leva a assinatura da Cosworth.
versão, típica dos roadsters ingleses da primeira metade do
A partir da unidade motriz de quatro cilindros em linha
século 20, difere em poucos detalhes do primeiro modelo
Ford Duratec GDI, de 2 litros e 154 cv, que equipa a versão
apresentado no Earls Court Motor Show, em Londres, no
básica do Plus 4, a Cosworth aumentou a potência para
longínquo ano de 1950.
225 cv mantendo a mesma cilindrada. A caixa de câmbio,
Apesar de lançado há 65 anos, o Plus 4 teve sua produção
de cinco marchas, é a mesma do Plus 4 fornecida pela
interrompida em dois períodos: de 1969 a 1984 e de
japonesa Mazda. Já o desenho do chassi foi revisto para
2000 a 2004, devido a problemas de fornecimento de
ganhar maior rigidez e adotar a nova suspensão multibraço
motores e pelo lançamento de novos modelos, como o
na traseira, equipada com amortecedores reguláveis da
Morgan 8, em 1968, e o Aero 8, em 2000. Além disso, a
marca Spax, de competição. O sistema de freio, a disco nas
reduzida capacidade produtiva da fábrica, basicamente
quatro rodas, também foi redimensionado para atender
artesanal, também contribuiu para a empresa optar por
as maiores solicitações, e o diferencial ganhou relação
tirar temporariamente de linha o Plus 4. Atualmente, é
final mais longa.
oferecido em duas versões: dois e quatro lugares. Detalhes e preço Visual retrô, mecânica atual
Visualmente, entretanto, as diferenças podem ser notadas
Se faz questão de preservar o visual retrô no desenho de
em poucos detalhes, como as rodas de liga leve, com aro
seus modelos, no que se refere à mecânica e ao desempenho
de 16 pol e tala de 7 pol, pintadas em preto e nas quais são
a Morgan se mantém bem atualizada, como pode se
montados pneus Yokohama 225/55R16. Outro detalhe
comprovar nesta série limitada, que foi desenvolvida
interessante, que contrasta com o tradicional desenho
da carroceria, são os faróis principais e auxiliares, assim
conversão direta), enquanto a versão básica do Plus 4 custa
como as lanternas de sinalização, equipados com diodos
31.750 libras, o que equivale a R$ 190.500.
emissores de luz (LED). Na cabine, o acabamento é acurado com bancos revestidos em couro e assoalho com
Bem britânico
carpete. O completo painel de instrumentos manteve o
Se existe uma marca que preserva a tradição inglesa na
layout original, mas se diferencia pelo fundo em alumínio
arte de fabricar automóveis exclusivos, esta é a Morgan. A
sem pintura.
empresa centenária, que iniciou suas atividades em 1910
A Morgan não divulgou dados específicos referentes ao
produzindo triciclos, é uma das poucas do setor ainda de
desempenho desta série especial, mas ela deve ser bem
propriedade inglesa. Por sinal, continua sendo controlada
mais empolgante do que o modelo Plus 4, que, segundo
pela família de seu fundador, Henry Frederick Stanley
divulgado pelo fabricante, acelera de 0 a 100 km/h em
Morgan, além de manter suas atividades industriais na
7,5 s e alcança a velocidade máxima de 189 km/h. Mas
fábrica inaugurada em 1914. Em termos de tradição, nada
o que mais impressiona nesta série especial é o preço:
poderia ser mais inglês.
55.000 libras esterlinas, algo em torno de R$ 330.000 (em
Estabelecida na bucólica cidade de Malvern, no oeste
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— A Morgan continua sendo controlada pela família do fundador e mantém as atividades na fábrica inaugurada em 1914 —
da Inglaterra, e a cerca de 200 km de Londres, a Morgan tem uma reduzida força de trabalho com menos de 200 fiéis colaboradores. Boa parte deles tem mais de 30 anos de empresa, divididos entre funileiros, torneiros, tapeceiros, montadores e marceneiros. Isso mesmo: marceneiros, já que a Morgan continua fabricando carros como nos primórdios da indústria automobilística, antes de Henry Ford criar a linha de montagem móvel. Esta dedicada equipe de artesãos produz atualmente uma média de 20 carros por semana, apesar de cada um demorar cerca de três meses para ser construído – do início ao fim do processo. Isso porque a carroceria tem sua estrutura
1
básica armada com madeira, depois revestida por chapas de metal, enquanto as portas, o capô e os curvilíneos para-
1. Externamente as novidades são as rodas de liga e os faróis de LED
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lamas envolventes são de chapa de aço ou de alumínio (opcional, como no AR 4), moldados manualmente em rústicas dobradeiras. Após a pintura, a carroceria é fixada ao chassi com os componentes mecânicos e recebe o acabamento final. A empresa, que iniciou suas atividades fabricando o revolucionário triciclo projetado por HFS Morgan, em 1909, rapidamente ganhou notoriedade na Inglaterra, além de diversos concorrentes. Mesmo assim, apenas cinco anos depois Morgan conseguiu levantar os recursos necessários para construir a fábrica onde a empresa está instalada há 100 anos. A produção de carros com quatro rodas só foi iniciada em 1937, quando foi lançado o Morgan 4/4 (quatro rodas/quatro cilindros) equipado com motor Coventry Climax de 1.098 cm³ e 42 cv. Este modelo continua sendo a versão de entrada da marca, mas atualmente é equipado com motor Ford Sigma de 1,6 litro e 110 cv, iguais aos fabricados em Taubaté (SP). Em 1950, a Morgan ampliou sua linha com o lançamento do Plus 4, equipado inicialmente com motor do Standard Vanguard, de 2,1 litros e 62 cv, posteriormente substituído pelo dos esportivos Triumph TR de 2 litros de 90 e 100 cv. Na época, a Morgan ainda fabricava seu popular triciclo, que foi mantido em linha até o final de 1952. Em 1954, a linha de esportivos Morgan passou por sua mais radical alteração de estilo com a mudança no desenho da grade do radiador. Ela passou a ser curva e mais aerodinâmica, e que também se transformou numa espécie de “marca registrada” de todos os modelos da marca daí em diante. O fim do fornecimento dos motores Triumph, em 1968, levou ao lançamento de um novo modelo, o Morgan 8, equipado com uma unidade
— A principal novidade nesta versão especial é o potente motor, que leva a assinatura da renomada Cosworth —
Rover V-8 de 3,5 litros, enquanto o Plus 4 teve sua produção descontinuada. Porém, foi retomada em 1985, quando passou a ser equipado com motor Fiat de 2 litros, de duplo comando de válvulas e potência de 120 cv. Este propulsor foi substituído, em 1988, pelo do Rover 820, de origem Honda, também de 2 litros e 16 válvulas, mas com potência de 140 cv. Após o encerramento das atividades da Rover, em
1
2000, o Morgan Plus 4 novamente saiu de linha e só voltou em 2005 com o fornecimento dos motores da Ford.
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1. O motor original Ford de 2 litros teve potência aumentada para 225 cv
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— Americano até a alma — Chrysler 300C MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO
POR JOSIAS SILVEIRA
V-6 3,6 litros Gasolina 296 cv e 36 kgfm Automático, 8 marchas Traseira 5,04 m 3,05 m 5 500 litros 70 litros 600 km 1.828 kg R$ 204.900
Grande, com jeitão de carro de filme policial, o Chrysler 300C
estabilidade, mesmo em velocidade mais alta. Sua
vem da mistura de várias marcas. Apesar de representar bem
agilidade surpreende não só pelo seu tamanho, mas
o sedã clássico americano em versão atual, o 300C renasceu
também pelo peso de 1.828 kg. Até dirigindo de modo mais
em 2005, quando a Chrysler pertencia à Daimler Conseguiu
esportivo, parece um carro menor e bastante obediente. A
reunir o melhor de dois mundos, Alemanha e Estados
tração traseira completa o pacote de um sedã com soluções
Unidos: plataforma e suspensões europeias (derivadas do
clássicas atualizadas.
antigo Classe E) com os motores V-8.
Não chega a ser exemplo em economia de combustível: 7,1
Visualmente foi uma releitura do 300 de 1956, como mostra
km/l de gasolina na cidade e 10,1 km/l na estrada, segundo
a grande grade dianteira e a vocação para uma tocada mais
o Inmetro, que o classificou como D em consumo. Em
esportiva. Agora passa pela sua segunda renovação nos
compensação, vai aos 240 km/h.
anos 2000, com uma pitada italiana da Fiat, que assumiu a Chrysler e deu origem à FCA, Fiat + Chrysler Automobiles.
Frente invocada
Apesar de influências de tantas culturas sobre rodas, o
Graças à grade dianteira 33% maior que o modelo anterior
resultado continua bem ao gosto americano, país que
(lançado em 2011), o 300C voltou a ter “cara de mau”,
gosta de carrões. Com pouco mais de 5 metros (exatos
exatamente o ponto forte de seu charme grandalhão.
5,04 m), o sedã oferece prazer ao dirigir, inclusive pelo
Com a atualização que inclui novos para-choques,
comportamento em curvas. Sua suspensão independente
faróis de duplo xenon, LEDs e lanternas (dianteiras e
nas quatro rodas tem calibragem quase esportiva e agora
traseiras), chegou também maior sofisticação interna e
dispõe de novas rodas com aro 20 pol.
refinamento mecânico.
Tudo isso, combinado a um motor V-6 Pentastar, garante
Além de uma tela de 7 pol entre o velocímetro e conta-
boas arrancadas (0 a 100 km/h em 7,9 s) e bastante
giros, há uma segunda tela multitarefa de 8,4 pol no centro
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— O novo Chrysler, além de ganhar xenon e LEDs, agora tem a grade dianteira maior —
do painel. Aí se controlam várias funções, desde GPS e informações sobre o carro, até acessórios e equipamentos como o de áudio, um Alpine de dez alto-falantes e 506 W de potência. Como todo sedã de luxo, foca em silêncio e conforto interno, além de muitos equipamentos de série. O sistema de direção agora recebe assistência elétrica, o que reduz esforços em manobras. Para dirigir, é necessário se habituar ao comando do câmbio automático de oito
1
2
marchas, que traz apenas um botão no console em lugar da 1. O motor V-6 ficou mais potente com 296 cv 2. Como em todo sedã de luxo, a tração é traseira
tradicional alavanca. No começo se estranha engatar a ré apenas girando um botão. Um câmbio com tantas marchas ajuda a economizar combustível, principalmente quando em rodovias, em velocidade constante. Sua mecânica também foi refinada. O motor V-6 Pentastar de 3,6 litros e 24 válvulas ganhou 10 cv (chega aos 296 cv) e traz mais torque (36 kgfm). Nos EUA existe também o motor V-8, porém, a versão importada para o Brasil tem praticamente o mesmo acabamento do topo de linha. Curiosamente, mesmo o V-6 com seus 296 cv volta a justificar sua origem. O primeiro 300, de 1956, ganhou a denominação por ter exatamente 300 cv.
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— A história da Chrysler e do 300C está exposta no museu da marca, ao lado da fábrica, em Michigan —
Destaque no museu Ao lado da fábrica, em Auburn Hills (Michigan), perto de Detroit, um museu conta a história da marca. Um moderno prédio envidraçado de três andares e mais de 5 mil m², o Walter P. Chrysler Museum homenageia o fundador, além de promover um tour pelo passado. Claro, lá estão vários Chrysler 300, mostrando a primeira série do modelo feito entre 1955 e 1965. Desde o início de sua fabricação, eles recebiam uma letra após o 300, daí serem chamados de letter series, ou série com letras. Lá está um orgulhoso 300C de 1955, assim como seus sucessores, como o 300D de 1958, com um enorme grade
1
única, maior ainda que a dupla dos primeiros modelos. Eles refletem o luxo e o exagero – em cromados e dimensões – dos anos 1950/60, assim como o revivido 300C atual
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3 4
1. Um belo woodie, o Town and Country de 1941, com madeira na carroceria 2. O interior dos 300, cheio de cromados, demonstra o luxo dos anos 1950 3. Modelo de 1958, que era um 300D, ostentava uma enorme grade ùnica 4. Passado e presente, lado a lado: o primeiro 300, de 1955, e o atual 300C
(que voltou a produção em 2005) traz características e tecnologias deste século. Cerca de uma centena de modelos expostos contam várias outras histórias, passando por jipes militares, picapes, conversíveis, carros esportivos e de competição. Até muitos
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dream cars estão no museu, representando os carros de sonho que nunca passaram de protótipos ou chegaram às linhas de montagem. Um dos mais interessantes é o Chrysler Special by Ghia, de 1953, do qual foram feitas apenas 19 unidades pelo designer e construtor italiano de Turim. O projeto não caminhou como o esperado e foi abandonado. Curiosamente, logo depois surgiu o Karmann-Ghia, um sucesso mundial da Volkswagen, que em menor escala usou o mesmo desenho do teto e área envidraçada da série especial inicialmente oferecida aos americanos. Boa parte dos modelos expostos é rotativa, já que o acervo não caberia inteiro no prédio. Mas sempre existem representantes de várias épocas e tendências, como os woodies, carros com boa parte da carroceria feita artesanalmente em madeira, um trabalho difícil e artístico. Desta vez lá estava um Chrysler 1941, um dos primeiros station wagons da marca, batizado de Town and Country. De novo o fabricante reutilizou um nome tradicional para novos modelos e, desde 1989, uma longa série de minivans usa essa denominação. Para relembrar os históricos woodies, alguns destes monovolumes trazem as laterais com revestimento imitando madeira. O Chrysler Museum não é aberto permanentemente ao público e só pode ser visitado em eventos ou por grupos organizados com antecedência.
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— Os SUVs mais rápidos do mundo — Veículos que mudaram o sentido da palavra “utilitário” ao terem desempenho de supercarros POR BOB SHARP
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O termo “utilitário” é associado a um tipo de veículo para o trabalho duro. Mas, nos Estados Unidos, se vislumbrou usar esse utilitário para atividades de lazer, surgindo o sport utility vehicle, cuja sigla SUV eclipsou o nome completo do veículo. Na realidade, o utilitário esporte concebido e lançado sem esse objetivo pela Willys-Overland em 1946 e batizado Jeep Station Wagon (aqui chamado de Rural Willys) jamais deu ideia de se tratar de um veículo de alto desempenho. Pelo contrário. Era para servir à família em momentos de lazer, no campo mesmo, só atingível por rudimentares estradas. Em 1970 a inglesa Land Rover fez uma releitura do utilitário esporte. Teria que ser capaz de enfrentar e vencer os piores terrenos, só que com classe e conforto: nascia o Range Rover. E assim os SUV foram evoluindo, crescendo em tamanho e desempenho, mas dentro do conceito original de utilitário de lazer. Chega o século 21 e a palavra passava a ter novo sentido. O Porsche Cayenne, criticado no seu lançamento em 2002 por nada ter a ver com a marca de Stuttgart, conhecida por seus carros esporte e de corrida, sinalizou a mudança. Versão Turbo S deixou o mundo automobilístico ainda mais atônito com uma nova e inesperada leitura, a de um SUV de alto desempenho, aliás altíssimo. Isso marcou o início da corrida por desempenho no segmento dos utilitários esporte, que hoje tem
— Novos lançamentos de SUVs de alto desempenho parecem não ter fim, para alegria dos que não se contentam com pouco —
contendores de peso, com desempenho digno de carros feitos unicamente para velocidade. E ainda serão lançados o Maserati Levante e, possivelmente, o Lamborghini Urus. Bentley Bentayga O Bentley Bentayga é o SUV mais veloz, potente e luxuoso do mundo. Debutou no recente Salão de Franfkurt e foi uma das sensações. Seu motor a gasolina biturbo de 6 litros e 12 cilindros em W entrega 608 cv, combinado com o incrível torque de 91,8 kgfm. Por isso, o elevado peso vazio de 2.422 kg vira mero detalhe, pois acelera de 0 a 100 km/h em apenas 4,1 s e entrou para o restrito “Clube dos 300” ao atingir 301 km/h de velocidade máxima. A tração é integral e o câmbio automático, de oito marchas.
1 2
Tem função “roda-livre”, a de rolar com a transmissão desacoplada para aproveitar a grande inércia e poupar
1. O Jaguar F-Pace marca o ingresso da inglesa Jaguar no segmento dos utilitários esporte velozes 2. Muito estudo para chegar às linhas finais do Jaguar F-Pace
combustível. A quase secular (1919) e inglesa Bentley pertence ao Grupo Volkswagen desde 1998.
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— Os SUVs crescem em participação de mercado no Brasil e também na Europa, para surpresa de analistas de mercado. E as fabricantes não têm como deixar de correr atrás —
Jaguar F-Pace É a primeira incursão da marca do felino no segmento dos utilitários. Da estrutura do Jaguar F-Pace 80% é alumínio, para reduzir peso (1.861 kg), contido para um veículo de 4,73 m com entre-eixos de 2,87 m. O motor da versão mais potente é o V-6 3 litros a gasolina com compressor de 380 cv com torque de 45,9 kgfm (no futuro deverá receber o motor do Ranger Rover Sport SVR, de 560 cv). O câmbio é o automático de oito marchas e tração integral. Aceleração 0-100 km/h leva 5,5 s e atinge (limitados) 250 km/h. O porta-malas acomoda 650 litros. A suspensão dianteira é por braços triangulares superpostos e a traseira, multibraço. Sua distância mínima do solo com carga máxima é de 21,3 cm. Mercedes-Benz G 65 AMG
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2
Não é o mais veloz do mundo, atinge “apenas” 230 km/h por questão de bom senso, já que seu porte desaconselha
1. Bruto é o melhor adjetivo para o Mercedes G 65 AMG (ao lado), tem cara de briga por ter sido concebido como veículo militar 2. A SVR é versão mais rápida da história de 45 anos do modelo Range Rover, com seu motor de 560 cv
deixar os 612 cv do motor V-12 6 litros a gasolina turbo e o descomunal torque de 102 kgfm fazerem seu trabalho
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completo. Não é tão grande; o que pega é a altura de 1,94 m
BMW X6 M
combinada com bitolas muito estreitas, ambas de 1,50 m,
Lançado em 2009, o X6 está na sua segunda geração. O
e suspensão por eixo rígido. Pesa 2.505 kg, mas vai de 0 a
motor V-8 a gasolina de 4,4 litros e dois turbocompressores
100 km/h em 5,3 s. Foi concebido como viatura para forças
produz 575 cv e torque de 76,5 kgfm. Leva o X6 M de 0 a 100
armadas e a Mercedes terceirizou a empreitada à austríaca
km/h em apenas 4,2 s, com auxílio do câmbio automático
Magna-Steyr. Lançado em 1979, foi em 2003 que a AMG
M Steptronic de oito marchas e tração integral. Sua
pôs as mãos nos motores V-8 de 5,5 litros e V-12 de 6 litros
velocidade é limitada pelo sistema de gerenciamento do motor a 250 km/h; tem potência para bem mais. O câmbio
e surgiram o G 63 e este G 65 com o famoso sobrenome.
tem o recurso que espelha o conceito de funcionamento da caixa robotizada de dupla embreagem M, com respostas e
Land Rover Range Rover Sport SVR
trocas de marchas instantâneas.
É o Range Rover mais veloz da história do modelo. Desenvolvido no Centro de Operações Especiais da
Porsche Cayenne Turbo S
fabricante inglesa, é o primeiro modelo da nova versão
O Porsche Cayenne, quando lançado era para vender 25 mil
que passará a denominar os Jaguar e Land Rover de
unidades por ano; no primeiro vendeu 40 mil, hoje 80 mil.
alto desempenho. Motor V-8 de 5 litros a gasolina com
Isso mostra o tiro certeiro que a Porsche deu ao ingressar
compressor, 560 cv e 69,3 kgfm garante 0 a 100 km/h
nesse segmento. O atual Cayenne Turbo S, com seu V-8 a
em 4,7 s e velocidade máxima de 260 km/h. O câmbio é
gasolina biturbo de 570 cv e torque de 81,6 kgfm é um carro
automático de oito marchas, com tração integral. Sua
esporte travestido de SUV. Não é tão veloz quanto o Bentley
suspensão foi calibrada para proporcionar rapidez nas
Bentayga, alcança “só” 284 km/h, mas vão juntos até 100
curvas ainda maior que o Ranger Rover Sport. É rápido: no
km/h. Como pesa 187 kg menos (2.335 kg), é mais ágil num
Nordschleife, a seção norte de 20,8 km do autódromo de
trecho de curvas em sucessão. O Cayenne S é recordista dos
Nürburgring, na Alemanha, registrou tempo de 8’14”.
SUV em Nürburgring Norte, com o tempo de 7’59,74”.
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−
— Foram os alemães, com a Porsche, que deram o pontapé inicial em direção aos SUVs que andam e se comportam como supercarros —
1
2 3
1. BMW com sufixo M no nome é sinônimo de encrenca para quem está à frente, caso do X6 M da foto ao lado 2. O Porsche Cayenne mudou a história dos SUVs quando foi lançado em 2002, um carro esporte travestido de utilitário 3. O Cayenne deu pontapé inicial ao mercado
137
— O futuro é hoje — Recentes salões internacionais comprovam que o futuro do automóvel está delineado, mas muitas dúvidas permanecem
SALÃO DE FRANKFURT POR JOSIAS SILVEIRA FOTOGRAFIA ANDREAS HEINIGER
Existem poucas barreiras entre o Ocidente e o Oriente. Os salões de automóveis bienais de Frankfurt e de Tóquio, além dos lançamentos, dão uma visão do futuro global sobre rodas, e este ano rivalizaram especialmente sobre o tema de propulsão elétrica. A mostra alemã é considerada a maior do mundo. São 12 enormes prédios, alguns com três ou mais andares, e abriga o que estiver disponível em todos continentes (até chineses, discretamente). Aliás, o adjetivo enorme pode ser mensurado por jornalistas que andam entre os prédios. Em apenas um dia, pedômetros e celulares com este aplicativo registravam entre 12 mil e 15 mil passos. A grandeza da exposição afeta inclusive os executivos, tanto que o novo Presidente da BMW, Harald Krüger, de apenas 49 anos, desmaiou no começo de sua apresentação, antes de falar sobre novidades. Os fabricantes locais querem dar show de tecnologia germânica. A Daimler ocupa a mais tradicional Ala 1 para as marcas Mercedes-Benz e smart. Além de apresentar o
conceito
Mercedes
IAA
(Intelligent
Aerodynamic
Automobile), que altera as dimensões da carroceria conforme a velocidade (quanto mais rápido, mais aerodinâmico, para poupar combustível), tinha o Classe S conversível. Frankfurt também lança modas. Nesta edição, o reinado do branco como “cor da vez” foi ameaçado por novo tom de azul, meio celeste e acinzentado. Era o que se via em alguns estandes, como o da Porsche, embora o avançado Concept Mission E ficasse com o branco. Esquentando a briga entre híbridos e elétricos, o Mission E de quatro portas quer revolucionar os elétricos com baterias de íon de lítio aperfeiçoadas e autonomia de 500 km e recarga de 80% em 15 minutos (mais 50 minutos para os outros 20%...) em instalações específicas.
Em Frankfurt também se lançam marcas. O neto do
A Bentley estreou o Bentayga, primeiro SUV da marca
fundador da Borgward, Christian, pretende reviver o nome
inglesa, que pretende ser o mais rápido do mundo. Com
desaparecido em 1961, fazendo um SUV em associação
motor W12 e arquitetura de Audi Q7, faz de 0 a 100 km/h
com a chinesa Foton.
em 4,1 s e vai a 301 km/h. Chegarão apenas 20 unidades na
Em quilômetros de corredores e centenas de carros,
América do Sul em 2016 e, no Brasil, o preço será acima de
detalhes também atraem. Foi revelado o interior do Alfa
R$ 1 milhão. Quem achar pouco pode comprar um relógio
Romeo Giulia Quafrifoglio (versão esportiva), previsto para
opcional de painel, com pedras preciosas, pela metade do
o início de 2016. E um botão vermelho no aro do volante
valor do Bentayga. Apesar do luxo e da rapidez, seu visual
para a partida do motor V-6 biturbo fez sucesso, um charme
não foi muito aplaudido.
vindo da Ferrari. Recebeu muitos apertos e sorrisos.
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— O futuro passa pelos esportivos elétricos com o Porsche Mission E Concept: 500 km de autonomia e recarga de 80% em 15 minutos — 1 1. O Mission visualmente pode influenciar o novo Porsche Panamera
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SALÃO DE TÓQUIO: JAPONESES OUSADOS POR ISAMU KUNUGHI
O Salão do Automóvel de Tóquio é uma demonstração de força dos fabricantes japoneses e a participação de marcas de outros países era quase nula. Em razão da abertura comercial com a União Europeia o mercado interno do Japão começa a mudar e já se pode ver, embora da maneira insignificante, modelos importados nas ruas e estradas. A
— O Nissan IDS Concept – Intelligent Driving System – aceita comandos de voz e gestos do motorista no modo autônomo —
presença de Volkswagen, Porsche e PSA Peugeot Citroën entre os expositores é indicativa do maior interesse dos compradores locais. O carro de direção autônoma, uma revolução no conceito de relacionamento homem-máquina, continua sendo destaque dos salões de automóveis ao redor do mundo e este não foi exceção. Marcas japonesas apostam muito nessa tecnologia e não ficaram para trás. Pelo contrário,
1 2 3
exibiram soluções ainda mais ousadas. Tudo depende, no entanto, de soluções muito caras,
1. O conceito Mercedes IAA (Intelligent Aerodynamic Automobile) altera as dimensões da carroceria conforme a velocidade 2. Com motor elétrico, o Nissan IDS é capaz de memorizar o estilo de dirigir do motorista, além de se comunicar com ele 3. No modo de condução autônoma, a cabine do Nissan IDS pode se transformar em uma “sala de visitas”
incluindo combinação de navegação GPS e mapas de altíssima precisão, sensores de direção e interação com as vias públicas e outros veículos. O motorista terá alternativas de ler, falar ao telefone, trocar mensagens, olhar a paisagem,
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— Mazda RX-Vision é definido como estudo de design que poderá antecipar tendências de estilo da marca —
participar de teleconferência, estudar ou até mesmo dormir. Outra limitação é a espera por mudanças na legislação de trânsito. São complexas e terão que gerir responsabilidades entre fabricantes e motoristas em caso de acidentes. O Japão está em estágio avançado nesse campo. Entre as principais atrações, o modelo conceitual Nissan IDS, sigla em inglês para Sistema de Condução Inteligente, configura o ambiente na cabine conforme a opção escolhida: autônoma ou manual. Na primeira, o volante retrocede para o centro do quadro de instrumentos e abre espaço para
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uma grande tela plana que monitora todas as operações. O motorista dá ordens por comando de voz ou gestos, enquanto os bancos dianteiros podem girar para o centro do carro
1. O design ousado do RX-Vision se caracteriza pela frente pronunciada e traseira curta, além da reduzida área envidraçada 2. O curioso Nissan Teatro for Dayz é um conceito desenvolvido para a geração das redes sociais
transformando a cabine em uma sala de visitas. No modo manual volta o volante, mas o IDS continua a oferecer assistência que monitora continuamente as condições de rodagem. Na iminência de perigo, o sistema entra automaticamente em ação para executar manobras evasivas. Com tração elétrica, também é capaz de memorizar o estilo e preferências do motorista, além de atuar como fosse um eficiente copiloto. Outra novidade da Nissan foi o Teatro for Dayz que, segundo o fabricante, é o primeiro modelo desenvolvido para a geração de “compartilhadores natos”. Esse carro conceitual em forma de caixa (a exemplo dos kei jidosha, microcarros de entrada específicos do mercado japonês), desafia convenções e rejeita restrições. Foi desenvolvido partindo de pesquisas com os jovens consumidores familiarizados à tecnologia das plataformas digitais de compartilhamento. O modelo conceitual Visão 2020 Gran Turismo antecipa o que poderia ser o sucessor do atual Nissan GT-R dentro de cinco ou seis anos. A empresa confirmou a importação sob encomenda do GT-R para o Brasil em 2016, inclusive a versão Nismo equivalente à AMG, RS e M de MercedesBenz, Audi e BMW, respectivamente. O GT-R “normal” tem motor V-6 de 3,8 litros, 550 cv e participa do clube superrestrito dos automóveis que podem acelerar de 0 a 100 km/h em menos de 3 s. O preço aqui é estimado em R$ 800 mil. O GT-R Nismo, de 600 cv, custa 50% mais. RX-Vision da Mazda, que se caracteriza pelo desenho ousado dos seus modelos atuais, tem a seção frontal pronunciada e a traseira curta, além de reduzida área envidraçada. Segundo o fabricante, trata-se apenas de um estudo, que poderá antecipar as futuras tendências de
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Apresentado ainda como conceito, o Toyota C-HR terá versão definitiva no Salão de Genebra, em março próximo
estilo da marca. Mas os fãs do RX-8, de motor rotativo
gerações eram bem parecidas ao original), espaço interno
Wankel e que teve produção encerrada em 2012,
maior e porta-malas ampliado. É quase certo que será o
especulam se o Vision não é uma antecipação da
montado no Brasil, possivelmente com motor flex.
versão RX-9. A Mazda pretende usar hidrogênio para
Chama muito a atenção o crossover compacto Concept
alimentar o motor a combustão.
C-HR mostrado pela primeira vez no Salão de Paris de
A quarta geração do pioneiro híbrido Prius (surgiu em
2014. Na sequência, já com cinco portas, apareceu no
1997) é o primeiro veículo a usar a nova arquitetura global
recente Salão de Frankfurt e a versão final estará no
da Toyota. Chama-se TNGA, integra estrutura monobloco
Salão de Genebra, em março próximo, praticamente sem
e trem de força facilmente adaptáveis para atender todos
mudanças. Vem para disputar espaço no mercado mundial
os próximos lançamentos em vários segmentos. O Prius
com o Honda HR-V, mas a marca japonesa não definiu se
agora tem estilo arrojado de verdade (segunda e terceira
vai fabricá-lo no Brasil.
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O Toyota S-FR, ainda em estágio conceitual, é um conversível compacto (3,99 m de comprimento) de 2+2 lugares, com motor dianteiro e tração traseira. Parece uma futura resposta direta ao Mazda Miata, mas ainda não foi anunciado o motor. A Honda destacou seu supercarro esporte NSX, que ainda não tem data prevista de lançamento em 2016. Seu sistema híbrido é composto por três motores elétricos auxiliares, dois dianteiros (geminados, uma para cada roda) e um traseiro, formando um desafiante conjunto com o motor V-6 biturbo, de 3,5 litros (500 cv), posicionado longitudinalmente atrás da cabine. O conjunto gera potência total de 573 cv. O motor elétrico traseiro é acoplado diretamente à arvore de manivelas atrás do motor a gasolina e permite uma resposta quase instantânea (0,2 milissegundos) ao acelerador. O câmbio automatizado de duas embreagens tem nove marchas, sendo a última bastante longa para maior silêncio a bordo e economia de combustível. O Clarity, elétrico com pilha a hidrogênio, apareceu em Tóquio na versão final. Estará à venda inicialmente no Japão e nos EUA a partir de março próximo. É um pouco maior que o Toyota Mirai, primeiro automóvel que usa hidrogênio para gerar eletricidade a bordo sem as pesadas baterias de íons de lítio, lentas para carregar e de baixa autonomia. O Clarity roda mais de 700 km sem abastecer. A Honda desenvolveu um inversor de alimentação para que o carro possa fornecer energia elétrica para casas, acampamentos etc.
— Com um conjunto híbrido de motor a gasolina e três elétricos, o Honda NSX tem potência total de 573 cv — 1 1. Relações de marchas curtas no NSX possibilitam a utilização da potência de maneira linear. Nona marcha é bem longa
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−
— 9,81 m/s2 — Um pequeno passo separa o chão da aeronave de um mergulho em queda livre. Para alguns, um pesadelo, para outros, o sonho de voar TEXTO E FOTOS FECO HAMBURGER EDIÇÃO CLAUDIA BERKHOUT
— Palavras misteriosas como lip, floater, cutback e grabrail acompanham nomes cada vez mais familiares do grande público —
Na Terra, a aceleração da gravidade é de 9,81 m/s2. Nossa experiência cotidiana e as intrincadas fórmulas de física na escola nos ensinam que a força da gravidade mantém nossos pés no chão. Pelo menos para a maioria de nós... A 14 mil pés de altitude, ou a mais de 4 km de altura do solo, um pequeno passo separa o chão firme da aeronave de um mergulho em queda livre.
O que para alguns
pode ser um pesadelo, para outros é tão somente a realização do sonho de voar. A bordo de uma aeronave turbo-hélice Cessna Caravan, adaptada para a prática do paraquedismo, a porta aberta e o vento não tiram a leveza e a concentração de Anita, Domitila e René. Anita já realizou mais de 400 saltos, Domitila está na marca dos 4 mil e René parou de contar depois dos 5 mil saltos... Aliás, René trocou sua bem-sucedida carreira no mercado corporativo para se dedicar exclusivamente à sua paixão, trabalhando como instrutor de paraquedismo. Ele partilha seu conhecimento acumulado e contamina quem estiver por perto com sua séria empolgação. “Toda criança já sonhou que voava. Eu, como paraquedista, me considero um sonhador”, diz René antes de saltar para atingir velocidades superiores a 200 km/h. Num fim de semana normal, os três deixam São Paulo para trás em direção a Boituva, onde se juntam a um número crescente de adeptos do paraquedismo em suas diversas modalidades. Do freestyle ao wingsuit, os praticantes não se cansam de explorar a vertigem da queda livre, formando um grupo bastante heterogêneo, de vários lugares do Brasil e do mundo, unidos pela emoção de voar.
— “Voar é sentir-se vivo, um sonho primitivo, uma possibilidade de estar completamente presente como em poucas situações de nossas vidas” Domitila Aidar, paraquedista —
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— Aprendemos que é a força da gravidade que mantém nossos pés no chão. Pelo menos para a maioria de nós —
Mais do que um voo suave com o paraquedas aberto, o que lhes interessa é a sensação proporcionada pela atração da terra em queda livre. Segundos em que o tempo parece parar. Nas palavras de Anita, “voar é liberdade e, diferentemente do que muitos pensam, não é simplesmente sair do avião, existem várias posições e formas de voo, e o nosso corpo pode fazer coisas incríveis no céu”. E Domitila complementa: “Voar é sentir-se vivo, um sonho primitivo, uma possibilidade de estar completamente presente como em poucas situações de nossas vidas”. A adrenalina bate forte enquanto os acompanho até o momento do salto: eu seguro minha câmera fotográfica como se ela fosse capaz de recolocar os meus pés no chão. No capacete de René, uma câmera me representa. Quem sabe na próxima oportunidade eu troque a fotografia pela própria experiência...
Agradecimentos: Fly Factory Free Fly School
—
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— A galera usa uma tecnologia muito simples para atingir uma experiência muito poderosa de equilíbrio literal com a natureza —
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— Senhoras injustiçadas — Após o ostracismo, as peruas voltam ao cenário com atributos de encher os olhos POR BOB SHARP
É bom lembrar: o primeiro carro convencional feito no
Benz, Audi, Volvo e agora MINI oferecem stations
Brasil (pouco depois do Romi-Isetta, de uma porta), em
modernas e sempre com belo apelo visual.
24 de novembro de 1956, era uma perua, a DKW-Vemag
A nova A4 Avant (chega em 2016) tem 4,72 m de
Universal. Elas já tiveram público fiel e até chegaram a estar
comprimento, entre-eixos de 2,82 m, amplo espaço
na moda. VW 1600 Variant, Ford Belina e Chevrolet Caravan
interno, favorecido pela largura de 1,84 m; altura, 1,43 m. O
avançaram o final dos anos 1960. Marajó, Ipanema, Panorama
porta-malas acomoda 505 litros. Seu motor 2-litros turbo
e Parati são outros exemplos. Santana Quantum teve a
de quatro cilindros desenvolve 190 cv e torque de 32,6 kgm.
ousadia, em 1985, de só estar disponível com quatro portas,
Acelera de 0 a 100 km/h em 7,5 s e pesa 1.430 kg. Outra
quando os automóveis de duas portas dominavam o cenário.
versão da Avant é a RS 4, perua de desempenho superlativo
Ainda assim, perderam fôlego ao longo dos anos até se
devido ao motor V-8 de 4,2 litros de 450 cv, 43,8 kgfm
resumirem hoje a dois modelos, Fiat Weekend e VW
acoplado ao câmbio automatizado de sete marchas e tração
SpaceFox. O avanço de crossovers e SUVs ocorreu no
integral, que acelera de 0 a 100 km/h em 4,7 s e atinge
Brasil e no exterior. Deixaram para trás não apenas peruas,
280 km/h. Há ainda o modelo maior, A6 Avant.
mas sedãs, monovolumes e beliscaram vendas de hatches.
Mercedes-Benz Classe C Touring agora se chama Estate.
No Brasil, a importação mantém a chama viva. Mercedes-
Seu comprimento é de 4,70 m e entre-eixos de 2,84 m.
— Ao contrário do que ocorreu no Brasil, as peruas não foram esquecidas. Têm seu público e continuam apreciadas — 2 1
1. A Mercedes-Benz Estate e a imponência da Estrela 2.. A marca dos quatro anéis entrelaçados traz a sua rápida Avant RS 4
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Espaçosa internamente, tem 1,81 m de largura, 1,45 m de
3 e 5. A Renault apresentou no último Salão de Frankfurt
altura e porta-malas de 490 litros. O motor é 1,6-litro turbo
a nova Talisman, 576 litros de porta-malas, enquanto a
de 4 cilindros, entrega 156 cv e torque de 25,5 kgfm. O
arquirrival Peugeot tem a 308 SW.
câmbio é o automático de sete marchas. Acelera de 0 a 100
A Ford joga nesse campo com a Focus SW e a Mondeo SW,
km/h em 8,5 s. Pesa 1.395 kg.
e a Opel não fica atrás, com Astra Sporstourer e Insígnia.
A perua Volvo V60, lançada em 2010, mede 4,63 m de
A Jaguar tem a XF Sportbrake. A Hyundai produz a i40
comprimento com entre-eixos de 2, 77 m, largura de 1,86
SW e a Honda, a Accord Tourer, além da Jade, perua do
e altura de 1,48 m. Acomoda 430 litros no porta-malas. O
Civic. Mitsubishi também está no jogo, com a Lancer e a
motor é 1,6-litro turbo de 190 cv e 25,5 kgfm. Aceleração de
Chevrolet vai de Cruze.
0 a 100 km/h em 9,2 s.
Peruas são apreciadas no mundo todo pela estética
A MINI também começou a importar a perua Clubman,
equilibrada,
apresentada no Salão de Frankfurt.
economia de combustível em relação a crossovers e
Fabricantes da Europa e Ásia produzem modelos bastante
SUVs. A Volkswagen fez a sua parte e voltou a apostar
atraentes. Do Grupo VW há a espanhola Seat Leon
nesse segmento com a Golf Variant. É contraponto à onda
X-Perience e a checa Skoda Superb Combi e seu porta-
irracional da carroceria mais alta. Mas, se muitos fazem
malas de 660 litros, sem esquecer a Passat Variant e, claro,
a mesma escolha, o ganho em visibilidade diminui. E o
a BMW Touring vendida normalmente lá fora, em Séries
prazer de dirigir também
170
dirigibilidade
superior,
peso
menor
e
−
— Esbanjando beleza, as peruas enfeitam as ruas e estradas do mundo; algumas continuam sendo importadas — 1 2 1. A Renault apresentou a bela Talisman no Salão de Frankfurt 2. Jade, a perua do Civic lançada em maio último no Japão
171
— Receita prática — Esportivos derivados de carros normais que atraem POR BOB SHARP
— Versões esportivas são a solução para quem quer mais desempenho nos automóveis produzidos em grandes séries —
Carro de turismo, de passeio ou de passageiros. Sinônimos que identificam automóveis para o chamado uso normal, de transporte pessoal, familiar. Uns têm desempenho discreto, outros são rápidos, aceleram bem, alcançam velocidades elevadas. Mas em comum todos têm um traço comum, o de serem carros visualmente “civilizados”, discretos, nada chama a atenção. Fabricantes do mundo inteiro, após o marco divisor que infelizmente ficou sendo a Segunda Guerra Mundial, de setembro de 1939 a agosto de 1945, começaram a criar versões esportivas derivadas de carros comuns aplicandolhes diversos sufixos aos nomes de modelos como GT, SP, RS, TS, GP e outros. Esses sufixos sempre vinham acompanhados de decoração diferente por meio de pintura especial ou de aplicação de faixas, não raro de alguma superfície aerodinâmica, tomadas de ar para o motor ou mesmo faróis auxiliares. Rodas tinham desenho diferente, não necessariamente de outra medida, entravam no “pacote GT”. Todas essas versões, sempre mais caras, invariavelmente eram de topo dentro de cada linha. Ou seja, bem enquadradas no nosso escopo editorial dedicado aos segmentos superiores. Mas, e quanto ao desempenho desses carros esportivados, nada mudava ou havia diferenciação para os normais? Ambos. Vamos voltar aos anos 1960 no Brasil, quando a nossa indústria automobilística ainda engatinhava, tendo começado em novembro de 1956. Em 1964, a Willys-Overland do Brasil, que desde 1959 fabricava o Renault Dauphine, lançou o Renault 1093. As carrocerias eram iguais, a não ser rodas com furos de
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ventilação para os freios, as mesmas do Renault Gordini lançado dois anos antes, e emblemas. Mas o motor, embora de mesma cilindrada (845 cm³), era diferente, exclusivo, mais potente graças a modificações de fábrica, que dava
1. Até o Fusca teve sua versão esportiva: o 1.600 S, popular Bizorrão 2.O Dodge Charger R/T tinha bom desempenho 3. O Fiat Oggi CSS só vinha na cor preta e com adesivos em vermelho 4. O VW Gol GTI: um raro automóvel realmente esportivo 5. O VW Passat TS foi uma versão com desempenho satisfatório 6. A primeira versão do Opala SS só era oferecida com quatro portas 7. O Ford Corcel GT era um esportivo somente no visual 8. O Ford Escort XR3 também tinha a versão conversível 9. O GTX da Chrysler foi o pioneiro com faixas, mas teve vida curta 10. Renault 1093, primeiro com “espírito” esportivo 11. O Fiat Uno Turbo era um modelo que fez jus à fama de esportivo 12. O Ford Maverick GT: um potente motor V-8 de 5 litros 13. O Chevrolet Monza S/R com mais visual do que “espírito” esportivo 14. O Kadett GS era discreto, tanto no visual como em desempenho 15. O Chevette GP pouco se diferenciava em desempenho do básico
charme e desempenho ao pequeno Renault, cuja 4ª marcha era mais curta para maior aceleração. Internamente, havia apenas a adição de conta-giros e a escala do velocímetro aumentada de 150 para 180 km/h. Era um verdadeiro esportivado, o primeiro do Brasil. Em 1968 a Chrysler lançou o GTX, versão esportivada do Esplanada e do Regente, cujo motor era o mesmo V-8 EmiSul destes, a diferença básica sendo o câmbio de quatro marchas e o visual esportivo; por isso deixava a desejar como carro esportivado, embora fosse um bom sedã.
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A Ford havia lançado o Corcel quatro portas em 1968, o cupê
seis cilindros de 4,1 litros, mais câmbio de quatro marchas,
duas portas no ano seguinte e em 1971 o Corcel GT, que
quando os demais eram de três, além de freios dianteiros
visualmente tinha várias alterações como o capô pintado de
a disco, novidade na linha. Foi um brilhante esportivado,
preto com tomada de ar decorativa e faróis de longo alcance,
e dois anos depois surgia a versão SS cupê de duas portas.
mas o motor era o mesmo 1,3 litro, portanto o desempenho
Também marcou época.
era o mesmo do carro “civil”. Mas um ano depois elevou a
A Volkswagen lançou em 1974 uma versão esportivada
cilindrada para 1,4 litro, renomeando-o GT XP. Outro que
do Fusca, o 1600-S, apelidado de “Bizorrão”, pronúncia,
entrou no rol dos esportivados de verdade.
em alemão, do aumentativo de besouro. O principal
O Dodge Dart com motor V-8 de 318 pol³ (5.212 cm³) começou
diferenciador era o motor de 1,6 litro, cilindrada que
a ser fabricado no Brasil em 1969 em versão sedã quatro
nenhum Fusca tinha, com dois carburadores, o que lhe dava
portas e um ano depois surgiu o cupê duas portas sem
desempenho desconhecido no modelo até então. Marcava
colunas centrais, para no Salão do Automóvel do mesmo ano
externamente a versão uma tomada de ar em plástico preto
chegarem as versões esportivas Charger LS e Charger R/T.
na tampa do motor e as rodas de 14 polegadas, ante 15 nos
Especialmente nesta última, o motor era exclusivo e o câmbio
Fuscas até então. Um esportivado de fato.
era de quatro marchas, o que o caracterizava como legítimo
O Chevrolet Chevette apareceu em 1973 e dois anos depois o GP,
esportivado. Era um carro altamente desejado.
que era o mesmo carro com faixas pretas decorativas. A mecânica
O Chevrolet Opala surgiu em 1968 com quatro portas,
era a mesma e por isso não podia ser considerado um esportivado.
motores quatro cilindros de 2,5 litros e seis cilindros, de 3,8
O Ford Maverick apresentado em 1973 tinha uma versão
litros. Em 1970 a GM lançou o Opala SS que tinha novo motor
GT. Embora seu motor V-8 de 302 pol³ (4.942 cm³) fosse
178
— A indústria automobilística sabe que carros diferenciados em desempenho geram vendas e promovem a marca —
opcional para as versões que vinham com motor três litros de seis cilindros, era um esportivado de verdade por conta de seu ótimo desempenho e características gerais. Hoje é muito cobiçado por colecionadores. O VW Passat chegou ao Brasil em 1974 em versões L e LS com motor de 1,5 litro e em 1976 lançou o TS, um esportivado verdadeiro com o seu motor de 1,6 litro de 80 cv (65 cv no 1,5) e painel com conta-giros e medidores extras, além de volante
1 2
exclusivo. Externamente, quatro faróis, friso perimétrico na grade, pneus mais largos e faixa alusiva à versão nas laterais.
1. A VW lançou um up! TSI de visual esportivo, o speed up!, mas sem desempenho diferente do “normal” 2. Quase sempre o interior dos carros esportivados é mais elaborado, especialmente os bancos
Marcou época. O Ford Escort, lançado aqui em agosto de 1983 com motor de Corcel 1,3 e 1,6 litro, recebeu no fim do ano a versão esportiva que se tornaria icônica, o XR3. O motor era diferenciado realmente, preparado de fábrica, inclusive só era disponível a álcool, e o câmbio tinha escalonamento de marchas próximas. Rodas e pneus eram bem mais largos, 185/60HR14, o volante de direção era bem pequeno (34,3 cm de diâmetro) e a suspensão calibrada para máxima estabilidade. Era um esportivado na sua essência. A Fiat lançou um esportivo em 1984, o Oggi CSS, um sedã derivado do 147 que tinha motor de 1.415 cm³, único nessa cilindrada na família Fiasa. Mas só ficou um ano em produção. A GM havia lançado o Monza em 1982 e três anos depois ofereceu a realmente esportiva S/R. Como o XR3, o motor foi melhorado na fábrica, o escapamento tinha menos restrição e o escalonamento das marchas era diferente. No pacote, bancos dianteiros Recaro, instrumentos com grafia vermelha e a alavanca de câmbio mais curta. Seu rodar era totalmente diferente dos Monza comuns. Em 1989 foi a vez do VW Gol GTi, versão realmente esportiva do Gol que em 1984 havia lançado o GT 1,8, mas agora extrapolava com o motor 2-litros a injeção eletrônica, novidade absoluta na produção brasileira. Era a quintessência do carro esportivado na época: 120 cv, 0 a 100 km em 10 s e 173 km/h de máxima. Nesse mesmo ano a GM lançou o Kadett e uma das versões era a GS, um esportivado que era atraente e de bom desempenho. Seu motor era de 2 litros (1,8 litro no SL e SL/E), o câmbio tinha marchas próximas e usava pneus mais largos. Em 1992, o GSI de 121 cv (injeção) se nivelou ao GTi. Outro belo exemplo de esportivado foi o Uno Turbo, de 1994, o mais rápido dos Unos até hoje. Seu motor de 1.372 cm³ e 118 cv acelerava de 0 a 100 km/h em 9,2 s e atingia 195 km/h. Junto com o Gol GTi podia ser chamado de “foguete de bolso”.
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No século 21
mais: potência 41,5% maior que a do Sandero 1,6, câmbio
A Fiat prosseguiu com a solução turbo no novo século, com o
seis marchas de relações próximas, freio a disco nas
Punto T-Jet em julho de 2007 e o Bravo T-Jet em novembro
quatro todas, suspensão rebaixada em 2,6 cm, molas e
de 2011. O motor de 1.368 cm³ desenvolve 152 cv e leva o
amortecedores específicos, barras estabilizadoras mais
Punto a acelerar de 0 a 100 km/h em 8,3 s e chegar a 203
grossas, tudo apoiado sobre quatro pneus 205/45R17V.
km/h; o Bravo, 8,7 s e 206 km/h. Dois grandes esportivados.
Tudo isso confere ao Sandero R.S. o título de o mais
Em 2015 houve dois lançamentos que demonstram as
esportivo de todos os esportivados, na história dos
fórmulas distintas adotadas por fabricantes de acordo
automóveis nacionais. Acelera de 0 a 100 km/h em
com estratégias de marketing. Em julho, surgiu o VW up!
8 s e atinge 202 km/h. Um exemplo a ser seguido em
TSI, com o incrível motor três cilindros de 1 litro turbo
pureza de conceito.
de 105 cv, conferindo desempenho típico de carro com motor de aspiração natural de 1,8 litro, empolgante de
— É sempre agradável dirigir um carro bem acertado pela fábrica, em especial quem tem mais habilidade ao volante —
dirigir. Na ocasião a VW apresentou a versão speed up!, com decoração de discreto apelo esportivo, sem no entanto nada se diferenciar mecanicamente de um up! TSI normal. Embora seu desempenho seja empolgante, não pode ser considerado um esportivo. A outra novidade, esta sim digna de nota, foi o Renault Sandero R.S., em setembro. O pacato Renault passou por extenso processo de “esportização” pela divisão
1
Renault Sport da fábrica, na França, começando pelo motor 2 litros no lugar do 1,6 litro, e melhorado para dar
1. Um carro esportivado bem feito se conhece de longe, parece pedir “acelere-me”
potência ligeiramente superior ao utilizado no Duster. E
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— Fora da multidão — POR BOB SHARP
VW Golf Variant 1,4 TSI MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO
4 cilindros 1,4 turbo Gasolina 140 cv e 25,5 kgfm Robotizado, 7 marchas Dianteira 4,56 m 2,63 m 5 605 litros 50 litros 655 km 1.357 kg R$ 99.690
O mercado brasileiro praticamente deu as costas para as
1993. As stations somadas representam cerca de um terço do
peruas, uma verdadeira injustiça. A Toyota parou com a
mercado alemão de automóveis, o maior da Europa.
Fielder quando o Corolla mudou para a décima geração em
O modelo é um Golf em sua essência, estendido do eixo
2008. O Gol de quinta geração, do mesmo ano, não teve a
traseiro para trás. Comprimento aumenta em 31 cm o que
Parati equivalente, e a da quarta geração saiu de linha em
muda um pouco a distribuição de peso, para melhor, como
2012. A Renault não oferece mais a Grand Tour desde que o
em toda perua. O comportamento em curva é exemplar e a
Fluence passou a ser fabricado na Argentina.
direção, bastante rápida, mais até que no hatchback. Conta
Elas foram muito apreciadas ao longo dos anos. Nos EUA, as
com controle de estabilidade/tração desligável e bloqueio
peruas dos anos 60 e 70 deram lugar primeiro aos utilitários
eletrônico do diferencial com função de vetoração por
esporte (SUV) e depois aos crossovers a partir de 2000. Mas
torque (freia ligeiramente a roda dianteira interna à curva).
na Europa, mesmo com os SUV e crossovers em ascensão, a
A suspensão firme sente um pouco os pisos irregulares,
maioria dos fabricantes se esmera em oferecer peruas, cada
recompensado por uma disposição ímpar para se andar
uma mais atraente que a outra.
rápido. O generoso porta-malas tem 605 litros – maior que o
Uma reversão desse rumo foi decidida pela Volkswagen ao
de muitos SUVs.
passar a importar agora a Golf Variant, que fez sucesso no
O motor 1,4 litro TSI a gasolina turbo de injeção direta
último Salão do Automóvel de São Paulo. Essa perua moderna
tem 140 cv e 25,5 kgfm e movimenta a Variant de 1.357 kg
e atraente saiu do forno junto com o Golf de sétima geração,
com disposição. Acelera da imobilidade a 100 km/h em
no Salão de Genebra em março de 2013, e encantou.
9,5 s e atinge 205 km/h, ajudado pela boa aerodinâmica (Cx
A atual geração do modelo mais vendido da VW no mundo
0,29). Câmbios são manual 6-marchas ou automatizado
compreende projeto estrutural (batizado de MQB) totalmente
de dupla embreagem e 7 marchas. O consumo de gasolina
novo que se caracteriza por elevada rigidez e construção com
pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem é 11,3 km/l na
aços diferenciados para que proteja o máximo possível os
cidade e 13,1 km/l na estrada, letra “A”. Inclui ainda sistema
ocupantes em caso de acidentes. A Golf Variant existe desde
desliga/religa motor.
184
— A Volkswagen aposta suas fichas numa station wagon capaz de virar a cabeça de quem só pensava em SUV e crossover —
Ainda demora algum tempo para o mercado brasileiro reagir a essa reintrodução da perua sob forma de um excelente produto, quase exclusivo, como a Golf Variant. A VW estima venda de 2 mil unidades por ano no fraco cenário econômico brasileiro atual e no de veículos em particular. Seu potencial pode ser maior por se destacar, em sua exclusividade, do excesso de oferta de crossovers compactos e médios-compactos, nacionais e importados. Todos estes modelos têm preços altos, mas a Variant vem
1
do México isenta do imposto de importação de 35%. A versão Comfortline parte de R$ 83.990 (manual) e chega a
1. Não importa o ângulo, a Golf Variant sempre se destaca 2. O cuidado com o desenho do interior está presente em cada detalhe 3. O porta-malas não parece grande, é grande: 605 litros de capacidade
R$ 90.990 (robotizada) com todos os opcionais, embora a dotação de equipamentos de série passe longe da de simples “carro de entrada”: freio a disco nas quatro rodas, oito airbags (inclusive para joelhos do motorista), alerta de pressão baixa dos pneus, ar-condicionado automático, assistente de partida em rampa, conjunto elétrico (vidros, travas e espelhos), faróis de neblina com função luz de curva, sensor de estacionamento traseiro e dianteiro, sistema de infotenimento e volante revestido de couro. Já a Highline começa em R$ 99.690 e vai a R$ 132.952. A Golf Variant é bem construída, atraente, moderna e proporciona grande prazer de dirigir. Adiciona uma atratividade única das peruas: reações de automóvel com ótima capacidade de bagagem. Pode ser o começo da virada.
2 3
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— Questões de direito — Proteção da imagem — As previsões e os procedimentos legais de proteção ao desenho industrial e o crime de concorrência desleal previstos no ordenamento jurídico brasileiro — por Gino Brasil Uma das principais e mais comentadas características
esse crime aquele que empregar meio fraudulento para
de um carro é o seu desenho. É importante elemento de
desviar, em proveito próprio ou alheio, clientela de outrem.
identidade, com as marcas utilizando tal expediente como
Assim, com esses requisitos legais, aquele que viola o
uma das principais formas de distinção de seus produtos
desenho industrial no Brasil se sujeita a sanções cíveis
entre a grande gama e variedade de modelos.
e penais. O infrator, além da responsabilização civil,
Para que isso funcione propriamente, não basta somente que
arcará com penalidades pecuniárias e a proibição de
os desenhos sejam desenvolvidos e apresentados ao público.
comercialização do produto que é cópia. Incorrerá também
É preciso também que essas formas cognitivas de identidade
em penalidades criminais por concorrência desleal.
sejam protegidas, de maneira que o público consumidor não
As penalidades são mais que devidas, porque o desenho
seja induzido a erro, achando que se trata de um produto
industrial é fruto de vasta pesquisa e vultuoso investimento
consagrado, quando, na verdade, está adquirindo um veículo
dos fabricantes. É revoltante, depois de um grande esforço,
de características semelhantes ao primeiro, mas que não
ver seu produto copiado ou confundido com outro,
entrega a mesma qualidade e o mesmo desempenho.
invariavelmente de pior qualidade. Em prejuízo de uma
Para que legalmente haja a caracterização da violação do
imagem duramente construída ao longo de vários anos.
desenho industrial, alguns requisitos são necessários. O primeiro é que esteja devidamente protegido pelo
Gino Brasil é advogado e tem os carros entre suas paixões
registro. Ainda que no Brasil haja uma burocracia gigantesca acumulada com um prazo igualmente enorme para a concessão do registro, ele se faz absolutamente necessário. Juridicamente, a violação ocorrerá quando o conjunto imagem do produto for violado, ou seja, quando não apresentar um grau suficiente de distinção entre um veículo e outro, de maneira que leve o consumidor ao engano ou confusão. A violação do desenho industrial, além da infração propriamente dita, também é matéria de crime de concorrência desleal, previsto na Lei nº 9.279/96. Comete 188
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— Sensação de liberdade — Mercedes-Benz SLK 300 MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO POR JOSIAS SILVEIRA
2.0 turbo, 4 cilindros Gasolina 245 cv e 37,7 kgfm Automático, 9 marchas Traseira 4,13 m 2,43 m 5 335/225 litros 60 litros 710 km 1.505 kg R$ 254.900
Parado no trânsito com o SLK de capota recolhida, ligo o
ser bem mais que transporte.
ar-condicionado para ajudar a refrescar o dia ensolarado.
Seu motor de quatro cilindros 2-litros turbo, todo em
O motoboy se aproxima pelo corredor entre os carros,
alumínio, ganhou potência, oferecendo 245 cv, 41 a mais
observando com cuidado o Mercedes. Para, olha o interior:
que a versão anterior, o SLK 250. Mais importante: ganhou
“Tá ruim a vida aí dentro, não?” E sai rindo.
aceleração, já que o torque também aumentou, chegando
Existem milhões de carros nas ruas, mas poucos deixam
a 37,7 kgfm, 6,1 mais e logo depois da marcha-lenta, indo
tão evidente o prazer de dirigir, a satisfação de estar ao
de 1.300 até 4.000 rpm – antes, de 2.000 a 4.300 rpm.
volante como este Mercedes.
Mas o SLK realmente inova na transmissão, equipado
Mas essa é a ideia da fabricante Daimler AG com o
com o primeiro câmbio automático de nove marchas
SLK 300, que agora chega importado da Alemanha: um
da marca, o 9G-Tronic. Apesar de esportivo, entra em
roadster, um estradeiro conversível para quem gosta de
tempos ecológicos com um câmbio que consegue manter
rodar, principalmente viajar.
o motor funcionando em baixa rotação, reduzindo
Só para duas pessoas e com a tradicional disposição de
o consumo (6,5%, segundo a fábrica) e também as
motor dianteiro e tração na traseira, foi projetado para
emissões de poluentes.
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— Além de trazer mais potência, 245 cv, o SLK estreia câmbio automático de nove marchas —
Mesmo dirigindo esportivamente por estradas, raramente seu consumo caía dos 10 km/l. Brincando de ser ecológico, rodando a 70/80 km/h constantes, o consumo chegava aos 18 km/l. Como curiosidade, são tantas marchas que geralmente o SLK arranca em segunda, principalmente se estiver no modo Eco. São três diferentes tipos de condução, que alteram os parâmetros não só do câmbio, como também as reações de direção e suspensão: Eco, Sport e Manual, quando as marchas são trocadas apenas pelas duas borboletas (paddle shifters) no volante. Apenas quando se dirige no modo Sport e em uma arrancada forte é que o SLK sai em primeira marcha. Em compensação,
1
dirige-se a 120/140 km/h com o motor abaixo de 2.000 rpm, com a oitava ou nona marcha engatada.
1. A capota retrátil proporciona dupla personalidade
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prazer de viajar, inclusive por se escutar melhor o ruído dos dois escapamentos, que roncam bem esportivamente. Com a capota abaixada, leve menos bagagem: os 335 litros de capacidade do porta-malas se reduzem para 225 litros devido ao volume ocupado pela capota. Com todos os sistemas eletrônicos de segurança, dirigibilidade e conectividade, o SLK traz mais uma característica dos clássicos roadsters: o longo capô. Enquanto na maioria dos carros só se enxerga a pista, no SLK se dirige olhando também o capô, certeza de haver um belo motor para acelerar.
— No interior, uma boa mistura de luxo e esportividade, garantindo muito conforto nas estradas —
Dupla personalidade Este Roadster da Mercedes, cujo primeiro modelo foi lançado em 1997, justifica cada vez mais sua sigla. SLK significa Sport, Leve e Curto, em alemão. Ganhou potência para ser mais rápido e só não passa dos 250 km/h por ter limitação eletrônica de velocidade máxima. Para um conversível, que tem a estrutura mais reforçada, seus 1.505 kg mostram peso atlético. E seus 4.134 mm de
1 2 3
comprimento definem um carro realmente compacto. Melhor que seus números é realmente dirigir o alemão SLK, principalmente em viagens. São dois carros em um.
1. Bancos de couro ajudam a boa ergonomia 2. Defletores desviam vento da cabeça dos ocupantes 3. Painel completo com instrumentos de ponteiro
Com a capota fechada, traz o silêncio de um carro de luxo e tudo inspira a esportividade: posição para dirigir, reações rápidas ao volante, assim como respostas instantâneas do acelerador... Fica à vontade em uma serra sinuosa, onde se aproveita bem o motor turbo e o câmbio multimarcha. Bastam 20 s para o SLK mudar de personalidade, o tempo para o teto rígido ser recolhido automaticamente para o porta-malas. Aí, o significado de Roadster se transforma em uma pilotagem mais tranquila, apreciando a paisagem e passeando pelas estradas. Quem não gosta de muito vento basta levantar os vidros das portas e posicionar os dois defletores atrás dos encostos de cabeça para dirigir “sem teto e sem vento”. Sem querer, diminui-se a velocidade para aumentar o
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— Picasso, classe executiva — Citroën C4 Picasso MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO
POR JOSIAS SILVEIRA
4 cilindros, 1,6 litro Gasolina 165 cv e 24,5 kgfm Automático, 6 marchas Dianteira 4,43 m 2,78 m 5 537 litros 57 litros 880 km 1.405 kg R$ 117.900
O novo monovolume Picasso mostra uma Citroën diferente. Com este lançamento, a marca francesa apresenta sua nova filosofia de projeto neste período pós-crise. Em 2014, a chinesa Dongfeng e o próprio governo francês se uniram para capitalizar a PSA (que reúne Peugeot e Citroën), e os resultados da reestruturação começam a aparecer. O novo C4 Picasso lembra muito pouco os modelos anteriores, já bem conhecidos nas ruas brasileiras pelas formas simétricas do Xsara Picasso, em homenagem ao artista cubista espanhol que viveu na França. Agora tudo foi reformulado, da plataforma ao teto de vidro, formando um novo carro com estilo atual, sem exageros, porém sóbrio e bem mais luxuoso. O conceito de bem-estar a bordo orientou o projeto, que traz até bancos especiais. Além de massageadores e encostos de cabeça com abas laterais, o acompanhante do motorista dispõe de extensão para as pernas, como em aviões com classe executiva. Nos bancos traseiros individuais, os passageiros contam com mesinhas iluminadas por LEDs, também no melhor estilo aviação. Painel todo digital – com duas telas de 7 e de 12 pol –, inclusive com local para colocar fotos pessoais como “fundo de tela”, incrementa o ar de atualidade e conectividade.
200
Tudo para criar um ambiente intimista e ao mesmo tempo
Acoplado a um novo câmbio automático Aisin de seis
aconchegante, que a Citroën define como “estilo loft”.
marchas (com borboletas para trocas no volante) e direção
Outros recursos eletrônicos, como o Park Assist
de assistência elétrica bem acertada e leve, o Picasso prima
(estacionamento automático) e o sistema de quatro
pelo prazer ao dirigir. Além do motor turbo, o peso menor
câmeras, que permite visão de 360 graus ao redor, garantem
ajuda nas boas sensações ao volante. São 1.405 kg, mais leve
a atualização deste francês importado da Espanha.
140 kg que a versão anterior, graças à nova arquitetura.
São dois modelos: o Seduction, mais simples, e o Intensive,
Apesar de ter um motor atual, usado em outros carros da PSA
com mais equipamentos de série. Assim como fez com a
como o Peugeot 2008, já dentro da tendência de downsizing
linha DS, que se tornou uma marca separada, a Citroën
(menor cilindrada e alto rendimento), seu forte não deve ser
também tem planos para tornar o Picasso uma grife à parte.
o bom consumo de gasolina (não é flex). Tanto que a marca não divulga esses dados, e o Picasso recebeu classificação
Anti-SUV
“C” no Inmetro quanto ao gasto de combustível.
Todo esse cuidado com o conforto dos passageiros, inclusive com baixo nível de ruído, pretende fazer do Picasso uma alternativa aos SUVs. Para o fabricante, apesar do sucesso de SUVs e crossovers, muitos clientes querem espaço e conforto em um veículo um pouco menor. Por isso, os 4,43 m de comprimento deste C4 monovolume oferecem isso e até luxo para cinco ocupantes, além de um bom porta-malas de 537 litros. Mas, acima de tudo, a marca francesa quis fazer um carro “iluminado”, contrariando tendências atuais de vidros pequenos para favorecer o estilo. O enorme para-brisa conta com parte do teto corrediço, para diminuir a entrada de sol no rosto dos ocupantes da dianteira. Também o teto de vidro aumenta, e muito, essa luminosidade interna, até mesmo com sua cobertura de tecido acionada eletricamente. O tecido é semitransparente, e não veda completamente os raios solares. Apesar de ser um monovolume, seu desempenho e sensações ao volante são bem semelhantes aos de um automóvel. O motor THP 1,6, um turbo de 165 cv e quatro cilindros, vem de um projeto BMW e garante boas acelerações e velocidade máxima: chega aos 210 km/h e vai de 0 a 100 km/h em 8,4 s. 1 2 3
— Citroën faz repaginação completa do Picasso, que traz mais luxo, conforto e nova mecânica com motor turbo —
4
1. Duas telas no centro mostram informações e entretenimento 2. Lanternas traseiras com LEDs tem efeito 3D 3. A nova carroceria têm estilo mais sóbrio e bom espaço interno 4. Monovolume apresenta ampla área envidraçada, inclusive teto
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— Um senhor crossover —
Kia Sorento 2016 MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO POR BOB SHARP
V-6 3,3 litros Gasolina 270 cv e 32,4 kgfm Automático, 6 marchas Dianteira 4,78 m 2,78 m 5 ou 7 258 litros (c/ 7 lugares) 70 litros 770 km 1.994 kg R$ 183.900
O novo Kia Sorento está na sua terceira geração. O desenho
automático epicíclico de seis marchas (fabricação
do crossover, que tem a assinatura clara do alemão Peter
própria Hyundai-Kia), com trocas sequenciais pela
Schreyer, vice-presidente de design do grupo Hyundai-
alavanca (sobe marcha para a frente) e de funcionamento
Kia, ficou bem mais atraente. E mesmo com ambiente de
irrepreensível; a tração, dianteira.
vendas desfavorável e o dólar nas alturas, a importadora
O espaço interno é dos melhores, com capacidade para
paulista e representante oficial da marca sul-coreana no
cinco ou sete lugares. Os entre-eixos de 2,78 m (mais
Brasil, aqui há 23 anos e tendo criado uma frota circulante
8 cm) e 3,05 m, respectivamente, respondem por todo esse
de mais 350 mil unidades, está firme na sua estratégia de
espaço. O porta-malas do Sorento é de bons 258 litros com
trazer produtos atualizados, caso desse novo crossover.
sete ocupantes e de 1.045 litros, com cinco. A porta de carga
O Sorento parte de R$ 183.900 e vem completo, não tem
possui abertura elétrica, uma comodidade cada vez mais
opcionais. É dotado de moderno motor V-6 a gasolina de
valorizada pelos consumidores desse tipo de veículo.
3,3 litros (exatos 3.342 cm ) com duplo comando de
Dimensionalmente cresceu 9,5 cm no comprimento para
válvulas acionado por corrente e quatro válvulas
4,78 m, a largura passou para 1,89 m (mais 0,5 cm) e ficou
por cilindro. Há variador de fase na admissão e no
1,5 cm mais baixo, medindo 1,69 m de altura agora. A versão
escapamento e desenvolve saudáveis 270 cv, 6.400 rpm
de cinco lugares pesa 1.959 kg. Números de desempenho
e 32,4 kgfm a 5.300 rpm. O câmbio disponível é somente
não foram informados, mas, segundo a confiável revista
3
204
suíça Automobile Revue, em seu rico catálogo anual, acelera de 0 a 96,5 km/h em 9 s e alcança 215 km/h. Não foi informado também o consumo de combustível, mas, para se ter uma ideia, a publicação diz ser de 7,6 km/l na cidade e 11 km/l na estrada (gasolina europeia). A suspensão dianteira é McPherson e a traseira, a sempre desejável multibraço, pressuposto para comportamento irrepreensível tanto ao trafegar sobre piso irregular quanto para curvas em alta velocidade na estrada. Freio, a disco nas quatro rodas, como deve ser, e os pneus, 235/60R18 com rodas de 7 pol de tala; a direção é eletroassistida e, naturalmente, indexada à velocidade. Absolutamente leve em manobras e tem o “peso” certo ao se andar rápido. Todo o interior agrada e é de muito bom gosto, evidenciando a constante evolução pela qual vem passando a indústria automobilística sul-coreana, além de rodar com elevado grau de conforto e bem pouco ruído a bordo. A Kia informa terem sido tomadas medidas para reduzir entre 3% e 6% ruído, vibração e aspereza percebidos pelos ocupantes, particularmente o motorista. O subchassi traseiro, por exemplo, conta com buchas superdimensionadas para maior isolamento da rumorosidade da suspensão traseira. O novo Sorento ficou mais refinado como um todo. Se já tinha admiradores, agora reúne condições para atrair outros. Além do seu bom e suave desempenho proporcionado pelo motor V-6, seu comportamento em curva é exemplar e passa total segurança. Anda e reage com um automóvel de estirpe. E gosto é sempre uma questão pessoal, mas uma coisa é certa: este crossover enche os olhos.
—
— O novo Kia Sorento ficou mais refinado, com elevado grau de conforto e baixo nível de ruído —
1 2 3 1. O crossover da Kia chega à terceira geração 2. Teto panorâmico é outra novidade 3. O interior é de muito bom gosto
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— On the road again — SUBARU WRX STI MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO
POR ROBERTO MARKS
4 cilindros boxer, 2,5 turbo Gasolina 1 10 cv e 40 kgfm Manual, 6 marchas Integral 4,59 m 2,65 m 5 460 litros 60 litros NF 1.516 kg R$ 196.900
Ao retomar a comercialização do Subaru WRX, a Caoa (importadora oficial da marca japonesa) atende a apaixonada legião de fãs, que aguardavam ansiosos a nova linha lançada no começo do ano passado e apresentada no último Salão do Automóvel de São Paulo, no fim de 2014, mas que só chegou oficialmente ao nosso mercado em agosto. Desenvolvido
em
cima
do
bem-sucedido
Subaru
Impreza, que conquistou três títulos mundiais de pilotos e outros três de construtores no WRC (World Rally Championship), o WRX alia o espaço e conforto de um sedã com desempenho dinâmico de um esportivo e tem a clientela fiel, mesmo após a marca ter saído oficialmente o mundial de ralis há cerca de dez anos. Apesar de continuarem tendo como base a plataforma do Impreza, de quarta geração, as versões esportivas passaram a ser denominadas apenas Subaru WRX e WRX STI. Trata-se de uma estratégia mercadológica para reforçar a imagem de exclusividade dessa linha, que se diferencia não só pelo visual e desempenho esportivo, mas pelo preço bem superior ao do Impreza.
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O prazer de pilotar Das duas versões, a mais “apimentada” é a STI – iniciais da Subaru Tecnica International, divisão especializada no desenvolvimento dos carros de competição e componentes destinados à customização dos modelos da marca. Externamente, o STI se destaca nos detalhes como o enorme aerofólio na tampa do porta-malas. Mas é debaixo do capô que o STI se diferencia do irmão mais “tranquilo”, por ser equipado com o motor do Subaru Legacy de 2,5 litros. Com o turbo compressor de 1 bar de pressão, este quatro cilindros boxer tem a potência aumentada para 310 cv a 6.000 rpm, enquanto o torque é de 40 kgfm a 4.000 rpm. A velocidade máxima é de 255 km/h, e o STI acelera de 0 a 100 km/h em 5,2 s. E acelerando se pode sentir rapidamente a têmpera do STI. Curiosamente, a versão só tem opção de câmbio manual de seis marchas. Isso pode parecer estranho quando a moda são câmbios robotizados de sete, oito e até nove marchas, mas a Subaru aposta na tradição e na paixão daqueles que gostam de pilotar à moda antiga. Outra tradição da marca é a tração integral, nas quatro rodas. No STI, o sistema tem diferencial central de deslizamento limitado, que transfere a potência para as rodas na proporção de 59% no eixo traseiro e 41% no
— Apesar da mesma plataforma do Impreza, as versões esportivas passam a ser denominadas apenas Subaru WRX e WRX STI —
dianteiro, além de também possibilitar seis opções de bloqueio da tração de acordo ao modo desejado. O
sistema
de
gerenciamento
SI-Drive
(Subaru
Intelligent Drive) possibilita três diferentes opções de desempenho dinâmico: Intelligent, Sport e Sport Sharp. Vale lembrar que na função Sport Sharp a eletrônica tem pouca influência sobre a dirigibilidade, e o carro é controlado pela habilidade e sensibilidade do “piloto” para “domar” tanta cavalaria.
1 2
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3
1. Com turbo, o motor boxer de 2,5 litro tem potência aumentada para 310 cv 2. Espaço e conforto se destacam na cabine 3. Botão no console seleciona desempenho dinâmico
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— Da pista para a estrada — Sin R1 vem da Bulgária, sem tradição. Mas esse carro esporte surpreende pelo desempenho e estilo POR JOSÉ LUIZ VIEIRA
Rosen Deskalov andava de kart quando garoto. Já adulto, queria um carro de competição para os fins de semana que fosse também extremamente confortável para se deslocar pelas estradas de seu país natal, a Bulgária. Resolveu então abrir uma empresa para construir um carro que servisse às duas coisas. Ele sempre diz que todo menino tem um sonho, mas nem todo homem tem a coragem de fazer de seu sonho seu estilo de vida. Montou uma equipe com pessoas de diferentes países, línguas, capacidades e uma combinação única da experiência de competição com o entusiasmo de uma jovem geração. Eles fizeram com que o sonho virasse realidade: criaram o protótipo Sin R1, com o objetivo de construir um carro esporte e de competição, dotado das mais recentes tecnologias da indústria de competições de motorizados. O carro seguiu a fórmula tradicional, de motor traseiro entre-eixos e chassi tubular para garantir leveza e resistência. Em maio de 2012, fez sua estreia em corridas na Bulgária, onde se tornou campeão nacional. No ano seguinte, o Sin R1 foi reapresentado, desta vez como carroconceito, e em agosto teve sua estreia em Silverstone
como Sin R1 GT. Em janeiro de 2014, com a ajuda da
características interessantes são as suspensões por
ProFormance Metals britânica, recebeu um novo
duplos triângulos e amortecedores Nitron, freios AP
chassi e, quatro meses depois, estreou em terceiro na
Racing e aros de 19 pol.
Copa GT do Reino Unido.
Os preços variam de US$ 93 mil a US$ 112 mil na
Desde então, competiu bastante em eventos pela Europa,
Inglaterra, onde está a sede de seu principal representante.
recebeu uma longa série de mudanças e finalmente foi
Valor bastante razoável para um modelo de construção
colocado em produção seriada de pequeno volume, sob o
praticamente artesanal.
nome R1 Sin GT4 – nome bastante apropriado, já que, em inglês, “sin” significa pecado. O GT4 tem ABS, controle de tração, aerofólio traseiro
— A visão que os outros carros mais têm do Sin: 0 a 200 km/h em 9,7 s, máxima acima de 300 km/h —
de controle aerodinâmico (aumento de força para baixo, garantindo maior estabilidade nas retas), ar-condicionado, um sistema de infortenimento de última geração, bancos Recaro, painel dianteiro e console central redesenhados, e volante de direção com funções integradas. A mecânica continua a mesma: motor Chevrolet LS V-8, de 6,2 litros, com opções de diferentes potências que começam em 430 cv para uso no dia a dia, uma intermediária de 530 cv e outra para competição com 650 cv. A caixa de câmbio pode ser automática sequencial ou manual de seis marchas e diferencial, com autobloqueio. O carro com esta última opção faz de 0 a 100 km/h em 3,5 s, 0 a 200 km/h em 9,7 s e
1
atinge velocidade máxima de 300 km/h. A carroceria em compósito de fibra de carbono permitiu
1. Por fora, fibra de carbono; por dentro, sistemas completos de informação e infotenimento
peso em ordem de marcha de apenas 1.150 kg. Outras
212
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— NC 750X, coquetel de estilos — Honda reúne visual de big trail com porta-objetos de scooter e traz ainda motor derivado de automóvel POR JOSIAS SILVEIRA
Rodando pelas estradas com a Honda NC 750X, difícil não
Matemática à parte, o bicilíndrico em linha nasceu também
lembrar de suas antecessoras. Alguns níveis de cilindrada
para ser ecológico e garantir baixas emissões de poluentes
se tornaram mitos ao longo das décadas. E foi a própria
( já passa no Promot 4, próxima etapa para as motos). É
Honda que transformou os 750 cm³ em uma lenda sobre
muito econômico, pois os mais tranquilos conseguem fazer
duas rodas. Com as CB750F (o F de Four, quatro cilindros),
30 km/l de gasolina e, mesmo bastante exigida, manteve a
a marca japonesa se consolidou pelo mundo, inclusive com
invejável marca de 24/25 km/l.
a CBzona tendo sido eleita a “moto do século 20” por um
Fácil de manobrar mesmo no trânsito urbano, sua maior
júri internacional.
limitação é a largura do guidão, de 85 cm, que atrapalha
Esqueça as Four, agora no século 21. A Honda também
um pouco rodar nos “corredores” entre os carros. E sua
resolveu fazer uma “salada técnica” com mesma cilindrada,
ótima estabilidade e rapidez de reações têm pelo menos
e aí aparece a NC 750X. Uma moto, no mínimo, difícil
dois segredinhos. O primeiro está nas rodas de 17 pol,
de definir. Usa metade de um motor automobilístico (do
medida até pequena para um modelo grande, mas que traz
Fit), tem jeitão de big trail (mas não é) e procura agradar
respostas rápidas ao guidão, mesmo em alta velocidade.
até quem gosta de scooter, tendo um útil porta-objetos
O segundo segredo está no baixo centro de gravidade em
onde seria o tradicional tanque. O que mais explica a NC
uma moto até alta e que esteticamente lembra uma fora-
é exatamente o X, que significa Crossover (ou CroXover),
de-estrada. Seus dois cilindros ficam inclinados para a
uma mistura ou coquetel de estilos.
frente e o tanque de combustível fica abaixo do banco. No lugar do tanque está um ótimo porta-objetos, onde cabe
Diferente
uma mochila ou um capacete.
Até a forma de pilotar a NC é diferente das outras motos. Enquanto a maioria dos motores sobre duas rodas exige alta rotação (esportivas passam das 10.000 rpm) para ter bom rendimento, a NC se dirige mais como um carro “potente”, com o motor girando até pouco mais de 6.000 rpm. Mesmo em baixa rotação, sem grande alarde, ganha velocidade rapidamente e a sexta e última marcha já pode ser engatada a partir dos 60/70 km/h. E aí “é só alegria”, sendo raramente necessário engatar uma quinta marcha nas estradas. A velocidade máxima não é elevada para uma moto desta
— Mesmo tendo grande cilindrada, a NC 750X vai bem no trânsito urbano, além de ser rápida em viagens por estradas asfaltadas —
cilindrada (chega aos 175 km/h), mas impressiona pela forte aceleração e a tranquilidade com que mantém alta velocidade de cruzeiro em uma boa autoestrada. Além de fazer de 0 a 100 km/h em apenas 6,1 s, o que também se traduz em ótimas ultrapassagens. Seu segredo não é a discreta potência (de apenas 54,8 cv), mas seu elevado torque “automobilístico” de quase 7 kgfm. Não por acaso, a NC nasceu em 2012 como uma 700-cm³ e agora, em 2015, ganhou vários aperfeiçoamentos, e passou
1 2
a ser uma 750-cm³. Explica-se: como seu motor é “metade de um Fit”, a NC começou com meio Fit 1,4 L. Como agora só existe Fit 1,5, teve seu motor de arrefecimento líquido
1. Posição de pilotagem é confortável em longas viagens 2. Baixo peso facilita o controle em trânsito urbano
aumentado em 50 cm³.
216
217
Enrtetanto, não se iluda com o jeitão de fora-de-estrada
um pouco desconfortável, mas sua forração tem ótima
da NC 750X, com o estilo “gafanhoto” das motos japonesas
aderência devido à nova textura. Altura do solo (85 cm)
atuais. Sua suspensão quase esportiva e os pneus indicam
permite que pilotos de menor estatura se sintam à vontade.
que ela gosta mesmo é de asfalto, onde mostra excelente
Industrializada em Manaus (AM), oferece muito por um
estabilidade e dirigibilidade. A NC aceita bem a buraqueira
preço bastante atraente, em torno dos R$ 30 mil.
de ruas e estradas, mas não é uma “engolidora de crateras” como uma big trail. O baixo peso (205 kg, mais 4 kg quando
Digital
equipada com ABS) garante maneabilidade também em
O pequeno painel digital – protegido por uma bolha – não
baixa velocidade.
impressiona à primeira vista, mas traz muitas informações.
Na estrada, sua capacidade de aceleração proporciona uma
Como destaques, há uma barra horizontal mostrando
pilotagem rápida e tranquila, por exigir poucas mudanças
rotações do motor, e a velocidade aparece numericamente.
de marchas. Apesar de ter duas árvores contrarrotativas
Sem ponteiros, mostra ainda todas as informações comuns
de balanceamento no motor, como em toda moto de
em carros de luxo, inclusive consumo instantâneo e médio,
dois cilindros, existe uma leve vibração, que não chega
relógio, odômetro parcial e total e até mesmo tempo de
a incomodar. O assento tem espuma bastante firme, até
viagem e média de velocidade.
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A eletrônica também aparece no sistema de injeção eletrônica de última geração, assim como no ABS (opcional) nas duas rodas. Os freios a disco na frente e atrás (com duplo pistão na dianteira) são bastante potentes e fáceis de modular em frenagens de emergência. O manete dianteiro tem regulagem de distância para se adaptar ao estilo de pilotagem. Talvez o mais interessante da NC 750X seja exatamente a filosofia de projeto. Trata-se de um produto no qual a engenharia teve liberdade criativa, sem medo de misturar tendências e diferentes tecnologias. Isso raramente acontece, pois o marketing geralmente dita regras para tornar a moto “vendável”. E isso em uma 750 geralmente significa potência de três dígitos, ainda que a moto se torne quase “de pista”, pouco apropriada para a média dos motociclistas. No caso da NC e seu motor de baixa rotação, a potência foi contida em troca de se ter uma moto dócil, fácil de pilotar, além de econômica e pouco poluente. Isso pôde ser comprovado quando a NC passou de 700 para 750 cm³, agora em 2015. Ela ganhou apenas 4% em potência, mas o torque subiu 8%. Ou seja, novamente se privilegiou a aceleração, sem grande aumento de velocidade máxima. Por isso, vale perguntar: em um país como o nosso, com poucas boas estradas, quantos motociclistas podem, de fato, aproveitar todo o desempenho que um modelo dessa cilindrada tem potencial de oferecer?
— Tecnologia e muita eletrônica conseguiram conciliar boa performance com ecologia, trazendo baixo consumo de combustível —
1 2
1. O melhor da NC são as rápidas acelerações 2. Painel digital funciona como computador de bordo
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— TOP Serviços —
Carro autônomo
Sem as mãos Com um sedã BMW Série 4 pegamos uma Autobahn, estrada sem limite de velocidade. Cruise control
POR JOSIAS SILVEIRA
regulado para 140 km/h, solta-se volante e acelerador. O carro segue as faixas pintadas na estrada, mantendo
A pista de testes do ADAC, perto de Berlim, Alemanha,
a velocidade na terceira faixa e fazendo as curvas, até
é notável. Nas instalações do maior automóvel clube do
encontrar um veículo mais lento adiante. Aí ele diminui
mundo (18 milhões de sócios), a ZF mostrou avanços em
a velocidade, mantendo distância do carro à frente, até
eficiência, segurança e automação.
parando se ele parar, sem interferência do motorista.
Fornecedora de componentes para fabricantes, a alemã
Ultrapassar? Seta para a esquerda e radares e câmeras
ZF se tornou um dos três maiores grupos mundiais do
de vídeo transmitem dados para um computador, o carro
setor ao comprar a americana TRW. Câmbios, sistemas
espera a quarta faixa ficar livre e vai sozinho, acelerando
de direção, componentes de suspensão e chassi,
até os 140 km/h. Seta para a direita e automaticamente
automação e eletrônica.
ele volta para faixa central. Sem tocar o volante,
Porsche, BMW, Audi... há vários modelos para testar
acelerador ou freio. Se houver dúvidas quanto ao trajeto,
componentes da ZF.
avisos sonoros e luzes pedem para reassumir o volante.
220
Segundo a ZF, é um sistema praticamente pronto e já
Mas o Smart da ZF vai mais longe e traz sistema de
usado em vários carros de luxo, com limitações. Nestes
armazenamento de dados em nuvem, o PreVision Cloud
ele funciona até os 40 km/h, e o motorista não pode ficar
Assist. Ao se dirigir, todo o trajeto é armazenado junto
mais de 10 segundos sem as mãos no volante – questão
com informações do GPS. Um programa analisa estes
de legislação, já que em todos os países o motorista deve
dados e, quando se refaz o caminho, pode-se esquecer o
manter suas mãos no volante. Mas o futuro está pronto.
acelerador e freio. O carro vai sozinho da forma segura e ecológica, mantendo o mesmo tempo de viagem e evitando
Carro esperto
acelerações e freadas desnecessárias. Com o trajeto
Outros protótipos também mostram um panorama do
armazenado na nuvem, há ainda um modo Sport, que eleva
futuro. Com a direção de assistência elétrica – e sua
a velocidade de cruzeiro. E basta tocar no volante ou pedais
integração com o gerenciamento eletrônico –, o carro
que o controle volta para o motorista.
pode reagir sozinho em situações de risco, parando ou desviando de pedestres ou obstáculos. Mais um protótipo, o Smart Urban Vehicule, pequeno carro urbano “esperto”, traz motor elétrico traseiro. Com plataforma do novo Renault Twingo (a mesma do
— O carro manobra sem o motorista, que o controla por um relógio especial ou pelo próprio comando do alarme —
Smart da Mercedes), tem 3,5 m de comprimento e muita automação. Nesse Smart as rodas dianteiras esterçam 75 graus, e fica muito fácil entrar em vagas reduzidas. Claro, ele estaciona sem ajuda do motorista, que pode até ficar fora do carrinho, controlando-o por um relógio especial. O sistema já estreou no novo BMW Série 7, que estaciona por controle remoto.
221
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— TOP Serviços —
Foto: Fernando Queiroz
Vendas de blindados caem 40%
liderança mundial do setor. Previsão é de cerca de 40% a menos em 2015. Carros novos atingiram 2,41 milhões de unidades em
POR RAUL MACHADO CARVALHO
2007, um recorde na época. Em 2014, encerrou-se um ciclo de crescimento com 3,14 milhões. Em 2015, com
Veículos novos devem fechar o ano com mais de 27% de
a deterioração da economia, alimentada por uma crise
queda em vendas, segundo a Anfavea. A entidade, sempre
política sem precedentes, a indústria automobilística e os
otimista, demorou a refazer os cálculos depois da queda de
fabricantes de blindados sofrem grave retração.
7% de 2014 contra 2013. O segmento de veículos blindados
Não poderia ser diferente. Depois de uma expansão
acompanhou os números negativos, pela primeira vez em
acelerada nas últimas duas décadas, o mercado de
décadas de operação. O crescimento tinha sido tanto que
veículos blindados também entrou em parafuso. Pior, os
superou as vendas de Colômbia e México, e alcançou a
problemas não se resumem apenas a menos faturamento, 222
Todavia, surge uma luz para o setor com a posse do novo presidente da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem), Rogério Garrutto, proprietário da Concept. Novas ideias e propostas de mais união dos fabricantes para o setor ganham força em suas reivindicações e estão na pauta desse especialista em engenharia automobilística pela USP, há 12 anos no setor. Seu projeto de trabalho inclui o estabelecimento de normas mais rígidas para o setor e intensa divulgação das ações da entidade em prol de todo o segmento e dos clientes atuais e potenciais. É a esperança de alcançar maiores garantias e credibilidade junto aos usuários na satisfação de seus investimentos em segurança. mas também à infraestrutura do setor. Na história de desenvolvimento desse mercado, com perspectivas de lucros imediatos pela grande demanda, muitas pequenas oficinas mecânicas, em todo o país,
— Normas operacionais para o setor ajudariam a uniformizar e garantir maior qualidade na blindagem —
se aventuraram a oferecer blindagem veicular, muitas vezes sem condições técnicas. Há ainda a dificuldade de fiscalização por parte do Exército na concessão do CR – Certificado de Registro –, documento que permite ao usuário ter um automóvel blindado. Para alguns empresários do setor, o Exército não deveria aumentar suas atribuições e custos para atender a um trabalho de fiscalização de carros usados por civis. Em outros países, essa atividade é exercida por entidades independentes, com alta responsabilidade de prestar contas e estabelecer normas. Um dos pecados do segmento de carros blindados é a falta de normas técnicas (tipo ABNT) para uniformizar procedimentos, matéria-prima e garantias, o que daria maior credibilidade ao trabalho e eficiência na proteção contra projéteis de armas de fogo. Mauro Castro, diretor executivo da Guard, comentou que o segmento evoluiu em seu conceito. Nos anos 90, com poucos fabricantes, blindar um veículo era “status” para o proprietário. Agora, se tornou questão de segurança e até de sobrevivência. Quanto mais assaltos, sequestros, no rastro de um incrível nível de violência, mais donos de carros, SUVs e picapes se interessam pela blindagem balística.
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— TOP Serviços —
Luxo conectado
celular “dedicados” ao carro e comunicação por vivavoz. Alguns também podem ser operados por telefones inteligentes e aplicativos específicos.
POR GUILHERME SILVEIRA
No Brasil, a pioneira em concierge sobre rodas foi a Volvo, que desde 2012 oferece o On Call em toda sua linha. Gratuito por dois anos e renovado por R$
Há cerca de 15 anos, os sistemas de posicionamento global
1.249 ao ano, o serviço permite até ligar o motor por
(GPS) migravam dos aviões para os carros, facilitando
meio do celular, para que o condicionador de ar leve
“navegar” em locais desconhecidos. Logo começaram a
à temperatura desejada antes de se entrar no carro.
substituir com vantagens os mapas de guias impressos e,
Pareado com informações de painel, o celular inclusive
primeiramente, carros luxuosos adotaram o sistema de
informa sobre a manutenção do veículo.
série. A partir do posicionamento preciso por satélites, a
A BMW oferece o ConnectedDrive, lançado em 2012 na
evolução da conectividade móvel foi notável. Chegaram
Europa. Chegou aqui dois anos depois com o elétrico
aplicativos, centrais multimídia e agora é a vez dos sistemas
i3, informando rotas mais curtas e postos de recarga da
de concierge de luxo, mas que já se tornam mais acessíveis.
bateria, além de pontos de interesse. Agora a maior parte
A ajuda online, de início para acidentes e problemas
dos veículos da marca alemã pode ter o sistema. Gratuito,
mecânicos, surgiu com o GM OnStar nos EUA. Inaugurado
inclui o pareamento com celulares e oferece vários apps
na linha Cadillac em 1996, começou a ser explorada
(como Google Search e Street View), além de e-mail, clima
por marcas premium na década seguinte. Com funções
e atualização do trânsito em tempo real no GPS.
ampliadas, virou comodidade graças aos operadores,
Mais recente no Brasil, a Chevrolet lançou a versão
quase secretários online, para resolver problemas. Desde
nacional do OnStar como principal novidade do Cruze
localizar e fazer reservas em restaurantes até dar diversas
2016. Traz mordomias, pois o sistema também funciona
informações ao cliente. Tudo por meio de SIM cards de
como concierge: basta contatar a central para reservar
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— Serviços de concierge online oferecem socorro médico e mecânico, reservas em restaurantes e até localizam carro roubado, além de muita informação —
restaurantes e receber respostas sobre resultado de um jogo ou rota mais próxima para o destino. Gratuito no primeiro ano, será estendido para outros modelos da marca em breve. No caso de roubo ou furto, basta avisar a central para ter ajuda. Com o OnStar, o Cruze roubado não consegue reacelerar à medida que perde velocidade, enquanto nos Volvo é necessário que o motor seja desligado e, em seguida, receba comando de imobilização. Em caso de acidente, todos atuam como “anjos da guarda”. Especialmente se algum airbag for disparado, as centrais de atendimento são avisadas e o socorro chega bem mais rápido. Diferentes de rastreadores – bloqueados por ladrões, em alguns casos, ficam “invisíveis” –, os carros com concierges têm potencial de ganhar um significativo bônus ao fazer o seguro. Esses sistemas são diretamente ligados à injeção eletrônica e demais módulos originais dos carros pelo próprio fabricante, facilitando localização e imobilização. Prova disso é que todos os 34 Volvos furtados ou roubados foram localizados pelo On Call. Mesmo quem não gosta muito de tecnologia vai se adaptar logo aos “mordomos virtuais”, bem intuitivos e simples de operar – por teclas no painel ou espelho interno. É o admirável mundo da conectividade.
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— TOP Prazer — Néons da Rota 66 — Uma pitoresca passagem pela estrada mítica —
por Ronny Hein O caminho até Kingman ficaria 18 quilômetros mais longo,
de linóleo recém-aplicado e uma juke-box encostada na
mas eu tinha tempo. E o prazer de dirigir um Buick Lesabre
parede. Sentei-me, pigarreei alto e Jessica surgiu atrás
– banheirona clássica, mas potente, com dois sofás à frente
da cortina. Nunca vi mulher igual. Era Marilyn Monroe
substituindo o que outros chamam de bancos – merecia um
vestida de garçonete, com os lábios vermelhos.
prolongamento. A placa, na estrada, tinha o dístico clássico
Conversamos um pouco. Ela me recomendou um
da Rota 66. Trecho histórico, acrescentava.
inesperado clam chowder (no Arizona?) e depois trouxe,
Lembrei-me dos beatniks, das viagens lisérgicas que nunca
quente, a melhor apple pie que jamais provei. Estávamos
fiz e da mitológica estrada que deu sentido ao carro como
sozinhos. Eu, já, apaixonado. Pensei em largar o Buick e
prazer. Prazer de verdade. Feita para ligar Chicago ao Oeste
viver para sempre ao lado de Jessica naquele lugar sem
e levar a América para o Pacífico, a Rota 66 foi a primeira
tempo e sem ninguém.
rodovia muito longa do mundo. Um caminho para muitos
Talvez eu tenha mesmo ficado por lá.
dias – que morreu pelos seus próprios defeitos: as curvas
−
perigosas e os acidentes trágicos. Vi nuvens negras ao longe. O sol se punha sob uma barra cor de chumbo no horizonte. E então os dias e as horas sumiram. Em seu lugar, motéis e lanchonetes com os vidros quebrados e alguns neons piscando. O Lesabre avançava pela rodovia sem vida, sem gente e sem carros. Exceto os veículos largados nos pátios de estacionamento, como se tivessem sobrevivido, empoeirados e com os pneus destruídos, a uma hecatombe nuclear. O silêncio, o vento, as lanchonetes esquecidas – uma delas no formato de uma galinha de bico quebrado – e, sobretudo os néons tinham efeito hipnótico. Hotel Scarlett, Doris Burger, os fantasmas passavam pela janela ao lado de BelAirs, Studebackers e Impalas. O som de Paul Anka em alguma rádio remota. De repente, um clarão em meio ao anoitecer já molhado.
Ronny Hein é jornalista, escritor, publicitário e diretor de redação
Jessica’s Bar? Parei o Buick. Era um lugar limpo, com chão
da revista Forbes
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