CIRCULANDO
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALE - AGOSTO/SETEMBRO DE 2013
Divulgação
ANO 16 NÚMERO 405
OPINIÃO
Um incansável combatente Sua história é marcada pelo enfrentamento destemido de injustiças e golpes militares. Nas décadas de 1950 e 1960, ele marcou profundamente a história de Governador Valadares com o jornal “O Combate”. Em 1988, publicou o romance “Nas terras do rio sem dono”, imortalizando a violenta disputa pela terra no Vale do Rio Doce até o Golpe de 1964. Desta época até à Lei da Anistia, em 1979, viu-se obrigado a viver exilado e se engajar na luta política de mais duas ditaduras pela América Latina. Para contar como foram esses árduos 15 anos longe de sua terra natal, familiares e amigos, o jornalista e ativista político Carlos Olavo da Cunha Pereira lança, aos 90 anos, seu mais novo feito, o livro “Na saga dos anos 60”. Com estilo ágil e linguagem objetiva, direta, a obra de Carlos Olavo revive a tensão, a incerteza e o medo de alguém que perde toda a sua estrutura familiar, econômica e profissional, reduzido a um mero fugitivo do regime, o tempo todo prestes a ser capturado. Mais detalhes na Página 3.
TRÂNSITO
Problemas e soluções para o nosso espaço urbano Kelly Castro
Em conversa com ciclistas, pedestres, motoristas e o responsável pelo departamento de trânsito do município, o aluno-repórter Marcello Araújo buscou compreender os principais problemas que deixam o trânsito de Valadares tão conturbado e, consequentemente, os usuários estressados. Leia a matéria completa na Página 8.
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Estamos cada vez mais distantes fisicamente uns dos outros. A sensação é que vivemos mais no mundo virtual do que no real. Essa é a reflexão que Maria Bruna Sousa, graduanda do 4º período do curso de Letras da Univale, compartilha com você, leitor, na crônica “Enfim, sós”. Já o estudante Otacílio Rodrigues, do 2º período de Jornalismo, tece análise sobre a contribuição dos coletivos urbanos para as mudanças que vem acontecendo nas cidades. Confira textos completos na Página 2.
Eles podem?
Elas também!
Videogame, futebol, seriados e filmes violentos pertencem ao universo masculino, certo? Errado. Em uma época não tão distante, o mundo das meninas e dos meninos era mesmo bem delimitado, desde a escolha da cor-de-rosa para o quarto da menina e a cor azul para o do menino. Hoje, essas barreiras estão borradas e mais permissivas. Contudo, elas ainda enfrentam preconceito da sociedade. Conheça na reportagem de Agatha Brunelly histórias de meninas que me mergulharam no espaço “deles” e o depoimento de meninos que revelam admiração pelos feitos delas. Páginas 4 e 5
Enquanto a maioria aguarda atenta o cessar do fluxo de veículos, tranquilamente a mulher atravessa o sinal vermelho para pedestre
Parceria do curso de Jornalismo com o Sesc GV Kelly Castro
Estudantes do 4º período de Jornalismo da Univale participaram, no dia 10 de setembro, do projeto Cine Sesc. Com direito a pipoca, assistiram ao filme brasileiro “Eles não usam black-tie”, de 1981, dirigido por Leon Hirszman, com fotografia de Lauro Escorel e baseado na peça “Eles não usam black-tie”, de Gianfrancesco Guarnieri. O longa aborda o conflito entre gerações no período pós ditadura militar no Brasil. Após a exibição, discutiram questões técnicas da produção e, juntamente com pessoas da comunidade que frequentam o projeto, contextualizaram o referido período político na cidade e região.
Kelly Castro
Mais uma experiência marcante na formação dos alunos de Jornalismo da Univale foi o intercâmbio cultural na comunidade indígena Gerú Tucumã, na região de Açucena, no sábado do dia 14 de setembro. O evento, promovido pelo Sesc GV, teve início com um fórum de discussão sobre as questões indígenas na atualidade. Em meio a oficinas, atividades de saúde, brincadeiras lúdicas e minitorneios, os universitários tiveram a oportunidade de conhecer e vivenciar bem de perto hábitos e tradições da cultura dos povos indígenas. Estudantes e professores do curso de Design Gráfico da Univale também participaram da visita.
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OPINIÃO
CRÔNICA
Enfim, sós MARIA BRUNA SOUSA / 4º PERÍODO DO CURSO DE LETRAS Estamos mesmo na era do isolamento. Não entendo como passamos tanto tempo com fones de ouvido, no computador e só. A que ponto chegamos? Justo nós, seres que nascemos para viver em sociedade. Onde isso vai parar? Sabe qual é o nosso sonho hoje? Ter uma internet 24 horas, que não seja “tartaruga”, que não falhe na conexão, só para ficarmos mais tempo vendo as coisas dos outros na rede social ou teclando com uma pessoa que muitas vezes nem sabemos se é real. Por isso, ninguém escreve mais cartas, bilhetes, hoje tudo deve ser resumido em 140 caracteres. Até as fofocas são virtuais, a gente não perde mais tempo com um grupinho de amigos. Quando
conhecemos alguém, a pergunta virtual é inevitável: tem e-mail? Em último caso, passamos o número do celular. Mas para que alguém vai ligar quando se tem skype para ver e falar em tempo real? Ah! E celular só serve com net e wi-fi porque não podemos ficar desconectados. Dá para acreditar nisso? Como podemos viver assim? Por que queremos agir como se fossemos seres artificiais? E ainda não acaba aqui! E o primeiro encontro? Com essa evolução nos encontramos é nas páginas virtuais, vemos o histórico, as fotos e deixamos uma mensagem não verbal. Sem falar nos namoros, “te amo à distância”, “te quero à distância” e assim sucessivamente.
E se tem casamento assim também?! Imaginem: no orkut ou no face pelo skype ou e-mail eu te sigo, até que a rede social nos separe! E finalmente: eu vos declaro conectados. E sendo assim, como ficam as igrejas? O que será delas? Será que irão adotar casório virtual? Aderir à modernidade? É uma questão a ser pensada. Agora vamos refletir: será que vivemos assim porque estamos querendo evoluir de maneira contrária à nossa natureza? Ou estamos querendo imitar as máquinas? O que falta para compreendermos que somos seres dependentes e inacabados? Que somos autossuficientes? É um casa a se pensar. Pois seguimos, enfim, sós.
O Jornal-Laboratório Circulando é uma publicação bimestral do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação (FAC). Fundação Percival Farquhar Presidente Francisco Sérgio Silvestre Universidade Vale do Rio Doce Reitora Profa. Mylene Quintela Lucca Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Pedro Lucca Neto Editora e Jornalista Responsável Profa. Fernanda de Melo F. da Silva (MG11497/JP) Editoração Eletrônica Mariana Braz e Gabriel Lioni Isidoro (Alunos do 6º e 8º Período de Design Gráfico/Univale) Impressão / Tiragem Gráfica Unidos / 500 exemplares Redação Laboratório de Jornalismo Carlos Olavo da Cunha Pereira (LabJor) Rua Israel Pinheiro, 2.000, Bairro Universitário - Campus Antônio Rodrigues Coelho - Edifício Pioneiros, Sala 4 - Governador Valadares/Minas Gerais - CEP: 35.020-220. Contato: (33) 3279-5956 / circulando@univale.br
Ilustração: Bianca Queiroz Silva
REFLEXÃO
COLETIVOS URBANOS: reorganização social com criatividade e participação OTACÍLIO RODRIGUES / 1º PERÍODO DE JORNALISMO Divulgação: Facebook
Associação Valadarense de Skate: Go Skate Day Divulgação: Facebook
Os coletivos culturais se manifestam na rua! Estão em todos os lugares, cada um com característica própria, personalidade e filosofia. Atingem o público através de ações culturais e intervenções urbanas feitas com planejamento para que, assim, surtam resultados. É uma nova tendência que chega e se espalha. Produzem ideias capazes de mudar outras ideias já enraizadas na cultura de uma comunidade. São compostos por agentes culturais, músicos, escritores, atores, educadores, empreendedores, intelectuais e pessoas dos mais diversos meios. Pessoas que trazem o novo, dispostas a mudar toda uma realidade. Oferecem atividades culturais como literatura, teatro, música, cinema, lazer... Sempre com o intuito reflexivo para quem participa. A intenção? O resgate de valores, a democratização, integração e a igualdade social. Um coletivo não se faz sozinho e, por isso, recebe esse nome. Para criar e fomentar novas culturas é preciso o trabalho em conjunto, onde o esforço de cada um faz o todo. Qualquer pessoa pode juntar-se a um grupo de amigos e criar seu próprio coletivo. Com boas ideias e muita criatividade é possível fazer coisas bacanas em prol da sociedade. Com o tempo, outras pessoas vão se juntando e fortalecendo cada vez mais o cenário independente no Brasil.
Coletivo Pedra Negra: Sala de Estar Bem.Na.Rua
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ESPECIAL
Uma vida combatendo ditaduras Livro Na saga dos anos 60 traz a emocionante história do jornalista mineiro Carlos Olavo da Cunha Pereira que combateu três ditaduras na América Latina. A obra pode ser adquirida na Livraria Leitura ou pela internet DA REDAÇÃO Em antecipação ao cinquentenário do golpe que instaurou o regime autoritário no Brasil em 1964, o livro Na saga dos anos 60, do veterano jornalista e ativista político Carlos Olavo da Cunha Pereira, é o testemunho de uma vida dedicada ao combate à ditadura em três países. A história tem início com a deposição de João Goulart pelas Forças Armadas e termina com a Anistia, em 1979.
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Com estilo ágil e linguagem objetiva, direta, a obra de Carlos Olavo revive a tensão, a incerteza e o medo de alguém que perde toda a sua estrutura familiar, econômica e profissional, reduzido a um mero fugitivo do regime, o tempo todo prestes a ser capturado.
O autor — que no livro refere a si mesmo pela alcunha de Barros Otávio —, era editor, em Governador Valadares, do jornal O Combate, em que a luta pela terra, o assassinato de posseiros, a exploração dos trabalhadores, a violência urbana, as arbitrariedades policiais e a corrupção política eram alguns dos temas abordados. Avisado de que tropas se dirigiam à cidade para prendê-lo — como parte da chamada Operação Limpeza de Área, segundo o jargão militar —, Barros Otávio vê-se obrigado a abandonar sua família, passando a
viver na clandestinidade, caçado pelo aparelho repressor do Estado. Após adotar vários disfarces e identidades falsas, refugia-se na Bolívia como exilado político, onde prossegue sua luta, até que um golpe militar toma o poder nesse país também. De volta ao Brasil — onde, com a chegada de Costa e Silva à presidência da República, a ditadura entra no seu período mais negro —, Barros Otávio se recusa a participar da resistência armada (e, de fato, os focos guerrilheiros de Caparaó e do Araguaia são logo desbaratados). Optando pela legalização, participa da oposição ao regime militar e é novamente perseguido, desta vez sob o governo Médici. Barros Otávio parte novamente rumo ao exílio, desta vez no Uruguai, onde permanece por dez anos. Junto com a esposa e os seis filhos, passa por graves dificuldades, dependendo de ajuda financeira vinda do Brasil para sobreviver, até que sobrevém, também neste país, um golpe militar. Com as perseguições políticas e a instauração da Operação Condor, o jornalista é preso pelas autoridades uruguaias. Com estilo ágil e linguagem objetiva, direta, a obra de Carlos Olavo revive a tensão, a incerteza e o medo de alguém que perde toda a sua estrutura familiar, econômica e profissional, reduzido a um mero fugitivo do regime, o tempo todo prestes a ser capturado. Paralelamente à história principal, são contextualizados, de forma sucinta, fatos históricos e seus respectivos atores políticos do período, como JK, Carlos Lacerda, José Sarney, Afonso Arinos, os presidentes militares, etc. Além de equilibrar histórias pessoais com curiosidades históricas pouco abordadas em outras obras — especialmente sobre os governos autoritários da Bolívia e do Uruguai —, Na saga dos anos 60 é leitura das mais empolgantes, que convida o leitor à reflexão quanto à importância da participação do cidadão na política nacional. * Com informações da Assessoria de Imprensa da Geração Editorial
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Título: Na Saga dos Anos 60 Autor: Carlos Olavo da Cunha Pereira Editora: Geração Editorial Especificações: Brochura | 202 páginas Onde comprar: Livraria Leitura (no GV Shopping) e internet pelas principais livrarias, incluindo o sebo Estante Virtual Preço médio: R$ 30,00
SOBRE O AUTOR Carlos Olavo da Cunha Pereira nasceu em 16 de março de 1923, em Abaeté, Minas Gerais, e fez parte de uma família com grandes nomes na política. Quando jovem, Carlos Olavo morou em Juiz de Fora, onde fazia o curso de Odontologia. Faltando dois meses para concluí-lo, Carlos abandou o curso para mergulhar na Campanha “O Petróleo é Nosso”, que culminou na criação da Petrobrás. Na década de 1940, o jovem se tornou jornalista trabalhando no Jornal do Povo, veículo comprometido com lutas sociais e políticas de esquerda em Belo Horizonte. Nesse período Carlos Olavo foi enviado Governador Valadares com o objetivo de desenvolver uma série de reportagens especiais no Vale do Rio Doce, onde cresciam os conflitos rurais por causa dos despejos em massa de posseiros. Quando o Jornal do Povo encerrou suas atividades, o jornalista fixou morada em Valadares e em meados da década de 1950 criou o jornal satírico O Saci, com o slogan “Fala de todos, não briga com ninguém”. Lentamente, a luta pela terra, o assassinato de posseiros, a exploração dos trabalhadores urbanos, a violência urbana, as ações policiais arbitrárias e a corrupção de políticos foi transparecendo nas páginas do jornal. E para ampliar a atuação do jornal, Carlos Olavo
reconfigura a linha editorial do veiculo, que ganha o nome de O Combate. Sem amarras políticas e com grande apoio do comércio, O Combate ousava falar de questões políticas e divulgava todas as ações criminosas que aconteciam na região contra os pequenos agricultores. Tudo isso indignava os leitores mais conservadores. Apesar das constantes ameaças, o jornal não tinha receio de fazer denúncias e conquistou leitores em toda região do Vale do Rio Doce, onde crescia as tensões, principalmente após o anúncio da Reforma Agrária, pelo então presidente João Goulart. O jornal O Combate foi fechado em 31 de março de 1964, após um atentado contra Carlos Olavo. Neste mesmo dia, o jornalista foi levado para Belo Horizonte, deixando sua família em Governador Valadares. Após sair da cidade, Carlos Olavo foi encaminhado para Brasília e seguiu para o exílio na Bolívia e depois no Uruguai. Ao retornar ao Brasil, em 1979, com a Lei da Anistia, o jornalista trabalhou em alguns jornais da capital e foi assessor de imprensa do antropólogo Darcy Ribeiro e, posteriormente, assumiu o cargo de jornalista da Imprensa Oficial Mineira. Os muitos episódios da disputa pela terra no Vale do Rio Doce foram imortalizados no romance Nas Terras
do Rio Sem Dono (Record, 176 pág.), livro que finalizou enquanto estava exilado no Uruguai e que foi publicado, no Brasil, em 1988. Em 2001, Carlos Olavo foi homenageado pela turma pioneiro do Curso de Jornalismo da Univale e passou a dar seu nome ao Laboratório de Jornalismo (LabJor), onde o jornal-laboratório Circulando é editado. Flávia Xavier
No dia em que estourou o Golpe Militar de 1964, Carlos Olavo saiu de Valadares rumo a Brasília; exilouse na Bolívia e no Uruguai, retornando ao Brasil em 1979 com a Lei da Anistia
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SIM, ELAS PODEM! Foi-se o tempo em que as fronteiras entre os gostos e interesses do universo feminino e masculino eram rígidas e intransponíveis. Hoje, elas jogam videogame, assistem e analisam partidas de futebol e deixam eles admirados
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COMPORTAMENTO
AGATHA BRUNELLY 6º PERÍODO DE JORNALISMO Desde crianças as pessoas vivem em uma vida dividida entre feminino e masculino. Sejam em atividades ou brinquedos, alguns pais, por exemplo, não deixam os filhos, mesmo que ainda bebês, se envolverem com certas “coisas” por considerá-las como exclusivas do sexo oposto. A escolha do que teremos contato e, provavelmente, gostaremos começa antes mesmo de nascermos, e é feita por pessoas que não são nós mesmos. Um exemplo dessa limitação de preferências é quando os pais escolhem a cor-de-rosa para o quarto da menina e a cor azul para o quarto do menino. Mesmo com toda delimitação existente em torno da caracterização das coisas, todo ser humano tem obrigação de criar uma personalidade para chamar de sua. Essa personalidade é composta por preferências e opiniões, e essas são criadas após a pessoa ter conhecimento ou contato com algo. Inevitavelmente, mesmo que os pais ou responsáveis tentem definir o que as crianças vão conhecer ou gostar, os indivíduos, ao longo da vida, se envolvem em ambientes diferentes e são apresentados a novas pessoas. É aí que todos têm a chance de ter contato com algo novo no qual eles podem gostar, independente da aprovação das outras pessoas ao seu redor. Segundo o dicionário Aurélio, gênero quer dizer “grupo de seres que se assemelham por seus caracteres essenciais”, “reunião de corpos orgânicos que constituem espécie; raça; família; sorte; qualidade; casta; modo; maneira; objeto; coisa”, entre outras distinções. Ou seja, caracterizar como feminino ou masculino está ligado à quantidade de pessoas de determinado sexo que praticam ou possuem algo. Porém, entre o público de alguma coisa conhecida como de um sexo específico, há exceções. Essa exceção acontece quando uma mulher, por exemplo, gosta de algo estereotipado como masculino. Porém, tem-se a ideia que essas pessoas só existem em grandes centros urbanos, o que não é verdade.
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As pessoas reagem como se eu fosse um extraterrestre. Muita gente já falou que sou fanática demais, que isso é feio pra mim, que é chato. Karolline Guerra Dutra
Em Governador Valadares, há mulheres que praticam ou dominam atividades conhecidas como masculinas. A estudante Karolline Guerra Dutra, de 19 anos, é uma dessas. Torcedora do Cruzeiro, ama futebol e relata que essa paixão veio de berço. “Desde pequena, meu pai me levava aos estádios, comprava para mim camisas e acessórios do meu time. Mas, o interesse surgiu em 2008 e a paixão em 2009, quando o Cruzeiro perdeu a Libertadores.
Em 2012, cheguei a ser colunista de blogs e sites exclusivamente do meu time. Hoje, apenas acompanho os jogos e as notícias do futebol por causa da minha faculdade que me ocupa bastante tempo”, conta. Karoll, como é mais conhecida, explica que a reação ao descobrirem que ela gosta e entende de futebol é de espanto. Segundo ela, alguns acham o amor que ela sente pelo esporte um exagero. “As pessoas reagem como se eu fosse um extraterrestre. Muita gente já falou que sou fanática demais, que isso é feio pra mim, que é chato. Se um homem escreve algo sobre o desempenho do seu time ou posta fotos com a camisa do time do coração na internet, é dado como muito comum. Agora, se for uma mulher que faz isso, ela faz para aparecer ou ela é exageradamente fanática”, opina.
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Algumas pessoas caracterizam videogame como algo masculino ou infantil. Mas, na prática, tanto garotos quanto garotas jogam. Isadora Eller Freitas de Alencar Miranda
A indústria cultural também direciona produtos por gênero. Um exemplo são as séries de televisão. Aquelas classificadas como de terror ou ação tem histórico de agradar mais homens que mulheres. Por esse motivo, a estudante Laís Fernandes Oliveira, de 18 anos, que acompanha várias séries consideradas violentas, comenta que sua maior companhia para comentar esse assunto são os homens. “Enquanto a maioria das garotas está falando do último capítulo da novela ou do episódio dos seus seriados, eu estou comentando com os rapazes sobre as mortes das personagens, as histórias e especulando um futuro para os seriados que no momento acompanho”, afirma. Outro produto que pode ser considerado masculino é o videogame. A estudante Isadora Eller Freitas de Alencar Miranda, de 19 anos, se interessou por ele quando o ganhou de presente aos cinco anos de idade. Ela ressalta que ficou encantada com o “brinquedo” logo que o recebeu. Com o passar do tempo, tendo contato com o videogame, descobriu a existência de mais garotas, que assim como ela, apreciam a diversão. “Algumas pessoas caracterizam videogame como algo masculino ou infantil. Mas, na prática, tanto garotos quanto garotas jogam. Existem jogos desenvolvidos para diversas faixas etárias e, além do que, é bem comum ver meninas se interessarem por jogos, hoje em dia. Considero que Valadares tem um bom cenário feminino no videogame. Várias amigas, assim como eu, também jogam; inclusive jogos para computador”, garante.
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HOMENS
Tudo que é diferente está propício a sofrer resistência de aceitação por parte do meio em que quer ser inserido. Essa resistência pode acontecer quando as pessoas ainda não conhecem por completo o que está sendo apresentado. No entanto, existem pessoas que praticam o preconceito. Preconceito é um “juízo” preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude “discriminatória” perante pessoas, lugares ou tradições consideradas diferentes ou “estranhas”. Essa ação costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que é diferente. A existência de mulheres que gostam de atividades das quais são dominadas em sua maioria por homens pode ser alvo de preconceito. A estudante Carla Acácio Marques, de 24 anos, assegura que joga videogame quase todos os dias e, ainda assim, em jogos online, alguns homens duvidam que quem está do outro lado da tela seja uma mulher. “Jogo muito pelo computador. Na internet, a pessoa não vê meu rosto e não sabe quem sou. Às vezes, quando jogo online contra alguém que não me conhece, acontece de não acreditarem que sou mulher. Isso ocorre porque eu não jogo mal. Acho que o pessoal está muito acostumado com posers [termo pejorativo usado para descrever uma pessoa que finge ser algo que não é, geralmente para conseguir aceitação dentro de um grupo ou por popularidade em meio a vários outros grupos]. Ou seja, muitas meninas se dizem gamers, mas normalmente nem jogam nada. Assim, as pessoas já pensam que meninas, mesmo as que arranham alguma coisa, são piores que os meninos nos jogos”, relata.
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COMPORTAMENTO
Para alguns homens, ter mulheres praticando algo considerado por muito tempo exclusivo deles pode ser uma coisa estranha. Mas, em Valadares, alguns pensam que ter a presença feminina em atividades conhecidas como masculinas tem muitas vantagens. O web developer [desenvolvedor de sites] e gamer Kiliano Lopes de Brito, 26 anos, é casado com uma mulher que também joga videogame. Além da esposa, ele afirma que conhece várias outras garotas que apreciam esse hobby. “Na minha opinião, videogame nunca foi uma atividade exclusivamente masculina. Claro que, nos primórdios, atraía mais o público masculino, mas é algo que vem mudando muito com o tempo. A indústria de games abriu mais os olhos para esse público. Os games evoluíram como a cultura e a arte, atraindo muito mais público, logo, mais mulheres. Mas, às vezes, vejo algumas garotas evitando conhecer esse hobby por parecer algo muito masculino”, aponta. Diego Dunga Alves de Oliveira, 24 anos, é repórter de esporte no jornal Diário do Rio Doce e percebe a presença da mulher crescendo cada vez mais no cenário do futebol. “O esporte, sobretudo o futebol, pode ser entendido tanto por homem quanto para mulher. Tenho vários amigos que não gostam nada de futebol ou não entendem como funciona uma partida desse esporte. Também ocorre o contrário. Vejo pela televisão várias jornalistas comentando exatamente o que ocorre no jogo ou fazendo uma entrevista. Penso que o preconceito nessa área esportiva já acabou.
Na internet, a pessoa não vê meu rosto e não sabe quem sou. Às vezes, quando jogo online contra alguém que não me conhece, acontece de não acreditarem que sou mulher. Carla Acácio Marques
Carla alega que nunca sofreu nenhum preconceito “sério”. Mas, que situações por ela consideradas “engraçadas”, envolvendo a opinião masculina quanto ao videogame praticado por mulheres, acontecem frequentemente. “No último evento de Anime [desenho animado produzido no Japão] que teve aqui [em Valadares] estavam cobrando R$ 0,50 para você entrar no Street Fighter [jogo] e quem vencesse ficava até perder. Eu fui e, como tinha mais experiência nesse jogo do que a maioria, comecei a ganhar sem parar. Quando fui ver tinha uma multidão de gente assistindo porque não era normal uma menina ganhar. Até começaram a torcer contra e quando eu perdi faltou soltarem foguetes (risos). Acredito que não torceram contra porque eu sou mulher e sim, porque eu estava ganhando de muita gente. Posso dizer que os homens odeiam perder para mim no Street Fighter porque ‘perder pra mulher é humilhante’”, opina.
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...falar com uma garota que assiste as mesmas coisas que você, às vezes, é mais interessante do que conversar com um cara. Isso acontece porque elas são mais atentas do que nós. Igor Ferreira
Hoje em dia, quem tem capacidade de decifrar um jogo de futebol, fazer uma entrevista com os atletas, ter sua opinião sobre algum assunto ‘futebolístico’, independente de sexo, já é bom no jornalismo esportivo”. O estudante Igor Ferreira tem 20 anos e há dois assiste três vezes na semana, em média, seriados televisivos que apresentam cenas consideradas violentas e masculinas. Ele conhece garotas em Valadares que assistem os mesmo seriados com a mesma frequência. “Acho legal as mulheres assistirem séries desse modelo. É bacana elas saírem do padrão ‘menina frágil’. Pois, falar com uma garota que assiste as mesmas coisas que você, às vezes, é mais interessante do que conversar com um cara. Isso acontece porque elas são mais atentas do que nós, homens”, considera.
DIFERENTES
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INSTITUCIONAL
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CULTURA
Mercado de cores, cheiros e histórias Na maior feira livre da cidade, é possível encontrar objetos raros, alimentos frescos e jogar um pouco de conversa fora com pessoas vindas de todos os cantos do Brasil Fotos: Renato Lopes Silva
RENATO LOPES SILVA 6º PERÍODO DE JORNALISMO São 4 e meia de uma madrugada fria de um domingo. O local é a Rua José Luiz Nogueira, quase esquina com a Rua Barbára Heliodora, próximo a um dos cartões postais de Governador Valadares: o Mercado Municipal. O sol ainda não surgiu e pessoas de várias partes da cidade e região montam suas bancas, seja com estruturas de ferro ou, simplesmente, com uma lona estendida. Pequenas caminhonetes chegam com os mais variados produtos: frutas, legumes, hortaliças, peixes. Em outras, os produtos já são bem diferentes: roupas (a maioria usada), calçados, utensílios domésticos e todo o tipo de sucata que se possa imaginar. É assim que começa a maior feira livre de Governador Valadares. A princípio o cenário é triste. A maioria das pessoas está com caras de poucos amigos. Também pudera! Acordando tão cedo e com o frio que fazia não é difícil de entender o motivo. O sol chega e com ele surgem os primeiros clientes. A cara de poucos amigos desaparece e alguns sorrisos dão o ar da graça. Sentada quietinha em um banquinho próximo a uma lona estendida no chão onde havia vários brinquedos, entre ursos de pelúcia, bonecas, carrinhos de ferro e algumas bugigangas, tudo bem arrumadinho, uma senhora me chama a atenção. Com os braços cruzados se protegendo do frio me pergunta com um sotaque nordestino se gostei de alguma coisa. Eu disse que não, mas que gostaria de conversar um pouco com ela. Tímida, cabisbaixa, me conta como começou a trabalhar na feira livre. Seu nome é Helena Vasconcelos, tem 60 anos e é nascida em Sobral, no Ceará. Há 30 anos veio para Valadares com seu marido para fugir das dificuldades que enfrentava em sua cidade. Sempre aos finais de semana, fazia os famosos bazares na porta de sua casa, o que até hoje é muito comum de se ver em algumas casas. Porém, de acordo com ela, devido ao excesso de mercadoria
A cearense Helena Vasconcelos, de 60 anos, começou com um bazar na porta de casa e, há 10 anos, migrou para a feira livre
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Sentada quietinha em um banquinho próximo a uma lona estendida no chão onde havia vários brinquedos, entre ursos de pelúcia, bonecas, carrinhos de ferro e algumas bugigangas, tudo bem arrumadinho, uma senhora me chama a atenção.
que tinha, ela precisava de um lugar onde mais pessoas pudessem ver os seus produtos. Então, veio a ideia de montar uma banca na feira livre. Helena revela que há mais de 10 anos o negócio vem dando certo.
Pergunto se ela gosta ou não de trabalhar na feira livre do Mercado. De forma tímida, não diz nem que sim nem que não, apenas que já se acostumou. Eu agradeço pela conversa e, de forma bem mineira, ela me oferece um cafezinho. Não gosto muito de café, mas não quis fazer desfeita e aceitei. Segui em direção a um lugar da feira que gosto muito, mais exatamente onde ficam as frutas e hortaliças. Não sei bem se é pelo cheiro ou pelas cores. Fato curioso é que nessa parte da feira é onde os comerciantes mais gritam; e gritam muito. Quem grita mais alto consegue mais clientes. Um desses comerciantes me chamou a atenção. Seu nome é Luciomar de Souza Gregório. Dos seus 40 anos, 20 foram vividos trabalhando ali como feirante. Pergunto qual é a maior dificuldade que ele e seus companheiros enfrentam na feira. O tom da sua voz muda e ele me responde sem pensar muito. “A falta de apoio da Prefeitura. A única coisa que eles fazem é limpar as ruas no final da feira e todo ano eu tenho que pagar R$ 70,00 para eles”, desabafa em tom de revolta. Enquanto ele me contava um pouco de sua trajetória, cortava de forma bem ágil as hortaliças. Colocando-as em
pequenos saquinhos, explica que não pode parar porque tem que deixar tudo prontinho para os donos dos restaurantes que são clientes assíduos. Cheio de orgulho, conta que tudo que conseguiu até hoje veio de hortaliças comercializadas na feira e que começou a trabalhar ali porque o seu sogro feirante bem antigo na cidade - o levou para lá. “Quando comecei a trabalhar aqui eu só tinha minha esposa que estava grávida e um ventilador velho. Hoje, estou bem graças a Deus”, comenta rindo. Luciomar completa garantindo que é “muito feliz” e que graças ao trabalho na feira conseguiu sua casa própria e criar com muita dignidade suas quatro filhas.
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Quando comecei a trabalhar aqui eu só tinha minha esposa que estava grávida e um ventilador velho. Luciomar de Souza Gregório, feirante há 20 anos
Influenciado pelo sogro, antigo feirante no Mercado, Luciomar de Souza Gregório (ao centro) segue o ofício há 20 anos e revela que comprou casa e criou as quatro filhas com a venda de hortaliças
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TRÂNSITO
Caos nosso de cada dia Usuários destacam dificuldades que enfrentam diariamente para circular pelas ruas do Centro da cidade e apontam soluções, entre elas, punições mais severas. Prefeitura garante que trabalha por melhorias Fotos: Kelly Castro
MARCELLO ARAÚJO 6º PERÍODO DE JORNALISMO
O trânsito de Governador Valadares está cada vez mais caótico. Segundo dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (DETRAN-MG) de Governador Valadares, cerca de 700 veículos são emplacados por mês na região. Estima-se que 110 mil carros estão em circulação na cidade. O resultado dessa quantidade de veículos é uma desordem que está deixando motoristas valadarenses com os nervos à flor da pele. O empresário José Vicente dos Santos, 66 anos, utiliza o carro diariamente para ir trabalhar. Para ele, está cada vez mais difícil transitar pela cidade. “De alguns anos para cá tem sido estressante. Não está me fazendo bem. Acho que pela quantidade de carros, motos e caminhões que aumentaram e estão tumultuando as ruas”, avalia. Antônio Silva, 42 anos, é vigia e encontrou uma alternativa para ir de sua casa, no bairro Santa Rita, até seu trabalho, no Centro da cidade: a bicicleta. Mesmo assim, segundo ele, tem sido complicado fugir dos problemas de trânsito. “É uma confusão José Vicente dos Santos danada. Motorista não respeita a empresário gente, mas tem muito ciclista abusado. Então, todo mundo tem um pouco de culpa. Fora a quantidade de carro e moto que aumentou. E com essa moda de andar de bicicleta, tem dia que congestiona a ciclovia. Passei a ver batidas entre bicicletas, coisa que não via até um tempo atrás”, destaca. José e Antônio compartilham a visão de que punições mais severas para pedestres e motoristas seria a solução para os problemas do trânsito valadarense. “Deveriam começar a multar pesado os motoristas, os motoqueiros e, principalmente, os pedestres que andam errado. Assim, vai conscientizando na marra”, sentencia Antônio.
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De alguns anos para cá tem sido estressante. Não está me fazendo bem. Acho que pela quantidade de carros, motos e caminhões que aumentaram e estão tumultuando as ruas.
Dirigir e usar o celular é infração média, rende multa de R$ 85,13 e quatro pontos na CNH
Pedestres arriscam-se ao atravessar a Rua Israel Pinheiro ainda com o semáforo fechado
Ciclistas avançam sinal no cruzamento entre as ruas Peçanha e Prudente de Moraes
O tráfego de carroças na região central deixa o trânsito lento e gera reclamações
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José Vicente acredita que outra solução pode vir a longo prazo com a criação de uma lei que obrigue as escolas públicas e privadas a incluírem uma disciplina de educação no trânsito nas grades escolares. “Feito desde criança, mas como rotina, teríamos jovens crescendo como pedestres e motoristas mais conscientes, respeitando o direito do outro. Prevaleceria o bom senso e a boa educação”, garante. Antônio cita outro problema no Antônio Silva vigia trânsito de Governador Valadares, o transporte público. “A Prefeitura poderia colocar mais uma empresa de ônibus, pois, o transporte público daqui deixa muito a desejar. Os ônibus só andam lotados e sacodem como se estivessem carregando mercadoria”, reclama. De acordo com Marco Rios, diretor do Departamento de Transportes, Trânsito e Sistema Viário (DTTSV) da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSU), existem projetos para a melhoria do trânsito na cidade. O Plano de Intervenções no Trânsito (PAIT), em execução desde 2011 e o Plano de Mobilidade Urbana (PAC2), que será executado ainda em 2013. Marco cita ainda um trabalho realizado com as escolas públicas que visa educar as crianças no trânsito. “Temos uma unidade de educação para o trânsito que elabora estudos e ações práticas junto às escolas municipais, estaduais e particulares em níveis iniciais. Estamos em negociação com a Secretaria Municipal de Educação (SMED) visando a inclusão da educação no trânsito na grade curricular municipal do sistema da Escola de Tempo Integral”. Em relação ao transporte público, o diretor explica que, em 2012, foi aberto o edital de concorrência pública para a entrada de novas empresas de ônibus, mas devido ao desinteresse da maioria dos participantes, apenas uma empresa ganhou o processo. Rios espera que com a implantação de outros métodos, o transporte público poderá ser melhorado. “Em breve teremos intervenções no sistema de transporte público da cidade, com integração da frota instituindo o bilhete único para os usuários do cartão, além de intervenções para construção dos corredores de ônibus BRS ou BRT (Bus Rapid Transport)”, aponta.
Deveriam começar a multar pesado os motoristas, os motoqueiros e, principalmente, os pedestres que andam errado.