BABÉLIA
UNISINOS l SÃO LEOPOLDO l RS JULHO
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UNISINOS l SÃO LEOPOLDO l RS JULHO
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ALDEIA TERÁ NOVO SISTEMA DE SANEAMENTO
Projeto que utiliza bananeiras para filtragem ajudará no tratamento de esgoto de comunidade Kaingang de São Leopoldo
É
Em Novo Hamburgo, comissão de vereadores pede a construção de passagem sobre a BR 116, no bairro Roselândia, para reduzir mortes no local
Maio de 2024 vai demorar para ser esquecido. Após mais de 20 dias de chuvas intensas, o saldo foi de destruição em todo o Estado. Nesta edição, sete páginas especiais mostram iniciativas do pós-tragédia, além de relatos dos dramas e sentimentos vividos na pele pelos próprios alunos-repórteres
Produzido com materiais ecológicos, o Sustainpad promete consciência ambiental e acessibilidade às mulheres em situação de vulnerabilidade
BOTOS AJUDAM NA PESCA DA TAINHA
Pescadores de Tramandaí contam com colaboração dos animais para reunir cardumes de peixes na margem do rio, onde são capturados com tarrafas
No dia 21 de abril, poucos dias antes das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, a estudante de Jornalismo Bruna Pedrotti fotografou a cena acima, que mostra a avó e o padrasto observando o muro que separa a casa deles do Rio dos Sinos. A foto foi produzida para um trabalho de aula, que tratava sobre a relação dos moradores da Rua Luiz Pedro Daudt, em São Leopoldo, com o dique, constrído em 1973. O muro permaneceu de pé após a chuvarada de maio, mas não evitou que a região fosse alagada. Essas e outras histórias, vivenciadas pelos alunos da disciplina de Fotografia no Jornalismo, podem ser conferidas nesta edição entre as páginas 5 e 9, identificadas como "Relatos".
Jornal produzido semestralmente por alunos do curso de Jornalismo da Unisinos (campus São Leopoldo/RS).
TEXTOS E IMAGENS
Notícia em Jornal Orientação: Micael Behs (vierb@unisinos.br). Alunos: Augusto Becker, Bernardo Maria de Almeida, Bianca Amábile, Camille Mello, Caroline Lopes, Christian Stähler, Eduardo de Lima Pereira, Fábio Florisbal, Gabriela Panassal, Gabriele Rech (editora), Isabel Pacheco, Jonatas de Souza, Kauane Cristina, Lara Victoria Zarth, Lia Kirch, Lua Santos, Lucca Eduardo Soares Rosa, Luis Henrique Miguel, Mateus Grechi, Mônica Lima, Pâmella Pereira, Rafael Valduga, Rodrigo Auth, Sandally Raupp e Valentina Rossatto. Fotografia em Jornalismo. Orientação: Beatriz Sallet (bsallet@unisinos.br). Alunos: Amanda Ferrari, Annelize Mattos, Bruna Pedrotti, Carina Duarte, Eduarda Oliveira, Talita Accidrolli e Thalyta Monteiro.
ARTE
Realização: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom).
Projeto gráfico e diagramação: Marcelo Garcia (marcelog@unisinos.br).
IMPRESSÃO Gráfica UMA.
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei - CEP 93022 750. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Sergio Eduardo Mariucci. Vice-reitor: Artur Eugênio Jacobus. Pró-Reitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Guilherme Trez. Pró-reitor de Administração: Cristiano Richter. Diretora de Graduação: Paula Dal Bó Campagnolo. Decana da Escola da Indústria Criativa: Laura Dalla Zen. Coordenador do curso de Jornalismo: Felipe Boff (feboff@unisinos.br).
PROPRIETÁRIOS DE HOTEL
CRECHE EM CAMPO BOM SUSPENDEM ATIVIDADES
PARA CUIDAR DOS ANIMAIS, E CONTAM COM APOIO DA COMUNIDADE
PARA MANTER O ABRIGO
VALENTINA ROSSATTO PÂMELLA PEREIRA
As fortes chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul deixaram muitos animais abandonados. Diante disso, o hotel creche Animacão, de Campo Bom, abrigou mais de 150 cachorros resgatados das cidades de Novo Hamburgo e São Leopoldo. Através da mobilização de voluntários, o espaço conseguiu se manter com doações da comunidade. Os proprietários do hotel, Ana Carolina Kercher e Lucas Cardoso, interromperam suas atividades temporariamente para abrigar os animais. “Sentimos um desejo muito forte de ajudar os cães afetados pelas enchentes”, destaca Ana.
O trabalho voluntário começou no dia 5 de maio, quando a creche passou a acolher cães resgatados do bairro Campinas, em Novo Hamburgo. Desde então, o número de animais no abrigo só cresceu. A voluntária Lorena Almeida conta que pessoas passaram a prestar atendimento veterinário no bairro Santo Afonso,
levando os animais saudáveis para o abrigo e direcionando outros para centros veterinários, onde foram tratados por equipes especializadas.
Para o abrigo funcionar foi necessário articular um grande grupo no WhatsApp através do qual voluntários passaram a se organizar em quatro turnos de trabalho.
O grupo contou com o apoio de veterinários que orien -
Pela dificuldade de locomoção, voluntária ajuda a tutora a reconhecer seu cão por videochamada em abrigo de Campo Bom
tavam os medicamentos necessários para cada cão abrigado, desde vermífugos até remédios para dor. Inicialmente, a ideia do abrigo era proporcionar o reencontro dos cães com seus tutores. Nesse sentido, num primeiro momento os animais não foram disponibilizados para adoção, permanecendo sob o cuidado de voluntários em lares
temporários. Segundo Ana, as famílias que identificaram seus cãezinhos no abrigo tiveram a possibilidade de deixá-los lá até conseguirem se restabelecer em casa. Os funcionários da Animacão se responsabilizaram pelos cuidados desses animais, oferecendo desde banho e tosa até a vacinação completa para a convivência segura dos cães no local.
No momento, em uma tentativa de disponibilizar um lugar coberto para os cães, o abrigo foi transferido para a quadra de basquete municipal de Campo Bom, localizada na Avenida dos Estados. O perfil do Instagram @enchenters_dogs divulga os 30 cães que permanecem no local em busca de um lar e solicita doações para manter o projeto ativo. n
CAMILLE MELLO SANDALLY RAUPP
Com as chuvas que atingiram o estado no mês de maio, equipes de voluntários se mobilizaram para realizar os primeiros socorros aos animais afetados. Neste período, prédios localizados na região central de Novo Hamburgo se
tornaram centros de cuidado e acolhimento para mais de 300 cães da região. Na rua Lima e Silva, no centro da cidade, um espaço comercial foi cedido para a equipe do projeto “Patas Vulneráveis”, que entre maio e junho abrigou por volta de 120 animais. Desses, a maioria foi adotado e, outros tantos, conseguiram
reencontrar seus donos. Atualmente, restam 9 cachorros em busca de um lar.
A coordenadora do projeto, Paola Renz, conta que as internações e castrações são custeadas pelo próprio projeto. Os animais mais agressivos contam com a ajuda de adestradores para a adaptação. “Dentro do abrigo o animal está estressado e
seu comportamento no local não pode ser tomado como parâmetro.”, explica. No bairro Ideal, apesar de a prefeitura de Novo Hamburgo ceder o prédio do antigo Hotel Fenac para abrigar cães resgatados, o fornecimento de luz e água precisou ser providenciado por voluntários. Os quartos foram transformados em
diferentes “alas” visando atender as diferentes etapas de recuperação. Uma das maiores dificuldades do abrigo é manter o apoio de voluntários, pois muitos deixam de comparecer com o passar do tempo. Quase todos os finais de semana os abrigos realizam feiras de adoção em busca de tutores para os animais. n
MÃE DE SEIS FILHOS, REGINA DE SOUZA
AGUARDA VOLTA AO
SEU LAR EM ABRIGO
LIA KIRCH
BIANCA AMÁBILE
Na ocupação Steigleder, em São Leopoldo, a família de Regina de Souza enfrenta uma realida -
de implacável desde a maior enchente registrada no Rio Grande do Sul, em maio de 2024. Em meio a ruas alagadas e destroços, ela e seus filhos são testemunhas vivas das desigualdades agravadas pelas crises climáticas.
Aos 36 anos, Regina é mãe de seis filhos e avó de um bebê e já enfrentou várias enchentes. “Mas essa foi a pior", ressalta ela ao recordar os momentos de
Com apenas 2 anos de vida, Rebeca esteve alojada em abrigos em duas situações diferentes
desespero ao carregar os filhos pela água gelada. "É difícil a vida na ocupação. Não tem água direito e, somente agora, a luz estava melhorando", lamenta ao refletir sobre as condições precárias de moradia.
Após as enchentes registradas em 2023, a família de Regina recebeu um auxílio de 2.5 mil reais do Governo do Estado, além de ajuda da igreja que frequenta, mas
Na maior tragédia climática do Rio Grande do Sul, os três ginásios de esportes da Unisinos, em São Leopoldo, tornaram-se referência no processo de acolhida às famílias atingidas. Uma cozinha solidária foi instalada nos laboratórios de gastronomia com o apoio de professores, alunos e voluntários, atendendo mais de 1.5 mil pessoas. Ao longo de três semanas foram servidas 2 mil refeições por turno, cuidando as restrições alimentares de vegetarianos, de bebês em fase de introdução alimentar, e pessoas alérgicos e disfágicas.
A professora da Escola de Saúde, Franciele Reche, disse que nos três primeiros dias a cozinha solidária funcionou como o apoio da Prefeitura de São Leopoldo. Após esse período, a universidade tomou à frente e foi instalada uma cozinha emergencial no espaço dos laboratórios dos cursos de Gastronomia
e Nutrição. “Para além do direito alimentar, a comida tem o poder de trazer afeto e acolhimento e esses momentos nos mostram que realmente fomos um lar”, enfatiza.
“Não tinha sensação melhor que olhar para o rosto de cada um e pensar que vencemos mais um dia", relata o aluno de Gastronomia, Diego Correa da Cruz, primeiro estudante a se voluntariar para atuar no local.
Durante os 21 dias de mobilização, os voluntários cozinharam 13 toneladas de carne, 3 toneladas de arroz e 3 toneladas de feijão, além de utilizarem 3 mil litros de leite e 5 mil ovos.
Com aproximadamente 220 mil habitantes, São Leopoldo registrou 180 mil desabrigados. Deste total, mais de 13 mil foram abrigados em albergues. No dia 29 de maio, o abrigo na Unisinos foi desmobilizado e as famílias acolhidas transferidas para o antigo Convento Monte Alverne. n
ISABEL PACHECO E FÁBIO FLORISBAL
neste ano o benefício segue em análise para liberação. "No ano passado perdi a casa totalmente e, desta vez, estragou o teto da casa que comprei na ocupação", relata Regina, cuja única renda é o Bolsa Família. Stefany de Souza, 17 anos, mãe de Lucas Gabriel, de 5 meses, estava grávida durante as cheias de 2023. "Foi difícil, pois perdi todas as coisas do bebê e demorei
muito para conseguir roupas para ele", relembra. Márcia Martins, secretária de assistência social de São Leopoldo, afirma que o município disponibilizou 130 espaços de abrigo, acolhendo mais de 14 mil pessoas atingidas pelas enchentes. “Seguimos levando alimentos e suprimentos para aqueles que permaneceram nas áreas alagadas", explica. n
“A FORÇA DA ÁGUA DERRUBOU AS ESTANTES”, RELATA COMERCIANTE
Após as enchentes de maio, lojas, restaurantes, mercados e pequenas empresas de Esteio perderem estoques, equipamentos e estruturas físicas. Uma das comerciantes atingidas pelas cheias é Isolda Siepmann, proprietária de um pequeno mercado no bairro Novo Esteio há 16 anos. "Jamais esperávamos que um dia isso fosse acontecer. Foi a primeira vez que a água entrou na loja e na casa", relata.
Segundo ela, a enchente atingiu o comércio enquanto a família dormia, sendo que um vizinho alertou sobre o avanço das águas. Mesmo colocando as mercadorias num lugar alto, todo o estoque do pequeno estabelecimento foi perdido. “A água veio com muita força e acabou derrubando as prateleiras”, explica.
Dias após a tragédia, ao retornar ao mercado, Isolda e o marido Rogério cogitaram fechar definitiva -
mente o estabelecimento e investir num novo negócio, em outro local. “O que nos fez voltar foi o carinho dos clientes que sempre nos encontravam na rua e perguntavam quando iríamos reabrir”, afirma.
Segundo cálculos do governo estadual, o impacto econômico das enchentes ultrapassa 10 bilhões de reais. No momento, comerciantes gaúchos dependem de doações e benefícios, como o Auxílio Reconstrução, um programa do Governo Federal que oferece 5,1 mil reais para famílias afetadas. Isolda e o marido foram beneficiados com esse valor, porém o montante recebido representa menos de 4% do prejuízo. Para solicitar o auxílio, os desabrigados ou desalojados devem preencher um formulário eletrônico disponibilizado pelas prefeituras municipais e consultar a disponibilidade do benefício no site do Governo Federal. n
Falar sobre a enchente no RS ou falar sobre o que sentimos e o que estamos sentindo é muito difícil.
Cerca de dois dias antes da grande enchente que inundou São Leopoldo, numa quinta-feira à noite, minha mãe deixou, eu e meu noivo, de sobreaviso, pois ele tem uma empresa de transporte, e caso ela precisasse, ela nos chamaria para ajudá-la a retirar suas coisas de dentro de sua casa. Na sexta-feira pela manhã, seis horas, ela ligou falando que poderíamos ir tentar tirar algumas coisas, visto que a chefe dela também é da Comissão de Crise do município de São Leopoldo, onde moramos, e havia lhe dito que seria melhor.
Fomos até lá e tiramos o que conseguimos, e, em seguida, fomos para meu apartamento, permanecendo até aquele sábado. Onde moro faltou água; meu tio, que mora na Feitoria, nos convidou para irmos para a sua casa, visto que seria melhor a dinâmica, desde termos água para beber, tomar banho, e até mesmo cozinhar. Não durou muito tempo e a água faltou lá também. Na segunda-feira, voltamos com meus pais para o nosso apartamento, e eles permanecem até hoje por lá.
Foram 20 dias que a casa dos meus pais ficou alagada até o teto. Foram 20 dias de angústia. Hoje, escrevendo isso, já conseguimos limpar a casa deles, porém as perdas materiais foram grandes. Ainda não sabemos como ficou a estrutura da casa, pois só com o passar dos dias iremos saber. Ah, e sim, quase me esqueci de mencionar onde moravam: Rua Luiz Pedro Daudt. Rua em frente ao dique de São Leopoldo, perto da Rodoviária, onde foi construído em 1973. Concidentemente meu trabalho do grau A foi sobre isso. Sobre eu crescer ouvindo histórias do muro, sobre o dique, sobre a rua, sobre os moradores, sobre as casas e hoje tudo isso é mais uma história. Uma his-
tória que ficará marcada para sempre em todos nós. Em quem foi atingido diretamente ou indiretamente.
Sobre o futuro? Não sabemos. A ideia dos meus pais é reformar a garagem deles, que é mais alta, juntamente com o pátio, e fazer outra casa para eles, pois não querem sair de lá.
Eu, do fundo do meu coração, não sei mais o que escrever, pois é muito difícil expressar em palavras tudo o que vimos. Ver meus pais chorarem quietos, e perderem tudo, me deixa muito mal, ainda mais por não conseguir fazer essa dor deles passar. Porém, estou fazendo o que eu posso, dando segurança e amor, que é o que eles, nesse momento, mais precisam. Espero que as pessoas
tenham mais consciência sobre o que ocorre com o nosso planeta. Claro que os políticos têm grande parcela de culpa nisso, pela falta de manutenção e empatia em diversas questões. Mas também, a comunidade precisa ser responsabilizada, pois a mãe natureza dá sinais e pede socorro. O Homem não está nem aí. É lixo em excesso, construções em excesso, tudo em excesso. Que possamos ter mais visão de mundo, que possamos ter mais amor no coração. Onde vamos parar? Como isso tudo vai acabar? n
No sábado (4/5), pela manhã, faltavam 30 centímetros para a água passar por cima do dique da Rua Luiz Pedro Daudt
Imagens de antes e depois da tragédia na casa de Leticia e Leandro de Paula, ambos registrados olhando o muro, na página 2
Quarta-feira dia 8 de maio de 2023, uma semana após um dos maiores desastres climáticos que o Rio Grande do Sul já teve que passar. Ruas cobertas de água, animais morrendo afogados, vidas ceifadas, danos materiais e cidades que deixaram de existir no mapa. Mas por que isso aconteceu? Porque poderá acontecer de novo e ainda pior se o descaso com o meio ambiente continuar; se as pessoas e os governantes que elegemos continuarem tratando uma crise climática como natural, menosprezando a ciência e investindo milhões no próprio bolso, fazendo com que os mais pobres paguem de novo e de novo. Como ser humano ciente da nossa batalha e dos avanços das mudanças climáticas, não há mais espaço para negacionismo.
No bairro onde moro, em Gramado, a três quadras da minha casa, muitas famílias foram retiradas de suas casas em função de uma enorme fenda que se abriu no chão. Não é a primeira vez que isso acontece na cidade. Na última chuva, em novembro de 2023, um prédio construído de forma indevida, na encosta de um morro, foi ao chão. Na ocasião, nenhuma vida foi levada, mas muitas famílias tiveram também que deixar suas casas e o bairro Três Pinheiros que ficava mais abaixo do prédio, foi totalmente evacuado devido a ganância de empresários, que veem a minha cidade como uma galinha dos ovos de ouro.
Algumas edificações em Gramado vêm sendo construídas de forma desenfreada, em qualquer metro quadrado existente, e o setor imobiliário cobra valores inimagináveis para prédios que estão fadados à destruição. Nesta que foi a maior enchente de todos os tempos, houve desmoronamentos, quedas de árvores e sete vidas perdidas em um deslizamento de terra no interior do município. Dois dias depois que os últimos corpos foram encontrados, apenas uma nota de pesar foi adicionada ao instagram da prefeitura. A preocupação maior que vi foram algumas pessoas da cidade, através de suas redes sociais, se manifestarem assim: “A máquina de fazer dinheiro não
pode deixar de operar. E o turismo? O aeroporto está fechado, vamos colapsar! E se trouxéssemos o desfile de Natal, que ocorre em dezembro, para o centro da cidade novamente?”
Trabalho em uma escola de Inglês que não parou um minuto sequer desde o início da tragédia. Em alguns momentos sinto que estou em uma realidade completamente diferente assim que entro porta adentro. Questiono meus alunos se está tudo bem com suas casas e com as famílias e recebo apenas um aceno de cabeças consentindo que tudo está bem. Não me entendam mal, que bom, que bom que nada de ruim aconteceu, que eles não foram afetados, mas em certos momentos eles riem e brincam e eu simplesmente não consigo ter estômago. Seiscentas famílias desalojadas, animais perdidos, previsão de chuva para os próximos dias. Sinto que houve momentos em que dissociei, não sabia se es-
tava na pandemia ou não, entrei no mercado e levei a mão no bolso procurando uma máscara, uma lembrança amarga de dias sombrios. Prateleiras vazias, filas em postos de gasolina escancarando uma ganância e falta de empatia; não aprendemos nada com dois anos de pandemia.
Na ocasião, meu celular ficou sem sinal por cinco dias, a partir do feriado de primeiro de maio. Nesse dia acabei indo à casa dos pais do meu namorado, e quando entrei me deparei com um pequeno rádio sobre a ilha da cozinha. Eles acompanhavam as notícias sobre o que estava acontecendo, pois estavam sem internet e sem sinal de celular. Por uma fração de segundos eu sorri pensando na minha futura profissão. Acho que uma das principais formas de contribuição que nós jornalistas podemos fazer é dar algo para o mundo, visibilidade de forma afetiva, com informação
de verdade. Em um momento onde não sabemos “em que pé” estamos, a comunicação por rádio se torna primordial, pois com o advento da internet este veículo quase se tornou obsoleto. Além de informar, conscientizar também se torna papel dos jornalistas, relembrar de fatos que já ocorreram para usar como comparativo. Imagine só se não houvessem jornalistas e fotojornalistas que tivessem documentado a enchente de 1941. É redundante, mas necessário, aqueles que não aprendem com a própria história estarão fadados a repeti-la.
Um mês depois do primeiro dia da enchente, em Gramado foram contabilizadas 2.088 pessoas desalojadas. Sem respostas de quando, ou se, poderão voltar para suas casas. A solução? Somente para alguns pontos de evacuação, um pluviômetro foi utilizado pela prefeitura para informar se as pessoas poderão
permanecer ou se terão que sair de casa. Solução que não contempla o meu bairro.
Sei que não existe solução imediata, não é como se pudéssemos consertar as ruas com as mãos. É urgente que tenhamos profissionais de qualidade para acompanhar a situação de calamidade, porém, quem deveria falar por Gramado vem se mantendo calado, ou atendo-se a emitir notas por um gabinete de crise, afirmando que “tudo vai melhorar”. Trazer o governador do Estado, que por si só já está prestando um trabalho mediano para toda a população do Rio Grande do Sul, não acalenta nenhuma noite de sono das mais de duas mil pessoas sem perspectivas sobre a volta às suas residências.
Acho que no fim, o que desejo por agora e para os próximos meses, parafraseando Teixeirinha, é que nós, gaúchos, possamos mais uma vez ver o céu azul do Rio Grande. n
Parar para refletir sobre os eventos do mês de maio provoca uma mistura de sentimentos intensos e conflitantes. A realidade parece surreal, difícil de aceitar. À medida que a situação se agravava, o medo, a ansiedade e a incerteza afloravam, juntamente com um forte desejo de ajudar. Inicialmente perdida, fui movida pelo desejo
de agir. Nos primeiros dias de caos, entre lágrimas e questionamentos internos, percebi que não podia mais ficar parada. Decidi me voluntariar e participei de um esforço incansável para ajudar os que estavam em momentos de vulnerabilidade e tristeza.
Logo de início, uma onda de animação tomou conta de mim. Milhares de doações chegaram, acompanhadas por um fluxo constante de novos voluntários. Vi pessoas que,
sem dormir, se dedicavam mais ao próximo do que a si mesmas. Conheci aqueles que, por vários dias, entraram nas águas para salvar animais. Presenciei olhares marcados pela apreensão, cansaço e aflição, mas também pela esperança. Uma esperança numa sociedade mais humana e acolhedora, que se uniu em torno de um único objetivo. Em meio a essa união, algo surpreendente aconteceu: Grêmio e Inter, tradicional-
Propriedade na Rua das Flores, no bairro Porto Blos, ficou completamente submersa pela água
mente rivais, deixaram de lado suas diferenças e abraçaram a mesma causa. Para uma amante do futebol como eu, isso foi surreal. Contudo, infelizmente, também pude ver o lado mais sombrio da natureza humana. Pessoas se aproveitando da situação para benefício próprio, tirando o pouco de quem já havia perdido tudo. Falsos voluntários furtando e desviando doações. Essa realidade é difícil de aceitar e
ainda mais difícil de entender. É desumano, criminoso.
Agradeço diariamente por saber que todos que amo estão bem. Os acontecimentos recentes serviram como um aprendizado duplo: há muitas pessoas boas, dispostas a ajudar e amar o próximo, mas, por outro lado, ainda existem aqueles de índole má. Essa divisão entre a solidariedade e a maldade humana continua me marcando profundamente. n
Em maio de 2024, a maior enchente de todos os tempos atingiu nosso amado Rio Grande do Sul, e com isso, tivemos que unir esforços para ajudar a todos que se encontravam naquela situação tão difícil. Coube a nós, voluntariamente, realizarmos resgates de pessoas, animais, participar através de doações e todo tipo de ajuda humanitária possível. Demonstramos nossa solidariedade e empatia com ações diárias em prol de tantas vidas afetadas pela tragédia.
Como voluntária, frequentei o abrigo do SESI, localizado em Cachoeirinha, onde muitas famílias estavam abrigadas e pude notar que muitas pessoas vinham dos bairros mais pobres da cidade e arredores. Ou seja, a classe econômica mais baixa da população, que já não tinha tantas condições, perderam tudo o que batalharam para conquistar. Sabemos que todos foram atingidos em maior ou menor escala, inde-
pendentemente de sua classe social, mas infelizmente, quem mais saiu no prejuízo foram os bairros mais carentes, precários de higienização e saneamento básico, aos quais, as políticas públicas normalmente fecham os olhos. Fiz voluntariado com as crianças que estavam nesse abrigo e levei doações de brinquedos, livros educativos, cadernos, folhas, lápis de cor, canetinhas e mais materiais. Criei diversas atividades, como pinturas, leituras, jogos de futebol, corda, entre outros. Cuidei em torno de 30 crianças de diversas idades. Elas queriam brincar, dançar, desabafar e se-
Asituação atual do RS está critica. Após essa tragédia que passamos, as mudanças parecem estar cada vez mais devagar, o atual governo tinha noção da situação antes mesmo de toda essa situação, porém não fez absolutamente nada para evitar o desastre.
Muitos não esquecem a sensação de desespero em ter que sair das suas casas, às quais talvez nem voltarão pelo fato de tudo estar completamente destruído. Fico aliviada em saber que não aconteceu nada com a vida de quem amo, porém, no que se refere a perdas de bens materiais, meus pais perderam boa parte do que era a empresa que ambos tinham conquistado ao longo de muitos anos. Dói saber que tudo o que construíram com anos de esforço, a chuva levou. Levou as conquistas fi-
nanceiras deles pra longe, tão rápido que não deu tempo de salvar nada. Equipamentos, carros, móveis, o que puderem imaginar a água tirou de nós. Mas sempre digo, sou grata por ver preservadas as vidas, tanto dos meus pais, como dos seus funcionários.
Muitas pessoas não tiveram ainda como se reerguer, ainda dependem de abrigos e ajuda humanitária. Pelas notícias, está tudo um caos o que deveria estar organizado. O sistema falha com as pessoas, se não fosse a ajuda das pessoas civis, com doações e ajuda no corpo-a-corpo, não sei como seria. Mas, a real ajuda vai ser realocar as pessoas para que consigam seguir com suas vidas de maneira boa e funcional. Aguardaremos a ação do governo para a reconstrução de todas as vias, ruas, casas, prédios, além do devido cuidado para com as pessoas e com os animais abandonados.
rem escutadas. Receberam minha escuta, doação e abraços. Em troca, ganhei muito amor e um respiro nesse momento tão difícil que presenciamos. Acreditava que apenas elas deveriam receber amor e carinho, mas no final, quem também recebeu fui eu. E isso não tem dinheiro nenhum no mundo que pague, pois trata-se de uma recompensa valiosa. Pude
presenciar muitos choros entalados, angústias, olhares perdidos sem entender o que de fato estava acontecendo. Acredito ser necessário um bom tempo para que possamos digerir tudo. Ao mesmo tempo, também vi muita alegria, esperança e gratidão por parte de todas aquelas crianças, ao receberem o que os voluntários estavam dispostos a oferecer, e, principalmente, por estarem vivas. Com certeza, após essa experiência que considerei transformadora, saio muito grata por poder ser um instrumento de mudança, amor e empatia, sem esperar nada em troca. Foi um curto espaço de tempo, mas elas marcaram profundamente a minha vida e espero que, mesmo minimamente, eu possa ter feito elas se sentirem felizes e acolhidas naqueles momentos. Que nunca percamos essa essência de criança, de brincar, acreditar e viver feliz. A pureza e alegria delas nos faz acreditar em um mundo melhor. n
Ainda, a organização na parte dos abrigos é importantíssima nesse momento, toda assistência e segurança precisa ser priorizada também. Triste olhar as redes sociais e ver que está tendo casos de abusos, estupros, e assédios dentro desses locais que precisam de atenção. Não podemos esquecer da assistência psicológica
que se fará necessária às vitimas desta tragédia, de forma gratuita. Teve gente que não apenas perdeu seus bens materiais, mas perderam entes queridos. Devemos cobrar mudanças dos nossos governantes!
Organização é fundamental, existem muitas pessoas capacitadas que pensando juntas, conseguiram
dos pais da autora, localizada no Centro de Canoas, apresentando as marcas da enchente
montar um modo de fazer as coisas funcionarem. Até lá, toda ajuda é insubstituível! Esperamos que todo esse caos passe logo. Meu modo de ajudar tem sido divulgar através das redes sociais as demandas solicitadas; ajudar na organização e processos nos abrigos, além de limpeza das casas afetadas. n
Era abril, tudo ia bem, até que a segunda-feira começou e, pela manhã, a chuva já iniciou. Lembro que os colegas de trabalho falaram que a chuva persistiria a semana toda, argumentei que achava que não. Infelizmente, a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul se consagrou nos dias que vieram a seguir.
Os dias foram passando, e eu ali, acompanhando tudo o que estava acontecendo pela imprensa, principalmente telejornais e pelas redes sociais. A ansiedade que até então estava controlada, começou a aparecer através de dor de cabeça, desânimo, preocupação, dor de estômago e por aí vai. Em meio a tudo isso, havia extraído o último dente siso, o que ocasionou mais dias em casa, consequentemente mais tempo para se preocupar com tudo.
Voltei para o trabalho, estava tudo bem dentro do possível, e durante uma ida na farmácia para comprar remédio, a farmacêutica me disse que naquele dia o remédio para dor de cabeça estava alto em vendas. Os dias foram passando, eu e minha família não fomos atingidas, porém seguimos ajudando como pudemos. Depois de alguns dias, senti que estava bem e que tudo parecia estar se colocando no seu devido lugar, algo que a ansiedade dos últimos dias havia me tirado.
As reportagens davam conta de que em algumas áreas as pessoas já estavam voltando para casa, onde a água já havia baixado. Tudo que se via era lama, destruição e lembranças, que acabavam de virar entulho pela enxurrada que levava vidas e sonhos. Quando no dia 23 de maio a chuva intensa volta e determinados bairros começam a ser inundados novamente, o cenário de esperança e luz no fim do túnel ficava um pouco mais distante. Sentimentos como medo, tristeza e pânico contribuíram para que tudo aquilo que nem havia terminado, acontecesse novamente. n
Abusca pela tranquilidade através da chuva virou um pesadelo durante os últimos acontecimentos. Em algum momento, será que a mansidão que as águas traziam a todos voltará? O medo, a angústia, o sentimento de impotência crescendo… meu querido Rio Grande do Sul: vamos te reerguer.
As noites às claras, o choro intenso, grata por estar bem fisicamente, apenas. Carrego em meu peito o sentimento de derrota, a dor da impotência e a soma de emoções afloradas pelo caos. A empatia, vocábulo demasiadamente utilizado há mais de mês, se transfere entre a população gaúcha de forma brusca e avassaladora, tal qual uma borrasca. Como é bom olhar para o seu povo e sentir orgulho pela força e cooperação. Um país que nos momentos de adversidade, a solidariedade é um traço que ressalta o melhor da alma da sua nação.
Um estado marcado pela sua beleza natural e pela força do seu povo jamais irá parar, somos fortes, bravos e guerreiros; o mundo descobre quem somos e de onde viemos. E como Teixeirinha canta na tão celebrada música Querência Amada, “Quem quiser saber quem sou, olhe para o céu azul e grita junto comigo: VIVA O RIO GRANDE DO SUL”. n
PROJETO REALIZADO EM PARCERIA COM O SEMAE UTILIZA BANANEIRAS PARA FILTRAGEM COMO
SOLUÇÃO AOS PROBLEMAS DE SANEAMENTO BÁSICO ENFRENTADOS PELA COMUNIDADE INDÍGENA KAINGANG, DE SÃO LEOPOLDO
GABRIELA PANASSAL MÔNICA LIMA
Aaldeia Kaingang Por Fi Ga, com o auxílio do Serviço Municipal de Águas e Esgotos (Semae), de São Leopoldo, ganhará um novo sistema de saneamento para o tratamento de esgoto. Responsáveis pelo projeto, o assessor de educação ambiental, Daniel dos Santos, e o arquiteto e assessor técnico, Leonel Moura, relatam que o projeto surgiu a partir de denúncia dos próprios indígenas em relação a problemas no sistema de saneamento implantado na aldeia. “A comunidade ocupa a área em São Leopoldo há 15 anos, mas a estrutura de saneamento era deficitária, então o Semae se envolveu para sanar esse problema”, afirma Daniel.
Segundo Daniel, o modelo desenvolvido gera menor custo ambiental e econômico, além de atender melhor a realidade da área rural, com
baixa densidade demográfica. “Cada tanque tem um custo material de 900 reais. Somada as caixas de passagem, tubulações e manutenção, a estrutura totaliza 1.9 mil reais por casa”, explica. Cada sistema abrange até três famílias, com tanques individuais ou coletivos. No momento, o primeiro tanque está em desenvolvimento e abastecerá duas casas e nove pessoas.
Os tanques são de alvenaria com camadas filtrantes, em que há a segregação dos dois tipos de esgotos que saem das moradias: a água negra, do vaso sanitário, e a água cinza, utilizada para as demais tarefas diárias. Eles possuem um sistema de filtros com fluxo ascendente, no qual o esgoto desce até embaixo, sobe por dentro do tanque conforme ele vai enchendo, até atingir a zona de raízes de bananeiras plantadas na comunidade.
As bananeiras geram um consumo de água de 30 a 100 litros por dia e são responsáveis por evaporar o líquido e consumir os nutrientes, transformando o esgoto em biomassa, evitando a degradação do solo. Há um manejo desses frutos, que são aproveitados como alimento, enquanto a planta é podada. “Estamos usando a própria natureza para resolver um problema de poluição e transformando em alimento”, relata Daniel.
Os próprios moradores es-
tão construindo o primeiro tanque, com monitoramento e auxílio técnico do Semae. As próximas estruturas serão desenvolvidas a partir de convênio com a comunidade para que a renda fique na própria aldeia. O cacique Elton Nascimento, 25 anos, relata que será uma alegria
para a comunidade receber essa solução. Ele ressalta que somente após a instalação dos tanques terão certeza em relação à eficácia do seu funcionamento, evitando que o esgoto transborde e gere riscos à saúde da aldeia. Elton reforça a importância do projeto e de sua
Primeiro tanque de tratamento de esgoto está em construção e abastecerá até nove pessoas
veiculação. “Precisamos divulgar para alcançar visibilidade para a luta indígena. Os vizinhos de outros municípios não sabem que existe aqui uma comunidade indígena. Eu acho importante eles saberem que existe, que nós estamos aqui e estamos vivos”, enfatiza. n
Ainiciativa do “Coletivo Mato do Júlio” tem o objetivo de oferecer visibilidade e lutar pela preservação do resquício de mata Atlântica presente na cidade de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul. O projeto acumula mais de 28 mil seguidores nas redes sociais e conta com 15 voluntários ati-
vos que atuam no regates de animais silvestres, plantação e doação de mudas, além de estimular a educação ambiental e o desenvolvimento de pesquisas científicas. Considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Federal, a Mata Atlântica apresenta uma biodiversidade oito vezes maior do que a da Amazônia, sendo refúgio para inúmeras espécies endêmicas de fauna e
flora, incluindo espécies ameaçadas de extinção. Professor de história, ambientalista e mestrando em Ciências Políticas da UFRGS, Leonardo Costa se vale de um acontecimento recente para explicar o impacto que o desmatamento do Mato do Júlio causaria aos moradores. Segundo ele, Cachoeirinha é uma cidade de várzea construída na parte mais baixa do rio Gravataí,
onde ele se encontra com o Guaíba, o que a torna passível a alagamentos. “Sempre alagou, mas nunca como em 2024”, ressalta. Após a análise de dados divulgados pelo MapBiomas e da defesa civil de Cachoeirinha, o coletivo concluiu que cerca de 35% das águas das enchentes ficaram acumuladas no Mato do Júlio, impedindo seu alastramento para outras regiões. “Se
tivéssemos retirado o mato somente da parte da Freeway até a avenida Flores da Cunha, 7 ou 8 mil pessoas a mais teriam sido afetadas”, reforça Leonardo. Segundo o Plano Diretor de Cachoeirinha, o Mato do Júlio é uma área de especial interesse ambiental que deveria ser estudada e transformada em uma unidade de conservação, evitando a exploração imobiliária do local. n
LOCAL ENTRE OS BAIRROS
ROSELÂNDIA E RINCÃO
GAÚCHO É CONHECIDO
COMO “TRECHO DA MORTE” E REGISTROU 14 ÓBITOS SOMENTE EM 2023
JONATAS DE SOUZA
LUCCA EDUARDO SOARES ROSA LUIS HENRIQUE MIGUEL
Seu Antônio Luís é morador do Bairro Roselândia, em Novo Hamburgo, localizado às margens do quilômetro 233 da BR 116. “Eu cheguei no bairro em 1984 e meu primeiro emprego na região foi na indústria calçadista, na antiga Fleck & Fleck”. Para chegar ao trabalho, ele tinha que atravessar a rodovia em direção ao bairro Rincão Gaúcho, em Estância Velha. Entre todas as travessias, não esquece de uma. “Foi quando uma das minhas vizinhas morreu atropelada indo para o serviço”. O acidente reportado por Antônio aconteceu em novembro de 1986.
Quase 40 anos depois, o local voltou a registrar graves acidentes e ficou conhecido como “trecho da morte”. Somente no ano passado, 14 pessoas perderam a vida no trecho. Presidente da Associação de Moradores do Bairro Roselândia, Flávio Boff vive no local há quase quatro décadas. “Os problemas na pista são antigos, pois desde que moro aqui, vivo essa insegurança”, afirma.
Mariele da Silva reside no bairro Rincão Gaúcho desde que nasceu e relata que os problemas na rodovia se intensificaram nos últimos 15
anos. “Hoje já não existe mais os chamados ‘horários de pico’, pois qualquer momento se tornou perigoso”, enfatiza. Para reduzir o número de acidentes no trajeto, moradores dos dois bairros se reuniram em protesto que culminou na criação de uma Comissão Especial, formada por vereadores hamburguenses. Entre as demandas solicitadas está a construção de uma passarela para os pedestres não
atravessarem a rodovia a pé, prática comum na movimentação entre os bairros. “Há muito fluxo e não tem outra forma de cruzar a rodovia, a não ser caminhando até o posto Sapatão, que fica distante de grande parte do bairro”, completa Mariele. Líder da Comissão Especial, o vereador Ênio Brizola disse que as obras no trecho precisam ser contempladas pela Lei de Diretrizes Orça -
mentárias (LDO), para que possam estar contempladas no próximo orçamento. A superintendência regional do DNIT, órgão responsável pela construção de 19 passarelas ao longo da BR 116 entre Esteio e Novo Hamburgo, justifica que o contrato vigente não prevê a instalação de passarelas no trecho correspondente aos bairros em questão. Das 19 passarelas previstas, cinco foram erguidas em
Novo Hamburgo, mas nenhuma no trecho entre os bairros Roselândia e Rincão Gaúcho. “Se não houvesse tanta displicência com os nossos bairros, talvez estas mortes não tivessem acontecido”, lamenta Flávio Boff. Atualmente, o DNIT trabalha na criação de um acesso seguro, via acostamento, ao bairro Rincão Gaúcho, que prevê maior segurança aos motoristas. n
AUGUSTO BECKER
Omunicípio de Portão notificou um aumento no registro dos casos de dengue. De acordo com levantamento da Secretária da Saúde, somente nos primeiros meses de 2024 houve
um acréscimo de quase 600% nos casos identificados em comparação ao mesmo período do ano passado.
Para Vianei Stein, ex-agente de saúde da cidade, a situação é alarmante e exige medidas urgentes das autoridades de saúde. "De todos os anos em que
trabalhei ajudando a combater o mosquito, esse está sendo um dos mais preocupantes. Os casos não param de crescer e algo precisa ser feito”, disse.
As autoridades de saúde indicam vários fatores para o aumento dos casos. Um dos principais é o descuido com a
limpeza de locais que acumulam água parada, ambiente ideal para a reprodução do mosquito transmissor. O descaso com medidas básicas de prevenção, como o uso de repelentes e telas nas janelas, também é destacado como um dos motivos para a rápida propagação do vírus.
Moradora de Portão, Liliane Becker enfatiza que a situação está cada vez mais crítica. Segundo ela, há poucas ações na cidade para combater a proliferação da dengue. “Eu não vejo as autoridades de saúde. Ninguém passou na minha rua ou na minha casa até agora", critica. n
AS ESTUDANTES
CAMILY E LAURA
UTILIZARAM MATERIAIS
SUSTENTÁVEIS PARA CRIAR OS ABSORVENTES SUSTAINPADS, UMA SOLUÇÃO CRIATIVA, ACESSÍVEL E QUE PROMOVE A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
CAROLINE
Com o intuito de combater a pobreza menstrual, realidade que aflige uma a cada quatro mulheres no Brasil segundo dados da ONU, as estudantes do Campus Osório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Camily Pereira dos Santos, 20 anos, e Laura Nedel Drebes, 21 anos, desenvolveram o projeto "SustainPads: absorventes sustentáveis e acessíveis a partir de subprodutos industriais".
Orientado pela professora Flávia Twardowski, o projeto visa não apenas oferecer uma solução criativa para a pobreza menstrual, mas também promover a inclusão social e a consciência ambiental.
Com o custo de produção de 2 centavos por unidade, os absorventes são produzidos a partir das fibras da palmeira juçara e do pseudocaule da bananeira, materiais mais baratos e ecologicamente sustentáveis em comparação com os absorventes convencionais feitos de algodão e plástico.
“Já fomos procuradas por empresas nacionais e internacionais, mas a produção dos absorventes em larga escala nunca avançou. Acreditamos que mobilizar esforços na produção do Sustainpads represente uma mudança estrutural dentro de uma empresa que produz absorventes convencionais”, explica Camily. “Nosso sonho é oportunizar e fazer com que o SustainPads seja, de fato, ofertado como um produto acessível e ecológico para a sociedade. Para isso, precisamos que empresas queiram desenvolvê-lo para atender a população carente”, afirma.
Laura Drebes, a professora Flávia Twardowski e Camily Pereira exibem os materiais sustentáveis utilizados na fabricação dos absorventes
A inspiração para o projeto surgiu de uma conversa entre Camily e sua mãe que, quando jovem, enfrentou dificuldades para ter acesso a absorventes adequados. A partir daquele diálogo, as estudantes decidiram inovar, valendo-se da ciência e da tecnologia para criar uma solução sustentável e inclusiva à pobreza menstrual.
“O SustainPads oportuniza que cada mulher contribua para o uso mais consciente de matérias-primas utilizadas industrialmente, colaborando com o meio ambiente. Desse modo, o projeto abrange o tripé da sustentabilidade: âmbito social, econômico e ambiental”, pontua Laura. “O objetivo do projeto foi justamente desenvolver um produto acessível a pessoas em situação de vulnerabilidade.
O SustainPads é a prova de que nós conseguimos desenvolver essa tecnologia para as mulheres”, conclui.
Segundo o “Fluxo sem Tabu”, iniciativa que fornece itens de higiene íntima para pessoas em situação de vulnerabilidade, a pobreza menstrual é uma questão urgente que afeta milhões de mulheres em todo
o mundo, gerando não apenas problemas de saúde, mas também impactos sociais, como a falta de frequência escolar durante o período menstrual. No Brasil, aproximadamente 23% das meninas entre 15 e 17
Os Sustainpads contêm material biodegradável e tecido exterior lavável, sendo produzido ao custo de 2 centavos
anos enfrentam dificuldades para adquirir produtos de higiene menstrual seguros. O custo da menstruação é alto para quem tem pouco. Quem menstrua gasta, em média, 12 reais em absorventes descartáveis todos os meses. Isso equivale a uma despesa de 6 mil reais durante todo o período fértil. De acordo com um relatório do Fundo de População das Nações Unidas, produzido em parceria com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), aproximadamente 321 mil meninas frequentam escolas onde não há banheiros em condições adequadas. Entre as 60 milhões de pessoas que menstruam no país, 15 milhões não têm acesso a produtos adequados de higiene menstrual. n
TRADIÇÃO NO LITORAL NORTE DO RIO GRANDE DO SUL DESTACA A INTERAÇÃO ENTRE HUMANOS E ANIMAIS, PRESERVANDO A CULTURA LOCAL E O MEIO AMBIENTE
CAROLINE LOPES
LARA
Em Tramandaí, um espetáculo raro encanta moradores, turistas e estudiosos. A pesca cooperativa, em que os Botos-de-Lahille e pescadores trabalham juntos para capturar tainhas, é uma tradição preservada ao longo dos anos, reforçando a importância da convivência harmoniosa entre homem e natureza.
Durante a pesca, os botos avistam os cardumes de tainhas e os conduzem em direção às margens do Rio Tramandaí, onde os pescadores aguardam com as tarrafas em mãos. Com gestos sutis, feitos com a cabeça ou movimentos da nadadeira caudal, os botos indicam o momento certo para os pescadores lançarem suas tarrafas. A relação entre pescadores e botos vai além da pesca. Há um vínculo de afeto e respeito mútuo. Cada boto é reconhecido por características únicas e chamado pelos nomes.
Renan Schmidt, de 16 anos, que já pescou 121 tainhas em apenas um lance de tarrafa, indica que a pesca cooperativa ainda tem pouca visibilidade. “Muitas pessoas não têm nem ideia dessa prática maravilhosa em que ocorre a cooperação dos pescadores e dos botos para a captura do peixe. Agradeço todos os dias por presenciar essa arte e essa interação", afirma.
Os movimentos da pesca no rio Tramandaí são sempre iniciados pelos botos, sem qualquer treinamento por parte dos pescadores, o que torna a pesca cooperativa ainda mais inusitada. "Os botos mostram onde está o cardume levantando o bico ou dando um pulo para fora d'água", explica Renan. "Os botos aju-
Botos indicam ao pescador o momento exato de lançar a tarrafa na água
dam muito na captura, pois pode acontecer de o cardume estar muito longe da margem do rio onde não conseguimos alcançar com a tarrafa, então o boto ‘assusta’ o cardume para a beira”, explica.
A continuidade dessa prática enfrenta desafios, especialmente com o desenvol -
vimento urbano da região. A construção de uma nova ponte pode afetar o ambiente natural dos botos e das tainhas. Para preservar essa tradição foram implementadas medidas legais para proteger as barras de Tramandaí e Imbé. A pesca cooperativa foi reconhecida como um im-
portante patrimônio cultural brasileiro, sendo registrada no livro de Registro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A interação entre botos e pescadores na barra do rio Tramandaí é um exemplo inspirador de como a colaboração
entre humanos e animais resulta em benefícios mútuos. Essa tradição não só sustenta a comunidade local, mas atrai a admiração de turistas que têm a oportunidade de acompanhar, nas margens do rio, a relação construída entre botos e pescadores na captura da tainha. n
EXERCÍCIOS FÍSICOS
SÃO APRIMORADOS E INOVADOS PARA OFERTAR AULAS DINÂMICAS
CAPAZES DE EXTRAIR O MELHOR DESEMPENHO DAS ATLETAS
CHRISTIAN STÄHLER RODRIGO AUTH
Com o protagonismo e visibilidade do futebol feminino, a escolinha da Associação Bom de Bola, situada em Tupandi, tem se destacado pela inclusão de meninas em seus programas de treinamento. Idealizador do projeto, Everton Mergen enfatiza que essa transformação é respaldada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
De acordo com Mergen, o cenário tem favorecido a democratização do futebol feminino, visto que ações incentivam os clubes a aderirem à modalidade. “Isso acaba motivando as pequenas escolas a seguirem essa iniciativa, formando atletas de qualidade que possam, num futuro próximo, integrar grandes times”, aponta o tupandiense. “Adotamos a inclusão da categoria feminina quando notamos o real interesse dos pais em inscrever suas filhas no projeto. Diante disso, percebemos a necessidade de incentivar a formação das primeiras turmas,” acrescenta o idealizador.
Atualmente, a escolinha conta com 28 meninas nas cate-
gorias sub-11, sub-13 e sub-15. Mergen ressalta que, embora equilibrar a participação de meninos e meninas seja um objetivo, ainda não é possível estabelecer comparações, visto que há maior demanda na atividade pelos garotos. "Competições e torneios ainda são predominantemente masculinos. No Vale do Caí, as escolas estão em processo de mudança para que, em breve, possamos construir e atingir um quadro similar no futebol e futsal feminino regional, como já ocorre há
Sofia Melo da Costa, de rosa, do time Bom de Bola, é marcada pela atleta do Casablanca, de Bom Princípio, em partida amistosa
anos com o público masculino”, projeta o profissional.
O treinador da escolinha, Kauê de Mello, observa que é essencial realizar adaptações na condução dos treinos para atender às necessidades das meninas. “Elas desenvolvem atividades semelhantes às dos meninos, porém, há uma cobrança menos intensa nos exercícios físicos. Avaliamos e compreendemos as diferenças do corpo feminino e seu desenvolvimento, bem como os aspectos culturais aos quais
são expostas. Isso tudo faz com que tenhamos uma delicadeza maior nas correções e evoluções das atividades”, aponta o professor.
O educador enaltece que a motivação é fundamental para garantir que as meninas se sintam empoderadas e capazes dentro de campo. "O nosso intuito é convencê-las a usufruírem dos recursos esportivos com prazer, de modo que consigam reconhecer sua valorização para o grupo", afirma Kauê.
Sofia Melo da Costa, 14 anos, é um exemplo de como o futebol pode transformar vidas. "Quando comecei a jogar, me senti confiante e fiz novas amizades. Isso me ajudou a perceber que vários ramos não são apenas direcionados para os homens, mas também para as mulheres", descreve a atleta. Ela finaliza dizendo que se inspira na jogadora Marta, eleita em seis oportunidades a melhor do mundo, e que enxerga nela um modelo de superação e talento a ser traçado. n
Aarte pode ajudar na expressão das crianças que vivem momentos traumáticos, disse a voluntária Gabriela Frison, estudante de História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ao enfatizar a importância
do trabalho voluntário que realizou em seis abrigos de São Leopoldo. “Por meio de oficinas artísticas elas conseguem se distanciar do cenário em que estão inseridas e buscar um refúgio para viver algo legal”, relata. Em parceria com Luiza do Carmo, estudante de Teatro na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), a dupla
elaborou oficinas de artes visuais voltadas às crianças desabrigadas pelas enchentes. O projeto iniciou com uma vaquinha no Instagram através da qual as amigas arrecadaram mais de 400 reais. O recurso foi destinado para a compra de pincéis, tintas, garrafas e caixas utilizados nas atividades.
Segundo Luiza, as oficinas contemplaram dinâmicas de
desenho livre, de retrato uns dos outros, confecção de carrinhos de sucata, artesanato, e técnicas de recorte e colagem. “Em muitos casos as crianças se expressavam desenhando nuvens, chuvas e elementos que remetiam ao cenários que estavam vivendo, mas incentivamos a desenhar o sol e um arco-íris para tentar mostrar que aquilo tudo era
passageiro”, enfatiza. Gabriela relata ainda que, apesar do momento conturbado, as oficinas permitiram que os participantes pudessem desenvolver suas aptidões artísticas num processo de autodescoberta. “Gosto muito de dar aula e essa experiência foi como descobrir meu papel no mundo”, conclui. n
PROJETO IMPLEMENTADO EM GRAVATAÍ OPORTUNIZA O DESENVOLVIMENTO DE ATLETAS FEMININAS NO FUTEBOL
EDUARDA OLIVEIRA
OBrasil é mundialmente reconhecido como “o país do futebol”, principalmente no âmbito masculino, porém, um protagonismo feminino nessa modalidade vem surgindo, refletindo a profunda conexão e paixão dos brasileiros com esse esporte tão amado. Embora a modalidade feminina no país tenha enfrentado desafios significativos, incluindo proibições e preconceitos, tem evoluído rapidamente, passando por transformações significativas nos últimos anos.
Jogadoras icônicas da Seleção como Marta, Cristiane e Formiga, são símbolos dessa evolução, conquistando reconhecimento internacional, quebrando barreiras para futuras gerações e despertando o sonho em jovens meninas de se tornarem jogadoras.
O PROJETO
DO SIAPERGS
O projeto do Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul, de Gravataí/ RS, promove a prática do fu-
tebol masculino e feminino para atletas que sonham se tornarem jogadores de futebol. Esse projeto do futebol feminino foi iniciativa criada em 2022, sendo pioneiro no país. Karina Balestra, ex-jogadora de grandes clubes nacionais, com convocações e título pela Seleção Brasileira, integra a comissão técnica. Atualmente, Karina coor-
dena o Projeto Atletas Livres feminino, na parte técnica e no desenvolvimento geral em relação a logística de treinos, jogos e planejamento, visando manter atletas profissionais ativas e em formação, atletas atualmente sem clubes, para que treinem a fim de retornarem ao mercado do futebol, além de ser diretora do departamento de futebol feminino
Equipe após um dia de treinamento. De vermelho, Michelly Santos, treinadora do Projeto
Conforme Karina Balestra, o objetivo deste trabalho “é desenvolver futuras atletas, empregar atletas profissionais nos clubes, motivar e dar oportunidade para todas as meninas que desejam praticar o futebol”, conta. Ela revela que esse avanço não seria possível sem a dedicação de treinadoras comprometidas, como Michelly Santos, que desempenham um papel essencial na promoção e no desenvolvimento da modalidade.
Karina destaca ainda que “As expectativas com a modalidade são boas, pois estamos em uma crescente e ganhando nosso devido espaço. A caminhada ainda é longa, mas estamos evoluindo, e agora, com a Copa do Mundo no Brasil, acredito que vamos ter uma visibilidade maior”.
profissional do Grêmio. O projeto conta com profissionais capacitados, disponibilizando uma ampla estrutura para as atletas se manterem ativas e em alto rendimento com treinos técnicos, táticos e físicos. Os treinamentos ocorrem duas vezes na semana e contam com jogos amistosos contra equipes profissionais e categoria de base.
Amante do esporte e eterna aprendiz, Michelly Santos ressalta: “Não desistam, meninas. Sejam resilientes e tenham disciplina, pois o futebol feminino precisa disso para a evolução da modalidade. O esporte feminino cresceu muito e não podemos desistir de lutar pelo nosso espaço.”
Para fazer parte do projeto, todas atletas devem passar por um período de avaliação, ter idade mínima de 14 anos, também manter seus exames médicos em dia, e assim, todas que pretenderem entrar para a equipe serão avaliadas, treino a treino, pela comissão técnica. n
Na semana passada, a Fórmula 1 entrou em sua “perna europeia” e desde o Grande Prêmio de Miami, onde ocorreu a primeira vitória de Lando Norris, a temporada segue cheia de surpresas. No início da competição, lá no Bahrain, no dia dois de março, acreditava-se que o ano seria monótono e com corridas chatas e previsíveis; como nos últimos dois anos; mas a invencibilidade do tri campeão mundial Max
Verstappen e de sua equipe Red Bull foi batida. Se faz necessário reconhecer, que o holandes de apenas 25 anos faz milagres com o que já foi, o melhor carro da temporada. Com as inúmeras polêmicas envolvendo a RBR neste ano, que vão de brigas internas entre o chefe de equipe, Christian Horner, o pai de Max, Jos Verstappen e o mentor Helmut Marko; caso de importunação sexual; e o engenheiro e projetista Adrian Newey saindo no final da temporada de 2024. Mesmo ganhando sete das onze corridas, a temporada
da fabricante de energéticos não está nada fácil. Como era esperado, outras equipes conseguiram desenvolver seus carros para este ano, a McLaren; hoje, sendo o melhor carro da categoria; viu sua segunda vitória em 2024, sendo tirada por Verstappen em uma disputa acirradíssima com o inglês Lando Norris, no último domingo (30). O britânico lutou, mas Max - relembrando sua época de embates dentro das pistas com Lewis Hamilton, na temporada de 2021- acabou “jogando” o adversário para fora da pista, que de segundo lugar
passou para último. Foi neste momento que um outro britânico, George Russell enxergou a oportunidade perfeita de sair da terceira posição e pular para a primeira, assim, fazendo a montadora alemã, Mercedes, após 33 grandes prêmios, voltar ao lugar mais alto do pódio. Apesar de continuar como franco favorito ao campeonato desde ano, Max se vê -pela primeira vez em dois anoscom dificuldades durante as corridas. Não tendo o melhor e precisando tirar o máximo de desempenho, o holandes enxerga McLaren e Mercedes
como grandes empecilhos para seu tetracampeonato. Poderia sim, citar uma terceira equipe, mas a Ferrari, desde seu excelente desempenho no Grande Prêmio de Mônaco, parece que se perdeu durante o caminho a glória. O gosto de competição e adrenalina que nós torcedores sentimos; e muito durante a temporada de 2021, voltou a cercar a competição. O grande salto de desempenhos das demais equipes e o declínio da Red Bull, faz o campeonato seguir com expectativas do novo. As próximas corridas são promissoras. n
ANNELIZE MATTOS
Parque Knorr, em Gramado, é rodeado de majestosos pinheiros verdes. Dentro dele, encontram-se as instalações daquela que foi atração popular - a Aldeia do Papai Noel, que encantou turistas por 26 anos, até outubro de 2023. Retornar hoje à antiga residência de Oscar Knorr, um patrimônio cultural, nos faz perceber o descaso com as antigas edificações, que já foram símbolos do espírito natalino, e que deveriam permanecer intocados, mas que se deterioram como podemos ver nas fotografias que seguem. A fonte de desejos só teria um desejo: continuar em pé; e o muro, que antes continha os nomes dos seus antigos visitantes, hoje está exposto no chão em pedaços.