TRIBUNA DO DIREITO
JULHO DE 2015
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ANOS Nº 267
SÃO PAULO, JULHO DE 2015
R$ 7,00 JUDICIÁRIO
‘Até onde irá o insuportável jogo de empurra?’ PERCIVAL DE SOUZA, especial para o "Tribuna"
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IO DE JANEIRO - O Poder Judiciário começa a endossar a necessidade urgente de transformações e programas — não meros ajustes — para que o País possa encontrar caminhos para escapar da situação em que se encontra. Aos poucos, o Poder que representa a salvaguarda da cidadania, começa a sofrer e receber os impactos de uma crise de dimensões profundas, repletas de reflexos, percebendo que não paira sobre tudo e todos, numa espécie de Olimpo imaginário. Só não vê quem não quer, diante de um mercado socialmente asfixiante e um verdadeiro cemitério acadêmico de ideias, onde se insiste em continuar girando em torno de devaneios irrealizáveis, distantes da implacável realidade, como se fosse melhor (ou mais cômodo) ignorar os fatos. Um dos sintomas dessa reação foi a indignação manifestada pelo presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho: “A Nação brasileira indaga até quando os algozes abusarão de sua paciência. Agora, já não apenas da inércia fruto da omissão, mas do esmagamento da liberdade de ir e vir e até da própria vida.” Tribuna tem mostrado particularidades assustadoras características desta cidade, um retrato cruel de outras cenas de barbaridades que acontecem por todo o País. O desembargador convive com dramas, impasses e tragédias. Ele sabe o que vivem e presenciam seus colegas de segunda ou primeira instâncias. Percebe o que poucos sabem o que é: sentir o olhar penetrante das vítimas. Aí, as coisas ficam bem mais difíceis. Exatamente por isso, ele reúne as condições para questionar, numa reação de espanto: “Até onde irá o insuportável jogo de empurra? Não será suficiente, em sociedade pretensamente civilizada, bradar basta! Não conviver de forma pacífica com os tiros — de balas perdidas, mas achadas dentro dos corpos das vítimas — ou facadas desferidas pelos farristas da violência letal.” Ribeiro de Carvalho não poupa palavras. Está empenhado, longe de artifícios semânticos, na busca de uma válvula de escape para o que chama de “festival de horrores”. Quem poderia se apresentar para um contraditório? Ninguém, bem sabemos. Para isso, o desembargador está organizando um debate onde ideias, planos, constatações, programas e sugestões encontrem espaço diante das implacáveis armadilhas da impunidade, “com a participação de todos os interessados e sociedade civil, o respeitável público cuja voz se impõe ouvir”. Continua nas páginas 16 a 19