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Inspirados em dados reais

Debate sobre o uso deferramentas de monitoramentodo consumo dos fãs comoforma de potencializar a criaçãoartística ganha corpo e chega asuperconferência de música no Rio

de_ Londres e Rio

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À medida que os estudos de consumo quaseem tempo real e outros temas de marketing setornam parte integrante — indissociável? — domundo musical, duas correntes quase opostasse enfrentam. Uma prega que a análise de dados potencializa a criatividade, ao permitir um diálogo fluido entre artista e fãs. Outra, que padroniza as entregas de novos conteúdos, pasteurizando-os.

O tema ganha corpo no mundo e chega à conferência Music Trends Brasil, de 25 a 27 de outubro, no Rio. Mais especificamente à mesa “Como a análise de dados pode resultar em mais criatividade”, com debate de Guilherme Figueiredo, diretor de marketing da gravadora Som Livre, Scott Cohen, cofundador do distribuidor digital inglês The Orchard e membro do conselho da associação musical BPI, e Arthur Fitzgibbon, do agregador digital OneRPM. A mediação é de Domingos Silva Neto, o Depa, coordenador de projetos especiais da UBC.

Cohen faz uma defesa enfática da análise de dados como ponto de partida de uma criação. “Se entendo os padrões de consumo e navegação dos fãs, ofereço conteúdos que eles possam querer”, ele explica, ressaltando que o processo não mata a criatividade; ao contrário, ao impor-lhe desafios práticos, a potencializa. Figueiredo vai na mesma linha: “É importante entender o comportamento do consumidor para tentar surpreendê-lo. É nessa surpresa que mora a criatividade.”

Esquadrinhar as redes sociais em busca das reações dos potenciais fãs, portanto, é vital. “Vivemos na economia da atenção, é importante entender o que leva um conteúdo a chamar a atenção”, analisa Cohen. “Mas não basta olhar curtidas e compartilhamentos”, gestos mecânicos, completa Figueiredo, para quem “os comentários, que requerem esforço do seguidor”, são mais nobres.

O especialista brasileiro afirma que esse tipo de análise não é tarefa fácil, mesmo para quem tem familiaridade com as ferramentas de medição de Facebook, YouTube ou Spotify. “A minha sugestão é que o artista busque fazer boas perguntas antes de mergulhar nos dados: onde fazer o próximo show?; qual a melhor playlist para o meu estilo musical?; qual fã é mais ativo nas minhas redes sociais?; quem é o influenciador digital que comunica para o público que quero atingir?”

Ambos coincidem em que as redes sociais são um excelente, e completo, ecossistema de divulgação e retroalimentação. “Costumavam ser a imprensa, a TV, a rádio, os CDs e os shows... Agora há diferentes formas, reme a favor da maré”, ensina Cohen.

E os “lados B” a ver com isso?

A cultura digital viu a proliferação dos singles, entregas de músicas desvinculadas de álbuns e programadas para bombar. Muitos são cuidadosamente forjados — com direito a estudos para se chegar à hora certa da virada, à velocidade ideal do bit — e poderiam, em teoria, levar à extinção das estranhezas, das experimentações que, nos álbuns do passado, acabaram parando nos lados B.

Fizemos a mesma pergunta sobre a possibilidade do “fim do lado B”, nesse sentido, a Guilherme Figueiredo e Scott Cohen. Confira o que eles disseram:

GF: Não sei se essa cultura do single vale para todos. Continuo vendo artistas lançando discos completos. Por mais que exista essa tendência, a descoberta de faixas alternativas é mais acessível hoje. Os serviços por assinatura proporcionam o acesso a milhões de faixas por preço fixo, e isso teoricamente estimula a experimentação.

SC: Os lados B, com frequência, eram canções que simplesmente não eram tão boas para entrar no álbum. Lançá-los era, ao mesmo tempo, marketing e arrancar mais dinheiro dos fãs. Há muitíssimas mais formas de inovar hoje em dia.

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