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ENTREVISTA: Caetano Veloso
CAETANO VELOSO
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Quatro perguntas para o cantor e compositor, recém-premiado no Grammy Latino, sobre seu mais recente álbum, ‘Meu Coco’
por_ Alessandro Soler de_ Madri
Todo mundo — Caetano Veloso incluído— pensava que “Meu Coco” era o primeiro,entre três dezenas de álbuns de estúdioque lançou ao longo dos últimos 55anos, totalmente composto por ele,sem parceiros. “Acabo de me dar contade que não: o ‘Cê’ era assim. Um amigome alertou”, disse em entrevista à UBCo artista recém-premiado no GrammyLatino com o troféu de Gravação do Ano,ao lado do filho Tom, pelo single “Talvez”.“Temos de admitir, no entanto, que ‘MeuCoco e ‘Cê’ são dois discos que abrem áreasdiferentes no histórico de minha criação.”De fato, se “Cê”, de 2006, evoca tãoexplicitamente hedonismo e mergulha emquestões interiores de seu criador, “MeuCoco” abre olhos e ouvidos ao mundo,indagando tudo ao redor.
Se um álbum de música reflete o zeitgeist,como descreveria este seu, lançado nummomento tão particular do Brasil?As canções deste disco não tematizam aatualidade, mas estão trespassadas porela. “Anjos Tronchos”, que fala da subidada extrema direita, de sexo à distância, decontrole total na China. “Não Vou Deixar”é um enfrentamento do poder políticoatuante hoje no Brasil, uma respostada cultura brasileira à opressão que se esboça. “Meu Coco” enfrenta a rejeição ao narcisismo básico brasileiro sempre exposto no louvor à miscigenação.
Além do próprio disco, Caetano publicou uma carta em que comenta as canções. “Muitas vezes sinto que já fiz canções demais. Falta de rigor?, negligência crítica? Deve ser. Mas acontece que desde a infância amo as canções populares inclusive por sua fácil proliferação”, começa o artista, antes de descrever em detalhes cada uma das 12 músicas, citando Pretinho da Serrinha, Hamilton de Holanda, Jacques Morelenbaum, os filhos Zeca e Moreno e outros artistas que participam e/ou inspiram as sonoridades.
Por que decidiu prescindir dos parceiros de composição? Não decidi. Aconteceu. Eu estive quase todo o tempo em casa, sem encontrar amigos compositores, sem rodas de cantoria. Mas é verdade que esboços de parcerias iniciadas antes da pandemia ficaram guardadas aqui para compor um disco futuro. Letras que tinha recebido de amigos antes da quarentena.
Como é o seu processo de edição do que entra ou não entra num álbum? Teve que deixar muita coisa de fora? Não. Quase nunca, ao longo da minha carreira, deixei canções de fora do álbum que estou fazendo. Agora não foi diferente.
Numa era de consumo e comunicação fragmentados, uma era em que os singles são o modelo preferencial de lançamentos, por que seguir apostando pela entrega de um álbum todo de uma vez? Sou do tempo do long play. Acho que muita gente gosta de pensar num conjunto de canções que formam um todo. Isso não morreu nas pessoas por causa do streaming.
LEIA MAIS O álbum ‘Meu Coco’ na íntegra ubc.vc/meucoco