AGOSTO DE 2015
TRIBUNA DO DIREITO
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ANOS Nº 268
SÃO PAULO, AGOSTO DE 2015
R$ 7,00 CRISE ÉTICA
Alta tensão entre os Poderes PERCIVAL DE SOUZA, especial para o "Tribuna"
B
RASÍLIA - É perigoso. As ferozes batalhas institucionais contemporâneas são muito ruins para o Brasil, pois se transformaram numa espécie de piquenique
ideológico, político e partidário, envolvendo diretamente os três Poderes. Só que isso está sendo realizado bem em cima da boca do vulcão. O recesso parlamentar terminou. Voltam em agosto os discursos que procuram transferir a crise política para a esfera
institucional, como se o Executivo pudesse manobrar Judiciário e Ministério Público contra o Legislativo e assim desmoralizar o Congresso. Não é assim, mas no jogo de forças querem que pareça desse modo. O mês de agosto surge como cená-
rio de quedas-de-braço sem fim, numa inacreditável competição de interesses, indiferente à grave crise econômica que atravessamos, como se simplesmente não fosse entendida a profunda dimensão desse momento. Alguns se empenham em mudar o foco das verdadeiras questões. Outros se limitam a verborragias de ataque ou defesa para tentar, inutilmente, justificar o intolerável. Por cima disso tudo, paira um desafio terrível: o domínio da escancarada corrupção, sem fronteiras ou limites, como se não existisse o princípio republicano que não admite instituições e pessoas que possam ficar acima ou à margem da lei. Nossa História recente mostra que já atravessamos momentos políticos parecidos nos meses de agosto: 1) a renúncia do presidente Jânio Quadros (1961), eleito sob a promessa de “varrer toda a bandalheira”” e capitulando em apenas sete meses de governo sob o que chamou de pressão das “forças ocultas”; 2) o suicídio do presidente Getúlio Vargas (1954), dentro do Palácio do Catete, então Distrito Federal, encurralado pelo inquérito-policial instaurado na República do Galeão, Base da Aeronáutica, após atentado que vitimou o major da FAB Rubens Vaz, descobrindo o que foi chamado de “Mar de Lama” envolvendo o governo. Em setembro de 1992, aconteceu o impeachment do “caçador de marajás” Fernando Collor, hoje senador da República. Episódios múltiplos de conflitos institucionais têm caracterizado, como profecias, as últimas edições do Tribuna. Estamos numa guerra não simulada. E como acontece em todas elas, as primeiras vítimas somos nós. O povo. Continua nas páginas 18 a 21