FECHADO POSTO DE SAÚDE
Com cerca de 70 alunos, entre crianças e adolescentes, o projeto que ensina capoeira dentro da Fundação Fé e Alegria retoma suas atividades no ginásio da instituição, levando muito além do esporte em si: leva ensinamentos que se fundem nos próprios valores da prática
Páginas 14 e 15
Além de todo o sofrimento gerado pelo caos das enchentes de maio, segundo a assessoria da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, a Unidade de Saúde está sem previsão para reabrir, o que obriga a comunidade a se deslocar em busca de atendimento.
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Bairro ainda sofre as consequências da enchente. Basta caminhar por suas ruas para enxergar a quantidade enorme de entulhos que ainda não foram recolhidos
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A retomada dos jogos na Arena do Grêmio simboliza a união e a resiliência de uma comunidade que se reconstrói a partir da solidariedade coletiva. Em quatro páginas, acompanhe histórias de superação e de confraternização dos amantes do futebol
Páginas 6, 7, 10 e 11
Histórias de superação no pós-enchente
Afoto acima mostra o Pe Vicente Zorzo subindo as escadas da Igreja da Paróquia Santíssima Trindade com um bom número de exemplares da nossa primeira edição do Jornal Enfoque, realizada neste semestre. É a sexta edição que as turmas de Jornalismo Comunitário produzem na comunidade. O pároco distribui os exemplares nas missas aos domingos. Isso foi no dia 19 de outubro, data em que também produzimos esta segunda edição, agora em suas mãos, e que também foi adaptada para o ambiente digital. Resolvemos retornar à comunidade Farrapos com o objetivo de entender sobre as realidades vividas pelas pessoas no pós-enchente. Encontramos uma dura realidade, histórias tristes, mas também
muitas histórias de superação, de apoio comunitário, e que produz entendimento sobre como é possível retomar, reconstruir e reorientar a vida com ajuda e apoio coletivos, seja de pessoas do próprio bairro, ou vindo de fora, como foram as tantas doações recebidas, que podem ser conferidas nessa segunda edição.
A enchente deixou marcas profundas na cidade como um todo. No bairro Farrapos, podemos ver isso no ensaio fotográfico das páginas Centrais desta edição. A enchente deixou prejuízos para a saúde e a educação, pois a Unidade Básica de Saúde está fechada, e as escolas estão, aos poucos, retomando as atividades.
Histórias de superação também podem ser
conferidas aqui, como a retomada do projeto da Capoeira, as reuniões do grupo Alcoólicos Anônimos, além, é claro, da vida girando, dentro e no entorno da Arena do Grêmio, com um gigantesco número de pessoas que visitam o bairro para vibrar pelo seu time, formam sedes, grupos de torcidas e assim ajudam a comunidade Farrapos a prosperar economicamente a cada jogo. Por fim, queremos agradecer o fundamental apoio do Pe Vicente, que nos recebeu sempre com tanto carinho, naquela que nos serviu de base, a Fundação Fé e Alegria. n
BEATRIZ SALLET
Edição de textos e fotos
O Enfoque Porto Alegre - Bairro Farrapos é um jornallaboratório dirigido ao bairro com o mesmo nome localizado na Capital gaúcha. A publicação tem tiragem de 1 mil exemplares, que são distribuídos gratuitamente na região. A produção jornalística é realizada por alunos do curso de Jornalismo da Unisinos (campus de Porto Alegre).
| REDAÇÃO | TEXTOS E IMAGENS – Disciplina: Jornalismo Comunitário e Cidadão. Orientação: Beatriz Sallet (bsallet@unisinos.br). Repórteres: Bárbara Bühler, Bárbara Neves, Dominik Polchowicz Machado, Eduarda Cidade, Giordano da Costa Martini, Giovani do Prado Baltezan, João Pedro Mendoza de Menezes, Leonardo Vieira Martins, Liz Peres Fonseca, Luís Henrique Silva Leite, Luísa Bell Santos, Nícolas Córdova da Silva, Petra Karenina Drago Pacheco, Rafael Renkovski, Valentina Lopardo Malara e Vinícius da Silva Alves. | ARTE | Realização: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Projeto gráfico, diagramação e arte-finalização: Marcelo Garcia. | IMPRESSÃO | Gráfica UMA / Grupo RBS.
Universidade do Vale do Rio dos Sinos –Unisinos. Campus de Porto Alegre (RS): Av. Nilo Peçanha, 1.600, bairro Boa Vista (CEP 91330 002). Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Sergio Eduardo Mariucci. Vice-reitor: Artur Eugênio Jacobus. Pró-reitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Guilherme Trez. Pró-reitor de Administração: Cristiano Richter. Diretora da Unidade de Graduação: Paula Dal Bó Campagnolo. Coordenador do Curso de Jornalismo: Felipe Boff.
Posto de saúde fechado desde as enchentes
Sem atendimento
básico de saúde no próprio bairro, moradores são obrigados a se deslocarem para outros locais em busca de atendimento
AUnidade de Saúde Farrapos, localizada na Rua Graciano Camozzato, 185, no bairro Farrapos, em Porto Alegre, está fechada desde o início de maio desse ano, quando as enchentes afetaram grande parte da Vila Farrapos. Passados mais de cinco meses da grande enchente, a comunidade do bairro já retornou para suas residências, porém ainda não há previsão para o retorno do funcionamento do local que era referência em diversos aspectos da saúde para os moradores da Farrapos. Vacinação, atendimento psicológico e encaminhamento para especialistas eram os principais serviços fornecidos pela unidade para a população, que agora se vê abandonada diante da falta desse cuidado tão essencial para a vida. Delma Regina dos Santos, 56 anos, é educadora social e vive na comunidade desde que nasceu. Ela explica que os moradores estão sendo atendidos de forma improvisada em um CTG do bairro Humaitá, distante 20 minutos de caminhada do posto de saúde da Farrapos. A educadora passou por um princípio de infarto e foi socorrida pelo Padre Vicente, pároco local, devido à ausência de um local próximo e adequado para atendê-la. Delma conta que, apesar do CTG atuar de forma improvisada, o serviço prestado é de qualidade, mas que a principal dificuldade é o deslocamento e o tempo de espera, pois com o fechamento da unidade de saúde do bairro Farrapos, a demanda ficou represada para o CTG, que conta com serviços do CAPS apenas nas terças-feiras e com poucos profissionais para lidar com a alta demanda de atendimentos.
Aos 85 anos, Amaro Dutra afirma que o fechamento do posto é muito ruim, pois sua localização é próxima das residências mais humildes da comunidade, que perderam o espaço de acolhimento necessário para suas demandas de
saúde. Ele explica que o atendimento atual, por ser em um CTG, não funciona da maneira ideal, devido aos eventos que acontecem no mesmo local. “Falta privacidade, não há divisão entre um atendimento e outro”, relata o aposentado. Filha de Amaro, Silvana Dutra, 52 anos, é assistente social e revela que as profissionais do posto faziam uma busca ativa para monitorar a saúde dos idosos do bairro. “Dentro do bairro tem que ter uma unidade de saúde, pois como é que meu pai, nessa idade, vai ter que se deslocar até outro bairro?”, questiona.
A cozinheira Monique, de 39 anos, é natural de Manaus e mora na comunidade da Farrapos desde 2021. Ela conta que frequentava o posto para fazer o acompanhamento de saúde de um de seus filhos que tem asma. Lá, eram realizados
os exames preventivos e também os periódicos de toda a família. Ressalta ainda que conseguiu o receituário dos remédios para a asma do filho graças ao auxílio médico que recebeu enquanto estava
“Se tem um posto de saúde que é referência no bairro, sempre foi referência quando aberto, óbvio, eu não vou emprestar uma sala da Fundação. Eles que reabram o posto”
Padre Vicente
morando nos abrigos durante as enchentes. Ela teme que caso o posto não retorne, terá que buscar os serviços de urgência e emergência pois o filho tem crises de asma fortes e já precisou de deslocar até a cidade de Canoas para ser atendido. “Com o alagamento da Unidade de Saúde, perdemos todos os nossos históricos de saúde e tivemos que parar o tratamento durante a investigação dos sintomas”, lamenta. Vanessa Rosário, faz parte do grupo de mães da paróquia Santíssima Trindade. Sua filha Ivana, de 4 anos, tem síndrome de west, uma condição rara também conhecida como epilepsia mioclônica, que é caracterizada por crises epilépticas frequentes que causam um atraso no desenvolvimento cognitivo, impactando a fala e os movimentos. Devido à síndrome de Ivana, o fechamento
do posto é um grande transtorno para Vanessa, pois lá ela resolvia a maior parte das demandas de saúde da filha, como as receitas para as diversas medicações que ela precisa usar, além do fato de que ambas já eram conhecidas pelos profissionais do local, o que gerava um atendimento melhor e mais humanizado. Sua outra filha, de 10 anos, recebia atendimento odontológico no posto e agora precisa se deslocar até a UFRGS para ser atendida. “Eu moro ao lado do posto, com ele fechado tenho que gastar com Uber para me deslocar até o CTG devido a condição da minha filha, além de às vezes ter que gastar com consulta particular para conseguir receitas, pois algumas especialidades não atendem lá”, destaca Vanessa.
Padre Vicente, líder da Fundação Fé e Alegria, localizada a poucos metros do posto, relata que representantes da Prefeitura Municipal de Porto Alegre o procuraram para propor que um dos espaços da sede da Fundação fosse usado provisoriamente para abrigar o atendimento da unidade de saúde. “Me recusei, pois se tem um posto de saúde que é referência no bairro, sempre foi referência quando aberto, óbvio, eu não vou emprestar uma sala, eles que reabram o posto”, reforça.
A assessoria da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre informou que ainda não há previsão de retorno para a US, e que o atendimento segue em postos itinerantes, como é o caso do CTG.
Diante de tantos relatos ressaltando a importância do posto de saúde como referência em atendimento para a comunidade, a necessidade de retorno se faz urgente, pois como em casos de emergência, como no exemplo de Delma, nem sempre haverá uma figura de apoio como o Padre Vicente. Como se já não bastassem os diversos problemas que os moradores enfrentam no pós-enchente, eles se veem invisibilizados pelas autoridades e largados à própria sorte há mais de cinco meses, sem ao menos poder contar com a unidade de saúde de seu bairro. n
Kauanny ficou mais de um mês fora de casa
A jovem teme que uma próxima chuva volte a alagar a região
Residente do bairro Humaitá, desde 2020, Kauanny Ornel Lopes relata como foi a sua experiência vivenciando as cheias do mês de maio. A jovem reside em um condomínio na Avenida AJ Renner com seu pai, mãe, irmã mais nova e dois cachorros. Todos eles enfrentaram dificuldades, tiveram que ficar fora de casa e agora carregam um trauma. “Passar por tudo isso foi muito triste, eu via minha mãe chorando com medo de que a água subisse ainda mais, enquanto ela assistia os outros moradores perdendo tudo”, conta a jovem.
“Foi um cenário apocalíptico. Vi ruas, carros e
Kauanny disse que viu um cenário apocalíptico durante a enchente de maio, com ruas, carros e casas submersas na Farrapos e Humaitá. O condomínio onde mora alagou, e ela se refugiou na casa da avó
casas submersas na Farrapos e Humaitá. Todo o meu condomínio alagou e eu precisei ficar mais de um mês na casa da minha avó, no bairro Glória.” Foi uma conversa triste em que a adolescente, de 17 anos, relatou situações que nunca imaginariam viver um dia. Apesar da tragédia não ter destruído a sua casa, tudo o que vivenciou afetou seu psicológico, e agora teme que uma próxima chuva volte a alagar a região.
Na conversa, a adolescente conta que é estudante do 2º ano do ensino médio na Escola Maria Imaculada, no bairro Medianeira, e que precisou ficar um mês sem frequentar as aulas. “Só consegui retornar ao colégio porque meu pai foi de barco até o nosso condomínio e buscou meu uniforme e materiais escolares.” Segundo ela,
seu pai também ajudou no resgate de moradores da região e de outros familiares que estavam ilhados na zona norte.
Além de estudante, a adolescente também é estagiária do DMAE e trabalha na sede do bairro Santana, porém ficou um mês sem frequentar o local. Apesar da estrutura do departamento não ter sido afetada pela enchente, a Prefeitura de Porto Alegre compreendeu a situação, pagou normalmente seu salário e não demitiu a jovem.
Após quase dois meses na casa de sua avó, o nível das águas do Guaíba e das chuvas começaram a baixar na Capital. Assim, Kauanny e sua família voltaram ao condomínio no Humaitá, esperando retomar a normalidade. Entretanto, se depararam com
“Passar por tudo isso foi muito triste. Eu via minha mãe chorando com medo de que a água subisse ainda mais, enquanto ela assistia os outros moradores perdendo tudo”
o cenário pós-enchente, principalmente no primeiro andar dos prédios, que haviam ficado submersos. Diante dessa situação, os vizinhos se juntaram e
realizaram um mutirão de limpeza em todas as torres. Embora houvesse uma aparente “volta à normalidade”, meses após seu retorno, chuvas fortes fizeram com que o condomínio e as ruas do entorno voltassem a inundar. Dessa vez, felizmente, o nível da água não havia sido tão elevado e também não demorou para baixar. “Esses alagamentos nos deixaram com medo de que acontecesse tudo aquilo de novo.” Esse receio de uma nova enchente segue persistindo não só a Kauanny, mas também milhares de moradores do Humaitá, Farrapos e de outros bairros e cidades que foram afetados pela maior catástrofe da história do RS. n
Bairro Farrapos ainda sofre com a enchente
Ainda em reconstrução, comunidade da zona norte de Porto Alegre precisa de ajuda
Quem passa por algumas ruas do bairro Farrapos, na zona norte da capital gaúcha, estranha a falta de movimento. Casas vazias, algumas com placas de “vende” ou “aluga”. Marcas de barro nas paredes, ferrugem nos portões. Lixo acumulado nas calçadas. Em plena manhã de sábado, silêncio e poucos moradores circulando fora de avenidas principais como a A.J. Renner. Para entender a situação, o Enfoque traz o relato de quem vive e trabalha no local.
Para a moradora Zaira de Souza, cujo endereço fica em frente a uma das escolas locais, a facilidade de obter transporte é um dos motivos que a fez voltar para o bairro. “É um lugar perto de tudo. Se tu te apertar de dinheiro, pode ir a pé até o centro de Porto Alegre. Há facilidade de ônibus aqui. O trem também, tu podes ir a pé até a Estação Farrapos, a Estação Anchieta”, afirma.
A moradora, que vive no bairro desde a adolescência, conta que a água ultrapassou o segundo andar do imóvel. “Eu fui resgatada. Estava me negando a sair daqui, porque nunca veio água aqui, nessa rua. Saí com a água aqui, na altura do peito”, disse.
A limpeza e reconstrução do bairro seguem em andamento. “Tive a sorte ainda de estar morando aqui na frente da escola. Na primeira vez que eu vim após a enchente, eles já estavam fazendo a limpeza, tirando os entulhos. E a escola aqui está voltando, não nos horários integrais. Tem não sei quantas turmas aí até às 10 horas, depois até às 16h. O nosso posto de saúde é aqui, do outro lado da rua. Esse tempo todo e nada de reabrir. É muita, muita coisa destruída. Minha rua está ótima, porque é na frente da escola. Mas tem lugares aí que tem muito entulho”, relata Zaira.
O COMÉRCIO REVIVE
Além da Arena do Grêmio e um grande supermercado localizado na Av. A.J. Renner, outros comércios menores, como farmácias, ferragens, minimercados e restaurantes conseguiram retomar as atividades. Para
“É muita, muita coisa destruída. Aqui vocês veem que essa rua minha aqui está ótima, porque é na frente da escola. Mas tem lugares aí que tem muito entulho”
Zaira de Souza Moradora do bairro
bairro está passando por uma grande transformação. “Eu vejo pela igreja, tu começas a ver caras que não estavam antes. Daqui a uns 5 ou 6 anos teremos grandes surpresas, porque vamos vendo quem acredita no futuro, põe os pés no chão, arregaça as mangas e vai em frente. Isso aqui não vai virar terra de ninguém. Isso aqui é o filé mignon de Porto Alegre. E isso é um retorno de esperança, de possibilidade”, afirma.
Anúncios de residências à venda ganham destaque nas ruas do bairro. Pe. Vicente e Dona Zaira lamentam o descaso do governo municipal
Wesley Frison, que atende na Ferragem e Bazar Dusesi, a vizinhança está diferente. “Muita gente foi embora. Eu percebi que algumas pessoas foram embora e outros chegaram. Vai mudando a vizinhança, porque muita gente ficou assustada do que aconteceu. Mas tá bom, não dá para reclamar”, diz.
O comerciante, que perdeu 90% da loja, conta que, com a enchente histórica, precisou também deixar seu apartamento. “Eu moro aqui em cima. Aqui, graças a Deus o apartamento não foi atingido, mas nós tivemos que desocupar por vinte dias. A água subiu quase até a letra D [Wesley
aponta o letreiro da loja], até o meio ali”, afirma. Com alguns ajustes a fazer, a ferragem voltou a receber a clientela, após cerca de um mês e meio com as portas fechadas. “Ainda tem algumas coisas para fazer, mas são detalhes. No início, os clientes procuraram mais a parte da reconstrução elétrica, chuveiros, torneiras. Agora está começando a procurar por fechaduras, que começam a enferrujar. E rações, produtos para pets”, diz Frison.
UM POTENCIAL IMENSO
Para o Pe. Vicente Palloti, que está a frente da Fundação Fé e Alegria, a população do
O padre avalia a região como estratégica para a capital gaúcha. “Vai ter muito pessoal de outros lugares, talvez mais jovem, que vai conseguir uma casa boa, num lugar bom, porque a vila é estratégica”, diz.
Dedicado à reconstrução local, Pe. Vicente luta pela reabertura da Unidade de Saúde Farrapos, fechada desde o início das enchentes, em 3 de maio. “Esses dias até veio um pessoal ligado a um grupo político, pedindo a área da igreja para oferecer para atendimento médico, ambulatório. E eu disse ‘não, se vocês têm força política, abram o posto, nós queremos políticas públicas’. Eu digo, em consciência: tendo um posto fechado, eu não posso fazer. O meu dever é que o posto esteja funcionando. Não se pode criar paliativo”, afirma. Pe. Vicente destaca a importância do turismo que ocorre na região. “Aqui a vida tem um potencial imenso, no turismo. Imagina só a Arena do Grêmio. Quantas pessoas aqui do Rio Grande do Sul e do oeste de Santa Catarina vem para um jogo do Grêmio? Quando tem um jogo, tem uma circulação de mais gente do que tem 70% dos municípios do Rio Grande do Sul, não sei. Isso aqui é um jogo com 40 mil pessoas. E isto, ‘ah, mas é só por um final de semana’. Se três vezes por mês vem 40 mil pessoas aqui, dá 120 mil pessoas. Isso é impactante”, diz. O palpite está próximo da realidade: de acordo com o Atlas Socioeconômico do RS, publicado em 2022, 67,4% dos municípios gaúchos possuem população menor de 10 mil habitantes. n
A retomada da Arena e a reconstrução do bairro
Após uma enchente devastadora no Rio Grande do Sul, a reabertura da Arena do Grêmio simboliza a união e a resiliência de uma comunidade que se reconstrói com solidariedade e paixão
Em um momento histórico de superação, a Arena do Grêmio, em Porto Alegre, reabriu as portas em setembro de 2024, após o maior desastre natural da história do Brasil ter devastado parte do Rio Grande do Sul. A chuva que atingiu o estado no fim de abril provocou cheias sem precedentes, afetando 46 dos 94 bairros da Capital, incluindo o Humaitá, lar do Grêmio e da paixão tricolor. O estádio ficou submerso por 23 dias, deixando uma longa cicatriz, tanto na estrutura quanto na vida dos moradores e comerciantes que dependem dos jogos para manter o bairro pulsando.
“Um recomeço difícil”, relata Diego Xavier, proprietário da Lancheria da Dora, que lembra como o desastre afetou a todos. “Na sexta-feira (03 de maio), ouvimos que a água estava chegando, mas não imaginávamos que viria tão forte. Minha avó, moradora do bairro, nunca tinha visto alagar desse jeito em 65 anos. Quando acordamos no sábado (04 de maio), a água estava no pescoço. Perdemos tudo: freezer, geladeira, fogão, e até lembranças pessoais”, relembra. Assim como Diego, muitos outros perderam não só bens materiais, mas também parte de histórias de vida.
O processo de recuperação foi longo e doloroso. “Fiquei sozinho na quadra para evitar saques e cuidar do que restou. Foi um momento muito difícil, me senti vulnerável e sem chão”, contou Diego, que também precisou se deslocar para Canoas, onde a mãe vive, e depois para a praia, com o pai. Mesmo após a água baixar, a luta continuou: “Foram 23 dias de alagamento, que deixaram a casa cheia de lama. Felizmente, recebemos ajuda da Heineken, que nos mandou voluntários para fazer a limpeza e até repôs equipamentos”, contou ele, com gratidão.
O impacto não foi só material. A solidariedade brotou
Lancheria da Dora é ponto de encontro dos gremistas e marco da resistência no bairro Humaitá após a enchente que devastou a região. A placa, que resistiu à enchente, agora carrega a marca de um recomeço e do valor de cada lembrança. O proprietário, Diego Xavier (abaixo), que viu seu negócio inundado, encontrou força para recomeçar graças à solidariedade da comunidade
de diferentes partes e comovente foi o apoio dos parceiros. “Eles nos ajudaram a limpar e restaurar, fizeram pintura, trocaram tomadas, e até deram freezers novos. Sem eles, não sei como teríamos recomeçado”, disse Diego. Em um bairro onde a resiliência é quase um valor local, a ajuda se transformou em uma nova parceria, em que a lancheria agora opera exclusivamente com produtos da Heineken e da Coca-Cola, criando um laço que vai além dos negócios, baseado na gratidão e na experiência de um apoio inestimável.
Dona Juca, proprietária do bar Arena Tropical, que também sofreu com as cheias, compartilha uma experiência semelhante. “Foi terrível. Dormi com a segurança de uma vida inteira e acordei sem nada. Minha filha e eu passamos pela água no peito para salvar o que podíamos”, contou. A voz, apesar de serena, carrega o peso da luta que travou contra a água e contra o tempo. Ela também agradece as parcerias que a ajudaram a reconstruir o bar, frisando, também, a cervejaria Heineken. “Eles nos enviaram uma força-tarefa que veio para fazer o trabalho pesado. Sem eles, seria impossível reabrir”, contou. Para ela, cada ato de apoio foi crucial, desde o incentivo de amigos até o esforço de voluntários que sujaram as mãos em uma limpeza exaustiva.
A UNIÃO DA TORCIDA: O RETORNO À ARENA
Enquanto o bairro se reerguia, os torcedores do Grêmio também sentiram o impacto. Cristiano Rodrigues, um dos líderes da torcida organizada Rasta, relatou o desafio que enfrentaram para continuar apoiando o time. “Durante a enchente, a gente andou 40 mil quilômetros para acompanhar o Grêmio. Não deixamos de ir a nenhum jogo, nem mesmo os em Curitiba, onde o Grêmio jogou como mandante enquanto a Arena estava em reformas”, contou. A dedicação da torcida foi intensa, e o apoio logístico do clube e da empresa de transportes Planalto foi fundamental para que pudessem continuar a jornada.
Cristiano ainda refletiu sobre o sentimento de
pertencimento e a força que o desastre trouxe para a relação entre a torcida e o clube. “Eu acho que, se era para voltar, tinha que ser com a Arena completa. Passamos tanto tempo longe que o ideal era voltarmos com toda a força, com todos os lugares disponíveis”, disse, reforçando o desejo de um retorno completo, sem limitações de capacidade. Foi então que, no dia 1º de setembro último, a Arena voltou a receber os jogos do Grêmio, com capacidade reduzida para 12 mil torcedores, logo ampliada para 24 mil nas semanas seguintes e, no início de outubro, para 32.500 lugares. Finalmente, no dia 26 de outubro, a capacidade máxima de 55.662 torcedores foi restabelecida, um marco de superação para todos os afetados. Esse processo gradual simbolizou um renascimento
O nível alcançado pela água no bar (à esquerda), lembrança visível da devastação. Abaixo, torcida organizada Rasta, de Santa Maria, já viajou 40 mil quilômetros para acompanhar o Grêmio. Dona Juca (no meio, à esquerda), proprietária do Arena Tropical, hoje é símbolo da reconstrução e resiliência. Amigos se reencontram na frente do bar (abaixo, à esquerda), trazendo de volta a vida ao Humaitá. Cristiano mostra a geladeira que a enchente inutilizou, uma das muitas perdas materiais
não apenas para o estádio, mas para os bairros Humaitá e Farrapos, que se enchiam novamente de vida. “Cada jogo, cada vez que mais torcedores puderam entrar, foi um alívio”, conta Diego. “Começou com 12 mil, depois dobrou, e agora voltamos ao normal. Ver o pessoal voltando ao bar, reencontrando amigos, é um respiro de esperança”, relatou ele. Dona Juca também celebrou o retorno, explicando que, para muitos comerciantes da região, a volta dos jogos é crucial para a sobrevivência financeira. “É disso que a gente vive. Sem o fluxo dos jogos, é difícil sustentar um negócio”, comentou.
O LEGADO E OS DESAFIOS FUTUROS
O desastre deixou um legado de aprendizado e, para
muitos, de reconhecimento das vulnerabilidades da região. “Até agora, eu só vi asfalto novo, mas a minha preocupação é com as bombas de drenagem”, apontou Diego. “Precisamos de geradores que mantenham as bombas funcionando em caso de falta de luz. A comunidade não pode mais ficar sujeita a esse tipo de situação sem proteção.” Esse é um apelo que ecoa entre moradores e comerciantes, que temem uma repetição do desastre.
“Foi
terrível. Dormi com a segurança de uma vida inteira e acordei sem nada. Minha filha e eu passamos pela água no peito para salvar o que podíamos”
Dona Juca Proprietária do bar Arena Tropical
Dona Juca reforça essa necessidade de proteção e destaca a importância da união da comunidade em momentos de dificuldade. “O que aprendi é que, em situações assim, a solidariedade é fundamental. Sem a ajuda de amigos e da Heineken, não sei como estaríamos. Foi um trabalho coletivo, de gente que se importava, que pôs a mão na lama para ajudar”, conclui ela, emocionada.
A experiência também fortaleceu o elo entre o torcedor e o clube. Cristiano acredita que esse período de dificuldade só reforçou o
compromisso da torcida. “A união aumentou. Passamos por muita coisa e ainda estamos aqui, do lado do time. E agora, voltando para a Arena, com todos os lugares ocupados, a sensação é de que vencemos uma batalha.”
A volta da Arena não é apenas uma vitória esportiva e de um clube de futebol, mas também o símbolo de uma resistência coletiva. Para muitos, ela representa o começo de uma nova fase, em que as lembranças do desastre se misturam com a esperança de dias melhores. Agora, a cada grito de torcida, a cada reencontro nos bares do bairro, uma parte do trauma se transforma em resiliência, reafirmando o espírito de uma comunidade que se recusa a desistir. n
A tragédia deixa marcas
Em maio deste ano, as paredes e fachadas do bairro Farrapos ganharam uma trágica pintura: as marcas de barro. As listras marrons indicam a altura atingida pela água, como se fossem uma régua que mede o efeito da catástrofe climática. O resíduo acumulado nas ruas mostra que muita coisa foi abandonada, inclusive parte da história de quem viveu no bairro. As placas de venda dos imóveis servem como um lembrete: algumas pessoas vão embora, enquanto outras resistem. Apesar das dificuldades, a vida continua. n
Tradição e confraternização nas sedes dos torcedores
Sede 1903 e Sede do Vale são locais que reúnem torcedores em torno do amor pelo Grêmio, em um espaço de amizade, churrasco e cerveja, sempre em dias de jogos
Amigração do estádio Olímpico para a Arena do Grêmio, trouxe mudanças significativas na rotina dos torcedores gremistas, que não só passaram a frequentar um novo estádio, mas também a encontrar um novo local para continuar uma de suas mais antigas tradições: o churrasco e a cerveja do pré-jogo. Em busca de uma estrutura que mantivesse viva a essência dessa confraternização, grupos de torcedores se reuniram para transformar a área em torno da Arena em um novo ponto de encontro e, assim, começaram a surgir as sedes de torcedores no bairro Farrapos.
A SEDE 1903
Um dos primeiros grupos a estabelecer um espaço para se reunir em dias de jogos foi a Sede 1903. Fabrício Fontanella, conhecido como “Presida”, é o atual presidente e conta que a missão de encontrar um local para os torcedores foi iniciada por Gustavinho, um dos membros fundadores da Sede 1903.
“Antes mesmo da inauguração da Arena, em dezembro de 2012, começamos a buscar um lugar nas proximidades que pudesse receber os torcedores. Após algumas buscas, encontramos uma praça arborizada, com boa sombra, em frente ao Bar da Isa. Foi ali que começamos a nos reunir, e passamos todo o ano de 2013 fazendo churrasco naquele espaço,” conta Fabrício.
Devido à necessidade de levar todos os utensílios para realizar o churrasco, o grupo decidiu construir uma churrasqueira de pedra no meio da praça. No entanto, poucos dias depois, a estrutura foi destruída por moradores incomodados com a movimentação no local. Isabel, dona do Bar da Isa, presenciou o incidente e entrou em contato com o grupo, informando sobre uma casa para alugar próxima do local. Em março de 2014, o
Um dos primeiros grupos a estabelecer um espaço para se reunir em dias de jogos foi a Sede 1903. Com 10 anos de existência e 70 sócios, foi afetada pela enchente de maio
grupo fechou o aluguel da casa com o proprietário e, 30 dias depois, realizou a inauguração oficial do espaço. Aos poucos, o grupo começou a investir em infraestrutura, e foi adquirindo móveis e utensílios necessários para acomodar os torcedores e tornar o ambiente cada vez mais confortável. Segundo Fabrício, a sede se tornou “uma extensão das nossas casas”, onde eles podem passar horas juntos realizando o famoso pré-jogo, assistir aos jogos quando o Grêmio joga fora da Arena, comer churrasco, beber cerveja e claro, celebrar seu amor pelo Grêmio.
Ao longo dos anos, a sede acumulou histórias marcantes, como o dia em que eles assaram um porco no rolete, evento que ganhou repercussão nacional em diversas emissoras de televisão.
Em outra ocasião memorável, no dia 20 de setembro de 2017, durante o feriado da Revolução Farroupilha e em um jogo decisivo da Libertadores entre Grêmio e Botafogo, a Sede 1903 assou
“Ainda estamos finalizando o projeto, pois recebemos uma quantidade enorme de doações. Assumimos esse compromisso e não podemos virar as costas para as situações que continuam a chegar até nós”
um boi inteiro, reunindo torcedores de toda a região em uma grande celebração. Atualmente, a Sede 1903 conta com mais de 70 sócios, muitos dos quais também são associados ao Grêmio, tornando o local um espaço de apoio ao time e celebração da amizade. Fabrício menciona que o grupo possui sócios espalhados por Porto Alegre, Santa Catarina, São Paulo, Goiás e Bahia. Ele ainda destaca que os associados são muito engajados em questões sociais no bairro: “Durante a pandemia, realizamos mais de 3 mil marmitas, além das festas que promovemos para
as crianças do bairro em datas especiais, como Páscoa, Dia das Crianças e Natal.”
Em 2024, a Sede 1903 comemora 10 anos de existência. No entanto, assim como todo o bairro, foi duramente afetada pelas enchentes de maio. “A água chegou a dois metros, danificando nossos quadros, recortes de jornal, fotografias, flâmulas, além de nosso equipamento de som, televisão e choperia”, relata Fabrício. Ele também menciona que abrir a porta, após 30 dias submersa, foi um momento muito triste e doloroso.
Mais uma vez, foi necessário demonstrar a força, a disciplina e o engajamento dos associados. Em julho, o espaço foi limpo, e decidiu-se que a reforma só seria realizada após a finalização dos outros trabalhos sociais e de voluntariado. Fabrício conta com orgulho que, em junho, a Sede 1903 participou do projeto Mãos à Obra, idealizado por um grupo de arquitetas do Vale dos Sinos. O projeto tem como objetivo fornecer suporte essencial a comunidades vulneráveis e já impactou mais de 100 famílias na área do Humaitá.
As iniciativas do projeto são a entrega de enxovais, abrangendo desde itens para cozinha até móveis para sala de estar e dormitório. Entre os materiais distribuídos, estão fogões, geladeiras e utensílios domésticos, promovendo dignidade e qualidade de vida para as famílias do Bairro Humaitá e Vila Farrapos.
“Foi um projeto muito amplo e muito bacana”, afirma Fabrício. A credibilidade conquistada pelo grupo foi tão alta que as doações não pararam de chegar. “Ainda estamos finalizando o projeto, pois recebemos uma quantidade enorme de doações, como telhas, cestas básicas e kits de higiene e limpeza. Assumimos esse compromisso e não podemos virar as costas para as situações que continuam a chegar até nós”, completa.
Após todo o processo de voluntariado, que ainda segue com alguns associados, o grupo voltou ao foco das reformas do espaço. Entre o final de julho e agosto, a Sede 1903 passou por um intenso processo de reforma. Antes do fim de agosto, as portas foram reabertas, e, em meio aos jogos do Grêmio na Libertadores e na Copa do Brasil, os associados retornaram para assistir às partidas na sede (Grêmio só voltou a atuar na Arena em setembro de 2024). Hoje, mais de três meses após as enchentes, a casa está renovada e, segundo o presidente, “ficou melhor do que era
antes; e como se diz, a males que vem para o bem”.
Durante os dez anos de existência, a sede acumulou muitos itens, e o que mais foi sentido, foi a perda do acervo: quadros e fotos autografadas, além dos autógrafos nas paredes que contavam a história do local. No entanto, um aspecto positivo emergiu dessa situação: o engajamento total da comunidade e a união que se formou, permitindo que a Sede 1903 desempenhasse um papel protagonista na reconstrução do bairro, especialmente ao redor da praça.
Atualmente, os moradores são mais do que vizinhos; tornaram-se amigos. A proximidade gerou um ambiente de amizade e colaboração, onde muitos que antes não tinham contato, agora se chamam pelo nome. Essa aproximação foi extremamente proveitosa
para todos. Dez anos após a destruição da churrasqueira por alguns vizinhos, a Sede 1903 é reconhecida naquele quarteirão como uma grande associação de amigos que ajudou o bairro em um momento de necessidade. Com seu espaço renovado, continua a se fortalecer e a construir laços duradouros com a comunidade da Vila Farrapos e Humaitá.
A SEDE DO VALE
A Sede do Vale existe oficialmente desde 2018. A ideia de ter um espaço surgiu da mesma necessidade do exemplo anterior: de um grupo de amigos que não tinham um local adequado para fazer um churrasco.
Diego Jardim, é um dos fundadores e conta que começou a procurar um lugar que pudesse servir como um ponto
“Realizamos uma
vaquinha para arrecadar recursos, fazer pintura e reformas. Consegui bastante ajuda, mas também utilizei recursos próprios para fazer a sede voltar a funcionar”
Diego Jardim Um dos fundadores da Sede do Vale
de encontro para ele e seus amigos. “Iniciamos em uma garagem no começo de 2018 e, após a pandemia, mudamos
Diego Jardim é um dos fundadores da Sede do Vale, que existe oficialmente desde 2018
para o local onde estamos hoje. A ideia inicial era ter uma estrutura que incluísse banheiros separados para homens e mulheres, um espaço para nossos churrascos e um abrigo para os dias de chuva, ou seja, algo que proporcionasse conforto”, relata Diego. No início, o grupo era formado por 13 membros que contribuíam mensalmente com um valor fixo para cobrir os custos. Quando foi feita a mudança para o novo espaço, Diego conseguiu a liberação da Prefeitura de Porto Alegre para abrir uma copa, ou seja, um bar, e, com isso, desfez-se a antiga estrutura. “A manutenção dos nossos custos é feita através das vendas de bebidas e outros materiais,” comenta Diego, que ainda completa: “ Nossa sede é aberta ao público, e todo torcedor que quiser vir aproveitar o pré-jogo será bem-vindo e muito bem recebido”.
Em relação ao churrasco, que é uma tradição nos dias de jogos do Grêmio na Arena, Diego conta que a Sede do Vale possui um grupo na rede social WhatsApp, onde é organizada uma lista para aqueles que desejam participar. O pagamento de R$30,00 inclui pão e carne à vontade. “Sempre compramos uma quantidade a mais para garantir que não falte nada. Tentamos organizar tudo da melhor forma possível para atender a todos”, comenta Diego.
As enchentes de maio também impactaram a Sede do Vale. O local ficou submerso por 28 dias, com a água alcançando até o teto. Esse período resultou na perda quase total de muitos itens que estavam no espaço. “Realizamos uma vaquinha para arrecadar recursos, fazer a pintura e as reformas necessárias, tivemos que renovar o forro, o telhado e outros itens. Consegui bastante ajuda, mas também utilizei recursos próprios para fazer a sede voltar a funcionar”, comenta Diego; e finaliza: “Graças a Deus, conseguimos retomar as atividades e, em alguns aspectos estamos melhores do que antes”. A história dos torcedores gremistas no Bairro Farrapos é um exemplo de como a paixão pelo futebol pode se transformar em algo maior. As sedes dos torcedores representam não apenas o amor pelo Grêmio, mas também refletem a tradição cultural gaúcha e fortalecem a conexão entre a torcida e a comunidade, que cresce partida após partida ao longo de 12 anos. n
Os 15 anos da Narcóticos Anônimos na comunidade
Grupo do bairro Farrapos já realizou mais de 500 reuniões ao longo de quase duas décadas
Fundado em 24 de setembro de 2009 pelo senhor Sérgio
Jota, o grupo de Narcóticos Anônimos do bairro Farrapos já realizou mais de 500 reuniões ao longo de seus 15 anos. Ronaldo Bueno, secretário de reuniões, conta que por consequência da enchente de maio a sede do grupo foi fortemente atingida e isso custou a perda de todos os documentos e móveis, então o grupo decidiu reiniciar a contagem dos encontros tornando a primeira reunião pós enchente, como sendo a de ata número um: “Tudo que tu vê aqui é novo, cadeiras, atas. A gente não sabia nem o dia certo da fundação do nosso grupo, fomos descobrir depois através de fotos”, destaca.
O Narcóticos Anônimos –NA - é um grupo de recuperação para pessoas que sofrem de dependência química, cujo propósito é o de ajudar os dependentes a se recuperarem e de levar a mensagem ao adicto que ainda sofre.
COMO FUNCIONAM AS REUNIÕES
As reuniões de recuperação do grupo da Farrapos, são abertas a todos que desejam parar de usar qualquer tipo de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, ou seja, qualquer pessoa que quiser participar das reuniões é bem-vindo, seja parentes, amigos e visitantes.
O Narcóticos Anônimos é um programa de Passos, Tradições e Conceitos. Segundo Ronaldo, o conjunto das doze tradições é a base da recuperação e o princípio guia das reuniões. Entre eles, alguns se destacam e são muito importantes para os membros, como por exemplo, a questão do anonimato e do bem-estar comum.
Realizadas aos sábados, durante o período da manhã, principalmente por não ser uma região tão segura a noite, Ronaldo fala que esses encontros semanais são importantes para renovar o desejo dos integrantes de se manterem limpos, “o único requisito para virar membro é ter o desejo de parar de usar”.
Sobre como são organizados
“Antes de eu entrar no programa eu botava a culpa em todo mundo, tudo era motivo para usar, mas eu percebi que é uma questão de responsabilidade própria. Depois disso, foi uma mudança de ver o mundo como ele é, uma mudança de postura e na forma de me relacionar com a família”
Bella Membra do grupo
os encontros, o secretário de reunião conta que é seguido um roteiro padrão da Irmandade Narcóticos Anônimos. “É tudo muito organizado, em toda reunião nós seguimos as 12 tradições, os 12 princípios e os 12 passos”, ele ressalta. A duração das reuniões são de 2h, sendo dividida em duas partes: na primeira parte a reunião é fechada só para os
A reportagem do Enfoque acompanhou uma das reuniões do NA
membros adictos, momento no qual acontecem as partilhas, onde cada um conta um pouco de como foi a sua semana ou sobre algo mais específico que deseja falar. Durante a segunda parte, a reunião fica aberta a todos que desejam participar: familiares, amigos e visitantes. Ronaldo reforça que não há uma faixa etária e que toda pessoa que entrar em uma reunião e levantar a mão se identificando como um adicto, é bem-vindo ali.
O secretário de reunião explica que o grupo é autossustentável, ou seja, são os próprios membros que contribuem com uma quantia a cada reunião, pois receber ajuda de terceiros é contra o 7º princípio da Irmandade, e que, por isso, não recebem apoio de ONGS ou do governo. De acordo com Ronaldo, a maior dificuldade que o grupo enfrenta hoje em dia, é a falta de servidores: “Dinheiro e ideias não nos faltam, o que nós precisamos é de pessoas dispostas a servir o próximo, que levante o braço dele e sirva uma sala que receba aquele recém-chegado assim como ele foi recebido”, aponta.
MUDANÇA DE VIDA
Para manter o anonimato dos membros entrevistados, valor principal do NA, esta equipe de reportagem adotou pseudônimos, conforme as preferências de nossos entrevistados para contar as suas histórias. Jaghaay, limpo há mais de
18 anos, relata que entrou para os Narcóticos Anônimos (NA) em 2006, após se envolver em uma confusão na qual não havia nenhuma ligação com o caso, mas foi aconselhado pelo juiz a participar das reuniões e desde então, comparece aos encontros. Ele conta que a maior força do NA é o espírito grupal, pois as vivências e partilhas dos companheiros é o que lhe fortalece e impacta totalmente sua vida. “Eu vim pra cá para ouvir a história dos outros, eu quero escutar. Não existe partilha ruim, mesmo se for a história de alguém que recém entrou e conte os maiores absurdos, tudo me ajuda, porque faz enxergar coisas que eu já fiz ou posso vir a fazer de errado, como também pode me fazer ver o que posso melhorar”, destaca. Já Bella, uma das membras mais antigas do grupo de NA da Farrapos, conta que descobriu o grupo por conta do marido que recorreu primeiro. “O que me motivou a participar e parar de usar, foi eu ver que tinha outras pessoas que conseguiam ficar limpas presentes ali na sala”, relata. Outro motivo importante para ela foi o fato de, na época, ter um filho pequeno e precisar estar bem para cuidar dele. Para Bella, entrar no grupo a fez se sentir acolhida por conta do apoio afetivo incondicional que sentiu. “Quando eu entrei, eu não tinha amor-próprio nenhum, e ali as pessoas dizem que vão te amar enquanto tu não consegues te amar”, destaca.
Ela conta que seguir firme nas reuniões do NA mudou a sua vida por completo, pois no início de seu processo os seus maiores desafios foram em relação a si mesma e que hoje, a sua visão do mundo é outra. “Antes de eu entrar no programa eu botava a culpa em todo mundo, tudo era motivo para usar, mas eu percebi que é uma questão de responsabilidade própria. Depois disso, foi uma mudança de ver o mundo como ele é, uma mudança de postura e na forma de me relacionar com a família”.
O
ESTIGMA DA SOCIEDADE
Infelizmente em nossa sociedade existe um estigma voltado ao tópico do vício, que por muitas vezes, pode inibir as pessoas a buscar ajuda. Para Bella, as pessoas podem ter um receio por não saber o poder que a irmandade tem. “Eu acho que esse estigma pode sim afastar um pouco a participação de novos membros, enquanto as pessoas não conhecem o a irmandade, além do receio de encontrar alguém conhecido”. Já Jaghaay acredita que o estigma atrapalha, mas também que a mudança só vem se a própria pessoa estiver apta a querer mudar. “Tem um grande estigma na sociedade, a gente fica marcado como uma vez drogado, sempre drogado, mas isso não é verdade. Agora, se isso atrapalha, é uma coisa individual, porque na verdade se a pessoa quiser a recuperação, não importa qual seja a droga, ela não vai deixar essa questão a atrapalhar”, afirma.
OS 15 ANOS DO GRUPO Mês passado, o grupo comemorou os seus 15 anos de existência fazendo uma pequena festa na sede da Associação Fé e Alegria. Para Ronaldo Bueno a celebração foi muito especial pois marcou um recomeço pós enchente.“Nós fizemos um carreteiro com saladas, bolo e refrigerante no valor simbólico de 15 reais e com a ajuda de um companheiro nosso que é chefe de cozinha. Então simplesmente aquele carreteiro virou algo muito especial. Foi muito legal. E o padre com aquela gentileza dele, liberou o espaço para nós ali das crianças para fazermos a comemoração”, conta contente. n
LUÍSA BELL EDUARDA CIDADE
Projeto restaura espaços atingidos pela enchente
Iniciativa Paredes com Propósito trouxe cor para mais de 200 casas em Porto Alegre e Região Metropolitana
Aenchente que atingiu o Rio Grande do Sul em maio, transformou paisagens em cenários marcados pela destruição. Na região norte de Porto Alegre, os bairros que abrigam comunidades humildes, como Sarandi, Farrapos e Humaitá, foram duramente afetados.
O momento de dificuldade e urgência inspirou o artista urbano Jotape Pax a criar e liderar o projeto Paredes
com Propósito, que tem como objetivo mobilizar mutirões para pintar casas, escolas e outros tipos de construções, que até hoje possuem a marca de onde a água atingiu. Com uma meta de se chegar a 2 mil residências pintadas, o projeto é dividido em estágios, tendo a sua fase inicial focada majoritariamente em Porto Alegre, e logo em seguida, com um foco maior na Região Metropolitana, tendo a possibilidade de se estender para as Ilhas e o interior do Estado, em uma terceira etapa.
Com mais de 200 casas pintadas, Jotape estima que o projeto irá impactar cerca
“Os alunos amaram a nova escola e o novo colorido. Pra nós, da escola, a pintura faz toda diferença, reflete a superação, a resiliência, e a força pra seguir em frente”
Sandra Noeli Ferreira Diretora do Instituto de Educação Infantil Vitória
de 6 mil famílias: “As pessoas estão muito felizes. A gente conseguiu converter as energias de forma que a opinião pública quanto ao grafite não está mais sendo qualificada como uma arte marginal, mas sim uma arte transformadora e de autoestima para essas pessoas”, comemora o artista.
Casas de bairros como Menino Deus, Humaitá e Floresta já passaram pelo roteiro do projeto, e a comunidade Vila Brás, em São Leopoldo, na Região Metropolitana, foi a próxima a receber o grupo, ainda em outubro.
Sandra Noeli Ferreira, diretora do Instituto de
Educação Infantil Vitória, no bairro Humaitá, reforça a importância do projeto para a recuperação da comunidade: “Os alunos amaram a nova escola e o novo colorido. Pra nós, da escola, a pintura faz toda diferença, reflete a superação, a resiliência, e a força pra seguir em frente.”
Além dos mais de 150 voluntários e 40 artistas que participaram, o projeto conta com a ajuda da comunidade e empresas parceiras que fazem doações de tintas, pinceis e materiais necessários para a realização das artes. n
Dienifer ensina capoeira para crianças de todas as idades
Capoeira atua positivamente na comunidade Farrapos
Um dos projetos mais antigos realizados na Fundação Fé e Alegria continua ajudando e mudando a vida de crianças e adolescentes
Acapoeira é uma expressão cultural presente há mais de 200 anos no Brasil, unindo música, dança e luta, e tem como missão manter viva a tradição afrodescendente no país. A vila Farrapos já contava com projetos dessa modalidade desde os anos 1990. Porém, foi somente em 2003, com a Pastoral do Menor, que a oficina que atualmente ocorre no ginásio da Fundação Fé e Alegria começou. A coordenadora do projeto Mariany Souza Barbosa explica que a primeira vez que a oficina foi realizada foi no Encontrão da Meninada, um projeto onde o
público principal era formado por crianças e adolescentes da comunidade, que foram crescendo e continuaram participando. “Então hoje até adultos participam das atividades, mas são aqueles que começaram pequenos conosco e permanecem na capoeira” explicou Mariany.
BREVE HISTÓRICO
DO PROJETO
O projeto começou com a Pastoral do Menor, que é ligado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil- CNBB, e foi em 2004, na Vila Tio Zeca, em uma sala pequena que se deu o início da Oficina de Capoeira, com o símbolo da Fundação Fé Alegria (feito em EVA) onde se realizavam as atividades. Porém, por não serem um grupo de capoeira, a Pastoral do Menor
não podia formar capoeiristas. Como a coordenadora Mariany já pertencia há outros grupos de capoeira, ela conseguia parcerias para
“A capoeira é uma manifestação, é uma luta de libertação, e que hoje ela passa a ser um jogo, ela é uma dança, ela é um brinquedo, ela é lúdica, ela é várias possibilidades”
Mariany Souza Barbosa Coordenadora do projeto
constituir o grupo que segue hoje ali. Para mudar esse cenário, através da Pastoral foi criado a Associação Cultura e Cidadania - ACC, um grupo de capoeira que caminha juntamente com os fundamentos, com a missão e com a mística da Pastoral do Menor.
Atualmente, com uma média de 70 alunos, o projeto conta com quatro turmas, chamadas de Turma A, Turma B, Turma C e Graduados. A primeira delas é constituída de alunos mais novos, menores de 8 anos; na segunda, estão os que alunos na faixa dos 8 e 10 anos; os alunos na faixa etária de 11 e 12 anos compõem a terceira turma. Já os graduados, são os alunos que começaram crianças e até hoje ainda seguem no projeto, sendo então os mais antigos da oficina.
A MUDANÇA TRAZIDA PELA ENCHENTE
Com as enchentes de 2024, muitas coisas tiveram que ser reformuladas. Uma delas, explicada por Mariany, é que antes da tragédia, o projeto acontecia de segunda a sexta-feira, com exceção da terça-feira: “A gente começou a perceber que à noite as crianças e adolescentes ficavam muito soltas nas praças. Nós temos em torno de 23 ou 26 praças aqui na comunidade do Bairro Farrapos, então a gente pensou, na possibilidade de oferecer a capoeira à noite, para que eles não fiquem soltos pela rua” explicou a coordenadora do curso. O perigo das crianças estarem vulneráveis a drogas, violências e assaltos era algo que preocupava a todos, então a decisão tomada foi visando proteger elas.
Porém, após as enchentes ficou difícil de manter as coisas no mesmo horário, tanto porque vários moradores ainda não retornaram para suas casas, então existem alunos que ainda não voltaram para o projeto. Também porque, justamente por ser de noite, coisas perigosas começaram a acontecer perto do local nos horários do treino, então mudar para a manhã seria a melhor opção, mesmo que isso significasse menos treinos durante a semana.
Lamentavelmente, a sala onde os instrumentos e roupas da capoeira eram guardadas foi gravemente atingida pela grande enchente. E apesar de ter perdido tudo que foi construído e adquirido durante anos de projeto, Mariany explica que nunca pensaram em desistir: “As crianças sempre me perguntavam como iria ficar o projeto da capoeira. Porque é o momento deles, é o momento de criação, é o momento de expressão deles”, explica.
AS PARCERIAS CONSTITUÍDAS
Para lidar com os problemas decorrentes das enchentes, foi através do grupo Instituto Koinós que foi possível, aos poucos, comprar instrumentos e caixas de som, além de apoio financeiro recebido. A parceria do instituto com o projeto da capoeira não é de agora, ele existe desde antes da pandemia. “Eles foram uma parceria importantíssima para nós, eles vieram com uma visão muito linda de como a gente pode elevar o trabalho da periferia”, complementou Mariany.
A parceria funcionou tão bem justamente por conta da similaridade que ambos atribuem à importância no trabalho em comunidades. A oficina de capoeira no Fé e Alegria sempre teve um olhar carinhoso com a comunidade, e o Instituto Koinós ajudou nessa parte, fazendo um levantamento sobre pertencimento na comunidade. Apesar de estar localizado na Vila Farrapos, existem alunos do projeto que vem da Vila Progresso, da Mário Quintana, da Vila Liberdade entre outras. Deste modo, eles conseguiram adquirir os instrumentos para o projeto e também ajudar com a questão das roupas. “As crianças vão crescendo, a gente consegue passar alguma coisa para outros alunos. Mas todos os anos acabamos fazendo alguma leva de uniformes” enfatizou Mariany.
Na questão dos uniformes, um grande apoiador que o projeto consegue contar, está dentro da própria Fundação Fé e Alegria, que é o Curso de
Corte e Costura, já referenciado na edição anterior do Enfoque. Mariany explica que sempre foi um sonho que isso acontecesse, e após a reforma da sala do curso, com novas máquinas esse sonho foi realizado: “Surgiu a possibilidade, através de uma doação dos tecidos através do Padre Vicente, de se confeccionar os abadás das crianças, e conseguimos. É um sonho que a gente tem há muitos anos, de termos assim a confecção feita aqui na comunidade”.
A coordenadora do projeto também comenta que é muito difícil no Rio Grande do Sul achar pessoas que fazem a confecção do abadá, pois o custo de cada abadá, não fosse a parceria, seria de 70 reais para ser realizado. Então ter essa parceria das costureiras que confeccionam esses uniformes é essencial.
A IMPORTÂNCIA
DA CAPOEIRA
A capoeira, assim como outras atividades físicas, é importante pelos hábitos saudáveis que estimula, como regramentos e compromissos na pontualidade. Mariany destaca que uma das principais missões do projeto é ajudar os alunos a se sentirem bem consigo mesmos, valorizando o bem-estar e a autoestima das crianças e dos adolescentes. Cidadania é um importante princípio que a capoeira constantemente busca ensinar para seus aprendizes, principalmente por conta do
projeto criado pela Pastoral do Menor, a Escola de Cidadania. A capoeira é uma manifestação popular cultural afro-brasileira, então o projeto trabalha com temas sobre preconceito, discriminação, mas nunca olhando o lado vitimista e negativo da questão. “A capoeira é uma manifestação, é uma luta de libertação, e que hoje ela passa a ser um jogo, ela é uma dança, ela é um brinquedo, ela é lúdica, ela é
várias possibilidades” explicou a coordenadora. Mariany destaca o ensinamento de que a capoeira nunca é utilizada para agredir alguém, mas sim para compartilhar conhecimentos e experiências. A coordenadora explica que capoeira é uma conversa de pergunta e resposta, através do golpe e da esquiva. “O objetivo é que eles consigam fazer a troca, a conversa” pontua. Mariany Souza Barbosa,
Mariany mostra as roupas da capoeira feitas pelo curso corte e costura
também chamada de Mary, além de coordenadora da oficina da Capoeira é também líder comunitária dentro da Farrapos. Começou sua trajetória justamente em um projeto da Associação de Moradores da Vila Farrapos (Assdecom), no ano de 1993. Na época, teve suas primeiras aulas de capoeira com o Mestre Ratinho, seu instrutor. Desde então seguiu praticando em diversas escolas e projetos diferentes. No ano de 1997, Mary começou sua caminhada como professora de capoeira, desenvolvendo a atividade em creches, mas acompanhou o crescimento daquelas crianças e seguiu ensinando a prática para adolescentes e jovens.
Parceria com o Instituto Koinós garantiu novos instrumentos
Uma das alunas de Mariany, Dienifer Schefer Espindola, explica que participa do projeto desde seus 10 anos de idade. Hoje, com 19 anos, conta que deixou de fazer capoeira apenas por diversão, pois com o tempo, se apaixonou pela prática. “Quando eu estou mal, eu faço capoeira; quando estou bem, também faço capoeira. Quando não tenho nada para fazer, faço capoeira na praça. É uma coisa que já virou vício” explicou. Ela diz que se sente muito honrada em poder ajudar as crianças mais novas na prática do esporte, sempre inspirada pela professora Mariany. E pretende continuar ajudando o projeto. n
GIORDANO MARTINI JOÃO PEDRO MENDOZA
O retorno ao Bairro Farrapos
Na manhã quente e ensolarada do sábado, 19 de outubro, os alunos da disciplina de Jornalismo Comunitário e Cidadão, cadeira ministrada pela professora Beatriz Sallet, do curso de Jornalismo da Universidade Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), do campus Porto Alegre, saíram pelas ruas do bairro Farrapos, durante a segunda saída de campo, para distribuir a segunda edição deste semestre do jornal Enfoque, produzido na comunidade em setembro. Ao
todo, é a sexta edição produzida nos últimos semestres. Neste ensaio fotográfico de bastidores, você verá fotos tiradas pelos alunos dos seus colegas entregando o jornal pelo bairro em estabelecimentos, abordando pessoas na rua e deixando alguns nas entradas das casas, podendo assim também conhecer alguns rostos da nossa equipe. n