16/UBC : reportagem
Luzes, câmera, som!
Colaborativa, múltipla e muitíssimo fértil, a cena musical ligada à produção cinematográfica pernambucana vive um momento de ouro
Por Bruno Albertim, do Recife No final do ano passado, Helder Aragão lançou um vinil com nove faixas. “Discos de vinil são como slow food, o resgate do hábito de ouvir o disco inteiro, seguindo a ordem de quem o concebeu, uma pausa no meio da correria da vida para apreciar música”, ele diz sobre “Banda Sonora”, o álbum que seria mais uma bolacha musical com o fetiche que o vinil evoca hoje não fosse um detalhe: o disco assinado pelo DJ Dolores, codinome assumido por Helder desde que se transformou num dos pioneiros a injetar boas doses de tecnologia para reprocessar ritmos tradicionais, é todo composto por canções e temas feitos para o cinema. “Compor sob encomenda é muito mais fácil. Ter patrão, prazo definido, temática etc. só ajudam a estabelecer o foco. Compor para mim mesmo é muito chato, porque normalmente eu não tenho nada a dizer”, discorre, numa modéstia inadequada como roupa emprestada, o ganhador de um Kikito pela trilha sonora, ano passado, do aclamado longa pernambucano “Tatuagem”, de Hilton Lacerda. Dolores confirma um dos expedientes atualmente mais frequentes entre os músicos do estado nordestino: a composição ou a direção para o cinema. No Recife e nos arredores, imagem e som vivem um casamento fecundo, constante - e poligâmico. "Desde a retomada da produção em Pernambuco, com 'Baile Perfumado' (de Lírio Ferreira e Paulo Caldas), as relações entre o cinema e a música do movimento manguebeat são bem estreitas. Basta lembrar a música de Chico Science na cena de abertura do filme”, diz o crítico e professor de cinema Alexandre Figueiroa, da Universidade Católica de Pernambuco. “Em outros filmes, como 'Amarelo Manga' (de Cláudio Assis), os músicos do movimento também estão presentes com músicas, cuidando da trilha, a exemplo de Siba, DJ Dolores, Fred Zero Quatro, entre outros”, continua.
Filme: Explosão Brega