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Um chamado à paz no trânsito
Somente em rodovias federais policiadas, o país registrou 1,6 milhão de acidentes e 83.481 mortes entre 2007 e 2017. E quando se diz que os óbitos são a “ponta do iceberg”, não é mera força de expressão, pois a quantidade de feridos é muito maior. O impacto econômico desse quadro é na ordem de R$ 50 bilhões por ano (cifra de 2015). O cálculo foi feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), levando em conta os danos aos patrimônios público e privado; os gastos na reabilitação de vítimas; os custos previdenciários, judiciais e policiais; e também os prejuízos causados pelos congestionamentos.
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O sofrimento das vítimas e dos seus familiares é imensurável, como enfatiza o presidente do Sistema CNT, Vander Costa. “Quando um acidente ocorre, o mal já está feito, não tem retorno. Precisamos de um compromisso para evitar a repetição da tragédia. Iniciativas como o Maio Amarelo têm esta função: renovar o alerta”, afirma ele, citando a campanha nacional, cujo tema deste ano é “Atenção! Dê sentido a vida”. O SEST SENAT abraçou a causa e, ao longo do mês, mobilizou todas as suas Unidades para a realização de blitze educativas, cursos, palestras, atividades de lazer e apresentações culturais voltadas para a conscientização no trânsito.
“Não há dúvida de que essas perdas prejudicam a sociedade como um todo”, reforça Vander Costa. “Como são diversos os fatores que colaboram para essa situação, só conseguiremos fazer frente ao problema com políticas públicas muito bem desenhadas e executadas”, recomenda. A CNT é conhecida pelos estudos técnicos, que buscam justamente subsidiar os gestores com informação de qualidade. A publicação “Acidentes Rodoviários e a Infraestrutura”, por exemplo, é referência no assunto.
Os fatores citados podem ser combatidos se, antes, houver a compreensão de que os acidentes não são acidentais. Vejamos as circunstâncias de uma colisão frontal em uma rodovia. A via era duplicada? Havia sinalização adequada? O pavimento estava em bom estado? Quais eram as condições de visibilidade? Um dos motoristas tentou uma ultrapassagem irregular? As pastilhas de freio estavam gastas? Enfim, muitos componentes podem estar relacionados — sem qualquer participação do acaso.
A pessoa atrás do volante
Uma vez descartado o fator “azar”, os especialistas em trânsito e mobilidade concentram seus esforços naquilo que pode ser aperfeiçoado. A escolha mais óbvia recai sobre o ser humano, aquele que opera a máquina. Sempre é possível ensiná-lo a guiar com mais segurança e eficiência. Os chamados cinco elementos da direção defensiva ilustram perfeitamente a busca por excelência: conhecimento, atenção, previsão, habilidade e ação, que podem ser trabalhados e desenvolvidos, como de fato o são nos diversos cursos presenciais e online oferecidos pelo SEST SENAT.
Nesse contexto, “conhecimento” significa domínio das informações sobre leis de trânsito, funcionamento do veículo (incluindo manutenção preventiva) e condições adversas. “Habilidade” pode ser entendida como destreza e dialoga com o conceito de ecocondução (veja matéria na página 52). Tudo isso se interioriza com mais treinamento. Não há atalhos e, infelizmente, alguns motoristas profissionais chegam “crus” ao mercado.
“Daí, a importância de cursos que melhoram a capacitação profissional”, defende Renato Campestrini, gerente técnico do ONSV (Observatório Nacional de Segurança Viária). “Esses cursos são extremamente positivos, inclusive aqueles que agregam o uso dos simuladores. O equipamento permite um ambiente controlado, em que o profissional pode ser colocado à prova, em condições de dificuldade, sem riscos ao patrimônio público, à vida dos usuários das vias e à própria vida”, argumenta. Os dados do Escola de Motoristas Profissionais, do SEST SENAT, confirmam essa visão. O projeto, que oferece treinamento para o transporte de passageiros e de cargas perigosas desde 2017, aferiu uma redução média de 29% nos erros ao dirigir.
Os demais valores da condução defensiva – atenção, previsão e ação – apontam para outras dimensões do humano, com ênfase no bem-estar físico e psíquico. Dirceu Rodrigues Alves, diretor de comunicação da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), acredita que os maiores obstáculos estão aí. “Velocidade, uso de álcool, cansaço e sono são algumas dessas questões. Além disso, o motorista profissional sofre com o estresse, com o medo de ser assaltado. Ele está sujeito a contraturas musculares e enfrenta variações térmicas importantes”, enumera.
Sim, esses trabalhadores têm um corpo e precisam cuidar dele. “É uma população de alto risco em termos de saúde”, confirma Drauzio Varella. O renomado médico é porta-voz do Programa CNT SEST SENAT de Prevenção de Acidentes, para o qual gravou uma série de vídeos educativos. “Os vídeos são dirigidos aos principais problemas dessa população. E quais são eles? Obesidade, vida sedentária, falta de atividade física. Eles passam o dia inteiro sentados. É difícil dizer que é possível levar uma vida saudável com esse tipo de atividade”, reconhece.
Com essa preocupação no horizonte, o SEST SENAT realizou uma ação exclusivamente voltada para os caminhoneiros em abril passado, durante a Semana Mundial da Saúde. Em mais de 70 pontos em todo o país, entre postos de gasolina e terminais de cargas, foram oferecidas orientações em nutrição, psicologia, odontologia e fisioterapia, além de aferições veiculares pelo Programa Despoluir. Ao todo, foram 50.605 atendimentos. Em breve, os esforços vão se repetir na Semana Nacional de Atenção ao Caminhoneiro, para marcar o Dia do Caminhoneiro, celebrado em 30 de junho, e na Semana Nacional do Motorista, comemorada em 25 de julho.
“A nossa missão é transformar a realidade do transporte brasileiro, e isso passa também pela redução de acidentes de trânsito. Temos um compromisso com a segurança dos motoristas e de toda a sociedade, por isso, procuramos levar os nossos serviços de educação, conscientização e atendimentos de saúde para cada vez mais perto desses profissionais”, destaca a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart.
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