v. 1 | O guia - Índice/mapa da tese

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Elogios à inutilidade: a incorporação do Trapeiro como possibilidade de apropriação e leitura da Cidade e sua alteridade urbana

O GUIA - ÍNDICE/MAPA DA TESE

v.1


Dedicatória Este trabalho é dedicado a todos aqueles que assumem, inquietos e aos pedaços, a Cidade como locus fundamental e transformador da condição humana. Demos a eles tempo.


Agradecimentos Agradeço ao Instituto Presbiteriano Mackenzie, pela acolhida calorosa, com o apoio concedido em forma de bolsa de estudos e as portas sempre abertas ao diálogo e a outras experimentações possíveis dentro do conhecimento científico e investigativo. Sem esse lugar acolhedor e com outra equipe de professores e pesquisadores, esta pesquisa certamente seria diferente. Seria também outra pesquisa se não fosse pelo olhar atento, perspicaz e sensível da professora doutora Maria Isabel Villac, a querida Bel, minha orientadora de longa data. Nossas conversar e as provocações vindas dela construíram caminhos instigantes e enriquecedores durante todo o processo de investigação da tese. Apoio que também recebi do Mackpesquisa, que forneceu todo o suporte necessário para minhas diversas viagens e participações em eventos acadêmicos, tanto nacionais quanto internacionais, onde pude especular, intensificar e experimentar os caminhos que estavam sendo trilhados na pesquisa. A distância sempre nos fornece outras perspectivas. Sou intensamente grato a todos do Centro Universitário Senac, que me receberam de braços abertos e entusiasmados com um ensino atento às questões sociais e humanistas de futuros cidadãos/indivíduos/arquitetos. Conviver com todos, desde a equipe administrativa até meus colegas professores, me fizeram sempre dar um passo além. Uma lembrança especial ao departamento de pesquisa que confiou a mim jovens pesquisadores interessados em aprofundar inquietações diversas, particularmente no programa de Iniciação Científica. Ali também tive todo o amparo necessário, principalmente dos colegas membros do grupo de pesquisa Identidade/Metamorfose Urbana(s), Prof.ª Dr.ª Myrna Nascimento e prof. Ms. Ralf Flôres, amigo e companheiro de muitas conversas. A dimensão destes agradecimentos não é suficiente para explicitar quanto respeito e consideração tenho pela querida Prof.ª Dr.ª Valéria Fialho, amiga e coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Senac. Fui recebido no curso como dificilmente serei recebido em algum outro lugar. Como coordenadora, teve a sensibilidade e a confiança em me oferecer as três disciplinas de PI que condensaram e consolidaram praticamente todo o discurso desta tese. Agradeço a todos meus alunos, que sempre assumiram todas as questões que propus durante esses anos, com seus olhares desconfiados e desconfortáveis, encarando aulas e provocações sempre com muita alegria e desejos de algo outro. Um agradecimento especial aos alunos da turma de 2012-01, que inauguraram o PI 3, aos monitores que se dedicaram a documentar e catalogar grande parte dos exercícios das disciplinas, e aos pesquisadores orientandos de IC e TCC, que trouxeram sempre olhares frescos para meus “velhos assuntos”. Agradeço a uma pessoa em especial, especial, eterna companheira, trapeira sensível, caminhante assumida, inquieta e cheia de desejos, materiais e psíquicos, que trouxe a todo instante uma outra perspectiva (e asas) para os rumos desta tese. Obrigado Amanda, sempre. A presença constante e afetuosa de meus pais, desde minha primeira e mais ingênua formação até as mais profundas, abstratas e “filosóficas” questões, é constituidora do pesquisador que estou me tornando. Por fim, agradeço à Cidade. Fonte interminável de inquietações.



Resumo

Dentro desta tese de doutorado não se caminha por territórios acadêmicos tradicionais, apesar de ter como objeto central de problematização e investigação a Cidade contemporânea. Para buscar maneiras outras de encarar os espaços urbanos no início do século XXI, tão espetacularizados, capitalizados, racionalizados, “inteligentes”, homogeneizantes, foram estabelecidas nesse percurso de pesquisa zonas de concentração de pequenas táticas, conceitos subterrâneos, estruturas e métodos “ordinários”, “homens sem qualidades”. Em meio a tantas possibilidades discursivas, elegeu-se como elemento alegórico e germinador de efeitos e catalisador das possibilidades de incorporação e enfrentamento daqueles espaços citados, a figura do Trapeiro, espécie de anti-herói roto e maltrapilho, nascido poeticamente de Charles Baudelaire e logo abandonado à própria sorte, por conta de sua extrema semelhança com o poeta. Figura, que nessa tese, vira hipótese, vira proposta, vira “persona”. E, acompanhando seu percurso formador e revelador (dialética de uma narrativa, atos de ler e escrever simultâneos), diversos outros elementos vão sendo elencados, ora como dinâmica causal, ora como encaminhamento propositivo, ora como “mero” rastro deixado pelo caminhar – corporal e conceitual. Mas o caminhar por este território que se agencia em uma montagem warburgiana não é empreendido sozinho, acompanhado das próprias pernas e pensamentos. O caminhar, que também é conceito de fundo, é coletivo, solidário, “polifônico”. Autores de diversas áreas do conhecimento humano – científico, artístico, poético, filosófico, arquitetônico, literário... até do conhecimento “inútil” – farão companhia a quem se aventurar e abraçar a leitura não-linear, ora centrífuga – beirando o hermetismo –, ora centrípeta – lançando a caminhos distantes – dos volumes desta tese, ou melhor, da hipótese onde se busca a tese. Em alguns momentos ouve-se os passos, ou vozes, de Walter Benjamin, de Charles Baudelaire, de Michel de Certeau, de Georges Perec, de Guy Debord, de Gilles Deleuze, de Rem Koolhaas, de Maurice MerleauPonty, de Maurice Blanchot, de Lina Bo Bardi, de Italo Calvino, de Christian Norberg-Schulz, de Helio Oiticica. No “final” do percurso (distinção abolida na dinâmica desta pesquisa), 33 fragmentos de território científico/acadêmico recolhidos, constituídos e tratados com a devida heterodoxia e elogiada inutilidade/ordinariedade, apresentam ao leitor um relicário, uma coleção de pequenos pedaços de discursos críticos, teóricos e práticos (algumas vezes sobrepostos) que mostram caminhos possíveis para uma constituição corporal, também possível, que nos façam encarar a Cidade e seus espaços necessariamente hostis e constituidores de nossa subjetividade, de maneira mais franca, aberta à hipótese de construção de uma alteridade realmente urbana. Uma outra forma de estar na Cidade.

Palavras-chave Trapeiro. Cidade contemporânea. Intersubjetividade. Cotidiano. Alteridade urbana.


Abstract

Within this doctoral thesis one does not walk through traditional academic territories, despite having as central object of problematization and investigation the contemporary City. In order to look for other ways of approaching urban spaces at the beginning of the 21st century, so spectacular, capitalized, rationalized, “intelligent” and homogenizing, research zones were established. Zones of concentration of small tactics, subterranean concepts, “ordinary” structures and methods, “men without qualities”. In the midst of so many discursive possibilities, one was chosen as an allegorical element and generator of effects and a catalyst for the possibilities of incorporating and coping with those spaces above, That is the figure of the Rag-picker, a kind of broken and tragic anti-hero, born poetically by Charles Baudelaire, but abandoned to his own fate, because of his extreme resemblance to the poet. Figure, that in this thesis, turns hypothesis, becomes proposition, becomes “persona”. And, following its formative and revealing course (dialectic of a narrative, simultaneous acts of reading and writing), several other elements are being listed, sometimes as causal dynamics, sometimes as propositive referrals, sometimes as “mere” traces left by the walk – bodily and conceptually. But walking through this territory that is agency in a Warburgian mount is not undertaken alone, accompanied by one’s own legs and thoughts. Walking, which is also one of the background concepts, is collective, supportive, “polyphonic”. Authors of diverse areas of human knowledge – scientific, artistic, poetic, philosophical, architectural, literary ... even of “useless” knowledge – will keep company with those who venture and embrace a nonlinear reading, sometimes centrifugal – edging hermeticism, sometimes centripetal - throwing to distant paths - of the volumes of this thesis, or rather, of the hypothesis where the thesis is sought. At times we hear the steps, or voices, of Walter Benjamin, Charles Baudelaire, Michel de Certeau, Georges Perec, Guy Debord, Gilles Deleuze, Rem Koolhaas, Maurice Merleau-Ponty, Maurice Blanchot , Lina Bo Bardi, Italo Calvino, Christian Norberg-Schulz, Helio Oiticica. At the “end” of the course (a distinction abolished in the dynamics of this research), 33 fragments of scientific/academic territory, collected, constituted and treated with due heterodoxy and praised uselessness/ordinariness, that present to the reader a reliquary, a collection of small chunks of speech (sometimes overlapped) that show possible ways for a bodily constitution, also possible, that make us face the City and its spaces that are necessarily hostile and constituent of our subjectivity, in a more frank way, open to the hypothesis of construction of a truly urban otherness. Another way to be in the City.

Key words Rag-picker. Contemporary city. Intersubjectivity. Everyday. Urban otherness.


PNEUMOTÓRAX Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... Trinta e três... Trinta e três... - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. MANUEL BANDEIRA


Introdução, ou entradas... e saídas

Antes de mais nada, tudo. Ou nada... A inutilidade do título desta tese deve ser esclarecido. E deve ser esclarecido aqui porque não o será explicitamente em nenhum outro momento do texto que virá. “E a tarefa da filosofia é mesmo a de revelar aos homens a utilidade do inútil ou, em outras palavras, ensiná-los a distinguir entre os dois sentidos da palavra ‘útil’.” (HADOT, Pierre apud ORDINE, 2016, p. 9) A utilidade paradoxal à qual me refiro não é aquela em nome da qual os saberes humanísticos e, de modo mais geral, todos os saberes que não trazem lucro são considerados inúteis. Numa acepção muito mais universal, coloco no centro das minhas reflexões a ideia da utilidade daqueles saberes cujo valor essencial está completamente desvinculado de qualquer fim utilitarista. Há saberes que têm um fim em si mesmos e que – exatamente graças à sua natureza gratuita e livre de interesses, distante de qualquer vínculo prático e comercial – podem desempenhar um papel fundamental no cultivo do espírito e no crescimento civil e cultural da humanidade. (...) Mas a lógica do lucro solapa as bases das instituições e disciplinas cujo valor deveria coincidir com os saberes em si, independentemente da capacidade de produzir ganhos imediatos ou benefícios comerciais. (ORDINE, 2016, p. 9)

Inútil. Talvez uma sentença de morte em nossa sociedade capitalista. A Inutilidade é prima da Preguiça. Pecado capital. A oposição ao trabalho. Por isso, a Preguiça é meia irmã do ócio. O trabalho, o neg-ócio, contrapõe-se ao ócio. O trabalho e o suor engrandecem o homem, minimizam sua culpa, seu pecado. O trabalho é o pagamento do pecado. O ócio era o pecado, o mal amado, o desprezado, o marginalizado em nossa antiga sociedade industrial. Se o homem trabalha, ele prospera, ele progride, ele evolui. Se ele não trabalha, é preguiçoso, é vadio, é inútil, atrapalha. A sociedade aprendeu a transmitir essa depreciação aos seus objetos, suas arquiteturas, sua cidade. Tudo a nossa volta deve servir para alguma coisa. O que não serve é descartado, deixado de lado, marginalizado. Servir. Ser útil. A sociedade do espetáculo (DEBORD, 1997) exige servidão. Funcionalidade. Mas a sociedade está esquizofrênica (DELEUZE, 2004). A mesma sociedade que prima pela utilidade, resiste em refugiar-se no desejo, na liberdade, no prazer. O estresse do trabalho é compensado, ou reduzido, no descanso, no lazer. A esquizofrenia está justamente neste lazer, que nada mais é que outra forma de trabalho. Escolhemos como forma de lazer ações empenhadas em mais atividades ou utilidades. O lazer é útil, funcional. Na sociedade industrial produzimos inclusive no tempo livre (MARCUSE, 1979).

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E a possibilidade real do ócio? Do não fazer nada? Da ação que realmente não produz nada? Do perder tempo? Pois, para que percebamos o Espaço, é preciso Tempo. É preciso perder tempo para o corpo assimilar o espaço. O Espaço por si só é racional e objetivo, ele é dimensional (NORBERGSCHULZ, 1980). Um dar-se tempo é tornar o espaço subjetivo e menos racional. Só assim é possível construirmos afetos e relações com o espaço. Humanizamos o Espaço com o Tempo. Damos “corpo” ao Espaço – que se torna Lugar – permanecendo (perdendo) Tempo ali com nosso corpo. “Corporalizamos” o Espaço com o Tempo; o Lugar com o “perder tempo”. Mas a sociedade tecnológico-racional aprisionou essa liberdade. Deixamos de lado o tempo da contemplação (KEHL, 2009) e da reflexão livre. Perder tempo hoje é anti produtivo, é anti funcional. Aprendemos


a nos relacionar com o outro, com as coisas e com os espaços, reduzindo ao máximo a variante Tempo na equação da subjetividade. Hoje a fórmula ditada pela sociedade é: quanto menos Tempo melhor. Assim, perdemos aos poucos nossa subjetividade (SUBJEtividade – ser sujeito), nossa relação afetiva com o Espaço. Assumimos a objetividade (OBJEtividade – ser objeto), a racionalidade e a utilidade em todas as nossas ações. Mas a pergunta retorna, e a possibilidade do inútil? Há a possibilidade daquele outro útil? O homem pode buscar a liberdade, a possibilidade, a alternativa, a sublimação na inutilidade. É na inutilidade que o homem pode encontrar seu desvio, sua rota de fuga. A inutilidade permite a transformação do homem em sujeito (MARCUSE, 1979). É o homem-criança que inutiliza um carrinho de brinquedo, desmontando-o para explorá-lo, amputando sua utilidade primeira. É o homem-criança que se delicia com uma garrafa plástica cheia apenas de uma pequena pedra, deixando de lado seu chocalho colorido, tecnológico, multi funcional e propagandeado. É o homem-criança que vê na nuvem um coelho alado, no sofá da sala um castelo com seu rei. É o homem-criança que entra em êxtase ao trocar com o colega a figurinha que faltava na sua coleção. É o homem-adolescente que explora o corpo, o sexo sem a menor intenção utilitária da função primeira de procriação da espécie. Onde estaríamos se a inutilidade não fizesse parte de nós? A inutilidade, ou a retirada inicial da utilidade de uma coisa, nos abre outras perspectivas, outras possibilidades, outros olhares sobre aquela coisa, sobre o mundo, sobre nós mesmos. Tornamo-nos sujeito. A possibilidade do inútil versus a determinação do útil. A inutilidade gera possibilidades de movimento, a utilidade encerra o discurso. Por isso é preciso resgatar a inutilidade. Elogiá-la. Tirá-la da marginalidade positivista e racionalista. É preciso, pelo menos, assumirmos sua possível existência momentânea. A inutilidade está aí, no nosso cotidiano. Nas nossas relações com os objetos, com nossos espaços. Mesmo 80 anos após a publicação da Carta de Atenas, com suas proposições funcionalistas para a formação das cidades modernas, e reconhecendo, empiricamente inclusive, sua fragilidade e incapacidade de, exclusivamente, dar as respostas necessárias à vida nas cidades, ainda analisamos, projetamos, construímos e vivenciamos nossas cidades a partir da premissa do utilitarismo. A cidade ainda é vista como uma gigantesca máquina. Uma máquina onde todas as pequenas engrenagens devem ser úteis para seu funcionamento geral. Onde qualquer possibilidade de inutilidade deve ser amputada para manter a máquina em perfeito, e inatingível, funcionamento. Se não serve, não é necessário, pode ser eliminado. Infelizmente, essa lógica ultrapassa a fronteira do existente e alcança as mentes propositivas da Cidade. Evita-se ao máximo, mesmo contra os desejos mais latentes, a possibilidade da inutilidade. Reduzida a todo instante com o rápido pensamento: Mas isso serve para quê?. Tenta-se a todo instante buscar alguma utilidade positivista às ações e propostas humanas. Mas e o outro útil? Porque não também a inutilidade?

Mas a inutilidade é apenas parte do roteiro que tem o Trapeiro como protagonista. Este personagem, que é uma alegoria, será devidamente apresentado em diversos momentos da tese, mas é preciso antes, para evitar possíveis inconsistências, esclarecer algumas dinâmicas e posturas.

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É esse conceito, essa dinâmica dialética, esse “e” o que será assumido nesta tese. É essa outra utilidade, essa tornada invisível pela sociedade técnico-racionalizada a que será assumida, elogiada. Elogiada ora na presença “invisível” do trapeiro na noite das cidades; ora na argumentação do ato de colecionar, catalogar, ou simplesmente aproximar; ora nas experimentações pedagógicas empreendidas; ora no perceber a presença irrefutável do Outro perante nós; ora na apresentação dos personagens urbanos, ou personas, integrantes de um “fantasiado” museu de cera; ora na estrutura e método de investigação da própria tese.


Primeiro de tudo, existem momentos da escrita em que o Trapeiro é observado e outros momentos em que é o próprio Trapeiro escrevendo. Entidade que, enquanto observado, é OBJETO, ainda por cima inútil, invisível perante a lógica da sociedade produtivista e tecnológico-racionalizada; e que, enquanto observador, é SUJEITO, indivíduo atento às inutilidades (ou utilidades outras) dos fragmentos de coisas, momentos, espaços e memórias que recolhe. A posição do Trapeiro de observado e observador oscilará nas narrativas dos fragmentos. Por exemplo, ele é nitidamente observado em ação nos fragmentos B_1 e A2_3. Assim como se torna o Trapeiro observador, por exemplo, nos fragmentos A2_4, C2_1, C1_1 e A1_2. Em alguns momentos a posição de Trapeiro observador e observado ocorrerá simultaneamente, como no fragmento B_3. Talvez seja importante essa distinção antecipada, pois nem sempre será possível perceber rapidamente a presença ou não do espelho. Entre sabendo que, em vários momentos do texto, será interpelado e provocado a se tornar também Trapeiro, tanto o observado como o observador. Essa interpelação ao leitor que se coloque também como autor é elemento fundande do raciocínio da tese. Existe dentro dela uma potência em aberto, “pontas soltas” deixadas assim propositalmente, sem uma resolução ou indicação direta e objetiva, que se transformam em convites à ação, à interpretação, à reorganização, à resignificação. Uma pergunta que certamente surgirá em momentos diversos da tese é: o que faço com tudo isso? A resposta não será dada pelo autor, ela deve ser construída e assumida de acordo com o caminho desejado tanto na entrada como na saída da leitura. Entre consciente de que aquele personagem não é inteiro, completo, terminado, encerrado em uma unidade concisa. O Trapeiro tem e é constituído de partes, fragmentos, pedaços de outros. Eis um homem, ele é suas coisas. Constitui-se delas; das coisas colecionadas, encontradas, recolhidas. Constitui-se dos pedaços dos Outros, dos pedaços de Outros. Pedaços e coisas que já não significam, mas um dia significaram. Memórias. Esse homem é suas coisas e seus pedaços, as coisas dos Outros, os pedaços de/dos Outros, memórias dos Outros. (fragmento B_1, p. 5)

Esta constituição corporal e conceitual coloca o leitor mais uma vez a estabelecer uma participação ativa (autoria) na tese. Pedaços da tese poderão fazer parte do corpo do leitor, aproximando-se e até sobrepondo-se a outros pedaços que já estavam lá antes. Não entre nessa tese esperando encontrar a cidade de São Paulo. Não espere por ela aparecer. Encontre-a. Ela pode aparecer eventualmente, quase como uma reterritorialização do discurso, mas decorrente de uma pura casualidade espacial da investigação e da feitura do mesmo. Não espere, e nem tente, encontrar ou associar o Trapeiro dessa tese e o Catador de papelão da cidade contemporânea. Este último

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(...) não é um trapeiro. Não faz parte da família. Do trapeiro só lhe resta a semelhança física, pois nada mais coleciona, apenas coleta e repassa. Do ruído inútil e contrassensual do ancestral personagem, este nosso catador do século XXI não faz mais parte, pois apesar de ser marginalizado e invisível é inteiramente capturado pelo aparelho capitalista, neoliberal e racionalizado da indústria da reciclagem. É uma engrenagem do sistema; meio descompensada e mambembe, é verdade, mas uma engrenagem. De tudo que recolhe, nada é resignificado por ele. Nada fica com ele. Nem teria porque ficar, complementa argumentando nosso catador, pois carregar algo que vale alguma coisa pela cidade e não convertê-lo em dinheiro seria até irracional, certo? Não há lugar em nosso catador para a subversão, individuação e subjetividade, apenas espaço para a alienação e sofrimento sistêmicos e racionalizados. Era de se esperar... que pena. (B_2 p. 38)

Muitos podem dizer que, mesmo assim, a semelhança é muito grande para negar a associação, mas é imprescindível (inclusive para o trânsito mais fácil pela tese) ter em mente que o Catador


atual não guarda, não coleciona mais. Tudo que recolhe é repassado, tanto material quanto conceitual e simbolicamente. Mais nada “fica”... Por fim, a figura do Trapeiro será utilizada mais uma vez como processo alegórico de parte do método da tese. Uma parte que não será encontrada dentro do volume da tese. Uma parte que se configura como o próximo passo. Mais uma vez aquela pergunta “o que eu faço com tudo isso?”. A alegoria é a seguinte: após uma noite inteira caminhando pela cidade e recolhendo seus trapos, o trapeiro retorna para sua casa (que mais parece um barraco) com o pavio da lanterna já no fim, a ponta do gancho meio amassado pelo constante manuseio dos restos das ruas e o saco em suas costas completamente cheio. Depois de aliviado o peso das costas, o trapeiro descarrega todos seus trapos recolhidos e os dispõe no chão do barraco à sua frente. Observa tudo que recolheu, aproxima e reorganiza em pequenas pilhas quase tudo que estava dentro do saco. O passo seguinte é analisar todo o material separado, estabelecer suas possíveis relações, realizar as resignificações. Decidir, de acordo com seus critérios individuais e subjetivos, o que vai (à venda, para a reciclagem) e o que fica. De todos os trapos recolhidos quais deles são resignificados e incorporados, colecionados? O que passa e o que fica? O que retorna ao mundo via utilidade e o que retorna via inutilidade? O que volta a ser coisa e o que se torna pedaço de uma subjetividade? Esse é o passo que não está presente na tese. Ele é o passo de saída inevitável ao fim da leitura do volume.

Villa d’un chiffonnier, 1912. Eugène Atget.

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Chiffoniers du Porte d’Asnières, cité Trébert, 1899. Eugène Atget.


Um último detalhe importante para a compreensão e manuseio dos volumes da tese.

Nas imagens a seguir (produzidas gentilmente por Janaína Chavier, integrante do grupo de pesquisa do Laboratório Urbano PPGAU-UFBA), está a formatação desejada para os 33 fragmentos. Encadernados independentes uns dos outros, acondicionados em pequenas caixas de Kraft. Se configuram desta forma como parte do discurso e argumentação da tese e não como mero suporte, produto. O formato e a diagramação dos volumes são também elementos discursivos, são também conteúdo da tese. A independência dos volumes dos fragmentos, transformados em livretos, facilita e agencia a leitura não linear desejada e a posterior reorganização e ordenação dos volumes pelo leitor (que, como já dito acima, vira também autor).

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A rigidez academicista obrigou uma encadernação tradicional em volumes massivos e monolíticos, como esta que está em suas mãos.


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Apresentação

São Paulo é uma personagem fantástica que, típica e particular como outras em contos de Poe, Borges ou Calvino, sempre me fascina e me inquieta. Sempre que me percebo dentro dela, sinto uma corporificação do Sublime, uma devoção tão intensa que, magneticamente, conduz as percepções do espaço a um outro nível. O corpo percebe este espaço tão real e tão fantástico. Impossível dizer com quais sentidos, ou se com algum sentido racional. A cidade se apresenta tão familiar, tão estranhamente familiar, que as formas tradicionais de leitura da minha profissão não satisfazem mais esta mente/corpo impactada. Ler este território, como forma de habitá-lo, reterritorializá-lo, não me parece suficiente com as ferramentas apenas da disciplina arquitetônica. Outras forças teriam que atuar nesse movimento de leitura da Metrópole. Isso foi feito durante o processo de pesquisa da dissertação de mestrado. Uma Odisseia Paulistana: Uma documentação retroativa sobre o São Vito. Uma argumentação em 26 partes, partes alfabéticas, nebulosas, rizomatizantes. Uma procura por uma maneira racionalizada de abarcar o Sublime Urbano. Uma leitura. Um alfabeto. Não “o” alfabeto, mas “um” alfabeto. Uma maneira. Um bom tempo depois, passados os esgotamentos do corpo e da mente, o assunto ainda não parecia nem perto de esgotado dentro da minha relação corporal com a Metrópole. A prática de tais leituras, agora acompanhada dos meus alunos, intensificava-se e apresentava constantemente outras possibilidades. Mas, apesar de toda variação, um elemento sempre se apresentava constante: o cotidiano. A presença irrefutável e imperativa da coisa cotidiana, do comum, do ordinário, do banal, do desnecessário, do inútil. Novamente a partir da percepção desta outra personagem fantástica, a inutilidade (funcionalista) das coisas ordinárias, é que esta mente/corpo fez um movimento conceitual e teórico. Um novo passo deveria ser dado. Mas não adiante, e sim um passo atrás. Percebi durante as leituras da metrópole realizadas com os alunos que, mais uma vez, os instrumentos tradicionais de representação não seriam satisfatórios para aceitar e incorporar o cotidiano da Metrópole. A questão era: como representar esses elementos muitas vezes desconsiderados na Arquitetura? Como incorporar o banal e o inútil nas leituras e, consequentemente, nas representações destas investidas? Como constituir narrativas urbanas? Narrativas que estejam alicerçadas no cotidiano da Cidade, que façam o corpo habitar esse lugar? Foi preciso ir à Cidade, experimentá-la. Investigar a Cidade, tanto a noção abstrata quanto o espaço real. Encontrar em ambas algo que auxiliasse naquelas constituições de narrativas desejadas anteriormente. Foi preciso caminhar pela Cidade.

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Nessa caminhada, algo menor e mais profundo foi percebido: a Cidade e o corpo já não se pertencem mais. O que antes era colado, inerente, fundido; hoje está descolado, alienado, fissurado. Fissão que causa dor, sofrimento, angústia no corpo e faz com que a Cidade se torne menos humana. Como não conseguimos mais abdicar do habitar a Cidade, nos restou abdicar do corpo, pelo menos enquanto dentro da Cidade. É evidente que essa postura não é satisfatória, não resolve nem alivia. Pelo contrário, só aumenta o sofrimento, a insatisfação e o distanciamento.


Uma nova questão surgiu: como resolver essa relação? Como reaproximar o corpo da Cidade? Como constituir um campo viável de sobrevivência a esse corpo? Era preciso encontrar uma outra forma de estabelecer essa relação. Mas encontrar no corpo, não na Cidade e nem na relação. Porque a Cidade que construímos é essa, e pensar uma nova forma de Cidade já não é mais viável. Numa nova forma de relação também não é possível caminhar, pois nela só podemos recorrer aos apaziguamentos racionalizantes e aos anestesiamentos homogeneizantes. Restanos encontrar uma outra forma de estar na Cidade, uma outra forma de assumir o corpo na Cidade. Uma outra maneira, um método. Uma outra forma, uma metamorfose. Um outro corpo, uma incorporação.

ELOGIOS À INUTILIDADE: A incorporação do Trapeiro como possibilidade de apropriação e leitura da Cidade e sua alteridade urbana.

Elogios que compõem um mapa, um guia. Uma ferramenta para caminhar pela tríade outra. Nesse caminhar pelo inútil, a hipótese de incorporação: o Trapeiro.

Embriaguem-se!

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Dar o primeiro passo, virar a página e, como disse um dia Baudelaire,


Índice/mapa

A organização do índice desta tese se estabelece tendo como premissa a linguagem cartográfica. Os capítulos, ou fragmentos, estarão distribuídos sobre um território abstrato de modo que se constituam conexões, alinhamentos, circuitos e/ou roteiros, semelhantes a uma carta de navegação ou a um mapa territorial. E como tal categoria de representações territoriais, aqui também não existe um percurso único, sequencial e linear a ser feito. O território está disponível para múltiplas organizações e articulações de seus trechos “caminháveis”. Mesmo assim, dentre várias possibilidades, uma foi estruturada e condicionada previamente pelo autor, deixando a inclusão de outras possíveis leituras e investigações dos fragmentos do “mapa” a cargo do leitor.

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O mapa está dividido em quatro zonas ou campos de influência, que podem ser compreendidos separadamente, mas que são interdependentes e correlacionados. A distribuição dos fragmentos entre as zonas se deu por similaridades conceituais. São elas: Zona A – Paradigmas e antecedentes ambientais; Zona B – Alegoria Central; Zona C – Mecanismos Incorporadores; e Zona D – Dinâmica-fim. Na zona A (Paradigmas e antecedentes ambientais), encontramos 3 grandes setores, aglomerações de fragmentos, aproximações: o setor A1 - Subterrâneos; o A2 - Biblioteca de Babel; e o setor A3 - Estrutura.


Aqui encontra-se todo campo de fundamentações e pré-existências. Nessa zona o caminhar tende a ser mais pragmático e iluminado, onde os movimentos internos são esclarecedores e os territórios férteis. Local aonde retornar caso o perder-se for angustiante. Dentre os 3 setores, já se encontram reconhecidos 9 fragmentos: Intenções paradigmáticas (A1_1); PPP: Projeto de Pesquisa em Processo (A1_2); Um método, dos lados (A1_3); Álbum de figurões (A2_1); Retorno à Biblioteca de Babel (A2_2); Eugène Atget e Charles Marville (A2_3); Georges Perec (A2_4); Um catálogo de coisas: Jacques Carelman (A2_5); e Caixas e valises: observando e experimentando Marcel Duchamp (A3_1). A zona B (Alegoria Central) constitui-se de um único grande setor: o B - Trapeiro. Uma formação elevada que se configura como centro de gravidade e elemento concentrador e magnético de todo seu entorno. Os caminhos das demais zonas tem uma relação direta com os fragmentos desta, muitos deles direcionam-se e atravessam tais fragmentos, ou até mesmo os tem como ponto final. Como um marco na paisagem, um menhir, esta zona sempre está visível, nítida, mesmo quando observada a distância. Mas neste campo único pode-se reconhecer 3 fragmentos: Eis um homem (B_1); Os tempos do Trapeiro (B_2); e Trapeiro: Vestígios em Baudelaire (B_3). Já a zona C (Mecanismos Incorporadores) pode ser compreendida e dividida em 3 setores: C1 - Lanterna (auxiliares); C2 - Saco (elogios); e C3 - Gancho (ferramentas). Percebida como uma grande planície, essa zona tem configurações de plataforma, platô, uma superfície lisa. É aqui que grande parte dos caminhos possíveis tem condições, podem acontecer. Alguns desses caminhos já estão bem marcados no terreno, pode-se dizer que são estabelecidos, óbvios. Mas por se tratar de uma grande área isenta de obstáculos, qualquer sentido e direção são viáveis, inclusive possibilitando o aparecimento de outros fragmentos ainda não explorados. Isso fornece a zona a interessante capacidade de expansão e acúmulo. Para manter uma mínima ordem e coerência na formação da zona, foram reconhecidos e nomeados três setores, em referência a grande elevação que se encontra na zona adjacente. Para a delimitação e divisão dos setores, foram estabelecidas alegorias a partir dos estandartes trapeiros: a lanterna, o saco e o gancho. Cada fragmento situa-se, por conta de sua característica e conteúdo, no setor alegoricamente correspondente. Os fragmentos já identificados no setor Lanterna são: Caminhar (C1_1); Colecionar (C1_2); Cotidiano (C1_3); Junkspace como condição (C1_4); O Outro (C1_5). No setor Saco já temos: Diga-me onde caminhas que te direi quem és (C2_1); Escadões: uma coleção comum, ou sobre viver na cidade contemporânea (C2_2); Trapeiros Contemporâneos 1/3: Edson Chagas, Francis Alÿs e Gabriel Orozco (C2_3); Trapeiros Contemporâneos 2/3: Jorge Macchi e Guillermo Kuitca (C2_4); Trapeiros Contemporâneos 3/3: Gordon Matta-Clark (C2_5); Há uma flâneuse? (C2_6); Os Errantes de Paola (C2_7); Persona(gens) Urbana(s) (C2_8); Lina Bo e o SESC Pompéia (C2_9); Tentativa de esgotamento de um lugar (C2_10); Três personagens de uma longa história: Dos primos Hoffmannianos a Marcovaldo (C2_11). Finalmente, no setor Gancho: Caixa de Trapos (C3_1); Cronofotografia de rua (C3_2); Psicogeografia (C3_3). A última zona percebida neste mapa, que é índice, é a zona D (Dinâmica-fim), também contendo um único setor: D - Incorporações. Região do território com menor altitude relativa, por isso se configura como um baixio, o que lhe dá a condição de destino de todas as águas, receptáculo de tudo o que se desprende e deixa as demais zonas acima dela. Mas ela não se resume ao que está visível no mapa, não se encerra nesse território. Ela se estende além, vai adiante.

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Os fragmentos que estão reconhecíveis no mapa: Práticas Pedagógicas: Projetos Integradores 1, 2 e 3 (D_1); e Experiência com a hipótese: Escadinhas de Lisboa (D_2).


Guia ... 18

33 fragmentos


A

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Paradigmas e antecedentes ambientais Subterrâneos

A1_1

INTENÇÕES PARADIGMÁTICAS

Este fragmento contém: 08 páginas 00 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “N7 - Atiradeira retrógrada” (1976, p. 88)

Intenções Paradigmáticas Esse fragmento de tese não tem razão científica para existir. O estabelecimento do campo teórico, ou padrão, paradigma, real acontece salpicado nos outros demais fragmentos. O conteúdo deste fragmento faz as vezes de um falso glossário. Falso porque os termos contido aqui não aparecem, pelo menos conscientemente, em nenhum momento da tese. A relação de cada um deles com a tese é muito mais tácita e incorporada já ao inconsciente do pesquisador, como um campo há bastante tempo sedimentado por onde todas as questões teóricas atuais se suportam. Mas mesmo assim, o pesquisador entende e assume que é válido e facilita a compreensão esse tipo de emersão dos conceitos subterrâneos da pesquisa.

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Além dessa característica de falso glossário, os termos presentes nesse fragmento não estão embasados explicitamente neste ou naquele autor. São explicações simplificadas, quase de canto de página, como uma anotação feita a lápis. Tais explicações não tem o rigor ortodoxo e científico que costumam ter. Por isso, não têm razão para existir; mas aqui estão.


1 2

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Este fragmento contém: 28 páginas 22 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “V6 - Balança para bolas de gás” (1976, p. 127)

PPP: PROJETO DE PESQUISA EM PROCESSO

A

Paradigmas e antecedentes ambientais Subterrâneos

PPP: Projeto de Pesquisa em Processo Inicialmente pensada como hipótese central da tese, a apropriação do inútil como conceito de leitura urbana heterodoxa, tinha como premissa e objetivo explicitar, reunir e reforçar a possibilidade de apropriar-se do conceito de inutilidade na arquitetura como repertório possível para vivência e desenho do espaço urbano, como poder revolucionário além da racionalidade utilitarista dominante, conforme progressivamente se estabelecia no projeto de pesquisa de doutoramento.

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Em determinado momento, tal hipótese sofreu uma metamorfose pela presença fortuita do Trapeiro, considerado até então como um pequeno elogio dentro da estrutura da pesquisa. Mas como todo encontro dentro da Cidade, o choque provocado afetou sensivelmente a percepção do pesquisador. A incorporação do Trapeiro fazia mais sentido como hipótese, transformando a inutilidade em fio condutor do raciocínio da reflexão. Uma mudança que nada acarretou para o desenvolvimento dos trabalhos, pois a incorporação do Trapeiro já figurava, subliminarmente, na apresentação dos objetivos no projeto de pesquisa: Com isso, auxiliar a reflexão crítica sobre a produção e o enfrentamento da metrópole real contemporânea, intensificando os subsídios teóricos que possam levar à autonomia, desenvolvimento, ou mesmo formação do sujeito urbano contemporâneo, consciente e realmente livre com a vida na metrópole do século XXI. Mas como uma das intenções centrais dessa tese é tratar dos rastros, restos e vestígios, o mesmo se faz com o próprio projeto de pesquisa. Ele está aqui presente, sem edições, como um rastro.


Este fragmento contém: 10 páginas 00 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “C6 - Caneta-garfo” (1976, p. 24)

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Paradigmas e antecedentes ambientais Subterrâneos

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UM MÉTODO, DOIS LADOS

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Um método, dois lados

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O método de pesquisa aqui não é pano de fundo, estratégia generalista que estabelece nomenclaturas e estanqueidades ao processo. Aqui o método, a maneira, o meio, é parte, faz parte. Ele não vem antes, como uma ditadura, nem depois, como uma muleta. O método vem junto, acompanha, está no meio. O método é caminho, e como todo caminho, estrutura e é estruturado no ato de caminhar nele. Eis o caminho.


A

Paradigmas e antecedentes ambientais Biblioteca de Babel

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Este fragmento contém: 46 páginas 60 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “F2 - Pente para repartir o cabelo em um dos lados” (1976, p. 48)

ÁLBUM DE FIGURÕES

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Álbum de figurões

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Depois de tanto percorrer livros, textos, discursos, palavras, pensamentos, objetos, lugares e desejos, construí uma relação peculiar com os autores percorridos. Eles se transformaram em pequenos heróis, minúsculos totens de minha adoração e respeito. Afinal, todas aquelas coisas pelas quais caminho e convido o leitor a caminhar, foram criadas, transformadas, reconstruídas por alguém. Nada veio ao mundo por geração espontânea. Existe uma figura, ou mais de uma, por trás de cada coisa lida, pesquisada, estudada, recolhida, esgotada. Existem pessoas, homens e mulheres. Resgato delas, tomo emprestado, o que lhes é mais próprio e identitário. Recolho seus retratos, imagens de seus rostos, e organizo-os como uma coleção de figurinhas. Uma coleção. Retomo uma prática infantil, antes ingênua e agora já mais conceitual, dos álbuns de figurinhas de jogadores de futebol, modelos de carros e motos, fauna e flora brasileiras, países do mundo, esportes olímpicos, personagens de desenhos animados e histórias para dormir e sonhar. Um território de pequenas representações, espaço de apropriações e dominação de grandes. Uma coleção de figurinhas dos figurões. Imagens de vidas, de caras, de figuras. Uns mais, outros menos e outros tantos difíceis de classificar.


A

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Paradigmas e antecedentes ambientais Biblioteca de Babel

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RETORNO À BIBLIOTECA DE BABEL

Este fragmento contém: 22 páginas 00 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “P2 - Cachimbo para fumar dois tipos diferentes de fumo” (1976, p. 95)

Retorno à Biblioteca de Babel Espaço usualmente explorado, investigado, marcado, contrariado, destrinchado, montado, desmontado, remontado, submetido, investido, invadido, lido, relido e até destruído antes da produção da tese, nossas listas de referenciais de todos os tipos acabam sendo localizadas no final do texto, na borda. Apresentar as fontes de pesquisa como antecedentes é aqui um ato científico e consciente. Os autores, textos, fontes são convidados a participar de antemão. Os acompanhantes da caminhada proposta são antecipadamente colocados à luz. Uma luz insuficiente, incessante, rarefeita, empoeirada, amarelada, envelhecida, é verdade.

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Corrigindo: dois pontos transversais de luz no ambiente. Um ambiente hexagonal. Hexágonos de uma biblioteca. Uma Biblioteca de Babel.


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Este fragmento contém: 38 páginas 75 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “A12 - Tesoura siamesa” (1976, p. 13)

EUGÈNE ATGET E CHARLES MARVILLE

A

Paradigmas e antecedentes ambientais Biblioteca de Babel

Eugène Atget e Charles Marville Se para Baudelaire, o artista-repórter Sr. G (Constantin Guys) foi o primeiro Flâneur da Cidade moderna, o fotógrafo Eugène Atget será considerado aqui o primeiro Trapeiro. Parisiense, Atget registrou vários temas humanos e urbanos no final do século XIX e início do XX, apesar de raramente fotografar pessoas. Nunca considerou seu trabalho digno de ser chamado de Arte – convidado inclusive por Breton a integrar os Surrealistas – vendia suas imagens a impressores de cartões postais baratos e artistas plásticos. Presenciou a modernização hausmanniana da Paris medieval e as transformações culturais de uma cidade fascinada pelo novo, pela luz.

Guia ... 24

E, como o Trapeiro, Atget também tinha um rival na Cidade; seu nome: Charles Marville. Se o trapeiro tinha no gari seu extremo oposto na participação dos movimentos urbanos, Atget compartilhava temáticas e cenários com Marville. Enquanto o primeiro se dedicava a recolher e colecionar os rastros da modernização parisiense como forma de reflexão e memória, o segundo registrava, financiado pelo próprio Barão Hausmann, as transformações da cidade como forma de propaganda e documentação progressistas.


Este fragmento contém: 38 páginas 27 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “F7 - Berbequim higiênico” (1976, p. 50)

A

Paradigmas e antecedentes ambientais Biblioteca de Babel

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GEORGES PEREC

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Georges Perec Francês de Paris, escritor realista da OuLiPo, judeu e fumante. Apaixonado por jogos de palavras, palavras cruzadas, textos com restrições e complexos jogos matemáticos, catálogos e listas, de espécies de espaços a coisas, pela fotografia escrita, pela vida cotidiana, pelo tempo e pela Cidade. Georges Perec é escolhido nesta tese como válvula de escape, campo de manobra, ladrão. Uma experiência humana externa à arquitetura e ao urbanismo, uma evidência de outra possibilidade de leitura e escritura da Cidade.

Guia ... 25

Fragmento metalinguístico, um mapa dentro do mapa. No seu interior, caminhos e indicações para um perder-se na obra de Perec.


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Este fragmento contém: 14 páginas 42 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “E18 - Cafeteira para masoquista” (1976, p. 41)

UM CATÁLOGO DE COISAS: JACQUES CARELMAN

A

Paradigmas e antecedentes ambientais Biblioteca de Babel

Um catálogo de coisas: Jacques Carelman Este é um fragmento muito pequeno, quase irrisório. Diria até em suspensão, quase inútil. Mas como essa tese tem como fio condutor elogiar o inútil, assumir e dar conta do insignificante, a presença e constituição de um lugar para tal se torna irremediável. Explico: ao buscar possíveis leituras nas prateleiras empoeiradas de um dos hexágonos da Biblioteca de Babel – já não saberia precisar qual o número dele – encontro e resgato um velho, não antigo, catálogo de coisas encardido (o catálogo, não as coisas). As coisas apresentadas e oferecidas nesse catálogo são instigantes: são inviáveis.

Guia ... 26

A associação de várias dessas coisas inúteis, impossíveis, inutilizáveis, imprestáveis, com os demais 32 fragmentos desta tese foi imediata. Por isso, a abertura de cada fragmento de cada zona da tese será ilustrada com a imagem de um desses objetos inviáveis.


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Paradigmas e antecedentes ambientais Estrutura

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CAIXAS E VALISES: OBSERVANDO E EXPERIMENTANDO MARCEL DUCHAMP

Este fragmento contém: 12 páginas 10 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “F13 - Escova de dentes <fittipaldi>” (1976, p. 53)

Caixas e valises: observando e experimentando Marcel Duchamp Marcel Duchamp produziu caixas; singulares, verdes, brancas, em valises. Deu a estas caixas o status de objetos artísticos, com nome, assinatura, discurso, conceito, número e alma. Uma alma vulgar, desvalorizada, ironizada – típicas do autor. Duchamp depositou dentro destas caixas representações de suas principais obras. Transformou os rastros das obras em Obras. Deu-lhes condição de exibição. Não em museus ou galerias, mas na própria caixa que as acondicionava. Caixas como museus, coleções particulares dos rastros de alguns “Duchamps”. Com isso, não só os rastros de obras e as caixas ganharam qualidades nas intenções de Duchamp, mas também o observador, o fruidor, o possuidor da caixa. Sua posição se eleva e se iguala a de um curador. Está em suas mãos a decisão de organização, visualização, leitura. A coleção poderia ser manipulada e interpretada a cada experimentação do conteúdo da caixa. Essa atitude e solicitação do artista, muito mais conceitual do que estética – também típicas de Duchamp – fornecem a essa pesquisa muito mais do que alegorias, mecanismos ou dinâmicas; as caixas de Duchamp fornecem um procedimento metodológico digno de ser interpretado e metamorfoseado nesta tese.

Guia ... 27

Alimentação metodológica.


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Alegoria Central O Trapeiro

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Este fragmento contém: 08 páginas 03 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “Q4 - Luva-sapato para antípoda” (1976, p. 100)

EIS UM HOMEM

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Eis um homem Precedido por “Os tempos do Trapeiro” e apoiado em todos os fragmentos do mapa/índice.

Guia ... 28

Apresentação e argumentação do Trapeiro como hipótese de incorporação ao homem para uma apropriação e leitura da Cidade e sua alteridade urbana. Um discurso de inauguração de um movimento; um começo e um fim.


Este fragmento contém: 40 páginas 63 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “T4 - Relógio de pulso com três ponteiros; T5 - Despertador econômico” (1976, p. 120)

B

Alegoria Central O Trapeiro

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OS TEMPOS DO TRAPEIRO

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Os tempos do Trapeiro Era homem, virou personagem, caiu em desuso, sobreviveu na memória. Aqui retorna. É personagem, vira conceito, cai nas graças, constitui hipótese. A incorporação pelo homem cotidiano na Cidade contemporânea: o Trapeiro. Para dar-lhe sobrevida, configura-se na história, no tempo. Os fragmentos e rastros da memória de sua existência são aproximados e organizados em uma linha do tempo, um álbum de família. Sua historicidade – já que poucos, ou talvez ninguém tenha efetivamente teorizado sobre – transformada em analogia para estruturar a hipótese e, consequentemente, engendrar um discurso sobre uma possibilidade de vida e alteridade na Cidade.

Guia ... 29

Continua em “Eis um homem”.


B

Alegoria Central O Trapeiro

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Este fragmento contém: 32 páginas 02 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “C2 - Máquina de escrever para egiptólogo” (1976, p. 22)

TRAPEIRO: VESTÍGIOS EM BAUDELAIRE

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Trapeiro: Vestígios em Baudelaire Charles Baudelaire nunca apresentou diretamente o Trapeiro, ao contrário do que fez com o Flâneur, e talvez essa nunca tenha sido realmente uma intenção consciente do poeta. Baudelaire encontrou na figura do Flâneur campo suficiente e rico para expor e especular sobre o viver moderno, que se configurou em destino, desejo. Já o Trapeiro, personagem e ideia, era mais próximo, real. Tão próximo que o próprio autor se assemelhou e se espelhou nele – poeta e trapeiro. Por isso mesmo, as questões colocadas pelo poeta em seus textos, são reflexões também do trapeiro.

Guia ... 30

Para não deixar tais questões – que são como apresentações sutis do caráter do Trapeiro – passarem desapercebidas na história e nos tempos do nosso personagem fundamental, esse fragmento se constitui como uma mesa de um arqueólogo, onde pequenos pedaços de texto escavados e resgatados da obra de Baudelaire são apresentados. Obviamente pedaços interessados, vestígios do caráter do trapeiro deixados poeticamente para trás por Baudelaire.


Este fragmento contém: 16 páginas 02 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “Q6 - Sapatos <longa duração>” (1976, p. 101)

C

Mecanismos Incorporadores Lanterna (auxiliares)

C1_1

CAMINHAR

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Caminhar Ação banal, quase inconsciente, o caminhar é um das ações humanas mais primitivas e essências à própria existência do homem e sua formação civilizatória. Caminhar é verbo intransitivo, é um pensamento prático, ato de resistência, reflexão espiritual, aproximação ao desejado, exercício físico, é instrumento de leitura e escritura, do tempo e do espaço, é um movimento ativo, é humano. Errare humanum est. É a primeira forma que o homem dispõe para habitar e construir a paisagem.

Guia ... 31

Assumido como conceito, o caminhar é pressuposto e condição nesta tese. Todos os antecedentes, elogios, instrumentos, mecanismos e dinâmicas estão ligados, de uma forma ou de outra, a esse conceito-movimento. E como tal, é nesse fragmento apresentado, debatido, refletido.


C

Mecanismos Incorporadores Lanterna (auxiliares)

C1_2

Este fragmento contém: 14 páginas 07 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “K11 - Selim-bidê para damas; K12 - Selim-privada” (1976, p. 73)

COLECIONAR

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Colecionar

Guia ... 32

Fragmento do mapa/índice inteiramente manufaturado pelas ideias de um único autor: Walter Benjamin. Em toda a tese considerou-se o conceito de coleção desenvolvido pelo filósofo alemão. Conceito que, para o autor, é parte integrante de formulações humanas como a Memória, a transformação das palavras em linguagem, o desenvolvimento e aproximação da criança com o mundo. Colecionar como ato de rememoração, produção do conhecimento histórico, descontextualização de objetos no espaço e no tempo. Colecionar é reivindicar para si a possibilidade de possuir o mundo, mesmo apenas uma parte insignificante dele, ou até me relacionar distantemente com o Outro, no caso de coleções de objetos antigos ou encontrados e recolhidos. Colecionar é catalogar, inventariar, organizar, descontextualizar, resignificar, recriar, reexistir. Colecionar é desinvestir o objeto de seu sentido utilitário, é darlhe outro lugar no mundo dos objetos. Colecionar é ativar gavetas, arcas, baús, caixas. Podese assumir esse ato também na Cidade, na sua leitura e incorporação. Colecionar lugares, resignificá-los.


Este fragmento contém: 20 páginas 01 figura 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “F1 - Pia vertical” (1976, p. 47)

C

Mecanismos Incorporadores Lanterna (auxiliares)

C1_3

COTIDIANO

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Cotidiano Mais do que o espaço público, a vida cotidiana é o campo espaço/temporal da realização da vida humana, e como tal é entendido e assumido nessa tese. É no cotidiano que encontramos os elementos desejados para a leitura de Cidade proposta, e onde o Trapeiro tem espaço e tempo para constituir suas apropriações. É na vida cotidiana que encontramos possibilidades reais de alteridade, onde a sociabilização e encontro com o Outro acontece, ou deveria acontecer, agenciados pelo conflito e estranhamento e não pelo apaziguamento e cordialidade.

Guia ... 33

Assumo, como estratégia seminal para a estruturação da incorporação do Trapeiro na Cidade, as formulações empreendidas por Henri Lefebvre, Maurice Blanchot, Michel de Certeau e Georges Perec. Todos esses autores, além de outros tantos possíveis e não mencionados, estabeleceram e/ou buscaram a hegemonia da vida humana no cotidiano, expropriando o capital como produtor do espaço urbano, ou seja, da vida humana.


1 4

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Este fragmento contém: 22 páginas 06 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “N8 - Balanço de apartamento” (1976, p. 89)

JUNKSPACE COMO CONDIÇÃO

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Mecanismos Incorporadores Lanterna (auxiliares)

Junkspace como condição Um território perigoso, mas, ao mesmo tempo, esclarecedor, esse fragmento está imerso em reflexão social, teoria crítica, desvios revolucionários, pessimismo e ironia contemporâneos. Perigoso, pois desvela um monstro, criado por nós mesmos, que insistimos em escamotear em baixo da cama; mas esclarecedor por justamente deixa-lo à mostra, à vista. Esse ato de desvelamento é conduzido por um grupo de pensadores que acompanham a caminhada proposta nesta tese. Um entrelaçamento de questões colocadas por cada um deles, em diferentes momentos e contextos históricos. Uma espécie de raio-X de um desenvolvimento histórico em andamento. Uma condição urbana contemporânea, onde se aproximam Georg Simmel, Herbert Marcuse, Guy Debord, Rem Koolhaas e Gilles Lipovetsky.

Guia ... 34

Uma condição que vem desde a apatia do Blasé Simmeliano como proteção ao choque da modernidade do início do séc. XX; ao encontro de alguma humanidade, ainda assim alienadora, no trabalho e na unidimensionalidade desvelada por Marcuse; passando pela transformação e sacralização das representações imagéticas da espetacularização social e urbana, vislumbrada por Debord nas vidas e desejos da sociedade do consumo; chegando até a consolidação e perpetuação dos espaços genéricos e “lixo” desenhados conceitualmente nos textos de Koolhaas; espaços estes que são lançados em alta velocidade para dentro do séc. XXI, abrindo um fértil campo para a hiper-modernidade percebida por Lipovetsky. Com esse raio-X em mãos, a caminhada proposta ganha em qualidade reflexiva. Percorrer o território contemporâneo complexo da Cidade com o auxílio desse “mapa” crítico amplia no corpo a possibilidade de percepção, e fundamentalmente, consciência desta realidade árida e dissimulada na qual habitamos.


Este fragmento contém: 12 páginas 00 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “R6 - Óculos para namorados míopes” (1976, p. 110)

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Mecanismos Incorporadores Lanterna (auxiliares)

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O OUTRO

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O Outro Se a casa é o espaço do indivíduo, do próprio, do eu. Se a casa é onde reside e habita o corpo, o eu. Se a casa é onde domino, controlo, governo soberano. Se a casa é onde encontro o meu semelhante, meu familiar, meu próximo, meu. Se a casa é o território doméstico, privado, íntimo, dentro. O que é a rua? Fora? Fora. Fora do eu. Fora do eu está o Outro. Fora de casa está a rua. A rua é do Outro. A Cidade é do Outro. A Cidade é o espaço do Outro; o corpo do Outro; o poder do Outro; o medo do Outro; a presença do Outro; a ausência do Outro; o tempo do Outro; o lugar do Outro; o conflito do Outro; o cheiro do Outro; o prazer do Outro; a certeza do Outro; a diferença do Outro; o desejo do Outro; o estranhamento do Outro; a experiência do Outro; o caos do Outro; a ordem do Outro; o olhar do Outro; o controle do Outro; a interpretação do Outro; a verdade do Outro; o som do Outro; a condição do Outro; o caminho do Outro; a tentação do Outro; o desprezo do Outro; o mapa do Outro; o amor do Outro; o velado do Outro; o explícito do Outro; o movimento do Outro; a possibilidade do Outro; o encontro do Outro; a aceitação do Outro; o contato do Outro; a incorporação do Outro; a apropriação do Outro. A Cidade é o Outro. Guia ... 35

Ler a Cidade é ler o que é essa “outra” entidade: o Outro.


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DIGA-ME ONDE CAMINHAS QUE TE DIREI QUEM ÉS

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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

Este fragmento contém: 10 páginas 28 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “H1 - Chave para fechaduras altas; H2 - Chaveiro em forma da chave; H3 - Chave para fechadura inacessível; H4 - Chave dupla” (1976, p. 58)

Diga-me onde caminhas que te direi quem és O ato de caminhar é um paradigma dessa tese. Tal ato tem como consequência desejada aqui perceber, ler, escrever a Cidade com o corpo. Além disso, caminhar por caminhos da/ na Cidade constitui a individualidade do homem, faz parte da sua constituição, composição.

Guia ... 36

Para reforçar essa incorporação dos caminhos caminhados, registram-se tais movimentos em um diário. Páginas organizadas com desenhos, fotografias e informações da memória. Um diário/coleção: pisos ordinários pisados durante as caminhadas, muitas vezes ordinárias, pela Cidade.


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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

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ESCADÕES: UMA COLEÇÃO COMUM, OU SOBRE VIVER NA CIDADE CONTEMPORÂNEA

Este fragmento contém: 28 páginas 53 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “A18 - Escada para perneta” (1976, p. 16)

Escadões: uma coleção comum, ou sobre viver na cidade contemporânea

Guia ... 37

Incorporado o Trapeiro, observar, experimentar, registrar, catalogar, esgotar os escadões urbanos é tecer um elogio à inutilidade na Cidade contemporânea. É estabelecer um contato apropriado com um lugar real da vida cotidiana. Um lugar específico e simbólico. Lugar na Cidade do esforço do corpo, da funcionalidade ainda mecânica/humana; diria até précapitalista. Pois, utilizar um escadão pode servir como atalho e encurtador espacial, mas distende o tempo de nossa presença e contato corporal com a Cidade. Enfim, subir e descer um escadão é uma forma de dizer, com o corpo, à Cidade: “estou disponível!”


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TRAPEIROS CONTEMPORÂNEOS (1/3) EDSON CHAGAS, FRANCIS ALŸS E GABRIEL OROZCO

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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

Este fragmento contém: 28 páginas 69 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “A6 - Martelo torcido; A7 - Polimartelo; A8 - Prego bicéfalo; A9 - Prego farpado; A10 - Parafuso bífido para madeira” (1976, p. 11)

Trapeiros Contemporâneos (1/3): Edson Chagas, Francis Alÿs e Gabriel Orozco. Rastros e vestígios na/ da Cidade Trilogia das apropriações parte 1.

Guia ... 38

Olhar para fora, da disciplina Arquitetura, e encontrar quem fale do que pretendo escrever. Análise crítica das obras Found, not taken (2008), do angolano Edson Chagas, El Colector (1991), do belga-mexicano Francis Alÿs, e Piedra que cede (1992), do mexicano Gabriel Orozco.


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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

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TRAPEIROS CONTEMPORÂNEOS (2/3) JORGE MACCHI E GUILLERMO KUITCA

Este fragmento contém: 28 páginas 36 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “A15 - Brocha para canos” (1976, p. 14)

Trapeiros Contemporâneos (2/3): Jorge Macchi e Guillermo Kuitca. Mapas, leituras no tempo Trilogia das apropriações parte 2.

Guia ... 39

Olhar para fora, da disciplina Arquitetura, e encontrar quem fale do que pretendo escrever. Análise crítica das obras Buenos Aires Tour (2003), do argentino Jorge Macchi, e Le Sacre (1992), do também argentino Guillermo Kuitca.


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Este fragmento contém: 22 páginas 15 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “D6 - Cadeira para marcha” (1976, p. 29)

TRAPEIROS CONTEMPORÂNEOS (3/3) GORDON MATTA-CLARK

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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

Trapeiros Contemporâneos (3/3): Gordon Matta-Clark. Conceito, Corpo, Espaço Trilogia das apropriações parte 3.

Guia ... 40

Olhar para fora, da disciplina Arquitetura, e encontrar quem fale do que pretendo escrever. Análise crítica da obra Reality Properties: Fake Estates (1973), do norte-americano Gordon Matta-Clark.1


Este fragmento contém: 10 páginas 04 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “E20 - Casquinha de sorvete higiênica” (1976, p. 42)

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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

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HÁ UMA FLÂNEUSE?

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Há uma Flâneuse? Consideremos a observação interessada da multidão feita pelas personagens de E. T. A. Hoffmann em 1822, como ponto de fundação de uma linha genealógica dos personagens interessados nas leituras urbanas subjetivas. Considerando ainda que, como segundo momento dessa linha genealógica, está a personagem convalescente de Edgar Allan Poe, que observa, em 1840, a multidão através da vitrine de um café londrino, e que furtivo, posteriormente, decide seguir um homem desconhecido pela cidade. O ponto seguinte dessa linhagem de leitores/escritores da Cidade moderna é o artista-repórter Sr. G, poeticamente apresentado por Charles Baudelaire em 1863, e intitulado de Flâneur. Principalmente para Walter Benjamin, interlocutor filosófico do poeta, já no começo do século XX, o Flâneur se torna o personagem urbano símbolo da Cidade moderna, o primeiro a experimentar corporal e anonimamente, oscilando entre a aura e o rastro da modernidade, as transformações urbanas decorrentes do desenvolvimento tecnológico resultado da modernização da sociedade urbana.

Mas uma pergunta anda pairando por sobre as cabeças que pensam o Flâneur: esse personagem, esse herói anônimo moderno, sempre foi caracterizado, física e conceitualmente, como uma personagem masculina. E a mulher? E o corpo urbano feminino? Consegue incorporar o Flâneur? Há uma Flâneuse?

Guia ... 41

Com todo esse interesse e reflexão filosóficos, o Flâneur e a flanagem [flânerie] receberam os holofotes da história e se converteram em situação máxima para as investigações urbanas vinculadas ao indivíduo, às percepções, ao caminhar, às memórias e à vida cotidiana.


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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

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Este fragmento contém: 14 páginas 04 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “E26 - Copo com dois compartimentos” (1976, p. 45)

OS ERRANTES DE PAOLA

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Os Errantes de Paola A professora Paola, uma dos “figurões”, escreveu um dia (2006, p. 117-8): [...] tentarei observar sobretudo o que está a princípio fora, ou à margem, do urbanismo enquanto campo disciplinar. Me interesso ao que escapa ao urbanismo e aos projetos urbanos em geral, ao que está fora do controle urbanístico e, em particular, as errâncias urbanas, ou seja, um tipo específico de apropriação do espaço urbano, que não foi pensado nem planejado pelos urbanistas ou outros especialistas do espaço urbano. Se anteriormente sugeri a possibilidade de um arquiteto urbano, [...] agora a minha preocupação principal estaria no que chamei de estado de espírito errante, ou melhor, um “estado de corpo” errante, [...] de um devir errante, que no caso mais extremo e específico, seria o devir errante do próprio urbanista, aquele que também poderia, paradoxalmente, ser chamado de urbanista errante.

Guia ... 42

Ela decidiu elogiar o Errante, e o fez em forma de livro. Tomo tal escrito em minhas mãos, como um Trapeiro, e o transformo em um mapa.


Este fragmento contém: 22 páginas 78 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “K8 - Bicicleta para neve” (1976, p. 71)

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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

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PERSONA(GENS) URBANA(S)

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Persona(gens) urbana(s) É em torno de um personagem urbano que todos os fragmentos da tese orbitam. O ponto centrífugo é o Trapeiro, ele é o centro da hipótese que se pretende assumir. Aos meus olhos, o trapeiro “indivíduo” ganha status de procedimento, de mecanismo disponível à incorporação. De personagem urbano à Persona Urbana; “roupagem” conceitual entregue aos interessados nas leituras urbanas, nas caminhadas em meio à multidão. Mas no meio do caminho outros personagens urbanos também se apresentam, como já se apresentaram a muito tempo atrás, como possibilidades de leitura da Cidade. Do fisionomista ao jogador, os personagens urbanos que se convertem em personas urbanas se “acumulam” pelo campo de investigação, a ponto de se converterem em uma coletânea, uma coleção. Coleção que pode ser vista – para mantermo-nos nas alegorias corriqueiras dessa tese – como um museu de cera, nos moldes do londrino “Madame Tussauds”.

Guia ... 43

Cuidado ao entrar nesse museu de personas, elas parecem reais. Caso você se aproxime demais, elas podem afetar profundamente.


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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

C2_9

Este fragmento contém: 10 páginas 07 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “E8 - Garfo para espaguetes” (1976, p. 37)

LINA BO E O SESC POMPÉIA

2 9

Lina Bo e o SESC Pompéia

Guia ... 44

Do Homo Faber de Hannah Arendt ao Homo Ludens de Johan Huizinga, da antiga fábrica de tambores Ibesa ao centro esportivo de lazer da unidade do SESC na Pompéia, este fragmento tece uma análise conceitual de uma metamorfose agenciada. A construção de uma máquina de guerra, um Lugar fenomenológico capaz de subverter uma lógica ideológica da sociedade contemporânea, a unidimensionalidade do trabalho. Uma apropriação arquitetônica, até certo ponto sutil – apesar da monumentalidade crua do concreto, que transformou um ambiente do sofrimento laborioso fabril em lugar da possibilidade do nada fazer, do inútil, do preguiçoso, do sujeito. A metamorfose de um espaço que controlava o corpo e a alma alienados do operário, em um lugar onde o mesmo operário pode conhecer a si, encontrar a liberdade da preguiça e do ócio; a metamorfose do corpo. Cidadela da Liberdade. Máquina de guerra da liberdade do sujeito.


C

2 10

Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

C2_10

TENTATIVA DE ESGOTAMENTO DE UM LUGAR

Este fragmento contém: 10 páginas 12 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “C5 - Aparelho para colocar pingos nos ii” (1976, p. 24)

Tentativa de esgotamento de um lugar Em alguns momentos, a voz e a fala de algum dos autores que caminham comigo é tão forte, precisa, sensível; que nada mais justo e estratégico para a caminhada que assumila e incorporá-la. Georges Perec, no livro Tentative d’épuisement d’un lieu parisien (1975), faz um elogio à grande cidade e a seu cotidiano. Faz um convite a observação dos fluxos visíveis e invisíveis que marcam os espaços da cidade. É um sutil convite ao habitante da cidade a enxergar o espaço que atravessa todos os dias, sem filtros ou outros aparatos. Uma provocação que atravessa o tempo, as gerações, e se aproxima das nossas relações atuais com o espaço urbano. Perec estabelece uma meta: em uma tentativa, esgotar as possibilidades catalográficas de um lugar da cidade. Registrar tudo o que acontece, tudo o que passa; justamente quando nada se passa. Um catálogo de nada.

Guia ... 45

Entro na conversa e acompanho Perec numa apresentação daquele texto e finalizo com uma reflexão sobre a atitude e postura solicitadas pelo escritor e seus possíveis desdobramentos nos elogios e procedimentos empreendidos nessa tese.


2 11

C2_11

Este fragmento contém: 12 páginas 01 figura 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “S4 - Apito luminoso para cachorro surdo” (1976, p. 115)

TRÊS PERSONAGENS DE UMA LONGA HISTÓRIA: DOS PRIMOS HOFFMANNIANOS A MARCOVALDO

C

Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)

Três personagens de uma longa história: Dos primos Hoffmannianos a Marcovaldo Um desdobramento, por sobre a literatura, do fragmento Persona(gens) urbana(s). Dois tempos, dois espaços, dois movimentos – literários e urbanos. De uma experiência romanesca derradeira de E. T. A. Hoffmann, na Berlim do início do século XIX, saltando até a fantástica cidade, que ironicamente nos é muito familiar, da segunda metade do século XX, onde Italo Calvino fez Marcovaldo viver. Dos dois primos alemães que se visitam e observam à distância e aos pedaços, graças à doença e a um binóculo de ópera de um deles, a cidade que dá sinais singelos de modernidade e seus personagens do cotidiano, durante um dia de feira (Janela de esquina do meu primo, ou Des vetters eckfenster, 1822). Às desventuras de Marcovaldo ao tentar encontrar e recolher resíduos e rastros de uma Natureza já inexistente na Cidade moderna. Natureza, lê-se humanidade, ou até, arriscaria, alteridade (Marcovaldo, ou as estações na cidade, ou Marcovaldo ovvero Le stagioni in città, 1963).

Guia ... 46

Uma longa história – da literatura realista à fantástica – de um processo de leitura da Cidade: de um dos primeiros a lançar um olhar curioso sobre a Cidade e sua multidão, ao excelente exemplo de Trapeiro na Cidade contemporânea.


Este fragmento contém: 20 páginas 43 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “E9 - Colher-pente” (1976, p. 37)

C

Mecanismos Incorporadores Gancho (ferramentas)

C3_1

CAIXA DE TRAPOS

3 1

Caixa de Trapos Receptáculo das coisas resgatadas pelo Trapeiro, a caixa de trapos é manipulada como instrumento de leitura e escritura da Cidade atravessada, vivida. Manipulada como uma coleção em constante edição, interpretação, percepção. Relicário de memórias encontradas, resignificadas, apropriadas, a caixa de trapos é um outro lugar onde os espaços e os tempos do cotidiano podem ser revistos, repercebidos, representados ao próprio Trapeiro.

Guia ... 47

Da analogia teórica à especulação prática, a caixa de trapos é apresentada através do registro de exercício acadêmico e pedagógico conduzido pelo autor da tese.


C

Mecanismos Incorporadores Gancho (ferramentas)

C3_2

Este fragmento contém: 20 páginas 50 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “I3 - Fuzil para a caça do canguru” (1976, p. 64)

CRONOFOTOGRAFIA DE RUA

3 2

Cronofotografia de rua Concomitante a Psicogeografia, a fotografia talvez se enquadre como outra possibilidade, assim como os mapas influenciais, de representação das afetações geradas pela vida cotidiana no corpo do Trapeiro, principalmente na passagem do tempo. Pois, como Benjamin coloca, a fotografia consegue apresentar, ao fotógrafo, o inconsciente ótico do gesto cotidiano instantâneo, efêmero.

Guia ... 48

Mas aqui serão destacados, investigados e colecionados, apenas alguns fotógrafos, que serão convertidos em um tipo de catálogo exemplar, manual de boas práticas. Os fotógrafos inventariados serão considerados sob uma perspectiva peculiar e classificados pela personificação do Cronofotógrafo. Figura que se dedica, exclusiva ou intensamente, aos registros da rua considerando a passagem do tempo; figura com características de arqueólogo e etnógrafo, espelho da vida cotidiana nas ruas da Cidade.


Este fragmento contém: 14 páginas 14 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “E21 - Ferro de passar com rodinhas” (1976, p. 43)

C

Mecanismos Incorporadores Gancho (ferramentas)

C3_3

PSICOGEOGRAFIA

3 3

Psicogeografia Tendo como matriz os passeios surrealistas pela cidade banal e inconsciente, o grupo Letrista, convertido posteriormente nos Situacionistas, assume a postura lúdica de possuir a Cidade através de representações e ações fundamentadas nas percepções, pulsões, afetos, provocados nos corpos em movimento lento, torto e perdido pelos espaços fragmentados – arquipélagos – da cidade capitalista e espetacularizada da segunda metade do século XX. As perambulações surrealistas se metamorfoseiam nas derivas e jogos situacionistas de Guy Debord e companhia. Dentro das ações das derivas propostas pelo grupo, nasce a ideia de formalizar as percepções corporais em uma espécie de mapa influencial, representações das afetações geográficas e psíquicas. Essa dinâmica ganha o nome de Psicogeografia. Termo concebido e estruturado no interior da Internacional Situacionista, pode-se encontrar paralelos diretos com as discussões do Flâneur e de todos os outros que se propuseram a constituir uma práxis da apropriação da Cidade pelo corpo do homem.

Guia ... 49

Como ferramenta, amplia o leque de representações e especulações estéticas, conceituais, artísticas. Coloca também em questão a propriedade do intérprete perante tais representações. Um outro olhar e interpretação, talvez distante da percepção original, mas que estabelece e amplia as possibilidades de incorporação da Cidade.


D

Dinâmica-Fim Incorporações

D_1

Este fragmento contém: 34 páginas 91 figuras 00 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “K1 - Tandem convergente” (1976, p. 68)

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS (PROJETOS INTEGRADORES 1, 2 E 3)

1

Práticas Pedagógicas (Projetos Integradores 1, 2 e 3)

Guia ... 50

Região do território onde se realizam experimentações. Um campo de testes e aplicações da hipótese desta tese; onde pode-se encontrar possibilidades acadêmicas de manuseio de todo o arcabouço recolhido, registrado e interpretado durante a caminhada por todos os outros fragmentos do vasto território apresentado. É possível encontrar aqui resquícios (pois não podem ser inteiros, porque a experiência concreta é do corpo, no tempo e no espaço), de atividades acadêmicas e pedagógicas desenvolvidas durante alguns anos nos componentes curriculares do módulo introdutório do curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Senac, mais especificamente nas disciplinas “Projeto Integrador” 1, 2, e 3, que tratam, resumidamente, do reconhecimento, leitura e apropriação do espaço da Cidade.


D

2

Dinâmica-Fim Incorporações

D_2

EXPERIÊNCIA COM A HIPÓTESE (ESCADINHAS DE LISBOA)

Este fragmento contém: 62 páginas 59 figuras 08 mapas dobráveis A ilustração de Carelman do objeto: “K6 - Bicicleta para subir e descer escadas” (1976, p. 70)

Experiência com a hipótese (Escadinhas de Lisboa) Capacidade, disponibilidade, subjetivação, experiência... de olhar no olho do outro, como provoca Maria Rita Kehl. A experiência de confrontar o Outro, estar no lugar do Outro e, mesmo assim, não destruir o Eu. Até mesmo o contrário, na construção da intersubjetividade, alteridade, a constituição da própria subjetividade. Me faço no olhar do outro. O fim dessa, ou para essa, tese está justamente nessa “capacidade do alter”, no sofrimento e sobrevivência – subjetiva – que o Eu, corpo, enfrenta no contato com o Outro, fundamentalmente no espaço desse último; na Cidade. Nesse fragmento vamos encontrar uma possibilidade de estar na Cidade experimentando algumas das tantas coisas recolhidas durante o percurso da investigação empreendida até aqui. Seria isso uma comprovação da hipótese colocada? Seria a transformação científica da hipótese em tese? Enfim, o corpo experimentou a Cidade como um Trapeiro vestido de Cronofotógrafo/ Etnógrafo em narrativas do cotidiano, do tempo, do ordinário urbano, nas coleções, nos esgotamentos, nas interpretações.

Guia ... 51

O pedaço de cidade escolhido foi a Escadinha de Lisboa, Portugal. Na verdade, não “a” Escadinha, mas “as” Escadinhas... 126 delas.


FRAGMENTOS FORA DO MAPA Alguns fragmentos puderam ser percebidos durante o percurso pelas zonas do mapa, inclusive marcados e delimitados no território, mas, por conta do recorte espaço-temporal da tese, tais fragmentos acabaram ficando de fora, lá fora, além do limite da folha do mapa, do fôlego do caminhante. O que não quer dizer que os fragmentos sejam desinteressantes. Muito pelo contrário, estão logo ali já encaminhados, esperando a retomada de fôlego deste que caminha sempre...

A3_2 – Constelação de Imagens de Aby Warburg

C1_6 – Tempo

C1_7 – Memória/Rastro

C2_12 – Três homens, em três cidades, com três olhares e um mesmo caminho: Sobre Fernando Pessoa, João do Rio e Guilherme de Almeida, caminhando, lendo e escrevendo, respectivamente, a Lisboa de 1913-1934, o Rio de Janeiro de 1904-1907 e a São Paulo de 19271928, todos com alter-egos. C2_13 – Tuca Vieira como um Fotógrafo-Atlas (Atlas fotográfico da cidade de São Paulo e seus arredores, 2016)

C3_4 – Cacofonias da Metrópole (Os 3 filmes de László Moholy-Nagy sobre a Cidade)1

1 A obra Walking a Straight 10 Mile Line Forward and Back Shooting Every Half Mile (1969), do galês Richard Long, faria parte deste fragmento (C2_5), mas pelas razões expostas a seguir, foi deixada de lado, no tempo. Por isso aqui fica seu vestígio, como registro dessa passagem intencionada e não realizada. A obra, mas principalmente o artista em questão, parecia, a princípio, apresentar características suficientes para a apropriação e exemplificação do Trapeiro Contemporâneo – motivo deste fragmento e dos adjacentes. Parecia “útil” por conta de questões relacionadas com o retorno do corpo, tanto concreto como conceito, ao centro das investigações e percepções espaciais. A vasta produção artística de Long constrói no discurso da arte um desvio fundamental, ao transformar o fazer artístico, e seus “produtos”, em puro conceito. A obra de Richard Long está na experiência em si da caminhada pelo território. Caminhar puro, que deixa rastros efêmeros na paisagem e resgata dela pequenas, nem sempre no tamanho, relíquias e “provas” da efetiva caminhada.

Guia ... 52

Meu trabalho tem que funcionar em todos os níveis, até para os incrédulos. É claro que é possível que eu não tenha feito qualquer uma dessas caminhadas, e em alguns aspectos, se não a fizesse, elas teriam que funcionar no nível da verdadeira arte conceitual. Mas a diferença para mim é que, enquanto as ideias são importantes, é crucial que eu faça minha arte – por isso são caminhadas reais, pedras reais, lama real. (Richard Long In: NICHOLSON, 2011, p. 98)

Havia aí a intenção de aproximar essa postura a do Trapeiro por conta do “resgate” do Corpo e da Experiência, questionada por Benjamin e Agamben, perante a Pobreza e Espetacularização das relações urbanas contemporâneas, como propõe a professora Paola Jacques, decorrentes da passagem da modernização racionalizada que vivenciamos nesse fim e início de novo século. Mas um fato, aparentemente pequeno, colocou em suspensão a validade de seu uso como exemplo do Trapeiro Contemporâneo: as experiências puras das caminhadas empreendidas por Richard Long são todas realizadas em paisagens e territórios não-urbanos, ou pelo menos muitíssimo distantes de espaços urbanos. Fato que poderia ser considerado como uma fuga, negação, ressentimento perante o fato urbano com as características descritas acima. Por isso, nesses casos, ficase a dúvida e permanece-se no desejo, apenas. Talvez possa retornar em outro momento, com mais argumentos.


C2_4 C2_5

902.42

C1_5

890.54

C2_3

C1_3

890.13

C2_8

890.52

O guia -890.11 índice/mapa “Elogios à inutilidade: a incorporação do Trapeiro como possibilidade de apropriação da Cidade e sua alteridade urbana” 893.12 São Paulo _ 2016

890.52

891.09

33 Fragmentos

893.38

Zona A (v. 2)

895.41

A1 - Subterrâneo

C2_11

C2_10

887.60

888.51

894.01 A1_1 - I ntenções Paradigmáticas A1_2 - PPP A1_3 - Um método, dois lados 897.07

892.82

902.23

902.96

D_1

891.89

C2_7

903.22

889.45

A2 - Biblioteca de Babel

C3_1

A2_1 - Álbum de figurões A2_2 - Retorno à Biblioteca A2_3 - E. Atget e C. Marville 896.26 A2_4 - G. Perec A2_5 - Catálogo de coisas ssvt.09

890.39

897.57 nvm.043

C2_9

898.17

900.26

A2_1

898.77

896.74

A2_4

A2_3

B_1

746.76

homem B_2 - Os894.24 tempos do Trapeiro B_3 - Vestígios em Baudelaire

895.08

900.61

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B_3

898.21

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4.

A3_1

50

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B_2

899.69

A1_3

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896.34 895.98

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A1_1

C2_1 - Diga-me onde caminhas C2_2 - Escadões C2_3 - E. Chagas, F. Alÿs e G. Orozco C2_4 - J. Macchi e G. Kuitca C2_5 - G. Matta-Clark C2_6 - Há uma Flâneuse? C2_7 - Errantes de Paola C2_8 - Persona(gens) urbana(s) C2_9 - Lina Bo e o SESC Pompéia C2_10 - Tentativa de esgotamento C2_11 - Três personagens

896.83

Zona D (v. 5)

894.92 894.34

893.62 894.57 898.58

894.94

C3_1 - Caixa de Trapos C3_2 - Cronofotografia de rua C3_3 - Psicogeografia

896.66 897.90

C1_1 - Caminhar C1_2 - Colecionar C1_3 - Cotidiano C1_4 - Junkspace C1_5 - O Outro

C3 - Gancho np.11

892.86 886.15

C1 - Lanterna

C2 - Saco

894.09

895.65

895.54

889.85

897.41

B - o Trapeiro B_1889.95 - Eis um

Zona C (v. 4)

A2_5

889.05

A3_1 - Caixas e valises

C3_3

899.33

A2_2

A3 - Estrutura

892.72

Zona B (v. 3)

897.49

746.66

893.13

C3_2

C2_2

896.43

888.86 890.09

887.53

889.05

896.61

nvt.02

888.14

889.50

893.58

893.68

C1_1

888.24

888.49 891.13

C1_2

0

896.08 902.53

902.17

D_2

888.40

887.41

891.02

892.21

C1_4

ns.79

885.53

890.45

C2_6

899.18

885.76

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900.81

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97 9. 88

902.85

889.03

C2_1

896.40

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889.47

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897.24 897.74

899.91 899.69

894.21

D - Incorporações

D_1 - Práticas Pedagógicas - Experiência com a hipótese 894.88

D_2 897.76

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O guia -890.11 índice/mapa “Elogios à inutilidade: a incorporação do Trapeiro como possibilidade de apropriação da Cidade e sua alteridade urbana” 893.12 São Paulo _ 2016

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33 Fragmentos

893.38

Zona A (v. 2)

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A1 - Subterrâneo

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887.60

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894.01 A1_1 - I ntenções Paradigmáticas A1_2 - PPP A1_3 - Um método, dois lados 897.07

892.82

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A2 - Biblioteca de Babel

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A2_1 - Álbum de figurões A2_2 - Retorno à Biblioteca A2_3 - E. Atget e C. Marville 896.26 A2_4 - G. Perec A2_5 - Catálogo de coisas ssvt.09

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C2_1 - Diga-me onde caminhas C2_2 - Escadões C2_3 - E. Chagas, F. Alÿs e G. Orozco C2_4 - J. Macchi e G. Kuitca C2_5 - G. Matta-Clark C2_6 - Há uma Flâneuse? C2_7 - Errantes de Paola C2_8 - Persona(gens) urbana(s) C2_9 - Lina Bo e o SESC Pompéia C2_10 - Tentativa de esgotamento C2_11 - Três personagens

896.83

Zona D (v. 5)

894.92 894.34

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C3_1 - Caixa de Trapos C3_2 - Cronofotografia de rua C3_3 - Psicogeografia

896.66 897.90

C1_1 - Caminhar C1_2 - Colecionar C1_3 - Cotidiano C1_4 - Junkspace C1_5 - O Outro

C3 - Gancho np.11

892.86 886.15

C1 - Lanterna

C2 - Saco

894.09

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B - o Trapeiro B_1889.95 - Eis um

Zona C (v. 4)

A2_5

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A3_1 - Caixas e valises

C3_3

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A3 - Estrutura

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Zona B (v. 3)

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D - Incorporações

D_1 - Práticas Pedagógicas - Experiência com a hipótese 894.88

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Proponho um jogo, de novo! Este volume 1 da tese deve ser entendido como um guia, mantido próximo durante os percursos/ leituras e manipulado sempre que houver dúvida, aparentar desorientação, encontros com bifurcações, alternativas e múltiplos caminhos a seguir. Este volume é importante para a tese, pois é ele que suporta e “organiza” todos os 33 fragmentos, já que cada um se comporta, superficialmente, independente dos demais. Independência reforçada, inclusive, pela ausência de uma paginação sequencial e total, que estruturaria uma linearidade absoluta e uma ordenação estanque que foram evitadas durante grande parte das reflexões desenvolvidas na tese. A lógica dos 33 fragmentos “distribuídos” no território está justamente como provocação e convocação à perambulação, ao jogo, à perseguição dos interesses, afetos, desejos criados e construídos durante o caminhar pelas palavras. Afetos que geram linearidades, mas diferentes daquela mencionada anteriormente. A linearidade criada aqui é provisória, é constituída pelo próprio caminhar, pela decisão do corpo de ir para cá ou para lá, de assumir o desconhecido ou assegurar o domínio estabelecido. A intenção a que se pretende é exatamente simular, ou reencenar, os movimentos involuntários, imperceptíveis, inconscientes, mas também interessados, resistentes, dos corpos pela Cidade, pelo Cotidiano urbano. Por isso, solicita-se que o leitor retorne frequentemente ao índice/mapa, tanto aos resumos de cada um dos 33 fragmentos quanto ao mapa azul com as zonas dentro do território, para reestabelecer ou corroborar sua trajetória pré-estabelecida ou alterada a posteriori. Mas a possibilidade de ir de um fragmento a outro não se dá somente no encerramento de sua leitura e passagem para um outro fragmento. Durante a leitura de muitos fragmentos aparecerão instantes de desvio e deslocamento, indicação/sugestão de/para outros fragmentos. Algumas dessas indicações são explícitas – normalmente apontando o código e o título do fragmentodestino entre parênteses no transcorrer do texto –, outras estarão implícitas no texto – como um compartilhamento de uma temática, ou uma mesma “origem” – e outras tantas escamoteadas, voluntária ou involuntariamente, num jogo1 de adivinhação e caça ao tesouro, como pequenos trapos (C3_1) abandonados e deixados como rastros. Elementos, independente de que tipo de indicação for, solicitam ao leitor um caminhar pela tese mais atento, repetindo uma sugestão feita por Francesco Careri (C1_1) de um caminhar estrábico. Estrutura e dinâmica que não isenta nem elimina a responsabilidade do autor da tese em conduzir, minimamente, o caminhar dos leitores. Afinal, este não é um lugar para perder-se livre e gratuitamente, é preciso “perseguir” a hipótese e sua comprovação em tese; por sobre todo esse trabalho, ainda existe e paira um objetivo aurático, que não pode e não será negado.

1 O mesmo tipo de jogo foi proposto na minha dissertação de mestrado, em 2009. Por isso a referência de retomada no título deste texto.

Guia ... 57

Com isso, a seguir serão apresentadas algumas possibilidades de percursos pelos fragmentos, indicações-guias de trilhas já marcadas no território: algumas programadas por afinidade didática e temática; outras por associações subjetivas, irônicas, lúdicas, etc.; outras ainda por leitura e interpretação geográfica do território, como um apache, ou mateiro...


CCC111 ___222 AAA222 ___555 AAA222 ___111 BBB___ 333 CCC222 ___222 CCC222 ___111 AAA333 ___111 CCC333 ___111 DDD___ 222 CCC222 ___888 Das Dascoleções coleções

BBB___ 111 CCC111 ___222 AAA222 ___333 CCC222 ___333 CCC222 ___444 CCC222 ___555 CCC333 ___222 AAA222 ___444

Das coleções Das Das coleções coleções

AAA111 ___333 AAA222 ___333 AAA333 ___111 BBB___ 333 CCC111 ___333 CCC222 ___333 CCC333 ___111 CCC333 ___222 CCC333 ___333

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Obsessões Obsessãodo do 3 Obsessões do 33 Obsessões Obsessões do do 3 3

Guia ... 58

BBB___ 111

Bloco dos primeiros Bloco dos Bloco dos primeiros primeiros Bloco Bloco dos dos primeiros primeiros

Procedimentos com com estudantes Procedimentos Procedimentos com Procedimentos com Procedimentos com estudantes estudantes estudantes estudantes


pos

A1A1 _A1A33_1 A2A2 __11 _A3A _3 B_ B_22__ 2 2 33 C2 CCC222 _2 __2_88 C2 CCC2 _722__7_ C2 C2 33 _C6C33_6 C2 C2 __22 _D9D _9 C1 C1__11 _1 _1 D_ DDD___ 2 222

pos

Guia ... 59

Fotografia Corpos como Fotografia como suporte suporte

D_ D_ 2 2

A3 A3 _1 _1 A2A2 _3 _3 C2 C2 _8 _8 C2 C2 _3 _3 C3 C3 _2 _2 D_ D_ 1 1

CC11 __22 CC11 __44 CC11 __11 CC22 __99 CC22 __33 CC22 __66 CC22 __88 CC33 __22 CC33 __33

CAA1 C1 22___ _ 2 2 1 1 A A C122C1 ___422_4 CAA122C1 __44_ _ 1 1 B B C2__3C32 CC22_9 _9 C2 C__2 CC22_32_3 C2 C__323 CC22_6 _6 C2 C__424 CC33_ _ CCC3 C__8232 8 33___2 _2 CDD3 C333 ___22 _ 3 3

AAA2A2 11___ _ AAA2A1233 1 22___ _ AAA2A2211 2 22___ _ BAA_ B4_22 4 232__ 3 CDD2 C255 ___11 _ CBB2 C22 2 ___11 _ CCC2 C32 3 22___ _ CCC3 C4377 4 11___ _ CCC3 C2333 2 22___ _ DCC_ D3_44 3 112__ 2 55

Que podem abrir caminhos

podem abrir caminhos “perder” um tempo QueQue podem abrir

Lugares para

Que podem abrir Lugares para caminhos caminhos “perder” um tempo

Percorrer a mesma cotaLugares do território para “perder” um tempo Lugares para Lugares para Percorrer a mesma “perder” um tempo “perder” tempo cota do um território

Crie a sua... Percorrendo a mesma cota do território Percorrer a Percorrer a mesma mesma Crie a sua... cota cota do do território território

Fotografia como suporte Fotografia como suporte Crie Crie a a sua... sua... Fotografia como suporte


_3

C3

_2

C3

_8

C2

_6

C2

_3

C2

_9

C2

_1

C1

_4

C1

C1

_2

Percorrer a mesma Lugares para cota do território “perder” um tempo

2 D_

1

D_

_2

C3

_3

C2

_8

C2

_3

A2

A3

_1

Crie a sua... Percorrer Crie aa mesma sua... cota do território

rpos

A1 A_ 3 1 A2 _1 A_32 B_ _3 2 C2C2 _2 _8 C2C _72_3 C2 _C63 C2 _2 _D9 C1 _1 _D1 D_ _2 2

Crie a sua... Fotografia como Crie a sua... suporte

Guia ... 60

rpos

A1 _1 A2 _3 B_ 2 C2 _2 C2 _7 C2 _6 C2 _9 C1 _1 D_ 2

Fotografia como suporte



v. 1


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