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RETORNO À BIBLIOTECA DE BABEL

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Paradigmas e antecedentes ambientais Biblioteca de Babel


referencial bibliográfico; referencial bibliográfico; coleção; coleção; Jorge Luis Luis Borges. Jorge Borges.

paradigmas e antecedentes ambientais paradigmas e antecedentes ambientais biblioteca de babel biblioteca de babel

RETORNO À BIBLIOTECA DE DE BABEL RETORNO À BIBLIOTECA BABEL


O escritor e poeta argentino Jorge Luis Borges, escreveu, em seu livro de contos intitulado Ficções, na cidade de Mar del Plata, no ano de 1941, uma pequena história sobre uma grande biblioteca. A Biblioteca de Babel. O Universo (que outros chamam a Biblioteca) constitui-se de um número indefinido, e quiçá infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados de varandas baixíssimas. De qualquer hexágono, veem-se os pisos inferiores e superiores: interminavelmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte estantes, em cinco longas prateleiras por lado, cobrem todos os lados menos dois; sua altura, que é a dos andares, excede apenas a de um bibliotecário normal. Uma das frentes livres leva a um saguão estreito, que desemboca em outra galeria, idêntica à primeira e a todas. À Esquerda e à direita do saguão, há dois sanitários minúsculos. Um permite dormir em pé; outro satisfazer as necessidades fecais. Por aí passa a escada espiral, que se abisma e se eleva para o longe. No saguão há um espelho, que duplica as aparências fielmente. Os homens costumam inferir desse espelho que a Biblioteca não é infinita (se o fôsse realmente, para que essa duplicação ilusória?); prefiro imaginar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito... A luz provém de algumas frutas esféricas que levam o nome de lâmpadas. Há duas em cada hexágono: transversais. A luz que emitem é insuficiente, incessante. (BORGES, 1972, p. 84)

Mas esse lugar, também chamado fragmento, é familiar, já foi caminhado e visitado em outros momentos. Não é a primeira vez que estou na Biblioteca de Babel. Retorno a ela, mais uma vez.

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Aproprio-me desse lugar fantástico, tão caro a Borges, como um fragmento da caminhada proposta nesta tese. Um fragmento onde estão localizados todos os referenciais bibliográficos, cinematográficos, científicos, “internetísticos”, que foram lidos, relidos, consultados, sondados, escrutinados, revirados, sacralizados para a execução da pesquisa que se desenvolveu para a tese. Um fragmento fundamental para todas as questões levantadas nos demais fragmentos. Um lugar que se caminha simultaneamente às caminhadas nos outros fragmentos. Um lugar tão caro a mim, também, que não merece ser apresentado no fim da caminhada. A Biblioteca de Babel está no meio da caminhada, o tempo todo. No meio, não no fim. Um meio, não um fim.


Avisto um hexágono logo à frente, por sobre o ombro do meu guia. - Aqui o 4.736. Anuncia o velho homem que me conduz pelos corredores escuros desse lugar tão especial. – O senhor procura o número 9.613 certo? - Isso mesmo, já estive nele a muito tempo atrás, mas não recordo como chegar até ele. Justifico mesmo não tendo sido questionado.

- Seu rosto é familiar, realmente.

- Habitava estes hexágonos cheios de livros a uma década atrás. Atualmente perambulo pelos números primeiros. - Tão lá em baixo? Acabo descendo pouco por estes tempos. Afirma com ar melancólico meu guia apontando para baixo com o dedo já bem enrugado.

- Pois é, estou querendo revisitar o 9.613.

Esse bibliotecário, morador da Biblioteca de Babel, foi apresentado em 2008 na minha dissertação de mestrado, no capítulo/letra “B – Biblioteca de Babel” do projeto, ou melhor, abecedário de documentação da cidade de São Paulo, “Uma odisseia Paulistana – Uma Documentação Retroativa sobre o São Vito”. Naquela época, o bibliotecário era também o guia e condutor da documentação proposta. Sou um morador da Grande Biblioteca. Da Biblioteca de Babel. Sejam bem vindos. Para um melhor acompanhamento dessa documentação que se desenvolve, apresentar-lhes-ei alguns dos hexágonos nos quais circulo durante o processo da documentação. Hexágonos que podem fornecer referências diretas de fontes onde me alimento. Hexágonos que podem fornecer informações paralelas ao estudo da documentação. Podem até, dependendo da dedicação da leitura, fornecer roteiros a futuras leituras. (SILVA, 2009, p. B-01)

Através de sua condução por hexágonos específicos – 13.476, 2.394, 9.613, 10.101 e 666 – apresentavam-se os elementos que forneceram os conteúdos e referenciais pertinentes à produção daquela documentação.

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Após aquele período de circulação intensa pelos hexágonos apresentados, o personagem bibliotecário acabou se distanciando daqueles espaços, buscando labiríntica e erraticamente os hexágonos iniciais, talvez o número 1. Algo mais profundo sobre o estar na Cidade parecia estar arquivado e catalogado nos espaços hexagonais de menor numeração. No processo de investigação e exploração dos hexágonos de números menores em busca do que o bibliotecário está chamando de Alteridade Urbana ou elogios à “A inutilidade”, a noção de revisitar o espaço já visitado surgiu como um dos tantos elementos compositivos da investigação. Mas o revisitar aqui não se configura como um retorno ao local prévio para um reencontro das informações, ou porque esquecidas ou porque abandonadas, pois o assunto anterior claramente já não vem ao caso, mas sim como uma atitude, um gesto, um ato de “corporalização”, ou incorporação do discurso em curso. Explico: o assunto, ou conteúdo, do hexágono revisitado não tem tanta relevância nesse momento quanto o próprio ato de estar de novo naquele lugar. Este ato, extremamente singelo e banal, provoca uma revolução no sistema racionalizado, tecnicizado e produtivo de nossa sociedade atual. Revisitar o local, estar ali novamente, despender o tempo em um lugar onde o tempo já foi despendido, com o único propósito de ali estar novamente, insere no corpo uma outra lógica de apropriação do espaço, de incorporação. Nessa lógica o tempo gasto não é considerado perdido, e sim inutilizado perante a produção.


Justamente porque ir contra a atual lógica produtiva e tecnológica do uso do tempo, revisitar um lugar na cidade já conhecido ou presente no cotidiano, parece se transformar em um ato revolucionário. REvisitar ou REconhecer aquele espaço já assimilado pelo corpo e memorizado pela mente acusa uma perda de tempo irreparável. Qual o ganho funcional ou capital de rever, reconhecer, refruir um espaço que já foi visto, conhecido e fruído? Porque, por exemplo, visitar Roma duas vezes e ir ao Coliseu duas vezes? Na lógica mercadológica do turismo espetacularizado isso é um retrocesso e um gasto de tempo sem retorno algum para o turista. Porque revisitar algo já visitado? “Já conheço, já sei como é! Por acaso alguma coisa mudou?”. Quem dirá, então, ver um filme mais de uma vez, ou ler um livro pela terceira ou quarta vez. Revisitar algo parece um contra senso nessa nossa sociedade. Mas a inutilidade é justamente um fio condutor deste trabalho. Revisitar, resgatar, retomar os elementos, lugares e coisas, fazem parte conceitual do que se pretende. O bibliotecário, por isso, agora busca revisitar os hexágonos por onde habitou anteriormente, e acaba estendendo o ato de revisitar aos seus leitores, que o estão acompanhando. Revisitemos os hexágonos, revisitemos a Biblioteca de Babel.

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