Circulando Edição 522

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Filhos da terra fazem sucesso e ganham o Brasil

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Os diferentes traços culturais de Valadares

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Clores Lage lança livro infanto-juvenil

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Projeto atende crianças de áreas carentes

Circulando JORNAL-LABORATÓRIO

CURSO DE JORNALISMO

MAIO/JUNHO 2015

ANO 16 EDIÇÃO 522

FOTO: Nataly Maier

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

ESPECIAL

Uma história de amor, fé e superação É difícil passar pela estrada que liga as cidades de Coroaci e Virgolândia e não notar uma igrejinha de arquitetura rústica no alto de um morro. Sua história é bem curiosa. Moradores da região acreditavam que o templo havia sido construído pelo médico Francisco Ribeiro Gonçalves, que morava e trabalhava em Governador Valadares, apenas pelo desejo de realizar um sonho pessoal. Mas, a equipe do Circulando descobriu que a história vai muito além disso. A igreja é a materialização da fé e do amor da médica Daise Camargo, viúva de Francisco. Devota de Nossa Senhora da Penha, ela fez uma promessa: caso a filha, Rosária Camargo Gonçalves, passasse no vestibular de Medicina, construiria uma igreja. E foi o que aconteceu. Pouco tempo depois, o pai de Rosária morreu e a igreja deixou de ser frequentada e, atualmente, o templo está abandonado.

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Quando o assunto é a educação dos filhos, não se pode brincar. Ainda mais se a questão envolve as finanças. É correto dar dinheiro? Em que momento pode iniciar? Com qual valor se deve começar? São algumas das perguntas mais frequentes que os pais fazem ao se tratar de mesada. É

instinto dos pequenos observar e copiar o modelo dos pais. Portanto, o aprendizado começa muito cedo. Sabendo que a formação da criança refletirá no seu futuro, a educação financeira na infância é critério importante no processo da educação, segundo especialistas ouvidos pelo Circulando.

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Um quinto da população brasileira está sofrendo os efeitos da seca em todo o país. A crise hídrica tornou-se uma preocupação constante para a população e as autoridades do país, pois os casos não são isolados e os impactos estão afetando cidades pelo Brasil afora, como Governador Va-

Cresce número de mulheres agredidas FOTO: Divulgação

FOTOS: Antônio Cota/Diário do Rio Doce

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FOTO: Divulgação

Rio Doce: escassez de chuvas preocupa

ladares, que depende diretamente do rio Doce para abastecer a população. Segundo especialistas, a quantidade de chuvas tem sido insuficiente para repor o déficit na bacia hidrográfica da nossa região. Isso, aliado às agressões ao meio ambiente e uso descontrolado dos recursos naturais.

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Crianças podem receber mesada?

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O número de casos de agressões contra mulheres em Governador Valadares está aumentando. Pelo menos é o que indica um levantamento feito pelo Circulando junto à Polícia Civil. Segundo os dados da corporação, em comparação com os dois primeiros meses de 2014, houve au-

mento no número de aplicação de medidas protetivas em favor de mulheres vítimas de violência nos dois primeiros meses deste ano. Sobre esse assunto, a equipe de reportagem conversou com a chefe da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Adeliana Marino.


2 MAIO/JUNHO 2015

OPINIÃO

CRÔNICA

EDITORIAL

Grito das ruas em Valadares “Os caras-pintadas voltaram”. Assim parte da imprensa nacional vem retratando esse novo panorama do cenário político-social brasileiro, que fez com que as pessoas, cansadas de tantas denúncias, voltassem às ruas para protestar contra a corrupção no País, e por reformas política e tributária. Trata-se de manifestações cuja bandeira não é a de partido A ou B, mas do partido do povo, que grita por um País cada vez mais justo e igualitário, principalmente na distribuição de renda. Prova disso é que nesse cenário há, de ambas as partes – situação e oposição – um discurso no sentido de que é necessário combater a corrupção a todo custo. A “explosão” das manifestações começou há quase dois anos, em todo o País, com uma pauta definida: o aumento das passagens. Apesar do bordão “Acorda Brasil” ter se tornado popular nos protestos, o episódio não reflete um despertar, e sim a uma mudança a longo prazo. Como era de se esperar, os movimentos ganharam maior repercussão nas capitais. Em Governador Valadares, o que se via eram grupos manifestando em frente à Prefeitura, ou na porta da empresa de ônibus, por conta do reajuste das passagens. Mas a partir do mês passado, os protestos de repercussão nacional ganharam força também em Valadares e, desde então, cada movimento articulado nas redes sociais ganha as ruas de nossa cidade em maior intensidade. Situação e oposição concordam

que se trata de um movimento cidadão e democrático. Mas, para entender o ponto de vista de cada um, o Circulando se propôs a conversar com algumas autoridades, entre elas Geovanne Honório, vereador do Partido dos Trabalhadores (PT). Para ele, há diferenças entre as manifestações que ocorreram em 2013, com as que vêm ocorrendo em 2015. “Em 2013, tivemos o movimento de rua. A mobilização começou através das redes sociais por um grupo de pessoas que estavam insatisfeitas com o aumento das passagens”, disse o vereador, avaliando a importância das manifestações sociais. “Há quanto tempo nós não temos pessoas nas ruas manifestando por aquilo que elas acham correto? Apesar do movimento de 2013, em Valadares, ter acontecido de forma desorganizada, ele aconteceu. Eu reconheço o movimento. No meu ponto de vista, esses de 2015 têm um caráter mais político-partidário”, completou. Para o vereador Chiquinho (PSDB), a participação da população brasileira nas manifestações de rua têm sido de grande importância para o cenário político. Ele confessa que a adesão

CAROLINE FONSECA

de Governador Valadares nessas manifestações o surpreendeu. “Os brasileiros deram um grito de liberdade. E foi uma grande surpresa a participação de Valadares nas manifestações. Mostra que nós, valadarenses, estamos antenados no que se passa no País. De forma pacífica, nossa cidade está fazendo história”, disse o vereador. Há muito anos militante dos direitos humanos em Valadares, Abigail Gonçalves ressaltou a importância da democracia no direito de liberdade, de opinião e de expressão. “A relevância das manifestações na atual conjuntura é, para mim, a mudança de conceitos como, ‘todo mundo rouba’, ‘sempre foi assim’, ‘o Brasil não tem jeito’. As manifestações de insatisfação contribuem para que todos possamos acreditar na reconstrução da dignidade, honestidade, enfim, coisas que aprendemos há anos e que não podem sair de cena”. Para Abigail, se por um lado a participação dos valadarenses nas manifestações não têm sido expressivas em termos de “multidão”, por outro “foi de peso, em relação a lideranças e pessoas conscientes, maduras politicamente”.

MORGANNA RAYANE

VINÍCIUS FRANÇA

Lembranças da minha infância Houve um tempo em que tudo era magia. Lembro-me muito bem da fase mais colorida da minha vida, quando não havia nenhuma preocupação, e apenas as brincadeiras eram o objetivo do dia. Bastava um dia de sol para tudo ser festa e alegria. De manhã, acordava bem cedinho e ia logo ao quarto dos meus pais. Então, esperava o meu pai se arrumar e, logo após, o acompanhava na ida a padaria, todos os dias. Meu pai me mimava em todas as pirraças, mas minha mãe era mais brava. Como eu era a mais velha dos três filhos, o certo e o errado, de qualquer maneira, sobravam pra mim. Além de ser a primogênita da família, era muito observadora e nada passava despercebido por mim. Era uma criança tagarela e, ao mesmo tempo, tímida em relação a quem não conhecia. Dos desconhecidos, bastava um olhar diferente, um gesto inesperado, e logo eu me retirava do ambiente, às vezes na ponta dos pés. Como me lembro do meu primeiro dia de aula! Eu chorava, mesmo no aconchego da escola da minha tia, a

Coraçãozinho Infantil, hoje conhecida como Colégio Rúbia Coelho. Mas tudo foi se modificando com o passar do tempo, embora eu mantivesse sempre o pensamento de nunca deixar de ser criança, pois gostava das brincadeiras da época, que não exigiam muita coisa. Bastava um pequeno espaço, uma corda, um elástico, e assim brincávamos. Era comum a gente riscar na calçada uma amarelinha meio torta, pra pular pra lá e pra cá. E assim o dia se passava, sem que a gente percebesse. Quando criança não tinha noção da realidade do mundo, não entendia porque alguém vinha bater à nossa porta para pedir uma ajuda, uma esmola. Isso me deixava triste, mas minha mãe sempre atendia a quem precisava. E eu pensava que em pouco tempo não haveria mais pedintes, nem moradores de rua. E assim, a magia do meu pequeno mundo infantil novamente me arrebatava. Nos finais de semana o encanto daqueles dias era maior, pois a família toda se reunia ao som do batuque da MPB que meu pai escutava. Como era bom

O JORNAL LABORATÓRIO CIRCULANDO é uma publicação bimestral do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação (FAC) Fundação Percival Farquhar Presidente: Sr. Francisco Sérgio Silvestre

Redação

Expediente

SALOMÃO RENATO 5º PERÍODO

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Universidade Vale do Rio Doce Reitor: Prof. José Geraldo Lemos Prata

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FAGNAR COELHO

ouvir música junto com a família! Como eram alegres aqueles momentos! Hoje, já adulta, continuo observadora, mas já não tenho a inocência daquele tempo, daquela vida cor-de-rosa que ficou para trás. Continuo esperando que a desigualdade social possa acabar, mas não sei quando isso vai acontecer – se é que um dia vai. Dos antigos hábitos, ainda conservo o gosto de ouvir músicas da MPB junto com a família, sempre que posso, e tenho a convicção de que o lugar da criança é na escola, onde ela pode brincar e, aos poucos, ir descobrindo o mundo. Para encerrar, cabe lembrar aqui os versos de uma conhecida música de Ataulfo Alves, que sintetizam tudo o que eu também tenho a dizer sobre os meus tempos de criança: “Eu era feliz e não sabia”! CHARGE


3 COMPORTAMENTO

MAIO/JUNHO 2015

POR ALINE FIGUEIREDO, CRISTIAN NEVES E LUDMILLA COTTA 3º PERÍODO

Alta do dólar gera impactos na economia de Valadares A alta do dólar tem atingido todo o país, e em Governador Valadares não está sendo diferente. Segundo o Departamento de Economia do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Valadares (UFJF-GV) no mês de fevereiro, por influência da alta do dólar, a inflação no município ficou em torno de 1,54%, com projeção de chegar aos 19% ao ano, valor muito acima do teto da meta nacional estipulada pelo Governo Federal, que é de 6,5%. Se de certa forma a alta do dólar tem muitos aspectos negativos, como a influência no preço de produtos cotados na moeda estrangeira e também no preço de passagens aéreas para o exterior, em Valadares muitos têm o que comemorar, já que a cidade é nacionalmente conhecida como exportadora de mão-de-obra para os Estados Unidos e uma quantidade considerável de moradores dependem da remessa de recursos dos que estão lá para se manterem aqui.

FOTO-MONTAGEM: Elton Binda

O professor do Departamento de Economia da UFJF-GV, Thiago Costa Soares conta que em março deste ano o dólar atingiu seu maior valor nos últimos 20 anos e fez um alerta: “Vale ressaltar que o dólar mais alto incentiva as exportações, causando a escassez de algumas commodities agrícolas dentro do país (soja, suco de laranja, café etc.) e isso também tem efeitos negativos sobre o indicador de inflação”. Segundo Thiago, os

setores da economia mais afetados pela alta do dólar são aqueles que estão diretamente relacionados com a compra ou venda de produtos internacionais. Produtos manufaturados, como carros, geladeiras, fogões etc., apesar de serem montados dentro do país, necessitam de tecnologias estrangeiras, fazendo com que seus valores se elevem. O turismo também é influenciado, pois os preços dos pacotes de viagens aumentam de forma

significativa. Em Valadares, por exemplo, é possível encontrar quem esteja sendo afetado pela alta da moeda estrangeira. O comerciante no ramo de vestuário, Tiago Lima de Brito, diz fazer parte de um ciclo onde fabricante, fornecedor, comerciante e consumidor sempre são afetados. “Como trabalhamos por coleção, e são duas no ano, no ato da compra é dado um sinal no valor de até 50% e o restante é pago

na entrega da mercadoria com a cotação do dólar do dia. Devido a esse aumento, temos que fazer o repasse, pois não temos como absorver. Infelizmente, afeta diretamente vários ramos do comércio, onde além de termos tantos impostos repassados, nós, comerciantes que trabalhamos com mercadoria importada, sofremos com essa alta, que afeta o consumidor”. Por outro lado, há quem comemore a alta do dólar. A estudante Treycy Teixeira Bonilla é casada com um norte-americano que mora nos Estados Unidos, enquanto ela termina a faculdade em Valadares. Ela até comentou que é um aspecto ruim a alta de preços de alguns produtos contados em dólar, mas se sente aliviada porque o marido manda dinheiro para ela na moeda estrangeira. Ou seja, transformando em real, acaba sobrando um pouco mais todo mês. “O aumento do dólar pra mim foi bom, pois a quantia que ele me en-

via, transformada em reais, consequentemente é maior. Esse dinheiro custeia todas as minhas despesas extras e paga minha faculdade. Antes, não sobrava muito. Agora sobra e dá para gastar com outras coisas”. O professor Tiago, da UFJF-GV, falou sobre essa situação peculiar e ao mesmo tempo distinta em cidades como Valadares, onde muitas pessoas dependem do dólar enviado por parentes no exterior. “Apesar dos efeitos negativos do dólar sobre a economia de forma geral, Valadares possui um importante histórico migratório. O aumento do dólar incentiva a migração de pessoas para os países desenvolvidos e o envio de dinheiro do exterior para a cidade. De forma genérica, esse dinheiro recebido do exterior pode aquecer a economia da cidade”, ressaltou o professor, acrescentando que isso pode ser considerado um aspecto positivo diante do cenário negativo que a alta da moeda gera em vários setores.

Mesada na infância: existe idade certa para começar? Por Jussara Fernandes, Izabela Rangel e David Silva - 3º Período

Quando o assunto é a educação dos filhos, não se pode brincar. Ainda mais se a questão envolve as finanças. É correto dar dinheiro? Em que momento pode iniciar? Como proceder? Com qual valor se deve começar? São algumas das perguntas mais frequentes que os pais fazem ao se tratar de mesada. É instinto dos pequenos observar e copiar o modelo dos pais, afinal, eles são sua maior referência. Portanto, o aprendizado começa muito cedo. Sabendo que a formação da criança refletirá no seu futuro, a educação financeira na infância é critério importante no processo da educação, segundo especialistas ouvidos pela equipe do Circulando. O comerciante Júlio Guerra é pai de três filhos e conta que nunca viu nenhum problema em dar mesada. Pelo contrário, ele acha positivo ensinar a criança a mexer com o dinheiro desde cedo. O que, segundo ele, não pode é

FOTO: Divulgação

Especialistas falam sobre o assunto

SEGUNDO ESPECIALISTAS , educação financeira na infância é importante processo de desenvolvimento da criança

dar por simples capricho. “Os pais devem ensinar a lidar com o dinheiro, mas também estimular a criança a ter responsabilidade”. Ele acredita que se criança “pega intimidade” com as finanças desde pequena, há uma grande chance de no futuro ela saber dar mais valor às coisas. “Saber o quanto custa e o trabalho que deu para ganhar aquele dinheiro o fará pensar na hora de gastar”, disse. Ainda na opinião do comerciante, a criança que

ajuda nos afazeres domésticos está cumprindo somente sua obrigação, mas a mesada pode ser uma forma de estímulo. “Seria como dar o dinheiro e falar: Estou dando tal valor porque você cumpriu com certa obrigação. Se deixa de fazer, deixa também de ganhar. Assim, quando estiver adulto e for trabalhar, vai entender que se não for responsável no trabalho, será substituído”, completou. Já o remanufaturador

Moacir Souza, pai de um filho adolescente, é contra a mesada porque não vê motivos para dar dinheiro ao filho. Para ele, os pais devem simplesmente suprir as necessidades básicas da criança. “Não sou de acordo em chegar ao fim do mês, pegar uma determinada quantia e entregar para a criança. No futuro, pode até atrapalhar, por que se ela sempre teve de maneira fácil, não saberá valorizar o que conseguir”, disse.

Entre os profissionais entrevistados pelo Circulando, a educação financeira na infância é um assunto sério, mas que pode ser trabalhado no próprio ambiente familiar. O psicólogo Neudelon Azevedo diz que a partir dos seis anos de idade a criança já pode começar a receber pequenos valores. “Uma boa estratégia, quando for possível, é entregar o dinheiro para a criança pagar a conta da lanchonete, por exemplo”. Outro fator importante, segundo o psicólogo, é que os valores sejam definidos segundo o padrão financeiro da família, e não deve associar o valor com atividades domésticas ou desempenho escolar, entendendo que a criança faz parte da família e precisa colaborar. Mas, segundo ele, “atividades ‘extras’ poderão ser remuneradas”. Para a psicopedagoga Roseli Rocha, só é interessante dar a mesada a partir do momento em que a criança aprende a noção de valores, como, por exemplo, conhecer as notas ou associar uma mercadoria ao seu preço no supermercado. Outra observação é que os pais devem estar cientes e atentos ao destino daquele dinheiro, e se o filho gastar tudo antes do prazo estabelecido, o valor não será suprido. “Assim, ela vai aprender desde cedo a gerenciar o próprio bolso. Mas tudo é uma questão de exemplo. Não há como cobrar da criança uma boa postura, se os pais possuem um comportamento compulsivo na hora de comprar. Isso vai refletir nos filhos”, alerta a psicopedagoga.


4 MAIO/JUNHO 2015

POR ALINE JULIA, GABRIELLA MARIANO E GUINTHER CARVALHO 5º PERÍODO

COMPORTAMENTO

Exemplos de sucesso profissional, valadarenses ganham o Brasil FOTO: Arquivo pessoal

O valadarense João Pedro Carvalho Motta, de 19 anos, tem trajetória de gente grande. Aos 10 anos, ainda no ensino fundamental, já fazia programação de aplicativos. Quando saiu de Governador Valadares para São Paulo, o menino prodígio tinha 17 anos. Ele conta que não era sua intenção morar em definitivo em outra cidade: “Fui para um trabalho e quando notei, já estava morando na cidade [São Paulo]. Ia ficar apenas uma semana e as coisas foram acontecendo. Por isso, inclusive, morei durante um ano em um hotel, pois não sabia se ficaria muito tempo”. O garoto viveu a infância sem muitas mordomias. Filho de advogado e de uma professora, ele aprendeu com os pais a dar valor aos pequenos atos da vida. “Minha família nunca foi rica, mas também não passávamos dificuldades. Tinha uma vida confortável, porém, sem muitos luxos. Como tinha uma irmã, dividíamos quase tudo, inclusive o computador”. A inteligência do garoto veio pela curiosidade de mexer em todos os eletrônicos na casa de sua família. O avô teve papel fundamental nesse futuro brilhante que João seguiu. Aos oito anos, na casa do avô, ele teve o primeiro contato com um computador. A partir daí, o menino não parou mais. Era o começo da relação de João com o mundo eletrônico. Ele sempre se sentia desafiado quando criança, pois os joguinhos dependiam de algo que João naquela época não dominava muito: escrever. Mas isso não foi impedimento para o garoto, pois logo ele começou a criar um site para colocar os jogos que tentava jogar. “Comecei tentando jogar joguinhos que exigiam leitura. Depois, tentei criar um site para colocar esse jogos. Criei um blog no ZIP.NET, em 2006, migrei para o Blogger e comecei a mexer com programação. E então, aprendi de HTML à DELPHI. E daí não parei até conseguir construir aplicativos”.

Esforço Quando criança, foram tantas criações, que João não sabe a quantidade. Quando tomou gostou e decidiu o que queria fazer, ele não parou mais. Tudo o que lhe interessava, ele procurava criar. “Eu realmente não faço ideia. Criei várias coisas, publiquei poucas. A primeira que pu-

Visão empreendedora

JOÃO PEDRO Motta (ao centro) e membros de sua equipe de trabalho

bliquei e teve certo reconhecimento foi o Orkut Tools, em 2008. Foram pouco mais de 30 mil downloads. Na época, era bastante. Foi uma das ferramentas para Orkut mais baixadas”, conta. Por criar os aplicativos precocemente, o garoto tinha receio de falar a idade, por medo de surgir certo preconceito na qualidade dos aplicativos desenvolvidos por ele. “Preconceito? isso não aconteceu comigo, pois eu não revelava minha idade, justamente com medo disso. Quando descobriram minha idade em uma entrevista para a TV, meus aplicativos já estavam bem populares e meu site já tinha alguns milhões de acessos. Mas eu sempre tive medo de perder credibilidade por conta da idade. Felizmente, aconteceu o oposto”, relata. Por volta de 2010, João começou a ser reconhecido como programador de aplicativos, o que trouxe responsabilidade para o adolescente. “Hoje, minha rotina é de um jovem que trabalha como tantos outros. Mas ela já foi muito louca. Como hoje faço relações comerciais e preciso estar sempre em contato com os clientes, adotei o horário comercial como horário de trabalho. Antes disso, a madrugada ocupava o posto. Eu acordo cerca de 8h, vou para o escritório e chego em casa por volta das 22h, dependendo do dia”. Ele não se considera um menino prodígio, pois teve muita persistência em produzir o que queria. O sucesso veio com a qualidade, criatividade e ajuda de muitas pessoas.

Reconhecimento João, desde pequeno já sabia o que queria. A fama depois do reconhecimento das criações era tão grande que o garoto foi convidado a trabalhar em duas conceitua-

das empresas: Google e Twitter. Mas o desejo dele não era esse. O valadarense tinha outros planos para o futuro e queria independência no trabalho. Ele queria fazer o seu nome, mostrar que não era só um prodígio. Queria criar projetos como profissão, não passar o dia programando. “Tinha medo de não ser bom o suficiente. E não queria perder minha liberdade de fazer minhas próprias coisas. No fundo, sabia que eu não daria muito bem com um chefe”. Em 2012, com o amigo Anderson Ferminiano, de 20 anos, abriu o Plaay, um serviço aplicativo de música social gratuito que já tem mais de 1 milhão de usuários. A empresa está no “TOP 10” dos aplicativos de música mais baixados. Ele conta que todos os seus funcionários tem menos de 25 anos. “Faz parte do nosso perfil investir em jovens talentos. Um dos programadores que fizeram o iOS tem 15 anos”, conta. Hoje, João Pedro vive pela empresa. Muito ocupado, ele faz poucas visitas a Governador Valadares. “Nos últimos dois anos, fui apenas em dezembro de 2014 para a formatura da minha irmã. Gostaria de passar mais tempo na cidade, mas, infelizmente tenho pouco tempo“. E o reconhecimento do trabalho do valadarense não para por aí. Em fevereiro deste ano, a conceituada revista Forbes Brasil divulgou uma lista com 30 jovens prodígios brasileiros que têm menos de 30 anos e se destacam de acordo com a área de atuação. Em meio a nomes como o da cantora Mallu Magalhães (22 anos), do surfista Bruno Medina (21), do cantor Luan Santana (23), e do ex-jogador do Cruzeiro, Everton Ribeiro (25), figura o nome de João Pedro, citado na edição como “criador do Plaay”. Motivo de orgulho não só para o jovem ou para sua família, mas para Valadares.

Israel Salmen é outro exemplo de valadarense que fez sucesso na carreira e ganhou o Brasil. Sua disposição de vencer vem de cedo. “Na minha infância, ainda morando no bairro Esperança, gostava de jogar bola na rua, ir para a igreja, jogar videogame, lutar judô, jogar futebol e futsal, brigar com meus pais para ir de bicicleta para a escola em vez de ir com eles de carro. Já quebrei dente várias vezes e tive que costurar o queixo por causa de peripécias. Aproveitei bem a infância”, conta. Em 2011, Israel, juntamente com Ofli Guimarães, fundaram a Méliuz, uma plataforma que une programa de fidelização e cupons de descontos gratuitos para lojas online no Brasil. Filho e neto de empreendedores, Israel cresceu vendo os familiares lidando com o mercado. Com 12 anos ganhou o primeiro computador. Em pouco tempo, se familiarizou com a internet. Foi quando tudo começou. A infância de Israel ajudou no caminho que ele iria trilhar. “Sempre fui muito curioso e interessado em saber mais sobre como as coisas funcionavam. Comecei a estudar como se fazia um site, mas a minha vontade de ter meu próprio negócio já era antiga. Sempre que eu passava por alguma experiência que gostava muito, ficava querendo ter algo do tipo pra mim e poder compartilhar com as pessoas. Assim, elas teriam experiências boas como as que eu tive”. Israel lembra que sua primeira ideia de criação de um website surgiu quando ganhou um filhote de Pitbull. “Criei um site para que outras pessoas pudessem conhecer mais sobre a raça e entrassem em contato com outros donos para comprarem filhotes. Essa acabou sendo a minha primeira criação, pois dependia somente dos meus esforços e do meu computador para realizá-la. Depois, vieram outros negócios online os quais tenho muito orgulho de ter criado, como o Ga-

FOTO: Arquivo pessoal

ISRAEL SALMEN também é um exemplo de empreendedorismo de sucesso

leria Gospel, reunia fotos de pessoas que frequentaram eventos gospel em Governador Valadares, Belo Horizonte, João Pessoa (PB) e Guarapari (ES). Enfim, a minha paixão era criar algo útil, que fosse gerar satisfação para as pessoas, independente de ser no mundo eletrônico ou não”.

A Méliuz Em setembro deste ano a Méliuz completa quatro anos de fundação. Com uma proposta inovadora, o site permite que os usuários aproveitem ofertas dos grandes varejistas do país, por meio do comércio eletrônico, e acumule parte do valor gasto na compra de volta, podendo ser resgatados via conta bancária do próprio cliente. Israel e o sócio Ofli sempre foram usuários assíduos de diversos programas de fidelidade. “Juntar muitos pontos é demorado. O valor dos pontos é baixo, e você não consegue trocar por nada que realmente deseja. Foi com base nisso que criamos a Méliuz, onde os usuários recebem, além de descontos nas melhores lojas, um benefício em dinheiro vivo, direto na conta bancária. Cortamos toda a burocracia”, explica Salmen. A empresa tem 28 funcionários que Israel prefere chamar de “família”. “É impossível falar da Méliuz sem falar das pessoas que estão por trás do negócio. Trabalhar aqui é mágico.

Time completamente apaixonado pelo que estamos criando e apaixonado por nossos clientes. Todos sonham muito grande, ninguém tem complexo de vira-lata. Todos acreditam no potencial do negócio, em seu próprio potencial, e sabem que estão participando de algo que vai entrar para a história como uma empresa gigante de presença global”. Hoje formado em Ciências Econômicas, pela UFMG, Israel reconhece que para chegar aonde chegou, teve que enfrentar riscos e tomar algumas decisões que o levou a deixar a cidade natal. “Ser empreendedor não faz alguém pior ou melhor do que os outros. Pelo contrário, tive sorte de tomar mais decisões corretas do que erradas durante a minha caminhada, e de ter encontrando pessoas excepcionais durante toda a minha vida, que me ajudaram em vários momentos a ser uma pessoa melhor e a sonhar muito alto”, conta. Vivendo há mais de 8 anos em Belo Horizonte, ele diz sentir saudades de Valadares, onde teve o primeiro contato com a internet. “Meus pais, avós, tios e amigos moram em Valadares. Na minha cabeça, eu sou um estranho em BH, mesmo vivendo aqui há mais de 8 anos. Aonde me sinto bem e ‘em casa’ é em GV. Estou sempre por lá, visitando a família e revendo os amigos”, completou.


5 COMPORTAMENTO

MAIO/JUNHO 2015

POR DANIELA FRANCO, DAVIDSON FORTUNATO E SALOMÃO RENATO 5º PERÍODO

Profissionais de casa: como ser autônomo de forma segura? Dedicação, esforço e busca de conhecimento são os principais objetivos para crescer profissionalmente. Com a exigência do mercado de trabalho, e em alguns casos por reflexos da crise brasileira, está cada vez mais difícil encontrar um emprego sem capacitação. E para aqueles que já atuam no mercado, a remuneração oferecida nem sempre atende às expectativas e necessidades. Com isso, boa parte acaba tendo que realizar uma atividade extra para aumentar a renda, enquanto outros aprendem a atuar profissionalmente sem uma formação, se tornando autônomos e instituindo o próprio negócio. Para a administradora Aparecida de Oliveira, simplesmente obter renda em determinada atividade como uma forma de complementar, ou até mesmo descobrir o gosto por ela e torná-la uma profissão, é uma questão para considerar este o perfil de empreendedor. “Afinal, um empreendedor deve ter visão e antes de tudo saber da sua missão como inovador de mercado. Mas, também devemos considerar que aquele que conquista mercado por uma atividade produtiva tem características empreendedoras, que de repente, portanto, nem sempre devem ser lapidadas ou até mesmo transformadas em verdadeiras habilidades empreendedoras”.

FOTO: Davidson Fortunato

A JORNALISTA Ana Paula dedica-se à caligrafia artística

A administradora ressalta ainda que trabalhar como empreendedor autônomo tem suas vantagens e desvantagens. Por isso, alguns fatores devem ser observados antes de montar o próprio negócio, seja ele de qualquer segmento. Existem algumas vantagens, como: ser dono, ter flexibilidade quanto ao horário de trabalho, oportunidade de fazer o que gosta e não se preocupar com a rotina profissional, melhores ganhos financeiros, entre outras. Assim como algumas dificuldades: risco

de renda variável, planejamento falho, escassez de verba financeira em alguns momentos, enorme carga de responsabilidades e decisões, falta de direitos trabalhistas, excesso de trabalho, entre outros. É pensando nos dois lados da moeda que Cristina Mansur, jornalista, administra as atividades fora do ambiente de trabalho, uma agência de comunicação, e torna o lar um segundo escritório para os trabalhos artesanais. O talento foi descoberto na adolescência e hoje é um dos car-

FOTO: Davidson Fortunato

CRISTINA TAMBÉM é jornalista e em casa faz trabalhos artesanais

ros-chefes do mês. “Aos 14 anos, precisei me virar sozinha e percebi que tinha dom para desenhar. Então passei a fazer desenhos e costuras para lojas de festas, onde encontrei uma pessoa que valorizou muito o meu trabalho e o fez expandir ainda mais”, conta. A jornalista afirma que trabalha muito, e que se o desemprego bater à porta, ela consegue se manter com o trabalho artesanal. “Mas essa realidade é apenas para um plano de emergência. Se eu me dedicar 100%, sim. Mas apenas com o pequeno prazo de tempo que tenho atualmente, em razão do atual trabalho, que ainda considero importante e necessário para alcançar alguns objetivos, não conseguiria”, afirma. Para Ana Paula Teixeira, riscar as contas é quase um dom. A também jornalista trabalha com caligrafia artística há quase dois anos e já atende, além de Governador Valadares, outras cidades da região. Para cada remessa de 200 convites escritos à mão, é preciso um prazo de uma semana. “O público que procura a caligrafia artística se concentra em formandos, casais de noivos, debutantes e aniversariantes de um modo geral, mas a subscrição é também procurada para preencher diplomas, certificados, envelopes e convites mais específicos”, conta Ana Paula. Para aprender às técnicas, a jornalista fez um curso em 2013. Com o talento, o fim do mês tem uma diferença significativa nas contas. E o segredo de escrever as páginas da própria vida profissional independente e se tornar um pequeno empreendedor, segundo Ana está na dedicação. “O valor mensal arrecadado depende muito do tempo que se tem disponível para dedicar à arte, pois tudo é feito à mão. Com tempo, é possível até dobrar a renda do mês”, explica a jornalista. Além de trabalhar por conta própria, alguns aprendem da mesma forma, seja buscando livros, revistas especializadas ou via Internet. Kíssylla Machado aprendeu através da web, vendo vídeos no Youtube. Por ser uma pessoa criativa e gostar de trabalhar cores, ela decidiu maquiar as pessoas para

FOTOS: Arquivo Pessoal

KISSYLLA DIVIDE seu tempo entre o curso de Arquitetura...

...E O hobbie de maquiadora

aprender. Para ela, criatividade é tudo na maquiagem e para cada pessoa existe uma forma diferente de maquiar, o que torna a possibilidade de criação ampla. “Comecei a maquiar para ganhar um dinheiro extra. Como gostei, hoje, mesmo cursando Arquitetura, esse é o meu trabalho”, conta. Unir o útil ao agradável. Foi assim que Caroline Stéfanni encontrou uma forma de garantir sua renda.

Investiu em uma paixão: a fotografia. Hoje, tem duas câmeras, um estúdio e trabalha por conta própria. Fazer o que gosta a tem ajudado a entender a essência de sua profissão. “Amo a fotografia. Fotografar, em minha opinião, é registrar a vida. Comecei por amor. Não imaginava que se tornaria profissão, mas já que se tornou, hoje tenho meu estúdio e desenvolvo meu trabalho com amor”.

FOTO: Arquivo Pessoal

CAROLINE INVESTIU em uma paixÃo: fotografia


6 MAIO/JUNHO 2015

Por Joyce Alves, Mayara Gama, Nataly Maier e Rúbia Perpétuo - 3º Período

ESPECIAL

Uma história de am

U Fachada da igreja, quando ainda era frequentada

Uma igreja abandonada na beira da estrada que liga a cidade de Coroaci a Virgolândia, a 93 quilômetros de Governador Valadares, chama a atenção dos motoristas que passam pelo local. Devido à sua arquitetura, é impossível não desviar o olhar e notar a peculiaridade que possui o templo. A história da igreja é ainda mais curiosa. Moradores da região acreditavam que havia sido construída por um médico apenas pelo desejo de realizar um sonho pessoal, mas a equipe do Circulando descobriu que essa história vai muito além disso. A igreja é a materialização da fé e do amor de uma mulher pela filha. A médica do trabalho, Daise Camargo, que trabalha e mora em Governador Valadares, foi a pivô dessa história. Devota de Nossa Senhora da Penha, ela viajou para o Rio de Janeiro onde fez uma promessa: caso sua filha Rosária Camargo Gonçalves, na época com, aproximadamente, 13 anos, passasse no vestibular de Medicina,

Templo sofre com o vandalismo e a falta de manuteção

construiria uma igreja. Rosária passou no vestibular e Daise cumpriu a promessa. A construção da igreja durou 10 meses no Córrego dos Soares, próximo a fazenda onde morava a médica. A inauguração aconteceu no dia 24 de julho de 1999, com a participação de três padres: um de Valadares, um de Coroaci e outro de Virgolândia, um coral da igreja do bairro Vila Isa, em Valadares, e um público de aproximadamente 350 pessoas. “No dia, a igreja foi

inaugurada com pompas e honras. Eles colocaram na encruzilhada uma faixa que ia de um lado para o outro, onde estava escrita: ‘inauguração da igreja de Nossa Senhora da Penha, no dia tal, às tantas horas’. Aí, seguindo a encruzilhada, foi jogado cal pelas ruas, que dava a impressão de estrelas. Isso foi uma ideia da Dona Raimunda, uma moradora antiga do lugar. Eles estrelaram toda a estrada com cal. Foram colocadas bandeiras de seda dos lados

da estrada, de todas as cores”, conta a médica. Em todo tempo, Daise contou com a ajuda e apoio do marido, o também médico, Francisco Ribeiro Gonçalves, que morreu 15 dias depois da inauguração, vítima de um acidente, o que, segundo a médica, causou grande comoção e dificuldade para continuar as programações na igreja. A morte do marido também trouxe dificuldade financeira para a médica, que agora teria que manter a filha sozinha na faculdade, no Rio de Janeiro, e ainda cuidar da capela. Entretanto, durante um tem-

po, a igreja continuou ativa e chegou a ser realizada nela uma missa de Natal, no mesmo ano. Depois de 6 meses, ela foi desativada. Fechada, num local ermo e com pouco policiamento, a igreja virou alvo fácil de ladrões, que passaram a saquear e destruir o prédio. Daise se viu na obrigação de guardar o que ainda restava na capela, e contando com a ajuda de Dona Raimunda, guardou as imagens em sua pousada, na cidade de Alpercata. A médica disse que caso alguém manifeste interesse pela igreja e queira reativá-la, ela dará apoio para que o trabalho continue.

FALTA LEGENDA


7 MAIO/JUNHO 2015

ESPECIAL

mor, fé e superação Pensada nos mínimos detalhes O modelo do templo foi escolhido meticulosamente pela própria Daise. Os detalhes foram inspirados em modelos que ela registrou por meio de fotos de igrejas antigas de cidades como Mariana e Ouro Preto, em Minas Gerais. A igreja tem a cúpula arredondada e no teto, agora danificado pelo tempo, havia sido pintada a imagem do Divino Espírito Santo, com anjos em volta. Tudo foi minuciosamen-

te trabalhado. A cruz que ficava em cima do globo da igreja, foi copiada da Catedral do Rio de Janeiro. A pintura das laterais foi inspirada em uma igreja de Roma. No centro da igreja, onde ficava a imagem da Nossa Senhora da Penha, havia um altar, enfeitado com colunas que a própria médica ajudou a lixar. O sacrário, onde consagrava-se o vinho, foi feito em ouro. Ha-

via duas cadeiras feitas de madeira maciça, com desenhos feitos por Daise. O chão foi copiado ao máximo da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Havia dois grandes lustres de cristal e dois sinos feitos de bronze. Até mesmo as cercas que ficavam em volta da capela foram inspiradas em uma igreja de Belo Horizonte. De acordo com a arquiteta Rúbia Nascimento, há uma mescla de detalhes na igreja, não

Os médicos Daise Camargo e Francisco Ribeiro

sendo possível atribuir uma única característica ou estilo a ela. Os azulejos utilizados no templo, por exemplo, foram inspirados na arquitetura portuguesa, que tem finalidade de evitar a umidade nas paredes. “Ela pegou um azulejo de piscina e colocou no lugar. Os azulejos das igrejas barrocas vêm de outro conceito, e o engraçado é que em Portugal, por exemplo, tudo é azulejo”, conta a arquiteta.

Diocese Segundo o padre Francisco de Oliveira Vidal, titular da Paróquia Catedral de Santo Antônio, em Governador Valadares, e um dos que celebrou a missa de inauguração da Igreja de Nossa Senhora da Penha, não é necessária uma permissão da Diocese (nesse caso, a de Valadares) para construir uma igreja ou capela,

seja o interessado católico ou não. Sendo assim, segundo ele, a Diocese não tem responsabilidade de celebrar as missas ou qualquer outro evento realizado no local. Ele ainda relatou que, assim como Daise, existem outras pessoas em Valadares e região que construíram capelas para elas mesmas poderem usufruir.

FOTO: Divulgação

PADRE VIDAL participou da celebração da missa de inauguração da igreja


8 MAIO/JUNHO 2015

Por Cátia Oliveira, Jhonnathas Trindade e Lorrania Viana 3º Período de Jornalismo

COMPORTAMENTO

Crise no abastecimento de água pode chegar a Valadares Um quinto da população brasileira já está sofrendo os efeitos da seca neste início de ano em todo o país. Os estados do Sudeste e do Nordeste do país já adotaram medidas preventivas para tentar amenizar os problemas ocasionados pela falta de água. A crise hídrica, que teve início em 2014 e vem se alastrando no ano de 2015, tornou-se uma preocupação constante para a população e as autoridades do país, pois os casos não são isolados e os impactos estão afetando cidades pelo Brasil afora, como Governador Valadares, que depende diretamente do rio Doce e indiretamente de seus afluentes para abastecer a população. De acordo com Lucinha Teixeira, presidente da Câmara Técnica de Gestão de Eventos Críticos (CTGEC) do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce), estudos indicam que o rio Doce está no terceiro ano consecutivo com chuvas abaixo da média, e a precipitação do rio está 60% abaixo do espera-

do. Ainda segundo ela, essa tem sido a pior seca dos últimos 70 anos e se equipara à seca enfrentada em 1971. De acordo com Lucinha, as expectativas eram de chuvas para o último trimestre de 2014 e no primeiro trimestre de 2015, porém, as previsões, feitas em agosto de 2014, não se cumpriram, e a quantidade de chuvas foi insuficiente para repor o déficit na bacia do rio Doce. Prova recente disso são as cheias que habitualmente ocorrem nos inícios de ano em Valadares e região, mas que este ano não aconteceu. Dona Maria Auxiliadora é morada do bairro Santa Efigênia, mas trabalha há mais de 10 anos como doméstica em uma residência no bairro São Pedro. A casa onde ela presta serviços tem um deck de acesso ao rio Doce, que a permite acompanhar de perto as mudanças no leito. Ela diz que nunca viu o rio numa situação como a de atualmente. “Infelizmente, a maior parte da população de Valadares ainda não tem consciência da

FOTO: Antônio Cota/Diário do Rio Doce

DESDE O início do ano o nível do rio Doce vem oscilando

real situação do rio. Somente quem convive diariamente na região ribeirinha consegue perceber que a água realmente está acabando”. A empregada doméstica chama atenção para os vestígios deixados na parede da residência, que mostram o nível que a água atingia há alguns anos. E também conta sobre as pedras antes nunca vistas e que agora se tornaram visíveis no rio por causa da diminuição do seu nível. As agressões ao meio ambiente e o uso descontrolado dos recursos naturais con-

tribuem para o agravamento da situação que culminou na crise hídrica pela qual passa o país. Diante da falta do recurso mais abundante no planeta, a população vem percebendo a necessidade da mudança de velhos hábitos. Dona Terezinha Moreira é moradora do bairro Vila Mariana e disse que faz a parte dela. Conta que todos os dias a água do ar-condicionado é aproveitada para lavar o banheiro, passar pano e auxiliar na limpeza da casa. Em uma noite com o aparelho ligado, segundo ela, é possível aproveitar quase dois bal-

des de água. A máquina de lavar roupas é utilizada sempre na capacidade máxima, e ao fazer a limpeza do carro, o balde passou a substituir a mangueira. Para a moradora, as ações parecem simples, mas trazem bons resultados na conta de água e um “refresco no bolso”. Mesmo com a crise no abastecimento de água que muitas cidades do país enfrentam, o secretário-adjunto do SAAE, Vilmar Rios, afirma que Valadares por enquanto não corre risco de racionamento. Ele reconhece que a situação é preocupante, e que com o calor, a demanda por água cresce muito e a falta de chuva tem deixado o nível do rio abaixo do normal. Para que o fornecimento de água na cidade não ficasse comprometido, segundo Vilmar, o SAAE realizou algumas “manobras internas”, de forma que não trouxesse prejuízo à população. Dentro do planejamento, foram compradas duas novas bombas para captação submersa no rio Doce, uma na Estação de

Tratamento de Água (ETA) central e outra na ETA do bairro Vila Isa. A crise hídrica pode ser sentida também no bolso dos valadarenses, como a elevação dos valores da conta de luz, em função do aumento da capacidade das usinas. Vilmar explicou que a falta de chuvas e escassez de água têm efeito direto no aumento da tarifa. Uma recente decisão do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) foi aumentar a capacidade de geração das termoelétricas, que custam mais caro. E esse custo adicional pode ser visto na hora de pagar a conta. Para Vilmar, a crise hídrica é um assunto que deve ser levado a sério, independente da falta de chuva ou seca do rio Doce. Segundo ele, a população precisa mudar seus hábitos, tanto em relação à preservação do meio ambiente, quanto ao uso consciente da água. “Infelizmente, se não houver uma mudança radical, poderemos enfrentar uma grande crise de racionamento de água”.


9 COMPORTAMENTO

MAIO/JUNHO 2015

Por Roney Alves, Maria de Lourdes e Michel Alves 3º Período

Os diferentes traços culturais, unidos por um fenômeno chamado migração É comum quando andamos pelas ruas de Governador Valadares encontrarmos lojas, salões de beleza e até pizzarias com nomes em inglês, casas com mobília e arquitetura americanas, residenciais com nomes de cidades dos Estados Unidos e casais que colocam nomes de astros norte-americanos em seus filhos. Isso é comum devido ao grande número de valadarenses que migraram para a terra do Tio Sam e quando retornaram ao Brasil, muitos investiram em comércios ou construíram casas com traços culturais do país onde residiram por algum tempo, fazendo com que eles se sintam mais próximos daquela cultura. Ou seja, a pessoa se acostuma tanto com os hábitos daquele país, que quando retornam trazem um “pedaço” dele para o Brasil.

‘Pedaço’ de Boston O cabeleireiro Amarildo Barbosa, proprietário de um salão de beleza na Avenida Brasil, no centro de Valadares, viveu 24 anos nos Estados Unidos. Ele tem muito presente a cultura norte-americana no seu cotidiano. Amarildo mostra com satisfação o local de trabalho. O espaço interno foi inspirado na cidade de Atlanta, no estado americano da Geórgia, onde ele morou durante algum tempo. São sofás, cadeiras, escovas de cabelo, espelhos, penteadeiras e toda a decoração, incluindo a pintura do ambiente em tons fortes. Até o ar condicionado ele faz questão de manter em temperatura muito baixa para deixar o clima semelhante ao da cidade de Boston, em Massachusetts, onde também morou. Outra característica norte-

FOTOS: Roney Alves

NESTA LANCHONETE, o nome e até a roupa do mascote remetem aos Estados Unidos

-americana no salão é chamada por Amarildo de “schedule” (em português, agenda, que ele usa para anotar os horários de atendimento aos clientes) que ele garante seguir à risca. Oitenta por cento de todos os produtos que utiliza no salão são importados da América. Percebe-se traços da cultura americana até na fala do cabeleireiro. Ele afirma que conversa com a esposa e os filhos mais em inglês do que em português. Assistem em casa apenas filmes em inglês, as bíblias que levam para a igreja são escritas na língua inglesa e até a cachorrinha de estimação veio dos Estados Unidos. “É um ‘pedacinho’ de Boston dentro de Governador Valadares”, conta.

Lanche americano Ao passar pela rua Israel Pinheiro, no bairro São Pe-

dro, pode-se avistar uma grande placa da lanchonete América III, com a imagem de um felino vestindo uma camisa com as cores da bandeira dos Estados Unidos. Essa foi uma forma que Ricardo Guerra Coelho encontrou para manter contato com a cultura norte-americana, onde morou por 3 anos. Além do nome da lanchonete estar relacionado ao país, Ricardo adaptou um trailer num vasto espaço gramado e ao ar livre, dispensando a existência de muros e com um miniparque infantil para o lazer das crianças, outra característica da cultura norte-americana. Ricardo esteve nos Estados Unidos no auge da migração valadarense, nas décadas de 70 e 80, e lá trabalhou em várias áreas. Ele conta que como o norte-americano gosta muito de sanduíches e o brasileiro tem gosto semelhante para esse

tipo de lanche, resolveu investir na lanchonete. “Quando morei lá, eu queria chegar aqui no Brasil e montar algo no ramo da alimentação. Resolvi montar a lanchonete e fazer sanduíches. E brasileiro gosta muito de sanduíche”, conta.

Arquitetura Como grande parte dos imigrantes valadarenses que vão para os EUA realizam trabalhos braçais, a construção civil é uma das várias áreas que eles ocupam. Vendo que as casas com arquitetura americana são diferenciadas pelo estilo e materiais utilizados (geralmente são feitas de madeira), muitas dessas pessoas que trabalham com framing (construção externa) e trim (construção interna) no território norte-americano acabam edificando construções com cores e modelos

SALÃO NO centro de Valadares ostenta decoração norte-americana

exóticos. Marcos Benevides Pena, que viveu na América por 20 anos e trabalhou grande parte desse tempo na construção civil, quando regressou ao Brasil ergueu, em 2001, na Avenida JK, na entrada do bairro Santa Rita, uma robusta casa com traços bem característicos dos Estados Unidos. As janelas amplas nas cores brancas, os ladrilhos pintados na cor azul claro, a inclinação íngreme do telhado, os alpendres arredondados, além dos ceilings (tetos internos), das cores internas em tons fortes e diversificados, e do uso de madeira (cedro) nas partes externas. Nada passa despercebido a quem transita pela avenida. Com o passar do tempo, os efeitos do sol e da chuva vêm danificando parte da estrutura. Com isso, a casa está sendo reformada e perdendo um pouco de suas características originais.

Recriando espaços De acordo com a professora Sueli Siqueira, professora do Mestrado em Gestão Integrada do Território da Uni-

versidade Vale do Rio Doce (Univale) e estudiosa da área de migrações internacionais, muitas pessoas adotam tais práticas como forma de veneração à cultura, “dando continuidade a ocupações que exerceram, ou referenciando locais onde trabalharam e até mesmo em forma de agradecimento”. Ela, não existe uma tipologia científica para esse fenômeno, trata-se de comportamento típico de indivíduos num processo de migração entre países com culturas completamente diferentes. “Nesse caso, o indivíduo saiu de um espaço, de um território, seu território de origem (nesse caso o Brasil) e foi pra outro território, que pode ser os Estados Unidos, Europa, Japão ou outro qualquer, e retornou. Então, quando retorna, ele tenta recriar o território que ele deixou com todas as suas peculiaridades, que são os costumes, os valores, as referências, os símbolos e várias outras representações diferentes. A pessoa agrega esses costumes e valores de outro país e tenta recriar no Brasil, quando volta”.

CASA NO bairro Vila Rica foi construida com base na arquitetura norte americana tanto na parte externa quanto interna (detalhe) NO BAIRRO Santa Helena uma pizzaria recebeu o nome da cidade de Boston


10 MAIO/JUNHO 2015

Por Myllene Nobelle e Kesia Melo 5º Período

SEGURANÇA

Em mulher não se bate... Mas dados mostram o contrário Todos os anos, no mês de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Mas, infelizmente, nem todas têm o que festejar. Algumas, não muito longe da realidade de Governador Valadares, vivem verdadeiros dramas, em silêncio. Em todos os lugares do mundo mulheres são agredidas de todas as formas. E engana-se quem pensa que trata-se apenas de agressão física. Em algumas situações, as agressões morais e psicológicas doem mais do que quando se encosta um dedo. Em entrevista ao Circulando, a chefe da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Governador Valadares (DEAM), Adeliana Marino, relatou fatos que são inadmissíveis em pleno século XXI, mas que acontecem com mais frequência do que se pensa: agressão contra mulheres, sendo na maioria dos casos praticadas pelos próprios companheiros, ou seja, de onde se espera apenas amor, respeito, compreensão, cumplicidade e proteção. “O artigo 7° da Lei Maria da Penha estabelece que a violência doméstica consista em agressão psicológica (ameaça, constante ameaça), violência física (agredir fisicamente), moral (xingamentos, calúnia, injúria e difamação), patrimonial (seria o furto, o homem não pode ficar com nada da vítima), e sexual (estupro)”, explica a delegada, falando sobre as tipificações de violência contra a mulher. Ainda segundo a delegada, “tudo que envolve homem e mulher, seja marido e esposa, ex-namorados, namorados, casados, separados, se tiverem qualquer tipo de vínculo, se enquadram na Lei Maria da Penha em caso de agressão”. Essa lei existe e as punições acontecem, segundo Adeliana. O problema, segundo ela, é que muitas mulheres que convivem com quadros de agressão não denunciam seus agressores. A primeira atitude que a maioria toma, de acordo com a delegada, “é se fechar e achar que os erros são apenas delas. Já em outros casos, também muito comum, mulheres que não têm condição financeira própria ficam completamente dependentes do companheiro e isso acaba virando uma ‘desculpa’ para não denunciar”. Dados de Valadares Os números de mulheres agredidas na cidade chamam atenção. Em comparação com os dois

FOTOS: Divulgação

Apesar da vigência da Lei Maria da Penha, os casos de violência contra a mulher só vêm aumentando em Valadares

EM VALADARES. houve um aumento no número de medidas protetivas eu favor de mulheres vítimas de violência

primeiros meses de 2014, houve aumento no número de aplicação de medidas protetivas em favor de mulheres vítimas de violência. Segundo dados da Polícia Civil de Valadares, entre janeiro e fevereiro do ano passado foram aplicadas 64 medidas protetivas, contra 76 medidas no mesmo período de 2015. Um aumento de 18,75%. Mas isso, reforça a delegada, não retrata a realidade do número de casos de agressão contra mulheres na cidade, levando em consideração que muitas sequer denunciam os agressores. “Ainda sim, acredito que o número de violência vem aumentando e as vítimas estão buscando mais ajuda”, enfatizou a delegada. Outro ponto que chamou a atenção na fala da delegada é que, segundo ela, até o clima da cidade pode interferir no comportamento dos agressores. “A gente observou também que nos meses mais quentes, nos meses de mais calor, a violência tende a aumentar. Parece que os ânimos ficam mais alterados. Vêm mais mulheres nesse período, se for comparado com o período de inverno, por exemplo. A diferença é gritante. Todo começo de ano é mais tumultuado”, completou. Lei Maria da Penha A Lei 11.349 foi criada há quase nove anos, no dia 7 de agosto de 2006, com o objetivo de coibir a violência familiar e doméstica contra a mulher. Em Valadares, como em todos os lugares, funciona da seguinte forma, segundo a delegada: registrada a queixa de agressão,

é encaminhado à Justiça um pedido de medida protetiva, e o Judiciário tem até 72 horas para conceder ou não. Concedendo, a mulher fica resguardada. “Não concedendo, tudo volta à estaca zero”, ressalta a delegada. Paralelamente, um inquérito policial é aberto e a Polícia Civil ouve a vítima, o agressor, algumas testemunhas, e formaliza o Exame do Corpo de Delito, com retrato de lesão corporal. “Concluímos e mandamos para o Fórum. Esse é o procedimento”, explicou. Para que todo esse trabalho seja potencializado, são necessários mais policiais civis. “O maior problema é a falta de policiais para trabalhar, porque tenho hoje três mil inquéritos policiais. Aqui, na delegacia, eu cuido das vítimas de violência doméstica, crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, e crimes contra idosos. Somos só eu de delegada e quatro investigadores de polícia, além de dois escrivães”. Outra situação que a delegada abordou é quanto ao cumprimento da lei que, na opinião dela, precisa ser mudada. “O quadro atual da delegacia deveria ter mais funcionários em cada unidade. Como essa é uma delegacia especializada, por exemplo, deveria ter, no mínimo, dois delegados de polícia, o

dobro de investigadores e o dobro de escrivães para o trabalho render. Às vezes, as pessoas reclamam que o trabalho é lento, mas é porque só tem eu para despachar os inquéritos”. O lado positivo, ela destaca, é o equipamento de trabalho: “A gente tem bons computadores, impressoras, duas viaturas novas, duas motos. Isso não falta”. Pena criminal Cada conduta criminosa tem uma pena determinada. Na Lei Maria da Penha as pe-

nas ainda são pequenas. Por exemplo, o agressor pode pagar fiança e sair da prisão. São penas “afiançáveis”. Outro exemplo: a pena para o crime de ameaça é de detenção de 1 a 6 meses; lesão corporal, de 3 meses a 3 anos. E aí, no caso da Lei Maria da Penha, quando o agressor não sai por meio de fiança, sai por meio de liberdade provisória sem fiança. Segundo a delegada Adeliana “é preciso fazer uma r e -

formulação da pena estabelecida do Código Penal. Assim, cada crime vai ter uma pena estabelecida”. A delegada também se mostrou a favor de ações de orientação às mulheres, de uma forma geral, para que saibam seus direitos caso venham ser vítimas da violência. “O que deveria ser feito é pegar aquelas mães, aquelas esposas, aquelas companheiras e falar: —Olha, seus direitos são esses. As vítimas ainda desconhecem o que têm para elas”. Há, ainda, segundo a delegada, casos em que as mulheres são coautoras das agressões que sofrem. “É de puro conhecimento que a maioria dos homens tem um pavio mais curto, sem paciência para certas situações. Por isso, nada de provocar”! Adeliana conta que já atendeu casos em que a mulher teve um “pouco” de culpa. “A mulher, às vezes, provoca. Leva o homem para casa de show e vai dançar com outros... Então, têm mulheres que provocam”. A delegada relatou um caso em que a mulher foi coautora da própria agressão. “Me deparei com um caso de uma mulher que passou o dia inteiro chamando o homem de frouxo. Ele não aguentou e bateu nela”. Ainda segundo Adelina, tem mulheres que denunciam o companheiro com base na Lei Maria da Penha porque querem que ele saia de casa para ela ficar com o imóvel. “São casos mais raros, mas acontecem. Muitas vezes, o homem é de bem, trabalhador, mas a companheira não quer mais a relação e não vê outro jeito de sair dela sem perder algo. Então, a mulher forja a violência e esse homem precisa manter distância, como determina a lei. Em casos em que o casal tem filhos, o companheiro precisa se distanciar também das crianças, pois na maioria das vezes a guarda fica com a mãe”, completou a delegada.


11 COMPORTAMENTO

MAIO/JUNHO 2015

Por Fábio Velame, Leandro Silva e Mariana Pereira 5º Período

Do alto do pódio, o orgulho de sua origem O projeto Caminhando para o Futuro é um trabalho social que atende crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, das comunidades do Santa Efigênia, Carapina e Querosene. O objetivo é afastá-los de áreas de situações de risco e da atuação no tráfico de drogas e outros delitos. No projeto, os alunos são incluídos na prática esportiva (futebol e futsal), além de receberem instruções de como ser um cidadão do bem e colaborar no crescimento da comunidade onde vivem. Apesar de ter o esporte como carro chefe, a prioridade do projeto é transformá-los em pessoas produtivas na sociedade, pessoas que trabalham, que tem sua profissões. Conseguir fazer com que possam constituir famílias e também ajudar no crescimento social de suas comunidades. O projeto iniciou em 2011, quando João Rodrigues Pereira, mais conhecido como João “Tattoo”, voltou ao Brasil após um tempo no exterior. Morador do Santa Efigênia, João identificou uma situação preocupante: a falta de perspectiva dos meninos que ficavam nas ruas. “Na verdade, no nosso bairro, Santa Efigênia, existia um projeto da Igreja Católica anos atrás, chamado Pastoral, mas ele não existe mais. Fui para fora do país e quando voltei vi nas ruas um monte de meninos sem o que fazer e sem ter

FOTO: Leandro Silva

O PROJETO Caminhando para o Futuro é um trabalho social que atende crianças e adolescentes de 7 a 17 anos

perspectiva de vida, não tinha nenhuma opção de lazer. Tinha um campinho de terra aqui no bairro, onde acontecia um campeonato dos mais velhos e meu menino me incentivou a fazer algo para as crianças. Então, brincando com meu menino no campinho, surgiu o projeto. Eu e mais dois amigos, Flaviano e o Devanildo, que demos início ao projeto”, contou João. Flaviano de Oliveira, de 38 anos, criado e nascido no bairro Santa Efigênia, é um dos voluntários que trabalham no projeto desde o início. Ele é fruto do antigo trabalho da Pastoral, citado por João “Tattoo”. “Já fui criança e participei na época da Pastoral. Eu tenho filho e quero que ele tenha um futuro bom. O nosso bairro é de periferia,

Projeto para 2015 O coordenador disse que deve trabalhar com uma média de 60 alunos este ano. De acordo com Diogo, esse número de alunos o projeto tem condições de atender com qualidade. Diogo destaca o relacionamento que tem com os meninos do projeto: “Passa um pouquinho de pai, um pouquinho de policial, um pouquinho de disciplinador, mas também de amigo. Então, a gente tem que saber dosar bastante isso, a parte disciplinar, a parte amigo e a parte educador. O meu relacionamento com eles é muito bom. Sempre tem briga, né? Não tem jeito, mas dá suspensão pra um, suspensão pra outro. Acaba a suspensão e eles estão de volta, porque sabem que é para o bem deles”. Para participar do projeto, o menino tem que estar matriculado e ser frequente na escola. Ainda há um acompanhamento na vida escolar e no comportamento dentro de casa e nas ruas. Diogo explica: “Se não tiver disciplina e frequência na escola,

não fica. Então, a sociedade, como um todo, a comunidade e os pais gostam muito da característica do projeto. Nós não somos assistencialistas. Nós só ajudamos. Os assistimos para inseri-los na sociedade. Marcos Túlio, de 19 anos, é novo voluntário do Caminhando para o Futuro. Morador do Santa Efigênia, ele havia participado do projeto como aluno, dos 16 aos 18 anos. Marcos destaca a importância de ajudar no projeto: “Eu estava passando por um momento difícil na minha vida e fui convidado a participar na época. Tive uma passagem bacana como aluno e criei amigos dentro do projeto. Aqui, sempre tinha alguma palestra sobre a questão das drogas, além dos treinamentos de futebol. Fui ajudado bastante aqui. Agora é fazer um pouco do que já fizeram por mim. Gostaria de ver a mesma situação que aconteceu comigo acontecer com esses meninos. Vou tentar ajudar ao máximo e passar pra essa garotada tudo o que eu aprendi aqui”.

então, a gente procura ajudar as crianças do bairro pra seguir o caminho do bem”, disse Flaviano.

Voluntariado A falta de voluntários é um problema identificado por Flaviano. Mesmo com as dificuldades, ele destaca a oportunidade de poder contribuir: “Salário nenhum paga o que a gente faz. O trabalho tem que ser voluntário mesmo. Quando o projeto foi iniciado pelo João, conseguimos algumas coisas através de doações. O tempo que estou lá com as crianças eu faço com carinho e amor, até porque já tive essa ajuda que os meninos do projeto têm hoje. A satisfação que eu tenho quando estou com eles é grande. Um dos ensinamentos nosso no projeto é o respeito uns com os outros, e graças a Deus vejo isso na vida deles”. O sargento Diogo Teles, da Polícia Militar, que atua na 208ª Companhia da PM, no bairro Carapina, atualmente é o coordenador do projeto. Ele passou a infância e adolescência no Santa Efigênia. Em Belo Horizonte, formou-se sargento e trabalhou por alguns anos até voltar para Valadares. Logo depois, Diogo entrou para o Caminhando para o Futuro, ainda em 2011, e a Polícia Militar se tornou um dos parceiros do projeto. Diogo explica a participação: “A Polícia Militar deixa uma parcela da minha carga-horária semanal, que é uma coisa legal, é uma lei estadual, para eu ficar à disposição do projeto. Com isso, a corporação participa diretamente”, disse. Diogo comentou que a empresa mineradora Vale chegou a apoiar o projeto, fornecendo alguns materiais esportivos, mas os materiais gastam e sempre precisam de reposição. Atualmente, quem apoia o projeto é o Hipermercado Araújo, no for-

necimento dos lanches, e o Colégio Ibituruna, que cede o espaço para os treinos de futebol e futsal aos sábados. De acordo com Diogo, o Clube Filadélfia também vai ser um parceiro do projeto, onde algumas atividades poderão ser realizadas. Mas nem tudo são flores. Há dificuldades: “A principal delas é logística, material esportivo - principalmente uniforme e tênis. Nossa necessidade maior ainda são os uniformes e os tênis. Principalmente os tênis, pois, geralmente o responsável não tem dinheiro para comprar. A maioria dos meninos usam os calçados que nós arrumamos por meio de doações mesmo. A falta de interesse de órgãos governamentais e não governamentais com o futuro desses jovens também é outro problema”, disse.

Aprendizado Para os alunos do projeto, dois pontos se destacam: o desenvolvimento no esporte e o aprendizado na educação. Luis Augusto Alves da Silva Lemos, 15 anos, morador do Santa Efigênia, é um dos alunos do projeto e participa dele há 2 anos e meio. “Pra mim é muito importante, ajuda a tirar a gente das ruas e ajuda várias famílias. No projeto, aprendemos muitas técnicas do futebol. A gente aprende também a virar homem, pra não ficar no meio da malandragem e não fazer coisa errada”, disse. Caio Filipe, 14 anos, é outro aluno do projeto e também reside no Santa Efigênia. Caio tem um sonho de ser jogador de futebol, mas não se esquece de algo que aprende sempre no projeto: “Respeito. Respeito acima de tudo. Que a gente possa respeitar a cada um que está aqui. Espero que a gente possa crescer mais na vida. Virar honesto, homem, na vida. Porque não pode ser moleque, né?”.

Luiz Fernando tem 14 anos, mora também do Santa Efigênia e está no projeto há dois anos. “Aqui, aprendemos a nos desenvolver no futebol. Mas também eles ajudam a gente a não nos envolvermos com as drogas. Tem palestras pra combate às drogas e também aprendemos a respeitar as pessoas”. Raquel Alves da Silva, 38 anos, é a mãe do Luis Augusto. Ela fala da mudança na vida do filho: “Pra mim é muito importante porque o Luis se desenvolveu muito na escola, se tornou mais calmo, tem responsabilidade. Mudou totalmente pra

melhor. Era muito rebelde, caçava briga, sempre tinha que ir à escola por causa de confusão dele. Mas hoje ele tá muito diferente, realmente mudou pra melhor”. As pessoas que quiserem conhecer o projeto, podem ir aos treinos que acontecem todos os sábados de 9 às 11 da manhã, na quadra e no campo do Colégio Ibituruna. Já os interessados a fazer alguma doação, podem procurar o vice-presidente da Associação Comunitária Santa Efigênia, João “Tattoo”. A associação fica localizada na Rua Caetés, nº 45, bairro Santa Efigênia.

Escritora valadarense lança o primeiro livro infanto-juvenil FOTO: Talita Ramalho

DEUSA DAS Flores é o primeiro livro infanto-juvenil de Clores Lage Por Talita Ramalho e Viviane Antunes 5º Período

Deusa das Flores. Este é o nome do primeiro livro infanto-juvenil da escritora e artista plástica, Clores Andrade Lage. Seu trabalho foi um dos destaques da 2ª Feira do Livro, que aconteceu em março, no Parque de Exposições de Governador Valadares. O livro se divide em duas partes: histórias e poesias, e mostra uma Clores menina, cheia de imaginação e criatividade. Inspirado na convivência da vovó Clores com seus netos, todos os contos são ilustrados com elementos que representam o cotidiano, sonhos e anseios infantis. “Pensei em escrever de uma forma diferente, não como Clores, mas como a vovó que aguardava seus netinhos com a mesa cheia de pincéis e tudo que eles precisam para entrar no meu mundo”, disse. Para a criançada, o livro foi mais do que aprovado, como afirma Nicolly Santos de 13 anos, que ganhou o livro de presente da mãe:

“É um livro que conseguiu prender minha atenção. Vó Clores, através de seus contos e poesias, conseguiu passar emoção por colocar histórias que aconteceram em sua infância. E assim, me identifiquei no decorrer da leitura, pois descreve acontecimentos que eu mesma já passei”, conta. E Clores não para por aí. Segundo a escritora, esse foi mais um grande desafio de carreira e um dos mais gratificantes, pois se faz pequena, mesmo com mais de sete décadas vividas. Atualmente coleciona seis livros e o sétimo está por vir. “Meu próximo livro está previsto para ser lançado no ano que vem, no aniversário de Valadares. Estou muito ansiosa e trabalhando duro para que o ‘Borboletrando’ não seja só uma obra, mas um registro”, revela. Aos três anos de idade, Clores já rabiscava e aos 12 escrevia poesias e pintava. Além de escritora, é artista plástica, escultora, documentarista, fotógrafa e inventora. Já foi professora e decoradora, produziu três filmes e 12 documentários.



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