Circulando edição 521

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Quarenta anos de muito amor

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Santa Rita: diversidade no vai e vem

Luiz Pinga e o sucesso nas pistas

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“Uma cidade dentro de Valadares”

Circulando JORNAL-LABORATÓRIO

CURSO DE JORNALISMO

FEVEREIRO 2015

ANO 16 EDIÇÃO 521

FOTO: Guinther Carvalho

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

ESPECIAL

Um santuário que guarda grandes histórias A Paróquia Santa Rita de Cássia, no bairro Santa Rita, há 47 anos é muita querida pelos moradores da comunidade, recebe inúmeros visitantes de fora e tem esse nome pela devoção de seus fiéis à santa. O que pouca gente sabe é que ela tem grande importância cultural para o bairro. A equipe do Circulando foi conhecer melhor o local e sua história. Também conversou com frei João Guido Faria (no detalhe), que tem 80 anos, 50 dos quais dedicados ao sacerdócio. Apesar de não ser de Valadares, ele contou que a cidade é sua grande paixão. Figura admirada no Santa Rita por seus inúmeros trabalhos realizados, frei Guido já não tem mais nenhuma função específica na igreja, mas não abre mão de estar presente nas celebrações das missas e em eventos importantes. Ele conta que seus anos de experiência o proporcionaram duas coisas raras: sabedoria e fé.

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Tido como um dos mais antigos de Governador Valadares, o bairro Santa Rita é também o maior em extensão. Conta-se que sua história começou a ser escrita no dia 30 de abril de 1967, com a chegada de freis capuchinhos à cidade. Na época, esses freis foram

FOTO: Arquivo pessoal

FOTO: Laisla Andrade

morar na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, localizada em um lugar pobre e afastado do centro da cidade. Mais tarde, a Paróquia se tornou uma igreja dedicada a Santa Rita de Cássia, que também deu nome ao bairro, e é considerada a construção mais antiga do Santa Rita.

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FOTO: Antônio Cota/Diário do Rio Doce

Karatê, amor e superação

APAC: projeto que deu certo

A rotina começa às 6 horas com café da manhã e, logo após, uma oração. Depois é hora dos trabalhos artesanais, em seguida, o almoço. Mais tarefas das 15h até às 17h, e assim, o momento de lazer até às 22h. Poderia ser uma rotina normal para quem imaginar, mas para as mais de 40 re-

cuperandas da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de Valadares, é algo que precisa ser cumprido à risca. O objetivo da APAC, que funciona no Santa Rita, é justamente fazer com que condenadas por crimes se ressocializem de maneira disciplinar e educativa.

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Bairro grande, grande bairro

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Proporcionar,por meio do esporte, que crianças e adolescentes conheçam seus talentos, desenvolvam habilidades e, com isso, tornarem-se cidadãos melhores. Essa é a proposta do Projeto Pablo Karatê, no bairro Santa Rita. O projeto começou há quase 10 anos a

partia da iniciativa do jovem Pablo Keitilon. Depois que ele morreu, num acidente de trânsito, em 2012, o pai, Romanci Gomes, assumiu o projeto, que atualmente atente, gratuitamente, mais de 70 pessoas com idades entre 5 e 22 anos. E o trabalho vem gerando bons frutos.


2 FEVEREIRO 2015

OPINIÃO

EDITORIAL

POR Aline Júlia

Uma cidade dentro da cidade

O JORNAL LABORATÓRIO CIRCULANDO é uma publicação bimestral do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação (FAC) Fundação Percival Farquhar Presidente: Sr. Francisco Sérgio Silvestre

Redação

Expediente

Com aproximadamente 53 anos e mais de 19 mil moradores, o bairro Santa Rita tem estrutura de uma cidade. Ao percorrê-lo, é fácil perceber o quanto é cercado de ruas arvorejadas, igrejas bonitas, comércios tentadores, crianças correndo no fim da tarde, conversas dos antigos amigos nos banquinhos das praças, dos papos nos barzinhos e das caminhadas nas manhãs de sol. É dessa forma que gosto de ver o bairro onde moro, mesmo com todos os problemas que lá existem. Por ser o maior em extensão territorial de Governador Valadares, o Santa Rita foi o bairro escolhido pela equipe do jornal-laboratório Circulando, do curso de Jornalismo da Univale. Equipe essa que saiu pelas ruas, pautando e apurando as belíssimas histórias desse bairro, retratando a saúde, segurança, esporte, cultura e tudo o que o movimenta. A proposta do jornal é que os alunos coloquem na prática o que aprenderam em sala de aula, aproximando os estudantes da área da comunicação com o público externo. Ao longo de 15 anos o Circulando vem estampando histórias incríveis. Tive uma enorme satisfação quando o bairro foi selecionado para preencher as páginas desta edição especial. Poder conhecer, ter a missão de contar e preservar a memória daqueles que fizeram e fazem parte do crescimento do Santa Rita foi ótimo, uma oportunidade de presentear um povo encantador, que batalha por um local melhor. Os solos que hoje compõem o Santa Rita eram, antes da sua regulamentação, uma fazenda deserta com o nome Vila Boa Vista. No início o bairro, havia poucas casas, mas alcançou um enorme crescimento ao longo de mais de meio século, transformou-se em um local muito agradável e acolhedor, com praças, postos de saúde, bancos, supermercados, restaurantes, bares, casas noturnas e linhas de ônibus que circulam do bairro ao centro. É, sem dúvidas, um enorme crescimento urbano para os moradores que lutam pelo desenvolvimento. O bairro continua apresentando uma grande evolução, se tornou um dos mais agradáveis da cidade para morar. As casas que antes eram poucas e simples têm hoje um novo cenário habitacional e moderno. As ruas são pavimentadas, com ótima infraestrutura e infinidade de atrações. É lugar preferido até por quem não mora mais nele. Nosso objetivo é fazer deste veículo de comunicação um registro de fatos relembrados por cada morador que abriu as portas de suas casas e receberam os alunos que passaram dias pesquisando a história deste admirável lugar.

Laboratório de Jornalismo e Publicidade Carlos Olavo da Cunha Pereira Rua Israel Pinheiro, 2000, Bairro Universitário - Campus Antônio

Universidade Vale do Rio Doce Reitor: Prof. José Geraldo Lemos Prata

Rodrigues Coelho - Edifício Pionei-

Coordenador do Curso de Jornalismo e Produção Publicitária: Prof. Dileymárcio de Carvalho Gomes

dor Valadares / Minas Gerais

Projeto Gráfico e Design: Prof. Mayer Moraes Lana Sírio Prof. Elton Binda Editor e Jornalista Responsável: Prof. Franco Dani - MTb MG 03.319 JP Repórteres: Alunos do 5ºperíodo de Jornalismo Editoração Eletrônica: Prof.Elton Binda Impressão / Tiragem: Gráfica e Editora Leste / 1000 exemplares

ros, Bloco C - Sala 6 - GovernaCEP: 35.020.220 Contato: (33) 3279-5548 circulando@univale.br

VOZ DO CIDADÃO

POR RICARDO BELECHIAM

Raphaela Nazaro, 23 anos Avenida Nacle Miguel Habib

Infelizmente, existem muitas brigas entre ‘ganges’ rivais do próprio bairro e às vezes me sinto insegura. Seria interessante um policiamento maior e mais eficaz”, opina a moradora do bairro há 15 anos.

Pollyane Pereira da Silva, 27 anos Rua Epitácio Pessoa

Nascida e criada no bairro, Pollyane conta que convive de forma armonica com os vizinhos e gosta das escolas do bairro. Mãe de dois filhos, ela acha que poderia existir outras opções para as crianças. “O bairro é repleto de crianças. Seria muito bom retirá-las das calçadas e ter um centro pra elas se divertirem. Falta mais disso no bairro”.

VOCÊ SABIA?

Dados sobre o bairro Santa Rita Domicílios particulares permanentes

6.628

População residente

19.987

População homens

9.456

População mulheres

10.231

Razão de dependência jovens

36.4%

Razão de dependência idosos

10,4%

Razão de dependência total

46.8%

Índice de envelhecimento

28,7%

Razão de masculino x feminino

92.4%

Razão crianças-mulheres

28,2%

Média de moradores por domicílio

3.3

Proporção de domicílios ocupados

89,8%

Proporção de domicílios não ocupados

10.2%

Fonte: Censo 2010 CHARGE


3 COMPORTAMENTO

FEVEREIRO 2015

POR LETTÍCIA GABRIELLA E NATÁLIA CARVALHO

Bairro grande, grande bairro Tido como um dos mais antigos de Governador Valadares, o Santa Rita é também o maior em extensão. Conta-se que a história do bairro começou a ser escrita no dia 30 de abril de 1967, com a chegada de freis capuchinhos a Governador Valadares. Na época, estes freis foram morar na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, localizada em um lugar pobre e afastado do centro da cidade. Mais tarde, a Paróquia veio a se tornar uma igreja dedicada a Santa Rita de Cássia, que também deu nome ao bairro, e é considerada a construção mais antiga do Santa Rita. “O frei Odorico Virga de Resuttano foi o primeiro frade capuchinho a chegar aqui. Ele era italiano, e veio para a cidade como missionário”, contou o pároco frei Marcelo Marins. Adelson Feitosa mora no Santa Rita desde 1974 e há quase dois anos é presidente da Associação de Moradores do bairro. Com 23 membros, a associação é parte importante na vida das pessoas da comunidade. “Fazemos um trabalho social em prol da comunidade. Solicitamos o conserto das ruas, das redes de esgoto que não funcionam. Se

FOTO: Antônio Cota/Diário do Rio Doce

Muitas histórias FOTO: Mauro Lúcio

COM POUCO mais de 19 mil habitantes, o Santa Rita é o maior em extensão entre os bairros de Governador Valadares

alguém precisa de uma cadeira de rodas ou a consulta médica está demorando, se a pessoa precisa de uma cesta básica, ou até mesmo se não tem dinheiro para pagar os medicamentos, a função da associação é ajudar”, conta Feitosa. Comerciante, Adelson lembra que muita coisa mudou desde que chegou ao Santa Rita. “O bairro mudou bastante. Nem tinha esse nome, se chamava Paulo Vener. Era um pasto, uma roça mesmo, que aos poucos se tornou uma pequena cidade. Antes, precisávamos ir ao

centro para fazer as coisas. Agora, temos bancos, casas lotéricas e uma agência dos Correios”. O Santa Rita é uma pequena cidade e está sempre em desenvolvimento. Deste modo, como medida para combater a violência, conta com diversos projetos sociais. Entre eles, um projeto da associação do bairro em parceria com os moradores, que oferece aulas de futebol para aproximadamente 60 crianças. “Além das aulas, essas crianças recebem um suporte educacional, são evangelizadas e alertadas

sobre os ricos que vemos diariamente em nossa comunidade, como as drogas e a violência”. Segundo dados da Prefeitura de Governador Valadares, o bairro Santa Rita conta com três escolas da rede pública, duas creches conveniadas à rede municipal de educação, um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e três estratégias de Saúde da Família (postos de saúde) que atendem tanto os moradores do bairro quanto de bairros próximos, como o Castanheiras e o Canaã.

Com pouco mais de 19 mil habitantes, segundo o Censo de 2010, o bairro Santa Rita tornou-se cenário de muitas histórias reproduzidas por moradores de diversas idades. Vicente Custódio, de 68 anos, mudouse para o bairro em 1971, vindo da cidade de Caratinga (MG), e, segundo ele, é o melhor lugar onde poderia viver. “O bairro é independente, um bom lugar para se viver. Tem pessoas hospitaleiras e acolhedoras. Apesar de ser um bairro afastado, cresceu muito. Agora, só falta um hospital”. A manicure Josimar Conrado vive no Santa Rita há quase 22 anos. Mudou-se para o bairro ainda adolescente, vinda da cidade de Santa Maria do Suassuí (MG). Para ela, morar lá é quase estar em uma cidade separada de Governador Valadares, e que apesar de ser um bom lugar para se morar, já viveu tempos melhores. “O bairro já foi melhor em outros tempos, em questão da violência, por exemplo. Antes, era mais tranquilo e agora, não tanto. Mas, apesar disso, ainda é um lugar tranquilo para se viver”.

Quarenta anos de amor em poucas palavras Por Aline Júlia, Davidson Fortunato e Talita Ramalho

Há 40 anos seus pés andam pela Avenida Washington Luiz, no bairro Santa Rita. Foi lá que o Sr. Moisés Rodrigues de Souza, de 87 anos, cuidou dos sete filhos e montou o próprio negócio, um barzinho. Andando pelas calçadas, a memória não falha em lembrar dos tempos de poucas casas e gente de boa fé, os antigos e primeiros moradores do bairro. A rua não tinha asfalto e passear por ela era encontrar muito buraco e poeira. Tinha até lagoa onde tudo agora é chão. Mas nada disso impediu o aposentado de viver ali para construir a casa onde mora até hoje. O jornal Circulando bateu um papo com o Sr. Moisés e ele contou que a mudança para o bairro Santa Rita, vindo de Fidelândia, no Vale do Mucuri, não foi escolha dele, mas dos filhos. “Vim com todos

os sete filhos, aos 47 anos de idade. Cheguei e abri meu barzinho com ajuda dos meus filhos”, diz. No bairro ele viu a chance de oferecer uma boa educação nas escolas Professor Helvécio Dahe e Pedro Ribeiro Cavalcante Filho, mas isso bem antes, quando via o local com outros olhos. É do começo da vida no Santa Rita que Moisés tem mais saudades. Na época, segundo ele, o orfanato Somirehu (Sociedade Missionária de Recuperação Humana) era um campinho de futebol onde os filhos brincavam, não de bola, mas sim de peteca. Mesmo com os buracos da rua, a vida tinha mais segurança e menos violência para a família Santos. “Era tudo cheio de buracos, não tinha calçamento. No período de chuva os carros atolavam e ninguém conseguia andar. Mesmo assim, a gente não deixava de brincar”, afirma. Durante a entrevista, Moisés apontou para o

centro da rua e falou de uma recordação ruim que tem do passado no bairro: a enchente de 1979. Da parte onde as mãos apontam, até uma distância de 8 metros da casa dele, a água não deu trégua para ninguém. Os vizinhos migraram para debaixo do teto dele, em cima do bar, e ficaram lá por dias, até a “poeira baixar”. “Aqui foi o único lugar que não pegou água e os vizinhos vieram pra cá. Minha casa ficou cheia de gente, todos amontoaram suas coisas aqui e mesmo com o problema da enchente, todos ficavam alegres. Foi muito engraçado”, conta, com um leve sorriso. Desde a enchente até os dias de hoje, foram aparecendo vizinhos, comércio, escolas, calçamentos e construções. Toda a urbanidade trouxe consigo um motivo de críticas para o morador: a falta de segurança na avenida. Essa realidade, segundo ele, não se

FOTO: Aline Júlia

O CASAL conta o quanto o bairro Santa Rita desenvolveu e revelam o desejo de vê-lo ainda melhor daqui em diante

restringe apenas aos casos de violência na rua, mas na área da saúde e outras questões sociais. “Antigamente, quando os filhos passavam mal tinha que levar no centro da cidade porque aqui não tinha posto de saúde. Hoje, mesmo tendo postos de saúde falta médicos e um local mais apropriado”.

Mesmo com os problemas relatados pelo morador, muita gente ainda se muda para o bairro. O cenário está diferente e o que não faltam agora são residências. Moisés, inclusive, lembra do tempo em que os filhos moravam nos Estados Unidos e, de lá, mandavam dinheiro para a construção da casa. Se-

gundo ele, tudo mudou na avenida e mesmo com os problemas do dia a dia, nada tira seu sorriso e viu cada vírgula de história passar por aqui. “O Santa Rita virou foi cidade, né? Nessa avenida, tinha só umas três casinhas, hoje cresceu demais! Parece umas quatro cidades dentro desse bairro”, conta.


4 FEVEREIRO 2015

F Frei Guido dedicou 50 de seus 80 anos ao sacerdócio. Para ele, “na vida não precisamos temer nada e sempre insistir com tudo”

Por Kessy Almeida, Gabriella Mariano e Guinther Carvalho

ESPECIAL

Um santuário undada em 30 de abril de 1967 pela vigência da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, a Paróquia Santa Rita de Cássia está situada no bairro Santa Rita. Há 47 anos, a igreja é muita querida pelos moradores da comunidade, recebe inúmeros visitantes de fora e tem esse nome pela devoção de seus fiéis à santa. O que pouca gente sabe é que a Paróquia tem grande importância cultural para o bairro: ela é um santuário que guarda grandes histórias. E é por isso que a equipe de reportagem do jornal Circulando foi visitar o local. A igreja se chamava Paróquia Nossa Senhora de Lourdes e seu primeiro frade capuchinho foi o frei Odorico de Resuttano, um italiano. Quem contou essa história para os alunos do curso de Jornalismo foi o atual pároco, frei Marcelo Marins.

De acordo com ele, mais tarde a instituição se transformou em uma igreja dedicada a Santa Rita de Cássia. Atualmente, ela é um complexo que abrange a igreja e a casa onde moram os frades Eurípedes Otoni, Marcelo Marins, João Guido e Carlos Fabiano. “A igreja recebia muitos fiéis, eles vinham para rezar porque eram devotos à santa. Devido ao grande número de pessoas que visitavam esse local, ela se tornou um santuário”, explicou Marcelo. Segundo o pároco, para que isso acontecesse foi preciso o reconhecimento da Mitra Diocesana, que verificou e oficializou o título de santuário. Ele explica que o santuário é diocesano. “Aqui é um santuário que foi reconhecido pela Diocese, ele corresponde apenas a Governador Valadares”, disse. Ele deu exemplos de santuários nacionais, como: Santuário Nossa Senhora Aparecida (SP) e Santuário Bom Jesus (BA). Ainda de acordo com Marcelo, apesar de ser local, o Santuário é muito querido pelos moradores do bairro Santa Rita e também por pessoas de cidades vizinhas a Valadares.

FOTOS: Arquivo pessoal

AS MISSAS na Paróquia Santa Rita de Cássia estão sempre cheias. Essa foto é da

“Nós temos um espaço grande, por isso fazemos eventos que abrangem toda a comunidade, como encontro de jovens ou re-

tiros espirituais. Também fazemos reuniões, festas dedicadas aos santos e em nossa sede também já foram realizados cur-

sos técnicos”, explicou. Segundo Marins, entre as atividades semanais da Paróquia o fluxo maior de pessoas são às quintas-

FOTO: Guinther Carvalho

Uma história de de É no Santuário que mora frei João Guido Faria. Ele tem 80 anos de idade e 50 deles foram dedicados ao sacerdócio. O frei não é de Valadares, mas a cidade é sua grande paixão e está a q u i

há 25 anos. Ele é figura admirada no bairro Santa Rita por seus inúmeros trabalhos realizados. Apesar de já não ter mais nenhuma função específica na igreja, Guido não abre mão de estar presente nas celebrações das missas e em eventos importantes. Seus anos de experiência o proporcionaram duas coisas raras: sabedoria e fé. Mineiro de Pitangui (perto de Belo Horizonte), o frei conta que desde a infância a família tinha o costume de mudar de cidade. As trajetórias

foram: São Gonçalo do Pará (MG), Itaúna (MG) e, finalmente, Divinópolis (MG). Em 1953, ainda jovem, foi chamado ao sacerdócio. Nessa época, entrou para o seminário, em Belo Horizonte. No terceiro ano do seminário foi morar em Ouro Fino (SP) e também passou por outras cidades. Foi ainda em fase de formação, em 1959, que conheceu pela primeira vez Governador Valadares. “Ao todo, minha relação com a cidade tem 25 anos. Na época, vários frades não se adapta-

vam ao clima daqui, mas eu gostava. Decidi me fixar de vez em Valadares em 2011”, explicou Guido. Desde então, ele vem realizando trabalhos para a comunidade do Santa Rita. Fruto desse esforço é o título de reconhecimento de Cidadão Valadarense, concedido a ele em agosto de 2014, pela Câmara Municipal. Em todas essas ações, o aprendizado de vida de frei Guido é simples. “Na vida, não precisamos temer nada e insistir em tudo”. Dentre todas as histórias que tem para contar,


5 FEVEREIRO 2015

ESPECIAL

o no Santa Rita

MOMENTO DA Eucaristia, na Vigília Pascal. A cerimônia foi realizada na igreja, em abril do ano passado.

a Missa de Pentecostes e o encerramento do 10º Peregrinos Leigos Cristão (PLC)

-feiras. “O Santuário dedica esse dia a Santa Rira de Cássia, por isso, são realizadas três missas, começando às 7 horas, onde

os devotos se reúnem para receber o óleo abençoado”, explicou. Além disso, a igreja promove, anualmente, durante todo o mês de

maio, a festa da padroeira. A comemoração alegra os visitantes com atrações, música e barraquinhas com comidas típicas.

FIÉIS LEVANTAM vela em vigília pascal, atitude que celebra a ressurreição de Jesus

edicação uma delas é a de sua barba, que o acompanha por anos. “Um bispo pediu que eu fosse ao nordeste do País fazer um trabalho social com uma comunidade. A cidade tinha praia e eu nunca havia ido à praia. Como achei o lugar muito quente, ficava incomodado com o sol batendo no rosto. Decidi deixar a barba crescer para poder me adaptar melhor ao clima. Desde então, nunca mais cortei”, contou. Atualmente, o papel de frei João Guido na Paróquia Santa Rita de

Cássia é recepcionar a comunidade. De acordo com ele, o Direito Canônico [conjunto de leis e regulamentos adotados pelos líderes da Igreja] faz com que ele não precise exercer nenhuma função específica. Mas o frei não renuncia ao chamado. “Aos 75 anos, os bispos renunciam e se tornam eméritos. Os vigários também se afastam de suas tarefas paroquiais. Eu, com 80 anos, permaneço como uma garça branca, que vai e que volta nas margens do Rio Doce”, garantiu.

POR TER um amplo espaço, a igreja comporta uma área de lazer para até 2 mil pessoas


6 FEVEREIRO 2015

COMPORTAMENTO

Por Deividson Rodrigues, Laisla Andrade e Viviane Antunes

Bairro tem projeto pioneiro de ressocialização A rotina começa às 6 horas com café da manhã e, logo após, uma oração. Depois é hora dos trabalhos artesanais, a leitura ou a costura, em seguida o almoço, e o merecido descanso. Mais tarefas das 15h até às 17h, e assim, o momento de lazer até às 22h. Poderia ser uma rotina normal para quem imaginar, mas para Jamile Peres de Oliveira Rodrigues, que faz parte dessa rotina, os horários devem ser seguidos à risca. Jamile é uma das 47 recuperandas ou reeducandas (como são chamadas) da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de Governador Valadares. O objetivo da APAC é justamente fazer com que condenadas por crimes se ressocializem de maneira disciplinar e educativa. Lá não há agentes penitenciários, policiais, ou qualquer tipo de repressão, mas há uma plantonista sempre no local que possui acesso livre às mulheres. Essa liberdade que as recuperandas recebem dentro da instituição estabelece ainda mais uma relação entre a recuperação e a vontade de crescer. Jamile, aos 20 anos, há um na APAC, está cursando Ciências Econômicas em uma universidade de ensino à distância, além de ser presidente do conselho da instituição, ajudando

FOTOS: Laisla Andrade e Viviane Antunes

Como tudo começou

na organização do ambiente. “A gente organiza e tenta não levar problemas que tem aqui dentro lá pra fora. Tentamos resolver aqui dentro. Se há algum desentendimento das meninas, buscamos resolver aqui dentro. Também organizamos as tarefas, onde cada uma vai ficar e o que vai fazer”, afirma. As próprias recuperandas que cuidam do espaço fazem a comida e limpam as celas. Participam todos os dias da laborterapia, que consiste em recuperar o indivíduo através de tarefas ou ocupações que causem uma reflexão, preparando para um novo convívio social. Jamile disse ao Circu-

lando que tudo o que produzem ajuda financeiramente cada recuperanda. “Aqui, fazemos crochê, ponto cruz, tapetes, colchas de retalhos, artesanato, produtos com palitos de picolé, todo tipo de laborterapia”. Jamile contou ainda que elas recebem doações de todo tipo: “Recebemos de tudo, desde roupas até material de higiene, alimentos e materiais para laborterapia. Há ajuda também da Universidade Vale do Rio Doce (Univale). Os alunos fazem trabalho com a gente e também doam livros”. As recuperandas recebem assistência médica, odontológica, psicológica,

assistência social e auxílio de educadores. Todos os dias, há aulas de alfabetização no período da manhã para as que ainda não sabem ler nem escrever, no período da tarde e noite há aulas do quinto ao nono ano de ensino. Para conseguirem fazer parte da APAC, as mulheres já sentenciadas judicialmente pelo crime cometido devem possuir bom comportamento no estabelecimento prisional onde cumprem pena e decidir se desejam ser transferidas. Porém, quem dá a palavra final é o Poder Judiciário, que decide se permite ou não a inserção da detenta na associação.

A APAC nasceu em São José dos Campos (SP), em 18 de novembro de 1972, idealizada. Em 1974, a associação, que existia apenas como grupo da Pastoral Penitenciária, ganha personalidade jurídica e passa a atuar no presídio Humaitá, da mesma cidade. A partir de 1986, o Método Apac foi desenvolvido em Itaúna (MG) e de lá se expandiu para outras comarcas do Estado. O modelo em Itaúna obteve uma grande aceitação e ótimos resultados. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) estima que o índice de reincidência nas APACs seja de apenas 15% entre as ex-recuperandas. Já nos modelos normais de presídio, a reincidência é de

70%. Em Governador Valadares, o modelo APAC foi implementado em 29 de outubro de 2005 e, oficialmente, passou a funcionar em junho de 2008, através de convênio firmado com a Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais. Além dos recursos fornecidos pelo Estado, a associação recebe a ajuda de voluntários (como médicos, dentistas, advogados, psicólogos, religiosos, educadores, assistentes sociais, artesãos etc.). A APAC de Valadares fica na Avenida Wenceslau Braz, nº 855, no bairro Santa Rita. Para realizar qualquer tipo de doação, contribuição financeira ou realizar visita ao local, basta entrar em contato pelo número (33) 3272-2400.

Diversidade no vai e vem é marca registrada Por Fábio Velame, Mariana Pereira e Leandro Silva

A mobilidade urbana, assim como saúde, educação e segurança pública é um tema de extrema relevância quando se pensa na infraestrutura de uma região. Não é diferente com um bairro das dimensões do Santa Rita, contemplado com linhas de ônibus, pontos de taxi, perto da linha férrea e de um aeroporto. A linha férrea não corta o bairro, mas faz margem à BR-381, dentro do perímetro urbano de Valadares. Ao todo, são 15 ônibus da empresa Valadarense, divididos em 4 linhas, circulando diariamente pelo bairro. Quem visitar o bairro Santa Rita vai perceber o vai e vem das pessoas através de carros, motos, bicicletas, a pé e até algumas carroças. Lá, você encontra supermercados, bancos, escolas, casas lotéricas, farmácias, padarias, lanchonetes... É como se fosse uma cidade. Pela variedade de serviços que existem lá, muitas situações podem ser resolvidas dentro do bair-

FOTO: Mauro Lúcio

O USO de bicicletas e motos é muito comum no bairro Santa Rita, devido ao fato de o bairro ter uma área muito extensa

ro, sem a necessidade de se deslocar para o centro. E dentro desta realidade, é comum ver muitas bicicletas que são utilizadas como meio de transporte para circular dentro do bairro, além das mercearias, farmácias e supermercados que usam “bikes” para ajudar nas entregas das mercadorias.

A dona de casa Elenildes Oliveira, de 44 anos, moradora da rua Conselheiro Pena, disse que resolve tudo com uma bicicleta dentro do bairro. “Os meus filhos estudam em outro bairro e vão para a escola de van, mas as outras coisas eu sempre faço com bicicleta. Levar os meninos no futebol, ir pra

igreja, passar no açougue, na farmácia. Se for pra ir ao centro, ter que escolher entre bicicleta e ônibus, eu escolho a bicicleta. Não tenho reclamação das ruas do bairro. Acho tranquilo circular por aqui de bicicleta. A única coisa que atrapalha é a segurança. Não pode bobear e descuidar, pois a

situação dos roubos de bicicletas incomoda. Tem que ficar de olho aberto”. Andando pelo Santa Rita, a equipe do Circulando encontrou serviços de mototaxi. Os mototaxistas entrevistados destacaram que a maioria das corridas são para fora do bairro. Obadias Almeida Moreira, 40 anos, mototaxista há 3 anos, fala sobre essa característica: “Noventa e cinco por cento das corridas são para fora do bairro. Muito difícil ter uma corrida aqui dentro. Apesar do bairro ser grande, muita gente prefere ir a pé ou de bicicleta pra resolver as coisas dentro do próprio bairro”. Outra característica percebida pela equipe do Circulando é o grande número de pessoas que circulam a pé pelo bairro. Pais que levam os filhos às escolas, pessoas que vão ao supermercado, em padarias, farmácias e outros locais. Lucélio Gomes Flor, 43 anos, morador do bairro há 37 anos, fala sobre a opção de andar a pé: “Eu trabalho em outras regiões como

vendedor autônomo, mas quando eu estou no bairro gosto de andar a pé. Aqui é tudo tranquilo, nunca tive problema nenhum. Moro a um quilômetro do supermercado. Vou e volto a pé, não tem muito morro. O bairro é plaino e eu não vejo dificuldade de circular. Gosto de comprar as coisas no próprio bairro. Resolver coisas no centro, só em situações muito específicas”. A equipe do Circulando ainda encontrou um morador preocupado com uma situação que o incomoda bastante, mas que poucos percebem. O motorista José Geraldo Oliveira Barbosa, 52 anos, chama atenção para a situação de algumas calçadas, que não são niveladas. “As pessoas deficientes não têm como andar nas calçadas aqui do bairro. Entre subir e descer, um deficiente tem muita dificuldade para se locomover. É difícil pra eles. Se for pra rua, tem que se misturar com o tráfego de carro, moto, ônibus e bicicleta. É muito complicado para um cadeirante”.


7 ESPORTE E EDUCAÇÃO

FEVEREIRO 2015

Por Rafael Rocha e Samuel Martins

Do alto do pódio, o orgulho de sua origem Karatê, amor e superação FOTO: Camila Fernandes

POR MEIO do Projeto Pablo Karatê, os alunos não aprendem somente a lutar, mas também sobre respeito e valor à vida Por Camila Fernandes, Myllene Nobrelle e Daniela Franco

Abrir mão da própria vida para lutar por um futuro melhor para o próximo. Essa é uma atitude que muitos não teriam a coragem de tomar. Mas, se engana quem pensa que não existem pessoas boas, que fazem o bem, e principalmente, o fazem com amor! Tudo começou com a iniciativa de um jovem sonhador, apaixonado pelo esporte e que começou a lutar karatê aos 5 anos de idade: Pablo Keitilon. Ainda adolescente, mas já campeão, o menino queria dar a outras crianças a chance de conhecer o esporte que ele tanto amava. O primeiro passo foi montar a própria academia para ajudar a família nas despesas da casa, mas, depois de dois anos, Pablo queria mais. O menino chamou o pai, Romanci Gomes, e propôs um grande projeto. Pablo foi para as ruas do bairro Santa Rita e convidou todas as crianças, rapazes e moças, que ele conhecia, e até mesmo aqueles com quem não tinha nenhuma ligação, para participar do projeto. No começo, 35 crianças toparam. Era o início do Projeto Gente Inocente. Sem apoio governamental e sem fins lucrativos, o Gente Inocente começou em março de 2006, com a missão de fazer dos jovens pessoas capazes de conhecer seus talentos, desenvolvendo habilidades que os tornarão melhores cidadãos, através do esporte. No início de 2012, uma fatalidade viria mudar toda a história do projeto, da família de Pablo, e de todos os demais envolvidos. No dia 12 de janeiro, um acidente de carro tirou a vida do jovem campeão, que infelizmente não pôde ver a quantidade de vidas que seu sonho ajudou a mudar. Uma história triste, mas ainda sem ponto final. Com muita coragem e determinação, Romanci resolveu dar vida ao grande so-

nho do filho: transformar vidas através do esporte. Formar grandes atletas, mas acima de tudo, grandes pessoas. Ao lado da mulher, Conceição, do filho mais novo, Wendel Oliveira, e do grande amigo de Pablo, Maurílio Silveira, Romanci deu continuidade ao projeto, que em seguida passou a se chamar Projeto Pablo Karatê, como forma de homenagear o idealizador. Hoje, o projeto é referência no quesito esporte no bairro Santa Rita e em Governador Valadares, já tendo recebido por sete vezes consecutivas o título de melhor projeto social do gênero no leste mineiro. São 75 crianças, adolescentes e jovens, de 5 a 22 anos, participando do projeto. Entre eles, vários campeões. Para muitos, uma chance de vencer, para outros, a satisfação em fazer parte de uma família, batizada por eles de PPK. Formando campeões A luta acontece dentro e fora dos tatames. Em outubro de 2014, alguns dos alunos representaram o grupo Pablo Karatê no Campeonato Brasileiro de Karatê, em Brasília (DF). Lucas Marques, Mateus Augusto e Patrícia Soares foram destaque na competição. “Romanci falou que eu ia ganhar a medalha de ouro”, disse o pequeno Lucas, de apenas 6 anos. A confiança passada pelo mestre deu resultados positivos. Ele participou pela primeira vez de uma competição e não fez feio. Lucas está no projeto há pouco mais de um ano, mas já vem se destacando nos treinos, com seu jeito incansável de lutar. Patrícia, de 19 anos, participa desde o início do projeto. “Aqui, nesse projeto, eu conheci minha segunda família”. E é no papel de família que o projeto direcionou a vida da jovem lutadora. Hoje, ela não consegue se imaginar longe dos tatames, pois foi lá que conquistou o seu mais

importante título, ficando em 3º lugar no Campeonato Brasileiro de Karatê. Assim como Patrícia, Mateus, de 19 anos, está no projeto desde o início e afirma que sempre gostou de esporte. Quanto tinha 8 anos, praticava capoeira, e foi através de Pablo que ele conheceu o karatê e começou sua caminhada. Além das conquistas dentro do tatame, o jovem é um vencedor na vida. Com os desafios ao longo do caminho, Mateus se afastou durante quatro anos do projeto. A falta de patrocínio e más condições financeiras fizeram com que desistisse temporariamente de seu sonho. Mas, como um bom filho a casa torna, ele aceitou um outro convite, dessa vez feito por Wendel, para voltar ao projeto com a missão de disputar um campeonato que aconteceria em três dias. Além da luta, o projeto tem feito diferença na vida de Mateus. “O projeto me ajudou muito a me relacionar com as pessoas. Sempre fui muito fechado, até mesmo com minha família. Ajudou na minha formação como pessoa, nos estudos e também no lado religioso”. São histórias como essas que não deixam Romanci desistir de seus alunos. “É muito importante pra nós. O projeto segura a gente bastante”. Mesmo diante das dificuldades, o mestre luta diariamente para conseguir recursos para seus alunos. O esforço foi recompensado, através de doações da Vale. Além da união de Romanci e Conceição, o projeto é fortalecido também por Maurílio, um dos melhores amigos de Pablo. “Se eu for procurar uma palavra no dicionário pra poder qualificar o que eu sinto e a importância que tem pra mim, não existe”. O projeto é realizado no Polo de Referência no Atendimento à Família, ao Idoso, à Criança e ao Adolescente Creche e Escola Gente Inocente, na Avenida Washington Luiz, 1.879, bairro Santa Rita.

Nascido na Fazenda Bom Jesus, nas proximidades de Fidelândia, região de Ataléia (MG), Antônio Luiz de Souza, mais conhecido entre os amigos como Luiz Pinga, por vender pinga no boteco de seu pai, mudou-se para Governador Valadares na década de 1970, juntamente com a sua família em busca de expectativas melhores, como qualquer família do interior. Seu interesse pelo esporte começou aos 10 anos, quando chegou a entrar na categoria de base do time do América, de Teófilo Otoni (MG), em 1982. Porém, a experiência não lhe agradara. “Quando somos crianças, sempre sonhamos com alguma coisa. Eu sonhei em ser jogador de futebol, mas, de repente, descobri minha vocação para o atletismo”. O início No mesmo ano, uma reconhecida marca de refrigerantes promoveu em Governador Valadares um circuito de corridas pelos bairros. Chegando a vez do bairro Santa Rita sediar o evento, Luiz prontamente se inscreveu para competição, que foi o pontapé inicial na carreira de maratonista. “O circuito começou na porta da Igreja Católica. Eu lembro que dei duas voltas e os meus amigos vieram atrás de bicicleta. Por onde eu passava os moradores saíram das casas me aplaudindo e gritando. Foi uma grande festa! Afinal, era um morador do bairro que estava vencendo diante de reconhecidos nomes do atletismo valadarense”, contou o atleta, que ficou com o primeiro lugar na prova. A partir da maratona, começou então a dedicação ao atletismo. Luiz foi convidado a ingressar na equipe de atletismo de Valadares, conhecida na época como Ceijuv, representando o bairro e cidade em competições estaduais, nacionais e internacionais, como: Maratona Internacional de Vitória (ES), Maratona Internacional Atlântica Boa Vista, no Rio de Janeiro, Corrida Internacional de São Silvestre, em São Paulo, e Maratona Internacional de Miami, nos Estados Unidos.

FOTOS: Arquivo pessoal

LUIZ PINGA mostra um dos troféus que ganhou

Carreira nos EUA Ao vencer a Maratona Internacional de Vitória (ES), Luiz teve como prêmio uma passagem para disputar outro título em Nova Iorque, nos Estados Unidos. “Todo valadarense tinha o sonho de ir trabalhar nos Estados Unidos. Isso enchia os olhos de qualquer um, era preferível ir para lá do que ganhar na loteria”, brincou o maratonista. “Fiquei por lá para trabalhar, meu objetivo era fazer um pé de meia para ajudar a minha família. Trabalhei durante dois anos em um restaurante nos Estados Unidos e depois retornei ao esporte”, lembra. De volta à vida de atleta, Luiz acelerou os treinamentos até entrar em forma, e já na sua reestreia conquistou o 3º lugar. “Lá [nos EUA] temos a vantagem que todos os finais de semana têm, em média, seis competições. Engrenei e até hoje não parei”. Pinga teve indicação por duas vezes consecutivas ao troféu Brazilian Internacional Press Awards, na categoria esportiva. A premiação, criada em 1997 pelo jornalista e produtor Carlos Borges, se tornou numa das celebrações mais relevantes da cultura brasileira no âmbito internacional. Porém, foi na segunda tentativa, após ter recebido uma votação popular expressiva, disputan-

do com grandes nomes, como Anderson Silva, Victor Belfort, Hélio Castro Neves, chegou a quase nove mil votos e levou o troféu. Sua carreira foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que premiou o atleta com o título “Os Notáveis”, que homenageia brasileiros em destaque na comunidade norte-americana. Por toda sua carreira, o corredor homenageado carregou no peito o orgulho de sua origem, dos laços familiares e suas amizades. Em 2013, Luiz Pinga foi homenageado na Câmara Municipal de Valadares pelos seus feitos no esporte. “Onde sou premiado, digo que sou de Governador Valadares, do bairro Santa Rita. É aqui que começou a minha história”.



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