Revista UBC #50

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ENTREVISTA 12

CAETANO VELOSO Todo mundo — Caetano Veloso incluído — pensava que “Meu Coco” era o primeiro, entre três dezenas de álbuns de estúdio que lançou ao longo dos últimos 55 anos, totalmente composto por ele, sem parceiros. “Acabo de me dar conta de que não: o ‘Cê’ era assim. Um amigo me alertou”, disse em entrevista à UBC o artista recém-premiado no Grammy Latino com o troféu de Gravação do Ano, ao lado do filho Tom, pelo single “Talvez”. “Temos de admitir, no entanto, que ‘Meu Coco e ‘Cê’ são dois discos que abrem áreas diferentes no histórico de minha criação.” De fato, se “Cê”, de 2006, evoca tão explicitamente hedonismo e mergulha em questões interiores de seu criador, “Meu Coco” abre olhos e ouvidos ao mundo, indagando tudo ao redor. Se um álbum de música reflete o zeitgeist, como descreveria este seu, lançado num momento tão particular do Brasil? As canções deste disco não tematizam a atualidade, mas estão trespassadas por ela. “Anjos Tronchos”, que fala da subida da extrema direita, de sexo à distância, de controle total na China. “Não Vou Deixar” é um enfrentamento do poder político atuante hoje no Brasil, uma resposta da cultura brasileira à opressão que se

Quatro perguntas para o cantor e compositor, recém-premiado no Grammy Latino, sobre seu mais recente álbum, ‘Meu Coco’ por_ Alessandro Soler

de_ Madri

esboça. “Meu Coco” enfrenta a rejeição ao narcisismo básico brasileiro sempre exposto no louvor à miscigenação. Por que decidiu prescindir dos parceiros de composição? Não decidi. Aconteceu. Eu estive quase todo o tempo em casa, sem encontrar amigos compositores, sem rodas de cantoria. Mas é verdade que esboços de parcerias iniciadas antes da pandemia ficaram guardadas aqui para compor um disco futuro. Letras que tinha recebido de amigos antes da quarentena.

Além do próprio disco, Caetano publicou uma carta em que comenta as canções. “Muitas vezes sinto que já fiz canções demais. Falta de rigor?, negligência crítica? Deve ser. Mas acontece que desde a infância amo as canções populares inclusive por sua fácil proliferação”, começa o artista, antes de descrever em detalhes cada uma das 12 músicas, citando Pretinho da Serrinha, Hamilton de Holanda, Jacques Morelenbaum, os filhos Zeca e Moreno e outros artistas que participam e/ou inspiram as sonoridades.

Como é o seu processo de edição do que entra ou não entra num álbum? Teve que deixar muita coisa de fora? Não. Quase nunca, ao longo da minha carreira, deixei canções de fora do álbum que estou fazendo. Agora não foi diferente. Numa era de consumo e comunicação fragmentados, uma era em que os singles são o modelo preferencial de lançamentos, por que seguir apostando pela entrega de um álbum todo de uma vez? Sou do tempo do long play. Acho que muita gente gosta de pensar num conjunto de canções que formam um todo. Isso não morreu nas pessoas por causa do streaming.

LEIA MAIS O álbum ‘Meu Coco’ na íntegra ubc.vc/meucoco


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