TREVListão 2015
mototurismo
em viagem
Em Viagem
estudo nacional
4,50€ (Continente) IVA Inc.
TREVL#8 | Outono-Inverno 2015 — Quadrimestral
Médio Oriente
Ásia central • América Central • Rússia
Editorial
Demora-te
E
ste Verão viajei pela Ásia Central numa moto excelente, como são aliás todas hoje em dia. Rápida e capaz de ultrapassar obstáculos e buracos enquanto solta um bocejo. Mas tem um grande problema: consegue fazê-lo continuadamente, dia após dia, milha após milha. E pior: não faz perguntas. Tem a potência, a mecânica e a construção para te levar longe e rápido, indiferente ao terreno, locais e pessoas. O resultado é que depende de ti, de mim, decidir enquanto condutores quando parar, quando abrandar. Em 15 dias viajámos pelos dois países (provavelmente) mais impressionantes da Ásia Central, num total de quase cinco mil kms. A meio caminho desta maratona jantámos com o TREVLer João Pedro, em viagem de moto há vários meses. Só em cada um destes dois países demorou o dobro do que levámos para fazer ambos. “Viajo lento”, revela-nos o que já deduzíramos por nós, com uma simplicidade ilusória e enganadora, porque revela mais sabedoria do que aparenta. “Demoro-me tanto que revejo inúmeras vezes ciclistas que encontro na estrada.” á dias, tropecei numa colecção de H pequenos filmes, entradas para abrir
“Human” de Yann Arthus-Bertrand numa colecção de 3 filmes mostranos como o encontro pessoal muda tudo.
o apetite para o maior documentário de Yann Arthus-Bertrand, “HUMAN, o filme”. São histórias contadas na 1ª pessoa. Falam dos amores que os consomem, do pouco que necessitam e do nada que têm, de como a guerra acabou com a infância. Como um grande realizador, Yann percebeu que não estava nele a magia do encontro, mas sim naquela pessoa a quem ele se deu a si mesmo o tempo de escutar. E assim conseguiu algo que nem toda a potência e velocidades das motos deste mundo parecem conseguir: parou, escutou, demorou-se. Não raramente vivemos cada viagem em ímpetos sôfregos, ávidos de aventura, de conhecermos mais coisas e locais, fazer vistos nas caixinhas da nossa “bucket list”. E fazemos tudo em pouco tempo, querendo o máximo sem olhar para trás, sem parar. Compram-se revistas como a TREVL e lemo-las na esperança de continuar a aprender com as experiências de outros viajantes de moto. Seria irresponsável e incoerente da minha parte se o não fizesse quando parto em viagem e partilho a minha experiência pessoal. Aqui fica e é simples, obrigando-te a uma luta constante contigo mesmo. Abranda. Demora-te. Vai para longe, mas viaja lento, devagar. José Bragança Pinheiro Director jbpinheiro@trevl.pt | twitter: @trevlmag
Foto de capa: Que os balões sobrevoam a Capadocia não é novidade. Que o João Pedro Fernandes por lá andou, também não. Mas o impacto daquela paisagem é único e melhor fica com a moto do Kangaroo Route. As Africa Twin continuam a viajar e a nova geração está aí à porta. Autor: João Pedro Fernandes “Kangaroo Route”; Local: Capadocia, Turquia; Quando: 2015.
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Índice Director José Bragança Pinheiro
Neste número... página
jbpinheiro@trevl.pt
TREVLers António Nogueira João Pedro Fernandes Paulo Sadio Colaboradores Gonçalo Mergulhão Gracinda Ramos Hugo Ramos José Duarte
84 36 O João Pedro Fernandes é um TREVLer, a família de embaixadores da TREVL. O seu projecto Kangaroo Route ilustra como é viver uma viagem longa e saboreada, de moto pelo Mundo. Turquia, Geórgia, Arménia, Azerbeijão, Irão
O Gonçalo Mergulhão tem 25 anos e é “chef” de cozinha de profissão. Conduz uma Yamaha XT600E de 2003 e idealizou o projecto “Palavras de Viajante” para o levar até à Mongólia. Rússia, Mongólia
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Editor Geral Hugo Ramos Arte Rita Pereira José Bragança Pinheiro Publicidade António Albuquerque
28 O TREVLer Paulo Sadio é nosso colaborador regular e tem aproveitado ao máximo a sua Africa Twin estar no continente americano, tendo começado no Sul e está a caminho do Norte, fatia a fatia, como um bom bolo. Venezuela, Colômbia, América Central
Por onde a gracinda Ramos viaja de moto, varia muito. Há algumas coisas que são contudo a sua imagem de marca: uma Pan-European por companhia, um caderno de desenhos e o chapéu negro de aba. Rússia
antonio.albuquerque@fast-lane.pt
Telefone: (+351) 939 551 559
43
Assinaturas: assinaturas@trevl.pt
32 O TREVLer António Nogueira publica connosco as suas aventuras de moto pela Indochina, Brasil, São Tomé e Príncipe, entre outras. Não é esquisito, usando a moto que encontra no destino à sua espera, pequena ou grande. Brasil, Amazónia
62 A equipa da TREVL também viaja. Desta feita o José Bragança Pinheiro regressou à Ásia na viagem TREVListão. Ásia Central: Quirguistão, Tajiquistão
Proprietário e editor
FAST LANE - Media e Eventos, Lda. 28
Administração, Redacção e Publicidade: Av. Infante D. Henrique, Ed. Beira Rio, Fracção T 1950-408 Lisboa Telefone: (+351) 218 650 244
Depósito Legal: 357231/13 ISSN: 2182-8911
Honda Africa Twin
Honda Pan-European ST1300 @Rússia, Gracinda Ramos
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@Médio Oriente, J.P. Fernandes @América, Paulo Sadio 51 @Brasil, António Nogueira
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Impressão e acabamento:
Fernandes e Terceiro, S.A. Rua Nossa Senhora da Conceição, 7 2794-014 Carnaxide
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Distribuição:
VASP – Distribuidora de Publicações, Lda. Quinta do Grajal – Venda Seca 2739-511 Agualva-Cacém
Periodicidade Quadrimestral (3x por ano) Todos os direitos reservados de reprodução fotográfica ou escrita para todos os países.
Moto Guzzi V7
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Yamaha XT600E
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@Bardenas, Hugo Ramos
@Rússia, Mongólia: Gonçalo Mergulhão
Mash Adventure 400R @Traveler’s Event, Avis
Estatuto Editorial TREVL é uma revista lúdica e informativa sobre a temática do motociclismo nas suas vertentes de lazer, mobilidade e transporte, desportiva, cultural e, especialmente, turística. TREVL dará especial relevo ao rigor da escrita e à componente artística do desenho gráfico e da fotografia. TREVL empenhar-se-á num jornalismo apaixonado e comprometido com a temática que é seu objecto. TREVL é independente do poder político, económico e de quaisquer grupos de pressão. TREVL defende e respeita o pluralismo de opinião sem prejuízo de assumir as suas próprias posições. TREVL assumirá uma postura formativa. TREVL respeita os direitos e deveres constitucionais da liberdade de expressão e de informação e cumpre a Lei de Imprensa.
17 32 62
Yamaha XT660Z Ténéré
@Ásia Central, J. Bragança Pinheiro
do acor crita
Índice
es Revista uguês. t em Por ÃO foi Logo, N acordo do o adopta ráfico. o t r o g
Neste número... “Estradistão”
@Quirguistão, Tajiquistão J. Bragança Pinheiro Como são as estradas na Ásia Central? No Quirguistão e Tajiquistão foram assim. Cada 32 curva, lomba, montanha, feitas para deleite de quem escolheu uma moto para ser feliz, para viajar na Ásia Central.
“Até alí escapara e começava a acreditar que seria possível, que ia conseguir. Mas tudo pareceu ficar mais longe quando aquela polícia na berma da estrada levantou a mão e me pede para parar. Como um predador que avalia a presa, ela rodeia-me numa volta à moto. Sinto uma gota de suor fugir pela testa abaixo. Afinal, sou eu a presa.”
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“Los Documientos”
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“Central América”
@Venezuela, Paulo Sadio
@América Central, Paulo Sadio
“Bicho Carpinteiro”
“Palavras de Viajante”, 36 Gonçalo Mergulhão
“Mongólia por prenda”
@Mongólia, Gonçalo Mergulhão
41
84
“Médio Oriente”
@Turquia, Irão, Arménia, Georgia, Azerbeijão João Pedro Fernandes (Kangaroo Route)
“Os nossos apelos não resultam e eu termino na prisão, enquanto Sabra regressa a casa num autocarro. Fomos ambos interrogados pela polícia e os pais dela chamados pelo telefone. Comigo a polícia parecia sobretudo interessada em saber porque tinha eu decidido viajar pelo deserto nesta época do ano, quando podia estar nas praias do Cáspio. Não seria eu um espião?”
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Estudo Nacional Mototurismo TREVL e Telma Brito Beato
“Como manter a linha” José Duarte (TrailOut)
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“TREVListão”
@Quirguistão, Tajiquistão 62 J. Bragança Pinheiro “Falháramos. Não era por ali. A desconfiança que me perseguira desde que saíramos de Khujand, a 2ª maior cidade do Tajiquistão, confirmava-se naquela devolução dos passaportes pela mão do guarda Uzbeki: “Niet Visa”, reforça, apontando o caminho de volta para a montanha.”
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“Passeando pela Rússia”
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“Uma TransAmazónica chamada BR163”
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Índice de Destinos
@Rússia, Gracinda Ramos
@Brasil, António Nogueira
5 página
Gracinda Ramos
Já não me lembro há quanto tempo desejava viajar pela Rússia. Decidi que já chegava, que seria este ano.
A
minha vontade de passear pela Rússia parece-me tão antiga como a própria. E, como acontece com o que se deseja por tanto tempo, chegar lá foi uma mistura curiosa de sensações. A minha euforia bradava cá dentro “Yes, estou cá, estou na Rússia!”, contrastando com a surpreendente normalidade que me envolve. Tudo parece óbvio, uma extensão dos demais locais por onde andei, desde os comportamentos à infâme forma de conduzir. Nada parecia afinal tão diferente.
CTON
Repito o ritual de dar uma última volta pela cidade antes de seguir caminho. Deixo São Petersburgo contrariada, sob o olhar atento daquele autocolante colorido no meu passaporte. Chamamlhe visto e nele lê-se a data que tudo rege, impressa a negro, gravada na pedra. O GPS diz-me para seguir por 700km, lembrando que estamos no maior país do mundo. São Petersburgo nas suas grandes avenidas de monumentais edifícios começa a ficar pequeno e distante no retrovisor. As casas ficando mais espaçadas, a cidade transforma-se nas pequenas localidades. A longa estrada levar-me-ia por centenas de quilómetros sem que uma grande cidade apareça. Esta M10 é maior que o meu país, mas a paisagem repete-se como um pequeno filme em muitos ciclos. Cada localidade no caminho faz-se em duas fileiras opostas de casas decrépitas, não restando mais para ver do que se avista da estrada. Mantenho-me acordada pela necessidade de sobreviver. A condução “criativa” não se compadece com distrações. “O STOP é para parar, até no deserto” diz-se lá na nossa terra. Mas aqui na Rússia lemos nos sinais de forma e côres
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Passeando pela
Rússia
Em viagem
RĂşssia
29
Raio-X
Estradistão E como são as estradas na Ásia Central? No Quirguistão e Tajiquistão foram assim. 5
BISHKEK
Os ganchos em bom piso desde o cimo de Tuz-Ashu Pass no alto dos seus 3.586m são um regressar à infância, onde se conduz pelo puro prazer.
4 5
A descida para a mina de carvão de Karakeche faz-se em solo negro. A subida para Moldu-Ashu Pass recorda porque esta é a Suiça da Ásia Central.
3
1
Toktogul
Quirguistão
4
Uma das estradas mais duras do Quirguistão apenas recompensada com as vistas do alto das cumeadas.
População: 5.9 milhões Área: 199.950km2 (2x Portugal) Religião: Islão HDI: 125º mundial (Portugal: 41º) Moeda: Som (KGS) 1€ ~ 66 som Hora: GMT+5
1
Distância total percorrida: 0 2 5 0 0 kms
Song-kul 3
Naryn
Kazarman
Irisu 2
Jalal-abad
Provavelmente a envolvente mais impressionante de todo o País. Tash-Rabat
2
Osh Terra
Pavimentada
Tajiquistão Excepcional Boa Razoável Indiferente Paisagem
Batken Sokh, UZ Estado do piso Péssimo Mau Bom Excelente
Sary-Tash
À
distância continua a ser difícil perceber se os planos feitos se ajustam bem aos ritmos que as motos conseguem, que as estradas permitem. Fazem-se médias e olha-se para 300km por dia como normal, ou até mesmo um dia calmo. Depois chega-se lá e percebe-se
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Tajiquistão
que as estradas não existem ou são duras de fazer, ou que páras a toda a hora para deixar cair o queixo com as paisagens. Propormo-nos a fazer quase 5 mil kms em apenas 15 dias foi o ponto menos bem conseguido da viagem TREVListão, apesar de termos decidido com base na melhor informação disponível. Por isso ocorreu-nos que seria útil partilhar como são as estradas que fizemos,
0
50
100km
percorrendo ambos os países. Um primeira distinção que procurámos transmitir é se são pavimentadas (linhas a cinza) ou em terra (a verde). Depois juntámos a nossa classificação sobre o estado do piso e a qualidade da envolvência e da paisagem, apreciação mais subjectiva. Sempre que determinado ponto ou secção merece um destaque, colocamos uma anotação comentada. Naturalmente
2
4
1
3
4
5 Raio-X: as estradas da テ《ia Central (KG, TJ)
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Finlândia Noruega Talin Suécia
São-Petersburgo Rússia
Estónia Letónia
Dinamarca
Nizny-Novgorod
Lituânia
Moscovo 0 9 1 0 0 kms
Vilnius
Amsterdão
Bielorússia
Berlim
2 2 1 0 0 kms Samara
Varsóvia Bruxelas
Alemanha Áustria
França Ljubjana
Turim
Ucrânia
Budapeste Hungria
Eslovénia
Bordéus Lisboa 0 0 0 0 0 kms
Polónia
Viena
Mar Negro
Itália
2 9 1 2 5 kms
Oceano Atlântico
Mar Mediterrâneo
Curtas
O
dia já ia longo, percorrido debaixo da chuva dos Montes Urais. Chegar a Cheliabinsk saberia bem. O quarto duplo que reservara no hotel por oito euros prometia uma casa de banho privada e o pequeno-almoço. “Um verdadeiro achado” pensei, orgulhoso de mim próprio. Ficava nos subúrbios da cidade seguindo por uma estrada de terra batida, que se tornara enlameada na chuva. Reparo que as atenções de todos em volta se centravam em mim. Em volta as casas eram barracões e o hotel não me ofereceria a segurança de um parque para a moto. Ali sozinho sinto-me inseguro e decido regressar. Escolho uma bomba
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“Niet ruski” de gasolina no início da rua para procurar outra opção no GPS. Chega um carro aparentado de ralador, tantos os buracos de balas espalhados pela chapa. Decide parar ao meu lado. Dou por mim a adivinhar problemas. De dentro do carro sai o condutor, um homem de macaco de oficina com o símbolo da Yamaha bordado. Afinal a minha moto é da mesma marca, pensei, levando-me a reconsiderar as primeiras impressões. Talvez viesse apenas saber se precisava de ajuda ou se tinha algum problema. Começa a falar comigo em russo, indiferente às únicas palavras que lhe devolvia: “Niet ruski, Niet ruski”. Enquanto insistia no seu monólogo, mantenho-me em cima da moto, confirmando a chave no canhão e o que ela prometia: arrancar a
qualquer momento. Alguma parte da mensagem passa. Parece querer que o siga até casa onde eu poderia dormir e guardar a moto. Definitivamente, pensei. Como me faz falta ali naquele momento falarmos uma língua em que nos entendamos, russo, inglês, esperanto... A tentação de imaginar o melhor leva-me a ceder a tanta insistência. Sigo-o durante um pouco até que reconsidero e decido não arriscar, optando por lhe trocar as voltas. Cansado e algo perturbado com a possibilidade, fico no primeiro sítio para dormir que encontrei. Adormeço a reproduzir na cabeça cada cena e momento vividos há pouco, questionando-me se tomara a decisão certa ou se fora injusto em avaliar aquele encontro
Mar cáspio
!
Depois da 1ª mudança de óleo em Tallin (Estónia), escolhi a cidade russa de Novosibirski, não para uma, mas duas mudanças de óleo. Moto de hábitos...
Podia nem ter sido uma tentativa de roubo, mas ali sozinho, decidi não arriscar (ver história).
Depois de tomar por companhia dois ingleses, pai e filho, encontramos um pescador russo, antigo combatente do exército, orgulhoso da sua pistola.
Novosibirsk
Cheliabinsk
Lago Baykal
! Rússia Irkutsk Kosh Agach O retentor da suspensão dianteira cedeu algures antes de entrar pelo Altai mongol
!
Altanbulag
! Altai
Ulan Baatar 1 5 2 0 0 kms
Mörön
Mongólia Cazaquistão
China Gobi
Pequim
Raio-X Yamaha XT600E ‘03 edição “Palavras de Viajante”
Alterações feitas
5 6
7 b
!
c
4
1
1
!
3 a
2
2
Descanso central (SW-Motech)
3
Suporte alforges (Hepco&Becker)
4
Alforges 2x21L (Wolfman) Modelo “Expedition Dry Saddle Bags”, com uma capacidade de 19 a 21L cada, com um peso total de 4,5kg.
5
Problemas !
Tive poucos problemas, a começar com uma avaria na bobina de chamada em Berlim, reparado com a ajuda remota do Edgar Couceiro. O retentor da suspensão dianteira cedeu entre Sharga e Moron (Mongólia)e precisei de reparar em Ulan Baatar. O descanso lateral, com ferrugem no interior coleccionada ao longo dos anos, cedeu com a carga e peso partindo-se em Cuenca e só consegui repará-lo em Cracóvia.
!
Saco 35L (Highlander Mallaig Drybag)
6
Saco depósito 8L Com porta-mapas (Cham IXS)
7
Tomada 12V
Alterações que (também) devia ter feito
A Escolha A minha escolha foi influenciada pelo custo (~2 mil euros), dentro do orçamento disponível. Com uma mecânica simples e algo comum e popular procurei diminuir a probabilidade de não encontrar peças
Depósito 23L (Acerbis) Autonomia acima dos 350km
em qualquer lado do mundo. Em termos de condução, agrada-me que seja leve (156kg) e fácil de guiar fora de estrada. Revelou-se muito fiável e intuitiva, essencial para mim numa viagem
deste género. Se decidisse hoje teria levado a mesma moto, tendo-se superado em diversão. Se o dinheiro não fosse problema? Talvez optasse pela nova XT660Z Ténéré
a
Suspensão traseira
b
Protecção aerodinâmica (ou “rally fairing”)
c
Banco (algo mais confortável))
39
50
Em viagem
Central América Paulo Sadio Jorge (TREVLer) Para saber a história atribulada sobre como a Africa Twin sai da Venezuela sem papéis, espreite o artigo “Los Documientos” (p.17).
América Central
E
stou na Colômbia depois de ter conseguido sobreviver às peripécias aduaneiras para trazer a moto desde a Venezuela. Deixo a aduana de Cucutá pelas 10h da manhã em direcção a Ocana usando uma estrada de artista numa zona de montanhas. Páro embasbacado na aldeia histórica de La Playa de Bèlen e quando pensava que ia conseguir trazer o queixo de volta para cima, dou por mim no meio de um parque natural com fantásticas formações rochosas. A Ocana chego apenas no final da tarde. Entretenho-me na cidade embonecada pelos edifícios históricos e plaza central, vivida noite dentro pelos locais. A Estrada del Sol... apetece fazê-la mesmo sem a ver. Foi a minha ligação de Bogotá a Barranquilha. A dada altura torna-se numa auto-estrada e decido ir até El Burro por uma estrada em terra na direcção de Mompós ou Mompóx, cidade património da humanidade. Na minha anterior passagem pela Colômbia ficou fora da rota planeada. Antes de Mompós, ainda visitei e almocei na cidade de El Banco, cidade portuária na margem do grande rio colombiano, o Madgalena, que corre o país de Sul
para Norte mesmo apesar da orografia desafiante. Termina no Atlântico e serviu em tempos como principal via de comunicação entre o interior e a costa. Chego a Mompox a parecer um “douradinho da Iglo” devidamente panado depois de percorrer uma estrada de terra debaixo de 45°c. Decido sucumbir ao hotel com piscina para pernoitar e perder o amor ao dinheiro... bem, na verdade, foram apenas $15. Retomo um ar aceitável depois do banho retemperador, o suficiente para Bonny, outra hóspede que conhecia bem a cidade, fazer questão de me servir de guia pelas ruas. Mompox cresceu com o ouro dos comerciantes nos tempos coloniais instalados aí para fugir aos pesados impostos de Espanha. As tradições religiosas ainda se vivem fortes na cidade. Amanhã tem lugar a primeira procissão da Páscoa e deixo-me ficar. Tudo começara à noite e ainda se prolongava à minha saída a meio da manhã seguinte. Os locais, e em geral todos os sulamericanos, entregam-se com entusiasmo e grande fervor aos eventos religiosos, em especial as procissões. Para sair de Mompox em direcção a Cartagena, tinha duas hipóteses, ambas envolvendo travessias de rios: a primeira de ferry com horário regular, e a segunda usando canoas sem horário. Gostei desta última e dou América Central
Vulcão e Lago partilham o nome: Atitlan, na Guatemala.
51
Em viagem
trevlistão José Bragança Pinheiro
Nélia Carvalho, Margarida Pinhão, João Rodrigues
Ásia Central: Quirguistão e Tajiquistão
62
テ《ia Central: Quirguistテ」o e Tajiquistテ」o
63
Em viagem
Médio Oriente Kangaroo Route João Pedro Fernandes (TREVLer) Actualizamos os contadores, desde o início da viagem.
A segunda parte desta viagem significou o cumprir de um objectivo, a chegada à Ásia: novo continente, a mesma inquietude.
N.E.: Na edição de Verão de 2015 da TREVL, o TREVLer João Pedro começou a levar-nos consigo na viagem, partilhando o percurso através da Europa. Deixámo-lo às portas da Ásia, enquanto entrava na Turquia.
D
urante os próximos meses iria viajar por países tão exóticos quanto deslumbrantes. Iria fascinar-me com as paisagens extraterrestres da Capadócia, deliciarme com os vinhos Geórgicos, visitar uma região marcada pelos horrores da guerra e viver na primeira pessoa a lendária hospitalidade iraniana. Faço uso do bem mais precioso e juntos, eu e o Tempo, perdendo-nos neste planeta surpreendente.
Às portas da Ásia
Com 14.4 milhões de habitantes (dados de 2013), Istanbul é a 4ª cidade do mundo mais populosa, perdendo para 3 megalópoles chinesas (Shangai, Beijing e Taijin) e uma paquistanesa (Karachi).
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De um passado repleto de lendas para o presente, do tradicional para o moderno, Istanbul tem de tudo. A arquitectura, design, gastronomia, cultura e entretenimento sempre lado a lado com a História, enquanto procuram a vanguarda de uma cidade moderna, cosmopolita. Revelou-se para mim, não só o quão incrível é a experiência de estar em Istanbul (esqueçamos por ora o trânsito), como também o é a própria cidade. A cidade instala-se num cenário de excepção, nas colinas que envolvem o Golden Horn (“Corno de Ouro”). As águas do Estreito do Bósforo mantêm Europa e Ásia separadas, mais uma
coisa especial sobre Istanbul, sendo a única cidade do mundo em dois continentes. Vista de cima a partir das esplanadas que circundam a Mesquita de Süleymaniye vemos as cúpulas das demais mesquitas, perdidas no denso tabuleiro de xadrez que são os edifícios brancos e vermelhos que se espraiam pelas encostas. Pontes em arco cobrem a água azul-turquesa do Bósforo, cheio de vida numa azáfama de embarcações, grandes, pequenas e enormes. As vistas, sons e cheiros desta cidade denunciam que estamos a chegar a um novo continente. Na Ásia, Europa e no Mundo, Istanbul é verdadeiramente uma cidade notável.
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+1
países
Nagorno-Karabah ainda luta pelo estatuto de república independente
146 dias
na estrada desde Lisboa
17
Mil kms desde o início
Reviver o passado em Éfeso
Para os viciados em História, a Turquia fornece doses diárias e abundantes. Não faltam lugares arqueológicos, muitos conhecidos e visitados e outros apenas familiares para alguns. De todos estes tesouros, Éfeso, a antiga cidade a leste de Selçuk foi a mais marcante para mim. Durante algum tempo foi a capital da província romana da Ásia Menor, cidade de 250 mil. Em mais nenhum outro local na Turquia (ou até mesmo na Grécia) nos sentimos transportados no tempo, imaginando-nos a viver há cerca de 1.800 anos atrás.
817 Litros
Isso em abastecimentos dá uma série deles
727 Euros
só em gasolina
Turquia, Geórgia, Arménia, Azerbeijão, Irão
85
Destinos África
África do Sul Angola Argélia Botswana Malawi Marrocos Mauritânia Moçambique Namíbia Quénia Sahara Ocidental São Tomé e Príncipe Senegal (Dakar) Sudão Victoria Falls Zâmbia
6 10 1 2 3 1
3
Ásia
Arménia Azerbeijão Cambodja Georgia Índia Irão Mongólia Nepal Quirguistão Tajiquistão Vietname
3 6 7 5 7 7 9
3 4 1 3 4 14 14 4 4 4 14 5 2 2 4 4
8 8 7 8 7 8 8 4 8 8 7
Conheça aqui quais os destinos de viagem de moto sobre os quais já publicámos, tanto na TREVL como na REV.
Nesta edição
Os destinos incluídos nesta edição estão destacados com um fundo amarelo.
Oceânia Austrália
7
América
Alaska (E.U.A.) Argentina Belize Bolívia Brasil Canadá China Chile Colômbia Costa Rica El Salvador Equador E. Unidos América Guatemala Nicarágua Panamá Paraguai Peru Uruguai Venezuela
Europa
Albânia Alpes Balcãs Bósnia-Herzegovina Bulgária Córsega
Edições passadas
4 6 13 4 11 4 6 7
4 5 7 5 5 4 6 5 2 5 5 5 6 5 4 6 4 4
5 7 5 7 8 5 7 4 8 8 8 7 7 8 8 8 6 7 7 8
7 1 2 3 7 7 7 1
Cada entrada nas tabelas seguintes tem a indicação de qual o número onde foi publicada (a amarelo na TREVL, a azul na REV), junto a um pequeno texto descrevendo o tipo e conteúdo do artigo.
Croácia Dinamarca Espanha Escócia Eslovénia Gales Grécia Inglaterra Irlanda Islândia Itália Kosovo Montenegro Noruega Pirinéus Rússia Sérvia Turquia
7 8 1 4 5 7 1 5 6 12 7
Portugal
Açores Alto Alentejo Alta Estremadura Alto Douro Serra Algarvia Serra da Arrábida Tejo dos Castelinhos
Espanha
Deserto de Bardenas Picos de Europa Ruta de la Plata
Interactivo
2 1 5 2 1 1 5 3 7 2 2 7
2 7 6 2 3 7 7 7 8 7 8 7 8
12 7 3 2 1 1 7 1
5 1 5 4 7
Para uma experiência mais interactiva com visualização sobre o Mapa Mundi, sugerimos visitar o nosso site na secção “TREVL no Mundo”.