ACT Portugal
Tea2Wine
Viagem em Portugal
Adventure Country Tracks
Viagem Chármosa
4,50€ (Continente) IVA Inc.
TREVL#13 | Verão 2017 — Quadrimestral
Diaries of
Portugal • Escandinávia • Indochina • Marrocos
Editorial
L
.pt
embro-me de um grande amigo dizer-me que, quando volta a Portugal e a Lisboa, cidade natal, gosta de percorrer as páginas dos guias de viagem da sua cidade para descobrir maravilhas escondidas debaixo dos olhos. Quantas vezes não precisamos que venha alguém de fora para nos lembrar quão excepcional é aquilo que temos? Alguém que, como os alemães e ingleses da Touratech AG, se deslumbra com as serranias recortadas pelos trilhos que hoje compõem a edição inaugural do Adventure Country Tracks. Ou como o Jorge e a Anabela a viver em Luxemburgo que, apesar de terem planos para percorrer todo o mundo de mota, escolheram Portugal, para o redescobrir. Uma «Estrada da Morte», como a do Peru, pertence ao imaginário dos viajantes de moto. Habituámo-nos a ver estas obras de engenharia como um objecto de desejo do aventureiro, pela audácia com que se adentra nelas para, depois de feita, a pendurarmos sobre a lareira, junto ao peixe empalhado de meio-palmo, o mesmo que, em inúmeras conversas de bar, jurámos aos nossos amigos ter quase dois metros. A estrada da morte que Portugal hoje tem não inspira nem aventura, nem nada de bom, para esse efeito. Fala de pânico, destruição e impotência, de algo que já não
existe. E, ao ler as páginas desta TREVL e das histórias e percursos que partilham, sentimos que Portugal ficou mais pobre. As mesmas serras, praias fluviais e caminhos vestem-se de negro, de luto. Damos por nós a reconhecer o valor do que tínhamos agora que o perdemos — e apenas agora, como se uma maldição fosse. Mas não é. Depende de cada um de nós partir à descoberta de Portugal, de o viver, procurando os trilhos e aldeias remotas envoltas na floresta e trazer vida a estes locais para tornar a sua memória mais forte. E uma mota continua a ser uma forma óptima para o fazer. Esta revista continua a ser dos Portugueses, feita por eles, contada a nós todos. É uma afirmação de orgulho. Como o é o trabalho do Filipe Elias com o ACT, em Portugal e lá fora. Ou o espírito de viajante do Tiago na Indochina, ou a camaradagem de um grupo de amigos por Marrocos, o reino que não cansa. A Anabela e o Jorge partem para o Japão por terra, mas apenas após terem dedicado uma viagem por Portugal, para que, ao percorrerem a Europa e Ásia, saibam melhor falar do seu País com o brilho nos olhos dos sonhadores. TREVL – de moto pelo mundo e por Portugal José Bragança Pinheiro Director — jbpinheiro@trevl.pt
Capa As côres quentes de um Verão desenham a silhueta de duas viajantes. Foto Junto à costa portuguesa, Anabela e a Poderosa partilham um pôr-de-sol. Autor: Jorge Valente
3
Índice Director e Revisão José Bragança Pinheiro jbpinheiro@trevl.pt
Neste número... página
TREVLers Anabela e Jorge Valente Viajantes e colaboradores Arnaldo Guedes Diogo Alexandre Gonçalo Franco Hugo Ramos João Sousa Jon Bentham Michael Pereira Ricardo Andrés Ricardo Laurêncio Tiago Mendes Zé Duarte
Os TREVLers Anabela e Jorge Valente dedicam a Portugal uma das suas últimas viagens. Portugal (“DiariesOf”) Ao Filipe Elias se deve em grande medida o ACT Portugal e a projecção do nosso país no panorama europeu de mototurismo de aventura. Portugal Os 4 amigos, Diogo, Michael, Ricardo e Laurêncio, vivem o Sul de Marrocos com uma intensidade que reforça os laços de amizade e companheirismo. Marrocos
Editor Geral Hugo Ramos Arte Rita Pereira José Bragança Pinheiro
O Hugo Ramos estreia-se a viajar para lá do Círculo Polar Ártico aos comandos de uma Africa Twin. Cabo Norte, Escandinávia
Publicidade António Albuquerque
O Tiago Mendes demora-se pela Indochina, fazendo da moto a sua extensão da aventura asiática. Vietname, Camboja e Laos
antonio.albuquerque@fast-lane.pt
Telefone: (+351) 939 551 559 Assinaturas: assinaturas@trevl.pt
BMW F800 GS
@Mundo, por José Duarte
BMW F800 GS
@Marrocos, por Diogo Alexandre, Michael Pereira, Ricardo Laurêncio Proprietário e editor
FAST LANE - Media e Eventos, Lda.
BMW F800 GS
Administração, Redacção e Publicidade: Av. Infante D. Henrique, Ed. Beira Rio, Fracção T 1950-408 Lisboa Telefone: (+351) 218 650 244
Depósito Legal: 357231/13 ISSN: 2182-8911 Impressão e acabamento:
@Portugal, por Jorge Valente
Ducati Scrambler «Desert Sled»
@Portugal, por José Bragança Pinheiro
LGS Impressores, Lda Rua Alfredo da Silva, 12 2600-016 Alfragide
Honda CRF 1000L «Africa Twin»
Distribuição:
@Noruega, por Hugo Ramos
VASP – Distribuidora de Publicações, Lda. Quinta do Grajal – Venda Seca 2739-511 Agualva-Cacém
Detech Win 100
@Indochina, por Tiago Mendes
Periodicidade Quadrimestral (3x por ano) Todos os direitos reservados de reprodução fotográfica ou escrita para todos os países. Estatuto Editorial TREVL é uma revista lúdica e informativa sobre a temática do motociclismo nas suas vertentes de lazer, mobilidade e transporte, desportiva, cultural e, especialmente, turística. TREVL dará especial relevo ao rigor da escrita e à componente artística do desenho gráfico e da fotografia. TREVL empenhar-se-á num jornalismo apaixonado e comprometido com a temática que é seu objecto. TREVL é independente do poder político, económico e de quaisquer grupos de pressão. TREVL defende e respeita o pluralismo de opinião sem prejuízo de assumir as suas próprias posições. TREVL assumirá uma postura formativa. TREVL respeita os direitos e deveres constitucionais da liberdade de expressão e de informação e cumpre a Lei de Imprensa.
KTM 1190 Adventure R
@Marrocos, por Ricardo Andrés
Yamaha Super Téneré
@Europa, por Arnaldo Guedes e Gonçalo Franco
Índice do acotarescrita
«Viagem em Portugal»
Bragança
@Portugal, por Anabela e Jorge Valente (DiariesOf)
«Procurámos o Sr. Martins entre os idosos sentados na escadaria da capela, mas em vão. Fomos encontrá-lo na pista de dança, agarrado às moças jovens.»
Revis uguês. t em Por ÃO foi N , Logo ordo do o ac adopta ráfico. or tog
«Adventure Country Tracks - Portugal» @Portugal, por Jon Bentham
«O Regresso de Elias»
@Portugal, por José Bragança Pinheiro
«Após um ano de trabalho que envolveu o Turismo de Portugal e 5000 km em reconhecimentos, a primeira versão do ACT foi anunciado em 2016 na feira de Colónia, na Alemanha.»
Belver
«Um Trenó no Deserto»
@Norte Alentejo e Beira Baixa, por José Bragança Pinheiro
«Não havia uma brisa no ar, tornando o rio Tejo num espelho de água que a barragem, alguns quilómetros a jusante, oferecia. O reflexo do comboio na linha férrea ribeirinha vê-se, enquanto apita para a curva que antecede o castelo de Belver, iluminado.»
Cacela Velha
«Sul de África 360°»
@África, viajante João Sousa
«Adventure & Friends»
@Marrocos, por Diogo Alexandre, Michael Pereira, Ricardo Andrés e Ricardo Laurêncio «A ferver, homens e motas, voltávamos a parar junto de mais um arbusto. Recorremo-nos de barras energéticas para tentar arrebitar e lá se foi mais um bocado da pouca água. O silêncio aumentava de volume.» Cabo Norte
Lago Iriki
«As viagens»
@Europa central, viajantes Arnaldo Guedes e Gonçalo Franco
«Ao Fim e ao Cabo»
@Noruega, por Hugo Ramos
Hanoi Oslo
«Tea2Wine»
@Mundo, viajante José Duarte
«Win Win»
@Vietname, Camboja e Laos, Tiago Mendes «A serendipidade tem destas coisas — foi aí que encontrei a minha companheira de viagem. Chamei-lhe “GreenGo” por ser verde e disponível para ultrapassar tudo, desde lamaçais a inclinações surreais.» Ho Chi Minh
Índice de Destinos
5 página
20
Raio-X Ducati Scrambler «Desert Sled» (2017) (edição «Lucas Power») pág. Inicial A côr branca da Ducati fica bem junto às paredes das aldeias do norte-alentejano. (@Aldeia da Cunheira) 4
11 pág. Anterior Topo Esta Desert Sled, há falta de deserto baja-californianos, deleita-se entre os eucaliptos, percorrendo os caminhos de terra na Beira Baixa. (@Rouqueira)
9
3
Centro O dourado das jantes e das searas do Alentejo, no regresso pelas margens da barragem de Montargil. (@Montargil) Base esquerda Refrescar as rodas na ocasional travessia de linha de água. (@Beira Baixa)
8
1 6
2
6
6
7
10
10 5
Base direita Margens da albufeira de Montargil. (@Montargil)
1 Suspensão dianteira Em lugar das forquilhas de 41 mm não-ajustáveis, este modelo equipa-se de origem com uma suspensão dianteira de 46 mm completamente configurável com um curso de 200 mm preparado para condução fora-de-estrada. É um dos melhores aspectos desta Scrambler, com poucas semelhanças às demais «irmãs». 2 Suspensão traseira Também atrás, a Desert Sled reforçou-se, com os mesmos 200 mm de curso, substituindo o amortecedor de aço original por um de enduro em alumínio, maior e configurável em pré-carga e recuperação. Todo o conjunto consegue assim manter-se composto, recuperando sempre em perfeitas condições ao que o terreno exige. 3 ocular Protegida pela rede metálica homologada de série, a ocular é um dos pormenores de design melhor conseguidos, relembrando os modelos dos anos 60-70. Até lhe desculpamos a luz precisar
de reforço nas saídas em fora-de-estrada durante noites mais escuras. 4 Navegação A barra de guiador, na ausência de suporte de pára-brisas, torna-se o melhor ponto de fixação para sistemas portáteis de navegação — neste caso um pequeno «Garmin Dakota». 5 protecção de cárter Uma maior distância ao solo e a protecção de origem em alumínio do cárter resguardam o motor da ocasional pedra ou queda... 6 Exposição do motor ...mas partes sensíveis do motor — e de reparação ou substituição dispendiosas — continuam muito expostas. 7 ergonomia Os estribos mais avançados e o guiador, combinados com o depósito elegante, privilegiam uma condução em pé, como deve ser fora-de-estrada.
8 carga Os pontos de fixação para bagagem (este modelo não vinha equipado com a estrutura metálica para os sacos Ducati) são difíceis de encontrar. 9 Saco impermeável Um saco da «Touratech Ortlieb» de 40 L é o limite de carga possível — e basta. 10 Pneus e rodas Com jantes «tubeless» de raios de 19 polegadas à frente (120/70) e 17 atrás (170/60), a evocação das Desert Sled originais fica completa com os pneus Scorpion Rally STR da Pirelli, que mostraram estar à altura de pedra solta, gravilha e areia. 11 Protecção de punhos Bem sei... não tarda parece uma árvore de Natal. Mas sem protecção dos punhos, os «single track» com vegetação — no deserto californiano não há arbustos e árvores, verdade — e as quedas para o lado podem ser um problema Alto Alentejo e Beira Baixa
21
28
Em viagem
Jon Bentman
Herbert Schwarz, Katja Wickert
Adventure
Country tracks
Portugal
29
36
Viajante
Oderetorno Elias Acostumámo-nos a vê-lo numa ázafama. Tornou-se de tal forma habitual a qualidade do seu trabalho nos eventos Waypoint Trail Challenge que o tomámos por normal. José Bragança Pinheiro
A
Herbert Schwarz, Katja Wickert
través de Elias, Deus ressuscitou os mortos, fez chover fogo dos céus, e foi levado por um remoinho, acompanhado por uma carruagem e cavalos em chamas, cavalgando-os.
Entre as viagens que o levam dos Açores à Grécia, conseguimos amarrá-lo por um pé, para que, sentados à porta da loja da TouratechPT — um filho também seu — em Lisboa a ver o rio Tejo, conversemos sobre como chegara até aqui e o que está pela frente.
Está na Bíblia, senhores
Para além de «não haver muitos países onde se possa andar de mota sem grandes restrições em off-road», Filipe explica que, em Portugal a Touratech sentiu ter encontrado as pessoas que podiam tornar a primeira edição realmente grandiosa, potenciada pelo clima que permite que a rota seja feita em quase todo o ano. Mas o que trazem essas pessoas para o projecto, que tornam Portugal uma boa opção, são a capacidade de mobilizar os apoios dos construtores e fabricantes de acessórios. E isso é possível porque o historial de trabalho e demonstração de competência existe e fala bem alto. Após um ano de trabalho que envolveu o Turismo de Portugal e 5000 km em reconhecimentos, que permitiram avaliar como cada troço resiste ao teste do tempo e se transfigura nos vários momentos do ano, a primeira versão do percurso foi anunciado em 2016 na feira de Colónia, na Alemanha. Desde então, largas dezenas de viajantes se propuseram a fazê-la dentro das centenas de descargas do track de GPS, disponibilizado gratuitamente pela Touratech no site ACT. Neste período, e para que o percurso se mantenha válido e seguro, é preciso reavaliar os troços identificados como mais sensíveis ao tempo. Deste esforço resultam
Nas páginas do Livro dos Reis da Bíblia, Elias contribuíu para tarefas divinais e fê-lo cavalgando. Há aqui um paralelo forte com o Elias — Filipe — que conhecemos em Portugal e com o seu trabalho. Montado em corcéis de barrigas de fogo, através dele vimos as rotas adormecidas de Portugal ressuscitarem quando as dávamos por defuntas. É justo dizê-lo, pois a ele se deve a rota inaugural do projecto global de aventura da Touratech — o projecto Adventure Country Tracks (ACT) — fruto do conhecimento que foi amealhando ao longo dos anos de moto. Qualquer bigtrail cujo dono tenha alma para a aventura terá, a dada altura, considerado participar num dos 25 eventos do WTC ao longo dos oito anos que perduraram. Um pouco por todo o país, cada um revelava uma região cheia de segredos e caminhos para percorrer de mota, fruto do gosto e talento do Filipe para os reconhecimentos. Eu próprio cresci e fiz a escola das grandes motas de aventura nas provas WTC de Figueiró dos Vinhos, da Benedita, do Touratech Travel Event em Avis e de Mação. Através destas experiências em fins-de-semana de aventuras «caseiras», alimentei o desejo de viajar, estendi mapas na mesa da sala e, mais importante, fui.
Porquê Portugal
«O Retorno de Elias»
37
Em Viagem
Amigos por
Marrocos Diogo Alexandre, Michael Pereira, Ricardo Andrés, Ricardo Laurêncio
42
43
gringo) devido à cor verde e a disponibilidade para ultrapassar todo o tipo de terrenos, desde lamaçais a inclinações surreais. Dos possíveis companheiros de viagem, nem sombra, mas finalmente ia seguir o meu destino, fazendo-me sentir aliviado e muito entusiasmado. Ainda no parque natural fui semeando pequenos sustos a conduzir, entre os quais testemunhar o acidente de duas amigas polacas que resultou em pontos no joelho duma delas, dados por um médico local em condições muito precárias.
Matriculado em Peripécias
A primeira etapa de moto levar-me-ia a Hue, capital até 1945, junto à antiga fronteira dos dois Vietnames, o que lhe causou imensos dissabores e um passado sangrento. O dia prometia chuva, apesar da estrada se antever sem dificuldades de maior. Circulava perto dos 70 km/h — velocidade limite da mota — quando ouvi um barulho forte e senti toda a mota abanar. Procurei parar o mais rápido que consegui, pensando que o motor havia cedido. — «Nem fiz 60 km», pensei. O motor estava OK. Havia sido o suporte onde tinha a minha mochila que se partira em plena estrada — máquina fotográfica e computador estavam à mercê de um dos numerosos camiões que circulavam. A manobra de resgate foi difícil e arriscada, mas a mochila saiu intacta da peripécia. Dai até Hue foram 140 km com ambas as mochilas no meu corpo, uma à frente e outra às costas, na qual fixei a matricula depois do suporte se ter partido. Ainda parei algumas vezes sempre que avistava uma oficina, mas sempre sem sucesso — ninguém conseguia reparar o suporte. Cheguei extenuado a Hue, onde me dirigi ao primeiro hostel que encontrei. Quando entrei, dou com um casal que não tinha saído bem de uma aventura na estrada, a rapariga com a perna partida e o rapaz com várias escoriações por todo corpo. Depois de descansar e já recomposto, segui à procura de um sítio onde arranjar a moto o que consegui por trinta dólares e com relativa facilidade. Havia sido duro, este primeiro dia, até algo desencorajador para o futuro... mas a vontade de seguir falou mais alto, animado com a mítica Hái Vân Pass, considerada uma das estradas costeiras mais bonitas do mundo. Acabou por ser um dia de muita chuva e vento,
64
que não me permitiram gozar tanto como queria, mas sem grandes sustos. No final fui recompensado dormindo naquela que, para mim, é a mais bela cidade do Vietname — Hoi An. Ímpar no que toca a cidades asiáticas, é certamente turística mas no bom sentido, com óptima comida e uma zona histórica muito agradável de passear, e até uma praia, reconhecendo que o país não tem muito a oferecer neste capítulo.
pág. abertura Fronteira do Camboja, saíndo do Vietname. (@Prek Chak - Hà Tien)
A Lei do Maior
Progredindo para sul, as minhas capacidades motociclísticas aumentavam e, com elas, os momentos de «coração à boca». No Vietname apenas existe uma regra de trânsito — o maior tem sempre prioridade — e uma alínea a essa regra — os condutores de autocarros não são obrigados a respeitar qualquer sinalização ou outros veículos. Visitei Nha Trang que tem a singularidade da maioria dos estabelecimentos comerciais escreverem os seus menus em russo. Os interesses do petróleo no pós-guerra na região reforçaram as ligações aéreas directas para Moscovo, que trouxeram uma quantidade de turistas, por «arrasto». Em Nha Trang despedi-me da costa e segui para a estação de montanha Dalat, uma bela cidade com bom clima e óptimo café local, ainda melhor que o normal o qual já é de extrema qualidade. Este troço — o mais cénico de todo o centro sul do Vietname, ondula entre floresta densa e cascatas que interrompem a estrada. Seguindo por mais uns dias entre parques naturais e em busca por crocodilos em reservas a norte de Ho Chi Minh, cheguei a esta, a maior cidade do país e uma das com maior crescimento no mundo. Por sorte, nesta altura a cidade esvaziara-se por ocasião do Ano Novo chinês, quando muitos cidadãos regressam à terra natal. Desafiando o plano inicial de vender aqui a mota — depois de muitas horas no seu assento e outras tantas pequenas aventuras — decidi que não estava preparado para acabar com a minha viagem ali. Comecei a preparar-me para estender a viagem por mais um mês e levar Greengo até ao reino do Angkor Wat. Com uma revisão mecânica geral feita, segui para sul procurando a fronteira de Há Tien no extremo sul. Havia adiado a venda da moto para Phnom Phem.
Mar de Andamão
Mapa 1 Baía de Alongues A baía de Alongues ganha o nome da tradução de Ha Long — «Onde o Dragão entra no Oceano». Este local Património Mundial da UNESCO desde 1993 é feito de 3 mil ilhotas calcárias, formadas pela cauda do dragão que vivia nas montanhas fugiu para o mar.
China Sapa
14
Vietname
Fui adiando o inevitável — separar-me de GreenGo. Mas aqui era a estação terminal para ela. Prossigo sozinho.
Myanmar
China
Hanoi Baía de Alongues
1
Luang Prabang 14 2
Mar da China meridional
Phong Nha-ke Bang Património Mundial da Unesco desde 2003, no parque nacional Phong Nha-Ke Bang encontramos as mais antigas montanhas cársicas de toda a Ásia com 400 milhões de anos, com um sistema imbrincado de grutas e rios subterrâneos de uma dimensão única.
Vang Vien
Phong Nha
Konglor Uma piscina natural esmeralda numa gruta de 7 km e 100 m de altura.
2
3
4 Laos
12
Tailândia 11 Esta é uma das fronteiras com mais relatos de esquemas de extorsão. Como terá sido a minha experiência?
Banguecoque
13
Vienciana
13
3
Bolaven Loop Em volta do planalto de Bolaven desenvolve-se um dos itinerários mais famosos do Laos.
5
Respeitando a «serendipidade do viajante»deixei que a minha moto me encontrasse a mim, e não ao contrário. Começa aqui a viagem de mota.
Hoi An 12
Si Phan Don
10 Angkor Wat
Hue
4
11
GreenGo falhou-me e, com esta falha, deu-me o primeiro susto.
Battambang
Vietname
Camboja
Nha Trang
9 Phnom Penh
Montanhas de Da Lat
8 Hà Tien
Golfo da Tailândia 7
Ho Chi Minh 6
5 Hái Vân Pass Considerada uma das estradas costeiras mais belas, a «Ocean Cloud Pass» leva-nos durante 21 km envoltos nos nevoeiros que a presença do mar oferece, tornando-a também bastante perigosa. 6
10 Tivemos «A Ideia», aquela que nos revelaria Angkor Wat de forma especial. Será que funcionou?
As difíceis estradas do Delta do Mekong leva-me a causar um pequeno choque com outra mota.
8
9 Uma intoxicação alimentar em cima da mota não se deseja a ninguém.
O suporte da mala volta a quebrar-se, desta feita, sem que caia ao chão.
7 Como Robinson Crusoé, a ilha onde fiquei não tinha electricidade, quanto mais internet. Vietname, Camboja, Laos
65
Tripy
O Tripy é um leitor de «road-book» electrónico que funciona por GPS. Não se trata de um verdadeiro GPS, pois não tem a capacidade de calcular ou recalcular rotas quando estamos fora das notas que vai mostrando do percurso seleccionado como qualquer leitor de «road-book» convencional. Estando ligado por GPS, permite uma localização constante para mantermos a rota correcta. O ecrã, dividido em duas partes assimétricas, mostra na maior (à esquerda) as notas de navegação e do lado direito, na parte menor, uma linha com o percurso ou um painel de informações — coordenadas geográficas, hora. Como companheiro desta viagem foi perfeito, com uma navegação muito fácil e intuitiva, completamente à prova de erro, pois obriga o navegador a passar exactamente no percurso correcto.
glaciar de Svartisen, o segundo maior da Noruega que ocupa uma área de 370 km2, equivalente a quase quatro Lisboas. Uma paisagem diferente e a sensação de um enorme deserto branco e muito, muito frio. No dia seguinte, saímos de Glomfjord em direcção a Lofoten para a que seria a última travessia de ferry. Avisam-nos que esse dia seria especial — além de cruzarmos a linha imaginária do Círculo Polar Ártico na viagem de barco, Lofoten é mais um daqueles locais de beleza de postal ilustrado. O tempo nestes dois dias foi também muito especial, com o céu azul e a temperatura amena na ordem dos 220 C a tornar a viagem ainda mais memorável. Em Gimsoysand acampámos junto à praia, uma «noite» passada entre a fogueira, amigos, risos, copos e música que acabou já por volta das duas da madrugada com o Sol ainda sem se pôr no
80
horizonte. Isto é desconcertante, só havendo escuridão nesta época do ano cerca de duas horas por dia e o nosso cérebro reage à luz como se fosse ainda horas de continuar acordado. É uma experiência muito diferente, dormir numa praia com o Sol ainda no horizonte. Pensando melhor, já o fiz muitas vezes no Algarve... às seis da tarde. Com apenas quatro horas de sono fizemo-nos à estrada com Malangen como destino. A luxúria paisagística desfila em contínuo perante o meu olhar atónito, enxotando sono e cansaço, algo a que a Africa Twin também ajuda, com uma ergonomia, protecção e conforto de topo. Almoçamos numa vila piscatória, num armador de pesca e caça às focas. A plataforma sobre a água do Foldvik Brygger virou restaurante e, durante a tarde, tivemos a primeira oportunidade de levar as motos num troço de todo-o-terreno, que parecia uma autêntica autoestrada onde até era
Raio-X Honda «Africa Twin» CRF1000L DCT (2017) 2
4 3
Boa escolha
8
A companheira de viagem, não poderia ser melhor escolhida — a CRF1000L «Africa Twin» na versão DCT com o completo pacote «Touring» instalado.
12 9 8
1
11
7
6 10
5
Que a «Africa Twin» é uma das mais polivalentes motos da actualidade já não havia muitas dúvidas. Faltava um teste às suas capacidades estradistas de longo curso para confirmar algumas indefinições que a remetiam apenas para a aventura. O DCT sente-se como «peixe na água» nestas condições e permite uma viagem sem falhas nem complicações para o condutor que pode investir mais atenção naquilo que o rodeia. A taragem das suspensões deve
ser ligeiramente alterada com a moto carregada para que não se torne demasiado branda, mas a travagem está a um nível bastante alto. O consumo médio nos 3445 km foi 4,8 L/100km, um valor muito interessante e que permite autonomias de mais de 300 km por depósito. Os extras do pacote «Touring» são muitos e completam muito bem a protecção e segurança em viagem.
1 Protecção do motor Incluídas no pacote «Touring», as barras de protecção servem também de suporte aos faróis auxiliares em LED. 2 Protecção aerodinâmica O vidro mais alto permite uma protecção acrescida e uma cobertura total do condutor.
Nota menos positiva para as malas que são frágeis e difíceis de fechar quando carregadas. A «Africa Twin» assume-se como uma viajante de aventura, muito
polivalente e completa, que se sente à vontade em quase todos os papéis, na estrada ou fora dela
5 Descanso central Sendo um modelo com transmissão por corrente, este elemento do pacote «Touring» facilita o estacionamento e também a lubrificação da corrente.
9 Saco impermeável Tamanho M da «Touratech», preso com cintas «RockStraps», uma combinação imbatível de polivalência em qualquer moto, clima ou viagem..
6 Exposição do motor O volume acrescido que o sistema DCT implica do lado direito do motor pode ser motivo de preocupação em caso de queda.
10 Travagem A um nível bastante elevado, mesmo com um curso de suspensão maior.
3 Punhos Aquecidos Na neve de Julho da Noruega, as temperaturas variam e o conforto que este acessório entrega é bem valorizado e invejado pelos companheiros de viagem cujas motas não o tinham.
7 ergonomia Excelente em quase todos os aspectos, apenas os poisa-pés parecem fora do sítio quando estamos parados com as pernas esticadas.
4 Navegação O leitor de «road-book» electrónico por GPS, Tripy, assegurou a navegação quase sem falhas. Para emergências cada viajante levava consigo um «Spot».
8 carga As três malas asseguram um bom volume de carga, mas o funcionamento dos fechos e a resistência das mesmas deixa muito a desejar.
11 Suspensão Carregada, convida a ser alterada a afinação para evitar ficar demasaido branda. 12 Autonomia O consumo médio de 4,8 L/100km permite autonomia acima de 300 km por depósito.
Noruega
81
F
inalmente, a tão esperada viagem a Portugal, sem pressas, de lés a lés. Com tempo para visitar os velhos amigos e fazer novas amizades. Antes de nos pormos à estrada — e porque os melhores guias são os que têm
84
mais quilómetros por Portugal, nas pernas e no guiador —conversámos com quem não faz outra coisa senão viajar, por Portugal. — Tragam um mapa — dizem-nos. — Venham pela tarde e marcamo-vos as estradas que valem a pena. O mapa regressou do encontro de outra côr, pintado em muitas pinceladas que
criavam um novo problema. — Bem podemos reservar o ano inteiro para irmos a estes sítios todos — dizemos para nós, coçando a cabeça. Teríamos de fazer compromissos na viagem, deixando alguns sítios por descobrir. Ainda bem — mais razões para continuar a viajar por Portugal.
Em Viagem
Viagem a
Portugal Anabela e Jorge Valente
Com uma responsabilidade grande às costas — desta viagem nasceria a edição da nossa revista DiariesOf dedicada a Portugal — metemo-nos à estrada da única forma que sabemos, sem GPS, com a nossa estimada e viajada tenda e o mapa tosco e cheio dos rabiscos que competem com as notas must-see e must-drive,
tornando-o quase ilegível. Seguimos à vontade do vento, fugindo à chuva que, em pleno Julho, ainda benzia o Norte do país. Antes de arrancarmos, procurámos chegar a um trajecto circular, mas depressa perdemos as ilusões. Há muito para ver e viver em Portugal,
dificultando seguir uma estrada, uma só direcção — esta viagem seria um ziguezaguear pelo país. No mapa, a dispersão dos pontos é reveladora da forma como fomos viajando, sem nos preocuparmos com a distância percorrida e optimizações de percurso. — Olha, não fica muito longe Portugal
85
Destinos
África
3 9 África do Sul 4 9 Angola 1 Argélia 3 Botswana 9 10 Congo (R. D.) 9 Egipto 9 Etiópia 9 Gâmbia 4 Malawi 6 10 14 10 13 Marrocos 1 2 14 9 Mauritânia 4 9 Moçambique 3 4 Namíbia 4 9 Quénia 9 10 Ruanda 1 14 9 Sahara Ocidental 5 São Tomé e Príncipe 2 9 Senegal (Dakar) 2 9 Sudão 10 Sri Lanka 9 Tanzânia 3 4 «Victoria Falls» 4 Zâmbia
Ásia
Arménia Azerbeijão Burma (Myanmar) Camboja China Georgia Índia Indonésia Irão Iraque Japão Laos Malásia Mongólia Nepal Paquistão Quirguistão Tailândia Tajiquistão Timor-Leste Turquemenistão Usbequistão Vietname
Oceânia Austrália
América
Conheça aqui quais os destinos de viagem de moto sobre os quais já publicámos, tanto na TREVL, como na REV.
Nesta edição
Os destinos incluídos nesta edição estão destacados com um fundo amarelo.
Edições passadas
Cada entrada nas tabelas seguintes tem a indicação de qual o número onde foi publicada (a amarelo na TREVL, a azul na REV).
Interactivo
Para uma experiência mais interactiva com visualização sobre o mapa-mundo, sugerimos visitar o nosso site na secção «TREVL no Mundo».
98
«Alasca» (EUA) Argentina 4 6 Belize Bolívia Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica El Salvador Equador E. U. da América Guatemala México Nicarágua Panamá Paraguai 6 Peru Uruguai Venezuela
7
3 6 7 9 9 7 8 9
5 7 8 4 7 8 9
8 8 9 13 7 8 11 12 11 9 9 13 9 11 11 9 11
9 8 9 9 9 11 9 11 9 7 13
Europa
Albânia Alpes «Balcãs» Bielorússia Bósnia e Herzegovina Bulgária Córsega Croácia Dinamarca 1 Espanha 1 Escócia Eslovénia Gales Grécia Inglaterra Irlanda Islândia Itália Letónia Kosovo Montenegro Noruega «Pirenéus» Polónia 3 Rússia Sérvia 2 7 Turquia
7 10 11 1 2 3 7 9 7 7 1 7 8 4 5 7 5 6 12 7 2 7 11 2 6 2 1 3
8
5 7 9 2 7 7 8 13 5 7 9 8 11 2 7 11 12
Açores Alto Alentejo Alta Estremadura Alto Douro Beira Baixa Serra Algarvia Serra da Arrábida S. de Aires e Candeeiros Tejo dos Castelinhos
7 13 3 2 10 13 1 1 7 10 1
1 1 7
7
Portugal 5 11 13 7 10 11 12 5 4 11 7 11 12 4 6 7 8 5 4 10 11 12 4 5 7 8 5 8 5 8 4 7 6 5 7 12 2 5 8 12 5 8 5 8 6 11 5 4 7 11 12 6 4 7 10 11 4 8
Espanha
Deserto de Bardenas Galiza Picos de Europa Ruta de la Plata Sierra Norte
12
5 12 1 5 4 7 7