Babélia 29

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BABÉLIA Publicação experimental do curso de Jornalismo da Unisinos | São Leopoldo/RS | Junho de 2018 | edição 29

Zoológico de Canoas acolhe animais rejeitados e feridos No ano passado, foram 756 nessas condições, 95 ainda permanecem em cativeiro. No interior de Taquara, o ex-corrretor de imóveis Luiz Marcos criou a ONG VidAnimal para abrigar cães abandonados e maltratados. Páginas 4 e 5 VANESSA FONTOURA

Gramado inova na oferta festeira de casamentos

Mercado livreiro abre espaços a novos escritores

Tupandi investe na formação de seus universitários

Casais podem escolher entre um matrimônio celebrado por juiz de paz ou uma cerimônia de “mentirinha” usando figurinos temáticos. Página 3

Editoras alternativas se encarregam da edição, da capa à revisão, mas investimento e vendagem correm por conta do autor. Página 11

Prefeitura paga uma disciplina por semestre para estudantes que residam no município e estejam cursando o Ensino Superior. Página 15


BABÉLIA | JUNHO DE 2018 | SÃO LEOPOLDO/RS

EDITORIAL

Mulheres se movimentam mais e melhor

IMAGEM

:: Foto de Rafael Feyh

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o momento em que o futebol ganha os estádios na Rússia em mais uma Copa do Mundo,ojornalBabéliatraz,nestaedição, notícia e reportagens a respeito do esporte mais popular em terras brasileiras. Embora a pergunta não esteja formulada de forma explícita em suas páginas, eis que, em função da Copa, voltada ao futebol masculino, a gente se indaga: “Mas, afinal, essa modalidade é exclusivamente masculina?” Evidente que não. Cresce a participação feminina tanto nos gramados, na qualidade de atletas, como nos estádios, na condição de torcedoras. No Internacional, 22% dos seus sócios são mulheres. Clubes começam a investir no futebol feminino, bem menos que o masculino, é verdade, mas a tendência é de crescimento de recursos para esse departamento. Quem, ao que tudo indica, não se conforma com esse crescimento das mulheres nos estádios de futebol são os tais machistas. E aí sobram manifestações de assédio e xingamentos, dirigidos tanto para torcedoras como para repórteres. Só neste ano, até março, foram registrados cinco casos no Estado, denunciados por profissionais do jornalismo. A Copa do Mundo incentiva o comércio de produtos diversos, de televisores a camisetas, de bandeirolas a figurinhas. Completar o álbum da Copa suscita o interesse inclusive de colecionadoras, dispostas a dispender algum tempo diante de bancas de jornais para a troca de figurinhas, um ambiente dominado, até há pouco, por colecionadores. O mais legal é a troca de experiência, diz Marina Staudt, que reclama, contudo, do preço do pacote de figuras. Tem uma faceta da vida, no entanto, em que as mulheres sempre se destacaram: o cuidado com a saúde Na terceira idade, elas se mexem, via de regra, com mais vigor, paixão e empenho do que os representantes masculinos nas mesmas condições. Elas exercem uma saúde preventiva, em que o esporte é parte importante. Em Gramado, são mulheres que entram em campo para aulas e disputas da modalidade chamada Câmbio. Elas sabem envelhecer melhor, mostram-se mais sociáveis e saudáveis em comparação aos seus parceiros. Tanto assim que, no Brasil, mulheres vivem, em média, sete anos a mais do que os homens. Um dos motivos da longevidade é o movimento. Se você não sabe que esporte coletivo é esse tal de Câmbio, recomendamos a leitura da reportagem na página 7 desta edição. Boas leituras.

BABÉLIA

O fotógrafo retratou a família que vive na colônia para compor um ensaio fotográfico de cunho documental. O trabalho foi desenvolvido como projeto final da sua graduação em Fotografia na Unisinos. No retrato, seu avô, que vive no interior de Dois Irmãos.

Jornal produzido semestralmente pelos alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS

REDAÇÃO — Orientação: Professores Anelise Zanoni e Edelberto Behs. Textos e imagens: Alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Jornalismo Impresso e Notícia, Redação Jornalística I e II, Jornalismo Impresso e Reportagem, e Redação para Relações Públicas II. PROJETO GRÁFICO — Orientação: Professor Everton Cardoso. Projeto: Alunos Arthur Krug e Jéssica Santos, da Turma 2017/2 da disciplina de Planejamento Gráfico. DIAGRAMAÇÃO — Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Supervisão e diagramação: Marcelo Garcia. Diagramação: Nathalia Haubert.

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Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Avenida Unisinos, 950. Bairro Cristo Rei. São Leopoldo (RS). Cep: 93022 750. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@ unisinos.br. Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: Pedro Gilberto Gomes. Pró-Reitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Alsones Balestrin. Pró-reitor de Administração: Luiz Felipe Jostmeier Vallandro. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente dos Cursos de Graduação: Paula Campagnolo. Coordenador do Curso de Jornalismo: Edelberto Behs.


BABÉLIA | JUNHO DE 2018 | SÃO LEOPOLDO/RS

ENTRETENIMENTO

“Casamento dos Sonhos” é novidade em Gramado Projeto pioneiro espera realizar celebrações de casais de todo o território nacional Por Gabriela Medina

GABRIELA MEDINA

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cidade serrana de Gramado sedia um novo projeto inaugurado no dia 1º de junho. O “Casamento dos Sonhos” é um empreendimento que realiza casamentos reais e fictícios. O projeto atende casais, também LGBT, que querem um matrimônio com uma temática diferente, inspirado em filmes, e ter como anfitrião o cover do cantor Elvis Presley. Para os casais que desejarem realizar cerimônias e/ou renovar votos de casamento há um juiz de paz disponível. O projeto vem sendo esboçado há dois anos e traz consigo o conceito “Nunca foi tão divertido celebrar o amor”. A inspiração veio de uma viagem feita a Las Vegas por um dos proprietários do empreendimento, disse Elodir Correa, um dos coordenadores, em entrevista ao G1. Ele também coordena o Grupo Dreams, responsável por operar atrativos turísticos em Gramado. Ele traz agora para a Serra mais essa nova atração que promete deslumbrar os turistas. No Brasil não há oferta como essa. O

Loja do empreendimento tem três mil alianças e mais de cem figurinos disponíveis município é sede de mais uma novidade única no país, assim como já foi com a inauguração do primeiro parque de neve indoor das Américas e do Brasil, o Snowland. Nada mais justo para completar o glamour dos casamentos fictícios do que uma variedade de figurinos e alianças vin-

dos diretamente de Orlando, na Flórida. A loja do “Casamento dos Sonhos” tem disponíveis em torno de três mil alianças e mais de cem figurinos para os noivos. Os temas vãos do estilo romântico, medieval, alguns inspirados em temas de filmes, elfos, anos 60 e ao estilo Elvis. O

valor dos serviços gira entre 490 reais e 1.600 reais, e variam conforme o que for contratado. A venda será feita pelas agências de turismo da cidade. A gerente da agência gramadense Jardineira, Juliana Fattori, informou que a venda na agência ainda não foi liberada. “Temos um cuidado de conhecer todo e qualquer empreendimento que inaugure em detalhes, antes de iniciarmos as vendas”, justificou. Para quem trabalha no trade turístico, esse novo empreendimento combina muito com a cidade, opinou a gerente. Ela chegou a atender interessados em comprar horários até mesmo antes da inauguração do empreendimento. Moradora e atualmente trabalhando no ramo do turismo, Natália Lenz acredita que a ideia terá a adesão também dos moradores locais, uma vez que um dos focos é o casamento de “mentirinha”. O espaço temático já realizou dois casamentos, um deles com o tema Star Wars e outro celebrado pelo cover do Elvis Presley. O Casamento dos Sonhos tem funcionamento diário das 9h às 21h e está localizado na Av. das Hortênsias, 765.

Tupandi escolhe rainha e princesas da Maifest de 2019

Uma semana de cultura e passos rítmicos para os moradores de Canoas

Festa colonial valoriza tradições e comercializa produtos agrícolas

A jovem Betina Neis, 18 anos, é a rainha da 8a edição da Maifest, de Tupandi, que terá lugar na cidade em maio de 2019. A escolha aconteceu em baile realizado no dia 11 de maio. A corte das soberanas tem, ainda, a companhia da primeira princesa, Aline Rita Lidvig, e da segunda princesa, Jaqueline Rhodes. Betina Neis é estudante do último ano do Ensino Médio.“Comorainha,esperofazerumaboarepresentação. Tupandi merece uma representação de excelência, ainda mais por ser um município de excelência “, disse. A primeira princesa tem 19 anos e também está no último ano do Ensino Médio. “Carrego no coração o orgulho e a honra de ser princesa de um município tão belo como Tupandi”, destacou. Jaqueline Rhodes tem 20 anos e é estudante de Biomedicina na Universidade Feevale. “Formamos um grupo unido, construímos amizades que levaremos para toda a vida e aprendizados que serão colocados em prática a cada dia”, frisou. Até a data da festa, as soberanas serão responsáveis pela divulgação do principal evento do município.

Fazer Canoas mais contagiante, esse é o objetivo da Semana da Dança, evento que acontece durante o mês de abril no município. Dançar sempre foi para muita gente uma paixão, porém ainda existe um seleto grupo de pessoas que não tem conhecimento sobre estilos e passos de dança. Pensando nisso, a Secretaria de Cultura de Canoas optou pela criação de projeto que envolve tipos de dança. O evento conta apenas com o patrocínio e apoio de organismos públicos. “Na Semana da Dança, qualquer grupo pode participar, dançando nas ruas, escolas e nos equipamentos públicos municipais”, informou Najma Safi, proprietária da escola de dança que leva o seu próprio nome. Para os participantes e organizadores o desejo é que tudo o que foi trabalhado e conquistado cresça e que o povo passe a admirar esse movimento cultural praticado no município. O projeto incentiva visitantes e residentes de Canoas a se interessarem pela arte da dança, convidando-os a bailar.

Embora o número de frequentadores tenha aumentado, a 28ª Festa da Colônia de Gramado, reunida na Expo-Gramado de 19 de abril a 6 de maio, registrou um volume menor de venda de produtos coloniais em comparação a anos anteriores. A Expo-Gramado recebeu visitantes da capital, de cidades vizinhas e até mesmo de outros Estados. Além da praça de alimentação, a Festa contou com feira de artesanato, show de bandas regionais e disputas de torneios de canastra e bocha. Acompanhando o evento há 15 anos, na qualidade de expositor, a família Augsten valoriza a Festa como ponto comercial, mas também como divulgador das tradições dos imigrantes italianos e alemães, presentes na região, que passam de geração a geração. A colaboradora do evento, Joyce Ramos, sugere melhorias na divulgação da Festa, para que ela ganhe ainda mais destaque na região serrana. “É preciso começar a divulgá-la em outras cidades com grande antecedência”, principalmente no maio rádio, propôs.

Por Anderson Machado

Por Lucas Lanzoni

Por Sophia Dienstmann

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GERAL

Abrigo de animais depende de único olhar vigilante

Em Taquara, homem deixa vida de corretor para se dedicar ao resgate de cães abandonados BRUNA LAGO

Por Bruna Lago

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placa na entrada avisa aos curiosos que estão sendo monitorados, mas os guardas de verdade conseguem passar por baixo da cerca de arame e rodear o carro, interessados nas visitas. Lavra e Pretinha são os recepcionistas, os únicos cães soltos no pátio do sítio, onde funciona a ONG VidAnimal, no interior da cidade de Taquara. Um quilômetro e meio de asfalto e quase três de estrada de chão separam o sítio da área urbana, no vale do rio Paranhana. Os vizinhos mais próximos ficam longe o suficiente para não se importarem com os latidos que não param. Aos poucos, os ouvidos se acostumam e os outros sentidos não são afetados. O cheiro é limpo, sinal do cuidado incessante, e a visão confirma que os animais estão bem do outro lado da cerca. Luis Ricardo Marcos fala alto, acostumado a se fazer ouvir por cima dos latidos ou separar as brigas com apenas um grito de repreensão. O olhar tranquilo quase não combina com o timbre que parece nervoso, mas as rugas espalhadas no rosto de 54 anos demonstram que também sorri com facilidade. O ex-corretor de imóveis avisa que está sempre ocupado. O dia começa às 6h e só consegue parar depois das 22h. Trabalho demais para uma pessoa só. Ele, sozinho, cuida dos mais de 320 cachorros que a ONG abriga e alimenta, com a ajuda de doações de ração e fundos que os voluntários e campanhas arrecadam. Luis Ricardo trabalha sem parar, fazendo melhorias com os materiais que encontra ou recebe. E sempre há o que consertar. Os cães maiores precisam começar a ficar separados, avisa enquanto o olhar perdido passeia no capão alto, em uma das frequentes pausas que ele faz enquanto conta sua própria história. Com mais palavras gentis do que reclamação, conta que sua missão, como chama, começou em 2014, quando ainda morava em outro ponto da cidade. Os cães abandonados foram aparecendo e Luis Ricardo não conseguia ignorar a situação. Na secretaria do Meio Ambiente da cidade, os animais eram deixados em um porão e, ao invés de deixar os resgatados ali, levou mais dois para casa. Fez cartazes dos animais para adoção e,

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O fundador da ONG VidAnimal, Luis Ricardo Marcos, e um dos animais resgatados aproveitam breve descanso em pouco tempo, lembra que um rapaz veio comentar dos cães. “Tinha cara de marginal”, conta Luis, “mas correu uma lágrima no rosto dele quando falou do cachorro que tinha morrido de velho”. Levou os dois cachorros novos para suprir a falta do velho companheiro. O dono da ONG ressalta que as boas pessoas procuram os animais para ajudar, mas em muitos casos, quando ele diz que vai até a casa do adotante ver as acomodações, as pessoas desistem. “Cachorros não são mercadorias. Isso aqui é uma vida”, ressalta enquanto a mão calejada e suja de terra afaga a cabeça do filhote animado. “Lavra porque ele é uma cruza de lavrador, sabe? ”, explica sobre o nome do cão.

“Cachorros não são mercadorias. Isso aqui é uma vida”

As palavras humildes também servem para comentar a política mundial, e, em meio à preocupação com os novos ataques em massa dos Estados Unidos à Síria, conta que Lavra veio com a mãe, mas ela destruiu a cerca e foi embora de novo. Tentou trazer de volta, mas fugiu e dessa vez não voltou mais caçar preás no campo do vizinho. E ele sabe a história de todos os cães. Chama pelos nomes e contra como apareceram. A Pretinha veio com um fogão à lenha. “A dona dela queria me doar um fogão porque eu não tinha. Leva o fogão, mas precisa levar a cachorrinha também, porque ela pula a cerca. E pula mesmo! Pula uns dois metros.” A cada dia, 70 quilos de ração são necessários para alimentar os cães, divididos em dois canis e um berçário, mas não existe estoque. A ração chega aos poucos, com alguma ajuda, arrecadação de voluntários e muita fé. Tinha três imóveis que foram vendidos no começo, por valores bem abaixo do mercado, e então se mudou para o sítio, onde mora desde 2014, e os gastos consigo mesmo se resumem ao que sobra da soma

de ração, vacinas, castração e consultas. A prefeitura não deu uma resposta para Luis ou para a reportagem. Para depois vão ficando as soluções. “Eu conheço muitas pessoas boas”, conta ao pensar na ajuda que recebe, mas espera que mais voluntários apareçam em breve, para, quem sabe, diminuir a carga de trabalho. O sorriso só vacila quando fala na Bolinha, a cadela com câncer que a veterinária já sugeriu sacrificar. Ele chora, olhando para longe, distraído com as mãos divididas entre os dois cães que sempre o acompanham. “É tão triste encurtar uma vida assim”, lamenta Luis Ricardo. No fim da manhã, ele ainda não sabe o que vai almoçar, mas tem uma panelada de arroz com fígado para complementar a ração que não chega aos 30 quilos. Pretinha não sai do lado do dono, e Lavra acompanha de volta até a cerca, cheira o carro pela última vez. Os latidos nunca param, é cansativo, mas os rabos abanam na mesma velocidade, felizes da atenção sem jeito que Luis Ricardo distribui conforme passeia pelo canil, chamando-os pelo nome que escolheu sozinho.


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GERAL

Preservação ambiental em meio à selva de pedras

O zoológico de Canoas recebeu mais de 756 animais em situação crítica de saúde em 2017 VANESSA FONTOURA

Por Vanessa Fontoura

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Bióloga

Entrada do Zoológico Municipal de Canoas à espera por novos visitantes

Ameaça de extinção preocupa

O pequeno tamanduá-mirim faz uma refeição, espécie em risco no Sul IRENO JARDIM / PREFEITURA DE CANOAS

Conforme a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas publicada pela União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), em 2014, mais de 22 mil espécies corriam o risco de desaparecer do planeta. Devido à exploração, desmatamento, caça e desinformação no Estado, mais de 280 espécies da fauna gaúcha estão em algum grau de ameaça de extinção, que são classificados em: vulnerável, em perigo ou criticamente em perigo, além de 10 já extintas. Fernanda conta que o zôo de Canoas recebe muitos exemplares de animais com ameaça de extinção. Um exemplo comum é o bugio-ruivo, mamífero muito ameaçado pela associação à febre amarela. “Aqui nós temos, além do bugio-ruivo, o gato-do-mato-grande, gato-do-mato-pequeno, o gato-maracajá, papagaio-charrão e o tamanduá-mirim”, explica a bióloga. “Muitos animais permanecem conosco, pois estão sem condições de voltar ao seu habitat natural, seja por saúde ou ameaça

“A maioria dos animais que nós recebemos está em condições de vida muito ruins” Fernanda Ribeiro

VANESSA FONTOURA

ocalizado no coração de Canoas, o Parque Municipal Getúlio Vargas, mais conhecido pelos canoenses como Capão do Corvo, recebe, em média, 40 mil pessoas mensalmente. Porém, não muito conhecido pelos visitantes, o local tem um importante trabalho social: o Zoológico Municipal de Canoas. O zôo da cidade foi fundado em 2005. Referência no tratamento de espécies da fauna silvestre nativa, também oferece educação ambiental, resgate de animais em situação de risco e presta apoio à Secretaria de Meio Ambiente do município. Segundo a bióloga Fernanda Ribeiro, que trabalha há dois anos no local, somente em 2017, o espaço recebeu 756 animais, destes, 95 ainda permanecem em cativeiro. “Alguns são resgatados do meio urbano por causa de choques elétricos, atropelamento, ataque de outros animais e também recebemos muitos filhotes órfãos, que acabam não tendo como se alimentar”, conta a bióloga. O trabalho de Fernanda e de outros 13 colaboradores do local é ajudar os animais. Em 10 anos de projeto, mais de 5 mil espécies passaram pelo zôo e receberam dos biólogos, tratadores e veterinários todo o cuidado necessário para serem inseridos de volta à natureza ou serem transferidos para outros locais de preservação animal.

Dois bugios-ruivos descansam ao sol, ambos são ameaçados de extinção

de caça exploratória. Aqui nós colocamos os animais nos recintos, nos certificando de que, naquele local, a movimentação e aproximação com o público não irão interferir no seu comportamento natural”, conta. Fernanda lembra que os animais que são tratados nos zoológicos, em geral, muitas vezes podem ajudar na recuperação da espécie. Ela recordou do caso dos micos-leões-dourados que após serem considerados extintos na floresta da Tijuca no Rio de Janeiro, exemplares nascidos em cativeiros foram treinados e depois reintroduzidos na natureza com resultados muito bons. O Zoológico Municipal atua em conjunto com a cidade para educar a população sobre a conservação e cuidados com as espécies, mas Fernanda conta que já receberam muitas ligações de pessoas desinformadas. “Uma vez, uma senhora nos ligou pedindo para retirar um ninho de passarinhos em uma árvore na frente de sua casa, como orientamos que não é recomendado mover um ninho que esteja com filhotes dentro, ela nos perguntou se não podíamos cortar a árvore e plantar aqui”, disse, indignada com a situação. E não é para menos, o Zôo recebe, por dia, inúmeras ligações de pessoas com pedidos semelhantes. Porém, segundo o secretário de Meio Ambiente, Paulo Paim, visando conscientizar a população, a Diretoria de Educação Ambiental promove atividades alusivas ao zôo nas escolas da rede municipal. “Em 2017, alunos de diversas escolas participaram da escolha dos nomes de dois filhotes do zôo e estudaram sobre as espécies”, explica Paim. A equipe técnica do zoológico é referência também para a imprensa regional, colaborando para o esclarecimento de questões relativas à preservação da fauna e no combate a maus-tratos de animais.

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GERAL

Vidas destinadas a servir Escotismo se transforma em modelo de vida para jovens de São Leopoldo e Feliz FOTOS EDUARDA BITENCOURT

Por Eduarda Bitencourt

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sol brilhava forte em São Leopoldo. Sob o calor de 30ºC, crianças trocavam garrafas d’água enquanto procuravam um espaço na sombra ao chegar na Base do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, a SAMU, de São Leopoldo. Era dia de atividade escoteira, e também de aprender sobre cuidar do outro. O Grupo Escoteiro João de Barro 172/RS chegava para um dia fora do convencional. Sob a liderança dos chefes Renato Silveira e Rosângela Silva, a parte mais jovem do grupo, os lobinhos e escoteiros, lançavam olhares curiosos para as ambulâncias e paramédicos. As tropas se misturavam em frente ao veículo de portas abertas. Diferente do comum, a ambulância não tinha pressa. Paramédicos atendiam todos os questionamentos de uma multidão de lenços vermelhos e dedos levantados. Mães do grupo complementavam o coro das dúvidas. Com o final da explicação, era hora da prática. Os equipamentos, antes desconhecidos, agora se tornaram aliados. Quando o lema era o improviso, capim e galhos se transformavam em talas e amarras nas pequenas mãos ágeis. A chefe Rosângela, esposa do chefe Silveira, trazia nos olhos cuidado e interesse. Incentivando os mais novos a falar e orgulhando-se com cada ato do grupo, ela explicava que escotismo é bem mais do que participar de atividades, é diálogo e compreensão. Renato Silveira tinha o mesmo olhar das famílias e isso não era apenas porque suas filhas e a esposa estavam inclusas no tropa. O menino, que foi incentivado pelo pai e está desde 1985 nos escoteiros, nutre um amor inabalável pelo movimento. Nesses anos, foram idas e vindas e diversas trocas de grupos. “Os escoteiros são uma família, não importa em que grupo tu estás, o importante é estar no movimento”, diz. A família é bem numerosa. Segundo o relatório de 2017 do Escoteiros do Brasil - RS, atualmente são 14.171 associados apenas no Rio Grande do Sul. Espalhados em 115 municípios gaúchos e com mais de 200 grupos, esse número está dividido em 3.524 voluntários e 10.647 jovens. O número é o maior nas duas últimas décadas, representando um crescimento de mais de 2 mil jovens apenas em 2017. Os 30 anos de escotismo de Renato são resumidos em uma motivação. “São eles”, disse apontando para o grupo onde as crianças improvisavam um jogo no final do

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“Eu não me vejo mais fora do movimento escoteiro” Márcia Staudt

diretora do Grupo Escoteiro Phoenix

Socorristas do SAMU apresentam equipamentos para o grupo João de Barro

Atentos, escoteiros do Grupo Phoenix recebem explicação da atividade proposta treinamento. Essa motivação é a mesma que rege jovens de um grupo escoteiro distante 50 quilômetros do Grupo João de Barro.

Retribuindo o cuidado

O cinza do céu contrastava com lenços azuis e o verde do Parque Municipal da cidade de Feliz, na região do vale do Caí. Barracas prontas e redes montadas davam as boas vindas para os visitantes e integrantes do Grupo Escoteiro Phoenix - 240/RS. Dentro da sede, uma cozinha com cheiro de café abrigava chefes e escoteiros. No sofá do cômodo ao lado, a diretora presidente Márcia Staudt conta orgulhosa a história que ajudou a construir. “Já são quase 18 anos dentro do movimento. Foram anos que a gente teve dez ou doze escoteiros no total. Hoje, são 110 jovens”, conta. “Eu não me vejo mais fora do movimen-

to escoteiro”, fala ela explicando que essa é a sua missão. Missão passada para a família, os dois filhos também são do Grupo Phoenix e hoje ocupam cargos de chefia. Leonardo e Gustavo Staudt são dois jovens fora da curva de evasão dos mais velhos no escotismo. Com a vida inteira dedicada ao movimento, encontram na chefia um vínculo com os mais novos que, às vezes, é deixado de lado com a correria da vida adulta. Vinda de uma família dedicada ao escotismo, Bruna Vargas fecha o trio de chefes do ramo escoteiro. O clima é de desafio durante a explicação da programação da tarde. São itens simples, como balas coloridas, algodão e cola que estão nas atividades e viram motivos de alegria para os mais de 40 jovens. As atividades requerem concentração, esforço e trabalham com valores

como cortesia, lealdade e educação. O chefe Leonardo explica que tais atividades desenvolvem autonomia, cidadania e autoconfiança para os jovens. Em meio aos gritos de incentivo e corridas, as crianças aprendem mais do que se percebe à primeira vista. Quando os trovões são ouvidos no céu, a voz dos escoteiros é mais alta ao gritar o lema do ramo, o “Sempre Alerta!” marca o final da atividade. A voz de líder ressoa no ramo sênior também. Um dos mais avançados ramos do escotismo é comandado por Marlon Roth e Gisiane Frazen no Grupo Phoenix. Enquanto sêniores e guias subiam em árvores para amarrar redes e lonas, os líderes instruíam na tarefa de posicionar o nó. Marlon responde a todas as perguntas no plural. Como se carregasse o movimento inteiro, dentro de sua fala, ele explica que “A gente tenta formar um cidadão que não vai só trabalhar em equipe, mas vai contribuir porque ele entende o seu papel na sociedade”. As palavras, naturais na hora do comando e da ajuda, faltam quando Gisi tenta explicar o movimento. “Quando eu era jovem eu sabia explicar o que que era o escotismo. Hoje, eu não sei explicar o que é, porque é muita coisa. É poder construir amizades e proporcionar isso”, fala indicando com a mão os seniores que se ajudam. Para Marlon, a motivação é retribuir “Acho que foi uma identificação. Teve gente que se dedicou por mim no tempo livre. Fazendo atividades legais, que não fossem comuns e que, indiretamente, me ensinaram a ser a pessoa que eu sou hoje. Se alguém fez isso por mim eu também posso fazer o mesmo.” A chuva, que dava sinais de desabar durante toda a tarde, finalmente cai enquanto Marlon resume o movimento inteiro em uma sentença.“A gente quer dar o mundo para eles, para que eles o devolvam melhor ainda”.


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SAÚDE

Terceira idade ativa e à procura de movimento

Em Gramado, esportes coletivos trazem melhoria na saúde física e mental de idosos RENATA GARCIA

Por Renata Garcia

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ongevidade, valorização e envolvimento social são alguns dos novos significados para envelhecimento dos mais de 11,3 milhões de idosos que vivem no Rio Grande do Sul. Os dados são resultados de uma pesquisa realizada pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), em 2016. As estatísticas não fogem da realidade: basta caminhar pelas ruas das cidades para notar o expressivo aumento na comunidade madura. A terceira idade vêm buscando protagonismo em espaços onde a representatividade era mantida por jovens e adultos. A nova maneira de levar a vida tem rendido bons frutos. Uma das atividades desempenhadas no município de Gramado, na Serra Gaúcha, são as aulas de câmbio. O esporte coletivo consiste em uma modalidade de vôlei adaptado, com jogadas de bola presa, ou seja, o participante pode segurá-la e passar para os companheiros. Não é permitido saltar para arremessar a bola para o campo adversário, o que evita impacto nas articulações. As aulas motivam os 31 alunos participantes, que entram em quadra com um sorriso inconfundível e muita disposição. No ambiente não há espaço para preguiça ou reclamações. As adversidades são substituídas pela disciplina e concentração no momento dos jogos. A quadra do Ginásio Municipal é tomada por empolgação e sede de encarar mais um desafio. Um exemplo disso é Nuri Schaker, que aos 87 anos conta com um brilho no olhar que não há idade para se dedicar em prol de uma vida melhor. “Nunca parei com o esporte, desde que saí da escola, em Tapera. Adoro estar no câmbio, se pudesse estava todos os dias. Se eu não estivesse aqui, não sei onde estaria. É a minha vida, o que vivo aqui é a minha longevidade”, ressalta. O município, com pouco mais de 34 mil habitantes e, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ocupa a 441ª posição quanto ao número de moradores com mais de 60 anos. Mesmo com os índices distantes das primeiras colocações, Gramado procura ofertar à melhor idade formas de interações sociais, como atividades físicas, participação em ações para a comunidade, entre outros eventos com a intenção de incentivar as potencialidades e capacidades dos idosos. Uma das formas mais procuradas pelos idosos para atingir a socialização e a

Turma de 31 alunos da serra gaúcha traz para dentro da quadra valores como motivação, alegria e determinação busca por uma vida mais produtiva ainda é atividade física. Segundo a educadora física Cecília Kerpen, o engajamento mantêm os corpos ativos e preparados para a demanda física, que está cada vez maior para esta faixa etária. “Essas práticas melhoram a vida social, em vista que muitos já perderam seu companheiro, e melhoram sua saúde mental e psicológica com essa sociabilidade e o bem-estar que essas atividades proporcionam”, explica.

Aumento expressivo na população madura

A procura por um envelhecimento ativo e de qualidade aumenta ano após ano, trazendo uma realidade diferente, de uma sociedade que cada vez vive mais. “Nosso país está envelhecendo e seremos, em 2025, o sexto país do mundo em número de idosos, com estimativa de 32 milhões de idosos, representando aproximadamente 10,0% da população brasileira. Vamos nos preparar para esta estimativa ou será que já estamos preparados? Precisamos dar vida aos nossos anos e não anos a nossa vida, na verdade começamos a envelhecer no

momento em que nascemos”, comenta a gerontóloga Milena Santos.

Mais que uma prática esportiva

A turma de câmbio em Gramado é composta na maioria por mulheres. A busca por esse estilo de vida também vem de encontro com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados em 2016. O fato é que, no Brasil, as mulheres vivem quase sete anos a mais que os homens. A justificativa se dá pelo cuidado que o sexo feminino tem com o seu próprio corpo e suas limitações. Aos 60 anos, Elisabete Teresinha Vogel conta que inseriu na sua rotina a atividade física permanente após a menopausa, aos 43 anos, onde passou a participar das aulas de hidroginástica. Com entusiasmo sem igual, dona Elisabete ressalta que despertou nessa fase novas paixões. “Me apaixonei pelo câmbio. Isso nos motiva a não ficarmos parados. Tu estar em uma atividade física porque sente prazer e porque se gosta tem outro valor”, comenta. Além disso, o que motiva esse grupo são as competições. “Temos competições regionais, que as equipes montam

nas cidades. Se tivermos disponibilidade de tempo e deslocamento participamos. Essas oportunidades são muito boas, é bom trazer medalhas para a casa”, finaliza. Iraci Schaumloeffel tem 68 anos e acorda cedinho pelo menos três vezes durante a semana para realizar caminhadas na cidade de Gramado. Além de desfrutar da paisagem do início de manhã, Iraci conta que sem essa rotina, sente-se como se o seu dia não fosse bem aproveitado. “Mesmo aposentada, sigo trabalhando, não consigo ficar parada. Quando não estou fazendo minhas atividades físicas, estou ajudando em projetos sociais ou de integração. Nossa vida precisa de movimento”, completa.

“Nossa vida precisa de movimento” Iraci Schaumloeffel Aposentada

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

Ocupação Saraí

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BABÉLIA | JUNHO DE 20


018 | SÃO LEOPOLDO/RS

Texto e fotos de Leonardo Savaris

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o longo de nove anos de luta, a campanha de Defesa Pública da Saraí mobilizou milhares de pessoas na cidade e no Estado, tornando-se um símbolo na luta contra a especulação imobiliária e pelo direito à moradia popular no centro de Porto Alegre/RS. Este ensaio tem por objetivo apresentar alguns dos moradores da Ocupação Saraí, inseridos nos espaços em que ocupam. Atualmente as 24 famílias que residem no local buscam junto ao poder público a conclusão do processo de desapropriação, que foi abortado pelo atual Governo do Estado.

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BABÉLIA | JUNHO DE 2018 | SÃO LEOPOLDO/RS

MÚSICA

Ícones de uma geração, guitarras perdem espaço

Fabricante Gibson luta contra dívida US$ 375 milhões, mas promete não fechar portas SUSAN MOHR / UNSPLASH

Por André Cardoso

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ano era 1949. B.B. King, guitarrista histórico de blues, se apresentava em um clube, na cidade de Arkansas, Estados Unidos, quando dois homens começam a brigar por conta de uma mulher chamada Lucille. O local pegou fogo, todos saíram correndo (inclusive o guitarrista). Quando ele já se encontrava fora da casa de shows, lembrou de uma coisa: deixou sua Gibson L-30 dentro do estabelecimento. Então, voltou para pegá-la, mesmo com o prédio quase desabando sobre sua cabeça. Após tomar conhecimento de que tudo começou por conta de Lucille, decidiu colocar esse nome na guitarra, tornando assim sua marca registrada ao longo da carreira. Sessenta e nove anos após o incidente, o mundo e a indústria da música não funcionam da mesma forma. E, devido a isso, a Gibson, famosa fábrica de guitarras onde a “Lucille” foi criada, decretou falência no dia 1° de maio. Com modelos utilizados por guitarristas do calibre de Eric Clapton, George Harrison, Jimmy Page e Keith Richards, a empresa conta com uma dívida de US$ 375 milhões. Mesmo com dificuldades, a fábrica de guitarras prometeu, em comunicado oficial feito no Twitter, não fechar as portas e já apresentou um plano de continuidade comercial (prevendo a concentração de vendas somente em instrumentos musicais e em sistemas profissionais de sonorização), que recebeu aprovação de seus acionistas. Em nota, o presidente da marca, Henry Juszkiewicz, comenta que “embora os segmentos de ‘instrumentos de música’ e ‘áudio profissional’ sejam rentáveis e cresçam, mantêm-se abaixo do nível que tinham há alguns anos”. Mas por que os instrumentos de música estão em baixa? Porque as pessoas não tocam mais guitarra? O que mudou no cenário musical para uma fábrica como a Gibson batalhar contra a falência? Essas perguntas podem ser respondidas de diferentes formas. Primeiro, o rock, estilo musical que a guitarra elétrica é um instrumento principal, não está nas paradas de sucesso. E a forma como a música pop, que domina o cenário mundial, é feita, torna a guitarra elétrica um instrumento secundário ou até descartável, devido ao avanço tecnológico. Para o jornalista musical e criador

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Com 124 anos de existência, fábrica de guitarras elétricas Gibson busca se reerguer após crise do canal do Youtube “Alta Fidelidade”, Luiz Felipe Carneiro, a guitarra já foi colocada como instrumento coadjuvante por bandas clássicas de rock. “É obvio, quando pensamos em rock, a primeira imagem que vem à cabeça é a da guitarra. Pensamos em imagens icônicas: Jimi Hendrix incendiando sua guitarra em

“A grande pressão da mídia musical trabalha em favor de gêneros de maior aceitação do público em geral” Douglas Machado

guitarrista da banda Tharsus

Monterey, Jimmy Page tocando sua Gibson de dois braços, Pete Townshend rodando o braço direito em Woodstock. Mas precisamos pensar que nem todo rock é assim. O Pink Floyd, que embora tenha solos sensacionais do David Gilmour, construía sua música, no modo geral, em cima de climas nos teclados do Richard Wright. O Radiohead colocou a guitarra como coadjuvante do seu som no final dos anos 90”, comenta em um vídeo do seu canal. A mídia também tem papel de culpa em todo processo. Segundo o guitarrista e baterista Filipe Santarini, “a maioria das pessoas, principalmente as crianças, tem bases fixadas naquilo que veem na mídia e, dessa forma, os sonhos são diferentes de crianças dos anos 60, 70”. Filipe segue afirmando que “o rock, hoje em dia, não vende e a mídia colabora para isso. Além disso, a cena do rock é desunida, focando somente na disputa para ver quem é melhor. Não há união. Por exemplo, os principais músicos do sertanejo são unidos, sempre colaborando um com o outro. Não é à toa que há mais de dez anos comandam a mídia”, finaliza. O guitarrista da banda de metal progressivo

Tharsus, Douglas Machado, concorda que “a grande pressão da mídia musical trabalha em favor de gêneros de maior aceitação do público em geral”. Um resultado dessa “decadência” foi apresentado em relatório feito pela Associação Nacional da Indústria da Música (Anafima). De 2012 a 2017, o número de importações de guitarras e baixos elétricos foi de 78%, maior porcentagem dentre todos instrumentos musicais. Visto esses dados, o que fazer para mudar isso? Como atrair uma nova geração de guitarristas? Douglas propõe uma mudança importante. “É necessário começar a valorizar a verdadeira arte novamente, promovendo uma profunda reflexão nos valores que hoje são tidos como referência. De modo prático isso inclui formação de música nas escolas, promover conscientização do uso adequado das tecnologias”, afirma. Já para Filipe, “a moda está em constante mudança. Uma hora o rock volta a ter evidência e aí sim voltam a existir guitarristas”, complementa. Depois de todos esses dados, uma constatação ficou evidente: a guitarra elétrica precisa se reinventar, novamente.


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CULTURA

Autores usam editoras alternativas para serem lidos Com a recusa do mercado tradicional, literatura independente realiza sonho de escritores

CLEM ONOJEGHUO / UNSPLASH

Por Pedro Damasio Hameister

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m um país como o Brasil, em que não existe o hábito da leitura e a média de livros lidos por pessoas anualmente não chega a 5, segundo pesquisa do Instituto Pró-Livro de março de 2016, levar a vida como escritor é algo difícil. Por mais bela que seja, a literatura não é valorizada por aqui, o que faz com que sejam poucos os escritores que conseguem viver de histórias. E isso fica ainda mais complicado quando você está começando a escrever, pois é provável que nenhuma editora de renome tenha interesse no seu trabalho. Em meio a isso, uma alternativa procurada pelos escritores iniciantes é a publicação independente das obras, mesmo que isso signifique não ver elas nas prateleiras das maiores livrarias do Brasil. A literatura independente é um mercado buscado por quem está realizando o sonho de ser escritor e publicando o primeiro livro. Ou mesmo por aqueles que já deram início na carreira e querem publicar ainda mais. Editoras de grande nome dificilmente apostariam em alguém que está começando no mercado. Elas costumam dar lugar para escritores que já tenham um nome consolidado. Afinal, trata-se de um investimento em cima da obra, através da diagramação, arte-finalização, impressão, distribuição, entre outros aspectos. Portanto, é mais seguro investir em algo com maiores chances de ser reconhecido e de ter um bom número de vendas. “Embora trabalhemos com arte, somos um centro comercial, que visa ter algum lucro. Então, sempre buscamos trabalhar com pelo menos um mínimo de probabilidade de retorno financeiro”, contou Rudimar Bernardes, gerente comercial da editora AGE, de Porto Alegre. No mercado literário independente, as editoras dão todo o auxílio de que o escritor necessita, mas o investimento sai do próprio autor. Feito o pagamento, a editora se encarrega de fazer toda a revisão de texto, arte da capa, dar forma ao livro e deixá-lo nas mãos de quem o escreveu para ser vendido. “Há muitas maneiras de um autor publicar de forma independente, e geralmente ela acaba sendo um caminho mais rápido para ele se inserir nesse mercado”, afirma Vítor Diel, assessor de comunicação da Câmara Rio-Grandense do Livro. Embora ainda não seja um escritor de

Formas alternativas de publicação são amplamente buscadas por escritores que querem ver suas obras em livrarias sucesso, João Camilo Grazziotin Portal está Escritores independentes buscando chegar lá desde que publicou têm mais liberdade o primeiro livro no ano passado, “Um O que o futuro historiador acha imEterno Quase”, na editora independente portante ressaltar a respeito do mercado Oikos, de São Leopoldo. O estudante de literário alternativo é que ele é um bom História da Universidade Federal do Rio meio para dar visibilidade para questões Grande do Sul chegou a enviar a obra sociais, como movimento negro, feminista para editoras grandes. Porém, elas não e LGBT. Por ser um espaço onde a interfeaceitaram por se tratar de alguém que rência na obra é mínima, muitos autores estava recém surgindo no meio literário. independentes usam esse meio para publiComo Portal tinha condições de publicar car esse tipo de texto, que dificilmente seria o livro, ele foi atrás do mercado alter- publicado numa editora grande. nativo para que dessem forma a ele e o “De fato, as editoras do Brasil estão ajudassem a atingir seu objetivo. muito seletivas hoje em dia, principal“Tem duas maneimente por conta da ras de ser publicado: crise financeira do país. ou você se banca, Embora aqui na AGE ou você é bancado. tenhamos muito títuNo meu caso, eu fui los que abordam esses lá na editora, paguei temas, outras editoras tudo e ela só me deu podem querer evitar o livro pronto. Sou publicar sobre esses aseu que faço todo o suntos delicados para resto. Eu que faço a não arriscar um lucro divulgação e vendo baixo, ou até mesmo Rudimar Bernardes o livro, o que é pior, um prejuízo”, confirgerente comercial já que vende muito mou Bernardes. menos”, disse Portal. A exemplo dessa

“Embora trabalhemos com arte, visamos ter lucro”

“liberdade” do autor ao publicar a obra no meio independente, Erny Mugge, 62 anos, que fundou a Editora Oikos - responsável pela publicação do livro de estreia do João Camilo - junto de sua esposa, explica que sua editora, assim como qualquer outra editora independente, apenas recebe o texto e o pagamento do escritor para transformar aquele material em um livro e então publicá-lo. Os direitos autorais ficam sempre com o autor, portanto, nenhuma alteração é feita no conteúdo, a menos que ele autorize. A Oikos se encarrega de revisar o texto, elaborar uma capa e imprimir. Erny e sua esposa trabalham juntos na área do mercado editorial desde a década de 80, e fundaram a Oikos em 2003. Nesses 15 anos de editora, já publicaram cerca de 870 títulos - incluindo e-books - e pretendem chegar em mil no final do ano que vem. O que os levou a criar a editora foram justamente pessoas que os procuraram querendo publicar seus trabalhos de forma barata e com qualidade. Atualmente, trabalham com uma equipe de cinco funcionários fixos e quatro revisores autônomos, produzindo em média 25 a 30 livros de cada vez.

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ESPORTE

O sonho de ser campeão em meio à falta de apoio Procurando alguém de confiança, Rodrigo encontrou na cidade de Esteio sua oportunidade ARQUIVO PESSOAL

Por Saskia Ebenriter

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ampeão do Cinturão Gaúcho de Ouro e do Campeonato Gaúcho de Boxe em 2017, Rodrigo de Jesus, 26 anos, atleta de Gravataí, sonha em se tornar referência nacional e até internacional no segmento. Orgulho para a família, para a comunidade e para seu treinador Abílio Mendes, o campeão dá exemplo de dedicação e persistência. Com uma infância sofrida, Rodrigo aprendeu desde cedo a batalhar por seus objetivos e sonhos. Aos 12 anos, juntava materiais recicláveis no lixo para ajudar em casa, o que lhe afastou de muitos amigos por conta do preconceito. Com 18 anos, ingressou na carreira militar, na mesma época em que o pai faleceu. As condições melhoraram, e ele começou a pensar em realizar alguns de seus anseios.

O boxeador levanta às 5h para correr, depois segue para o trabalho, em Portão, e treina mais duas horas, à noite

Desde pequeno, gostava de assistir filmes do Rocky Balboa e era fã do Mike Tyson. Sempre se identificou com o boxe e acre-

ditava que o esporte seria sua salvação. Buscou um treinador em Gravataí, mas após alguns problemas e brigas, acabou por ir atrás de apoio em outra cidade. Encontrou em Esteio o acolhimento merecido e um treinador que abraçou sua vontade de ser campeão. “O Abílio me acolheu quando pensei em desistir do meu sonho. Devo tudo a ele”, diz Jesus. Na equipe Gladiadores do Ringue, Rodrigo faz parte de um projeto que, com o auxílio da Prefeitura e da Secretaria de Esportes de Esteio, proporciona para atletas amadores um ringue, equipamentos e espaço para os treinos. Sem patrocínio, o atleta busca na disciplina o retorno que necessita para que seu desempenho seja sempre melhor. “Ele acorda às cinco horas da manhã todos os dias, faz a corrida tradicional na rua mesmo, vai para o trabalho, em uma empresa de

frangos em Portão, e depois faz um reforço muscular em uma academia parceira de Gravataí”, conta Mendes. Além disso, os treinos são diários, em média duas horas, inclusive aos sábados. Tudo isso, visando sempre o maior de todos os sonhos, ser um atleta profissional. Atualmente, a maior dificuldade relatada por Abílio é a falta de patrocínio para os atletas que, como Rodrigo, buscam chegar aos pódios nacionais. Sem condições para comprar as passagens, muitas vezes os desportistas deixam de participar de campeonatos por falta de recursos financeiros. Rodrigo tem dificuldade inclusive de chegar ao local dos treinos. “Nada é fácil, mas se você tem um sonho, seja o que for, tem que correr atrás. O esporte mudou minha vida e pode mudar a vida de várias crianças das comunidades também”, afirma o campeão.

Estádio Vieira Ramos, de Gravataí, é a casa das atletas do Grêmio

Judoca capilé agradece apoio de amigos, firmas, família e padres jesuítas

Equipe do Garibaldi Futsal retoma atividades em março e disputa Sub-17

O futebol feminino do Grêmio tem novo espaço para a modalidade. Desde março, o Estádio Antônio Vieira Ramos, o Vieirão, em Gravataí se tornou a nova casa das gurias gremistas, que disputam os jogos da série A2 do Campeonato Brasileiro. Elas realizam treinamentos e toda a preparação no local, que oferece alojamento para as atletas. O negócio foi firmado entre as presidências do Grêmio e do Cerâmica Atlético Clube. Segundo Osmar Lima, coordenador do futebol feminino, além do aluguel, toda a infraestrutura é bancada pelo Grêmio Em entrevista ao programa Preliminar, da TV Ulbra, Júlio Tittow, o Iúra, diretor de futebol do time feminino do Grêmio, falou dos impasses que a modalidade vem enfrentando: “Hoje, poucas pessoas da imprensa se interessam pelo futebol feminino. Nós estamos com dificuldades na categoria atualmente, mas daqui a dois, três anos, vamos crescer de uma maneira desproporcional”, afirmou.

O judoca Paulo Henrique Amaral da Silva, 24 anos, natural de São Leopoldo, conquistou medalha de ouro no campeonato mundial Judô para Todos, que reuniu mais de 100 atletas com deficiência física ou mental. O evento aconteceu em Beverwijk, na Holanda, nos dias 14 e 15 de abril. Quando bebê, o desportista teve paralisia cerebral, o que prejudica a sua locomoção. Paulo Henrique é funcionário da Associação Antônio Vieira, e trabalha como técnico em informática na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), campus de São Leopoldo. O seu professor na Associação de Judô – Gaba, o sensei Eduardo Ferreira, explicou que o treino de Paulinho é igual ao dos outros atletas e o que o diferencia dos demais é que ele se exercita de acordo com o que consegue realizar. Para viajar até a Holanda o judoca conseguiu o apoio da família, de amigos e dos padres jesuítas da Unisinos, das empresas Perfecta e Dresch. “Eu quero agradecer a todos, esse título é de todos nós. Posso vencer mais dez mundiais, mas se eu não fosse querido pelas pessoas, nada valeria a pena”, salientou o judoca.

Após sete anos inativo, o Garibaldi Futsal iniciou sua preparação em março para o Campeonato Estadual Sub-17. O grupo tem 18 atletas, a maioria jogadores da escolinha da Secretaria de Esporte de Garibaldi. Ele conta com espaço para treinar no Ginásio Municipal e na Academia Ativa, nova parceira do projeto. O grupo é comandado pelo técnico Eduardo Dornelles. “Estamos trabalhando diariamente o espírito de equipe, o nível de intensidade nos treinamentos para podermos aprimorar a parte física e tática”, explicou. Dornelles conta na Comissão Técnica com o apoio do estagiário Leonardo Barcelos na preparação de goleiros, do auxiliar Marcos Fuão e da nutricionista Juliana Chies. Disciplina, trabalho em equipe, respeito ao adversário, comprometimento, responsabilidade, liderança e resiliência são valores e atitudes que o time garibaldense valoriza para chegar ao título. O Campeonato Sub-17 tem a participação de 19 equipes do Estado, que compõem três chaves. O projeto de retomada da equipe tem o apoio da Secretaria Municipal de Esportes.

Por Letícia Costa

Por Luciele Faedo

Por Ketlin da Fonseca de Siqueira

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ESPORTE

Estádios de futebol sem distinção de gênero

O RS soma cinco casos de machismo com torcedoras e repórteres em campo este ano LUCAS UEBEL/GRÊMIO FBPA

Por Gustavo Machado

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A maneira de reagir a insultos machistas varia de mulher para mulher. No entanto, o que todas elas têm em comum é o questionamento do porquê que isso ocorre. Em 21 de outubro de 2017, a repórter Júlia Goulart, da Rádio Galera, foi vítima de xingamentos machistas por parte da torcida do Internacio-

Mulheres dão exemplo de como torcer com civilidade na torcida mista DIONATHAN SANTOS

O machismo, a culpa e o trauma

“Eu já tomei pedrada em Gre-Nal” Eduarda Streb Jornalista

ARQUIVO PESSOAL

amor que invade o coração dos homens pelo futebol é o mesmo que contagia cada mulher que escolhe se envolver com o esporte. Cada vez mais, a arquibancada ganha traços femininos. Isso se torna evidente nos quadros sociais dos clubes. O Internacional fechou o mês de março com 22% de mulheres do total de associados. No Vale dos Sinos, o Novo Hamburgo reúne 18%, enquanto que o Aimoré chega a 7%. O crescimento de mulheres nos estádios de futebol diverge pensamentos, que acaba culminando em atos de machismo e de assédio sexual. O caso mais recente foi com uma torcedora do Grêmio assediada por um torcedor gremista, na esplanada da Arena. Pouco antes da partida entre o tricolor gaúcho e o Cerro Porteño iniciar, o homem passou a mão nas suas nádegas e tentou beijá-la à força. O confronto contra o clube paraguaio era válido pela Copa Libertadores da América. Antes disso, no dia 25 de março, a repórter do SporTV Kelly Costa foi ofendida com palavras sexistas por um torcedor do São José. Na ocasião, o clube enfrentava o Brasil de Pelotas, pela semifinal do Campeonato Gaúcho. Ainda no mesmo mês, durante o clássico Gre-Nal do dia 11 de março, a repórter da Rádio Gaúcha Renata de Medeiros foi alvo de agressões físicas e verbais por um torcedor do Internacional. Naquele mesmo dia, a jornalista Juliana Palma filmou dois torcedores, também do Internacional, fazendo gestos obscenos para torcedoras gremistas que estavam assistindo ao clássico em um camarote do estádio Beira-Rio.

Júlia Goulart, da Rádio Galera

Duda Streb, jornalista do Grupo RBS

nal, quando trabalhava no estádio Heriberto Hulse, em Santa Catarina. Na ocasião, a equipe gaúcha enfrentava o Criciúma, pelo Campeonato Brasileiro da série B. A situação a deixou abalada emocionalmente. Ela conta que passou a não dormir direito e em vários momentos questionava a possibilidade de ter feito por merecer as tais palavras proferidas durante o episódio. Com o psicológico afetado, ela precisou de tratamento médico. “Eu não queria voltar aos estádios. Tinha me prometido que trocaria de profissão. Fiz tratamento psicológico durante seis meses

e a ideia de desistir passou em um mês após o ocorrido”, confessa. A volta aos estádios, após o trauma querer afastá-la, ficou marcada por sentimentos positivos, como conta a repórter. “Voltei, foi bom. Nunca mais aconteceu graças à luta e à campanha feita diariamente em combate a estes atos.” Hoje, já restabelecida emocionalmente, ela deixou de fazer acompanhamento psicológico, mas ressalta a relevância do tratamento em relação ao seu medo. “Foi importante para que eu cumprisse todos os meus traumas e todas as minhas tristezas e marcas que essas pessoas deixaram em mim”, declara.

O clássico Gre-Nal é um jogo considerado atípico, protagonizado pelos clubes de maior rivalidade de Porto Alegre e, quase sempre, é marcado por episódios lamentáveis e difíceis de esquecer. Esses momentos deixam lembranças negativas na mente de algumas mulheres que se deslocam ao estádio, seja para torcer, ou para fazer a cobertura da partida em nome de um veículo de comunicação. “Uma vez eu estava entrevistando o Christian, atleta do Internacional, na saída de campo. Ele fez um gol e aí eu corri para entrevistá-lo e, de repente, veio uma pedra gigante, não sei de onde. Era um pedaço de concreto e acertou em mim, na minha mão e machucou o meu dedão, ” conta a jornalista, atualmente do Grupo RBS, Eduarda Streb. Outro fato inesquecível na carreira de Eduarda aconteceu em um jogo de Campeonato Gaúcho, no interior do Estado. Ela disse que enquanto atravessava o gramado, toda a torcida entoava um cântico machista, que não cabe ser mencionado. “Eu me lembro que eu atravessei constrangida demais. Aquele povo cantando foi horrível”, revela, com voz firme. Quando ela chegou na casamata do Internacional, local que ela faria a reportagem da partida, foi o momento de ficar próxima à tela que divide a arquibancada do gramado e, consequentemente, ficar perto do grupo de torcedores que a deixaram constrangida no início do percurso. “Eu cheguei pertinho da tela e encarei cada um e comecei a olhar um a um. Mas não encarei no sentido de confrontar. Eu estava ali não acreditando, me perguntando o porquê disso, eu estou aqui trabalhando. Aí eles foram parando aquela coisa que era em massa. Eu acho que eles ficaram constrangidos porque eu estava ali encarando-os e foi aí que eles pararam de falar”, relata.

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GERAL

Clube amador programa festas para pagar “bicho”

Serraria, de Sto. Antônio da Patrulha participará do campeonato sul brasileiro em novembro BRUNO FLORES

Por Bruno Ferreira Flores

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Esporte Clube Serraria, de Santo Antônio da Patrulha, será o representante do Rio Grande do Sul no Campeonato Sul-Brasileiro de Futebol Amador deste ano. A competição será realizada na cidade de Nova Veneza, em Santa Catarina, e terá equipes das federações Gaúcha, Catarinense (Grêmio Esportivo Metropolitano), Paranaense (a definir) e Paulista (Sociedade Esportiva Corinthians) de futebol.

De acordo com o presidente do Serraria, Edilso Marques, o clube deve gastar em torno de 200 reais para levar o grupo de 25 pessoas entre comissão técnica e jogadores para a cidade catarinense. A despesa do clube com a competição será custeada pela Federação Catarinense de Futebol (FCF). Os valores a serem repassados aos jogadores, o famoso “bicho”, está sendo orçado em torno de R$ 10 mil, com pagamentos de cerca de R$ 400 reais a cada atleta. O montante está sendo arrecadado por meio de bingos, bailes e festas

Torcida está animada com equipe e confia na conquista do torneio comunitárias no salão do clube, que fica na localidade de Serraria Velha, interior do município. O clube patrulhense está em busca de atletas para o torneio, que deve ocorrer nos dias 1º, 2 e 3 de novembro. A data foi prevista para facilitar

a ida dos jogadores que têm empregos formais durante a semana. O zagueiro Jorge André Colombo, de 22 anos, acertou sua participação com o Serraria. Ele é um dos tantos que vai ter de negociar com a empresa onde trabalha, uma loja

de móveis, para poder disputar a competição. “É complicado! Eu quero muito jogar, por ser uma vitrine, uma grande competição”, afirma. “Já estou negociando com o patrão para me liberar, depois eu dou um jeito de compensar”, brinca. Fábio Nogueira, diretor de competições da FCF, afirma que ainda não há um valor exato do custo do torneio. “O representante da Federação do Paraná só vai ser conhecido no meio de junho, por isto não há como orçar o campeonato. A localização do time paranaense afeta os nossos gastos de logística, até mesmo de onde hospedar a delegação”, argumenta. Nogueira também explica como é feita a fiscalização dos atletas participantes, que devem obrigatoriamente ser amadores. “Os jogadores têm que ser amadores. Se já foi profissional, tem de pedir a desfiliação e estar há, pelo menos, 30 dias sem atuar. Nesse caso, automaticamente voltam a ser amadores”, afirma.

Projeto ambiental valoriza área rural de Sapucaia do Sul

Trabalhador de Canoas ganha entreterimento, consultas e orientações

Cervejaria abre torneiras ao som de banda gaúcha

Alunos das 24 escolas municipais e seis estaduais de Sapucaia do Sul têm aula “prática” sobre os impactos ambientais na microbacia do Arroio José Joaquim, córrego que ainda apresenta águas claras e margens com mata ciliar, mas está poluído em seu percurso urbano por despejos de esgoto e resíduos sólidos. O projeto “Conhecendo e divulgando aas águas e banhados do meu município” surgiu de proposta do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitê Sinos) e foi abraçado pelo setor de EducaçãoAmbientaldaSecretariaMunicipaldaEducação. Nas saídas de campo para a área rural do município, alunos conhecem a produção agroecológica, seus benefícios à saúde humana e ao meio ambiente, e têm contato com produtores locais. No ano que vem, o projeto terá continuidade, garante a coordenadora de Educação Ambiental, Viviane Furtado, com a realização de oficinas, plantios e mostras de trabalhos. Este ano, a Secretaria realiza ainda a Semana Interamericana da Água.

A Festa do Trabalhador de Canoas, comemoração tradicional do calendário local em maio, mostrou porque a data tem espaço garantido na preferência dos canoenses. Durante o dia, serviços diversos e atividade de entretenimento movimentaram o público, que não se importou com a chuva e, à noite, foi a vez dos shows agitarem a galera. A canoense Patrícia Machado levantou cedo para aproveitar o dia com a família, amigos, e se inscrever no Banco de Oportunidades, ferramenta desenvolvida pela Prefeitura local que conecta trabalhadores desempregados com empregadores. Médicos, dentistas, terapeutas estiveram disponíveis durante o dia para quem buscasse alguma consulta ou orientação. Quem precisou de segundas vias de documentos foi atendido pelo pessoal da Secretaria Municipal de Desenvolvimento. No Parque Eduardo Gomes, local da festa, os frequentadores também puderam passar por avaliação nutricional e receberam orientações sobre plantio em hortas comunitárias.

A banda Ultramen será a atração musical, no dia 26 de junho, do Porto Imigração, espaço da Cervejaria Imigração, de Campo Bom, que oferece aos sábados shows, sabores, lazer e muitas torneiras de chopp. A Imigração conta com restaurante, pub, espaço de eventos e ponto de venda de cervejas artesanais. “Nosso foco vai além do lucro, pois queremos oferecer às pessoas a oportunidade de se conectarem ao meio cervejeiro”, explicou Mary Borghezan, que trabalha no setor de marketing da empresa. Na companhia de bandas do rock gaúcho, o público é convidado a degustar diferentes tipos de chopp, com torneiras de autoatendimento, além de conhecer o processo de fabricação de cervejas artesanais. O ingresso custa 10 reais. Quem levar um quilo de produto não perecível ou um agasalho ganha copo de chopp. A cada sábado, a Imigração doa os produtos assim recebidos para entidades assistenciais do Vale do Sinos.

Por Vinícius Vargas

Por Thomas Machado

Por Luana Ely Quintanta

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EDUCAÇÃO

Prefeitura de Tupandi paga disciplina para universitários Município é pioneiro no auxílio a estudantes e destaca-se no campo da educação Por Cristina Fengler Bieger

CRISTINA FENGLER BIEGER

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studantes de Ensino Superior e Técnico de Tupandi recebem pagamento de uma disciplina por semestre da Prefeitura Municipal. Projeto iniciado em 1993 contempla hoje 88 estudantes que, em troca do incentivo, realizam serviço voluntário para o município. Conforme dados da Secretaria de Educação de Tupandi, do total de 1.276 estudantes, 160 estão cursando alguma graduação, o equivalente a 4,5% do total. O município investe desde o início do projeto no auxílio à educação superior. A medida sofreu alterações e, hoje, a lei autoriza o pagamento de 50% de curso técnico/profissionalizante e até uma disciplina composta por quatro créditos para graduação superior. Os pré-requisitos para ser beneficiado incluem morar no município no mínimo dois anos mediante comprovação, ter idade mínima de 16 anos, cursar o mínimo de três disciplinas de quatro créditos cada, obter 75% de aprovação no semestre atual mediante

Em troca do apoio, beneficiados disponibilizam 3h semanais para tarefas diversas comprovação e realizar o serviço voluntário junto ao município. Os 88 estudantes beneficiados frequentam aulas na Unisinos (47), na Universidade de Caxias do Sul – Polo São Sebastião do Caí (15), na Feevale (6) e em cursos técnicos e profissionalizan-

tes (20). O município, além das horas de serviço prestadas pelos estudantes, conta, assim, com munícipes de melhor formação acadêmica. Ao total, cada estudante desempenha três horas semanais, totalizando 50 horas de serviço voluntário por semestre.

Os serviços variam entre confecção e distribuição de IPTU, lavagem de carros da Prefeitura, manutenção de praças e escolas e auxílios diversos. O trabalho é atribuído de acordo com a disponibilidade e local de residência do estudante. Segundo Werner Büneker, responsável pelo encaminhamento dos pagamentos, nos últimos semestres a quantidade de benefícios fornecidos vem diminuindo. Isso se deve a fatores como dificuldade de encaixe nos requisitos, não cumprimento das horas de serviço e o número cada vez menor de alunos concluintes do Ensino Médio que buscam o Ensino Superior. Para estudantes beneficiados, o auxílio é um incentivo e um diferencial na educação, fazendo com que a graduação seja concluída mais rápida e mais jovens têm chance de fazê-la. Quanto à nova regulamentação de 2017 para recebimento do auxílio, os entrevistados não fariam mudanças, pois acreditam ser importante as medidas tomadas. Os beneficiados desejam aplicar o conhecimento universitário no município.

Unilínguas cria vagas gratuitas para cursos a cada semestre letivo

Projeto elaborado na Martha Wartenberg ganha reconhecimento

Conscientização no morro de Montenegro busca preservar área

O Instituto de Línguas da Unisinos (Unilínguas) abre, no dia 12 de junho, inscrições para os cursos de inglês, coreano, alemão, espanhol, italiano, mandarim, japonês e francês que serão ofertados no segundo semestre letivo. A partir do baixo número de turmas nos cursos de idiomas no turno diurno, com exceção do inglês, o Unilínguas se apropriou da nova plataforma criada pela instituição, o Unisinos LAB, para a oferta de vagas gratuitas. No primeiro semestre de 2018 elas foram todas ocupadas. O curso de inglês é o carro-chefe do Instituto e é o único com turmas fechadas em todos os turnos. A iniciativa da oferta das vagas gratuitas não afetou a procura pelo curso, informou a professora de inglês Jeane Cortezia. Numa parceria com o Instituto Kim Sejong e o governo sul-coreano, o Unilínguas oferece o curso de coreano, ministrado pela professora Sujin Kim. Neste caso, o estudante paga apenas 60 reais pelo material didático.

Desenvolvido em 2015, o projeto “Bebedouros Ideais” segue rendendo frutos à Escola Municipal de Ensino Fundamental Martha Wartenberg, de Novo Hamburgo. Os alunos da 8ª série, na época, queriam modificar a aparência dos bebedouros e também os adaptaram para uso de cadeirantes. Desde então, o trabalho rendeu quatro participações da escola hamburguense em feiras internacionais. Mesmo sem estar totalmente pronto, o projeto foi apresentadonaMostraInternacionaldeCiênciaeTecnologia Junior daquele ano. Essa participação foi fundamental para o seu aprimoramento. Ela foi vencedora na Feira afim promovida pelo Colégio Girasoles, do Paraguai, e em feira peruana. Em maio, a escola participou da Expo Milset Brasil, em Fortaleza. A reforma dos bebedouros ainda está inconclusa na Martha Wartenberg. Os alunos que apresentaram a proposta já não estão mais na escola. Mas o projeto ganha forma.Omaterialparaadaptaçãodosbebedourosfoidoado pela comunidade. “Batemos de porta em porta pedindo doações”, contou a professora Neli Facchini Schmidt.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Montenegro, em parceria com artistas montenegrinos, promoveu, no dia 5 de maio, uma ação de revitalização da trilha do Morro São João Batista. A atividade foi a culminância do projeto “Montenegro. Eu curto! Eu cuido!”, desenvolvido nas escolas da rede pública, que objetiva a conscientização em relação à preservação do meio ambiente. Foram 250 pessoas que participaram da subida ao Morro. Em grupo, eles carregavam placas com expressões como “Lixo zero”, “Preserve!”, “Pequenas atitudes. Grandes resultados”, que foram fixadas no decorrer de todo o trajeto, até o topo do morro. Ao todo, foram mais de 80 placas confeccionadas por alunos e artistas da cidade. A sinalização reforça o respeito das pessoas para que elas usem o espaço sem agredir a natureza. O material colocado no morro foi feito com madeiras descartadas e materiais doados. Cerca de 800 “mãos” se envolveram no projeto. Treze escolas do município participaram da confecção do material.

Por Gabriel Reis

Por Lucas Rafael Alves

Por Arthur Krug

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BABÉLIA

EDIÇÃO 29

Completar o álbum da Copa ficou mais caro em 2018 É preciso desembolsar aproximadamente R$280 para completar os 682 cromos

FABRÍCIO SANTOS

Por Fabrício Santos

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ançado em março pela Panini, o álbum da Copa do Mundo desta edição apresentou novidades que não agradaram os colecionadores. A principal delas: o preço dos “pacotinhos”. Na última edição, em 2014, quando a Copa foi realizada no Brasil, o álbum constava R$ 5,90 no exemplar com capa brochura e R$ 24,90 no modelo capa dura e o pacote, com cinco cromos, saía por R$1. Neste ano, o modelo brochura custa R$ 7,90 e o capa dura, com 60 figurinhas R$ 49,90. Mas o pacote que continua com a mesma quantidade de cromos da edição anterior, dobrou o valor e assustou muitos colecionadores que não esperavam um aumento tão alto de uma copa para outra. “Quando a editora lançou o comunicado com o preço, fiquei assustada. Esperava um reajuste no valor, mas não um aumento em 100%”, comenta Marina Staudt, 21 anos, que colecionou as duas últimas edições. No evento de lançamento do álbum, ocorrido na página do facebook da empresa, o presidente da Panini no Brasil, José Eduardo Severo Martins, justificou que o aumento deve-se ao valor de contrato de imagem dos atletas e federações, citou também que na produção dos cromos é utilizado material importado, o que eleva o custo da produção. “Este ano tivemos aumento do custo das licenças. É uma negociação individual com as federações”, disse. Apesar do alto valor, a procura pelas figurinhas anima os comerciantes. Na banca Vitória, centro de Porto Alegre, o comerciante Moacir Braga, 62 anos, comenta que toda semana a fornecedora entrega o material e praticamente acabam logo que chegam, em média, eles vendem mais de 20 pacotes por dia. “Os adultos compram para os filhos, para os netos e até para eles mesmos”, complementa. A colecionadora Marina Staudt diz que o mais legal do álbum é a troca de experiências com amigos e até mesmo com desconhecidos para conseguir as figurinhas. “É bacana o envolvimento das pessoas de todas as idades na busca pelas figurinhas faltantes. A gente conversa, ri, ajuda, acaba aproximando os amigos e até mesmo pessoas que tu nunca viu, mas que por causa das trocas, tu acaba conhecendo”, cita ela. Mas nem todos têm a mesma oportunidade de viver a experiência e entrar no clima do álbum. É o caso do pequeno Victor Silva, 14 anos, morador da Vila Santa Marta, em São Leopoldo. No local onde ele mora não chega o exemplar para o co-

Encontro de colecionadores tem movimentado as bancas

“Este ano tivemos um aumento do custo das licenças” José Martins

Presidente da Panini no Brasil

mércio. “Eu gostaria de fazer o álbum, mas ainda não chegou para nós. Estou esperando pra ver se vem”, conta o menino. Na edição deste ano o colecionador vai precisar conquistar 42 figurinhas a mais do que na última Copa. O álbum da Rússia conta com 682 cromos que são estádios, jogadores, escudos e figurinhas denominadas Legends, que são as novidades neste álbum. Na live de lançamento, o presidente da Panini no Brasil disse que não existe figurinha difícil, todas são fabricadas e embaladas no mesmo número.

Troca de figurinhas

Para tentar diminuir os custos, diversos grupos de colecionadores estão organizando encontros nas bancas das cidades para realizar as trocas. Em Porto Alegre, Marcus Rovere, 30 anos, usa os finais de semana para participar dos encontros e buscar os cromos faltantes. “É a melhor maneira de completar a coleção e economizar alguns bons trocados, além de se livrar daquele monte de repetidas que juntamos ao longo das compras”, disse Rovere.


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