3 minute read

Rock \u00E0 vista

Next Article
Mercado Animado

Mercado Animado

Salvador e cidades do interior do estado produzem uma nova safra de roqueiros que vencem o forte mainstream musical local e mandam seus sons para todos os cantos do Brasil

por_ Luciano Matos ■ de_ Salvador

Advertisement

Canto dos Malditos na Terra do Nunca: redescoberta do rock baiano

Berço do próprio país e de inúmeros dos grandes ritmos que caracterizam a nossa rica herança musical, a Bahia vive um momento de redescoberta. O rock produzido no estado ganha um sopro de criação e evoca a linhagem que parte do grande Raul Seixas, passando pelo Camisa de Vênus de Marcelo Nova e por Maria Bacana até chegar à estrela Pitty. A eles se soma uma turma boa que projeta suas mágoas, dores, raivas e amores por meio do já mais que sexagenário rock ‘n’ roll.

Morto há 28 anos, Raulzito continua a ser a referência máxima do rock baiano — e, para muitos, o maior roqueiro da história do país. Com influências diversas, como Elvis Presley, Chuck Berry, Beatles, Bob Dylan e Luiz Gonzaga, são ainda mais numerosos os artistas que inspirou. Transitava magistralmente por estilos regionais como o baião, promovendo misturas que caracterizam o fazer musical nacional. “Rock ‘n’ roll não se aprende nem se ensina”, ele disse certa vez. Os novos baianos que renovam a cena ao estilo do “maluco beleza” põem em xeque esse raciocínio…

É o caso de Vivendo do Ócio, Maglore e Canto dos Malditos na Terra do Nunca, bandas que têm feito barulho com trajetória sólida e uma porção de discos lançados, seja de forma independente, seja através de grandes gravadoras. Para estar mais perto do eixo de produção tradicional, as duas primeiras chegaram a ir bater ponto em São Paulo, mas sem perder o tempero baiano, essa musicalidade especial que, de um modo geral, as bandas dedicadas ao estilo por aqui imprimem a suas criações. A Canto dos Malditos teve também experiência com majors e, depois de 11 anos, está lançando um novo disco.

Com menos foco, mas uma potência criativa peculiar, há toda uma geração de artistas do interior do estado, como Semivelhos e Sanitário Sexy, de Juazeiro; Novelta, Calafrio e Clube de Patifes, de Feira de Santana; Dona Iracema, de Vitória da Conquista; Limbo e Inventura, de Alagoinhas. “O rock no interior sempre teve força e ótimas bandas. O que ocorre agora é que estamos todos conectados, e o que às vezes se resumia à cena da cidade toma outra proporção, chega bem mais longe”, explica Joilson Santos, integrante da Clube de Patifes e produtor do Festival Feira Noise, em Feira de Santana.

Salvador também acompanha o surgimento de uma nova safra, que passa pelos diversos estilos dentro do rock, do pop quase puro ao reggae rock, ao hard rock, ao metal, ao progressivo, ao psicodélico, à surf music… São nomes como Circo de Marvin, Aurata, Ivan Motosserra, Ronco, Benete Silva, Os Informais, Game Over Riverside, Astralplane, Soft Porn... Para Rogério Big Bross, produtor local dos mais atuantes, dono de selo e responsável pelo festival Big Bands, o rock baiano nunca esteve tão produtivo e em atividade. “Só não está tanto na mídia. Mas o número de CDs e clipes lançados é grande, e a circulação de bandas cresceu bastante”, diz.

Semivelhos: som de Juazeiro que reverbera em todo o Brasil

O rock do interior sempre teve força. Agora estamos conectados.”

Joilson Santos, produtor do Feira Noise

Uma característica do atual rock feito na Bahia é a diversidade. Para Teago Oliveira, líder do Maglore, que tem integrantes da UBC como Dieder, essa geração atual é mais plural e menos homogênea. “Ela tem mais possibilidades de assimilação e construção estética, porque hoje tem muita coisa acontecendo, e há muita facilidade em gravar e experimentar. Essa turma não centra sua musicalidade apenas naquele rock de guitarras distorcidas, que também é uma delícia”, explica. As possibilidades, ele diz, são tão diversificadas quanto a própria trajetória da criação na Bahia, um estado de pura música.

Vivendo do Ócio: estouro via São Paulo

This article is from: