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Mercado Animado

Produção de trilha sonora para desenhos é um dos filões com maior possibilidade de expansão

por_ Ricardo Silva ■ de_ São Paulo

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A partir do alto, “O Show da Luna!”, “Mundo Bita”, “Peixonauta” e “Escola Pra Cachorro”

A lei 12.485, de 2011, que obriga as emissoras de TV por assinatura dedicadas a filmes, séries, animação e documentários a exibir pelo menos três horas e trinta minutos de conteúdo brasileiro por semana em seu horário nobre, abriu uma grande porta para a produção nacional. No caso dos desenhos animados, a cota foi superada em 92% em apenas quatro anos. Oportunidade de trabalho não só para os próprios produtos audiovisuais, mas também para as trilhas sonoras deles.

“O impacto da lei foi enorme. O conteúdo nacional, especialmente o infantil, agrada o público e é um bom negócio”, diz Débora Ivanov, presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine).

Obras feitas por produtoras daqui, como “Peixonauta”, “O Show da Luna!”, “Escola Pra Cachorro”, “Mundo Bita” e “Galinha Pintadinha”, entre outras, extrapolaram as nossas fronteiras. Grande parte da distribuição relativa aos direitos autorais das músicas executadas já é feita localmente, enquanto outra ainda depende de distribuição internacional por conta de um mecanismo global chamado cable retransmission, ou retransmissão de TV a cabo, estabelecido entre as sociedades de autores e cujas regras vêm sendo atualizadas.

O cable retransmission foi criado em 1985, quando a aferição de dados de programação de canais sediados num país e exibidos em outros era difícil. Assim, a regra determina que, quando não há informações suficientes sobre os autores das canções, o dinheiro da execução pública seja enviado ao país de origem do sinal para que lá se faça a distribuição. Muitas vezes, a programação-base que a emissora do país de origem usa, porém, é a de lá, e, se o desenho brasileiro não se emite internacionalmente, pode ser que o autor nacional tenha problemas para receber.

“Antes, quase não havia conteúdo brasileiro nesses canais, por isso dava no mesmo. Isso mudou. Por isso o Ecad e as associações estão trabalhando para mudar a regra e chegar ao máximo de distribuição feita localmente ”, diz Peter Strauss, gerente de relações internacionais, distribuição e licenciamento da UBC.

O associado Paulo Tatit, autor da trilha de “Peixonauta” e “Escola Pra Cachorro” (esta junto com Sandra Peres, sua parceira no projeto infantil “Palavra Cantada”), é um dos inúmeros profissionais que já desenvolvem trabalhos de grande qualidade e têm retorno financeiro por eles. Muito bem informado sobre os meandros da produção e da documentação do seu trabalho, o que facilita o recebimento dos direitos, ele compôs todas as canções originais e inéditas da série, que teve 52 episódios só na primeira leva.

“Quando terminei a primeira temporada, eu nem sabia o que era um cue sheet (documento que descreve o uso de música numa produção audiovisual com todas as informações técnicas). Foi um dos músicos que contratei, e que vem de uma família de advogados, que me ajudou. Muitas vezes, o que você recebe pelos direitos fonomecânicos (de gravação) é pouco. Se eu não recebesse até hoje os direitos de execução pública, não teria valido a pena”, descreve Tatit.

BRASILEIROS JÁ TÊM BOA FAMA LÁ FORA

As séries, como lembra Tatit, são extensas. Então, ele recomenda cuidado na hora de fazer um orçamento justo, pois a elaboração de um trabalho original demanda tempo e muita experimentação: “Recebi avaliações muito positivas da trilha do ‘Peixonauta’, pois foi a primeira vez que se ouviu um pandeiro, um cavaquinho, ou mesmo um acordeão, tocando choro, samba e outros ritmos brasileiros em uma trilha de desenho animado. Pegou bem uma trilha com cara de Brasil.”

Paulo Tatit, criador da trilha original de “Peixonauta”

A “cara de Brasil” é mesmo um atrativo. Para Fernando Yazbek, diretor da editora Spin Music, que representa os direitos das canções de “O Show da Luna!”, já há uma associação entre os profissionais daqui e produtos de qualidade. “O brasileiro tem talento para a animação, tem feito mais e melhor. É um ramo sobre o qual o compositor pode se debruçar e que deverá ter crescimento expressivo”, diz.

Chaps Melo sacou isso há bastante tempo. Autor tanto da ideia original da série de clipes e esquetes de animação “Mundo de Bita”, sucesso na internet com mais de 60 clipes, ele viu o projeto se multiplicar DVDs, TV, aplicativos, peças de teatro… Tudo começou em 2012, e foi duro. “Em nosso estúdio, a Mr. Plot, definimos que iríamos focar exclusivamente em conteúdos próprios. Acontece que boa música e desenho animado de qualidade são brincadeiras caras. Hoje, com cinco DVDs, criamos uma base de conteúdo que garante a sustentabilidade. Logo, olhando para trás, posso dizer que valeu a pena. Mas foi doloroso”, diz Chaps, que produz o primeiro álbum em espanhol, junto com a Sony Music, para o mercado latino-americano. “Está em desenvolvimento a série para TV em desenho animado com dramaturgia e música, que deve ganhar versões em outros idiomas. É um grande sonho, que esperamos realizar até 2019.”

Chaps Melo: planos de versão em espanhol

Está em desenvolvimento a série para TV. É um grande sonho.”

Chaps Melo, criador da ideia original e da trilha de “Mundo Bita”

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