TREVL 15 «On My Mind», Geórgia

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on my mind

Africa 360o

AIDA NA VOLTA AO MUNDO

«DIARIES OF» NA GEÓRGIA

SUL DE ÁFRICA

4,50€ (Continente) IVA Inc.

TREVL#15 | Primavera 2018 — Trimestral

Life Unloaded

África • América • Balcãs • Geórgia • Indonésia


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Director e Revisão José Bragança Pinheiro jbpinheiro@trevl.pt

Viajantes e colaboradores Aida Valenti Anabela e Jorge Valente* António Rosado Armando Almeida Hugo Jorge Hugo Ramos João Sousa Marcos Leal Paulo Sadio* Pedro Ochôa * TREVLers

Editor Geral Hugo Ramos Arte Rita Pereira José Bragança Pinheiro Publicidade António Albuquerque

antonio.albuquerque@fast-lane.pt

Telefone: (+351) 939 551 559 Assinaturas: assinaturas@trevl.pt

Editorial

Abandono

N

ão é a primeira vez que as páginas de uma TREVL se escrevem no feminino – nem a última – tendo começado com Alicia Sornosa na TREVL 5. Na última capa, Lea lembrou-nos o seu exemplo de força e determinação na volta que deu ao mundo. Nesta, Anabela contempla as montanhas da Geórgia ao lado da sua Poderosita, partilhando as páginas com Aida, uma portuguesa nascida em Montejunto a viver em Long Island, Nova Iorque, desde muito nova. Aida propôs-se a seguir um sonho que a vida lhe fora adiando e, já nos seus quarenta, aproveita uma oportunidade que reconhecer como única e a levou a embarcar numa viagem que não se cansará de a surpreender. Começa a sua volta ao mundo de moto no país que a acolheu, de leste a poente, descendo depois para sul, onde entrará no México pela Baja California. Vai revelando momentos de camaradagem enquanto se surpreende com a bondade dos estranhos e a beleza de um subcontinente duro e belo. No mesmo continente onde a nova expedição «SulAmericaNorte 2018» desembarcará, começando tudo no Barreiro antes de seguir para Londres onde entregam as motos que reencontrarão em Buenos Aires, Argentina. Alguns dos portugueses da expedição «Lisboa – Beijing – Lisboa» de há 3 anos mantém-se no grupo, enquanto se juntam novas caras e perspectivas diferentes, como o realizador João Monteiro e Chaves. Que outros destinos nos esperam aqui, nas páginas de uma TREVL futura?

Proprietário e editor

FAST LANE - Media e Eventos, Lda.

Administração, Redacção e Publicidade: Av. Infante D. Henrique, Ed. Beira Rio, Fracção T 1950-408 Lisboa Telefone: (+351) 218 650 244

Depósito Legal: 357231/13 ISSN: 2182-8911 Produção Gráfica: Finepaper

Impressão e acabamento:

Talvez algures perdidos pelo antigo Crescente Fértil, percorrendo os desertos e montanhas de uma Jordânia adiada, nos colonatos de Jerusalém ou nas ruas desaparecidas de Damasco, escombro de uma Humanidade falhada, lembrando-nos quão efémera é a vida e porque merece ser vivida. De moto e com as pessoas que, lá, nos ajudarão a recordar o que já não existe e poderia ter sido, a construir uma memória. E, como na vida, cada TREVL escreve-se para que se não deixe esquecer, mais do que para partir e ir ver o mundo. Escrevemos cada TREVL para nos recordar que é importante viver e ser feliz, contagiando as pessoas em nossa volta e dando-nos o tempo para as escutar. Queremos sempre que esta seja a TREVL que interrompas a meio. Que, no ímpeto da decisão de partir, a abandones sobre o sofá onde ambos se cobrirão de pó

Grafisol

Distribuição:

VASP – Distribuidora de Publicações, Lda. Quinta do Grajal – Venda Seca 2739-511 Agualva-Cacém

José Bragança Pinheiro Director — jbpinheiro@trevl.pt

Periodicidade Trimestral (4x por ano) Todos os direitos reservados de reprodução fotográfica ou escrita para todos os países. ESTATUTO EDITORIAL TREVL é uma revista lúdica e informativa sobre a temática do motociclismo nas suas vertentes de lazer, mobilidade e transporte, desportiva, cultural e, especialmente, turística. TREVL dará especial relevo ao rigor da escrita e à componente artística do desenho gráfico e da fotografia. TREVL empenhar-se-á num jornalismo apaixonado e comprometido com a temática que é seu objecto. TREVL é independente do poder político, económico e de quaisquer grupos de pressão. TREVL defende e respeita o pluralismo de opinião sem prejuízo de assumir as suas próprias posições. TREVL assumirá uma postura formativa. TREVL respeita os direitos e deveres constitucionais da liberdade de expressão e de informação e cumpre a Lei de Imprensa.

Capa Nas montanhas da Geórgia a contemplação é uma rotina quase obrigatória, a cada quilómetro de moto. Foto Jorge Valente («DiariesOf»)

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página

DO ACOtaRescrita

Revis uguês. t em por ÃO foi N , o g o L rdo o o aco d a t p o d a fico. or tográ

Os TREVLers ANABELA e JORGE VALENTE revelam um dos melhores destinos «escondido-à-vista-de-todos». Geórgia («DiariesOf»)

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Os dois amigos ARMANDO ALMEIDA e o TREVLer PAULO SADIO andaram pelas terras do Sul de África e contam o que foi e está para vir. Sul de África («Africa Twin Adventure»)

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O ANTÓNIO ROSADO ligou Moura, Alentejo, a Baucau em Timor. Neste número conta-nos histórias da Indonésia e Timor-Leste. Indonésia, Timor-Leste («Out off the Box»)

O viajante HUGO JORGE esteve nos Balcãs e conta-nos histórias sobre como este continua a ser um destino entusiasmante. Balcãs («Walkabout»)

O JOÃO SOUSA percorreu nove dos impressionantes países do Sul de África, numa viagem de peripécias e aventura. África («Southern Africa 360º»)

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A AIDA VALENTI arrisca-se a ser a primeira portuguesa a dar a volta ao mundo de moto, aos comandos da sua DR650. EUA («LifeUnloaded RTW»)

BMW F800 GS

@Geórgia, por Jorge Valente 71

BMW F700 GS

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BMW F850 GS

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@Balcãs, por Hugo Jorge por Hugo Ramos

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BMW F650 GS

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BMW R850 GS

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BMW R1200 GS Adventure

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Honda Africa Twin «Sports Adventure»

Triumph «Tiger» 800

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Triumph «Tiger» 1200

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por Hugo Ramos

por Marcos Leal

Suzuki V-Strom 250 por Hugo Ramos

Suzuki DR 650

@EUA, por Aida Valenti («LifeUnloaded RTW»)

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@Sul de África, por João Sousa @Indonésia, Timor-Leste, por António Rosado («Out off the Box») «Sul América Norte 2018», Armando Almeida

por Pedro Ochôa


«Aripi»

@Balcãs, por Hugo Jorge 76 («Walkabout») «A capital tem um daqueles nomes que parece mal escrito, lembrando a terra do monstro do Loch Ness. Escópia, assim é o nome da capital da Macedónia, revela-se cosmopolita desenrolando-se em volta da estátua de Alexandre, o Grande, presença dominante da praça principal.»

Belgrado

Bucareste

Sarajevo

Escópia

Canada

Long Island

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«LifeUnloaded RTW»

@EUA, por Aida Valenti («LifeUnloaded RTW»)

«— "Primeiro dia" — ouvia Paul no meu capacete — "Aqui vamos nós dar à volta ao mundo. Milha Um" — terminava, encontrando as palavras certas que me faltaram.»

«On My Mind»

@Geórgia, por Anabela e 62 Jorge Valente («DiariesOf») «"A estrada existe" — disse-nos finalmente um jovem, — "mas está em tão má condição que é mais fácil voltar por Mestia." E continuou, explicando. "A última vez que passei por lá, parte da estrada tinha sido completamente destruída pelo rio, com as chuvas."»

Tiblissi Batumi Baku

Ngorongoro

36 Windhoek

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Maputo

«Africa Twin Adventure»

@Sul de África, por Armando Almeida e Paulo Sadio

«Sul de África 360º»

@Sul de África, por João Sousa

«A 20 metros da tenda, dois pontos brilham na água, iluminados pela luz fraca da minha lanterna. E piscam ao comando do seu dono, um pequeno crocodilo com menos de meio metro.»

Cabo

«Moura-Baucau — Mil&Uma Ilhas» @Indonésia, Timor-Leste, por António Rosado («Out off the Box»)

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«Há sítios que são uma janela para a vida, onde se é dado a ver a Humanidade, se estivermos atentos — cada "ferry" aqui é uma dessas janelas.»

Jacarta

Baucau

Índice de Destinos

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5 página


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Em viagem

“on my Mind

Os TREVLers Anabela e Jorge Valente retomam a viagem em direcção ao Extremo Oriente. Adeptos incondicionais do «Viajar Lento», recusando o GPS e confiando nos estranhos, contam-nos por que a Geórgia não deve ser descurada. Anabela Valente («DiariesOf»)

Q

PÁG. ANTERIOR À saída de Mestia a estrada está pavimentada por apenas alguns quilómetros, mas há trabalhos a decorrer — brevemente haverá asfalto até Ushguli. (@Mestia)

uando o transporte não tem transistor, a música que se ouve no capacete é cantada à capela, com a nossa própria voz. Quando a letra não se conhece, inventa-se e, às vezes, adapta-se à situação. «Do Luxemburgo à Geórgia são dez dias de distância. Quem precisa de um avião para lá chegar mais depressa.» — entrávamos na Geórgia a cantarolar Xutos.

Poderosita. Três dias separam duas cidades que, diz quem lá vive, estão a mudar à velocidade da luz — Odessa e Batumi — duas cidades de dois países da antiga União Soviética. Três dias para nos irmos ambientando a uma nova cultura, uma nova maneira de estar e de ser. Três dias para aprender a ler rostos rígidos e sérios que escondem por trás — bem lá atrás — um coração mole, mas que só se revela ao fim de vários dias de convivência.

Dez

Antes de entrarmos no ferry, usado principalmente por grandes camiões de transporte internacional, tivemos de passar por tantos gabinetes, escuros, fechados e sem ar, e passar por infindáveis trâmites que acabámos por levantar âncora com três horas de atraso. A policia de alfândega revistou toda a gente e todos os veículos, incluindo a única moto na travessia, a nossa. Fizeram-nos abrir todas as malas e tirar tudo cá para fora, no cais. Numa das nossas malas encontraram uma caixa preta suspeita que imediatamente nos obrigaram a abrir. Ficámos receosos com o que poderia acontecer assim que descobrissem o seu conteúdo. É a primeira vez que viajamos com um drone e, apesar de parecerem saber do que se trata, estão interessados no preço. Sem sabermos se nos querem fazer pagar algum imposto, atiramos um valor bastante inferior ao real. Resultou — o interesse ficou por ali. De gabinete em gabinete, o ferry vai ficando maior de mais próximo. Instalamo-nos numa cabina com dois beliches de madeira que ainda cheira a cera fresca — iria ranger a noite toda durante a travessia.

Foram dez dias porque íamos com pressa — em descobrir a Geórgia ainda no Verão —, para aproveitar o bom tempo, evitar a chuva na estrada e, acima de tudo, evitar a neve nas montanhas entre os dois Cáucasos — o Maior e o Menor — e, se não pudéssemos ir às montanhas, ficaríamos com a sensação de não ter visitado a essência do país. Corremos pela Alemanha, quase sem tempo para saborear os biergarten alemães, no Verão cheios de tiroleses, jovens e velhos, sem mãos a medir para a cerveja e würsts. Na Áustria e Hungria apenas parámos para rever velhos amigos. Na Roménia fugimos dos ursos nos Cárpatos. Da Moldávia foi um pulo até à Ucrânia, última paragem antes do nosso destino final.

Três

No porto ucraniano de Odessa, apanhámos o ferry que nos levaria pelo mar Negro até Batumi, a pérola do mar Negro, uma travessia de três dias de descanso, para nós e para a

Geórgia («DiariesOf»)

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PÁG. SEGUINTE Topo esquerdo Grupos de amigos a aproveitam o fim-de-semana para fazerem piqueniques e o inevitável convite para nos juntarmos e tomarmos vinho e «chacha». Topo direito Caminhada com as montanhas do Alto Svanécia em fundo a meio caminho dos lagos Koruldi. (@Svanécia) Centro De Zugdidi a Mestia são 130 quilómetros de boa estrada pelas montanhas. (@Zugdidi) Base esquerda A praia junta multidões que aí convivem, mesmo noite adentro. (@Batumi) Base direita Paragem para apreciar as torres de defesa típicas da região.

O velho ferry de fabrico alemão desliza mar adentro, dando agora poucas mostras do aparente desgaste. Os altifalantes anunciam meticulosamente, e sem palavras supérfluas, as informações que nos devem chegar. Ao segundo dia já sabemos de cor o convite, disfarçado de ordem, para as refeições. — «O almoço é servido das 12h às 12h30.» ouve-se, num inglês com tempero russo que é um regalo. — «Não se atrase!» Saudações e cortesias não têm lugar nesta equipa que, eficiente, nunca deixa escapar um sorriso. Aqui, até os nossos amigos alemães passam por eufóricos.

A Praia das Cabeças

Assim que desembarcamos em Batumi — estação balnear em plena época alta durante Agosto —, sentimos uma vontade enorme de aqui ficar. Cheira a Verão e as esplanadas enchem-se. Há churrasco nos parques, bebe-se e canta-se nas ruas. Ah... dolce fare niente. Mesmo depois de escurecer, as praias permanecem cheias com os banhistas que se vão deixando ficar no mar, de molho nas águas quentes à conversa, em grupos. Desde a nossa chegada até ao dia da nossa partida da costa, o mar Negro permanecerá um imenso lago sem ondas, mais calmo ainda que o Mediterrâneo. A estas praias de seixo negro, para serem perfeitas, só lhes faltam as grandes extensões de areal branco. Mais a norte existe uma praia de areia. Preta. Na praia de Ureki a areia acredita-se ser terapêutica pelas propriedades magnéticas. Não é por isso de estranhar que os banhistas daqui se enterrem nela e com ela se cubram — de fora, só a cabeça fica. Para quem passeia na praia o desafio é ter o cuidado para não tropeçar nas cabeças humanas semeadas. Depois de uns dias de praia, de terapia e de descanso, estamos prontos para continuar a viagem e sair da costa.

Supra e Pompa MARSHRUTKA

De nome estranho, esta espécie de carrinha-táxi partilhada (tradução literal, aliás), permite deslocar-se em estilo soviético, uma forma comum de deslocação na Geórgia, bem como nos países da CEI (ex-URSS).

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Antes, no entanto, os anfitriões da pensão familiar onde ficámos hospedados e o grupo de hóspedes russos com quem partilhámos algumas noites de convívio e vinho, formam fila no pátio enquanto acabamos os preparativos de partida. Quando começamos finalmente as despedidas, com abraços — e pedidos de amizade no facebook — somos presenteados com um pequeno discurso de despedida. Afinal, foram dias de partilha de mesa, muito vinho e muita chacha (uma espécie de aguardente local) em cerimónias que na Geórgia têm um nome — supra. As supras são encontros entre amigos e familiares à volta da mesa, onde se come e se bebe directamente de garrafões de cinco litros e se dá conselhos a quem deles precisa. Os brindes seguem-se em corrente, sempre propostos pelo tamada — chefe de cerimónias — dedicados aos

mais variados temas — à liberdade, à mulher, às mães, à Geórgia, ao vinho, aos hóspedes, e muitos mais — um teste à criatividade do mestre. Ao fim de tanta comida e com álcool a correr onde antes correra sangue, criam-se laços de afinidade e uma certa irmandade entre os participantes. Provavelmente por esta razão, temos direito a um pequeno discurso de despedida, desejando boa viagem aos amigos europeus, como nos tratam os hóspedes russos com a condescendência das grandes potências. Todos nos acenam, alguns no limiar da continência, enquanto toca a fanfarra militar no telemóvel. Não voltaríamos a ter outra saída com tanta pompa e circunstância.

As Muitas Formas de Aventura

Dirigimo-nos para as montanhas do Grande Cáucaso e vamos descobrindo estradas pensadas para saciar o motociclista aventureiro, numa terra de caminhos de montanha e trilhos no deserto, onde não falta cascalho, lama e asfalto. Percebemos desde logo que conduzir na Geórgia seria um dos grandes desafios do país. Não é por falta de alcatrão, pois o problema não são as estradas, mas os condutores que conduzem de forma surreal, como se não existissem nem regras, nem amanhã. Nos dois meses que aqui passámos, fomos testemunhas da hospitalidade de um povo genuinamente amável e que nos fez prova da sua imensa generosidade vezes sem conta. No entanto, toda a afabilidade e gentileza desaparece quando se metem à estrada. Atrás do volante transformam-se em selvagens enraivecidos, ficam irreconhecíveis. Conduzem de forma destemida, e é normal ver um carro a ultrapassar outro carro, que por sua vez está a ultrapassar outro. Tudo isto enquanto no sentido contrário um camião acelera e buzina para que os três que se aproximam lhe saiam da frente, sem nunca lhe passar pela mente a hipótese de reduzir a velocidade. No entanto, no meio do caos, parece haver um entendimento geral entre os motoristas, porque, milagrosamente, só vimos dois acidentes durante o tempo que lá ficámos. Quem gosta de sentir subir a adrenalina — ou procura uma experiência de quase-morte —, deve experimentar fazer uma viagem em marshrutka até Tusheti. A estrada para Tusheti é considerada uma das estradas mais perigosas do mundo, por si só. Aventurar-se por esta estrada numa marshrutka conduzida por um georgiano, é sinal de superior coragem... ou de estupidez.

Khachapuri

Ao fim de alguns dias em viagem, apercebemo-nos que a tal hospitalidade de que falámos em cima é comum às diferentes regiões do país. Multiplicavam-se as vezes em que somos convidados a juntar-nos à mesa de grupos em restaurantes. Quem entra num restaurante fica com a


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LUXEMBURGO UCRÂNIA

Chisinau Odessa 1

MOLDÁVIA UCRÂNIA

(CRIMEIA) 1 ROMÉNIA 1 Três longas horas de verificações alfândegárias e inspecções minuciosas a todos os veículos que pretendem ir a bordo, tornam as pequenas camas do «ferry» muito desejadas.

Sebastopol 1 A República Autónoma da Crimeia é um território ucraniano sob ocupação russa, excluindo a cidade de Sebastopol, um dos mais importantes portos da Marinha russa.

MAR NEGRO

BULGÁRIA

FERRY PARA BATUMI

As travessias pela «UKR Ferry» entre Odessa e Batumi custou 320 euros para uma moto com 2 passageiros, incluindo a cabina e todas as refeições a bordo. Em média, esta ligação realiza-se 3 vezes por semana e pode ser reservada por e-mail.

impressão que há sempre festa. As mesas são longas e convidativas, com pratos tradicionais que enchem os olhos e fazem salivar quem se aproxima. Com nomes impronunciáveis — khinkali, khachapuri, kubdari — todos são para partilhar, ao jeito das tapas, e nós, inevitavelmente — talvez por sermos estrangeiros, talvez porque o costume é de convidar quem está de passagem — somos sempre convidados a juntarmo-nos à festa. Nos dias de viagem, naqueles em que tínhamos estrada para fazer, começámos a evitar parar para o almoço nos pequenos restaurantes à beira da estrada de que tanto gostamos, exactamente por sermos sempre convidados. Onde há uma mesa, é certo que há comida e vinho. O problema vem depois. Era-nos impossível recusar as ofertas de vinho, mesmo quando argumentávamos que íamos conduzir a moto. Os anfitriões continuavam a encher-nos os copos, incapazes de ver qualquer relação entre o álcool e a condução. Não querendo ser malvados, pode estar aqui a explicação para o estilo cowboy de condução destemida.

Svanécia PÁG. SEGUINTE Chegada a Ushguli, uma das vilas mais pitorescas da região. Muitas das torres de vigia — também protecção contra avalanches — são agora recuperadas para o turismo. (@Ushguli)

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Ir em direcção às montanhas da Svanécia significa deixar para trás o alcatrão. As estradas na região do Alto Svanécia são asfaltadas, mas apenas até Mestia. O que significa que a maior parte do turismo fica-se por aí, local de partida para várias caminhadas de um ou vários dias, e depois regressa pela mesma estrada. Os mais aventureiros seguem até Ushguli, a vila para lá de Mestia à qual se chega por um caminho de montanha em terra batida.

Para nós, depois de Mestia começaria a verdadeira aventura alpina. Partimos de Zugdidi, uma cidade de pouco interesse às portas do Grande Cáucaso. Daí seriam 130 quilómetros a ziguezaguear por uma estrada que peca pelos poucos locais de paragem para apreciar as vistas — que vistas. Cedo deixamos para trás o parque nacional do Samegrelo, cujas colinas verdes e rebanhos de cabras nos trazem à memória os episódios da Heidi. À medida que avançamos as colinas vão dando lugar a picos cobertos de neve — estamos a aproximar-nos do monte Ushba, provavelmente o pico mais marcante da Geórgia, um dos vários que se situa acima dos 4000 m de altitude. Sentimos que já vamos alto, quer pela moto que vai mais lenta, quer pelo frio que nos faz tremer. Chegamos a Mestia secos, mas os dois dias que se seguiriam seriam de chuva. Chuva para nós, neve para os picos à nossa volta. Só acha que não tem piada ficar na tenda à espera que a chuva passe, quem não tem por alternativa seguir a viagem literalmente debaixo de chuva por trilhos de terra que se vão transformando em lama... Com essa imagem, de repente ficar ao seco na tenda pareceu-nos a mais romântica das opções. Quando a chuva parou ainda aproveitámos para fazer uma das mais belas caminhadas da região até aos lagos Koruldi, 25 quilómetros conquistados em cada pingo de suor.

O Lamaçal

No dia seguinte continuaríamos com a moto até Ushguli. Apesar do dia seco da

MAR NEGRO


que continuava depois de Ushguli e que seguia até à região baixa da Svanécia e, eventualmente, até Kutaisi. Para nós seria um circuito perfeito que nos permitiria seguir caminho em vez de ter de regressar para trás pelo «Lamaçal», como lhe chamámos. Tínhamos de perguntar se essa estrada seria uma opção. Primeiro instalamo-nos no parque de campismo de Ushguli para aqui passarmos dois dias a explorar o glaciar Shkhara e as montanhas vizinhas que incluem o monte homónimo, o mais alto da Geórgia — 5201 m de altitude.

véspera, a chuva havia transformado a estrada de terra num lamaçal. Ainda avançámos uns bons quilómetros depois do alcatrão desaparecer, até termos a nossa primeira queda, por tentarmos mudar de pista na estrada lamacenta. A primeira queda não magoou muito — excepto talvez o orgulho do Jorge — e também não nos sujámos muito porque conseguimos ficar de pé na queda, mas teríamos mais oportunidades lá à frente para provar o sabor da lama... Quem visita Ushguli vem em jipe alugado ou com uma marshrutka. Alguns arriscam a caminhada de quatro dias entre as duas localidades e depois voltam de jipe para Mestia. Por não faltar opções, a viagem não é solitária. Passa-se por muito trânsito, leva-se com muita lama, pára-se muito nos locais onde só passa um veículo de cada vez. Cansados com tanto desafio, não víamos com grandes olhos a ideia de ter de voltar a fazer a estrada toda para trás, nem mesmo no dia seguinte. Estudámos melhor o mapa e vimos que havia uma linha muito fi na

A Demanda

Fomos perguntando em diferentes sítios — incluindo nos restaurantes onde comemos, enquanto aquecíamos com as deliciosas sopas da montanha — se havia alguma estrada até Lentekhi e em que estado se encontrava. Para a maioria, tal coisa não existia. Insistimos, procurando o que queríamos ouvir. — «A estrada existe» — disse-nos fi nalmente um jovem, — «mas está em tão má condição que

3 O Alto Svanécia é uma região montanhosa com vários cumes acima dos 4000 m, com estradas de acessibilidade desafiante, mas largamente recompensadoras — caminhadas, glaciares, vales esplendorosos. Monte Ushba (4710 m) Monte Shkhara Mestia (5201 m) 3 Ushguli Zugdidi

Desfiladeiro de Okatse

Conhecemos um alemão viajando de bicicleta com quem nos cruzámos cinco vezes — Mestia, Ushguli, Lentekhi, Kutaisi e David Gareja. Não é ele quem é necessariamente rápido — nós é que somos muito lentos.

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RÚSSIA

Na região de Cachétia, em território disputado entre o Azerbeijão e a Geórgia, o complexo monástico de David Gareja merece a distinção de Património Mundial da UNESCO.

Stepantsminda (antiga Kazbegi)

Kutaisi

MAR CÁSPIO

GEÓRGIA

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Tiblissi 4

Batumi

Cachétia TURQUIA

ARMÉNIA Baku

2 As praias concorridas da costa do mar Negro são o local ideal para carregar baterias, antes de investir para o interior.

AZERBEIJÃO

AZERBEIJÃO

IRÃO

Geórgia («DiariesOf»)

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Geórgia («DiariesOf»)

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Raio-X BMW F800 GS (2016) «Poderosa» — edição «diaries of»

Saída de moto do Luxemburgo a 3 de Agosto, com chegada à Geórgia no dia 16, 14 dias depois. Interrompemos a viagem, regressando de avião a 23 de Outubro, volvidos quase dois meses na Geórgia. Aí deixámos a nossa moto com um amigo ganho. Contamos retomar a viagem em direcção ao Japão em Março de 2018.

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PÁG. ANTERIOR Topo esquerdo O encontro com um motociclista no deserto perto do Azerbeijão revelou-se providencial. (@Cachétia) Topo direito Chegada a Kutaisi ao cair da noite. (@Kutaisi) Centro Mais que orientações, Eko ofereceu amizade e uma disponibilidade para ajudar. (@Cachétia) Base esquerda Trilho à saida de Ushguli, o caminho foi de terra e sempre a subir até chegarmos à portela de Zagar. (@Zagar) Base direita Uma boa tenda faz muita diferença, quando o campismo é a forma principal de dormida. (@Desfiladeiro de Okatse)

1 MALAS LATERAIS TOURATECH Levámos apenas duas malas laterais de alumínio — para nós, preferível ao plástico —, com 31 e 38 litros cada. Aprendemos em viagens anteriores que as malas com suportes de plástico não são uma boa opção, quebrando e sendo de difícil reparação.

5 DEFLECTOR Para altura do piloto (1,73 m) o deflector torna a condução prolongada mais confortável.

2 SACO IMPERMEÁVEL Na traseira levámos um saco impermeável da Touratech com 49 litros de capacidade. A mala traseira é o nosso quarto e cozinha, onde transportamos a tenda — ficar a seco em noites de chuva e vendaval justifica o investimento numa boa tenda—, colchões, sacos de cama, fogão e tacho.

7 EQUIPAMENTO Apesar do calor sentido, resistimos à tentação de nos livrarmos dos casacos e protecções.

3 SACO DIANTEIRO No dorso da moto (evitando dizer «saco de depósito», porque neste modelo o combustível fica lá atrás) levamos o material fotográfico num saco impermeável original BMW. 4 LUZES AUXILIARES Da Wunderlich.

6 NAVEGAÇÃO Confiamos ao mapa de estradas a nossa navegação, sem GPS.

8 PNEUS Equipámos a moto com Anakee 3, um bom compromisso para o tipo variado de pisos que nos propomos a fazer, mesmo sem que haja uma ideia planeada do que nos será exigido. Para nós o melhor compromisso pois fazemos alcatrão, cascalho e terra. Não evitamos um ou outro — é o que nos aparece. 9 DRONE O preço acessível e o tamanho reduzido foram os grandes factores decisivos na escolha do «DJI Spark» para nosso primeiro drone (500 €). Com apenas 300 g é

surpreendentemente robusto. A mala de transporte mede apenas 20x20x6 cm, cabendo em qualquer canto das nossas malas. Na escolha privilegiámos poder ser telecomandado por telemóvel, evitando transportar um telecomando. A desvantagem é que o telemóvel perde o contacto com o drone aos 50 m. Acabámos a comprar o telecomando DJI para assim o podermos voar até aos 120 metros. Como ainda somos principiantes com drones, achamos muito interessantes as várias funções pré-definidas e o voo em modo de segurança, que o faz regressar à base em caso de perda de contacto ou limite de bateria. Características ideais para quem está a começar a pilotar, limitando os riscos. A bateria tem um limite de voo de apenas 15 minutos, valendo a pena investir numa bateria adicional. Na Geórgia fomos interpelados uma única vez pela polícia em espaços públicos — é certo, estavamos num recinto religioso central. Pediram-nos a identifi cação e fotografaram o nosso passaporte. Queriam apenas saber quem éramos e onde estavamos instalados. Pudemos continuar a filmar.

Geórgia («DiariesOf»)

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PÁG. ACTUAL A caminho da aldeia de Juta. (@Vale de Roshka)

PÁG. SEGUINTE Seguimos sempre pelas montanhas até Lentekhi onde voltámos à estrada pavimentada. PÁG. SEGUINTE A apreciar as magníficas vistas do Cáucaso Maior.

é mais fácil voltar por Mestia.» E continuou, explicando. «A última vez que passei por lá, parte da estrada tinha sido completamente destruída pelo rio, com as chuvas. Nós, e outros dois carros que chegaram, tivemos de trabalhar mais de cinco horas para tentar repará-la o suficiente para podermos atravessar o rio». A experiência transforma-se em anedota. — Vocês nem vão acreditar!, diz, entusiasmado, explicando que trabalharam e transpiraram, pegando em pedregulhos pesados e colocando-os no leito do rio para conseguirem a travessia de carro. — E, quando o trabalho estava praticamente pronto e admirávamos o nosso feito — remata, — chega um outro carro e usa a «nova» estrada, sem problemas, sem parar. Passa e olha-nos com cara de quem não entende o que é que ali estamos a fazer ao pé do rio, de pé e todos suados! Nós não lhe respondemos, mas imaginamos que essa pessoa deve ter pensado «Que lugar estranho para pararem à conversa».

«Vamos lá a ver isso»

No dia de seguir viagem decidimos tentar o caminho até Lentekhi, não muito convencidos de que conseguiríamos chegar até ao destino, mas resolutos a, pelo menos, experimentar a estrada. Se estivesse muito má, poderíamos sempre dar meia volta. Não seria exactamente assim... No entanto, os primeiros quilómetros

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foram de terra batida, decente e quase suave, o que nos encorajou a seguir. Depois de ultrapassada a portela de Zagar, o caminho foi sempre a descer. Mas foi precisamente a descer que começámos a perder a nossa confiança. As dificuldades começaram quando a terra batida deu lugar a grandes calhaus, todos de diferentes tamanhos, provocando protuberâncias e buracos. Finalmente, alcançamos o leito de um rio. Não havia água, é certo, mas também não havia ponte ou estrada ou o que quer que lhe valha. Deve ter sido aqui que o outro trabalhou cinco horas para passar o rio. É situação para sair da moto, analisar o lugar e cruzar o rio a pé para eleger o melhor lugar de passagem. Trabalho feito, o Jorge sobe para a moto pronto a seguir as minhas instruções, digo eu. A primeira tentativa traduziu-se numa queda monumental. O Jorge não foi suficientemente rápido e bateu com a roda da frente numa pedra gigante. Sem conseguir manter o equilíbrio e sem apoio num dos pés devido ao desnível, veio abaixo. Felizmente não se magoou e conseguimos levantar a moto em poucos minutos. À segunda deu-lhe gás e então, literalmente, saltou sobre o rio para a outra margem. O resto do caminho foi praticamente uma estrada íngreme sempre a descer, onde não podíamos atingir nenhuma velocidade, o Jorge travou


com a caixa todo o percurso, esforçando-se para nos manter em cima da moto. Precisámos de mais de seis horas para cobrir uma distância de 75 quilómetros. Mas a paisagem valeu todas as dificuldades, ainda parámos uma ou duas vezes para apreciá-la.

Ekos no deserto

A região de Kahketi com o mosteiro ortodoxo David Gareja, merece destaque. Localizado nas encostas semi-desertas do monte Gareja, este enorme complexo foi construído tanto por motivos religiosos, como por questões de estratégia. Foi usado para defesa contra invasões do inimigo devido à sua localização, nestas montanhas remotas, perto da fronteira com o Azerbaijão. Estávamos a aproximarmo-nos da planície do deserto, quando percebemos que já não havia uma estrada que pudéssemos claramente seguir. Porque viajamos sem GPS, tivemos de parar para tentar encontrar alguém que nos desse mais algumas direcções. Como esta não era exactamente uma estrada com movimento, esperámos mais de um quarto de hora até vermos finalmente um carro aproximar-se. A comunicação foi difícil, conseguimos entender a linguagem visual que significava «por ali». Estávamos já a meter os capacetes, quando, ao longe, vimos uma moto a aproximar-se. O motociclista parou e cumprimentou-nos assim que nos viu. Era um georgiano em pausa de almoço

que vinha fazer um pouco de off-road, o único local que conhecemos a conduzir moto. E coincidência ou não, aconteceu ali, no meio do nada, ao aproximarmo-nos do deserto. Contamos-lhe os nossos planos e perguntamos-lhe se encontraríamos a estrada ou, pelo menos, a direcção para o mosteiro. Ponderou muito a resposta, alongando o silêncio. — Sabem que mais? — disse, por final — É uma viagem tão bonita que vou convosco. — Confessou-nos que apenas tinha uma ideia geral da direcção — Descobrimos juntos — remata Eko. Passámos o resto do dia juntos, a conduzir por paisagens incríveis até ao mosteiro, visitámos o complexo. Aí conhecemos melhor Eko, um jovem especial, o qual, apesar dos seus curtos 28 anos, viveu uma horrível experiência de guerra, tendo mais tarde procurado equilibrar com a serenidade da vida no mosteiro. Hoje, decidiu deixar ambas para trás, com os olhos no futuro, onde deposita grandes esperanças nas gerações mais jovens a começar pelo seu filho que nos revela irá nascer em breve. O nosso reencontro com o Eko está marcado para muito em breve e terá para nós um gosto muito especial. Para além da alegria que vai ser voltar a rever este novo amigo, com ele iremos rever a Poderosita que ficou na garagem do Eko, ao lado da sua moto durante o Inverno. Até já, amigos Geórgia («DiariesOf»)

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«DRONING»

Este é apenas um dos muitos vídeos da «DiariesOf», revista de viagens, que nos deixam com vontade de partir. Dedicado à Geórgia, é a estreia do drone no arsenal de imagem que o Jorge e a Anabela utilizam em viagem.

Geórgia («DiariesOf»)

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Destinos

África

3 9 15 África do Sul 4 9 Angola 1 Argélia 3 15 Botsuana 9 10 Congo (R. D.) 9 Egipto 9 Etiópia 9 Gâmbia 4 15 Malaui 6 10 14 10 13 Marrocos 1 2 14 9 Mauritânia 4 9 15 Moçambique 3 4 15 Namíbia 4 9 Quénia 9 10 Ruanda 1 14 9 Sahara Ocidental 5 São Tomé e Príncipe 2 9 Senegal (Dakar) 2 9 Sudão 10 Sri Lanka 9 15 Tanzânia 3 4 15 Zâmbia

Ásia

Arménia Azerbeijão Burma (Myanmar) Camboja China Geórgia 3 Índia Indonésia Irão Iraque Japão Laos Malásia Mongólia Nepal Paquistão Quirguistão Tailândia Tajiquistão Timor-Leste Turquemenistão Usbequistão Vietname

7 8 6 7 9 11 9 12 7 8 9 11

5 7 8 4 7 8 9 8 9 14 9 9 9 7

Oceânia Austrália

7

Conheça aqui quais os destinos de viagem de moto sobre os quais já publicámos, tanto na TREVL, como na REV.

Nesta edição

Os destinos incluídos nesta edição estão destacados com um fundo amarelo.

Edições passadas

Cada entrada nas tabelas seguintes tem a indicação de qual o número onde foi publicada (a amarelo na TREVL, a azul na REV).

Interactivo

Para uma experiência mais interactiva com visualização sobre o mapa-mundo, sugerimos visitar o nosso site na secção «TREVL no Mundo».

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Europa

7 Albânia Alpes Balcãs Bielorússia Bósnia e Herzegovina Bulgária Córsega Croácia Dinamarca 1 Espanha 1 Escócia Eslovénia Gales Grécia Inglaterra Irlanda Islândia Itália Letónia Kosovo Montenegro 1 Noruega Pirenéus Polónia 3 7 Rússia Sérvia Suécia 2 7 8 Turquia

Portugal

América

«Alasca» (EUA) Argentina 4 6 Belize Bolívia Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica El Salvador Equador EUA Guatemala México Nicarágua Panamá Paraguai 6 Peru Uruguai Venezuela

8 8 9 13 7 15 14 15 14 9 9 13 9 11 11 9 11 9 9 15 11 11 13

13 7 4 11 4 4 4

6 5

5 4 6 4

5 11 10 11 12 5 7 11 12 6 7 8 5 10 11 12 5 7 8 5 8 5 8 4 7 7 12 15 2 5 8 12 5 8 5 8 6 11 7 11 12 7 10 11 4 8

10 11 15 1 2 3 7 15 9 7 15 7 1 7 8 14 4 5 7 5 6 12 7 2 7 11 2 6 2 1 3 5 7 9 2 7 15 7 15 8 13 14 1 5 7 9 14 8 11 14 2 7 15 14 11 12 14

Açores Alto Alentejo Alta Estremadura Alto Douro Beira Baixa Serra Algarvia Serra da Arrábida S. de Aires e Candeeiros Tejo dos Castelinhos

Espanha

Deserto de Bardenas Galiza Picos de Europa Ruta de la Plata Sierra Norte

12 7 13 3 2 10 13 1 1 7 10 1

5 12 1 5 4 7 7


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