Totvs experience 2 pt br

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E X P E R I E N C E #2 w w w.tot vs.com /experience

ENTREVISTA O canadense Don Tapscott, criador do conceito Wikinomics, fala sobre inovação, transparência e como o país tem a ganhar com criação colaborativa MACROECONOMIA Assumir postura proativa é a melhor atitude diante do cenário econômico de 2014 PARCERIAS Unimed Porto Alegre, Ribeirão Preto e São José dos Campos mostram resultados vitoriosos

VIVENDO NO

TESARAC

Num mundo em que a velocidade das transformações é cada vez maior, cresce o desafio das empresas para manter evidência e relevância


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Boas-vindas Estamos presenciando rupturas tão rápidas, abrangentes e intensas, que a forma de nos relacionarmos com o mundo também está se transformando”

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Realização

PUBLISHER Flavio Rozemblat editora chefe Flávia dratovsky editora de inovação Gabriela Mafort Designers daniel razabone / daniela barreira Equipe de reportagem Carlos Vasconcellos / Rodrigo Carro / Suzana Liskauskas colaborador Paulo Mussoi fotógrafos Ana Grillo (EUA) / Anna Carolina Negri

presidente DA TOTVS Laércio Cosentino EXECUTIVOS DA TOTVS RODRIGO CASERTA / Lélio de Souza / Flávio Balestrin Equipe de Marketing

Diana Rodrigues / Cristiano Cunha / Aline Luiz Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam a opinião da revista, da editora ou da TOTVS S.A. A reprodução das matérias e dos artigos somente será permitida se previamente autorizada por escrito pela editora, com crédito da fonte. Todos os direitos reservados.

A revista TOTVS Experience não é vendida. TOTVS - Avenida Braz Leme, 1631, Santana, São Paulo. Escritório de Operações Private – Rua Ministro Jesuíno Cardoso, 454, Itaim Bibi.

Acesse www.totvs.com/experience para ler a versão digital desta edição.

Divulgação

É com prazer que convido você para a segunda edição da TOTVS Experience. Nesta publicação, voltamos os nossos olhos ao momento de profunda mudança pelo qual passa o mundo, quando antigos paradigmas estão em declínio e o novo parece não se firmar. Estamos presenciando rupturas – na sociedade, na ciência, na tecnologia, na economia, na cultura, na comunicação – tão rápidas, abrangentes e intensas, que a forma de nos relacionarmos com o mundo também está se transformando. Temos diante de nós desafios dos novos comportamentos da sociedade, frente aos desafios das organizações. Em um mundo cada vez mais plural, conectado em rede, onde a comunicação acontece de forma fluida e além das fronteiras de espaço e tempo, a tecnologia é a grande protagonista, a mola propulsora que leva à inovação. É ela que, mesmo em cenários adversos da economia, pode ajudar as empresas a crescerem, por meio de ferramentas que alavancam o planejamento e a produtividade – duas palavras de ordem que serão essenciais às companhias neste ano. E espero que as reportagens nas páginas a seguir possam inspirá-lo ainda mais para tais desafios. Também inspirados por esses novos comportamentos é que apresentamos em janeiro nossa nova marca. Representada graficamente pelo diálogo de telas, que são a intermediação que a tecnologia proporciona às pessoas, e o encontro do qual nascem novas ideias, integração e compartilhamento. Nasce a luz. Dessa forma, a TOTVS convida para um mundo em que pensando junto, fazemos melhor. A inovação resultante de colaboração é o caminho para nossos clientes e nós experimentarmos o futuro. Um futuro + Simples, + Ágil, + Conectado, + Cloud e + Essencial! Tenha uma boa leitura!

Laércio Cosentino, CEO da TOTVS


Í N D I C E 5

06 MUNDO Um país singular, em que modernidade e tradição se combinam, Israel é referência mundial em tecnologia, inovação e incentivo ao empreendedorismo 12 eNTREVISTA O canadense Don Tapscott diz que empresas inteligentes estão cada vez mais porosas, usando o universo colaborativo para aproveitar conhecimento fora de suas fronteiras 18 cAPA Numa época em que a velocidade das transformações é impressionante, novos desafios se impõem e é preciso encontrar o equilíbrio entre solidez e capacidade de adaptação

06 12

26 OPINIÃO Segmento de saúde tem grandes ganhos de resultado ao aplicar soluções de tecnologia e softwares que se estendem para dia a dia médico 28 Estratégia Migração para ‘cloud’ é forte tendência de mercado. Novos serviços garantem performance, segurança e atualização constante 32 Competitividade Cenário econômico de 2014 apresenta desafios para as empresas, que devem assumir postura proativa para continuar crescendo 36 Infográfico Big Data: como o grande volume de informação disponível hoje pode ser usado para agilizar decisões, melhorar resultados e criar novas possibilidades de negócios 38 SOluções Investimento da TOTVS na empresa americana GoodData dá origem a solução de Business Analytics em nuvem, com mais rapidez e menos custo 42 atualidade Como a preparação para a Copa do Mundo de Futebol reflete características de planejamento do país, com a falta de equilíbrio entre organização e improviso 46 comportamento Tendência mundial, o movimento Makers chega ao Brasil: baseada em tecnologias como impressão 3D, a cultura do ‘Faça Você Mesmo’ já é chamada de Nova Revolução Industrial

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50 EM FOCO Sistema digital eSocial, previsto para começar em maio, unifica acesso às informações trabalhistas e previdenciárias, com menos burocracia e mais transparência 54 SUSTENTABILIDADE Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social é peçachave no setor de investimento social privado no país, organizando fundações e projetos 56 CASES DE SUCESSO Unimed Porto Alegre, Ribeirão Preto e São José dos Campos falam da duradoura parceira com a TOTVS e das melhores soluções para gestão

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M U N D O 6

ISRAE


Como um país acossado por dificuldades políticas e naturais se transformou em potência tecnológica que atrai talentos do mundo inteiro

L

por Suzana Liskauskas

ShutterStock

Moderna N TRAdição

Vista de Jerusalém, cidade que simboliza a História milenar da região e também abriga start ups modernas: incentivo à inovação é constante

o fim da década de 40, um pequeno país, localizado no Oriente Médio, nascia para transformar a geopolítica mundial. Poucos anos depois, uma região da Califórnia, nos EUA, começava o desenvolvimento tecnológico que impressionaria o mundo. Mas o que a criação do Estado de Israel, em 1948, teria em comum com o Vale do Silício, além da coincidência na origem cronológica? A resposta está em uma área denominada Silicon Wadi, a versão israelense do Silicon Valley. Área de alta concentração de indústrias de tecnologia de ponta localizada na costa mediterrânea de Israel, o Silicon Wadi é o segundo maior polo de indústrias desse tipo do mundo, atrás apenas do vale americano. O oásis da tecnologia de ponta abrange a maior parte de Israel. Foi lá que nasceram empresas como o Waze, um dos aplicativos mais utilizados no mundo e comprado ano passado pelo Google. No fim de 2013, uma pesquisa publicada pela Start up Genome, plataforma aberta para coleta e análise de dados sobre start ups, empreendedores e investidores, classificou Tel Aviv como a segunda melhor cidade do mundo para o desenvolvimento de start ups. Os números confirmam. A região de Tel Aviv tem cerca de 5 mil empresas dessa natureza. Mais uma vez, a concentração só é maior nos EUA, de acordo com os levantamentos do Israel Venture Capital Research Centre. Na Nasdaq, Israel fica em terceiro lugar em número de empresas, atrás de China e EUA, países incomparavelmente maiores em território e população.


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CELEIRO DE CIENTISTAS E VISIONÁRIOS

David Shankbone/Wikimedia Commons

Esse polo de geração de conhecimento e tecnologia transformou Israel em um celeiro de cientistas e visionários. Com os projetos ligados a pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras, o país se transformou em ponto de convergência para empreendedores do mundo inteiro. “Para quem vem de fora, o país impressiona porque, em

T E C H N I O N : p ionei r a Ela completa 112 anos em 2014, mas tem as células mais produtivas de Israel. Primeira universidade do país, a Technion foi criada como símbolo da reconstrução de uma pátria judaica, deixando para trás o passado que afastou essa comunidade do caminho do ensino. Com 12.850 alunos e 80 programas de pós-graduação de excelência, a Technion é hoje um dos berços da pesquisa científica no mundo. E pioneira global em áreas como biotecnologia, células-tronco, espaço, ciência da computação, nanotecnologia e energia. No currículo, três professores vencedores de prêmios Nobel. Mais de 70% dos fundadores e gestores de indústrias de alta tecnologia de Israel estudaram na Technion, maior celeiro de start ups de alta tecnologia fora do Vale do Silício. Além disso, 80% das empresas israelenses listadas na Nasdaq são lideradas por graduados Technion.

curtíssima distância, se passa da tradição milenar à modernidade mais avançada. Quando se vive lá, outra característica salta aos olhos: Israel é um lugar onde se aprende a ser focado. O território é pequeno e árido, as relações políticas com os vizinhos são difíceis, são muitas as adversidades históricas. É preciso extrair o máximo do mínimo. Isso leva à criatividade, à inovação”, descreve o engenheiro brasileiro Roger Shein, que viveu 15 anos em Israel e participou da criação de três empresas hoje consolidadas lá. De fato, a inovação é uma política de estado: o país gasta mais de 4% do PIB em fomento à pesquisa e desenvolvimento de projetos, o mais alto índice entre os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os autores do best-seller ‘Nação Empreendedora, Milagre Econômico de Israel e o Que Ele Nos Ensina’, Dan Senor e Saul Singer, também ressaltam a capacidade de lidar com desafios e a persistência dos israelenses como fatores para o desenvolvimento do país. Para descrever o povo, usam uma expressão prosaica: “chutzpa”, palavra de difícil tradução que se aproxima de audácia, ousadia e “cara de pau”. O livro destaca também o papel do exército no amadurecimento dos jovens. Para os autores, as experiências impostas pela vivência no treinamento militar, como a necessidade de tomar decisões em situações de conflito, aumentam a responsabilidade e a capacidade de trabalhar sob pressão.

BRASILEIROS EM INTERCÂMBIO Atenta à evolução das start ups em Israel, a organização não-governamental Hillel, com sede no Rio de Janeiro – que trabalha a integração de jovens judeus em ambientes com oportunidades de desenvolvimento sociocultural e profissional -, montou um intercâmbio que promove imersão nas áreas de empreendedorismo e finanças. No programa, durante dois meses, um grupo de empreendedores de toda a América Latina participa de aulas na Universidade de Tel Aviv, estágios em start ups de primeira linha, ações de networking e visitas a empresas e fundos de investimentos em start ups. Foi este cenário que atraiu a brasileira Melina Guelman, de 26 anos. Formada em Marketing no Rio de Janeiro, ela participou do Hillel Entrepreneurship Experience como criadora da


Israel é um lugar onde se aprende a ser focado: é preciso extrair o máximo do mínimo”, descreve o engenheiro brasileiro Roger Shein, que viveu 15 anos no país

Fotos: ShutterStock

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1 1. Edifício comercial do centro de Tel Aviv é exemplo da arquitetura voltada para grandes dimensões que marca a cidade. 2. Fábrica da Intel em Kiryat, em pleno deserto. 3. Ayalon Freeway, uma das principais vias de Tel Aviv


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TEL AVIV: arrojada Fundada por uma comunidade judaica em 1909, nos arredores da antiga cidade portuária de Jaffa, Tel Aviv é um celeiro de inovação. Da arquitetura à tecnologia: a cidade apresenta, por exemplo, a maior concentração do mundo de edifícios estilo Bauhaus. Em 1965 foi inaugurado em Tel Aviv o prédio mais alto de Israel, a Torre Shalom Meir. Primeiro arranha-céu do país, manteve-se como o prédio mais alto do país até 1999. A ousadia da arquitetura combina com as mentes arrojadas de seus cientistas. Sede da Bolsa de Valores de Israel, Tel Aviv também concentra os maiores centros de pesquisa e desenvolvimento do mundo. Um desses oásis é a Universidade de Tel Aviv, que, em conjunto com a Universidade Bar-Ilan na vizinha Ramat Gan, tem mais de 50 mil estudantes, grande parte deles de fora de Israel. Fundada em 1953, é a maior universidade de Israel, internacionalmente reconhecida no ensino e investigação nas áreas da física, ciência da computação, informática, química e linguística. “É uma cidade de jovens, de praia, de modernidade entre tanta tradição de Israel. Jerusalém, ao contrário, é pura História”, define a brasileira radicada em Israel Sabrina Grimberg.

‘Easyeating’, uma plataforma multifuncional na web que permitirá a turistas visualizar cardápios de restaurantes em diversos idiomas. “Levei meu business plan encaminhado para aprimorar na Universidade de Tel Aviv. E já tenho planos para montar uma ramificação da minha empresa em Israel, onde os incentivos às start ups são inúmeros, do Governo à iniciativa privada. Enquanto lá o investimento mínimo que se obtém é de US$ 600 mil, em média, no Brasil, se a ideia foi excepcional, se chega no máximo à faixa de R$ 400 mil”, compara Melina. Pesquisas feitas pela Technion, a universidade mais antiga de Israel, mostram que a indústria de alta tecnologia representa mais de 54% das exportações industriais do país; 135 em cada 10 mil trabalhadores em Israel são cientistas e/ou engenheiros, enquanto que, nos EUA, há 85 cientistas e/ou engenheiros em cada 10 mil trabalhadores. Outro dado levantado pela Technion mostra que nove em cada mil habitantes de Israel estão envolvidos com I&D (Investigação e Desenvolvimento), o que representa quase o dobro das estatísticas semelhantes nos EUA e no Japão.


ShutterStock

Chamada de Cidade Branca, Tel Aviv concentra a maioria das indústrias de Tecnologia da Informação

Não por acaso, Israel é a nação que mais produz publicações científicas per capita - 109 por cada mil pessoas. O país ainda estrela a lista dos que apresentam mais patentes registradas per capita e ocupa o terceiro lugar no ranking mundial nos investimentos com P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Israel é o oitavo em aparelhamento tecnológico, de acordo com gastos de suas companhias de pesquisa, comunidade científica, número de computadores pessoais e o índice de penetração na internet. Também ocupa o 11º lugar em inovação, 16º lugar em exportações de alta tecnologia e o 17º em lucros tecnológicos.

ESTILO DESPOJADO COMO O DO SILÍCIO A maioria das indústrias de TI em Israel está concentrada nos arredores de Tel Aviv, que inclui as cidades de Ra’Anana, Herzliyz, Cesaréa, Haifa, a acadêmica Rehovot e Rishon Le Zion. Mais recentemente, a área das indústrias de tecnologia ganhou um reforço nos arredores de Jerusalém, com os parques de ciência em Malha e Har Hotzvim.

A administradora de empresas Ingrid Vils Warshawski, formada no Rio de Janeiro, também foi seduzida pela promissora terra israelense. Ela mora com o marido e o filho em Ra´Anana. A mudança foi motivada por um convite para trabalhar na start up Snapkeys, desenvolvedora de softwares para tecnologia móvel. “Vim dar um toque brasileiro ao produto para lançar no mercado nacional”, conta ela. Bem no espírito das start ups californianas, a Snapkeys funciona em uma ampla casa, em que os funcionários são motivados pelo ambiente descontraído, que inclui a companhia diária de uma gata amarela de olhos azuis. Com sede em Jerusalém, a Snapkeys é exemplo da Babel em que se transformou o país: fundada por um iraniano e um francês, a empresa tem ainda na equipe profissionais vindos dos Estados Unidos, Suíça, Rússia e Alemanha. “Israel é um lugar que tem muito a ensinar. Todo empreendedor que passa uma temporada no país volta melhor”, resume o engenheiro Shein.


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Don Tapscott na Market Street, centro financeiro de S達o Francisco

criar junto


Um dos 50 pensadores mais influentes do mundo, o canadense Don Tapscott fala à TOTVS Experience com exclusividade e defende que empresas abertas à colaboração inovam de maneira mais rápida, barata e eficaz por Gabriela Mafort fotos Ana Grillo/São Francisco

Ele foi eleito cinco vezes um dos 50 pensadores mais influentes do planeta pelo Thinkers50, o Oscar dos negócios – ao lado de nomes como Jack Welch, Peter Senge e Jeff Bezos –, por traduzir com maestria o impacto brutal da internet, principalmente na vida das empresas, em textos considerados “iluminação pura”. Seu livro “Wikinomics” se tornou um best-seller traduzido em 25 países, e o mais recente título, ”Macro-wikinomics, novas soluções para um planeta conectado”, foi definido como um “manual para consertar um mundo quebrado”. Em entrevista exclusiva à TOTVS Experience, direto de São Francisco, o canadense Don Tapscott, CEO do Tapscott Group, conceitua o que considera a Era da Inteligência em Rede, sugerindo que as empresas brasileiras adotem uma nova mentalidade para responder à natureza colaborativa do país e, desta forma, assumam importante papel de liderança em tempos digitais. Na entrevista, ele diz acreditar que a inovação aberta é a chave de entrada de empresas e governos para o século XXI. E defende que aqueles que se abrirem para a co-criação, ou seja, a participação efetiva de colaboradores e fornecedores na geração de produtos e serviços, terão melhores resultados. Ao longo dos últimos 20 anos, Tapscott vem apresentando conceitos inovadores, que se tornaram parte do conhecimento contemporâneo sobre o impacto avassalador da internet no mundo. Já em 1992, no livro “Mudança de Paradigma, A nova Premissa da Tecnologia da Informação”, ele vislumbrava o impacto da tecnologia da informação no mundo empresarial. Três anos depois, mudou a maneira de pensar sobre a internet em “Economia Digital” e, em 1997, definiu o comportamento da Geração internet no aclamado “A Hora da Geração Digital ”, mostrando como os hábitos da geração nascida digital mudariam as relações, o trabalho, as empresas. No início dos anos 2000, “Capital Digital” antecipou ideias como a internet dos Negócios. E, depois de fazer história com a série “Wikinomics”, no e-book “Abertura Radical, quatro princípios inesperados para o sucesso”, Tapscott elenca a transparência, a colaboração, a abertura para inovar e a liberdade de informação como as novas regras de sobrevivência pós-revolução digital.

R E T R A T O

F A L A D O

Nome: Don Tapscott De: Ontario, Canadá currículo: Escritor e consultor especializado em estratégia corporativa e transformação organizacional best-sellers: Wikinomics: Como a Colaboração em Massa Pode Mudar o seu Negócio e A Hora da Geração Digital


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O senhor foi um dos primeiros autores no mundo a prever a importância da inovação aberta para o século XXI. Por que o senhor acha que essa é uma estratégia importante para as empresas na Era Digital? As empresas mais tradicionais são um pouco receosas com o que algumas delas consideram um “passo radical”. A internet nos dá acesso não apenas à informação e ao conhecimento, mas também à inteligência contida no cérebro de outras pessoas e isso de maneira global. Na minha concepção, esta não é a Era da Informação e, sim, a Era da Inteligência em Rede. Já se nota há tempos que as empresas tradicionais verticalmente integradas são uma espécie de brutamontes paradoxal. Titãs capitalistas como Henry Ford tinham tudo para serem verdadeiros líderes e aproveitar as virtudes do mercado nos dias de hoje, mas suas empresas funcionam como economias planejadas. Durante décadas estas fortalezas corporativas triunfaram sobre os concorrentes, mas não mais. A empresa monolítica, verticalmente integrada está começando a vacilar em relação aos concorrentes mais ágeis. Como reagir? As empresas inteligentes estão fazendo suas paredes cada vez mais porosas. Elas usam a internet para abrir e aproveitar o conhecimento, recursos e capacidades de

Tapscott defende que esta é a Era da Inteligência em rede: “A empresa monolítica está começando a vacilar”

fora de suas fronteiras. Elas estabelecem um contexto para a inovação e, em seguida, convidam seus clientes, parceiros e outros terceiros para co-criar seus produtos

não seria possível fazer. Por exemplo, a colaboração

No livro ‘Abertura Radical’, o senhor defende que o antídoto para a crise da inovação é justamente essa inovação aberta, voltada para a participação do cliente. Mas como equilibrar transparência e compartilhamento de informações sobre projetos internos com as informações estratégicas da empresa?

externa na Procter & Gamble, através do programa

Muitos se esquecem que, antes da chegada da internet,

“Conectar e Desenvolver”, permitiu à empresa aumentar

a maioria das instituições era opaca e operava

dramaticamente o conjunto de ideias de novos produtos,

secretamente. Isso já não é viável. Pessoas em todos os

com cerca de 60% vindo de fora. Com isso, a taxa de

lugares têm em suas mãos a ferramenta mais poderosa

sucesso de inovação foi uma economia de mais de US$ 1

que nunca para descobrir o que realmente está

bilhão em custos de Pesquisa e Desenvolvimento.

acontecendo e informar os outros. Os clientes podem

e serviços. O resultado disso é que as empresas abertas podem inovar mais rapidamente, de forma mais barata e mais eficaz, melhorando a qualidade da expertise interna, o que da forma tradicional, fechada,


Agradecimento Palace Hotel/ São Francisco

avaliar o valor de produtos e serviços em níveis que não eram possíveis antes. Funcionários hoje em dia compartilham informações anteriormente secretas sobre estratégia empresarial, gestão e desafios. Para colaborar de forma eficaz, as empresas e seus parceiros de negócios não têm escolha, precisam compartilhar conhecimento interno. Investidores institucionais poderosos estão desenvolvendo visão de raio-x. E em um mundo de comunicações instantâneas, informantes, mídia questionadora, e as facilidades das pesquisas no Google, os cidadãos e as comunidades

As empresas inteligentes estão fazendo suas paredes cada vez mais porosas. Elas estabelecem um contexto para inovação e convidam clientes e parceiros para co-criar seus produtos e serviços”


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rotineiramente colocam as empresas sob o microscópio. Então, para mim, faz todo o sentido abraçar a causa da abertura e da transparência, não apenas porque é inevitável, mas porque é bom para a empresa. Companhias abertas têm melhor desempenho. Elas têm maior confiança e são capazes de construir melhores redes. Isso ajuda a criar valores positivos – e numa época em que a criação de valor é valorizada como nunca antes.

Faz sentido abraçar a transparência, não apenas porque é inevitável, mas porque é bom para as empresas. Elas têm melhor desempenho e mais confiança”

Dito isso, todas as organizações têm o direito, claro, a alguma confidencialidade. As empresas têm segredos comerciais legítimos. É claro que os funcionários não devem violar acordos confidenciais ou a lei. Transparência deve referir-se à liberação ou à exposição de informações pertinentes - informações que podem ajudar os interessados quando ​​ eles as acessam ou prejudicá-los se eles não têm acesso a elas. Mas ao invés de pender para a opacidade, como foi feito no passado, para a maioria das empresas cada vez mais faz sentido optar pela abertura. Como vê o papel dos governos no estímulo à inovação, na promoção deste ecossistema? A primeira onda de estratégias de “e-governo” gerou alguns benefícios importantes. Fez com que informações e serviços do governo se tornassem mais acessíveis aos cidadãos, criando eficiência administrativa e operacional. Mas muitas dessas iniciativas focaram simplesmente em automação de processos existentes, que apenas deslocaram os serviços governamentais existentes para o mundo

dos limites do governo. Um número crescente de governos entende a necessidade de distribuir o poder de forma ampla e de alavancar a inovação, o conhecimento e gerar valor a partir da sociedade civil e do setor privado. Há um novo tipo de organização do setor público emergindo: um governo aberto. Este é o governo que co-inova com todos, especialmente os cidadãos; compartilha recursos que antes eram guardados a sete chaves; aproveita o poder da colaboração em massa e se comporta não como um departamento isolado ou jurisdição, mas como algo novo: uma organização verdadeiramente integrada. Hoje, essa é uma noção radical, mas talvez seja apenas tão fantástica como a versão atual do governo, que mais parece um príncipe feudal da Idade Média nos visitando em pleno século XXI.

Conhecimento, informação, talento e energia estão

Vamos falar agora sobre a América Latina e o Brasil. Como você vê o papel da região na mudança para uma nova mentalidade, a mentalidade colaborativa? Michel Bauwens, pesquisador de iniciativas P2P (peer to peer), disse que o Brasil é o país mais colaborativo do mundo. Somos um dos primeiros países da lista de usuários ativos ​​de redes sociais. Mas, por outro lado, as empresas brasileiras não estão se lançando tanto em iniciativas de inovação aberta ainda. Como o senhor vê esse cenário?

sendo movidos, formatados e canalizados de uma

As empresas brasileiras precisam de uma nova

forma completamente nova, dentro, através e fora

mentalidade para responder à natureza colaborativa

online. A próxima onda de inovação apresenta uma oportunidade histórica de redesenhar como o governo opera, como e o que o setor público oferece e, finalmente, como os governos interagem e se envolvem com os seus cidadãos. Por quê?


do país. Podemos ver ao redor do mundo que os clientes adoram colaborar. Eles colaboram com empresas para ajudar a co-inovar tudo, desde camisetas Threadless até anúncios de Doritos no Superbowl. Eles compram bens e serviços coletivamente no Groupon. Eles ajudam a encontrar os melhores hotéis, compartilhando conhecimento no Trip Advisor e os melhores restaurantes através do Restaurant.com. Eles emprestam dinheiro uns aos outros por meio de bancos peer-to-peer, como a comunidade Lend. As empresas que não adotarem este novo comportamento vão definitivamente ficar para trás. Em seu livro ‘Wikinomics’, o senhor descreve um novo modelo econômico no qual as empresas e pessoas comuns estão se unindo em novas maneiras de conduzir a inovação e o sucesso empresarial. Em sua opinião, como será a empresa do futuro? Em tempos de dificuldades econômicas, empresas que são ágeis e flexíveis têm uma chance muito maior de sobrevivência e até mesmo crescimento. Empresas tradicionais enfrentam cada vez mais concorrência de novas empresas, uma vez que é mais barato do que nunca criar um negócio. Um estudo descobriu que a disponibilidade de recursos, tais como a computação em nuvem e o surgimento de infra-estrutura de escritório virtual, tem impulsionado o custo de lançamento de um empreendimento de internet de cinco milhões de dólares em 1997 para menos de 50 mil dólares hoje em dia. As pequenas start ups têm acesso a muitos dos mesmos recursos que as grandes empresas, sem as principais obrigações – burocracia, culturas, sistemas, legados e antigas formas de trabalho, tudo o que pode impedir a inovação. A inovação aberta, onde o talento não tem que estar dentro dos limites corporativos, beneficia todas as organizações, e os maiores beneficiários podem ser inclusive as pequenas empresas.


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fluxo i n f i n i t o


O mundo passa por um momento de profunda mudança, em que antigos paradigmas são derrubados e o novo ainda está por vir por Rodrigo Carro

C

onta–se que, certa vez, quando lecionava no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, nos Estados Unidos, Albert Einstein aplicava uma prova para seus estudantes quando foi alertado por um deles: “Professor, este teste está comprometido. Algumas questões são idênticas às formuladas no ano passado”. Einstein não se abalou. “Não há problema”, respondeu calmamente. “As questões são as mesmas, mas este ano as respostas são diferentes”. Verídico ou não, o episódio ilustra com perfeição um conceito que define o momento por que passa o mundo hoje: o Tesarac.

ShutterStock


C A P A 20

Cunhado pelo poeta americano Shel Silverstain a partir de experiências traumáticas (a morte da mulher e da filha), o termo Tesarac define um período histórico de mudanças drásticas na sociedade. Os paradigmas vigentes são destruídos antes que existam outros modelos capazes de substituí-los completamente, em todas as suas dimensões. A humanidade atravessa atualmente seu terceiro Tesarac. O primeiro ocorreu na passagem da Idade Média para o Renascimento, quando a ruptura com os valores feudais foi tão ampla que englobou, ao mesmo tempo, avanços nos campos das artes (Da Vinci, Michelangelo), na filosofia (humanismo) e na anatomia (com a popularização da dissecação para estudo dos corpos humanos). O segundo Tesarac emergiu durante a Revolução Industrial. Os artesãos já não podiam competir com a indústria nascente, mas as empresas que surgiam quebravam diante da instabilidade da demanda. Só bem mais adiante surgiria a publicidade para informar ao consumidor quem vendia o quê. E se a era digital é considerada uma nova Revolução Industrial, é necessário esclarecer: já estamos numa era pós-digital. “Tecnologia é tudo aquilo que nasceu depois da gente. O que nasceu antes já não é mais tecnologia”, resume o publicitário Walter Longo, mentor de Estratégia e Inovação do Grupo Newcomm e presidente da agência Grey Brasil. “O mundo digital era caracterizado por um imenso choque, em que tudo era novo, inédito. As pessoas estavam maravilhadas e fascinadas por essa tecnologia”. Tal

qual os índios brasileiros diante dos espelhinhos trazidos pelos descobridores portugueses, compara Longo, nós nos maravilhamos com o advento do celular, por exemplo, trazendo a possibilidade de falar com qualquer pessoa em qualquer lugar. Essa fase está acabando. Num mundo em que o total de linhas móveis habilitadas é quase igual ao de habitantes – eram 6,8 bilhões de linhas no fim de 2013 –, as empresas que querem se manter relevantes precisam constantemente se reinventar, ao mesmo tempo em que aliam inovação e consistência.

Mudança na relação com o mundo Em nenhum outro período da História, as rupturas – sociais, culturais e econômicas – foram tão rápidas, abrangentes e profundas. Na indústria cultural, a transformação gerada pela transmissão de música na internet via streaming mostrou ser algo que ia muito além da evolução tecnológica: trouxe uma profunda mudança de como nos relacionamos com o mundo. “Estamos vivendo uma passagem da cultura da posse para a do acesso”, define o produtor musical Ticiano Paludo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Um dos primeiros modelos de negócio a ruir sob o peso das trocas de arquivos digitais pela Internet, ainda nos anos 90, o faturamento da indústria fonográfica voltou a crescer em 2012, depois de 13 anos, apesar de o aumento ter sido de apenas 0,2% em relação ao ano


Fotos: ShutterStock

Não é o maior nem o mais poderoso que vence, mas o mais adaptado”, defende o engenheiro Germán Quiroga, presidente da Nova Pontocom. Para ele, flexibilidade e capacidade de adaptação começam pela escolha de pessoas certas, capazes de criar uma cultura da inovação

anterior. Ainda é cedo para dizer se o novo modelo é viável. “No caso do streaming, por exemplo, o artista ganha centavos cada vez que a música é tocada. Poucos ganham alguma coisa e muitos ganham nada”, diz Paludo. Mesmo empresas habituadas a se reinventar foram atingidas pelo terremoto em curso, e o atual Tesarac provocou algumas baixas. A experiência de ter migrado da fabricação de botas de borracha, nos anos 60, para a liderança do mercado mundial de celulares, posto que ocupou durante 14 anos a partir da década de 90, não foi suficiente para a finlandesa Nokia manter a mesma energia nos novos tempos. Sua trajetória é uma lição de que antecipar a próxima tendência é exercício constante. Em 2007, quando a Apple lançou o iPhone, o principal modelo da Nokia era o N95, lembra Carlos Alberto Teixeira, o CAT, jornalista especializado que há 22 anos cobre a área de tecnologia. “Era um aparelho melhor que o primeiro iPhone, mas o celular da Apple tinha o teclado sensível ao toque, uma interface revolucionária”, recorda. Foi o suficiente para derrubar o gigante finlandês. A companhia tinha perdido sua visão de futuro e acabou engolida pela Microsoft. O desfecho dessa história e de outras similares traz à tona os desafios para as companhias se planejarem num ambiente instável, de mudanças tão velozes quanto intensas. A resposta pode estar nos conceitos do naturalista britânico Charles


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Darwin. “Não é o maior nem o mais poderoso que vence, mas o mais adaptado”, afirma o engenheiro Germán Quiroga, presidente da empresa de comércio eletrônico Nova Pontocom e integrante do Conselho de Administração da TOTVS, lembrando que Google e WhatsApp não foram pioneiras em seus segmentos, mas prevaleceram sobre a concorrência. Flexibilidade e capacidade de adaptação, na visão dele, começam pela escolha das pessoas certas, capazes de criar uma cultura da inovação. A lista de ingredientes inclui ainda um ambiente propício, um desafio claro e um sistema de meritocracia. Estar preparado é ter o produto certo, na hora certa, como fizeram Microsoft (com o sistema operacional MS-DOS) e a Apple (com a máquina pioneira Apple I). À medida que se sofistica, a tecnologia vai desaparecendo da nossa percepção, integrada aos produtos do cotidiano, como os dispositivos “vestíveis”, objetos – como óculos e relógios de pulso – computadorizados e conectados à internet. O mesmo vale para a área de software. “Cada vez mais a tecnologia é transparente”, diz Marilia Rocca, vice-presidente de Plataformas e Cloud da TOTVS. Com a penetração de computadores e aplicativos no nosso dia a dia, mesmo softwares corporativos precisaram se render ao

ECOLOGIA TA M BÉ M E M T ESE RAC Embora tenha um papel inquestionável no Tesarac em curso, a tecnologia é apenas uma das forças a alterar o equilíbrio global. No século XXI, os custos crescentes decorrentes das mudanças climáticas ameaçam as bases da economia mundial, assentadas na queima de combustíveis fósseis. Os níveis atuais de gases do efeito estufa na atmosfera já são suficientes para aumentar a temperatura média global em 2°C até o fim deste século, adverte Sergio Besserman Vianna, presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio de Janeiro. Além do custo em termos de vidas humanas, as catástrofes climáticas vão bagunçar a estrutura de preços relativos da economia planetária. “Tudo que emite gases do efeito estufa vai ficar mais caro, no contexto de um acordo climático para evitar o pior cenário”, avalia Besserman, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na falta de um acordo global sobre emissões até 2020, o resultado será um aumento da temperatura média em 4°C ou mais. Apesar dos sinais tímidos de algumas mudanças, como a popularização dos carros elétricos e das usinas de geração eólica, a luz no fim do túnel pode estar mais próxima do que se imagina. “Há pouco tempo li no ‘New York Times’ que 40% dos jovens norte-americanos entre 16 e 25 anos não têm e não querem ter carro. Isso seria inimaginável cinco anos atrás”, comemora Besserman.


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Sergio Besserman adverte que, com níveis atuais de emissão de gases, temperatura global pode subir em 2ºC até o fim do século

Foto: divulgação

40% dos jovens norte-americanos entre 16 e 25 anos não têm e não querem ter carro. Isso seria inimaginável cinco anos atrás”


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Hoje a tecnologia é fluida, permeia todas as atividades do indivíduo”, explica Marilia Rocca, vice-presidente de Plataformas e Cloud da TOTVS

Dispositivo vestível, como Google Glass, é tendência: tecnologia vai se tornando invisível

padrão estabelecido no mercado doméstico, adotando uma interface amigável e visualmente caprichada. “Hoje a tecnologia é fluida, permeia todas as atividades do indivíduo na companhia”, acrescenta Marilia. Numa época em que ascensão, apogeu e declínio de uma companhia podem se resumir a um período de um ou dois anos, qual o valor da experiência num mercado em constante mudança? O fato de uma empresa ser jovem tem pouco a ver com sua capacidade de inovação. Migrar de uma plataforma de negócios para outra implica questionar tudo aquilo que uma empresa sabe fazer de melhor, inclusive a forma como ganha dinheiro. É nessa hora que um sólido histórico de inovação pode fazer a diferença, garantindo produtos e serviços alinhados com as novíssimas necessidades dos clientes. Ao longo do século passado, a arte também foi varrida por sucessivas ondas de choque. A ausência de regras se cristalizou como regra, a ponto de o filósofo e escritor inglês Roger Scruton se perguntar por que expulsamos a beleza da poesia, da música e da arte. No documentário “Why beauty matters” (Porque a beleza importa), escrito por ele para a BBC escocesa, Scrutton mostra como a originalidade passou a desempenhar um papel central na arte moderna, mais preocupada em quebrar tabus morais do que com a estética. Também na evolução da tecnologia, a originalidade é central, mas não encerra todas as respostas.


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“Uma empresa centenária como a IBM, por exemplo, poderia ter morrido 20 vezes, se não soubesse inovar de forma consistente. É uma organização que dá exemplo para o mundo todo”, elogia Carlos Alberto Teixeira.

Wiki-tesarac, a era da colaboração O novo momento de ruptura é também marcado pela democratização da comunicação, com tal amplitude que põe em xeque o próprio conceito de jornalismo. Hoje a informação é estruturada e editada pelo próprio usuário e a notícia deixa de vir dos meios tradicionais. É o ‘wiki-tesarac’, como define o juiz e professor de Direito José Enzweiler. Autor do artigo “Reflexões acerca do sistema eleitoral brasileiro: a ‘tragédia democrática’ e o wiki-tesarac”, em que explora a defasagem do sistema eleitoral brasileiro, Enzweiler usa o exemplo de pintores pré-renascentistas para ilustrar como a ruptura com a ordem vigente não está restrita a questões técnicas. “Será que faltava técnica aos pintores antes do Renascimento para retratar uma cena em três dimensões? Na verdade, a terceira dimensão era a do infinito, estava reservada a Deus. A estrutura mental deles é que não permitia usar a perspectiva”, analisa o magistrado. Ao contrário dos outros dois grandes momentos de transformação porque passou a sociedade, desta vez a troca de informação se dá instantaneamente e praticamente sem fron-

teiras geográficas. As conexões globais aumentaram vertiginosamente a velocidade das relações e das decisões. “A sociedade atual está sofrendo de ansiedade crônica e generalizada por não conseguir lidar com a quantidade de opções e estímulos. Fomos acostumados a trabalhar com isso ou aquilo. E agora é isso mais aquilo”, sintetiza Ticiano Paludo, da PUC-RS. Na era dos zettabytes, unidade equivalente a um sextilhão (10 ²¹) de bytes, as soluções definitivas se tornam rarefeitas. Não por falta de mentes brilhantes, mas porque o mundo está ficando mais plural.

A sociedade sofre de ansiedade crônica e generalizada por não conseguir lidar com tantas opções e estilos. Fomos acostumados a trabalhar com isso ou aquilo. Agora é isso mais aquilo”, diz o professor Ticiano Paludo


O P I N I Ã O 26 por Nelson Berny Pires

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Aanatomia

daSaUde noBR ASIL Soluções inovadoras levam Tecnologia da Informação para o dia a dia dos médicos e revolucionam gestão e clínica

segmento de saúde tem, ainda hoje, a menor taxa de informatização do mundo. É também o setor com maior fragmentação na sua cadeia de valor. Por isso, acreditamos ser um setor com um longo caminho a ser percorrido e um terreno muito fértil a ser explorado, no qual o uso da Tecnologia da Informação trará imenso ganho para as organizações. Para muitas indústrias, ‘IT doesn’t matter’, como avaliou o célebre artigo de Nicholas Carr, publicado em maio de 2003 na ‘Harvard Business Review’. A TI não faz mais diferença, ou seja, informatizar a empresa não dá a ela mais performance, porque a tecnologia já está disseminada em sua forma de operar. No caso do setor de saúde, o cenário é o oposto: a importância da informatização é enorme e traz retorno significativo para as organizações, tornando-as mais competitivas. São várias as razões para que, no nosso entendimento, o segmento mereça grande atenção. Primeiramente, por ser um setor ainda muito baseado em papel, a adoção de soluções de back office (com ERP, BI e folha de pagamento) gera resultados importantes em redução de custos, controle de estoques e diminuição de desperdício; melhora o dia a dia dessas organizações e traz expressivo ganho de performance. Devido ao imenso volume de dados com o qual operam, temos observado inclusive um aumento no faturamento dessas empresas a partir do momento em que passam a ter todas as informações na ponta dos dedos. Em seguida, é importante ressaltar que o segmento de saúde tem um dos maiores volumes de leis e regulamentações. Por isso, além de se desdobrar para buscar eficácia operacional e dar atenção


constante à necessidade de inovação e renovação das empresas, os responsáveis por organizações de saúde ainda precisam abrir espaço em sua agenda para a gestão de compliance. Para o setor de saúde, esse tornou-se um fator crítico de sucesso, já que normas e procedimentos mudam mensalmente.

RESULTADO CLÍNICO O terceiro ponto é uma questão que viemos amadurecendo há alguns anos. As organizações de saúde têm sucesso quando conseguem oferecer ao público– alvo um real resultado clínico na sua operação. Para um hospital, por exemplo, um bom resultado clínico significa diminuir o tempo de permanência do paciente na unidade. A rápida recuperação diminui o risco de infecção hospitalar, deixa o leito livre para outra internação e aumenta a satisfação do paciente. Traduzindo esses aspectos em software e serviço, a TOTVS tem hoje um conjunto de soluções que fica, a cada dia, mais clínico, seja para reduzir o tempo de permanência no hospital ou para auxiliar na análise do perfil epidemiológico de um grupo de pacientes de um plano de saúde. Isso garante ações preventivas que impactam diretamente nos custos destas instituições. Dessa forma, nossas soluções têm abordagem cada vez mais médica, incorporando ao sistema aspectos decisórios do médico e da equipe assistencial. Elas ganharam características de conhecimento clínico-assistencial, para que o software dê suporte às decisões clínicas e ajude nas tomadas de decisões. O grande exemplo da segmentação possível das soluções de TI é o prontuário de segunda geração. Há alguns anos

identificamos a necessidade de criar uma nova geração de sistemas para armazenamento das informações clínicas, inclusive com novas interfaces com os profissionais de saúde. Criamos uma equipe composta por vários perfis de profissionais, alguns de TI da TOTVS e outros da área de saúde, em especial do Hospital do Coração. O HCor, localizado em SP e reconhecido dentro e fora do Brasil pelo seu padrão de excelência, é muito mais que um cliente, é um parceiro que muito vem contribuindo para a evolução das soluções de saúde da TOTVS, com a participação ativa

O segmento de saúde é um mercado com horizonte muito positivo, em que há margem para bastante inovação”

de profissionais altamente qualificados e processos de excelência mundial em gestão e operação hospitalar. Depois de muita pesquisa e estudo em conjunto, chegamos ao desenho de uma nova ferramenta para os profissionais de saúde. Em 2013, a TOTVS assinou a Aliança Estratégica em Saúde, a união de quatro grandes empresas com o objetivo de desenvolver soluções para o segmento de saúde, cada uma com sua competência. As empresas são TOTVS, Hospital Albert Einstein, Microsoft e Intel.

A Intel disponibilizou tablets para serem usados dentro do hospital. A Microsoft fez um investimento no projeto para colocar o software na nuvem e SQL Server, de forma que os sistemas estejam à disposição dos profissionais de saúde dentro e fora do hospital. A consultoria do Hospital Albert Einstein, por sua vez, orientou sobre a melhor forma de transpor para o sistema a rotina dos médicos. E a TOTVS evoluiu o software hospitalar e de prontuário eletrônico para encaixar essas peças, tanto no uso em nuvem quanto em tablets de última geração, com reconhecimento de voz e de escrita, atendendo aos processos sugeridos pelo hospital Albert Einstein. Ainda em 2014, o HCor estará em pleno uso desta ferramenta com as novas funcionalidades definidas de forma colaborativa.

indústria que gira bilhões A indústria de saúde é uma das maiores do mundo sob o ponto de vista econômico. Uma indústria que gira bilhões de dólares por ano e, ainda pouco informatizada, tem um grande percurso sob o ponto de gestão – na utilização de processos, aumento da produtividade, eficiência dos resultados clínicos. É uma das indústrias com maior investimento em pesquisa nos próximos anos: uma vida mais longa e com melhor qualidade é uma busca incessante do ser humano. Em nossa opinião, é um mercado com um horizonte muito positivo, tanto sob o ponto de vista de cadeia de valor, quanto na melhoria de performance. Há margem ainda para muita inovação e espaço para profissionais que auxiliam na evolução desse segmento. Os desafios são bem-vindos. Nelson Berny Pires é diretor do segmento de saúde da TOTVS


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Inovação

emnuvem Operações ‘cloud’ são a grande tendência do mercado atual e a TOTVS reforça equipe especializada, oferecendo mais agilidade de atualização, serviços de IaaS e migração mais simples por Suzana Liskauskas

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entrada de empresas de grande porte na nuvem é uma das mais fortes tendências do mercado de tecnologia deste ano. Em apenas seis meses, a TOTVS registrou um aumento de 50% do volume de clientes interessados em migrar para cloud com gerenciamento da empresa. A escolha é acertada: com alternativas eficientes e boa performance, o mercado hoje está mais maduro para a entrada de grandes organizações. “Já faz algum tempo que, se a empresa fizer as contas na ponta do lápis, conclui ser mais interessante migrar para cloud”, conta Marilia Rocca, vice-presidente de Plataformas e Cloud. Anos atrás, porém, havia uma preocupação forte de que isso representasse uma perda de performance ou de segurança. Hoje, as operações cloud têm evoluído muito rapidamente, com novas tecnologias e abordagens, possibilitando inclusive que alguns modelos de alta disponibilidade, flexibilidade e escalabilidade sejam permitidos com um custo acessível e de uma maneira muito rápida, fazendo com que questões como essas sejam totalmente superadas. Além disso, observa a vice-presidente, em nuvem os clientes também aferem ganhos no TCO (Total Cost of Ownership), já que passam a compartilhar mais recursos físicos e de software. Paralelamente, para atender à demanda crescente, a TOTVS está criando uma célula especial para atendimento de contas mais sofisticadas, dirigida a grandes empresas. “Estamos segmentando os clientes e oferecendo novas ofertas de serviços, que permitem uma customização maior, por exem-


plo, de acordo com as necessidades de governança, de TI e de segurança das organizações”, explica Marilia. Com isso gerentes ou analistas podem ficar inteiramente dedicados à conta.

Conjunto de serviços de IaaS As empresas de maior porte também têm necessidades específicas que serão atendidas por essas equipes. Ao tomar a decisão de colocar na nuvem algo tão de missão crítica quanto o ERP, também passa a ser interessante à organização contratar serviços de IaaS, infraestrutura como serviço na nuvem. Se o cliente opta por colocar o sistema transacional na nuvem, não há motivo para manter serviços de colaboração como, por exemplo, o e-mail ou os servidores de suporte a infraestrutura, tais como os servidores de diretório. “Não é preciso manter equipe especializada dentro da empresa, o time de TI local pode focar na atividade core de seu negócio”, avalia a vice-presidente. Hoje, a TOTVS já consegue oferecer um conjunto de ofertas satélites, ao redor do ERP, para que o cliente possa tomar a decisão de ir para nuvem, tendo como benefícios a redução dos custos operacionais e de manutenção, a diminuição de investimentos com CAPEX e a exclusão da preocupação com depreciação e garantias, para que o ganho tecnológico permita maior flexibili-

dade para crescer de acordo com a necessidade. “A TOTVS estruturou-se para cuidar de todas as necessidades do cliente nessa decisão de ir para cloud, não só na questão do ERP”, diz Marilia.

Migração mais fluida Outra preocupação da empresa é estruturar seu stack tecnológico – bloco de componentes tecnológicos de um ecossistema de TI – de forma que seja cada vez mais simples para o cliente que ainda mantém seu ERP migrar para a nuvem da TOTVS. As atualizações regulares vão permitir que a tomada de decisão de ir para a nuvem seja cada vez mais fluida e transparente, não uma operação de risco e disruptiva.

Com a migração para nuvem, o time de TI local fica livre para focar na atividade core”


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Características da nuvem Agilidade: com a cloud computing, o tempo para provisionar um servidor caiu de meses para minutos. Self-service: servidores podem ser provisionados pelos próprios desenvolvedores, sem necessidade de profissional de infraestrutura de TI. Simplicidade: computação em nuvem diminui a complexidade necessária para cuidar de TI. Elasticidade: um dos destaques da cloud computing é a possibilidade de aumentar ou diminuir a capacidade computacional (número de servidores, por exemplo) de acordo com o serviço.

Multi-tenância: os recursos providos pelo fornecedor de computação em nuvem são compartilhados entre diferentes softwares, internos ou externos. Custo adequado: como recursos compartilhados para vários consumidores do serviço, o custo fica mais acessível. Consumo: não é preciso comprar licença ou hardware. Paga-se conforme o consumo. Segurança: cloud computing é extremamente seguro, com muitos milhões investidos para proteger as informações armazenadas na nuvem.


O uso de data centers em cloud desponta como a grande tendência dos próximos dez anos”

Por tudo isso, a convicção da TOTVS é que - seja através de uma célula específica de atendimento com ofertas especializadas, expansão da equipe de pesquisa e desenvolvimento e sustentação da sua camada cloud - está preparada para os novos tempos.

Tendência para os próximos 10 anos Pesquisas do Gartner Group no Brasil, desde 2013, confirmam a evolução observada pela TOTVS. Segundo o estudo, o uso de data centers em cloud desponta como a grande tendência dos próximos dez anos. A tecnologia de cloud vem chamando a atenção do mercado desde 2006. O termo, porém, foi criado há quase 20 anos, num documento interno da empresa Compaq. Se a tendência entre empresas de grande porte é recente, a computação em nuvem já tinha se desenhado como uma alternativa para pequenas e médias empresas usufruírem dos benefícios da TI sem precisar investir em infraestrutura pesada. Além da redução de custos, a adoção do cloud computing – em nuvem pública, privada ou, no futuro, um misto das duas - traz uma série de benefícios, como escalabilidade, segurança, implantação ágil e a facilidade de liberar a empresa para focar no core business.

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at i t u d e e proatividade Cenário econômico em 2014 traz desafios para as empresas, que precisam redobrar esforços de produtividade e aproveitar oportunidades para continuar crescendo por Carlos Vasconcellos ilustração Kiko

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cenário econômico nacional traz grandes desafios em 2014. A projeção de crescimento do PIB é próxima à performance de 2013. A expectativa para as eleições e a suspensão de atividades para a Copa do Mundo também podem dar um freio nas iniciativas. Algumas empresas se mostram mais preocu­padas em se manter à tona das dificuldades do que em, efetiva­mente, crescer no ano de 2014. A atitude, no entanto, dizem os especialistas, deve ser a inversa: é hora de ser proativo e aproveitar as oportunidades que surgem no horizonte. No cenário atual, a projeção para o crescimento do PIB giraria em torno de 2% a 2,2%, aponta Alexandre Espírito Santo, economista da Simplific Pavarini e professor do IBMEC-RJ. Segundo ele, o consumo das famílias, que representa cerca de 60% do PIB, continua crescendo, ainda que num ritmo mais lento. A alta do dólar, por sua vez, vai reduzir a perda do PIB com importações. “Em 2013, essa perda foi de 0,7 ponto percentual, mas este ano deve ficar entre zero e 0,2 ponto”, diz o economista. Indústria e varejo registraram dados positivos nos primeiros meses do ano, apesar de o Brasil ainda crescer abaixo do seu potencial. Gestora de recursos da Coinvalores, Tatia-

ne Cruz projeta um crescimento de 2%, mantidas as atuais condições da economia, mas, assim como Espírito Santo, não descarta a possibilidade de deterioração das expectativas econômicas ao longo do período. Pesando tudo isso na balança, como as empresas podem se preparar para se defender neste cenário? Para o CFO da TOTVS, Alexandre Mafra, o momento exige que as empresas invistam mais do que nunca em produtividade. “Precisamos lembrar que a economia é cíclica e que o cenário não é feito apenas de problemas, mas também de oportunidades”, avalia. Mafra dá como exemplo a estratégia da própria TOTVS, que vem explorando 10 novos segmentos de negócios, com diferentes características de mercado. Desse modo, aproveitamse todas as oportunidades de crescimento, defende o CFO,


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que destaca também a atuação do segmento de pequenas e médias empresas, com crescimento superior ao PIB. Para Mafra, as organizações devem evitar uma postura simplesmente defensiva e o hábito de investir somente quando a economia passa por um bom momento. “É hora de olhar para dentro, e não apenas para o cenário econômico”, defende. “Os empresários não podem se limitar a reagir. É preciso agir proativamente, investindo em melhorias que permitam entregar produtos superiores e serviços mais adequados a seus clientes”, argumenta. Esse investimento, explica, precisa ser direcionado a ferramentas que permitam alavancar a produtividade. “Isso pode fazer toda a diferença entre sucumbir ou sobreviver mais tempo debaixo da linha d’água, quando a economia passa por maus momentos”, destaca.

OPORTUNIDADE NA ADVERSIDADE Se “produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo”, como defende o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, uma conjuntura econômica desfavorável pode até mesmo trazer oportunidades, ao contrário de impor limites. Para empresas bem preparadas, com estratégia e planejamento, momentos de crise podem gerar chances de se destacar da média do mercado. “Uma economia favorável leva todas as empresas para frente, diminuindo a diferença de resultados entre elas. Num momento de crise, ao contrário, só os mais sólidos sobrevivem e passam a ocupar os espaços deixados vagos”, pondera a economista e professora Melissa Wiemer, que também defende uma postura positiva das organizações no atual cenário nacional. “Há espaço para crescer”, defende. Esperar passivamente a melhora do cenário ou a solução das limitações logísticas, fiscais, trabalhistas ou de qualificação

Esperar passivamente a melhora do cenário ou a solução das limitações não é a melhor postura. O desafio é urgente”

de mão de obra do país não é a melhor solução. O desafio é urgente. Não há, no entanto, uma fórmula única para enfrentar o cenário de crise ou baixo crescimento. Cada segmento enfrenta desafios específicos de produtividade. “Porém, independentemente do setor, do negócio ou do tamanho da empresa, é preciso abordar o problema da produtividade de forma coordenada, em todas as suas vertentes: administrativa, econômica, de engenharia e de marketing”, diz o especialista em administração e gestão de empresas Luiz Carlos Cimatti. Com 35 anos de experiência em consultoria, ele observa que é preciso uma visão holística da produtividade. O que isso significa? “Que se a empresa tem um problema no setor de engenharia, não basta adotar uma solução criada pela engenharia com foco exclusivamente no setor. Com isso, ela até adota medidas racionais, mas dificilmente enxerga a produtividade do negócio como um todo”, explica.

meta da inflação Outro fator importante para o cenário econômico é a persistência da inflação acima do ideal, o que tem levado o governo a elevar novamente os juros. Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em março, o Banco Central elevou a taxa básica de juros da economia (Selic) para 10,75% e deu sinais de que o ciclo de alta ainda não se esgotou. “Há possibilidade de novas altas de 0,25 ponto nas próximas reuniões”, alerta Tatiane Cruz. A elevação dos juros, por sua vez, torna mais difícil a condição de crédito no varejo, que impulsionava o consumo, principal motor do PIB nos últimos anos, numa tendência que inibe o investimento. A reação das empresas americanas à crise de 2008, objeto de estudo do professor de Gestão em Vendas e colunista da Rádio CBN Cláudio Diogo, traz lições também para o Brasil. O professor, que se mudou para o estado americano da Carolina do Norte para estudar o mercado de lá, conta que o foco das empresas foi oferecer mais aos clientes. “Mudar a roupagem de produtos e serviços, levar novas experiências


Os empresários não podem se limitar a reagir. É preciso agir proativamente”, alerta CFO da TOTVS

aos consumidores, trazer mais serviços agregados foram algumas das soluções que deram certo”, defende Diogo. Luiz Carlos Cimatti acrescenta que todas as medidas de produtividade devem se refletir na precificação final dos produtos e serviços, e no custeio de cada processo. “Peter Drucker alerta que as horas paradas nas indústrias variavam de 20% a 50% do tempo total de operação: ou seja, é preciso atenção para não jogar metade de sua produtividade pela janela”, observa o consultor. “Além do controle adequado desse tempo, fazer a relação correta entre as horas paradas, os custos e os preços praticados traz uma visão global das necessidades da organização. São muitos os desafios.”

confiança em melhora Apesar do tom moderadamente pessimista, o cenário traçado pelos especialistas apresenta alguns fatores positivos para o Brasil. A realização da Copa do Mundo, por exemplo, vai atrair um grande número de turistas e movimentar diversos setores da economia, ainda que com efeito desigual. Acompanhando de perto as grandes empresas listadas na Bolsa de Valores, a gestora de recursos Tatiane Cruz ainda não percebe interrupção no fluxo de investimentos. “Os projetos em andamento continuam e ainda há um clima de confiança na melhora da economia”, diz Tatiane. “Especialmente pelas oportunidades em infraestrutura e pela força da classe média. Apesar de o crédito não crescer mais no mesmo ritmo, ele ainda cresce, e a inadimplência não saiu do controle. Além disso, com 5,8% de desocupação, o país ainda vive em pleno emprego”, pondera. Alexandre Espírito Santo, por sua vez, observa que os números do desemprego no país não refletem completamente o momento do mercado. “Temos mais jovens adiando a entrada no mercado de trabalho, temos o fenômeno do desalento, que são as pessoas que deixam de procurar emprego e saem da estatística”, enumera. “Tudo isso pode esconder um pouco a situação real do mercado de trabalho.”


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O

u

niverso

BIGDATA B

ig Data identifica a coleta e o processamento de grandes volumes de dados com base no uso de tecnologias digitais. Os dados são transformados em indicadores e relatórios. O conceito abrange velocidade, volume e variedade. Sua análise permite antecipar desejos, prever cenários e prescrever ações estratégicas.

Dados do mercado $ $ $ $

$

Finanças, telecom E

comércio são as que mais buscam soluções de Big Data

Fonte: TOTVS, Big Data Brasil, IDC/EMC, McKinsey Global Institute, Universidade do Texas

285 milhões

ec o ss i ste m a A plataforma em nuvem possibilita diversos processos além da armazenagem: atribuição de tags, indexação, cópia, segurança e compartilhamento.

Governança

de dólares analítica

captura e transmissão

interface e

Captura: as relações mediadas por aparatos digitais geram dados que representam esses movimentos. Transmissão: internet e tecnologia de comunicação móvel transmitem dados para plataforma de armazenamento

Visualização O resultado da analítica é um produto de design, entregue em relatórios de fácil visualização ou em interfaces tecnológicas como aplicativos.

É o coração do ecossistema. Trata-se do uso de ferramentas e métodos para compreender, comunicar e usar de forma inteligente os dados digitais. A analítica pode ser diagnóstica, descritiva ou preditiva. Esta última só pode ser realizada em Big Data, porque exige grande volume, variedade e velocidade nos dados. Também por isso é feita em nuvem

movimentou o mercado de Big Data no Brasil em 2013

46% é o crescimento do mercado de Big Data entre

2012 e 2016

empoderamento Em Big Data é possível realizar todos os tipos de análise, inclusive a preditiva, que é a maior responsável pelo empoderamento do tomador de decisão. Isso porque permite um vislumbre do futuro, uma visão antecipada do cenário que está por vir.

geração de dados O fato gerador de dados digitais são as relações que pessoas, organizações, bens de consumo e demais elementos da sociedade estabelecem uns com os outros.

tomada de decisão Etapa de decisão ganha mais agilidade, acuidade e visão detalhada do mercado

Em 2013, mundialmente as soluções de hardware, software e serviços voltadas para análise das informações geraram uma receita de

onzebilhões de

d ó lares


QUANTIDADE DE NOVOS DADOS ARMAZENADOS A CADA ANO EM TODO O MUNDO em petabytes

empregos

Europa

big data

>2.000

>3.500

>250

Índia

América do Norte >200

>50

Oriente Médio e África

>400

Japão

>50

América Latina

Nos EUA, em 2018, serão necessários:

China

140 a190 mil 1,5 MILHÃO

de

profissionais capazes de analisar dados

>300

Oceania

de gerentes

2000

800 Terabytes

2006

160 Exabytes

O tamanho

1.227 Exabytes

2010

4 Zettabytes

2013

o volume de dados deve crescer 9 vezes até 2020

2020

de onde vêm os dados Twitter 1 bilhão de tuítes/dia = 80 terabytes Boeing 1 vôo transatlântico = 640 terabytes YouTube 100 horas vídeo/min. = 72.000 terabytes WallMart 1 milhão de transações/hr = 2,5 petabytes

big data aumenta a produtividade 50%

Vendas por empregado

40% 30%

Oportunidade de negócios

23%

dos dados deste universo Big Data seriam úteis caso fossem identificados e analisados

os dados disponíveis utilizados pelas empresas 10% desãotodos

20% 10% 0%

35 Zettabytes

jo os ão eo vare nsultoria r te aér aliment nstruç co po co s n a tr

aço omóvel ditorial dústria icação e in omun au t c tele


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TOTVS investe na empresa americana GoodData e traz para os clientes soluções de Business Analytics em prazo mais curto e com custo menor por Suzana Liskauskas

BIG data

GOOd


D

edicada a produzir alimentos que precisam de muita especialização, a Prodiet Nutrição Clínica, empresa sediada em Curitiba e com atuação internacional, buscava uma solução no mercado que oferecesse a seus gestores a oportunidade de montar sofisticadas análises de dados a partir das informações armazenadas em seus sistemas de gestão. A solução sob medida chegou no início deste ano. A Prodiet é a primeira cliente da TOTVS a usar o TOTVS Smart Analytics. Criada em parceria com a americana GoodData, a solução permite acesso ágil a dashboards de gestão, com rápida implantação. A partir do investimento da TOTVS na GoodData, realizado em junho de 2013, os clientes da TOTVS passaram a ter acesso ao estado da arte em termos de plataforma de inteligência de negócios e Big Data. A TOTVS investiu 22 milhões de dólares na GoodData, empresa provedora de aplicativos e plataforma de analytics em nuvem, com sede em São Francisco, na Califórnia.

TOT V S S M A RT A N A LY T I C S Desenvolvido em parceria com a americana GoodData, o produto permite acesso ágil a dashboards de gestão, com expressivos benefícios, como rápida implantação e custo competitivo. Por ser cloud, dispensa investimentos em infraestrutura. O TOTVS Smart Analytics tem foco na experiência do usuário.

O negócio foi a conclusão de uma busca da TOTVS para tornar seu portfolio ainda mais atraente, sobretudo, na área de BA (Business Analytics) e cloud. A parceria deu à TOTVS a exclusividade sobre as soluções da GoodData na América Latina.

Funções mais rápidas e conectadas Mateus Pestana, responsável na TOTVS pela parceria com a GoodData, explica que a empresa procurava aumentar seu portfolio, a partir de investimentos internacionais, em parceiros que trabalhassem no segmento de BA e cloud. “A GoodData é inovadora porque vem endereçar uma questão que está surgindo nos últimos tempos: ter um BA mais ágil e mais simples para os nossos clientes. Nossa ferramenta agora entrega para o cliente funções mais rápidas, mais diretas, mais conectadas, enfim, mais cloud”, conta Pestana. De acordo com o executivo da TOTVS, historicamente, os projetos de BA apresentam complexidade alta e demandam

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milhões de dólares

investimento na GoodData


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Divulgação

tempo para apresentar resultados, já que as ferramentas precisam lidar e normatizar bases de dados de diferentes sistemas. A quebra de paradigma do TOTVS Smart Analytics é possibilitar que uma empresa desenvolva o BA com baixo investimento e em muito menos tempo. “A TOTVS e a GoodData aliaram as funcionalidades do BA à nuvem, tornando possível que várias empresas utilizem a estrutura com um custo menor”, explica Pestana. Diretor administrativo e de comércio exterior da Prodiet Nutrição Clínica, Gabriel Tortelli conta que há muito tempo buscava uma solução de BA que oferecesse mais mobilidade. A meta era que os gestores fora da área de TI conseguissem aproveitar as informações da base de dados para pensar em análises mais sofisticadas.

Entrevista_R o m a n

S t a n e k

Natural da República Tcheca, Roman Stanek é o CEO e fundador da start up GoodData, criada em 2007 em São Francisco, na Califórnia (EUA). Apesar de jovem, ele é um veterano em tecnologia, com mais de duas décadas de experiência em TI, que incluem a fundação e o comando da NetBeans, principal ambiente de desenvolvimento Java. A empresa foi adquirida pela Sun Microsystems em 1999. No currículo de Stanek, também está a criação do Systinet, uma plataforma de governança SOA líder (adquirida pela Mercury Interactive, e mais tarde pela Hewlett Packard, em 2006). O europeu com velocidade para criar e pensar em inovação tecnológica fala de suas expectativas com relação à parceria com a TOTVS.

Qual a sua opinião sobre o mercado de BA e cloud no Brasil? O Brasil é uma economia que cresce rapidamente e tem a capacidade única de incorporar rapidamente as novas tecnologias. O mercado brasileiro é uma grande oportunidade para que líderes, como a TOTVS, deem um grande salto em soluções que rodam na nuvem. Além disso, uma vez que cloud é uma solução de alcance global, permite ao Brasil, e consequentemente às empresas brasileiras, acessar os mercados internacionais. Com a nuvem, as empresas do mercado de BA no Brasil podem crescer mais rapidamente que a economia local, com escala e flexibilidade infinitas. O que a parceria com a TOTVS significa para a GoodData? Para a GoodData, a TOTVS é um parceiro que não é apenas líder em um mercado muito importante e em rápida expansão. Vemos a TOTVS como um parceiro com quem compartilhamos nossa visão para o futuro. A TOTVS é uma marca forte no Brasil e que tende a crescer muito nos EUA, uma vez que rapidamente entrou para o time do BA baseado em nuvem. A GoodData e a TOTVS têm hoje uma estreita colaboração, que se materializa no entrosamento entre


Interface que permite customização

Divulgação

“Somos uma empresa de médio porte e nossa atividade principal não está na área de TI. Soluções mais estruturadas de BA exigem equipamentos de custo elevado, o que não estava no nosso planejamento. Como clientes TOTVS, ficamos felizes ao saber da parceria. Havíamos pesquisado a solução da GoodData e nos pareceu a mais adequada para nossas necessidades”, detalha Tortelli. Segundo ele, o diferencial do TOTVS Smart Analytics é oferecer flexibilidade e agilidade aos gestores. Além disso, a interface amigável permite customização. “Com essa ferramenta, temos a chance de explorar melhor os dados armazenados, com análises mais sofisticadas. A ferramenta é tão amigável que permite à maioria dos nossos gestores, com boa experiência analítica, fazer encomendas mais precisas à área de TI”, elogia Tortellli.

as respectivas equipes de desenvolvimento e gestão de produtos. Este alinhamento nos permite ser altamente colaborativo e desenvolver produtos rapidamente. Já estamos trabalhando em conjunto para os novos produtos, que serão lançados em breve. Quais são as perspectivas da GoodData para o mercado brasileiro e da América Latina, uma vez que a TOTVS se tornou um representante exclusivo nesses mercados? Fomos surpreendidos positivamente pelo compromisso da TOTVS com a inovação e a forma colaborativa como atua. A posição da TOTVS é um sinal de que os mercados brasileiro e latino-americano vão continuar a crescer e se beneficiar das novas tecnologias. Qual é o próximo grande desafio para GoodData? As empresas hoje só conseguem analisar cerca de 10% de todos os dados disponíveis. Com a evolução das soluções da GoodData, nosso objetivo é ajudar os clientes a acessar mais facilmente e usar todos os seus dados para obter novas vantagens competitivas.

Sede da GoodData em São Francisco tem ambiente informal e que estimula criatividade


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JOGO DE CINTURA A Copa do Mundo de Futebol espelha defeitos e qualidades da sociedade brasileira, onde a criatividade, a alegria e o improviso ainda se impõem sobre o planejamento e a capacidade de organização por Paulo Mussoi foto Ricardo Oliveira/Tyba


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m menino e uma bola. Não precisa de time, não precisa de trave, não precisa nem de um campo. Mesmo improvisado, sobre as águas de um rio qualquer, futebol no Brasil é como a foto que ilustra a página anterior: sinônimo de beleza, plasticidade, talento e improviso. E seu ícone maior, a bola, exprime com perfeição, sem arestas, esse conceito etéreo do “ser brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”, entoado pela torcida mundo afora. Foi graças a essa intimidade inegável com a bola, e nada mais, que o Brasil aprendeu a se impor no cenário internacional do futebol. O esporte mais popular do mundo, que movimenta bilhões dentro e fora das quatro linhas, há 60 anos se curva ante ao talento do brasileiro para o mais simples e importante, que é ludibriar o adversário e empurrar a pelota mais vezes para dentro do gol. Por todas essas décadas, contentamo-nos com esse domínio abstrato. No imaginário do país do futebol, administrar o lado “difícil” do esporte – o da organização, do planejamento e dos altos investimentos – seria uma espécie de “prêmio de consolação” que ficava para aqueles países menos talentosos com a bola nos pés. De 20 anos para cá, porém, essa percepção começou a mudar. A economia fortalecida e a nova dimensão política e econômica do país aos olhos do mundo estimularam o governo e a iniciativa privada brasileiros a investir no esforço de trazer a Copa para o país. Depois de três tentativas fracassadas (para as Copas de 94, 98 e 2006), em 2007 o projeto brasileiro de Copa do Mundo conquistou a FIFA. Finalmente, poderíamos não apenas vencer, mas vencer no nosso quintal, diante dos corações da nossa torcida extasiada. E, de quebra, extirpar o trauma de 1950, quando o país sediou a Copa de um mundo destruído pela guerra e ainda assim perdeu em casa. Mas esse novo e ousado objetivo de mostrar ao planeta que o Brasil amadureceu também na administração e no planejamento do “beautiful game” tem se mostrado, na prática, muito difícil. Mais até que fazer gol do meio de campo. Como aquele que nem Pelé fez, contra a Tchecoslováquia, em 1970, no México.

ATRASOS EM SÉRIE

Maracanã padrão FIFA: criatividade dribla falta de estrutura

Ainda em meados de 2013, qualquer um que acompanhasse os preparativos do Brasil para a Copa de 2014 percebia que o país enfrentaria sérias dificuldades para cumprir o caderno de encargos da FIFA, que estabeleceu – sete anos antes tudo o que o país precisava fazer para receber o evento.


O improviso que faz o menino jogar bola sobre as águas e o craque chegar ao gol pode ser um trunfo para viabilizar a Copa” O sucesso da Copa depende do resultado dentro de campo Fotos: ShutterStock

Nem mesmo no campo estritamente esportivo o país cumpriu à risca suas obrigações de país-anfitrião. Em São Paulo, o estádio do Itaquerão, escalado para sediar o jogo de abertura, teve sua inauguração marcada para menos de um mês antes da partida. O mesmo ocorreu com a Arena Pantanal, em Cuiabá, e a Arena da Baixada, em Curitiba. Para se ter uma ideia do extraordinário dessa situação frente ao “padrão FIFA” de organização, nas duas Copas anteriores os estádios dos jogos de abertura – o Soccer City, em Johanesburgo, e o Allianz Arena, em Munique – ficaram prontos mais de um ano antes. No terreno financeiro, as previsões também se mostraram irreais: os investimentos para o evento se transformaram num novelo de financiamentos públicos e os orçamentos extrapolados se acumulam. No campo estrutural, as deficiências de planejamento são ainda maiores. Das mais de 40 obras de mobilidade urbana previstas para as 12 cidades-sede, apenas cinco foram concluídas a tempo. Um resultado bem aquém do esperado para a “Copa das Copas”. Razões para isso não faltam. À inexperiência de gestores brasileiros com grandes eventos, somam-se as dificuldades que exigências jurídicas, fiscais, ambientais e indenizatórias de todas as matizes impõem à implementação de projetos de grande escala no Brasil.

entusiasmo do torcedor Mas será que todos esses obstáculos de planejamento, e o improviso daí resultante, farão da Copa no Brasil um fracasso aos olhos do mundo? Não necessariamente. “Sem dúvida, o histórico recente do país, em especial os longos anos de inflação descontrolada que vivemos, criou uma geração com extrema dificuldade para pensar no longo prazo. Mas um evento relacionado

a futebol vai apenas espelhar o que é a nossa sociedade”, prevê o consultor de gestão e marketing esportivo Amir Somoggi, para quem a falta de cultura de planejamento não é exclusiva do esporte, mas uma característica brasileira, com a qual, de uma forma ou de outra, o país aprendeu a lidar. Em outras palavras: o improviso que faz o menino jogar bola sobre as águas e o craque brasileiro chegar ao gol como nenhum outro também pode ter sido um trunfo para a viabilização da Copa brasileira. Feriados nos dias de jogos, priorização de voos, corredores expressos para veículos credenciados e instalação de estruturas provisórias minimizam o impacto das deficiências de infraestrutura. A característica do improviso da Copa no Brasil flexibilizou até mesmo as rigorosas exigências da FIFA. A entidade remarcou visitas de inspeção e atrasou datas de entrega de fases de obras. Até Jérôme Valcke, o todo-poderoso secretário-geral da FIFA, fala com naturalidade sobre a instalação de tendas e outras soluções temporárias para abrigar imprensa, voluntários e torcedores VIP no Itaquerão. O entusiasmo do torcedor – orgulhoso e ansioso por uma Copa no Brasil há mais de 60 anos – é outro aliado contra a precariedade que será encontrada nos acessos e instalações dos estádios em praticamente todas as cidades-sede. Mas o trunfo principal pode estar mesmo é dentro do campo de jogo. Na Copa do país do futebol, o resultado da competição também vai ser determinante para a percepção de sucesso ou fracasso do evento. O delírio por uma vitória brasileira, com a seleção sagrando-se hexacampeã mundial em pleno Maracanã, tem poder de apaziguar as constatações negativas e enfraquecer as críticas à organização. Já uma derrota – ainda mais se prematura – turvaria os humores de maneira radical. É a constatação de um padrão histórico, agora em grande escala: o futuro da pátria de chuteiras está, mais do que nunca, nos pés do escrete canarinho.


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THE m a k ers Tecnologias como a impressão 3D diminuem a distância entre inventor e empreendedor, no que já é chamado de Nova Revolução Industrial


por Gabriela Mafort fotos Anna Carolina Negri

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Ricardo Cavallini e Alon Sochaczewski são os idealizadores do movimento Makers Brasil: impressora 3D materializa o slogan ‘Faça você mesmo’

slogan da fábrica anuncia os novos tempos: “Produtos feitos por você”. Ali, o “funcionário” produz o portaguardanapo de design moderno que ele mesmo projetou. Pode também comercializá-lo com o pessoal do bairro, que já conhece sua veia de inventor, e também globalmente, com o auxílio de um nickname internacional: Youngster. Nesta gigantesca “empresa”, ele tem a companhia de cerca de 15 mil pessoas que sempre sonharam fabricar algo, mas eram impedidos pelos altos custos de produção combinados a um certo isolamento. Agora basta uma conexão com a internet: dias depois o produto é real e pode ainda ser aperfeiçoado minuto a minuto, com a ajuda de uma comunidade online atuante e voluntária. Bem-vindo a um novo modelo de organização industrial do futuro, que não está congelado em uma cena de ficção científica. A fábrica acima já existe, fica em Diadema e, comandada pela força-motriz das impressoras 3-D, é um exemplo da chegada do movimento Makers ao Brasil. Cada vez mais fortes nos Estados Unidos e na Europa, os Makers são a materialização do espírito ‘Faça Você Mesmo’, que se tornou viável pelas tecnologias de prototipagem rápida, com impressoras de objetos, cortadores a laser e impressão por jato de tinta, entre outras. “Daqui a algum tempo, as pessoas vão ter uma impressora dessas em casa e elas mesmas farão seus produtos. Quebrou um utensílio doméstico? O próprio consumidor vai produzir a peça em casa, baixando o modelo do site e imprimindo o objeto. Isso vai mudar bastante a forma de consumo das pessoas e a forma como as empresas trabalham”, prevê Vinicius Dourado, gerente da fábrica de Diadema, a Imprima 3D. A empresa de Dourado é expoente desta corrente internacional e parceira do Makers Brasil, movimento idealizado pelos empresários Alon Sochaczewski e Ricardo Cavallini com o ob-


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Wikimedia Commons

jetivo de difundir a tendência por meio de uma plataforma de conteúdo, educação e consultoria. A dupla vem de projetos pioneiros e de muito sucesso na web, que ajudaram a fortalecer a cultura digital no país. “A impressão 3D não é algo novo, mas é tão maravilhosa que parece magia. Mas o principal não será uma tecnologia em si, mas o ecossistema. É importante lembrar que Facebook, Amazon, Google e outros gigantes da internet não teriam acontecido sem ferramentas gratuitas, que podiam ser modificadas. O mesmo vai acontecer com a nova revolução industrial”, enfatiza Sochaczewski. Essa Nova Revolução Industrial é preconizada no mais recente livro de Chris Anderson, autor de “A Cauda Longa” e “Free: o futuro dos preços”. Em “Makers, a Nova Revolução Industrial”, o mago da revolução do software e da internet, ou “mundo dos bits”, agora se volta para o que chama de “mundo dos átomos”, o mundo real. Ele compara as máquinas de prototipagem aos computadores pessoais que, conectados pela internet, promoveram mudanças radicais no comportamento humano e no mundo empresarial nas últimas décadas. Agora, segundo Anderson, é a vez dos Makers. “Já vimos o que o modelo da web, de inovação democratizada, fez para impulsionar o empreendedorismo e promover o crescimento econômico. Apenas imagine o que um modelo semelhante poderia fazer na eco-

Tendências de escritório de design agora se estendem aos consumidores”, diz Anderson

nomia mais ampla das coisas reais. Hoje a distância entre inventor e empreendedor foi encurtada ou mesmo deixou de existir”, escreve.

EMPRESAS ATENTAS ao consumidor maker No horizonte dos próximos 10 anos, com o qual trabalha Anderson no livro, a indústria vai se abrir mais e mais. A essência do livro gira em torno do caminho que o setor está fazendo para se tornar digital. “Os objetos físicos agora começam em telas e esses projetos podem ser compartilhados online como arquivos. Esta tendência, antes restrita aos escritórios de desenho industrial, agora se estendeu aos consumidores,” escreve Anderson. As empresas se antecipam aos novos tempos. Em março, a Lego – segunda maior fabricante de brinquedos do mundo em vendas e a maior em lucro – anunciou que estuda a possibilidade de os consumidores fazerem suas próprias peças e bonecos a partir de impressoras 3D. “É uma tecnologia fascinante e certamente abre várias novas portas. Estamos estudando isso muito intensamente e monitorando, procurando saber que oportunidades potenciais há para os consumidores”, disse o diretor financeiro da empresa, John Goodwin, ao jornal Financial Times. À frente do FabLab Brasil, Heloísa Neves concorda que as empresas precisam mesmo agir rapidamente. “A estratégia maker já começa a possibilitar uma nova forma de conceber o produto, de trabalhar com protótipos, com modelos mais colaborativos, mais rápidos e mais baratos,” pontua. Os FabLabs são laboratórios de fabricação, onde milhares de inventores fabricam os mais variados produtos, na maioria das vezes de forma colaborativa. Hoje existem quase mil “makerspaces” espalhados pelo mundo. Muitos são formados por comunidades locais, em espaços físicos. Outros funcionam apenas como mercado global de makers, como a americana Etsy, que tem cerca de

O escritor Chris Anderson fala dos Makers em seu novo livro: para ele, mudança no mundo real será tão profunda quanto foi a do universo digital


Divulgação

Alunos criam seus próprios objetos nas aulas do Laboratório de Fabricação (FabLab) da Escola de Educação da Universidade de Stanford, no Vale do Silício

um milhão de vendedores ativos. Em 2012, eles comercializaram quase 900 milhões de dólares.

Menos hierarquia nO TRABALHO Chris Anderson prevê que no futuro o papel das empresas menores vai ser maior e que um negócio será, ao mesmo tempo, pequeno e global, artesanal e inovador. “Acima de tudo criando o tipo de produto que não se encaixa na economia de massa do velho modelo”, destaca. Maker de carteirinha, ele mesmo surfa neste mar com uma companhia multimilionária de robótica aérea, um hobby que se transformou primeiramente numa pequena empresa, ao lado de um sócio que conheceu numa comunidade da internet. A 3D Robotics tem apenas 20 funcionários fixos e outros 100 são colaboradores virtuais apaixonados pelo tema. O futurólogo Jean Paul Jacob, pesquisador em residência da Universidade da Califórnia, em Berkeley, avalia que, muito por conta do aumento da participação dos consumidores nas empresas, existirão cada vez menos níveis hierárquicos. “O trabalho vai mudar. É o que eu chamo de “para baixo, volver!”, com cada vez menos níveis de funções. Os funcionários serão mais independentes e terão mais liberdade para mudar de departamento. Uma companhia que hoje quer se preparar para o futuro deve integrar-se mais e mais com seu cliente, co-criador do processo de inovação, e ir na direção de dar mais mobilidade e autonomia aos funcionários,” afirma Jacob.

PRO F ES S O R D E STA N F O RD pre V Ê u m a RE VO LU Ç ão n a ed u c aç ão Nos Estados Unidos, o governo Obama abraçou a causa e retirou burocracias para que empresas de pequeno porte tivessem acesso a financiamento via crowdfunding, sem cumprir a complexa contabilidade do mercado tradicional. Políticas públicas como essa têm efeitos exponenciais. “Dois alunos meus acabam de criar um protótipo de um kit de eletrônica para escolas e levantaram 110 mil dólares no Kickstarter em um mês. Os protótipos custaram 5 mil dólares, feitos com fabricação digital. Há 10 anos, teriam custado 50 mil dólares”, exemplifica Paulo Blikstein, professor brasileiro que está à frente do FabLab da Escola de Educação da Universidade de Stanford, no coração do Vale do Silício, onde a cultura maker ferve. Blikstein é um defensor dos Laboratórios de Fabricação como ferramenta de educação e vê neles um efeito de motivação socialmente transformador. Quando olha para o Brasil, lembra que é necessário fazer o dever de casa, se quisermos ter um papel de liderança nesta Nova Revolução Industrial: “Precisamos rapidamente adaptar a legislação para fazer essa revolução explodir. Não podemos querer viver na economia do século XXI com uma burocracia do século XIX. Essas novas formas de criação e comercialização de produtos requerem uma infraestrutura legal e econômica diferente, e o país que fizer isso mais rapidamente terá enormes vantagens competitivas”.


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PAPEL com os dias CONTADOS

TOTVS participou das discussões sobre o eSocial, sistema digital que unifica acesso às informações trabalhistas e previdenciárias. Mudanças começam em maio por Carlos Vasconcellos ilustração Daniel Razabone

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deus, formulários para a Previdência Social. Adeus, documentos de papel para o Ministério do Trabalho, Caixa Econômica, Receita Federal. Está previsto para entrar em vigor a partir de maio o sistema de escrituração digital trabalhista e previdenciária, o eSocial. O sistema vai unificar o envio de todas as informações do empregador sobre seus empregados em uma base de dados a ser compartilhada pelos diferentes órgãos do governo que fiscalizam ou recolhem essas contribuições. Para o advogado Fabrício Trindade de Sousa, sócio do escritório Corrêa da Veiga Advogados, especializado em Direito Trabalhista, o sistema vai trazer benefícios no médio, e mesmo no curto, prazo para empresas e empregados. “Apesar do esforço que será necessário para a adaptação das empresas, o eSocial será positivo”, avalia. Segundo Sousa, para o empregado, o sistema permitirá acesso a toda informação sobre sua vida laboral em um único local. “Hoje, ele precisa acessar vários órgãos, fazer agendamento prévio em outros”, diz. “Com o e-Social, a relação com o empregador fica mais transparente.”

Vale lembrar, destaca Souza, que além dos órgãos autorizados, só o próprio empregado e a empresa terão acesso aos dados. “O sistema garante o sigilo”, diz.

Menos burocracia Já para as empresas, continua Souza, o eSocial vai representar uma redução na burocracia. “Agora tudo será online, feito em um só lugar. E não foi criada nenhuma exigência além das que já existem”, explica o advogado. Ele também ressalta que o sistema servirá como uma defesa adicional para as empresas em caso de litígios trabalhistas de má fé. “Isso se chama ‘presunção favorável’ e já acontece hoje com as informações fornecidas de forma correta pelas empresas aos órgãos públicos”, esclarece Souza. “Em nosso entendimento, a ferramenta do eSocial reforça essa presunção em favor do empregador se ele de fato estiver agindo corretamente, reforçando sua defesa contra reclamações injustas.” O eSocial é mais uma etapa do Sped (Sistema Público de Escrituração Digital), que vem sendo implantado no país desde 2006. De lá para cá, o projeto implantou a Nota Fiscal Eletrônica


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e o Sped Contábil. Convidada por um de seus clientes a acompanhar o primeiro projeto-piloto do Sped, ainda na fase contábil, a TOTVS vem participando desde o início das discussões sobre escrituração digital no país.

Pioneirismo As primeiras articulações para a implantação do eSocial começaram em 2009, conta o vice-presidente de Sistemas e Segmentos da TOTVS, Gilsinei Hansen. “Também temos participado de reuniões técnicas com o time da SERPRO, no âmbito do projeto”, acrescenta. Esse acompanhamento tem permitido à empresa manter suas soluções sintonizadas com o avanço do eSocial. Qualquer alteração no sistema ou em suas interfaces é imediatamente comunicada aos clientes pela rede social corporativa da TOTVS. “A comunicação aos clientes leva no máximo uma semana, a partir da decisão do Fisco”, diz Hansen. A informação é atualizada o mais rapidamente possível pela Consultoria Tributária de Segmentos da TOTVS (ces.consultoriatributaria@totvs.com.br), em todos os canais, o que inclui um hotsite dedicado ao eSocial. “Desse modo, o cliente pode acompanhar atentamente a mudança.”

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Com o eSocial, as empresas terão em um só ambiente: Folha de pagamento Digital; Folha de pagamento Digital Simplificada para pequenas empresas (Microempreendedor Individual e Simples Nacional, por exemplo); Registro de Eventos Trabalhistas (RET); Banco de Dados com “Visão Empregado” (será possível enxergar as informações do histórico do empregado, bem como informações de sua remuneração – contracheques ou holerites); DCTF Web; Portal do Trabalhador (Ambiente onde os relatórios poderão ser gerados em relação às informações enviadas pelo e-Social).

Essas informações serão consolidadas em um banco de dados único, compartilhado pela Receita Federal, Previdência Social, Ministério do Trabalho e Caixa Econômica Federal”

Na prática, o sistema vai enviar todas as informações sobre cada empregado da empresa – como licença médica, depósito do FGTS, concessão de férias, contribuição ao INSS, admissão e demissão – em um único formulário digital. Essas informações serão consolidadas em um banco de dados único, compartilhado pela Receita Federal, Previdência Social, Ministério do Trabalho e Caixa Econômica Federal. “Em uma segunda fase, a DCTF web (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais) será incorporada ao ambiente do eSocial que, por fim, emitirá as guias para o pagamento – ou restituição – das obrigações tributárias, previdenciárias ou trabalhistas”, explica o executivo. Renata Seldin, gerente sênior da TOTVS Consulting, observa que as empresas que não se prepararam adequadamente para a chegada do eSocial podem ter problemas. “É preciso juntar muita informação que normalmente ficava dispersa na empresa, e quem não estiver com a casa em ordem pode ter dificuldades”, alerta. Renata explica que o trabalho de consultoria da TOTVS permite que as empresas melhorem seus processos e organizem suas informações, para que a transição para o eSocial seja suave e sem traumas. “Nós começamos com um amplo diagnóstico dos processos do cliente”, diz.


C r onog r a m a * eSocial Tipos de empregador

Prazo para cadastro de eventos iniciais e tabelas

Prazo para transmissão folha de pagamento e encargos trabalhistas

Substituição da SEFIP a partir de

Produtor rural, pessoa física e segurado especial

30/04/2014

06/06/2014 FOLHA MAIO/2014

MAIO

Empresas tributadas pelo lucro real

30/06/2014

07/08/2014 FOLHA JULHO/2014

NOVEMBRO

Empresas tributadas pelo lucro presumido, entidades imunes e isentas, optantes pelo simples nacional, micro empreendedor individual (MEI), contribuinte individual equiparado à empresa e outros equiparados a empresa

30/11/2014

05/12/2014 FOLHA NOVEMBRO/2014

JANEIRO/2015

Órgãos da administração direta da União, estados, Distrito Federal e munícipios, autarquias e fundações

31/01/2015

06/02/2015 FOLHA JANEIRO/2015

JANEIRO/2015

*Sujeito a alterações

Atenção aos prazos O processo de consultoria inclui entrevistas não apenas na área de Pessoal ou de Recursos Humanos, mas todos os departamentos que são afetados pelo eSocial, como Financeiro, Jurídico ou de Segurança e Medicina do Trabalho. “Assim temos uma análise de situação que permite localizar onde estão todas as informações necessárias”, diz Renata. Com isso, a consultoria testa a qualidade dos dados: se faltam informações, se estão corretas, se há duplicidade ou erros. “Muitas vezes, esses dados estão em bancos de dados ou sistemas diferentes, sem integração entre si”, destaca Renata. A partir desse diagnóstico, a TOTVS Consulting redesenha processos e propõe soluções, que podem usar ou não os pro-

dutos TOTVS. “A fase de análise dura em média dois meses. Já a implantação de soluções dependerá do resultado do diagnóstico”, diz Renata. “Pelo prazo apertado, quem ainda não começou a se adaptar à nova realidade deve evitar mudanças radicais nos seus sistemas de TI.” Na avaliação de Renata, o segmento de pequenas e microempresas é o menos preparado para o eSocial. “Os empresários parecem contar com adiamentos no cronograma”, diz a especialista. “É certo que a implantação já foi adiada duas vezes anteriormente, mas as empresas devem aproveitar esse tempo, pois o trabalho a fazer é grande e o eSocial será uma realidade cedo ou tarde”, conclui.


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ca d a

um faz sua parte

Por que o investimento social das empresas é importante para o país por Carlos Vasconcellos

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realização do 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, prevista para novembro, em São Paulo, marca a consolidação dos esforços do setor privado no desenvolvimento de projetos sociais. Em 2013, o encontro reuniu mais de 200 pessoas. Representantes de fundações e organizações privadas, diretores de empresas e doadores particulares se encontraram para discutir experiências, casos de sucesso e boas práticas em uma atividade que vem crescendo desde o começo da década de 1990. “Faltava um espaço exclusivo para essa troca de experiências entre a comunidade de doadores”, explica Rodrigo Alvarez, diretor do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), entidade que organiza o Fórum.

O evento, realizado em parceria com o Global Philanthropy Forum, coroa 15 anos de esforços do Instituto no fomento ao investimento social privado no país. Criado em 1999, o IDIS logo se tornou uma peça-chave na arquitetura do setor, ajudando a organizar projetos, instituir fundações e prestando consultoria a organizações privadas interessadas no setor. Além disso, é hoje representante da Charities Aid Foundation para o Brasil e a América Latina. O IDIS prestou consultoria estratégica para o Instituto da Oportunidade Social (IOS), entidade de capacitação profissional mantida pela TOTVS e seus parceiros. “Ajudamos o IOS a se organizar para o futuro”, conta Alvarez. Os próximos passos incluem a expansão do IOS por meio de franquias sociais, cujo modelo poderá ser estruturado pelo IDIS.


Considerando a demanda do mercado profissional na área de tecnologia, o IOS pretende se consolidar como uma organização de ponta na área de capacitação. “O plano dá um norte para a entidade nos próximos anos e aponta os desafios a serem enfrentados”, explica Alvarez. Raquel Coimbra, gerente de projetos do IDIS, lembra que o foco do trabalho do instituto está no doador. “Não há transformação social sem o fortalecimento da parceria entre o setor privado, a sociedade civil e o Estado”, diz. Ela observa, no entanto, que a demanda dos doadores mudou ao longo dos anos. “No começo do nosso trabalho, éramos muito procurados para ajudar a criar instituições”, diz. De fato, o IDIS colaborou com a formação inicial de importantes organizações de investimento social, como o Instituto Avon e o Instituto Camargo Corrêa, entre outros. Atualmente, um grande número de empresas já mantém suas próprias fundações, institutos ou possui uma área interna para cuidar do investimento social privado, prova do avanço alcançado pelo setor. “Com isso, há hoje uma grande preocupação com o monitoramento de resultados e com a avaliação de impacto dos projetos”, explica Raquel.

Investimento com foco e qualidade Segundo Raquel, o foco e acompanhamento dos projetos é fundamental para a obtenção de bons resultados. “Muitas vezes, a instituição gasta um volume considerável de recursos, de forma assistencialista e dispersa, comprando cestas básicas ou pagando a conta de luz de creches, sem ver um retorno mais efetivo para a sociedade e a empresa”, diz. Para ajustar o foco, argumenta Raquel, é preciso perguntar qual a expectativa da organização em relação ao investimento social. “Onde a empresa opera? Quais necessidades ela pode atender? Qual a vocação da empresa nessa área?”, enumera. A partir dessas respostas será possível desenvolver iniciativas mais consistentes, de preferência com o envolvimento direto da alta liderança da organização no processo. “É preciso ter participação nesse nível, para que o projeto realmente tenha um impacto no negócio.”

Rodrigo Alvarez e Raquel Coimbra: foco dos projetos é fundamental

Divulgação

Não há transformação social sem o fortalecimento da parceria com o setor privado”, diz Raquel Coimbra, gerente de projetos do IDIS

R E S P O N S A B I L I D A D E E M PAU TA Rodrigo Alvarez observa que o perfil dos investimentos sociais privados também mudou, ganhando contornos mais próximos aos do negócio da empresa de origem. “A partir de 2005, a sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa entraram de vez na pauta das empresas”, conta. “Como o investimento social privado é correlato, a conexão com o negócio da empresa passou a ser mais cobrada.” Na opinião de Raquel, embora seja desejável haver mais incentivos fiscais para ações de investimento social privado – “Como há na cultura, com a Lei Rouanet” –, as iniciativas não podem depender exclusivamente desse tipo de mecanismo. “Leis de incentivo poderiam ajudar o setor a dar um salto qualitativo”, argumenta. “Mas iniciativas financiadas exclusivamente por renúncia fiscal não configuram, a nosso ver, ações de investimento social privado. É preciso ter um valor do orçamento do negócio dedicado à área social, pois quem preza esse tipo de iniciativa não está fazendo isso só por causa de um benefício fiscal”, conclui.


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S U C E S S O

Unimed Porto Alegre trabalha com a TOTVS desde 2004: boa relação fez cooperativa propor modificações que foram incorporadas à plataforma

Parceria de

campeãs

Unimed Porto Alegre e Ribeirão Preto comemoram sucesso da transição para a plataforma TOTVS 11, enquanto Unimed São José dos Campos implementa também a nova solução TOTVS Smart Analytics por Carlos Vasconcellos

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ara a Unimed Ribeirão Preto, o desfile das campeãs do Carnaval aconteceu na Quarta-Feira de Cinzas. Mais precisamente ao meio-dia, quando o setor de Tecnologia da Informação da cooperativa de saúde colocou oficialmente no ar a plataforma TOTVS 11. O desfile – ou melhor, a migração – começou na sextafeira, véspera de Carnaval, e estava completa no domingo. Na segunda-feira, o sistema estava pronto para os últimos testes e na terça já estava disponível nas unidades de atendimento de urgência.

“Conseguimos uma transição praticamente sem problemas. Se não tivéssemos avisado nossos 900 cooperados de que o sistema sairia do ar no Carnaval, eles nem perceberiam a mudança”, comemora Wagner Gueleri, coordenador médico de TI da Unimed Ribeirão Preto. Assim como no Carnaval, uma mudança dessa natureza começa muito antes, e exige muito preparo. “As negociações começaram em julho do ano passado, e o treinamento, em novembro”, conta Fabiano Rezende, coordenador de TI da Unimed Ribeirão Preto.


Rezende explica que, com o TOTVS 11, a empresa dá um salto tecnológico que permitirá uma interface muito mais amigável para os 142 mil beneficiários, 900 cooperados, 400 consultórios e mais de 100 hospitais e laboratórios ligados à empresa. “Isso é importantíssimo, porque esse público não recebeu treinamento específico”, observa. Alguns módulos do novo programa vão trazer ganhos de produtividade para a Unimed de Ribeirão Preto. “O Módulo de Cadastro ficou muito mais fácil de usar, e o de Marketing Receptivo mescla funções de workflow e CRM, melhorando o atendimento ao cliente”, diz Rezende. O sistema também permite agendar operações pesadas de processamento, otimizando a infraestrutura de hardware. “Isso é muito importante para organizar o processamento das faturas e do pagamento aos prestadores de serviço e cooperados”, diz Rezende. Gueleri lembra que o relacionamento entre a Unimed Ribeirão Preto e a TOTVS começou em 1997, e o processo de migração do sistema aproximou ainda mais as duas empresas. “O atendimento pelo canal Private permitiu mais integração entre o nosso pessoal e a equipe de apoio da TOTVS”, diz. Rezende, por sua vez, destaca que a manutenção do contrato com a TOTVS foi importante para evitar riscos na transição de sistemas. “Pelo know-how e conhecimento técnico, sempre defendemos essa parceria como o melhor caminho para nós.” Eduardo Amaral, diretor administrativo da Unimed Ribeirão Preto, compara a transição tecnológica a um

Fotos: divulgação

Equipe de TI, presidente e diretor administrativo da Unimed Ribeirão Preto comemoram o sucesso do upgrade para o TOTVS 11

benefício invisível. “Clientes, cooperados e empresas terão um impacto positivo com a melhoria de gestão e otimização de recursos, mesmo que não percebam isso diretamente”, explica.

UNIMED PORTO ALEGRE: TRABALHO CONJUNTO MELHOROU PRODUTO A Unimed Porto Alegre também tem uma parceria campeã com a TOTVS e em fevereiro deste ano concluiu o processo de migração para a plataforma TOTVS 11. “Fizemos uma seleção no mercado e decidimos manter a parceria que vem desde 2004, porque percebemos que o sistema é o que melhor atendia às necessidades do nosso negócio”, explica Antônio Pires, superintendente de TI da Unimed Porto Alegre. “Além disso, também era mais viável economicamente.” O projeto de migração foi complexo e teve início no final de 2012, com um redesenho de processos que levou quatro meses. O resultado foi a incorporação de novas funcionalidades ao produto. “Em vez de investirmos em uma solução customizada, estreitamos nossa parceria com a TOTVS e propusemos uma série de funções que poderiam ser incorporadas em definitivo ao sistema”, conta Pires. A Unimed Porto Alegre ­– que atua na capital, regiões Metropolitana e Centro-sul e Litoral Norte do Rio Grande do Sul - tem números expressivos. Cooperativa de médicos líder no mercado de assistência à saúde na região sul do país, possui mais de 690 mil clientes e cerca de 420 pontos de atendimento (entre serviços credenciados e próprios), na maior estrutura em prestação de serviços à saúde dentro de sua área de atuação. Fundada em 1971, a cooperativa conta com 6,3 mil médicos e sua estrutura própria de atendimento inclui hospital, laboratório, centros de diagnóstico por imagem, centro de oncologia, pronto-atendimentos, unidades de atendimento Odonto Unimed e o SOS Emergências Médicas. Trabalhando em harmonia, a relação entre o cliente e a consultoria levou à evolução do produto. “O módulo de auditoria, por exemplo, foi reformulado com base em nossas sugestões”, explica Pires. “Agora ele funciona por meio de um sistema de malha fina, que detecta operações fora do padrão e aciona o serviço de auditoria.” Já os perfis de usuário foram redefinidos com segregação por função. “Agora, eles levam em conta o perfil de risco de cada acesso, em cada área de negócios da empresa”, diz Pires. O produto ainda apresenta outras vantagens. “O módulo web facilita a atualização de cadastro de clientes e empresas, e o módulo ECM trabalha com o conceito de workflow, o que antes não fazíamos de forma sistemática”, enumera o superintendente.


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A TOTVS sempre nos oferece novas ferramentas que agregam valor ao nosso negócio”

O resultado final foi uma plataforma com poucas funções desenvolvidas exclusivamente para a Unimed Porto Alegre. “O processo de desenvolvimento levou a melhorias no produto, que reduzem o custo de manutenção e estendem os benefícios a outras empresas”, avalia Pires. “No final, a parceria incorporou algo que agrega valor ao produto da TOTVS.” A transição tecnológica foi feita sem percalços e dentro do prazo previsto. “Reunimos colaboradores de várias áreas da Cooperativa, que integraram um grande time. Por meio de um trabalho multidisciplinar, todas as etapas foram conduzidas de forma orquestrada e conseguimos fazer o processo sem impacto para o usuário final, sem problemas”, diz Pires.

UNIMED SÃO JOSÉ DOS CAMPOS ELOGIA FLUIDEZ DO PROCESSO A Unimed São José dos Campos, maior cooperativa médica do Vale do Paraíba, com 136 mil clientes e 702 cooperados, é mais uma das unidades da rede de cooperativas de saúde que contam com o apoio da TOTVS. Desde 2002, a empresa utili-

São José dos Campos: atendimento Private estreitou a parceria

za soluções TOTVS em áreas como Gestão de Planos de Saúde, Materiais, Recursos Humanos e Gestão Financeira. Um dos diferenciais que conquistaram o cliente para essa escolha foi a possibilidade de atender ao intercâmbio da Unimed do Brasil, que usa um protocolo próprio de transações (PTU). “Antes, os processos não fluíam com eficácia”, conta Julio Cesar Teixeira Amado, diretor presidente da Unimed São José dos Campos. “Dependíamos muito da TI, que era terceirizada, para atender à demanda, e isso era um tanto burocrático.” A adoção dos softwares formalizou processos de modo a criar um padrão operacional para todas as áreas. Isso fez com que clientes e cooperados da Unimed São José dos Campos logo sentissem a diferença no atendimento. “Com o passar dos anos, contratamos serviços de consultoria”, conta Amado. “Tínhamos algumas dificuldades na operação, como as alterações de legislação.” Amado considera que o apoio das consultorias e serviços internos, com algumas programações específicas para a carteira da Unimed São José dos Campos, demonstra que os produtos da TOTVS não são apenas “um programa de caixinha que ‘é isso e pronto’”. Em 2014, a parceria está mais forte do que nunca. “Somos atendidos por um canal Private, e com o SLA quase imediato, dependendo da complexidade da demanda”, destaca Amado. “Além disso, esse canal sempre nos oferece novas ferramentas que agregam valor a nosso negócio. Um grande exemplo é o ECM, que nos permite mapear processos com workflow de responsabilidades e estágios”, diz. A mais recente novidade adotada pela Unimed São José dos Campos é a ferramenta TOTVS Smart Analytics powered by GoodData, integrada ao ERP, que está sendo implantada juntamente com a versão TOTVS 11. A ferramenta será utilizada por diretores, executivos e gestores de todas as áreas e possibilitará a análise das informações da Unimed e outros legados em um banco de dados único. Os dashboards trarão facilidade do manuseio das informações para a tomada de decisões. “Com a ferramenta teremos números coletados e filtrados para cada necessidade de gestão e indicadores nas áreas assistenciais, administrativa e financeira, fazendo da cooperativa uma empresa mais competitiva em seu ramo de atuação. A legislação vigente, e em evolução crescente, também nos remete à necessidade de possuir um produto de alta performance”, afirma Amado.




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