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YOUTUBE: MODOS DE USAR
SAIBA COMO MANTER UM CANAL POPULAR – E LUCRATIVO – NA MAIOR PLATAFORMA DE VÍDEOS DA INTERNET
Por Bruno Albertim, do Recife
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Estourar ou, usando um termo mais contemporâneo, viralizar na internet nem é o mais difícil. Acontece até à revelia de quem persegue a fama virtual. A tarefa dura, mesmo, é continuar em alta em meio à enxurrada contínua de novos conteúdos, novas tendências. Se o terreno onde se busca a glória é o YouTube, então, prepare-se para uma batalha permanente. Na maior e mais popular plataforma de consumo de música na internet (e, como se sabe, também uma das que menos pagam aos artistas), a presença ativa na alimentação do canal e o domínio de técnicas de divulgação, bem como alguns conceitos básicos de marketing, representam a diferença entre vida e morte digital.
Não basta apenas publicar um vídeo e esperar a coisa andar sozinha, por melhor que ele seja. “Antes de mais nada, é preciso ter comprometimento. Não se trata de uma mídia social como o Facebook ou o Twitter. O YouTube exige mais do usuário do que qualquer outra mídia”, aconselha Bárbara Apiacá, sócia-diretora da Locomotive, empresa de assessoramento e marketing digital que, em cerca de dois anos de atuação, virou referência nacional para artistas sem o suporte tradicional das antigas gravadoras ou agências de promoção. “Se o artista fica muito tempo sem alimentar a página, dá a impressão de que não há comprometimento, de que o conteúdo é meio desleixado. A não regularidade de envios pode acabar por gerar um desinteresse por parte do usuário”, continua.
FALA QUE EU TE ESCUTO
E não é preciso, lembra a expert digital, ter uma música nova para mostrar a cada semana a fim de garantir assinaturas no canal. Até nomes de audiências superlativas como Marisa Monte, Anitta e Luan Santana alimentam seus canais falando com os fãs, dando pequenas entrevistas, depoimentos, fazendo covers – afinal, não é todo mês (ou ano) que se tem um disco novo. “Se você já é grande no mercado, a própria audiência o empurra. Mas, se é pequeno, é preciso alimentar a página com regularidade. Faça vídeos ensaiando, ensinando a tocar uma música, falar do processo de criação ou um diário de composição.... São muitas possibilidades”, Bárbara sugere.
Nem todo mundo sabe, mas é possível ganhar dinheiro diretamente com os vídeos publicados no YouTube. A chamada monetização é uma tática lançada pelo gigante do grupo Google para estimular a constante publicação de novos conteúdos e, assim, manter sua posição hegemônica como banco de armazenagem de conteúdo audiovisual na internet. Por meio da ferramenta Google AdSense, o youtuber, ou seja, o usuário que publica vídeos ali, recebe 55% do valor dos anúncios (não se empolgue ainda, é preciso ter dezenas de milhares de visualizações mensais para ganhar algo como US$ 100), assim como 55% da receita com assinaturas provenientes do canal que tiver criado. Os baixos pagamentos no YouTube são uma realidade mundial, e muitos artistas, de superestrelas a ultra-alternativos, vêm se queixando há anos de receber pouco por seu trabalho.
Além disso, disseminou-se nos últimos tempos uma espécie de intermediário para esse negócio. Como redes de TV que usam a plataforma para agregar conteúdos produzidos por terceiros, as chamadas networks, também conhecidas como agregadores digitais, prometem maior exposição e visibilidade em troca de um percentual variável no total arrecadado pelo titular do canal com anúncios. No quadro abaixo você pode conhecer mais sobre essas estratégias de monetização.
VAMOS FALAR DE DINHEIRO?
MONETIZAÇÃO, ADSENSE, 'NETWORKS': A PARTE QUE NOS CABE NESSE LATIFÚNDIO
Os números são a base do negócio. Primeiro, é preciso publicar bastante (recomenda-se, no mínimo, três publicações por semana a princípio, a fim de gerar interesse e criar uma audiência). Com isso, a base de seguidores do seu canal tende a crescer. Por meio da ferramenta mais elementar de monetização do YouTube, o Google AdSense, que promete pagar 55% do valor de cada anúncio exibido durante um vídeo seu, é possível lucrar algumas centenas de dólares caso atinja uma base razoável de 30 mil a 40 mil seguidores. Isso demanda tempo e, claro, investimento em novos conteúdos (volte ao início deste parágrafo).
Nos últimos anos, como já dissemos, disseminaram-se as chamadas networks, também conhecidas como agregadores digitais. São, basicamente, redes que reúnem conteúdos produzidos por milhares de canais mundo afora. Essas empresas ficam com um percentual variável do anúncio e, em troca, oferecem uma maior exposição que aumentaria o lucro total de quem adere a elas. Com usuários contentes (geralmente, os que têm milhões de seguidores) e outros nem tanto, essas empresas têm se popularizado e acabaram se transformando em uma ponte entre o gigante YouTube e os donos dos canais, a tal ponto que, no primeiro pagamento de todos os tempos realizado pelo portal aos titulares de direitos de reprodução, em meados do ano passado, o acordo foi fechado com algumas grandes networks brasileiras, e não diretamente com os youtubers.
“Meus ganhos mensais caíram de mais de US$ 600, quando eu lucrava diretamente com o Google AdSense, para, às vezes, US$ 50, quando me associei a uma network americana. Lá, a estrutura é desenhada para atender aos donos de canais enormes, com milhões de seguidores. Portanto, antes de fazer um contrato, procure conhecer as boas networks, que realmente promovem os canais”, diz a youtuber curitibana Narumi Kataiama, cujos vídeos tratam de temas tão diferentes quanto música e cosplay, maquiagem e aborto.
MENOS 'NETWORK', MAIS REDE DE AMIGOS
Sem contar com networks, mas tão somente com a boa e velha ajuda de amigos, o músico Juliano Hollanda, um dos mais atuantes da cena contemporânea pernambucana (e autor, por exemplo, da trilha sonora da minissérie global “Amorteamo”, de 2015), publicou seu vídeo interpretando a canção dramática “Morrer em Pernambuco”, composta para um espetáculo da companhia Angu de Teatro, com sede no Recife. Em seguida, convidou seus amigos, músicos ou não, a subirem no YouTube videos caseiros, feitos com câmeras de celular, reinterpretando a canção. Em vozes e timbres diferentes, mais de dez músicos, além de fãs, publicaram suas versões em pouco mais de um mês, tornando a música uma das mais conhecidas e cantadas nos shows de Hollanda.
Também o ajudou a prática de espalhar o link do seu canal por onde for possível – comentários em vídeos de outros canais, perfis de influenciadores –, promovendo a divulgação fora das “fronteiras” do seu próprio espaço no YouTube. “Criar uma rede de relacionamento para divulgar o trabalho, contar com apoio de influenciadores digitais ou da cidade ou de outros cantores é sempre interessante”, diz a jornalista e empresária Rosário de Pompeia, diretora da Le Fil, empresa de mídia digital de referência no Nordeste. “Não menos importante é ficar atento ao buzz dos assuntos que rolam nas redes sociais para surfar nas ondas das principais pautas. Ou analisar sempre as tendências, como outros artistas estão usando o canal e ver se as novidades se adequam a você”, continua Pompeia. “No caso de artistas, sempre mostrar algo mais intimista, humanizado, é fundamental. Fazer, por exemplo, engajamento com perguntas e enquetes.”
Cada vez mais novos artistas entendem que estar no YouTube (e em outras plataformas digitais) é bem mais que pupurina virtual. “A minha geração atravessa o desafio de se colocar no mercado em um momento de transição, em que a indústria falece. Nunca um artista precisou se preocupar com a divulgação como agora. A minha geração é persistente, porque precisa diariamente aprender a lidar com todas as etapas do processo e com as novas ferramentas que surgem todos os dias”, diz o compositor e compositor paraense Arthur Nogueira, que, depois de ver uma parceria sua com Antônio Cícero incluída no último disco de Gal Costa, tem chamado a atenção com um álbum em que interpreta sucessos do filósofo pop carioca, há décadas extrato do que é sucesso no Brasil.
Nogueira convidou a cantora e cineasta Ava Rocha, filha de Glauber, para dirigir o clipe de “Último Romântico”, com uma cuidadosa direção de arte e roteiro com beijos com outro rapaz na noite da Lapa: a música acabou gerando interesses além de sua musicalidade mais estrita. Embalar bem é também, afinal, imprescindível.
A QUESTÃO DOS DIREITOS AUTORAIS
PORTAL CONTINUA SEM FAZER PAGAMENTOS E NÃO RECONHECE O STREAMING COMO EXECUÇÃO PÚBLICA
Como a UBC informou na edição 29, o YouTube continua sem reconhecer o streaming no seu portal como execução pública, o que crê dispensá-lo do pagamento de direitos autorais ao Ecad. O gigante ficou de fora da primeira distribuição de streaming ocorrida na história do Brasil, em junho passado, quando mais de 116 mil titulares receberam R$ 2,38 milhões - e 55% do total ficaram com o repertório da UBC.
O protesto contra a prática é geral e, a coalizão UBC, Ubem (União Brasileira de Editoras de Música) e Procure Saber lançou em junho passado um protesto em que sustenta ser inaceitável o posicionamento da gigante em não reconhecer a legítima remuneração. “O YouTube, ao insistir na sua posição oportunista de não reconhecer os direitos de execução pública, na verdade se vale de frágeis artifícios para pagar menos aos autores musicais brasileiros”, diz um trecho da nota pública. (Leia a íntegra no site)
Em maio, o YouTube anunciou ter fechado um acordo com algumas networks brasileiras distribuidoras digitais para o pagamento de direitos de reprodução das músicas incluídas nos vídeos. Os contratos para o cálculo, que seria retroativo, estariam sendo estabelecidos com os agregadores ABMI – Associação Brasileira da Música Independente, eMotion, MusicPost, ONErpm e Playax. Segundo fontes do mercado, longe de retribuir satisfatoriamente aos criadores brasileiros, o montante acordado os discriminaria, por representar cerca de 75% do valor que receberão compositores mexicanos em acerto equivalente. O YouTube não divulgou qualquer número relativo a esse pagamento.
ESPELHO MEU, EXISTE ALGUÉM MAIS VISTO DO QUE EU?
Depois de publicar, o trabalho não termina. É a hora de analisar as reações, saber se homens ou mulheres clicam mais, quanto tempo os usuários passam em cada vídeo, de que região vem a maioria das visualizações, qual a idade do público mais fiel... Tudo isso é possível por meio de uma ferramenta oferecida pelo Google/YouTube, o Analytics. “A gente acessa o Analytics pela própria página e encontra uma série de informações, como retenção de audiência. Esse gráfico mostra quanto tempo a pessoa fica lá assistindo ao conteúdo”, afirma Bárbara. “Para quem está começando, fazer vídeos longos é um dos principais erros”, destaca Rosário.
A partir dos dados de audiência, você pode direcionar as publicações para o melhor dia da semana, para o melhor horário, para agradar aos homens, para agradar às mulheres. As possibilidades são muitas.
Não custa, também, fazer o bom e velho caminho da mídia mais tradicional. “Se você dá entrevistas a dez sites, seu nome fica mais em evidência nos mecanismos de busca de um gênero específico”, lembra José Alsanne, especialista em mídias digitais do departamento de Comunicação da UBC. O grande termômetro do investimento é mesmo a popularidade – esta, sim, capaz de gerar eventos e contratos.
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