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Pautas sociais: muito além da luta por moradia

com o debate de acesso à renda.”

OMovimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) tem como foco principal - assim como está em seu nome - buscar e garantir o direito à moradia para todos os brasileiros. Mas, após ter acesso a um lar, qual o próximo passo para uma pessoa viver com dignidade?

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“O debate em busca do direito à moradia precisa andar junto com o debate de acesso à renda”. É o que coloca Cristiano Schumacher, de 48 anos, que atualmente integra a direção nacional do MNLM. O ativista era apenas um dos diversos representantes do Movimento e de lideranças de ocupações presentes na Ocupação Steigleder, no dia 13 de maio de 2023, para reunião quinzenal de debates sobre a organização e para a definição da distribuição de cestas básicas.

Enquanto Cristiano falava sobre sua trajetória de quase 30 anos em movimentos sociais, integrantes da Ocupação Justo chegavam ao galpão da Steigleder com verduras colhidas de sua própria horta comunitária. Os alfaces e temperinhos verdes recém colhidos integraram as 100 cestas de alimentos enfileiradas em duas mesas do local.

Ovos, pães, sabões e verduras eram apenas alguns dos produtos produzidos e coletados pelos projetos de economia solidária das ocupações, que faziam parte das cestas daquele dia. Como explica o líder da Steigleder e integrante da diretoria municipal do MNLM, Aldair José da Silva, de 50 anos, as cestas são provenientes de doações recebidas pelas redes sociais da Rede Solidária São Léo, vinculada à Unisinos. Quando há saldo suficiente, a Rede informa as lideranças das ocupações de que o valor será repassado para a elaboração das cestas de alimentos.

“Dessa vez foram R$ 3 mil. Usamos todo esse dinheiro transformando ele em sacolas econômicas. Algumas são compradas já prontas e outras gostamos nós mesmos de montar com produtos de ocupações e do pessoal da agricultura familiar” ressalta Aldair.

Para além da luta pela moradia, o foco das lideranças também é a busca pela dignidade dos moradores de ocupações. “O direito à moradia é o primeiro direito que pode abrir portas para outros. Sem esse direito, a pessoa não se organiza em um território, não acessa a saúde, a educação, não consegue se desenvolver e planejar seu futuro. A moradia é a porta de entrada para outros direitos” aponta Cristiano Schumacher. O militante ainda segue: “outro desafio que temos é de buscar segurança alimentar e alternativas de geração de trabalho e renda, esse é o grande desafio da discussão em torno da reforma urbana. O debate em busca do direito à moradia precisa andar junto

Lideranças

A solidariedade de todos os moradores das ocupações levam a garantia de, ao menos, cinco a sete dias de comida no prato dos mais necessitados. Tanto na aquisição de produtos, quanto na montagem das cestas básicas, todos estão ali com o propósito de lutar diariamente por respeito e pelo bem do próximo. Schumacher aponta que “uma cesta tem, em média, o valor de 60 reais, que é pouco, mas que garante o essencial para uma família se garantir por pelo menos uma semana”. Quanto mais recente uma ocupação, mais precária pode ser a situação dela, visto que os moradores ainda não se firmaram no território. As pessoas mais necessitadas, que receberão as cestas, são definidas pelas próprias lideranças de cada ocupação, que convivem e conhecem os que mais precisam.

E para além da busca pela segurança alimentar, o Movimento, juntamente à Rede Solidária, busca gerar renda para os pequenos produtores. “As cozinhas comunitárias sempre têm dois viés: um é garantir alimentação para a comunidade e outro é servir de alguma forma como instrumento de geração de trabalho e renda para as pessoas que se envolvem com as cozinhas e projetos em torno delas”, conta Schumacher.

Os envolvidos nas montagens das cestas de alimentos conseguem comprar quase todos os produtos da agricultura familiar. “Leite, feijão e arroz orgânico do Movimento Sem Terra (MST), molho de tomate feito por cooperativa, verduras dos agricultores da Lomba Grande. Esta é a ideia da Rede Solidária, ela vai apoiando iniciativas”, comemora Cristiano.

Após a organização das cestas ser finalizada, as lideranças de diferentes ocupações reuniram-se para debater as demandas e os próximos passos de suas lutas. Ficou definido que os moradores iriam participar da Jornada Nacional de Luta por Moradia Digna e Contra os Despejos em frente ao Tribunal de Justiça, Piratini e Caixa Econômica Federal em Porto Alegre, no dia 16 de maio, para cobrar das autoridades competentes o direito à moradia, mas também o despejo zero e aumento dos recursos do Minha Casa Minha Vida. E assim foi feito, em mais um dia de luta na busca por direitos básicos e essenciais a todo cidadão e cidadã. n

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