Babélia 41

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BABÉLIA

LEI PAULO

GUSTAVO

INCREMENTA CULTURA E ECONOMIA

Gramado captou mais de 500 milhões de reais para diversos projetos / Pág 4 e 5

Projeto de Carlos Barbosa destina corretamente os resíduos sólidos com o apoio da comunidade

Modalidade é praticada em estúdios especializados que prometem oferecer experiência imersiva

Produzido artesanalmente, jornal cobriu eventos como a abolição da escravatura e a gripe espanhola

Evento organizado pelo primeiro clube social negro da região divulga a cultura por Novo Hamburgo OPINIÃO. 22

Estudantes de Jornalismo avaliam o começo da corrida política nos municípios para 2025

2025 PRECISA SER DIFERENTE PARA O RS

POR

AMÁBILE CORREA

LARISSA SCHNEIDER

BRUNA PEDROTTI

GABRIELE RECH

MARCEL VOGT

Cada vez que o final do ano se aproxima, a tendência à contabilidade aumenta. Entre ganhos e perdas, qual o saldo de 2024, e o que aprendemos e podemos esperar do ano que está vindo? Do ponto de vista privado, o balanço depende de quão generosos ou cruéis somos com nós mesmos. Poderíamos ter feito muito mais? Ou fizemos o que foi possível, de acordo com as circunstâncias. Mas e do ponto de vista público? O que nós, como eleitores, podemos e devemos esperar?

Acabamos de passar pela maior tragédia climática da história do Brasil. Passamos enquanto país, mas especialmente enquanto gaúchos. Dos 497 municípios que compõem o Rio Grande do Sul, 478 foram afetados. Ou seja, apenas uma pequeníssima parte dos habitantes, não sentiu os efeitos da tragédia. O que não é uma verdade inteira. Todos os gaúchos sofreram por medo ou tristeza, a morte de 183 conterrâneos.

Se passaram pouco mais de seis meses e a maioria ainda tem a lembrança viva de imagens distópicas. O centro de Porto Alegre debaixo d’água, o Aeroporto Internacional Salgado Filho alagado e interditado, o cavalo Caramelo preso no telhado de uma casa em Canoas, a corrente humana feita por voluntários, com água pelo peito, puxando os barcos com pessoas resgatadas no bairro Mathias Velho.

Em meio a tanta dor, uma beleza: a ação voluntária. Gente comum abraçada, arrecadando

BABÉLIA

doações e abrindo as portas da casa para quem precisasse. Essa força que vem da empatia com o outro não precisa aparecer só nas crises. Movimentos sociais e ações coletivas têm um enorme poder de transformar o cotidiano. Quando nos unimos, cobramos nossos direitos com mais força e encontramos respostas com mais facilidade. Afinal, cuidar uns dos outros é um jeito de construir um futuro mais leve e solidário.

Por tudo isso, esperava-se que os debates eleitorais ocorridos três meses depois, fossem mais cordiais, com troca de ideias e soluções para os problemas das cidades. No entanto, em muitas regiões o que se viu foram discursos vazios, recheados de críticas e ataques que em nada contribuem para

TEXTOS E IMAGENS

o avanço democrático.

Os desafios que enfrentamos – como educação precária, desigualdade social, saúde pública em colapso e mudanças climáticas – exigem mais do que promessas ou ataques. É preciso coragem para assumir compromissos reais e disposição para dialogar, mesmo com quem pensa diferente. A política não pode ser um jogo de quem grita mais alto, e sim um campo de construção coletiva em que a vitória seja o bem comum. Para resgatar a confiança do povo, será necessário provar que a mesma ainda pode ser um instrumento de mudança. E a sociedade tem que fazer sua parte e exigir mais: sair do papel de espectadora e cobrar seriedade, clareza e transparência.

Nesse contexto, mais uma

vez a cultura se mostra como um elemento transformador, sendo não apenas um espaço de expressão e mobilização, mas também trazendo poesia e esperança frente às crises que enfrentamos.

Cada vez mais, percebe-se a importância de manter os espaços de arte vivos e fomentar o diálogo sobre os temas que moldam nosso dia a dia. No entanto, para que isso ocorra de maneira efetiva, prefeitos e vereadores eleitos precisam compreender a cultura como uma aliada estratégica. Gestores devem estar comprometidos e atentos ao potencial transformador da arte.

Ainda no aspecto da cultura, foi um marco o Dia da Consciência Negra ter se tornado feriado nacional. A data

Reportagem em Jornal Orientação: Ronaldo Henn (henn@unisinos.br). Alunos: Amábile Correa, Camille Silveira de Mello, Gabriele Rech, Lara Zarth, Larissa Schneider, Lia Kirch, Mateus Grechi e Nícolas Rodrigues. Notícia em Jornal Orientação: Micael Behs (vierb@unisinos.br). Alunos: James Spellmeier, João Pedro Martins, Maria dos Anjos, Milena Dalcin, Nícolas Suppelsa, Pedro Schleich e Vitor Brandão. Jornalismo

Opinativo Orientação: Luciana Kraemer (lucianakr@unisinos.br). Alunos: Amábile Correa, Bruna Pedrotti, Gabriele Rech, Larissa Schneider e Marcel Vogt. Jornal produzido semestralmente por alunos do curso de Jornalismo da Unisinos (campus São Leopoldo/RS).

ainda é vista por muitos como desnecessária, e tem quem acredite que não existe racismo no Brasil. Mas ignorar as desigualdades históricas e a luta por reconhecimento é um desserviço às pautas que buscam um futuro mais justo e igualitário.

Em 2025, não só os vereadores e prefeitos eleitos, mas todos nós teremos pela frente o duplo desafio de lidar com os impactos do clima extremo e fomentar uma sociedade mais equitativa. Precisamos fortalecer as políticas culturais e combater a exclusão social. Afinal, cultura não é gasto, é investimento em um futuro mais plural e preparado para os desafios de um mundo em constante transformação. Nem sempre para melhor. n

ARTE

Realização: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom).

Projeto gráfico e diagramação: Marcelo Garcia (marcelog@unisinos.br).

IMPRESSÃO Gráfica UMA.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei - CEP 93022 750. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Sergio Eduardo Mariucci. Vice-reitor: Artur Eugênio Jacobus. Pró-Reitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Guilherme Trez. Pró-reitor de Administração: Cristiano Richter. Diretora de Graduação: Paula Dal Bó Campagnolo. Decana da Escola da Indústria Criativa: Laura Dalla Zen. Coordenador do curso de Jornalismo: Felipe Boff (feboff@unisinos.br).

VILA CAPÍLÉ: EXEMPLO DE SUPERAÇÃO E UNIÃO NA SÃO LEOPOLDO FEST

MAIS DO QUE UM ESPAÇO FÍSICO, MORADORES TRANSFORMARAM A VILA NUMA VERDADEIRA FAMÍLIA

POR LIA KIRCH

Após enfrentar uma das maiores tragédias climáticas da história de São Leopoldo, a Vila Capilé emerge como um símbolo de resiliência e solidariedade.

Este pequeno núcleo comunitário, que conquistou oficialmente seu nome há apenas dois anos, representa mais do que um lugar. É o reflexo da força de pessoas como Leila Leal, que, mesmo diante de tantas dificuldades, continuam lutando para reconstruir suas vidas e apoiar quem está ao seu redor.

UMA NOVA IDENTIDADE PARA A COMUNIDADE

“Por muito tempo, éramos apenas ‘as casinhas da comunidade’. Agora, somos Vila Capilé. Temos um nome, um propósito, uma identidade.” Com essas palavras, Leila Leal, uma das figuras mais atuantes da comunidade, expressa o orgulho coletivo pela conquista. Para os moradores, dar um nome ao local foi como reafirmar sua existência e importância.

Mais do que um espaço físico, a Vila Capilé transformou-se em uma verdadeira família, onde a cooperação é a base de tudo. “Aqui, a gente se ajuda. Se alguém precisa, a comunidade está presente,” afirma Leila. Essa essência colaborativa também se reflete nas 22 bancas que formam a rede de Economia Solidária na São Leopoldo Fest. Alimentos, artesanatos e roupas são vendidos com preços acessíveis, revertendo os lucros para projetos comunitários. “A gente faz tudo caseiro, vende barato para que todos possam comprar. E se alguém chega sem dinheiro, não sai sem comer. Depois paga quando puder.”

A FORÇA DESTRUIDORA

DA ENCHENTE

Maio de 2024 trouxe uma das chuvas mais

Essência colaborativa se reflete nas bancas que formam a rede

Leila Leal, presidente da creche ABC São Jorge e Andrea Correa, responsável pelas operações

devastadoras já registradas em São Leopoldo, superando os diques que protegiam a cidade há décadas. O resultado foi catastrófico: mais de 180 mil pessoas foram afetadas, 100 mil ficaram desabrigadas, e a cidade enfrentou a interrupção no abastecimento de água.

Leila viveu de perto o impacto dessa tragédia. “Saí de casa com água no pescoço. Só Deus para me salvar naquele momento.” A enchente levou tudo: sua casa, seus pertences e uma loja de 140m². Apesar das perdas materiais, ela manteve a determinação

de seguir em frente. “A dor é grande, mas precisamos continuar.”

A Creche ABC São Jorge, um pilar da comunidade, também foi gravemente afetada. Fundada em 2013, a creche sempre foi mais do que um espaço educacional; era um

centro de apoio às famílias. Andrea Correa, responsável pelas operações, explica: “Sempre fizemos trabalhos voluntários, entregando alimentos, remédios e fraldas. Depois da enchente, perdemos tudo, mas com a ajuda de muitos, estamos conseguindo reconstruir.”

SÃO LEOPOLDO FEST: UM RECOMEÇO

Para Leila e Andrea, a São Leopoldo Fest representa muito mais do que uma oportunidade comercial. É um momento de alegria e esperança em meio às adversidades. “Essa feira traz vida para nós. Mesmo com o coração partido, conseguimos sorrir,” conta Leila.

Neste ano, a feira deu às bancas da Vila Capilé um novo espaço, mais próximo do palco principal, aumentando a visibilidade para seus produtos. Leila acredita que, mais do que vendas, o evento promove a união. “As pessoas vêm até a minha banca e dizem que é o meu sorriso que conquista. E eu só consigo sorrir porque vejo que aqui podemos recomeçar.”

REERGUENDO UMA COMUNIDADE

As vendas na feira têm ajudado os moradores da Vila Capilé a superar os impactos da enchente e a reconstruir suas vidas. Andrea celebra os avanços na Creche ABC São Jorge: “Recebemos muitas doações: móveis, alimentos, roupas. Agora, estamos quase prontos para retomar as atividades.”

Para Leila, a São Leopoldo Fest é mais do que um evento anual. É um testemunho de que, mesmo diante das maiores dificuldades, a solidariedade pode transformar vidas. “Aqui somos todos iguais, e é isso que nos fortalece.”

A história da Vila Capilé e da Creche ABC São Jorge é um poderoso exemplo de como a união e a empatia podem transformar tragédia em superação. Todos os dias, por meio de seus esforços, os moradores reafirmam sua capacidade de recomeçar e inspiram quem está ao redor com sua força e determinação. n

LEI PAULO GUSTAVO DIVERSIFICA CULTURA E IMPULSIONA ECONOMIA

GRAMADO TEVE

O MAIOR APORTE

FINANCEIRO JÁ

REGISTRADO PARA O SETOR, COM APOIO A 16 PROJETOS

Com um investimento inédito, a Lei Paulo Gustavo (LPG) está fortalecendo a cultura em Gramado e trazendo novos horizontes para o setor criativo local. Aprovada em 2022, essa legislação federal, também conhecida como Lei Complementar nº 195, direciona R$3,8 bilhões para projetos culturais em todo o Brasil. Em Gramado, o investimento recebido foi de R$332.540,00, complementado por recursos do Fundo Municipal de Cultura, totalizando R$ 532 mil. Este é o maior aporte financeiro para a cultura já registrado na cidade, permitindo o apoio a 16 projetos culturais, que financiam as seguintes atividades: Evento de várias linguagens artísticas, guia de locação da Gramado Film Comission, bolsas de circulação artística, complemento para longa-metragem, execução de curta metragem e projeto de cinema itinerante. É importante ressaltar que a cultura, apesar de muitas vezes ser vista como mero entretenimento, na verdade, além da sua dimensão lúdica, exerce também uma função vital na educação e na formação social. Segundo o secretário da pasta em Gramado, Joe Cardoso, os projetos apoiados pelos editais municipais da LPG e outras leis de incentivo “não só destacam a identidade cultural local, mas também promovem o município como um polo cultural, beneficiando o turismo e gerando empregos”. Essa visão reflete o impacto positivo da cultura na economia do município, algo que se percebe também no cenário nacional, já que a economia criativa representa 3% do PIB brasileiro.

Entre os projetos contemplados pela Lei Paulo Gustavo em Gramado, está o Gramado Natural, uma iniciativa voltada para a prática de pintura ao ar livre e a conscientização ambiental. O curador artístico da

iniciativa, Alessandro Muller, explica que “o Gramado Natural foi criado para atender os eixos de criação artística, formação, intercâmbio e mostra de artes”. O projeto encerrou-se em setembro e o sucesso foi tanto, que a segunda edição está confirmada para 2025. “Acreditamos que o impacto do projeto na cidade já pôde ser sentido nesta primeira edição e irá se expandir ao longo das próximas edições”, prevê Alessandro. Uma das responsabilidades da LPG era assegurar que parte dos recursos fosse destinada exclusivamente à execução de ações voltadas ao

setor audiovisual. Isso porque uma das principais fontes de recursos da Lei foram os superávits (excedente encontrado quando as receitas arrecadadas são maiores do que as despesas realizadas) do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). O Gramado CineClube é um dos projetos voltados para essa área que foi contemplado. A iniciativa é um cinema itinerante que realiza exibições de filmes mensais em espaços públicos descentralizados. Potira Moura, proponente do projeto, destacou que o audiovisual é uma ferramenta de transformação: “Abre um outro olhar. Permite que a gente saia da

realidade do dia a dia e consiga abrir a imaginação e isso é muito importante”. As exibições do CineClube são realizadas sempre no último final de semana de cada mês, até o final deste ano.

No edital de bolsas de circulação artística, os bonequeiros Nelson Hass e Beth Bado foram até a cidade de Riachuelo, no Rio Grande do Norte, para um intercâmbio cultural com o mestre Felipe Riachuelo com o objetivo de realizar uma troca de experiências no campo do teatro de bonecos. Eles retornaram para Gramado com novos aprendizados e com a rede de contatos

ampliada. “Ao receber artistas de outras localidades, a comunidade tem a oportunidade de vivenciar diferentes manifestações culturais sem precisar sair de sua região, o que amplia o acesso à diversidade cultural. Por outro lado, quando artistas locais são enviados para outras cidades e países, eles representam a cultura e os costumes de Gramado, permitindo que outras comunidades conheçam aspectos únicos da região”, destaca Beth.

EDITAIS ESTADUAIS

Além de destinar recursos para os municípios, a Lei Paulo Gustavo também

Artista Alessandro Muller retrata a Linha Caboclo, no interior de Gramado
POR LARISSA SCHNEIDER

enviou valores para os estados. O Governo do Rio Grande do Sul recebeu R$90,8 milhões e lançou nove editais. Alguns produtores culturais de Gramado também tiveram seus projetos financiados por esses editais estaduais, a exemplo do Dia na Vila Joaquina, evento que, em quatro edições, reúne música, intervenções cênicas, artesãos, artistas visuais e outras atividades no território criativo localizado junto ao Lago Joaquina Rita Bier. Juliana Sehn, uma das organizadoras do evento, afirma que legislações como a Paulo Gustavo permitem a diversificação das opções culturais na cidade. “Qualquer pessoa que tenha interesse em elaborar um projeto, independente de segmento, pode participar desses editais e assim a gente vê a diversidade que a gente tem na cidade. Muitas pessoas começam a ter coragem de apresentar projetos, e isso é bacana”, afirma. As próximas edições do Dia na Vila Joaquina acontecem em fevereiro e março de 2025, para celebrar o Carnaval e o Dia da Mulher, respectivamente.

LEIS DE INCENTIVO E DIVERSIDADE CULTURAL

Além da Lei Paulo Gustavo, o Brasil possui outras importantes leis de incentivo à cultura, como a Lei Rouanet e a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB). A Lei Rouanet, em vigor desde 1991, foi um marco inicial para o desenvolvimento cultural no país, financiando cerca de 75 mil projetos ao longo de sua existência. Já a PNAB, lançada mais recentemente, destina R$ 15 bilhões para projetos culturais até 2027, com um foco descentralizado que beneficia pequenas e grandes cidades igualmente.

Em Gramado, a aplicação dos recursos da PNAB resultou no Edital Trajetórias Culturais, que contemplou 64 agentes culturais que tiveram uma relevante contribuição artística ou cultural.

Com o apoio das legislações de incentivo à cultura, Gramado não só se consolida como um polo cultural em expansão, mas também impulsiona sua economia criativa e abre novas oportunidades para os artistas locais. A diversidade de projetos e ações culturais, financiados por essas leis de incentivo, garante que a cidade mantenha seu charme e autenticidade, enquanto se moderniza e cresce como um centro vibrante de arte e cultura. n

Nelson Hass trabalhando no Atelier do Mestre Raul do Mamulengo, em Natal (RN)
Debora Dhein, Alessandro Müller, Rogerio Baungarten e Jonatan Dhein criaram pinturas das áreas rurais de Gramado

IDADE NÃO DEFINE EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

Quando decidi que queria ser jornalista esportiva, lá em 2016, estava no último ano do ensino fundamental. Quem diria, né? Eu ainda estava saindo da fase dos “trabalhos em grupo” e já achava que sabia o que queria para a vida toda. Em 2019, entrei em um processo seletivo para trabalhar numa clínica de oftalmologia. Naquele momento, minha prioridade era simples: conquistar minha independência financeira, não importava em qual área. E lá fui eu, disfarçando o desajeito de quem ainda estava entendendo o que é o mercado de trabalho.

Depois de quase um ano, recebi uma proposta para ser social media em uma agência de marketing. E, claro, agarrei a oportunidade. Spoiler: estou lá até hoje. Entrei como estagiária, e depois de três meses, pelo meu desempenho, fui convidada para dar consultoria em redes sociais para pequenos empreendedores. E sabe de uma coisa? Eu amava! Em apenas um ano, já tinha atendido mais de setenta empresas. Fui efetivada e, três anos depois, cá estou, como coordenadora de conteúdo.

Agora vem a parte que ninguém conta no LinkedIn: a idade. Para alguns, esse detalhe parece mais

CRÔNICA RESENHA

importante do que todo o meu currículo. Querem saber quantos anos eu tenho antes de perguntar sobre o que estudei, o que trabalhei, o

quanto me dediquei para chegar até aqui. E, se você é mulher, como eu, o julgamento pode vir em dose dupla. Idade e gênero. A ideia de uma

coordenadora de 23 anos e mulher ainda soa inesperado. Só rindo mesmo para não se estressar com tanto preconceito disfarçado de “curiosidade”. No fim das contas, o que importa é continuar fazendo o trabalho com dedicação e uma boa dose de humor. Afinal, um dia as linhas de expressão vão chegar, e talvez aí resolvam me julgar por isso também. Até lá sigo coordenando — e sorrindo para aqueles que duvidam.

Experiência é fundamental, claro, mas não é o único critério. Existem muitos profissionais renomados, com currículos impressionantes, mas que, no dia a dia, não conseguem lidar bem com pessoas ou têm uma personalidade difícil. No fim das contas, é preciso ter competência técnica, mas também saber trabalhar em equipe, ouvir os outros e ter empatia. E isso vem muito do caráter e educação da pessoa.

Um currículo extenso perde valor quando falta o básico: saber conviver e respeitar. De nada adianta ter mil conquistas no papel e ser incapaz de construir boas relações no trabalho. Para mim, o equilíbrio entre conhecimento e humanidade é o que faz um bom profissional.

Independentemente da idade, cada experiência precisa fazer crescer, aprender e reafirmar que estamos no caminho certo. n

DIVERTIDA MENTE 2: UMA JORNADA EMOCIONAL PARA TODAS AS IDADES

POR BRUNA PEDROTTI

Eu não sei você, mas neste ano de 2024 eu estava muito ansiosa para assistir Divertida Mente 2. O motivo? Quase 10 anos de espera, pois o primeiro foi lançado em 2015 (pois é, eu também me impressionei. Surreal lembrar que já faz muito tempo!).

Pois bem, assisti três meses depois do filme sair dos cinemas. Vi pelo streaming Disney+, mas foi ótimo do mesmo jeito, porque foi em casa, com minha família, comendo pipoca. Tem coisa melhor?

Agora vamos falar do filme de fato: Divertida Mente 2 traz Riley, a protagonista, de volta em uma fase ainda mais desafiadora: a adolescência. Novas emoções, como Ansiedade, Tédio e Vergonha, entram em cena, aumentando a complexidade emocional

da personagem. O ponto alto do filme, para mim, foi a crise de ansiedade de Riley. Esse momento foi intenso e extremamente real, algo com o qual me identifiquei profundamente e admito, chorei bastante. Tenho certeza de que muitas pessoas também se emocionaram, especialmente quem já enfrentou esse tipo de situação porque é exatamente nessa fase de Riley que começamos a sentir essa emoção. Quanto mais escolhas, mais responsabilidades, mais tecnologia, consequentemente uma hora o copo transborda e é difícil lidar. O mais importante nesses casos é nos permitirmos sentir todos os tipos de emoções, e isso o Divertida Mente 2 me ajudou a compreender. Por mais que eu ainda prefira o primeiro, num contexto geral, esse eu pude

enxergar de fato a Bruna de 2015 e a Bruna de 2024, ou seja, perceber e relembrar alguns momentos que as minhas emoções tomaram conta. Ele ensina tanto crianças quanto adultos a lidar com situações difíceis, pois as novas emoções que surgiram aprofundam a história e promovem discussões necessárias sobre saúde mental e autocuidado desde cedo. Logo, o filme também é importante para os pais. Ele oferece uma oportunidade de dialogar sobre sentimentos com seus filhos, ajudando-os a compreender que emoções como a ansiedade, são normais e fazem parte do processo de crescimento.

O filme é muito mais do que uma simples animação. É um convite para refletirmos sobre como lidamos com nossos próprios sentimentos. n

PROJETO INVESTE NA DESTINAÇÃO CORRETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Um grupo de 15 amigos voluntários se reúne três vezes ao ano no centro de Carlos Barbosa para atuar em prol de práticas sustentáveis através do Dia da Coleta da Rede ColaB, garantindo que resíduos provenientes da atividade humana não sejam depositados em aterros. Em dois desses encontros foram recolhidos 785 quilos de vidro, 50 quilos de papel, 4.5 quilos de metal e 303 quilos de plásticos.

A vice-presidente da Rede ColaB, Laura Lutz Sartori, pontua que as pessoas que conhecem a organização se engajam ao projeto separando os resíduos em suas casas e esperando pelo dia da coleta. Contudo, ela afirma que parte dos moradores da cidade é indiferente às questões ambientais e ao cuidado com o manejo dos resíduos. “Falta entendimento da população sobre a importância do meio ambiente. Uma cidade não é feita apenas de locais bonitos, mas do cuidado que temos com ela todos os dias”, destaca.

Lilian Klagenberg Dickel, presidente da Rede ColaB, explica que se as pessoas separassem o lixo seco do orgânico, os resíduos teriam valor na

coleta comum. “Como parte da população frequentemente não realiza essa separação, acontece o Dia da Coleta da Rede ColaB, na qual são tirados da coleta normal os resíduos que podem ser enviados às cooperativas e, consequentemente, serem reciclados”, esclarece.

Uma das voluntárias do projeto é Franciele Metz. Formada em engenheira ambiental, ela

entende que a educação, o conhecimento e a colaboração representam forças poderosas de mudança e conscientização. “Muito lixo não é descartado no lugar correto. Logo, entender a importância da Rede ColaB para a preservação do meio ambiente, incentivando a separação e destinação correta dos resíduos, me anima”, relata.

A Rede ColaB destina os

resíduos sólidos coletados para duas cooperativas de reciclagem. A TerraCycle Brasil, localizada em São Paulo, recebe materiais escolares e esponjas. Já a Cooperativa Paz e Bem, de Caxias do Sul, recolhe os demais detritos.

Fabiana Baldasso já realizava a reciclagem antes de conhecer o trabalho da Rede ColaB, mas conta que com o esforço

dos voluntários o processo ficou ainda mais fácil, pois ela pode descartar tudo em um mesmo lugar. “Acho o projeto sensacional. Se mais pessoas, em todas as localidades, pensassem em melhorar a comunidade em que vivemos com práticas ambientais saudáveis, teríamos um mundo melhor”, pontua.

A Rede ColaB também mantém parcerias com empresas locais, as quais realizam a logística reversa com os resíduos, como a Tramontina, que recolhe eletrônicos, e O Boticário, que busca por embalagens.

O tema da conscientização sobre um futuro ambientalmente equilibrado e o desenvolvimento sustentável mobiliza a Rede ColaB a promover palestras em comunidade e escolas, além de desenvolver um projeto de limpeza urbana no município através do qual são escolhidos locais para a remoção de micro resíduos, como bitucas de cigarro e plásticos, que não são coletados pela limpeza urbana.

Durante o mês de maio de 2024, a equipe de voluntários atuou em mutirões de limpeza para auxiliar as pessoas atingidas pelas chuvas nas cidades de Estrela e Arroio do Meio, no Vale do Taquari. n

RUAS DE NOVO HAMBURGO TÊM LIXO ACUMULADO PELAS CALÇADAS

Moradores do bairro Ideal, em Novo Hamburgo, enfrentam dificuldades para transitar por ruas e calçadas tomadas pelo lixo. O acúmulo de resíduos tem comprometido tanto o trânsito de pedestres quanto a passagem de veículos.

Estudante de farmácia, Julia Moraes, 24 anos, vive na rua dos Eucaliptos desde que nasceu e relata que o descaso com o tratamento dos resíduos é um problema histórico no bairro Ideal. Segundo ela, a prefeitura chegou a limpar a rua onde reside com a família, mas com o tempo o lixo voltou a se acumular pelas calçadas, chegando a invadir a via. “Faz pelo menos um ano e meio que o serviço de limpeza pública

não passa por aqui. É muito triste ver o desrespeito das pessoas, que se valem da rua como lixão. Pior ainda é a prefeitura ignorar essa situação”, critica.

A pedagoga Magda de Oliveira, 56 anos, é moradora da mesma rua e relata que a prefeitura já recolheu os resíduos acumulados algumas vezes. Contudo, explica, no dia seguinte já há novos focos de materiais depositados pelas calçadas. Quando chove, afirma Magda, se verifica um cheiro ruim e há uma infestação de insetos pelo bairro. Segundo ela, a grande quantidade de resíduos afeta inclusive o trânsito de automóveis, já que o lixo está se espalhando para a estrada. “O problema é que pessoas de outros bairros vêm aqui para descartar móveis e

do descarte irregular e está mobilizada para cumprir um cronograma de recolhimento dos resíduos. Contudo, reconheceu que há dificuldades logísticas para concluir os serviços de coleta no prazo estabelecido.

outros materiais. Antes o lixo ficava acumulado de um lado da rua, mas após a colocação da calçada, passou a se alastrar para o lado do mato”, afirma.

Segundo a diretora de Limpeza Urbana de Novo Hamburgo, Cristiane Hermann, a prefeitura já foi notificada sobre a situação enfrentada pelos moradores do bairro Ideal em decorrência

“Temos conhecimento deste lixo e estamos trabalhando para fazer o recolhimento o mais breve possível. No entanto, como temos várias localidades que sofrem com o mesmo problema, não conseguimos atender a todos com a mesma agilidade”, explica a diretora. A prefeitura de Novo Hamburgo reforça a importância da participação dos moradores no combate ao descarte de lixo irregular. A população pode formalizar denúncias pelo telefone (51) 3097-1990. n

POR MILENA DALCIN
POR JAMES SPELLMEIER
Lixo invade a calçada da Rua dos Eucaliptos, gerando mau odor e infestação de insetos IMAGEM
Rede ColaB incentiva hábitos sustentáveis de moradores de Carlos Barbosa

PROJETO MENSTRUANTES: DIGNIDADE PARA JOVENS DE SÃO LEOPOLDO

A “POBREZA MESTRUAL”

AFETA A SAÚDE DE MILHARES DE MULHERES NO PAÍS IMAGEM DIVULGAÇÃO / PROJETO MESTRUANTES

Menstruar é algo que faz parte da vida de milhões de jovens no Brasil. Mas o que deveria ser apenas mais uma fase do mês se torna, para muitas pessoas, um verdadeiro desafio. Uma pesquisa recente do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), em parceria com a Viração Educomunicação, mostrou que 19% de quem menstrua no Brasil não tem dinheiro para comprar absorventes. Isso significa que uma em cada cinco pessoas acaba improvisando com papel, pano ou até deixando de sair de casa e ir à escola por não ter acesso a um item básico de higiene. Esses dados escancaram uma realidade chamada de “pobreza menstrual”, que afeta profundamente o dia a dia e a saúde de milhares de jovens no país.

Por causa nessa necessidade surgiu o projeto “Menstruantes – Era Uma Vez e Não Era Uma Vez”, um espaço de conscientização e dignidade para jovens. Fundado por Elisângela Alfonso, o projeto busca promover dignidade, autocuidado e conscientização sobre a pobreza menstrual. Desde o início, o projeto foca na educação e conscientização, especialmente sobre a dignidade menstrual.

Inspirada pela experiência pessoal ao descobrir que seria mãe de uma menina, Elisângela conta que o projeto nasceu de uma necessidade de proteger a filha contra as dificuldades que ela mesma enfrentou na infância e adolescência. “Como mulher preta que já sofreu violência de gênero e sexual, minha infância e adolescência foi marcada pela falta de orientação e de acolhimento. Comecei a me questionar: como eu faria diferente para proteger minha filha?” Esse questionamento levou Elisângela a um processo de autoconhecimento, terapia e leituras, até ganhar um livro sobre educação menstrual que

a inspirou a criar o projeto. Durante os primeiros anos de atuação, o Menstruantes já realizou rodas de conversa e campanhas de arrecadação de produtos de higiene para comunidades carentes, experiências que impactaram a fundadora profundamente. Ela recorda o momento em que entregou um kit de higiene para uma mulher da sua idade, que nunca havia recebido um xampu novo. “Isso mostra o quanto ainda temos que caminhar. Meu objetivo de vida é que, mesmo que eu não passe minha vida inteira falando sobre educação menstrual, as pessoas lembrem de quem iniciou e que eu seja a porta de entrada para muitas meninas neste assunto”, reforça.

FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO

Após uma pausa para que Elisângela pudesse finalizar sua graduação, o projeto foi retomado há cerca de um ano com o apoio da cineasta Ellen Correa e um novo propósito: levar educação menstrual e sexual a jovens por meio do audiovisual, promovendo debates em escolas e construindo espaços de aprendizagem e acolhimento. A nova fase do projeto busca educar e desmistificar tabus em torno da menstruação e da sexualidade, promovendo uma visão mais

natural e respeitosa sobre o tema. Para Ellen, a parceria com Elisângela é uma oportunidade de sensibilizar o público jovem sobre um tema essencial. Roteirista e diretora de cinema há mais de 20 anos, destaca o potencial dessa linguagem para quebrar tabus sobre menstruação e sexualidade. “A educação menstrual e sexual precisa ser tratada de forma natural, para não virar um tabu ou segredo. Nosso projeto visa falar sobre esses temas de forma sensível e impactante, para que o processo de compreensão seja leve e verdadeiro”, afirma a cineasta. Ellen e Elisângela, juntas, elaboraram e submeteram o projeto à Lei Paulo Gustavo, conquistando o primeiro lugar na categoria audiovisual em São Leopoldo. Elas agora avançam na elaboração do roteiro com a participação dos adolescentes, que, com entusiasmo, contribuem com suas ideias e desenvolvem uma visão mais pessoal e crua sobre o tema. “Recebemos uma verba para desenvolver um argumento com os jovens da escola, o que faz toda a diferença”, diz Ellen. Após a elaboração do argumento inicial, o projeto realizou uma experiência com adolescentes da escola Emílio Meyer, em São Leopoldo, comprovando que uma abordagem sensível e criativa facilita a

receptividade dos jovens. “Quando falamos sobre o tema de forma leve, eles se sentem tocados e se colocam no lugar do outro”, explica Ellen. Os alunos assistiram a um curta sobre menstruação e, em seguida, trabalharam em grupos para criar finais alternativos para a história, formando “produtoras” fictícias. Elisângela conta que foi emocionante ver o envolvimento dos jovens, especialmente dos meninos, que se mostraram sensíveis e respeitosos com o tema. “Ver a preocupação dos meninos com o tema foi incrível”, ressalta.

O caminho para a transformação ainda é longo, mas Elisângela e Ellen estão determinadas a continuar avançando, levando o Menstruantes a novos horizontes. O projeto reflete a importância de sair da zona de conforto e reconhecer realidades diferentes: “Tem pessoas que não têm acesso a itens básicos de higiene, que não tem banheiro em casa, e isso está mais perto de nós do que imaginamos. Precisamos olhar para o lado e ver como podemos contribuir para uma vida com mais dignidade para todos”, finaliza Elisângela.

PROTAGONISTAS

DA MUDANÇA

A resposta dos estudantes à atividade na escola Emílio Meyer reforça a importância

do projeto. De forma descontraída e colaborativa, meninos e meninas se sentiram confortáveis para discutir o tema, desmitificando estigmas e promovendo a empatia. “Foi gratificante ver como eles se colocaram no lugar das meninas, inclusive sugerindo ações para apoiar as colegas para que não precisem se sentir constrangidas quando estivessem menstruadas”, relembra Ellen. Os meninos até mesmo fizeram o exercício de se colocar no lugar das meninas e pensar como gostariam de serem tratados durante o período menstrual.

Elisângela acredita que o Menstruantes tem um papel importante em levar conhecimento sobre saúde e direitos. “Queremos que todas as pessoas tenham o direito de escolher o método que melhor as faz se sentir seguras, sem que se limitem pela falta de opções. Às vezes, precisamos sair de nossa bolha e olhar para as realidades de outras pessoas”, conclui. O caminho para a transformação ainda é longo, mas Elisângela e Ellen estão determinadas a continuar avançando, levando o Menstruantes a novos horizontes. Elisângela reconhece que ainda há muito a ser feito, mas acredita que, ao longo dos anos, o Menstruantes abriu portas para muitas pessoas. O projeto reflete a importância de sair da zona de conforto e reconhecer realidades diferentes: “Tem pessoas que não têm acesso a itens básicos de higiene, que não tem banheiro em casa, e isso está mais perto de nós do que imaginamos. Precisamos olhar para o lado e ver como podemos contribuir para uma vida com mais dignidade para todos”, conclui. Mas o “MenstruantesEra Uma Vez e Não Era Uma Vez” está contribuindo para transformar realidades ao abordar temas muitas vezes relegados ao silêncio. A educação menstrual e a oferta de dignidade para quem menstrua não são privilégios, mas direitos básicos, e Elisângela e Ellen, com sua dedicação, continuam trabalhando para que mais pessoas possam viver essa realidade. n

Oferta de dignidade não é privilégio, mas direito
POR GABRIELE RECH

NA ASSOCIAÇÃO VIDA NOVA, AS CRIANÇAS SÃO O CENTRO DE TUDO

ESPAÇO COMEÇOU COMO UM LUGAR DE ENSINO, MAS SE TRANSFORMOU EM UM VERDADEIRO REFÚGIO DE ACOLHIMENTO, APRENDIZADO E AMIZADE

POR LARA ZARTH

AAssociação Vida Nova é mais do que uma instituição. Para quem entra lá, é um lugar onde a vida parece mais leve e cheia de oportunidades. Não importa de onde a criança vem ou para onde vai, na Associação Vida Nova todos são bem-vindos. Aqui, as crianças são o centro de tudo e, ao longo dos anos, o que começou como um lugar de ensino se transformou em um verdadeiro refúgio de acolhimento, aprendizado e amizade.

A história da Associação Vida Nova começa com um sonho muito simples, mas cheio de amor: dar um lugar seguro e acolhedor para as crianças com e sem deficiência aprenderem e crescerem. A Associação foi criada primeiro com atenção ao CAEM, Centro de Atendimento Especializado para Crianças com Multi Deficiência, e se transformou em quatro serviços diferentes: A Escola de Ensino Fundamental Vida Nova, o CAEM, a Escola de Educação Infantil Vida Nova, e o Centro Vida Nova de Defesa dos Direitos Humanos.

Desde que foi fundada, a escola tem recebido muitos alunos, cada um com suas histórias e sonhos. A cada ano, novos rostos entram nas salas de aula, e cada um tem a chance de aprender e se tornar uma pessoa ainda mais especial.

As crianças têm a oportunidade de explorar muitas atividades diferentes. Para algumas, o recreio é o momento mais esperado do dia. Nathan, que já está lá há anos, é um grande fã de futebol. Ele adora correr pelo campo e mostrar seu talento com a bola. Para ele, jogar futebol é a melhor parte do dia, ocasião em que pode se divertir e competir com os amigos.

Já Thielle, sua colega, adora

Crianças interagindo e brincando com os computadores, de forma inclusiva

brincar de queimada. Para ela, esse jogo é o que faz o recreio ser mais animado. Ela corre, se diverte e ri muito com as outras crianças enquanto joga.

NOVAS HABILIDADES

Além disso, as aulas de Educação Física são uma das preferidas de muitos. Ali, eles praticam esportes, aprendem sobre o corpo humano e ainda se divertem muito. Aulas de música, dança e libras estão sempre no currículo, e cada uma delas oferece uma chance de os alunos descobrirem novos talentos e desenvolverem habilidades incríveis.

Nicolas Felipe, por exemplo, não perde uma aula de música. Elas significam mais uma oportunidade para ele

expressar sua criatividade. Para ele, essas aulas fazem a escola ser ainda mais divertida e especial.

Na Associação Vida Nova, a alimentação é tratada com muito carinho. Os lanches são sempre saudáveis e nutritivos, pensados para ajudar as crianças a ficarem fortes e bem dispostas para o aprendizado. Frutas frescas, iogurtes, pães com requeijão e muitos outros alimentos são servidos todos os dias. Sempre preparada com muito cuidado para garantir a saúde e o bem-estar de todos.

ESCOLA INCLUSIVA

Uma das coisas mais especiais da Associação Vida Nova é que ela é uma escola inclusiva. Isso significa que

Menino brincando com brinquedos oferecidos pela Associação

qualquer criança, com ou sem deficiência, tem seu lugar garantido ali. Nicolas Felipe diz que a escola é um lugar onde todos são tratados de forma justa, e ele se sente muito bem porque sabe que ali pode ser quem ele é. Essa ideia de inclusão não é apenas um conceito, mas uma prática do dia a dia. A escola acredita que todas as crianças merecem o direito de aprender e se divertir juntas, sem que ninguém seja deixado de lado. E assim, ela se tornou um lugar muito especial para todos que a frequentam.

Na Associação Vida Nova, a amizade é um valor muito importante. Cada criança tem a oportunidade de fazer amigos e compartilhar momentos

especiais. Além disso, os professores são mais do que simples educadores; são verdadeiros guias que ajudam as crianças a crescer, aprender e se tornar pessoas melhores. Ângelo é um exemplo disso. Ele começou na Associação Vida Nova quando tinha apenas 6 anos. Agora, com 18 anos, está se formando e se despedindo da escola. Ele diz que sempre se sentiu acolhido nela , como se fosse sua segunda casa. Ele lembra com carinho dos professores e dos amigos que fez ao longo dos anos. “Aqui é o meu porto seguro,” diz ele, com um sorriso no rosto. Para Ângelo , a Associação Vida Nova não é apenas uma escola, mas um paraíso onde ele pôde crescer e se sentir seguro. Brendinha, sua irmã, começou na escola recentemente. Ela está no primeiro ano, começando sua jornada na Associação Vida Nova. Ângelo tem muito orgulho dela e sabe que ela também vai ser muito bem acolhida. É isso que faz a escola tão especial: ela forma uma grande família, onde todos se ajudam e se apoiam. Quando as crianças pensam no que querem ser quando crescer, os sonhos vão longe. Nathan quer ser jogador de futebol. Ele sonha em jogar para grandes times e mostrar seu talento. Thielle deseja ser bombeira, pois quer ajudar a salvar vidas e proteger as pessoas. Miguel tem o sonho de ser dentista, para cuidar da saúde dos dentes e do sorriso das pessoas. E Nicolas Borba já pensa em ser bombeiro e professor, porque acredita que pode fazer a diferença em muitas áreas da vida das pessoas. As crianças são incentivadas a sonhar grande e a lutar pelos seus objetivos. Os professores e a direção da escola sempre estão por perto, dando apoio e carinho, ajudando cada aluno a se tornar a melhor versão de si mesmo.

Um lugar onde as crianças são tratadas com amor, respeito e carinho, onde todos podem aprender, crescer e sonhar. É uma escola onde as diferenças são respeitadas, onde todos são bem-vindos e onde, todos os dias, novas histórias são escritas. n

IMAGENS
LARA ZARTH

OPINIÃO

CRÔNICA

AS LIÇÕES DO CAMINHO

Três anos. Esse foi o período que levou entre eu tirar a carteira de motorista e ter coragem de dirigir da Serra até a capital. Demorou, mas quando decidi pegar a estrada por mais de 100 quilômetros, fui confiante. Não estava com medo e nem ansiosa. O percurso foi tranquilo e percorri a BR-116 ora no sol, ora na chuva. Quanto mais me aproximava do destino, mais feliz ficava.

O trajeto foi tão calmo que me fez questionar por que demorei tanto para tomar coragem. A resposta foi aparecendo ao longo do trajeto: sou uma mulher. Sou jovem. Dirijo um carro comum, longe de ser imponente. No trânsito - e na vida - os homens e seus carros grandes são combo de respeito. Entretanto, apesar de os homens desfrutarem de um suposto respaldo, eles também são, de longe, os mais envolvidos em acidentes em estradas. Coloca no Google lá que aparece.

Já quase em Porto Alegre, tive um descuido. Coisa irrelevante, longe de oferecer qualquer risco para mim ou para outros. Mas bastou para o condutor do carro que vinha atrás de mim ficar brabo, querer brigar. Ele estava certo, ok, eu estava errada: para aquele motorista, usar xingamentos no trânsito, buscar palavras rudes, foi uma forma de mostrar poder.

RESENHA

Respondi com o silêncio.

Mais uma vez refleti. Seja no trânsito — ou em outros aspectos da vida em sociedade — a mulher precisa se proteger e evitar conflitos. O silêncio

adotado naquele momento é a ferramenta que aprendi, inconscientemente, para evitar confrontos desnecessários, especialmente em ambientes tradicionalmente masculinos.

Talvez essa viagem tenha me revelado mais do que eu esperava — não só sobre a estrada em si, mas sobre o quanto é importante encontrar nosso próprio fluxo. n

PARA ONDE VAI XANDE DE PILARES?

POR LARISSA SCHNEIDER

Não é fácil fazer releituras de obras já consolidadas, mas Xande de Pilares tem mostrado que o resultado de uma reinterpretação pode ser uma obra surpreendente e totalmente nova. O cantor, que fez sucesso com o Grupo Revelação e hoje segue carreira solo, comprovou isso ao lançar o álbum “Xande Canta Caetano” no ano passado, e reafirmou agora, ao lançar o single “Banho de Folhas”, que ficou famoso na voz suave de Luedji Luna. A canção se reinventa sob o comando de Xande que, com seu toque característico, transformou o que era etéreo e contemplativo em algo vivo, pulsante e que vibra.

A produção, que foi lançada no dia 3 de outubro, é conduzida por Xande de Pilares e Luciano Broa, que

fizeram um encontro harmonioso entre o ijexá e o samba, com uma melodia que tem na simplicidade o seu destaque.

A direção artística de Felipe Bueno abraça essa fusão de ritmos com leveza, sem excessos, e o arranjo de Nelio Junior permite que cada instrumento respire, como se estivesse dançando com as folhas ao vento. Essa simplicidade encantadora reflete a essência da música brasileira, que pode ser profunda, mas acessível.

Ao cantar sucessos de Caetano, como “Muito Romântico”, “Tigresa” e “Alegria, Alegria”, Xande levantou discussões sobre a democracia musical e derrubou um muro simbólico que, para muitas pessoas, existe entre a MPB e o samba. Na obra, o sambista impressionou pela qualidade da voz e pelos arranjos, que tiraram

as músicas do local de onde já eram conhecidas. O mesmo aconteceu com a reinterpretação de Luedji Luna. Essa maestria de Xande para transitar entre dois territórios diferentes impressiona. Exceto pelo fato de serem baianos, Caetano e Luedji são muito distintos. Enquanto Caetano Veloso é um nome conhecido no país todo como um dos fundadores do Movimento Tropicalista no Brasil, Luedji Luna representa a nova geração de artistas brasileiros do jazz, R&B e MPB. Se “Xande Canta Caetano” abriu portas para que ele se aventurasse por outros territórios musicais, “Banho de Folhas” reforça a ideia de que ele não se limita a um gênero.

Há quem veja na letra de “Banho de Folhas” um hino ao amor, talvez pela suavidade dos versos que falam de renovação e cura. Mas a canção é um tributo ao axé, à força espiritual que reside no banho de arruda, guiné e manjericão, elementos que

DIVULGAÇÃO XANDE DE PILARES

trazem consigo a energia das tradições afro-brasileiras e que estão presentes no clipe lançado junto com a música. O lançamento levanta questionamentos: para onde está indo Xande de Pilares? Seu talento nato para imprimir identidade nas canções o permite transitar por outros estilos, mas seria esse um movimento permanente ou apenas uma fase de exploração artística? O fato é que, independentemente do caminho que Xande escolher, já está comprovado que a qualidade musical e a essência do samba serão mantidas e levadas para novos públicos. Xande é da música, e sua música, como um punhado de folhas sagradas, é capaz de curar. n

BIKEINDOOR SE POPULARIZA COM ESTÚDIOS ESPECIALIZADOS

Abicicleta é um veículo largamente utilizado para atividades diárias ao redor do mundo. Recentemente, contudo, um novo fenômeno veio à tona: a bike indoor

A modalidade foi popularizada através de estúdios especializados que prometem entregar experiências únicas aos praticantes. Com aulas de 45 minutos em salas fechadas - abarrotadas de bicicletas estacionárias -, luz baixa e som incrivelmente alto, a sensação é realmente diferenciada, trazendo uma experiência imersiva.

Médica e proprietária de um estúdio de bikeindoorque reúne mais de 1.5 mil alunos em Novo Hamburgo, Tauana Zilles, 35 anos, pedala desde os 15. “Fiquei viciada. Fazia meu dia melhor. Eu organizava minha agenda para ir à aula”, comenta.

Tauana relata que muitos atletas pedalam todos os dias. Segundo ela, a sonorização que ambienta as aulas é o grande diferencial da bike indoor. “A música é respeitada e o jeito de pedalar é ditado pelo ritmo das batidas”, explica.

“Não é só a aula, mas tudo é pensado para a pessoa querer voltar, no sentido de

se sentir bem aqui”, complementa Tauana. Ela recomenda que os alunos, principalmente os iniciantes, realizem pausas sempre que se sentirem muito cansados, sentando na bike. No entanto, reforça, “cada um pedala do seu jeito”.

Mensagens motivacionais que beiram o estilo coach estampam as paredes dos estúdios e são reforçadas pelos

professores durante as aulas. O advogado Yury Mainardi, 29 anos, começou a praticar a bikeindoorhá pouco mais de 3 meses e relata que o incentivo dos professores garante um estímulo adicional para os treinos. “Gosto de sentir o que a professora está dizendo”, afirma. Yury reconhece o caráter publicitário contido nas mensagens motivacionais, também

reforçadas nas redes sociais pelos próprios alunos que frequentam as aulas. “É como o nome estampado no copo do Starbucks que te faz sentir importante. No caso do estúdio, acho que tem a ver com um sentimento de pertencimento”, destaca.

Segundo o advogado, os benefícios da bike indoor à saúde são nítidos. “Meu condicionamento físico já é outro

após seis aulas. Consigo ficar muito mais tempo de pé na bike, sem cansar e sem dores no corpo, além de dormir melhor”. Ele também treina musculação e tem uma alimentação saudável, fatores que, combinados, auxiliam para alcançar melhores resultados.

Especialista em Psicologia

Social, Renata Reinehr aponta que muitos praticantes da modalidade pedalam juntos como fonte de motivação. Segundo ela, praticar exercícios com pessoas conhecidas torna a prática mais divertida. Por outro lado, enfatiza, o mundo do esporte pode ser hostil e desbravar esse ambiente na companhia de pessoas familiares torna o desafio confortável.

Segundo Renata, praticar exercício físico ao lado de pessoas conhecidas fornece segurança emocional. A famosa “cobrança” dos parceiros de exercício, explica, é saudável nestes casos, pois incentiva a recorrência e estimula a construção de uma rotina disciplinada. A prática da bike indoor exige cuidados específicos, especialmente a ingestão correta de água durante as pedaladas, considerando os riscos de desidratação se comparados a exercícios menos intensos. n

REMADA REÚNE ATLETAS EM TORNO DA CAUSA AMBIENTAL

Mais de 170 remadores reunidos em caiaques, caícos, canoas e sups participaram da segunda edição da Remada do Vale do Caí, evento que incentiva a prática da modalidade e alerta para a necessidade de preservação da mata ciliar.

Em 2024, a Remada do Vale do Caí começou no sábado, dia 26, em Bom Princípio, quando os participantes percorreram 20 km até a cidade de São Sebastião do Caí. No domingo, dia 27, os participantes completaram mais 24 km, finalizando o circuito na cidade de Montenegro com uma programação que incluiu atrações como food trucks e beer trucks.

Na avaliação do remador Vanderlei, questões físicas e

mentais precisam andar juntas ao longo do trajeto, que exige equilíbrio e disposição tanto de atletas mais experientes quanto de amadores.

Alexandre também participou do circuito com o objetivo de fazer novos amigos voltados à prática da modalidade. Ele acompanhou o grupo de barco, prestando auxílio aos remadores durante todo o trajeto.

A finalização do trajeto se deu no Cais do Porto das Laranjeiras, onde familiares e amigos esperavam os remadores. No espaço, foi projetada uma estrutura com espaços de convivência e alimentação.

Em relação ao ano passado, a edição de 2024 praticamente dobrou o número de participantes, firmando o evento como uma atração esportiva e ambiental do Vale do Caí. n

A canoagem é um esporte que exige força e resistência, oferecendo

POR NÍCOLAS SUPPELSA
POR JOÃO PEDRO MARTINS
Com luzes baixas e som alto, estúdios de bike indoor oferecem experiência imersiva
conexão com a natureza

PELA FÉ CATÓLICA, FIÉIS DESPERTAM PARA UMA VIDA DE ESPERANÇA

NOVOS CONVERTIDOS

CONTAM QUE SAÍRAM

DE UMA VIDA VAZIA

PARA UMA VIDA

REPLETA DE SENTIDO

POR NÍCOLAS RODRIGUES

“Aesperança não engana”, começa a proclamação do Jubileu do ano de 2025, escrita pelo Papa Francisco. Essa citação retirada da Bíblia, traz a palavra central do Ano Santo: esperança. Esse ano, que acontece a cada 25, reforça para os

católicos serem peregrinos e demanda uma resposta para os problemas atuais. O tema: peregrinos de esperança, pretende convocar a todos crentes a viverem uma vida de espalhar a mensagem do Evangelho de Cristo diante de tantos problemas encarados pela sociedade. O Papa Francisco enfatiza as dezenas de situações em que o ano jubilar pretende se apresentar como resposta, dentre elas, estão o vazio existencial, a exposição excessiva à internet, as guerras, a pobreza, a fome, os problemas climáticos e a baixa taxa de natalidade. Ser reposta para tantos

problemas exige um número de muitos fiéis engajados e na primeira metade desta década há um aparente crescimento dos católicos ao redor do planeta, é o que apontam os números do Anuário Pontifício publicado em abril desse ano, trazendo números da Igreja Católica no mundo, registrando um crescimento de 1% de fiéis batizados em 2022, fazendo que o número chegue perto da casa de 1,4 bilhão. Além disso, encontros católicos concentraram milhares de pessoas, como por exemplo, o Congresso Eucarístico nos Estados Unidos que reuniu cerca de 50 mil pessoas, ou no

Brasil, em que o Frei Gilson reuniu numa madrugada mais de 700 mil pessoas para rezarem a oração do Santo Rosário (4 terços), através dos meios digitais.

TESTEMUNHOS

“Nós temos testemunhos de esperança, nós não conseguimos saber a situação pessoal de cada uma das pessoas, mas nós temos testemunhas de pessoas que redescobriram a esperança através de momentos de oração ou momentos de caridade”, conta Padre Marco Antonio Leal, Cura da Catedral São Luiz Gonzaga, de Novo Hamburgo e fundador

da Comunidade Emanuel. O padre explica que em 2024, realizaram uma novena para as famílias falando sobre o tema da oração em preparação para o Ano Santo e que sua paróquia foi um ponto de distribuição de doações durante as enchentes. “Redescobriram esperança para reconstruir sua vida, seu futuro, não só através da doação, mas através das atitudes de fé que os nossos paroquianos com a Comunidade Emanuel estavam manifestando, levando as pessoas para não desistirem, Deus iria ajudá-las e, de fato, depois testemunharam e graças a Deus, pela fé, reconstruíram

Vitor da Rosa em momento de oração na Comunidade Emanuel
Jussara também dá palestras baseada na Bíblia

Aumento da taxa de natalidade é um dos pedidos do Papa para o Ano Santo

sua vida e hoje tem esperança restituída”, completou.

“Foi uma experiência única”,narra Jussara Bernardi, 59 anos, missionária da Comunidade Emanuel, que exerce a liderança do serviço social “Eu nunca tinha vivido tão intensamente uma missão como essa, fiquei praticamente 60 dias fora da minha casa, abri mão da minha família, do meu descanso, do meu conforto, para viver aquilo que Jesus me pedia para aquele tempo”. Porém, muito antes, segundo a missionária, ela vivia numa vida de pecado e no mundo, sentindo-se doente fisicamente (hoje ela entende que era algo espiritual), mas que um despertar para a esperança cristã mudou sua vida: “Hoje eu posso dizer que eu sou uma pessoa feliz, realizada, porque procuro viver aquilo que Deus me pede em cada dia”. Mariana Lamb, advogada, de 28 anos, conta que ajudou durante as enchentes de maio de 2024, na Catedral, junto com a Comunidade Emanuel, em

que iniciou seu processo de conversão: “Foi ali que eu vi Deus agindo, faltava uma coisa e as coisas apareciam, um dia uma pessoa vinha buscar um colchão, não tinha, no outro dia aparecia 300 colchões e a pessoa tinha colchão para família inteira e não só isso, mas outras coisas. E eu vi Deus agindo ali, num primeiro momento, aí depois fui conhecendo a Comunidade, vindo na Igreja e foi aos poucos”. Mas antes, Mariana vivia uma vida que, segundo ela, a maioria dos jovens vive, de trabalho, festas e bebidas. “Antes da conversão, eu já não via muito sentido em só trabalhar, acumular um monte de coisa e aí fazer festa e aí eu ia morrer e essas coisas todas que eu fiz, iam servir para quê? Eu estudei, eu trabalhei e para quê? Eu não estava mais vendo muito sentido nisso e, agora, eu achei um sentido na vida que não é só isso”, explica a advogada. Ela confessou que o sentido do seu viver é fazer de tudo para ir para o Céu, que está mais feliz e mais calma.

CONVERSÃO

“Eu focava mais em mim e nas coisas do mundo, bebida, festa, homens e tudo mais, acabava tendo uma dependência disto: de prazeres momentâneos”, narra Júlia Cruz, de 23 anos, auxiliar de cozinha numa padaria. Segundo ela, que era ateia, a questão de relacionamentos foi o início do seu caminho de conversão ao Catolicismo. “Eu agia de maneira errada para que eu conseguisse atrair essa pessoa e aí eu acabava não sendo levada a sério. Eu comecei a seguir pessoas na internet que falavam sobre relacionamentos amorosos, que elas davam certo e que acreditavam em Deus, então eu comecei a sentir um chamado para voltar a acreditar em Deus”, comenta. Ao término de mais um relacionamento, Júlia começou a ir mais a Igreja, relata estar preenchida cada dia mais, em paz, com capacidade de resolver conflitos internos, que a Igreja Católica é um pedacinho do Céu e explica como é essa

vivência fé: “Pra mim, o que faz eu continuar todos os dias é Deus ou aguentar algumas coisas: provocações, fúrias, brigas das pessoas”.

Vitor da Rosa Weiller, de 18 anos, estudante do ensino médio, diz que tentava preencher a vida com o uso de maconha, pod, vaipe e bebidas alcoólicas. “Eu tinha um vazio dentro de mim, na verdade, aquele vazio eu achava que se preenchia com esses vícios que eu tinha e nunca me preenchia, na verdade, eu usava, preenchia por um momento e quando passava a ‘brisa’, quando passava o efeito, aquele vazio voltava e isso só foi se mudar quando eu conheci realmente a Deus, quando eu tive a minha conversão”, narrou. O jovem conta que está valendo a pena essa vida cristã: “Está sendo maravilhoso a minha vida, porque eu tenho a leveza de saber que eu não faço mais aquelas coisas que eu fazia e que eu posso hoje em dia estar lendo uma bíblia de noite, pós trabalho e aula, ao invés de estar fumando, que era o que eu

fazia antigamente”. Vitor falou um pouco também sobre ser um peregrino de Esperança, em vista do próximo ano: “Numa praça, vamos supor assim, a gente acha uma pessoa que está lá numa situação de uso de drogas, a gente pode chegar nessa pessoa e talvez tentar espalhar o evangelho, levar a esperança a essa pessoa, saber que ela tem algo que ela pode recorrer e que não são esses vícios mundanos e que tem pessoas dispostas a ajudar essas pessoas”.

“A pessoa que tem fé, ela vê o mal no mundo e não fica indiferente a esse mal, ela quer reagir a esse mal”, explica a psicóloga Geise Devit. Ela conta que a Fé Católica ajuda as pessoas a encontrarem o sentido da vida, usando como exemplo as 3 vias de sentido de Viktor Frankl: alguém para amar; causa a lutar; e um Deus a servir. Além disso, a psicóloga vê que essa Fé traz bons valores, “há a possibilidade do mal, também há possibilidade de eu agir com o bem”, destacou. n

OPINIÃO

CRÔNICA

ESSE TAL DE TEMPO

POR AMÁBILE CORREA

Esse tal de tempo passou reto e esqueceu de mim.

Descobri esses dias um endereço, mandei três cartas bem escritas, contando uma história triste, tão triste que lhe fizesse lembrar de mim para sempre.

Esperei por duas semanas; às três da tarde, eu corria até a frente da casa. Não faltei nenhum dos dias! Acenava para o carteiro, esperando ansiosamente pelo dia em que ele me entregasse uma carta bem escrita. O remetente? Estaria lá em letras grandes e legíveis: “TEMPO, ps. desculpa pelo atraso.”

Já tinha se passado duas semanas e nada de resposta.

O tempo é estranho. Esses dias, olhei pela janela e vi uma senhora levando o lixo. Dez minutos até o portão, e cada passo parecia exigir uma força que ela já não tinha. Era triste, mas também tinha algo bonito. A gente corre tanto, mas, no fim, o tempo nunca vai embora — ele sempre fica. Tudo é mais devagar do que parece. Cada movimento dela parecia durar minutos inteiros, como se o corpo dela estivesse ensinando algo que eu ainda não tinha aprendido.

Ai, esse tal de tempo passou reto e esqueceu de mim.

Não sei mais se te confio tanto.

Ontem, te vi passar, correndo como sempre.

RESENHA

Passou rápido na frente de casa, nem chegou para ficar uns minutinhos.

Te vi passar voando duas vezes na outra semana.

O trabalho dobrou, ou será que sou eu que tenho tempo para perceber? Quem é que tem tempo? Engraçado como o tempo sempre parece estar em outro lugar, em outra hora, nunca onde estou. É como se ele fosse um visitante apressado, que mal entra e já está saindo. E eu fico aqui, com o relógio nas mãos, tentando entender o que é que me falta para fazê-lo parar.

Finalmente você para aqui em casa, tão rápido que o chão de terra nem se mexe.

Ai, esse tal de tempo, que tanto corre?

Te espero na segunda, às três da tarde. Chá gelado ou quente?

Na tentativa de pôr um fim:

— Gelado, é mais rápido.

Dei um sorriso, engraçado ver ele despido, já que o tempo é todo vestido de amor e tempo de amar. Na segunda, o gelo do chá derreteu. São cinco horas e trinta e sete segundos. O tempo custa a passar quando a gente espera. Comprei uma briga sem alcance para vitória.

— Tive um contratempo.

Chega ele ofegante, toma o chá, já sem gosto algum, em um gole só. Não se desculpa pelo meu tempo de espera, nem ao menos se importa. Trouxe o silêncio e levou a minha espera. Talvez seja isso - o tempo não se atrasa, só não chega aonde a gente quer. n

A VOZ DO MANÍACO DO PARQUE

POR AMÁBILE CORREA

O filme Maníaco do Parque, lançado em outubro de 2024, é inspirado na história real de Francisco de Assis Pereira, o serial killer que aterrorizou São Paulo nos anos 90, tirando a vida de várias mulheres de forma brutal. Mas o longa, do diretor Mauricio Eça não se limita a recriar os crimes do "maníaco". Uma das histórias centrais da obra é trazida por Elena, uma jornalista investigativa que não se conforma com as respostas fáceis. Determinada, ela enfrenta não só o perigo nas ruas, mas também o machismo enraizado tanto na polícia, quanto na redação onde trabalha. Elena é uma mulher que não aceita o óbvio. Enquanto os homens ao redor dela preferem fechar os olhos para as pistas, tratar as investigações com desdém, ela vai fundo. A

DIVULGAÇÃO / PRIME VÍDEO

cada passo, revela novas conexões, abre portas que pareciam fechadas e se torna crucial na busca pela verdade. Mas essa jornada tem um preço. Além de correr o risco de esbarrar no assassino, ela precisa lidar com o preconceito diário de colegas que zombam de suas ideias e a desacreditam constantemente. Giovanna Grigio, no papel de Elena, carrega a personagem nas costas, mostrando todas as suas nuances: a frustração de não ser ouvida, a força para continuar e a vulnerabilidade de quem, muitas vezes, se sente sozinha nessa batalha. Silvero Pereira, que interpreta o maníaco, é aterrorizante na medida certa, mas Giovanna brilha ainda mais.

A direção acerta em cheio ao criar um clima de tensão constante, sem perder de vista a crítica social. As cenas no parque são sufocantes, com aquela sensação de perigo

iminente, enquanto as redações e delegacias são mais do que cenários. São retratos de um sistema que tenta calar mulheres como Elena. A trilha sonora entra nos momentos exatos, sem exageros, potencializando o suspense e o desconforto.

Mais do que um filme sobre um serial killer, Maníaco do Parque toca em questões profundas sobre violência de gênero e a frieza com que crimes contra mulheres são tratados, e está disponível na plataforma Prime Vídeo. A jornada de Elena é um símbolo da resistência feminina, uma luta não só contra o perigo físico, mas contra uma sociedade que insiste em desacreditar suas vozes. O filme usa essa personagem para expor como o machismo está em cada canto e como as mulheres precisam lutar diariamente para serem ouvidas e respeitadas. n

MARCHA DISCUTE REVISÃO CRIMINAL PARA PRESOS POR TRÁFICO

No domingo, 20 de outubro, aconteceu a 16º edição da Marcha da Maconha de Porto Alegre. Com uma caminhada do Arco da Redenção até o Largo Zumbi dos Palmares, cerca de 4 mil marchantes reivindicaram a legalização do uso recreativo e medicinal da Cannabis e a revisão de sentenças envolvendo o porte da droga.

Laura Kullmann, cineasta, participou da caminhada e destacou a importância de se falar abertamente sobre o uso da maconha. “Agora, com a descriminalização, as pessoas precisam falar ainda mais sobre o tema”, enfatiza. Após um processo que se arrastou por 9 anos, em junho de 2024 o Supremo Tribunal Federal (STF) descriminalizou o porte e uso pessoal de maconha, sendo 40 gramas ou seis plantas fêmeas a quantidade definida para diferenciar usuários de traficantes.

Organizada pelo coletivo Princípio Ativo, a marcha de 2024 apresentou um manifesto intitulado “Mutirão de revisão já: o encarcerado não pode esperar!”. O documento defende a revisão judicial dos casos de

prisão por tráfico de maconha, considerando o novo critério estabelecido para a descriminalização. Segundo dados

divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 17,6% dos presos por tráfico de maconha no Brasil portavam de 6 a 25 gramas da droga quando abordados.

O manifesto pede que órgãos competentes e representativos, como as Defensorias

Públicas e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), prestem auxílio aos encarcerados “a fim de que a alforria venha, mas acompanhada da devida responsabilidade e reparação por parte do Estado, o maior financiador da guerra às drogas”, assinala o documento.

Gianluca Scapini integra o coletivo e relata que os avanços em relação ao processo de descriminalização foram muitos, mas ainda insuficientes. Segundo ele, grande parte da população carcerária está presa por crimes relacionados à maconha e ao porte de drogas em geral, inclusive sendo condenados como traficantes enquanto portavam quantidade inferior à estipulada pelo STF. “Esse foi o motivo pelo qual o mote da marcha deste ano tratou sobre a revisão criminal das pessoas que se encontram reclusas por quantidade inferior ao porte de 40 gramas de maconha”, explica. Com uma caminhada pacífica e bem recebida pela população porto-alegrense, a marcha durou cerca de 2 horas até chegar no Largo do Zumbi dos Palmares e seguiu noite adentro com apresentações culturais de artistas gaúchos. A publicitária Jade Chemale saiu às ruas para apoiar a marcha que, segundo ela, “precisa ser vista”. “Foi uma caminhada pacífica e havia muitas pessoas, inclusive crianças que precisam do canabidiol para fins medicinais. Acho que o próximo passo é a gente não desistir”, destaca. n

SARAU CELEBRA A CULTURA E HISTÓRIA DA RESISTÊNCIA NEGRA

Com o objetivo de divulgar a arte pela cidade de Novo Hamburgo, o 9° Sarau do Cruzeiro conseguiu a façanha de conciliar, num mesmo espaço, samba, literatura, rap e rock. Organizado pela Sociedade Cruzeiro do Sul, primeiro clube social negro do Vale dos Sinos, o evento contou com a participação de artistas da comunidade.

Visitante do Sarau do Cruzeiro, Fernanda Rodrigues destaca que “o evento é importante na medida em que se constitui como um dos únicos lugares de resistência em Novo Hamburgo”. Segundo ela, esse se consolida como um lugar “onde se pode conversar e refletir de forma poética”.

Esse sentimento é compartilhado pelo público devido à história da comunidade. Fundada em 1922 em torno da promoção do futebol e do carnaval, a Sociedade Cruzeiro do Sul consolidou-se como um espaço de vivências sociais e educacionais. Desde 2015, a comunidade organiza o Sarau do Cruzeiro, noite em que o palco se abre para acolher diferentes produções artísticas. Organizador do evento, Gil Müller conta que a primeira edição do sarau ocorreu em 2015. “O Coletivo Cultural Manifesto Poesia queria espalhar poesia pela cidade e a Sociedade Cruzeiro queria movimentar a escola. Assim, pensamos no sarau. No primeiro ano, vieram apenas 20 pessoas, mas ao longo dos anos conseguimos crescer muito”, explica.

De acordo com Gil, a organização do evento acontece de maneira coletiva. Com uma equipe de cerca de dez integrantes e muitos artistas parceiros, o evento é formado por pessoas que desejam desenvolver um espaço de usufruição cultural, trazendo aspectos da cultura que, usualmente, não ganham tanto destaque.

A 9ª edição contou com declamações de poesia, leituras de livros e músicas de diversos gêneros. Além disso, exposições

de negócios como Natureza Cíclica, Poesia Verde e Laranja Cíclica marcaram presença. Dona do brechó Laranja Cíclica, Iris Bittencourt expôs o negócio no evento e relatou que essa experiência foi diferente dos outros eventos que participou. “Viemos aqui para expor e vender, mas, na verdade, recebemos muito mais em troca”, enfatiza. O movimento carrega uma história de resistência fundamental para o conhecimento do povo. O sarau destaca a importância da cultura na cidade de Novo Hamburgo, aspirando deixá-la cada vez mais pulsante, sobretudo nas periferias. Segundo Müller, “aqui vemos um espaço propício para a união e para o desenvolvimento de uma cultura genuína”. n

POR MARIA DOS ANJOS
Marcha reivindica maior abertura para o diálogo em torno do uso da maconha para fins recreativos e medicinais
POR PEDRO SCHLEICH
Sarau do Cruzeiro reúne artistas para divulgar a arte por Novo Hamburgo

VITORIOSO NAS URNAS, FÁBIO BERNARDO LUTA PELOS DIREITOS LGBTQIAPN+

PARA VEREADOR ELEITO, “A POLÍTICA É O REFLEXO DE QUEM SOMOS E SOU FRUTO DA LUTA DA MINHA COMUNIDADE”

Aos 49 anos, Fábio Bernardo fez história ao se tornar o primeiro vereador abertamente gay eleito em São Leopoldo, cidade onde a luta por direitos LGBTQIAPN+ ainda é um desafio diário. Ele tem se destacado não apenas pela coragem de se assumir publicamente, mas também pelo trabalho que desenvolve há décadas na área social, voltado para crianças e adolescentes.

Sua trajetória política começou de maneira inusitada, dentro da Igreja Católica. Fábio relembra que, por um tempo, pensou em seguir o caminho sacerdotal, não por vocação, mas como uma forma de esconder sua sexualidade da família e da sociedade. “Ser padre era uma maneira de a família parar de perguntar sobre a minha vida pessoal, sobre por que eu não tinha namorada”, revela. Porém, foi o encontro com o Padre Orestes, figura importante na cidade, que o ajudou a se assumir sem culpa e a seguir seu verdadeiro chamado: o trabalho social com a comunidade.

“Quando me assumi, a igreja me julgou e me afastou de tudo. Só quem não me abandonou foi o padre Orestes”, afirma Fábio, que, com apenas 14 anos, começou a atuar em projetos sociais na comunidade de Santa Marta. Sua trajetória como conselheiro tutelar em 1998, e posteriormente como secretário de Saúde e Assistência Social, consolidou sua atuação política como uma extensão do seu trabalho de cidadania. “A política foi o caminho natural para quem já atuava tanto na área social. Ela é o reflexo de quem somos, e sou fruto da luta da minha comunidade”, diz, com orgulho.

O passo seguinte em sua trajetória foi, inevitavelmente, a política institucional. Fábio foi convidado a integrar a

primeira gestão do prefeito

Ary Vanazzi, em 2005, e desde então nunca mais saiu da gestão pública. Durante sua carreira, Fábio Bernardo tem se destacado pela luta por direitos sociais e pela ampliação de políticas públicas voltadas para a inclusão e o atendimento às necessidades da população mais vulnerável. Quando se trata de sua família e de como enfrentou o processo de se assumir, Fábio compartilha um relato de dor e superação. Ele lembra com carinho de uma conversa com seu pai, pouco antes de falecer. “Meu pai falou sobre isso três dias antes de morrer. Ele disse que, quando voltasse, queria que eu e o Manuel, meu companheiro, morássemos juntos com ele. Infelizmente, ele não teve a oportunidade de ver isso acontecer”, conta emocionado. Para ele, a aceitação da mãe foi fundamental desde o início, mas a sociedade e a Igreja católica não tiveram a mesma postura acolhedora. “Eu me assumi para a minha família com 18 anos, mas foi só aos 20, quando conheci o Manuel, que pude tornar isso público.”

Fábio destaca também o impacto que a mudança de mentalidade ao longo dos anos teve em sua vida pessoal

e política. “Hoje, ser gay é muito mais aceito do que 30 anos atrás. Embora ainda exista muita resistência, a sociedade está evoluindo, e os espaços de representatividade estão se abrindo”, reflete. A sua atuação política é um exemplo disso. Em um ambiente majoritariamente conservador, Fábio tem sido uma voz ativa na defesa da diversidade sexual, lutando para que os direitos da comunidade LGBTQIAPN+ sejam respeitados e que a discriminação seja combatida.

“Quando você entra para a política, você tem que ser consciente do impacto que suas escolhas e ações podem ter na vida das pessoas. A minha luta não é só pela minha visibilidade, mas pela criação de políticas públicas que promovam uma sociedade mais justa e inclusiva”, afirma Fábio. Para ele, ser vereador vai muito além da função legislativa; é também uma missão de conscientização e transformação social.

RECORDE DE CANDIDATURAS

LGBTQIAPN+ EM 2024

O Brasil vive um momento histórico em termos de representatividade política LGBTQIAPN+, com um crescimento expressivo nas eleições municipais de 2024. O número

de candidaturas LGBTQIA+ eleitas saltou de 97 em 2020 para 225, um avanço de mais de 130%. Esse aumento reflete um processo contínuo de inclusão e visibilidade, impulsionado por novas políticas eleitorais, como a autodeclaração de identidade de gênero e orientação sexual no momento da inscrição de candidatos, uma medida inédita do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Desses 225 eleitos, destacam-se 140 homens e 85 mulheres, com uma ampla diversidade racial: 104 candidatos brancos, 65 pardos, 52 pretos, três amarelos e um indígena. Esse perfil reflete a pluralidade do movimento LGBTQIAPN+ e a ampliação de suas representações em diferentes esferas políticas. Os partidos de esquerda, como o PT, lideraram em número de candidaturas eleitas, com 61 representantes, seguidos pelo PSD e PSOL.

Apesar desse crescimento, a representatividade LGBTQIAPN+ ainda ocupa apenas cerca de 3,5% das vagas no Brasil, uma porcentagem pequena diante do total de prefeituras e cadeiras de vereadores. No entanto, o número de candidatos trans, que caiu levemente em relação a 2020, segue em ascensão em

cidades de médio e grande porte. Candidaturas como as de Benny Briolly (PSOL) em Niterói e Natasha Ferreira (PT) em Porto Alegre mostram que a política trans está se consolidando como um campo de visibilidade e luta.

A introdução da autodeclaração no sistema eleitoral também tem permitido que o cenário político brasileiro reflita de maneira mais precisa a diversidade da sociedade, como destaca Evorah Cardoso, coordenadora da Vote LGBT: “Estamos descobrindo candidaturas LGBTQIAPN+ que nem sabíamos que existiam antes.” A inclusão de mais representantes da comunidade no poder legislativo e executivo é fundamental para enfrentar questões essenciais, como direitos humanos, saúde, segurança e educação, além de promover um debate mais justo e amplo.

As eleições de 2024 representam um marco na trajetória da inclusão LGBTQIAPN+ no Brasil, com mais de 200 candidatos eleitos. Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito, e o aumento da representatividade deve inspirar mais pessoas a se envolverem na política, criando um futuro mais inclusivo e igualitário para toda a sociedade. n

Fábio atua na política desde 2005

PROJETO TRAZ NOVAS POSSIBILIDADES A PESSOAS COM AUTISMO

MAIS DE 50 CRIANÇAS E JOVENS BRILHARAM

NAS APRESENTAÇÕES DO “LA VIDA”, DENTRO DO TEAPROCHEGA

Outubro foi o mês escolhido para os últimos eventos do ano dentro do TEAprochega, que traz novas possibilidades de inclusão e socialização para crianças e jovens com autismo através da musicoterapia. O mês iniciou com um ciclo de palestras, cujos temas contribuem para a inclusão, acolhimento e desenvolvimento de pessoas com autismo na sociedade.

Depois, foi a vez de mais de 50 crianças e jovens com autismo brilharem nas apresentações do musical “La Vida”. O nome tem origem na versão em espanhol da música “Oração”, lançada pela dupla 50 Tons de Pretas. As integrantes da banda, Graziela Pires e Dejeane Arruée, são coordenadoras do projeto e se inspiraram nos dizeres da música para construir o musical deste ano.

Nas sessões, a musicoterapia utiliza os diferentes elementos da música - como ritmo, melodia e harmonia –para aprimorar a interação social, a comunicação e a linguagem dos participantes. “Quando eles vão para o musical, é como se fosse o seu processo de alta. Vencemos, apresentamos e agora vamos aprimorar essas habilidades”, explica Graziela Pires, que também é musicoterapeuta.

Pedro participa das sessões de musicoterapia desde 2019. Hoje, ele tem 16 anos, mas o diagnóstico de autismo veio aos 2. Pedro é um participante assíduo do musical, sempre espera pelos familiares e amigos que assistem sua apresentação. Ele já tem até um grupo de fãs, que o prestigiam todo ano. Antes de conhecer o projeto, Pedro chegou a ser diagnosticado como autista não verbal. Atualmente, graças aos anos de participação, ele canta, dança e consegue se comunicar à sua própria maneira.

Musicoterapia propicia habilidades de comunicação e interação

A mãe de Pedro, Poliana, conta que conheceram o projeto pela internet. Desde então, o progresso foi incomparável. “Não consigo imaginar cada passo dessa evolução sem a parceria incrível do projeto. Agora, o Pedro tem uma autoestima lá em cima e se sente parte da galera”, ela comenta. Graças ao musical, os dois conseguiram criar um momento especial, onde aproveitam de seu amor por filmes para buscar novas músicas para a apresentação. O projeto também foi um espaço acolhedor para Poliana. Em meio aos ensaios, ela encontrou outras mulheres que vivem vidas “atípicas”, com quem formou um vínculo fundamental.

Como voluntária, a professora Bianca Goulart conta que, mesmo após 4 anos atuando dentro do projeto, sempre tem algo novo para aprender. Bianca iniciou no projeto inspirada nas suas interações com os alunos da rede

municipal de Novo Hamburgo, onde trabalha. Ela queria conhecer mais sobre a musicoterapia e os seus benefícios.

Ao longo desses quatro anos, a professora passou por diferentes situações, como aprender a lidar com as diferentes características de cada participante; ou como responder quando eles estão em crise ou irritados. Mas também pode ver pessoalmente como a musicoterapia beneficia as crianças e jovens com autismo. “Podemos perceber o quanto a inclusão é uma responsabilidade de toda a sociedade e como é possível realizá-la de maneira eficaz e cuidadosa”, comenta. O voluntariado teve um resultado até mesmo para ela, motivando seu marido a participar também como voluntário.

Com várias possibilidades de bolsa, o TEAprochega acolhe não só os participantes, mas também os responsáveis, com sessões de terapia em

grupo. Os participantes podem se inscrever no início de cada ano. Já as inscrições para voluntários seguem sempre abertas para aqueles interessados em participar.

SOBRE O TEA

De acordo com a neuropsicóloga e psicopedagoga Franciani Simonet, o transtorno do espectro autista, o TEA, afeta a comunicação, o comportamento e a interação social. É chamado de espectro por abranger uma série de características, que variam de acordo com a pessoa; “nunca vamos encontrar dois autistas iguais”, explica. Os diagnósticos têm crescido nos últimos anos; segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, 1 em cada 36 crianças são diagnosticadas com autismo. Uma das razões para esse aumento é a maior conscientização em relação ao espectro. Outro fator

importante foi a mudança nos critérios de diagnóstico, que ocorreu em 2013.

Alguns sinais de autismo podem ser detectados já nos primeiros meses de vida, como a dificuldade do bebê em manter contato visual durante a amamentação. A criança pode apresentar outras características ao longo do seu crescimento, como sensibilidade em relação a sons e texturas, dificuldade em aceitar mudanças de rotina e em se relacionar com pessoas da mesma idade. Ao reconhecer esses sinais, é fundamental buscar acompanhamento psicológico.

A neuropsicóloga ainda afirma que todos dentro do espectro se beneficiam do contato com a música. “As crianças que não falam, muitas vezes começam a cantarolar”, Franciani explica. É na musicoterapia que as habilidades de comunicação e de interação social podem ser desenvolvidas e aprimoradas. n

POR CAMILLE SILVEIRA DE MELLO

UM ESTADO MOVIDO POR UMA PAIXÃO

POR MARCEL VOGT

Osábado, 19 de outubro de 2024, amanheceu ensolarado e com céu azul. Porto Alegre já estava em clima de Gre-Nal. Como sempre, havia grande expectativa para a partida. Desde cedo, as ruas da cidade estavam tingidas de vermelho e azul, com torcedores indo ao estádio ou ocupando os bares e churrascarias da capital.

Como de costume, o Parque Marinha do Brasil, em frente ao BeiraRio, virou ponto de encontro da torcida colorada. Por lá, churrasqueiras acesas, sorrisos e cânticos de quem se prepara para o jogo. O pré-jogo no Marinha é uma tradição. Famílias, amigos e até desconhecidos dividem espaço, carvão, conversas sobre o time e aproveitam para relembrar as histórias de clássicos passados. Mas, naquele sábado, a expectativa era carregada para ambos os lados. O Inter tentando manter a série invicta, e o Grêmio precisando de uma vitória para se afastar da zona de rebaixamento.

Enquanto isso, os gremistas também se organizavam. Como a partida era no Beira-Rio, os torcedores azuis, em menor número, preferiam evitar o estádio e acompanhar o jogo de outros pontos. Muitos acabaram em bares e pontos de encontro espalhados pela cidade, onde o clima era de cautela e nervosismo. Afinal, o Gre-Nal sempre reserva surpresas.

Quando o apito soou pela primeira vez, a torcida já estava em alta tensão. O primeiro tempo foi truncado, com poucas chances claras para ambos os lados. O Inter tentava se impor, mas esbarrava na marcação gremista, enquanto o Grêmio buscava oportunidades em contra-ataques. Era um jogo disputado, cheio de faltas e sem muitos espaços. As torcidas acompanhavam

cada lance com apreensão. O clima no estádio era de expectativa contida. Foi só no segundo tempo que o jogo mudou de figura. Aos 34 minutos, após chute do lateral Bernabei, Rafael Borré desviou a bola e mandou para o fundo das redes, abrindo o placar para o Inter. A torcida colorada explodiu em comemoração, enquanto o Beira-Rio se enchia de gritos de alívio e alegria. Do lado gremista, a reação foi de silêncio e frustração, com torcedores tentando

processar o gol adversário. Com o placar em 1 a 0, o Grêmio tentou reagir, mas encontrou uma defesa colorada fechada e bem postada. A pressão aumentou nos minutos finais, mas o jogo estava decidido. Quando o árbitro apitou o fim da partida, os colorados comemoraram mais uma vitória no clássico.

Aos arredores do estádio a festa continuou por muitas horas, os colorados festejavam por terem vencido

todos os Gre-Nais da temporada. Já nos bares e pontos de encontro gremistas, a conversa girava em torno dos erros do time e das esperanças para o próximo jogo. Mais um Gre-Nal terminava, e Porto Alegre voltava à sua rotina dividida, com a cidade vermelha e azulada por toda parte.

Porque o Gre-Nal é isso: uma batalha em campo, uma tradição fora dele, e, acima de tudo, uma paixão que movimenta o estado inteiro. n

“ILHA DO MEDO”: O FILME EM QUE NADA É O QUE PARECE SER

POR MARCEL VOGT

Ilha do Medo é um filme que vai te surpreender, especialmente nos minutos finais. Esse suspense de 2010 é estrelado por Leonardo DiCaprio, que faz uma atuação impecável, digna de um Oscar. Se você gosta de filmes em que se sente dentro da história e fica tão tenso como os personagens, esse filme é para você.

O longa metragem se passa em uma ilha afastada, lá existe um manicômio

onde ficam criminosos perigosos que por algum motivo enlouqueceram. Logo na primeira parte, é possível ver os pacientes com pés e mãos acorrentados. E o roteiro faz com que você entre na história e tente desvendar os mistérios da ilha, juntamente dos detetives que foram designados para solucionar o sumiço de uma paciente. DiCaprio que estrela o detetive Teddy Daniels, é chamado para solucionar o caso, porém, ele tem um

objetivo em particular, achar o assassino de sua mulher.

A trilha sonora ligada aos cenários sombrios e misteriosos, produz tanta tensão que não se consegue diferenciar os mocinhos dos vilões e saber o que é real ou ilusão. Você sabe que se trata de um filmaço logo na primeira parte do longa, com uma fotografia cinzenta e particular.

Um dos momentos mais angustiantes é quando os detetives conseguem entrar na ala C (local onde ficam

os criminosos mais perigosos) do manicômio. O local é um verdadeiro labirinto e você não sabe o que eles podem encontrar lá. Dá até para perder o fôlego, mesmo sentado confortavelmente na poltrona de casa. Mas lembra que eu disse que neste suspense nada é o que parece ser? Para descobrir o real mistério da ilha, você terá que assistir ao filme que está disponível na Netflix. Só esteja preparado para ficar dias pensando nesse longa-metragem. n

CRÔNICA

ERA UMA VEZ MARIA

POR GABRIELE RECH

Maria encarava sua irmã fixamente, mas sua mente estava longe, vagando por entre os pensamentos de sua decisão: voltaria para casa. Afinal, não precisava mais se esconder ali. Os hematomas estavam quase desaparecendo, e ele já tinha pedido desculpas. Implorou perdão, prometeu que mudaria. Não era a primeira vez, mas jurava que seria a última. Maria acreditava. O amor, afinal, transforma as pessoas — e ela o amava demais para duvidar. Além disso, acreditava que a culpa não era apenas dele. Tinha seus motivos, como sempre. No começo, as razões pareciam bobas para ela, mas com o tempo, as vozes ao redor se tornaram ecos em sua mente. “É normal, Maria. Se ele tem ciúmes, é porque ama. Ele só está cuidando de você.” E ela passou a acreditar nisso. Desistir de tudo não era uma decisão simples. O que poderia fazer? Ir à

RESENHA

delegacia? Passar horas explicando, juntando provas, sendo questionada, desacreditada? Expor sua vida para todos e ainda escutar as mesmas frases quando saísse na rua: “Se ainda está com ele, é porque gosta.” Ou “Se ela não largou, talvez mereça.” Nada disso valia a pena. E, no fundo, ela o amava demais para tomar uma

atitude tão egoísta.

Então, Maria jurou para si mesma que, se um dia acontecesse de novo, iria embora de vez. Mas, naquela tarde, ainda segura de que tudo mudaria, voltou para casa. E, por um tempo, as coisas foram perfeitas. Café na cama, carinhos, jantares românticos. Ele era, novamente, o homem por quem se

apaixonou. Mas o encanto não durou. Nunca dura. Em poucas semanas, os gestos começaram a minguar e ele voltou a ser quem era. Agora, porém, havia um pequeno alívio: ele não levantava a mão, não fisicamente. Era um sinal, Maria pensava, talvez um começo de mudança.

ARTE: GABRIELE RECH

Até que, em uma noite qualquer, tudo realmente mudou. Brigaram por uma bobagem. A cada palavra, o tom dele aumentava, o rosto ficava rubro e as mãos trêmulas. Maria se viu encurralada entre seus gritos, prensada contra a parede, com as mãos dele apertando seus ombros e pescoço. Enquanto a agredia, ela pensava que aquilo precisava acabar. Não suportava mais, não valia a pena, e já não se importava com as consequências. Estava decidida. Depois daquela briga, ela iria embora, de verdade.

E foi. Não porque quis e nem como quis. Só sobrou seu silêncio.

E assim, era uma vez Maria. n

CARLA MADEIRA FAZ UM MERGULHO NAS PROFUNDEZAS HUMANAS

POR GABRIELE RECH

Em Tudo é Rio, Carla Madeira faz uma entrega envolvente e carregada de emoções, onde as relações humanas e seus sentimentos mais profundos são dissecados com a precisão de quem conta uma fofoca, mas com a intensidade de quem revela segredos sombrios. A narrativa, ambientada em uma cidade pequena e interiorana, onde todos se conhecem e sabem da vida um do outro, situa o leitor em um espaço rural que, apesar de não ter uma localização ou tempo exatos, é pontuado por detalhes como a comunicação por cartas, rotina e costumes, remetendo a uma época mais remota e intimista.

A trama se desenrola em torno de Venâncio, Dalva e Lucy, personagens

que transitam entre amor, ódio e desejo. Os três personagens se entrelaçam em uma noite inesperada, quando Venâncio recusa a companhia de Lucy em sua cama, algo inédito para ela, que sempre havia sido quem decidia com quem iria passar sua noite. A partir desse momento, Venâncio se torna sua obsessão, e é então que somos apresentados a Dalva, sua esposa, e ao

ARTE: GABRIELE RECH

relacionamento dos dois. O casal, que antes era conhecido na cidade pelo amor que os cercava, de repente, sem que ninguém soubesse o motivo, passa do mais profundo afeto para o ódio mais visceral. Madeira constrói esses personagens de maneira visceral, os dotando de sentimentos tão palpáveis que o leitor é forçado a sentir o peso de suas decisões, os erros cometidos, e os traumas que carregam. Venâncio, por exemplo, é o arquétipo de um homem atormentado por seu passado e dominado por seus impulsos. Herdando o ofício de marceneiro do pai, ele é descrito como alguém de olhar distante, marcado pelo tempo e pelas escolhas erradas. O ato monstruoso que comete com Dalva, desviando o rumo de uma história que prometia um final

feliz, é o ponto de virada que transforma a narrativa em uma reflexão profunda sobre os limites das relações e da fragilidade humana. Dalva, por sua vez, é uma mulher que, criada por pais amorosos e de espírito livre, parecia segura de si até ser confrontada por uma perda cruel imposta pelas ações de Venâncio. A dor e o sofrimento que ela experimenta a obrigam a confrontar suas próprias verdades e a complexidade do perdão. Dalva é uma personagem que vive no limiar entre a força e a vulnerabilidade, e sua trajetória provoca no leitor uma empatia difícil de ser ignorada. Já Lucy, uma das putas mais desejadas do único bordel da cidade, é o oposto de Dalva. Órfã e criada por uma tia que nunca a fez se sentir verdadeiramente parte da família, Lucy cresceu com o desejo de vingança e uma sede insaciável por uma vida diferente. Sua história, marcada por uma fuga da “família

perfeita” para a libertinagem que tanto almejava, traz à tona as contradições de uma vida que, por fora, aparenta sucesso, mas por dentro é corroída pelo medo da solidão.

A dualidade presente em todos os personagens também é um convite à reflexão: até onde vai o limite do perdão? Nos obrigando a olhar para a complexidade humana e a nos questionarmos sobre até onde nossas escolhas definem quem somos. A escrita de Carla Madeira é densa, porém fluida, e o ritmo da narrativa faz jus ao título da obra – há momentos de calmaria e momentos em que as águas parecem prontas para transbordar. Obrigando o leitor a mergulhar fundo e se deixar levar pelas correntezas até o final, enquanto tenta tomar fôlego entre as perguntas sobre amor e ódio, desejos e escolhas, perdão e redenção, passado e futuro. n

O TAQUARYENSE PRESERVA A MEMÓRIA DA IMPRENSA GAÚCHA

Em um prédio no centro da cidade de Taquari, erguido no começo da década de 1960, está localizada a tipografia do segundo jornal mais antigo em atividade no Rio Grande do Sul. O Taquaryense, que completou 137 anos no dia 31 de julho de 2024, ainda é produzido artesanalmente, através de uma linotipo operada por um profissional quase em extinção, o tipógrafo.

No mundo, apenas três jornais são confeccionados dessa maneira. Na América Latina, O Taquaryense é o único. Segundo o jornalista Pedro Harry Dias Flores, gerente-redator do jornal, o principal motivo para o impresso continuar sendo produzido dessa forma é manter a tradição. “Meu trisavô fundou esse jornal, e honrar esse legado é um privilégio”, destaca.

No dia 31 de julho de 1887 foi lançada a primeira edição de O Taquaryense, comandada pelo jornalista Albertino Saraiva, fundador da empresa. Em 1910, foi comprada a impressora Marinoni Universelle, que pertencia ao jornal Correio do Povo, até hoje utilizada na redação. Após o falecimento de Albertino, em 1928, os filhos decidiram assumir o comando da empresa, e Plínio Saraiva se tornou o membro com mais tempo à frente do semanário, dirigindo a redação entre 1947 e 2004. Bisneto de Plínio, Pedro Harry está no cargo desde 2015. Em 2021, com as fontes tipográficas (tipos móveis) já gastas pelo tempo, O Taquaryense passou a ser produzido através de uma linotipo. O jornal, até então confeccionado manualmente, letra por letra, hoje é feito linha por linha. Os textos são digitados no teclado da máquina de composição, que os funde em blocos de chumbo, em alto-relevo. Esses blocos formam posteriormente as páginas do jornal.

A missão de montagem e impressão das edições durante os últimos 30 anos foi designada ao tipógrafo João da Rosa Rodrigues. “Digo que fui escolhido para essa função. Eu fazia serviços de jardinagem para o genro do seu Plínio. Foi aí que ele decidiu me escolher. Comecei como aprendiz de

Comandado por Pedro Harry, jornal O Taquaryense ainda é produzido artesanalmente através de uma linotipo

tipógrafo, em 1992, e precisei de um mês de experiência. Não foi nada fácil”, comenta o tipógrafo, em tom de recordação. Em seu terceiro século de história, o jornal já cobriu uma coletânea de eventos, todos registrados nos volumes de sua coleção, preservada integralmente num armário antigo localizado à direita de quem entra na redação. Esses volumes reúnem o relato de acontecimentos históricos como a

abolição da escravatura, em 1888, e a gripe espanhola, em 1918. Também discorrem sobre eventos mais recentes, como a Segunda Guerra Mundial e as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em 1941. Atualmente o jornal sobrevive majoritariamente por meio de seus patrocinadores e pela contribuição de seus pouco mais de 300 assinantes. O escritor João Paulo Fontoura é assinante do jornal e diz que

aguarda todos os sábados pelas manhãs para ler as notícias locais e os textos escritos por colaboradores de O Taquaryense, pois se sente conectado com a cultura e a história da comunidade onde reside há mais de 40 anos. “Gosto de dizer que O Taquaryense é o museu vivo da comunicação social, uma vela acesa a iluminar a nossa história e nossos antepassados”, relata. Ao projetar os rumos do jornal, Pedro Harry acredita na

preservação de O Taquaryense como ele sempre foi, sem perder a essência. “É o fato de ser produzido a partir de técnicas que remetem aos primórdios da imprensa, com a utilização de máquinas raríssimas e históricas, que torna O Taquaryense único, singular, especial. Assim ele continuará”, afirma o gerente-redator, dedicado a manter a tradição que resguarda a trajetória do jornal secular. n

POR VITOR BRANDÃO

UMA DOR SILENCIOSA E UMA LUTA QUE MERECE BARULHO

CERCA DE 3 MILHÕES DE BRASILEIROS CONVIVEM

COM A FIBROMIALGIA

POR AMÁBILE CORREA

No dia 12 de maio, o mundo se junta para celebrar o Dia Internacional da Fibromialgia, uma data que, para muitos, passa despercebida. Embora cerca de 3 milhões de brasileiros convivam com a doença, muitos ainda desconhecem o que ela é ou sequer sabem que existe. A fibromialgia é uma dor silenciosa, invisível, que se espalha pelo corpo sem aviso, sem explicação, e, frequentemente, sem reconhecimento. Para quem a sofre, os sintomas são uma constante luta contra o cansaço extremo, as dores intermináveis, a insônia e a sensação de que ninguém entende.

A cor roxa e a borboleta são os símbolos que representam essa condição. A borboleta, com suas asas frágeis, simboliza a delicadeza e a luta constante dos pacientes, que, como ela, tentam voar apesar das limitações impostas pela dor. E o roxo, uma cor forte, mas muitas vezes associada à solidão e à dor, carrega a esperança de que, um dia, o mundo veja e compreenda o sofrimento daqueles que enfrentam a fibromialgia todos os dias.

“Eu ia muito para o hospital, muito.” A frase de Luana Gobbo resume uma vida marcada por idas e vindas ao médico e pela constante luta contra uma dor invisível. Luana, que convive com a fibromialgia desde jovem, descreve sua condição como uma “doença silenciosa”, cujos sintomas, como dores constantes, ansiedade e insônia, não são fáceis de identificar. Como ela mesma diz: “Não dá nada no sangue, nem nos músculos, nem nada. Você só sente dor, uma ansiedade, não dorme direito, e não se sabe de onde vem.”

INVISIBILIDADE DA DOR

Mas a experiência de quem sofre com a fibromialgia não é única. Como escritora desta reportagem e estudante de jornalismo, também vivo com a doença desde a infância, mas só fui diagnosticada na fase adulta, o que é comum entre os pacientes. Ao longo dos anos, enfrentei um longo caminho de consultas

médicas e incompreensão, sem que minhas dores fossem levadas a sério. A fibromialgia me tornou uma espécie de “estranha” nos consultórios médicos e até na minha própria casa, onde, por muitos anos, a dor era tratada como uma simples sensibilidade, um exagero. A realidade, porém, não era essa. Eu, como muitos que enfrentam essa doença, aprendi a conviver com a invisibilidade da minha dor, que é real e constante, mas invisível aos olhos dos outros. O que parecia ser um simples desconforto se tornou uma prisão silenciosa, onde os dias são marcados pela fadiga, pelas dores que não passam e pela sensação de não ser compreendida. E o mais doloroso é perceber que, mesmo com um diagnóstico, o tratamento ainda é pequeno e muitas vezes ignorado.

Os dados confirmam o que Luana e muitos outros enfrentam. A fibromialgia afeta cerca de 2% da população mundial, com maior prevalência entre as mulheres. Muitos ainda passam por uma longa jornada de diagnóstico. O cenário é desafiador, já que a doença é invisível, os exames não conseguem detectá-la e o atendimento dos profissionais de saúde nem sempre é adequado. E esse é o reflexo de uma realidade que, apesar de ser comum

a milhões de pessoas, ainda permanece fora do radar da maioria. A fibromialgia é uma das condições mais subdiagnosticadas e mal compreendidas, deixando aqueles que a enfrentam em uma constante busca por compreensão, por visibilidade e por apoio.

ISENÇÕES

Uma luta que se estende também à busca por reconhecimento e direitos. Em alguns estados brasileiros, a fibromialgia já é reconhecida como deficiência, garantindo aos pacientes benefícios como atendimento prioritário na saúde e isenção fiscal do IPVA.

No Distrito Federal, a Câmara Legislativa promulgou uma lei que reconhece quem tem fibromialgia como pessoa com deficiência (PcD). Isso garante a esses pacientes direitos essenciais que, até então, eram negados. A Câmara dos Deputados, por sua vez, está analisando o Projeto de Lei 598/23, que propõe a fibromialgia como uma deficiência para todos os efeitos legais e obriga o SUS a fornecer medicamentos gratuitos para o tratamento da doença. Já em Minas Gerais, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto que garante direitos iguais para pessoas com fibromialgia e aquelas com outras deficiências. Essas conquistas representam um passo importante na

Fibromialgia é uma dor silenciosa que se espalha pelo corpo sem aviso

luta por mais reconhecimento e apoio, mas ainda há muito a ser feito. É nesse contexto de luta por visibilidade que surge a história de Mailin Oliveira, diretora do Grupo de Fibromiálgicas de Sapucaia do Sul. O grupo foi criado após uma crise forte de Mailin, que a deixou de cama por sete dias. “Eu pensei em me matar”, admite. “Aí vieram os questionamentos… o que tem em Sapucaia para tratar a fibromialgia? Quantas pessoas têm essa doença? Temos um psicólogo para ajudar essas pessoas?”

Com o apoio da vereadora Gabriela Ortiz, que ofereceu seu contato pessoal, Mailin organizou um grupo para ajudar outras pessoas a entender e lidar com a doença. Hoje, o Grupo de Fibromiálgicas de Sapucaia do Sul tem 76 participantes e realiza reuniões mensais com terapeutas, advogados e nutricionistas para dar apoio psicológico e prático.

PRECONCEITOS

No entanto, um dos maiores obstáculos que as pessoas com fibromialgia enfrentam, segundo Mailin, é o preconceito. A doença é considerada invisível, e muitos ainda a associam a problemas psicológicos ou a uma simples “falta de força de vontade”. A frustração, muitas vezes, vem do fato de que, apesar de todos os dados científicos sobre a

condição, o preconceito persiste. “Afeta a vida social diretamente, pois não temos disposição”, diz Mailin. “E o preconceito é algo que nos acompanha, seja no trabalho, seja nas relações pessoais. As pessoas não entendem que a dor é real. A fibromialgia não é uma invenção, é uma condição de saúde.”

Além disso, Mailin destaca que a conscientização sobre a fibromialgia ainda é muito limitada. “Primeiro, por ser uma doença invisível e de difícil diagnóstico, sofremos muito preconceito, e poucos médicos reconhecem a doença”, afirma. “Precisamos de mais médicos preparados, de mais apoio institucional e de mais visibilidade para essa causa.”

Apesar dos desafios, Mailin e os membros do grupo mantêm a esperança. A formalização da associação permitirá que o grupo tenha mais visibilidade e recursos para ajudar as pessoas com fibromialgia. “Com a formalização da nossa associação, vamos ter mais visibilidade e mais apoio”, diz Mailin. “E o mais importante, mais mulheres que, assim como eu, não se sentirão sozinhas na luta contra a fibromialgia.”

A jornada de Luana também reflete essa busca por apoio. “Eu sempre fui uma pessoa ativa, gostava de andar de skate, arrumar a casa, sair para a escola. Eu era muito acelerada. E agora, isso me frustra. Não posso fazer o que fazia antes”, compartilha. A fibromialgia ainda tem muito a conquistar em termos de visibilidade e apoio. As dificuldades para aumentar a conscientização sobre a doença, tanto na comunidade quanto no sistema de saúde, são enormes, mas iniciativas como o Grupo de Fibromiálgicas de Sapucaia do Sul e a fala de pessoas como Luana mostram que há um caminho a ser percorrido. A chave para melhorar a vida das pessoas com fibromialgia é, sem dúvida, a educação e o reconhecimento de que suas dores são reais.

Para o futuro, Mailin deixa uma mensagem clara: “Precisa melhorar tudo! Não temos nada”, ela afirma, com a determinação de quem luta por um tratamento mais justo para aqueles que, como ela, eu e Luana, vivem com a fibromialgia a cada dia. n

ELEIÇÕES EM SÃO LEOPOLDO E NOVO HAMBURGO

ESTUDANTES DE JORNALISMO DA UNISINOS AVALIARAM AS PROPOSTAS DE DIFERENTES PARTIDOS NA CORRIDA PELO VOTO DOS ELEITORES DAS DUAS MAIORES CIDADES DO VALE DOS SINOS

Amábile Correa

O SILÊNCIO QUE FALA

Odebate sobre a proteção dos adolescentes em São Leopoldo começou com uma cena simbólica: as cadeiras reservadas para Hitler Pederssetti (Podemos) e Delegado Heliomar (PL) estavam vazias. Enquanto Nelson Spolaor (PT), Manoel Binoni (PSOL) e Arthur Schmidt (MDB) ocupavam seus lugares, a ausência dos outros dois candidatos gerou questionamentos: onde estão os que prometem cuidar do futuro da cidade?

Enquanto os três candidatos presentes aguardavam sua vez de falar, as cadeiras vazias pareciam preencher o ambiente com um silêncio desconfortável, quase uma ausência de compromisso. E assim, o debate começou – não apenas sobre as propostas, mas sobre quem realmente estava disposto a discutir o que importa. Quando números alarmantes como os 119.377 casos de violência contra adolescentes entre 2015 e 2021, segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde são trazidos à tona, a ausência desses políticos se torna ainda mais grave. Portanto, a falta de Pederssetti e Heliomar não foi apenas física, mas representou também ausência de compromisso. De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, vivemos em um cenário onde os números são devastadores e crescentes, como o aumento de 70% nas violações sexuais contra crianças e adolescentes apenas nos primeiros meses de 2023. No fim, esses dados reforçam a necessidade de uma presença ativa e engajada nas discussões, até porque as políticas públicas dependem da ação e do compromisso de todos os candidatos. A violência contra adolescentes não é uma pauta secundária ou de menor importância, e quem gostaria de ocupar uma posição de liderança deveria estar presente, ouvindo e propondo soluções. n

Bruna Pedrotti

TODOS CONTRA O PT: A LUTA PARA GANHAR O PODER EM SÃO LEOPOLDO

Oprimeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de São Leopoldo, em agosto, levantou importantes questões sobre o futuro da cidade. Propostas foram lançadas, promessas feitas, mas será que elas realmente atendem às necessidades da população?

A infraestrutura, por exemplo, foi destaque e o que mais me chamou atenção. Todos mencionaram a modernização dos sistemas de drenagem e limpeza de canais como soluções para as enchentes. O problema das enchentes é recorrente em São Leopoldo, e o que se percebe é uma ausência de planejamento a longo prazo. Será que vamos continuar discutindo os mesmos problemas nas próximas eleições?

As falas dos candidatos me fizeram refletir sobre muitas coisas. Arthur Schmidt do MDB, propôs um governo voltado para o povo, mas como isso se traduziria em práticas efetivas? Heliomar Franco do PL, com foco na gestão e combate à corrupção, trouxe a promessa de mudanças, mas como ele planeja equilibrar a eficiência administrativa com a sensibilidade social necessária? Esses são pontos que o eleitor precisa considerar antes de decidir seu voto.

A desistência de Gabriel Dias do PSDB para apoiar o ex-delegado confirmou sua vontade de tirar o PT do poder. Ao unir forças com Heliomar, ele confirmou seu plano para buscar a mudança. Essa jogada ressignificou a campanha do candidato do PL. Resta saber se esta união não será percebida apenas como mais uma estratégia política, sem necessariamente levar em conta os desafios da gestão pública. Para um governo dar certo é necessária uma real construção coletiva, baseada no diálogo com todos os atores sociais, incluindo a população. n

Gabriele Rech

PALCO PARA PROJETOS OU TEATRO DA DEMOCRACIA?

Odebate realizado em setembro na sede da OAB São Leopoldo foi visto como uma oportunidade para fortalecer a democracia, mas, na prática, foi um evento cheio de promessas e retórica vazias. Com a participação de cinco candidatos de diferentes espectros políticos, Arthur Schmidt (MDB), Gabriel Dias (PSDB), Manoel Bandeira (PSOL), Nelson Spolaor (PT) e Heliomar Franco (PL), o encontro parecia promissor, mas logo se transformou em uma sequência de clichês políticos e ataques sem substância.

Dividido em seis blocos, os candidatos abordaram questões como modernização da gestão pública, transparência e inovação, mas sem apresentar propostas concretas ou explicações sobre como implementá-las. O público recebeu slogans e bordões, mas nenhum plano palpável que pudessem usar para basear seu voto.

A proposta do debate era ser um espaço de apresentação de ideias para a cidade, que seriam analisadas criticamente pelo eleitorado. Em vez disso, o evento se tornou um espetáculo político de palavras vazias. É decepcionante perceber que, em um momento tão crucial para o futuro de São Leopoldo, os candidatos perderam a oportunidade de mostrar suas preocupações com a cidade. No final, a democracia se fortalece com o diálogo, baseados em propostas concretas, não em manipulação retórica. O debate na OAB foi, em grande parte, uma ilusão de democracia: um palco montado, mas sem a profundidade necessária para permitir ao eleitor uma escolha verdadeiramente consciente. Aqui, a democracia que se defende é aquela baseada na clareza de propostas e no respeito pela inteligência dos cidadãos, e não em uma retórica que confunde e enfraquece a escolha popular. n

Marcel Vogt

PROPOSTAS E ATAQUES NO DEBATE DE NOVO HAMBURGO

Diferentemente dos debates que vimos em São Paulo, a cidade mais populosa do Brasil, com agressões físicas e verbais, o de Novo Hamburgo, realizado pelo DuduNews, veículo que cobre a região do Vale dos Sinos e transmitido ao vivo pelo Youtube, foi tranquilo e sem muitos ataques pessoais. Obviamente que houve desavenças, principalmente entre os candidatos Gustavo Finck (PP) e Tânia da Silva (MDB). Mas as diferenças foram focadas em atos de governo e nas propostas, sem ferir a integridade de ninguém. Também participaram Raizer Ferreira (PSDB), Tarcísio Zimmermann (PTD) e Fufa Azevedo (PT). Um ponto alto do debate foi quando o apresentador questionou todos os candidatos sobre planos para evitar catástrofes climáticas. Todos focaram nas enchentes, com propostas semelhantes, principalmente sobre os diques. O candidato do PDT, no entanto, afirmou que não fez planos para os diques, pois o governo federal já garantiu o projeto, com obras previstas para 2025. Ele ainda criticou as propostas dos outros candidatos, chamando-as de inúteis, feitas por quem não sabe governar. No entanto, Tarcísio, esqueceu que durante seu governo (20092012), quando ainda era do PT, a cidade deixou uma dívida milionária com o Ipasem (Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores Municipais), que ainda persiste. Além disso, em entrevista ao DuduNews, ele admitiu corrupção em seu governo, assim como no governo federal de Lula (PT). Isso enfraqueceu seu argumento.

Finck foi o candidato que mais atacou, especialmente a candidata do MDB, usando a técnica de manipulação para destacar os erros dela. Tânia também usou essa técnica, mas focou no apelo emocional, assim como Tarcísio e Fufa. n

CARTILHAS AUXILIAM NA INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM AUTISMO NA ESCOLA

As irmãs Isabelly e Nicolly Portela da Silva são autoras do projeto que viabilizou a produção de cartilhas informativas sobre o autismo para professores e estudantes da rede pública da cidade de Carlos Barbosa. Desenvolvidos em 2021, os materiais se firmaram como referência sobre o tema no munícipio.

Nicolas Miguel Busnelo Deitos, 8 anos, foi diagnosticado com autismo nível 1 aos 3 anos e contou com o apoio das cartilhas inclusivas na sala de aula. Graziela Deitos, mãe de Nicolas, relata que antes do uso das cartilhas em sala de aula os professores não recebiam orientações claras sobre o tema, sendo mais difícil adequar as atividades acadêmicas. “Foi maravilhoso saber do projeto, que permitiu às pessoas conhecerem mais sobre TEA, gerando acolhimento e entendimento sobre as diferenças do Nicolas”, relata. Segundo ela, o uso das cartilhas garantiu melhoras significativas no aprendizado do filho, além de permitir aos professores produzir planos educacionais individualizados.

A professora da primeira série do ensino fundamental, Elani Pontin Baldasso, afirma que, graças ao uso das cartilhas, conseguiu lidar de forma mais acurada com a irritação e o cansaço manifestados por Nicolas. Os colegas também foram beneficiados, na medida em que passaram a compreender melhor as particularidades do colega.

“Quando o professor consegue entender tudo o que envolve a inclusão, sabe que a primeira atitude a se fazer é conversar com as outras crianças, expondo as situações que desencadeiam os gatilhos da criança autista e mostrando como ajudar e acolher o colega”, ensina Elani.

A professora entende que desenvolver atividades com base na cartilha é fundamental, pois o material oferece subsídios para a produção de exercícios que prendem a atenção da criança, sempre levando em conta o tempo

que ela consegue manter o foco no conteúdo. “A melhora na aprendizagem é significativa, uma vez que o estudante se mantém mais tranquilo e seguro dentro das suas limitações”, pontua. Isabelly e Nicolly sentem orgulho do material que produziram na medida em que as cartilhas contribuem para a promoção de um ambiente inclusivo e respeitoso para o

estudante autista “Ainda que seja necessário avaliar a longo prazo a eficácia da campanha de inclusão, percebemos que o nosso trabalho não se destinou apenas a ganhar uma nota, mas estava além da escola. Nos envolvemos emocionalmente com famílias atípicas e a causa delas passou a ser a nossa causa. Firmamos o dever de oferecer uma escola inclusiva e preparada”, enfatizam.

Isabelly e Nicolly participaram de feiras científicas com destaques nas áreas da educação e ciências comportamentais

Com o intuito de popularizar o acesso às cartilhas foi criado um site a partir do qual os materiais podem ser acessados gratuitamente. O site ICAE representa um importante repositório de materiais sobre o tema, indicando o contato de instituições e serviços de apoio, assim como um campo de acolhimento que funciona como um chat de perguntas e respostas. n

Cartilha permitiu que as professoras (àesquerda) aprimorassem suas técnicas de ensino e aprendizagem em sala de aula. O material é de produção autoral e possui textos curtos, com linguagem simplificada, objetivando uma fácil compreensão pelo público-alvo

POR MILENA DALCIN

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS MUNICIPAIS: DESAFIOS E FORMAÇÃO

PROJETO

“INTERLOCUTORES

AMBIENTAIS” VISA

SENSIBILIZAR ESTUDANTES DE SAPUCAIA DO SUL

POR MATEUS DIAS

Nos últimos meses, os efeitos das mudanças climáticas se intensificaram, com enchentes, queimadas e nuvens de fumaça tornando-se parte do cotidiano. Esses eventos despertam a curiosidade, especialmente entre os jovens, mas, nas escolas municipais, a educação ambiental ainda enfrenta muitos obstáculos.

Em Sapucaia do Sul, o projeto “Interlocutores Ambientais”, implementado em escolas como a EMEF Justino Camboim, tinha como

objetivo sensibilizar os estudantes sobre questões ambientais. No entanto, Richard, professor de Geografia e responsável pelo projeto na escola, relata dificuldades. “Os alunos estão tendo muito mais interesse em relação aos problemas ambientais, principalmente aos que nos atingem diretamente, como as enchentes. Mesmo Sapucaia não sendo fortemente impactada, o impacto emocional dessas realidades está presente.”

Apesar do crescente interesse dos alunos, a falta de recursos e apoio das secretarias é um grande empecilho. “No início do ano, a Secretaria do Meio Ambiente entregou um kit básico com carro de mão, mangueira, rastelo e outras ferramentas de jardim. E isso era para nós realizarmos um grande projeto de conservação. Depois disso, nunca mais voltaram, não

houve mais acompanhamento”, conta o professor. A ausência de formação contínua para os instrutores é outro desafio. O professor destaca que, apesar de a Secretaria do Meio Ambiente oferecer capacitações, elas ocorrem em horários que coincidem com as aulas. “Eu trabalho em quatro escolas da rede. Para ir a uma dessas formações, eu tenho que escolher qual das escolas não vou trabalhar naquele dia. Isso inviabiliza a participação de muitos professores”, explica.

SOBRECARGA

Esse cenário, segundo Richard, torna a prática da educação ambiental muito restrita. “Nosso trabalho aqui é pequeno, ele precisa de mais investimento e de profissionais qualificados para realmente fazer a diferença”. Além disso, ele aponta a sobrecarga

que as escolas enfrentam: “A escola acaba acumulando todo tipo de atribuição. Ela tem que cuidar do meio ambiente, da saúde pública, da educação... São tarefas para as quais ela não tem competência nem recursos suficientes.”

A falta de uma visão ampla e integrada sobre educação ambiental também é citada pelo professor, que observa uma sensibilidade maior para causas específicas, como a proteção de animais domésticos, mas uma menor percepção sobre outros temas ambientais mais amplos. “O que parece despertar mais empatia hoje em dia são os pets, como gatos e cachorros. Qualquer outro animal não parece sensibilizar ninguém”, critica.

BARREIRAS Apesar dos desafios, Richard acredita que o interesse crescente dos alunos é um sinal positivo, mas alerta para a necessidade de uma abordagem mais estruturada. “É necessário trabalhar muito ainda essas questões ambientais, inclusive a legislação, para que as pessoas saibam o que podem ou não fazer.”

A educação ambiental nas escolas municipais, embora essencial diante das mudanças climáticas, ainda enfrenta barreiras significativas. Sem o apoio adequado das secretarias e uma formação continuada para os professores, o impacto dessas iniciativas tende a ser limitado. Para que essa educação tenha realmente um peso e transforme a vida dos alunos, são necessários mais investimentos, recursos e, principalmente, uma estrutura que permita aos professores se qualificarem e atuarem com eficácia. n

Região Metropolitana foi duramente afetada com as fortes chuvas e cheias de maio

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