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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo
De 30 de março a 12 de abril de 2017
ANO 36 - Nº 1062 Alvaro Augusto/RRJ
OBRA EMBARGADA Moradores reclamam do riscos em contrair doenças como dengue e febre amarela
Mariana Cunha/RRJ
Pág. 4
» RIACHO GRANDE Mariana Cunha/RRJ
Moradores protestam e Câmara aprova CPI da Eletropaulo
» CRISE Trabalho informal é usado para completar renda Págs. 8 e 9
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APAGÃO Falta de luz faz parte da rotina dos moradores do Rudge Pág. 3
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POLÍTICA
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
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DE OLHO NA CÂMARA
Vereadores de São Bernardo aprovam CPI da Eletropaulo Comissão pretende investigar suposto sucateamento do serviço de distribuição de energia Mariana Cunha/RRJ
Érika Motoda Mariana Cunha
OS VEREADORES de São Bernardo aprovaram, por unanimidade, a instauração da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), na quarta (29), para apurar problemas de manutenção, sucateamento do serviço de distribuição de energia e constante falta de energia na cidade por parte da concessionária AES Eletropaulo. Como o vereador e presidente da Câmara, Pery Cartola (PSDB), é o autor do pedido dessa comissão, ele se torna automaticamente o presidente da CPI devido ao regimento interno da casa. Porém o parlamentar pretende renunciar a essa função para não sobrecarregar seu trabalho na Câmara. A presidência passará, então, a ser do vereador co-autor do pedido, Samuel Alves (PSDB). Os outros integrantes da CPI da Eletropaulo serão definidos na próxima quarta-feira (5/4). A bancada do PT demonstrou interesse em participar na relatoria da CPI. O vereador Tião Mateus (PT) argumentou que o partido tem a segunda maior bancada dentro da Câmara. Já o líder petista Ferrarezi pediu que a CPI não seja totalmente composta por tucanos, pois a liderança no Legislativo e Executivo municipal e governo estadual pertence ao PSDB.
Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000
Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo
Moradores do bairro Riacho Grande protestam na Câmara contra a prisão de 11 moradores do local
Fran Silva (SD) também se candidatou para a vaga. O vereador Julinho Fuzari (PPS) elogiou a iniciativa de se formar a comissão e relembrou o caso de cobranças indevidas de seguro de vida e de planos odontológicos por parte da Eletropaulo. O valor desses serviços vinha embutido na conta de energia dos moradores do Estado de São Paulo. O Procon SP alertou aos cidadãos sobre o problema em janeiro deste ano. Furto de energia Durante a sessão da Câmara desta quarta-feira (29), os moradores do bairro Riacho Grande, na região pós-balsa de São Bernardo, protestaram contra a prisão de 11 moradores por furto de energia elétrica (“gato”), ocorrida no dia 21 de março. A advogada Maria Helena de Moraes utilizou a Tribuna Livre para dizer que policiais apareceram no
bairro e realizaram as prisões sem mandado judicial. Segundo ela, funcionários da AES Eletropaulo acompanharam a ação em um carro. Já o delegado Roberto Menezes do 4º Departamento de Polícia (Riacho Grande) afirmou que somente a polícia estava presente. Menezes disse também que foram até as casas porque receberam uma denúncia anônima. “Eles [moradores] precisam estudar Direito. Não é necessário um mandado para realizar prisão em flagrante.” A autônoma Aline Tatiane Varane, 35, foi uma das pessoas detidas durante a ação. Ela contou que os homens ficaram detidos em uma cela, enquanto as mulheres permaneceram em outro local. Quem teve condição, pagou fiança de R$ 1.000. Os outros esperaram a audiência de custódia no dia seguinte às prisões.
DIRETOR - Nicanor Lopes COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO - Rodolfo Carlos Martino. REDAÇÃO MULTIMÍDIA - Editor-chefe - Julio Verissimo (MTb 16.706); EDITORA-EXECUTIVA E EDITORA DO RRJ - Margarete Vieira (MTb16.707); EDITOR DE ARTE - José Reis Filho (MTb 12.357); ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA - Maristela Caretta (MTb 64.183)
EQUIPE DE REDAÇÃO - Álvaro Augusto, Amanda Leonelli,
Arthur Roman, Bárbara Caetano, Bruno Pegoraro, Érika Motoda, Felipe Freitas, Gabriel Mendes, Gabriel Argachoy, Guilherme Guilherme, Iago Martins, Laís Pagoto, Mariana Cunha, Paula Gomes, Raquel Gamba, Thalita Ribeiro e alunos do 5º semestre de Jornalismo. TIRAGEM: 10 mil exemplares - Produção de Fotolito e Impressão: Gráfica Mar-Mar
O irmão da moradora Andressa Braz Ribeiro, 32, é o único de casa que tem emprego fixo como operador de máquinas. “A casa está registrada no nome dele. A polícia fez questão de dar voz de prisão a ele.” Andressa teme que o registro na polícia atrapalhe a vida profissional do irmão. Nenhum morador sabe dizer quem é o responsável pelo “gato” na fiação elétrica. As pessoas entrevistadas pela reportagem disseram que já haviam comprado os imóveis do jeito que estão. Os moradores entraram em contato com a Eletropaulo por meio do vereador Antonio
Carlos (PT) em abril de 2016. Eles requisitaram a implantação de rede de energia na rua Sabiá das Laranjeiras, no bairro Jardim Capivari, região do Riacho Grande. O parlamentar disse que a direção da concessionária esteve no local durante uma visita e ficou de apresentar um projeto de regularização. Ainda de acordo com o petista, os moradores interessados no serviço foram chamados ainda naquele ano para o cadastramento, mas não tiveram retorno até hoje. Em resposta ao jornal Rudge Ramos, a AES Eletropaulo informa que a Autoridade Policial solicitou o envio de suporte técnico da Concessionária, referente a ligações de energia na região do Riacho Grande, esta operação já estava em andamento sob condução da Autoridade Policial, sem participação inicial da Distribuidora. Como a região tem restrições ambientais, a Concessionária precisa de um licenciamento ambiental da Prefeitura de São Bernardo do Campo para, então, realizar eventuais trabalhos de regularização da rede elétrica.
ERRAMOS - Por erro de edição, o texto “Levar marmita ao trabalho é opção para economizar”, da pág. 10, da edição 1.061, saiu cortado. A frase correta é “A ausência do tempo ou espaço para a refeição, porém, pode impactar na produtividade dos funcionários, que não têm um local fora do ambiente rotineiro de trabalho para a pausa em meio ao expediente. “Às vezes, o fato do colaborador sair para o almoço, ter o contato com um ambiente fora da empresa pode ajudá-lo a resolver problemas”, afirmou Lima”.
DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, MARKETING E SUPRIMENTOS - Ronilson Carassini CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente); Esther Lopes (secretária); Rev. Afranio Gonçalves Castro; Augusto Campos de Rezende; Jonas Adolfo Sala; Rev. Marcos Gomes Tôrres; Oscar Francisco Alves Jr.; Valdecir Barreros; Renato Wanderley de Souza Lima (suplente). DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar VICE-DIRETOR GERAL - Gustavo Jacques Dias Alvim DIRETOR DE FINANÇAS E CONTROLADORIA - Ricardo Rocha Faria
REITOR: Paulo Borges Campos Jr., Coordenadora de Graduação e Extensão - Vera Lucia Gouvea Stivaletti, Coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa - Davi Ferreira Barros DIRETORES - Rogério Gentil Bellot (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Nicanor Lopes (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).
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CIDADE
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DE OLHO NA CIDADE
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Mariana Cunha/RRJ
Moradores, lojistas e funcionários sofrem com as quedas frequentes de energia no bairro e pedem manutenção e resposta da concessionária responsável pelo fornecimento elétrico
Apagões persistem na rotina dos moradores de Rudge Ramos
A distribuidora de energia tem
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dias para realizar a verificação dos eletrônicos
Comerciantes buscam alternativas para driblar as quedas de luz durante o trabalho Mariana Cunha
MICHELE Rehder Martins, 35, moradora do Rudge Ramos, afirma ter ficado mais de 24 horas sem energia elétrica em sua casa após uma forte chuva ocorrida em fevereiro. A artesã entrou em contato com a AES Eletropaulo. Segundo ela, a empresa informou que não haveria desconto na fatura pelo ocorrido. A queda de energia não foi o único problema enfrentado por Michele. Em 2014, após uma forte oscilação de luz, equipamentos eletrônicos como portão elétrico, câmera de segurança e interfone foram danificados. “A empresa não pagou pelo conserto dos objetos. Fui aconselhada
pelo Procon-SP a entrar com um processo no Tribunal de Justiça em São Paulo para conseguir e ganhei a causa”, disse. Já a estudante de Rádio e TV Tayane Capelo, 20, afirma que as quedas de energia são constantes em seu apartamento, no Rudge Ramos e nem sempre a chuva é a causa. “O retorno da energia depende do clima. Se chove, demora algumas horas para normalizar. Se não, estabiliza entre 40 minutos e uma hora”. Tayane também relata que nunca houve desconto na conta. Comércio O gerente de farmácia Lúcio Amorim Feres, 56, afirma que não costuma sofrer com as quedas de energia com frequência. “Às
vezes, quando chove, a luz cai por poucos minutos ou apenas pisca, mas é tudo muito rápido”. Já a vendedora de celulares Karina Ferreira Dias, 34, conta que o estabelecimento onde trabalha ficou sem energia próximo a data comemorativa mais rentável para o comércio, o Natal. “Já aconteceu de faltar luz e não ter sistema ou computadores para trabalhar naquele dia.” Muitas lojas da avenida Rudge Ramos adotaram geradores para que esse tipo de problema não persista. Igor Kawabe, 27, é gerente de uma loja de cosméticos no bairro e adquiriu um gerador reserva, pois a queda de luz era frequente no estabelecimento. “Desativei o gerador por questões fi-
nanceiras, mas hoje em dia não preciso mais utilizar como antes”, contou. Joyce de Carvalho, 27, trabalha no caixa de uma rede de perfumes e cosméticos e diz não perceber quando falta luz nas lojas vizinhas por também portar um gerador. “Raramente a luz pisca quando chove”. Queimou Equipamentos eletrônicos podem ser danificados caso ocorram picos de tensão durante o retorno da energia. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) regulamentou que o consumidor pode receber o ressarcimento total dos produtos danificados após registrar o ocorrido em até 90 dias. A distribuidora de energia tem 10 dias para
realizar a verificação dos eletrônicos. É importante que o consumidor não tente consertar o objeto por conta própria nesse período, a não ser que a companhia elétrica autorize. No ranking estadual de reclamações do Procon-SP, a Eletropaulo ocupa a 8ª colocação. A principal reclamação dos consumidores é sobre cobrança indevida ou abusiva. Em resposta, a Eletropaulo informa que causas ambientais, como a queda de árvores e galhos, chuvas e ventos fortes estão entre os principais motivos das ocorrências na rede elétrica na região da avenida Rudge Ramos. Ainda segundo a Eletropaulo, a empresa planeja podas em árvores e galhos e vistorias próximas ao circuito que atende à região. Sobre o pedido de indenização, os consumidores podem preencher o formulário no site da concessionária (www.aeseletropaulo.com.br) e em lojas ou rede conveniada de atendimento. A Redação solicitou relatório de indisponibilidade de energia no bairro há mais de um mês, mas a Eletropaulo não se posicionou a respeito do pedido.
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CIDADE
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Obra embargada no Rudge se torna foco de mosquitos Moradores temem que insetos possam transmitir doenças como dengue e febre amarela Guilherme Guilherme/RRJ
Alvaro Augusto Guilherme Guilherme Maristela Caretta
UM TERRENO com obra parada há mais de três anos tem sinais de abandono e abriga tambores e estruturas de ferro e cimento que retêm água da chuva. O empreendimento, da Construtora Masa, que pretendia construir um prédio de apartamentos, foi embargado pela Prefeitura de São Bernardo. O local fica na rua Planalto, esquina com a Via Anchieta, no Rudge Ramos. A moradora vizinha do terreno, Maria de Jesus, 66, aposentada, tem notado que o número de mosquitos aumentou desde quando a obra foi interditada. “Precisei colocar telas em todas as minhas janelas para evitar a entrada dos insetos. Sem a tela é impossível deixar a janela aberta”, disse. No dia 6 de março, uma forte chuva derrubou os tapumes que separam a cal-
Acúmulo de água parada tem causado preocupações em relação à saúde dos moradores do entorno
çada do terreno deixando-o completamente submerso. Sem a barreira de proteção, os pedestres correram risco de cair no buraco,
visto que a calçada do local é estreita. Além disso, na parte de dentro podiam ser observadas rachaduras no piso de concreto.
Gabriel Argachoy/RRJ
Viaduto tem mais de um ano de atraso em obra Gabriel Argachoy
AS PLACAS que contêm informações da prefeitura e do consórcio responsável pela obra estão ali, assim como estruturas de metal. Parte das pistas de rolamento já está construída, porém não existe uma ligação entre elas. Não há operários trabalhando. Essa é a situação das obras do viaduto Mamãe Clory, localizado entre as avenidas Robert Kennedy e José Odorizzi, em São Bernardo, que deveriam ser entregues em janeiro de 2016. O viaduto é parte integrante do primeiro lote do
futuro Corredor Leste-Oeste, que ligará os pontos extremos da cidade. O trecho, que está sendo construído pelo consórcio Mobilidade SBC, formado pelas construtoras OAS e Constran, foi orçado inicialmente em R$ 209,1 milhões, com parte do valor repassado pelo programa PAC 2 Mobilidade Grandes Cidades, do governo federal. A psicóloga Silvia Regina Ramos Perez, 54, critica o alto valor investido na construção do viaduto. “Lastimável. Esta obra foi iniciada e infelizmente não está concluída. Pagamos impostos abusivos e não vemos nenhum retorno deste di-
Segundo o gerente de engenharia da Construtora Masa, Thiago Benício Caires, as obras de fechamento do tapume e esgotamento
das águas de chuva do terreno seriam iniciadas no último dia 20. Porém, os reparos necessários não aconteceram no dia previsto. Por telefone, Caires afirmou que até sexta-feira (31) os problemas seriam resolvidos e que a construtora iria contratar um funcionário para tomar conta do local. Já a prefeitura, por meio de nota, informou que a equipe da Dengue monitora o terreno há aproximadamente dois anos. Eles alegam que fazem drenagem e tomam medidas preventivas para evitar criadouros do mosquito. Ainda de acordo com a prefeitura, em janeiro deste ano, foi realizada uma vistoria. Foram constatadas “diversas irregularidades” no terreno a partir da contratação de uma empresa para retirar os equipamentos da obra. O caso foi encaminhado à fiscalização zoosanitária para localizar o proprietário e solucionar os problemas.
Embargo causa problemas em relação ao trânsito no bairro e incomoda vizinhos da obra
nheiro, apenas transtornos.” Edson Peres Pastorelli, 63, é comerciante e mora próximo ao local. Ele conta que o atraso tem dificultado o tráfego de veículos no entorno das obras, mas que a liberação parcial da avenida José Odorizzi, no dia 14 de março, melhorou um pouco a situação. “Agora que a prefeitura reabriu a pista em frente ao
Sesi facilitou [o trânsito], porque, até então, nós éramos obrigados a desviar até a avenida Piraporinha para poder ir trabalhar. Quando chove, ela alaga até em cima. Imagina o inferno”, declarou Pastorelli. Procurada pela reportagem, a Prefeitura de São Bernardo explicou, por meio de nota, que a paralisação das obras do via-
duto Mamãe Clory ocorre devido a um processo de reprogramação financeira junto à Caixa Econômica Federal e, por isso, o valor que cabe ao governo federal não está sendo repassado para a conclusão do viaduto. De acordo com a administração, a retomada da obra ocorrerá somente após a aprovação por parte da Caixa.
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COMPORTAMENTO
Beatriz Magalhães
O VEGANISMO consiste em uma dieta que não envolva alimentos que venham da exploração animal para o consumo do homem, como carne, leite, ovos e mel. Esses alimentos são substituídos por vegetais, frutas, legumes, e principalmente, grãos. Mas não é fácil adotar o estilo de vida vegano sem antes passar pelo vegetarianismo, em que a pessoa deixa apenas de comer carnes de origem animal. A professora de inglês Ana Martins, 20, conta que virou vegetariana em 2011 por influência do namorado e que tomou a decisão de um dia para o outro. Depois de seis meses, o casal decidiu se tornar vegano juntos. “Eu vesti a camisa do veganismo, comecei a conversar e admirar muitas pessoas e isso me empolgou bastante.” Muitas vezes, as pessoas associam o veganismo à falta de nutrientes que ele pode causar pela exclusão de alimentos de fontes animais na dieta. Mas a nutricionista Isabelle Stoll, 25, alerta que isso, inclusive, melhora a saúde. “O veganismo mostra uma melhora na predisposição de doenças cardiovasculares e câncer no esôfago e estômago. Isso acontece porque o vegano para de comer todo tipo de alimento industrializado, já que a maioria deles contém traços de leite e ovos.” O medo da perda de nutrientes pode atrapalhar o objetivo de quem decide ser vegano. A professora de inglês e francês Maria Helena Lage, 20, tentou por uma questão ideológica. Conseguiu manter a dieta por sete meses, mas desistiu por pressão da família, que tinha receio de que ela ficasse anêmica. “Eu tinha 17 anos. Não me sentia muito segura por conta da pressão externa. Se tomasse essa decisão agora, seria bem diferente.”
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Nutricionistas ajudam em receitas para veganos Adeptos ao estilo de vida passam por fases até chegar ao veganismo Fotos: Beatriz Magalhães/RRJ
“ “
O veganismo mostra uma melhora na predisposição de doenças cardiovasculares e câncer no esôfago e estômago.” Isabelle Stoll Nutricionista
Atualmente, encontramos produtos que não têm origem animal nas ruas. Mas o mercado ainda é muito limitado.” Isadora Pastori Nutricionista
Nutricionista recomenda grãos, como o feijão, para substituir a carne animal
Já o caso do preparador físico Lorenzo Capelli, 21, aconteceu o contrário. Ele é vegetariano desde que nasceu por opção dos pais. Quando cresceu, decidiu manter o estilo de vida. “Eu me coloco no mesmo patamar dos animais. Não me sinto uma raça superior e sei que o ser humano não é um ser carnívoro. Eu sou a prova viva disso.”
Mas nem tudo são flores. É muito importante que o vegano se consulte com um nutricionista especializado no assunto e faça exames de sangue rotineiramente. Segundo a nutricionista Isabelle, um recurso muito utilizado na dieta de pessoas veganas é a suplementação de hormônios como a vitamina B12. Outra
opção é substituir a proteína da carne pelo grupo dos feijões. “A soja é um bom substituto e, junto com alguns métodos nutricionais, a pessoa consegue manter uma quantidade de proteína adequada, inclusive para
HAMBÚRGUER TRADICIONAL 1kg de carne moída magra (patinho) 1 cebola média 2 dentes de alho 1 ovo Sal, pimenta e tempero verde a gosto PREPARO Bata todos os ingredientes no liquidificador, exceto a carne. Acrescente a carne aos poucos e mexa até formar uma mistura homogênea. Agora é só moldar a carne no formato de hambúrguer e fritar ou assar.
FEIJÃO PRETO 300g de feijão preto 2 colheres (sopa) de farinha de rosca Sal, pimenta, orégano e azeite de oliva a gosto PREPARO Deixe o feijão de molho por 12 horas e despreze essa água. Coloque os feijões em uma panela de pressão e preencha com água (o suficiente para cobrir os feijões). Deixe cozinhando por 15 minutos e desligue. Passe os feijões para uma tigela e tempere como quiser. Adicione azeite de oliva e por fim a farinha de rosca para dar textura. Modele em forma de hambúrguer e asse ou frite. A receita rende 12 hambúrgueres médios.
Nosso trabalho é
INFORMAÇÃO
ganho de massa muscular.” Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), sete colheres de sopa de leguminosas, como feijão, ervilha e grão de bicos são equivalentes a 100 gramas de carne animal. Na rotina caseira, é mais fácil aderir a essas substituições. A estudante de odontologia Isadora Pastori, 19, conta que não teve dificuldades na transição. “Gosto muito de salada, legumes, frutas e cereais. Há muitas opções. Como bastante bife vegetal, soja e até feijoada vegetariana.” Já quando o vegano tem que se alimentar nas ruas, não é bem isso que acontece. As opções ainda são muito restritas. Um conselho que a nutricionista dá, é se planejar antes de sair de casa e preparar uma marmita para consumir durante o dia. “Atualmente, encontramos produtos que não têm origem animal nas ruas. Mas o mercado ainda é muito limitado.” Receitas que levam carne, ovos e leite não impedem veganos de usá-las. A nutricionista Isabelle adaptou uma receita de hambúrguer.
Se você tem alguma reclamação ou quer sugerir um assunto para que ele se transforme em pauta e reportagem, fale com a Redação: WhatsApp
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COMPORTAMENTO
De 30 de março a 12 de abril de 2017 Fotos: Alexandre Maekawa
Hambúrger vegetariano quilo
Contra filé quilo
R$ 39
R$ 26
Carnes vegetais são mais caras Alexandre Maekawa
SE VOCÊ pensa em se tornar vegetariano mas não consegue abrir a mão da “carne”, prepare o seu bolso. A principal alternativa são as carnes vegetais, produtos que imitam a carne
animal, mas são feitos de soja e trigo. Por exemplo, uma lata de salsicha vegetal de 300 g custa mais de R$ 20. Já um pacote de salsicha animal de 500 g custa R$ 8. O quilo do bife vegetal chega a R$ 39, competindo com o contra filé, que varia de R$ 18 a R$ 26.
Esses produtos são mais caros por diversos fatores. Um deles é a grande procura no mercado. “Um dos outros fatores que encarecem a carne vegetal é o modo que esses produtos são processados. Para retirar a proteína da soja, ela passa por diversas fases
de processamento”, disse o engenheiro alimentício Matheus Camilo de Moraes. Com poucos estabelecimentos voltados para o público vegetariano, as empresas produtoras da carne vegetal se aproveitam desses fatores. A pessoa que segue este estilo de vida fica
sem muitas opções e acaba pagando mais pelo produto. O nutricionista Lucas de Oliveira complementa “o alto custo da carne vegetal vem do grande investimento para tornar a soja [principal componente do produto] um alimento saboroso e palatável”. Por conta do preço alto, as pessoas buscam alternativas para aliviar o bolso. Muitas delas o encontram na soja, que fornece um elevado índice de proteína. Mas esse grão ainda não é rotineiro no prato do brasileiro. “Muitos nunca a utilizaram e não sabem prepará-la naturalmente, apenas compram o produto final”, disse Oliveira. Proteína Se você é vegano ou vegetariano, provavelmente já cansou de ser questionado sobre como lida com a questão da proteína no seu organismo. Até mesmo os nutricionistas ficam preocupados com essa questão. A aposta dos nutricionistas é a PTS (Proteína Texturizada de Soja). Mesmo não sendo carne animal, ela pode ser um bom substituto. Mas a nutricionista Patrícia Draghi lembra que a PTS não possui a vitamina B12, presente na carne animal. “O baixo consumo dela pode causar anemia.”
Delivery ajuda veganos Ana Caroline Laet
UMA NOVIDADE vem trazendo facilidade para adeptos do veganismo no ABC: o delivery vegano. Esse sistema de entrega funciona apenas durante o almoço. Em média, por dia, são entregues 30 refeições. Um dos fornecedores é a Panela Alternativa, que fica no centro de Santo André e está no mercado há oito meses. A proprietária, Laura Zanatta, 31, contou em entrevista por e-mail que tudo começou com uma feijoada vegana entre amigos. Ela se surpreendeu com o retorno. “As minhas postagens no Facebook estavam cada vez mais visualizadas. Percebi que isso poderia se tornar um negócio”, disse. Hoje, Laura pensa em abrir uma loja física. “Sem-
“
O doce que mais sai é o Alfajor, feito de bolacha maria e chocolate meio amargo, mas trabalho com doces tradicionais como brigadeiro e beijinho.” Andra Carolina Estudante
pre trabalhamos com o delivery. A ideia principal do nosso restaurante sempre foi essa. Agora estamos com projetos de expandir nosso atendimento”, afirmou. Quem já trabalhava no ramo também partiu para o delivery vegano. A empreendedora Fernanda Loureiro Tonobohn, 36, virou vegana há quatro meses. Foi influência de seu irmão, que sempre incentivou a família a adotar um modo de vida mais saudável. O próximo passo foi aplicar isso aos negócios
da família: o Kulinara, que está no mercado de comidas congeladas em Santo André há cinco anos. “Em outubro mudamos completamente. Diminuímos o cardápio que tínhamos com produtos de origem animal e começamos com os pratos veganos.” Segundo Fernanda, apenas 10% de seus antigos clientes permaneceram. Doces veganos Até doces veganos entraram no esquema de entrega em casa. A estudante de gastronomia da Faculdade Anhanguera Andra Carolina Lavezzo, 29, viu uma oportunidade e resolveu inovar o mercado dos doces com opções veganas. Segundo ela, produtos como a Chia (semente com alto teor de proteínas), leite de coco e até mesmo leite vegetal substituem os de origem animal, mantendo a mesma qualidade e atrain-
Aplicativos ajudam a encontrar restaurantes veganos na região
do cada vez mais clientes, incluindo quem tem restrições alimentares e crianças alérgicas. “O doce que mais sai é o Alfajor, feito de bo-
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lacha maria e chocolate meio amargo, mas trabalho com doces tradicionais como brigadeiro e beijinho”, afirmou.
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ECONOMIA
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Crise expõe trabalho informal Metade da população economicamente ativa não trabalha com carteira assinada Foto: Daiane Silva/RRJ
Ammancio Pereira Neto, 88, aposentado há 35 anos, complementa a renda mensal trabalhando como ambulante; esse é o caso de 6,48 milhões de brasileiros com mais de 60 anos Daiane Silva
DE ACORDO com dados do IBGE, o país perdeu 1,3 milhão de vagas no mercado formal, em 2016. Em tempos de crise, o trabalho informal torna-se válvula de escape para desempregados e para a população de baixa renda. Alguns optam por “bicos”, outros se “auto empregam”, e todos tentam encontrar uma forma de sobreviver. Esse é o caso da diarista Cleide Carvalho, 25. Cleide está desempregada há três anos e, desde então, procura uma oportunidade para trabalhar registrada, mas os bicos são sua única fonte de renda. Ela mora com o marido e o filho no bairro de Eldorado, em Diadema. Duas vezes por semana, atravessa a cidade para trabalhar como diarista em São Paulo. Na mesma casa, eventualmente faz traba-
lhos como babá e garçonete. “Estipulei meu preço. Mas os meus patrões não aceitaram e ofereceram outro valor. Infelizmente, aceitei porque estava precisando muito.” A informalidade também chegou para o mecânico Valdecir Pereira, 48. Ele trabalhou durante quase 20 anos como mecânico em uma montadora da região. Foi demitido em 2012. Atualmente, trabalha sem vínculos legais em uma oficina de São Caetano, mas sem nenhum benefício assegurado. “Quando a mecânica fecha para férias, sou obrigado a fazer bicos na garagem de casa para tirar um trocado.” Aposentados Mesmo quem já se aposentou recorre também ao trabalho informal. Os motivos são variados. O ambulante Ammancio Pereira Neto, 88, trabalhou em uma grande empresa da
região. Aposentou-se aos 53 anos. Desde então, trabalha vendendo bijuterias. Seu comércio está instalado em frente às Casas Bahia, no Rudge Ramos, há cinco anos. Neto conta que, quando começou com as vendas, lucrava bastante. Hoje, ganha em média R$ 750 por mês. “Eu comprava mercadoria de duas a três vezes por semana. Agora, só de mês em mês. É um fracasso grande.” De acordo com Neto, o que mais o agrada em sua profissão é ser livre e espontâneo. “Esse trabalho não é algo que sou obrigado a fazer, não tenho mais que ficar como um prisioneiro dentro de uma firma igual eu fiquei durante 34 anos. Era muito difícil, uma ‘meia vida’. ” A única coisa que o incomoda em suas jornadas de trabalho é o frio. Ele conta que não gosta de trabalhar nessa época. Às vezes, precisa até se
“
A maioria das pessoas que exerce essa atividade não tem escolha, pois não consegue se inserir no mercado formal. Luci Praun Socióloga
abrigar dentro das Casas Bahia para se aquecer. Mas essa liberdade citada por Neto é questionada por especialistas. A socióloga Luci Praun afirma que a informalidade se caracteriza pela super exploração do trabalho. Segundo ela, a autonomia e flexibilidade citadas por muitos trabalhadores como benefícios é resultado da naturalização dessa atividade precária. “Esse é um discurso ideológico. No sentido de ser uma representação que as pessoas fazem da
realidade. A maioria das pessoas que exerce essa atividade não tem escolha, pois não consegue se inserir no mercado formal.” O clima não afeta só a atividade de Neto. O frio também é o maior empecilho na rotina de trabalho do aposentado Pedro Sergio Galdino, 70. Há sete anos, ele circula com o seu carrinho de sorvete no Rudge Ramos e redondezas, mas depende do calor para fazer suas vendas. “No inverno tenho que economizar até o sol voltar e eu poder trabalhar novamente.” Galdino mora com a mulher e a filha na Paulicéia. Para evitar transtornos na locomoção de casa até o local de trabalho, paga aluguel para guardar o carrinho (que pesa em média 35 kg) e os sorvetes em estabelecimentos do Rudge. “No final do dia eu estou exausto. É muito cansativo, mas eu preciso.”
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ECONOMIA
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Comércios buscam inovação Daiane Silva/RRJ
Alana Calixto
COMERCIANTES de São Bernardo reclamam que, há cerca de dois anos, houve uma queda significativa no rendimento, devido à crise econômica. Segundo dados do IBGE (2017), 12,3 milhões de brasileiros estão desempregados. Esse cenário reflete nos comércios de bairro. No Rudge Ramos, por exemplo, os empreendedores buscam formas de amenizar as consequências da recessão. Dona de um bar lanchonete, o Rota do Açaí Music Bar, no Rudge Ramos, Tânia, 43 (que não quis dar o sobrenome), afirma que sofre os efeitos da crise há um ano e meio. “Tinha três funcionários. Tive de demiti-los. Agora, tenho que dar conta sozinha.” Tânia ainda relata que houve uma diminuição de
À esquerda, Maria Helena proprietária da loja Mª Kbrita aposta no atendimento personalizado
novos clientes. Ela procura, então, manter os antigos com cortesias de porções de batata frita e preços especiais. Os clientes fixos costumam ir de três a quatro vezes por semana. Com isso,
ela realiza, eventualmente, shows ao vivo e aniversários. Outros preferem utilizar a tecnologia para atrair a clientela. Como é o caso da Maria Helena (que também pediu que não citasse o so-
brenome), 66, e possui Facebook e Instagram desde que abriu a loja de roupas femininas Mª Kbrita, há dois anos e meio. Mas foi depois de sentir os reflexos da crise há mais
Artesãos investem no empreendedorismo Camila Santana
ARTESANATO. Essa é uma alternativa que empreendedores adotaram para viver, inclusive usando a web para comercializar a produção. Uma das razões é poder conciliar essa atividade com outras e até realizá-la em casa. A pedagoga Adriana Ramos Pereira, 44, mora em Santo André e concilia o trabalho de orientadora educacional à gestão de seu empreendimento, o ateliê Telhado Encantado. A oficina fica no sótão de sua casa, onde produz lancheiras térmicas, estojo com divisórias, roupinha de cachorro, capa para caderno - tudo o que envolve a costura criativa. As vendas são feitas apenas pela internet. Além do perfil no Facebook, o ateliê tem uma página no site da Divitae, que é uma plataforma de lojas online dedicada a pequenos empreendedores. As vendas, que antes se restringiam aos colegas de trabalho, hoje, com a ajuda da tecnologia, já atingiram clientes de Rondônia e Rio de Janeiro.
Adriana conta que aprendeu a aprimorar a confecção das peças apenas pela internet, em vídeo aulas de canais de artesãs no Youtube, como Lia Pavan, Ana Cosentino e Maria Sica. Os pedidos também são feitos pelo WhatsApp. O retorno financeiro da página ainda não é suficiente para que ela possa depender apenas do ateliê. Mas o público tem aumentado de forma positiva. Atualmente, o ateliê tem uma média de lucro que é equivalente a 30% do salário como educadora. A consultora de administração do Sebrae Dulcimara Nunes, 44, conta que, em tempos de crise muitas pessoas que não conseguem se recolocar no mercado de trabalho apostam no empreendedorismo em busca de uma alternativa de renda. Como resposta a essa demanda, o programa microempreendedor individual é uma maneira de formalizar pequenos negócios e garantir o acesso a benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença e aposentadoria. Cursos Para quem deseja começar a empreender, o Sebrae,
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ou menos um ano, que decidiu utilizar o Facebook como ferramenta de vendas. “Fazemos a divulgação, conversamos com clientes. Às vezes, mandamos o produto por correio, ou eles vêm até a loja buscar”, disse. De fato, a rede social tem sido uma boa opção para continuar atendendo clientes que se mudaram, ou alcançar mais pessoas. Atualmente, segundo Maria Helena, a página tem 490 curtidas que ajudam a instigar a curiosidade e a trazer visitantes. A gerente comercial Priscila Doellberg, 28, que trabalha na Star Center Colchões, uma loja da região, também está no Facebook. Mas, como seu público é mais idoso, a estratégia comercial acontece a partir do relacionamento interpessoal, mais intimista. Priscila ainda brinca, dizendo que, às vezes, são até psicólogos. “Procuramos trabalhar com catálogos, um atendimento exclusivo. Isso faz com que eles queiram comprar novamente.” Camila Santana/RRJ
Para Bruno Torres, dono de um ateliê, empreender é uma forma de divulgar a arte e o conhecimento
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, possui cursos online e presenciais, palestras e formações. Além disso, possui suporte de gestão, financeiro e jurídico de acordo com a necessidade do cliente, direcionando para cada área desejada de atuação. “É preciso ajudar as pessoas a colocarem a ideia no papel. O programa MEI tirou essa concepção de que abrir seu próprio negócio é burocrático e caro”, disse Dulcimara. O técnico em publicidade Bruno Torres, 26, dono do Ateliê do Torres, produz artesanalmente colares e brincos usando a junção de
peças e pingentes. O destaque de seu trabalho são as caixinhas de MDF personalizadas, usando fotos, colagens e tecidos, ele dá às peças detalhes da personalidade de cada cliente. As caixinhas levam estampas das páginas de quadrinhos, CD’s, fotos e desenhos de personalidades, como a artista plástica Frida Khalo e o sambista Cartola. Atualmente, intercala as vendas do ateliê ao trabalho como bartender. Há um ano, divulga seu trabalho por meio de uma página no Facebook. Conta que teve contato com a criação e o artesanato desde criança, chegou a fabri-
car enfeites de gesso para pagar as aulas de Karatê. Além da página na Facebook, Bruno Torres leva o ateliê, que é quase móvel, dentro de uma mala para expor em festas e clubes por convites de amigos e clientes. Torres ainda não abandonou as festas em que atua como bartender. Mas conta que o lucro do ateliê já supre o salário mensal, que recebia apenas em festas. Para dar o suporte necessário ao ateliê, tornou-se MEI há seis meses. “Empreender é administrar. É preciso fazer toda uma logística mesmo, é como ser literalmente sua própria empresa.”
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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
De 30 de março a 12 de abril de 2017
Fotos: Beatriz Fleming/RRJ
Fábio Groeschel
COM EQUIPAMENTOS modernos e bem organizados pelos funcionários que trabalham sob um regime de Cooperativa, a Central de Triagem Cooperluz, localizada no bairro Cooperativa em São Bernardo, gera empregos diretos e indiretos para várias famílias do ABC e região. Dessa forma, além da diminuição considerável de lixo destinado aos aterros sanitários, o trabalho é fundamental para a preservação do meio ambiente. A presidente da Central, Maria Lucia Souza, que foi “catadora no lixão” há muito tempo, afirma que o trabalho mudou muito e para melhor. Segundo ela, o perfil dos funcionários também se modificou. “Hoje em dia, são pessoas mais jovens que ficaram desempregadas e buscam uma solução trabalhando na central”, disse Maria Lucia. Os cooperados passam por cursos de integração, programação e de como realizar a triagem do material corretamente, especialmente depois que a central foi automatizada. Em 2001, quando se iniciou a coleta seletiva em São Bernardo, somente 1% do lixo ia para reciclagem. Até o ano passado, houve um crescimento chegando a 7%, o que representa 48 toneladas de lixo reciclável por dia. A meta era chegar a 10% até o final de 2016, sendo que o local tem capacidade para até 100 toneladas por dia, funcionando em dois turnos. No Rudge Ramos, por exemplo, o material que é coletado subiu de 6,5% para 8%, maior do que a média no município. Conscientização A falta de conscientização da população sobre a questão da coleta seletiva é um dos principais problemas que uma iniciativa como essa tem que enfrentar. “Os números que alcançamos são altos, mas ainda temos capacidade para armazenar 100 toneladas. Se as pessoas reciclassem mais, poderíamos gerar mais de 151 novos empregos’’, explicou o coordenador Reginaldo dos Santos. Com uma melhor divulgação da existência deste local, um maior incentivo à população e com projetos de visitas monitoradas que, embora já aconteçam em parceria com a Secretaria da Educação,
Central de Triagem Cooperluz conta com 69 cooperados para a produção de até 30 toneladas de material reciclável por dia de forma automatizada
Entidade gera empregos para catadores de lixo Central funciona como uma verdadeira indústria do ramo da reciclagem
“
As pessoas estão reconhecendo que não somos ‘coitadinhos’, e sim verdadeiros profissionais da nossa área” Valdinéia de Jesus
Secretária Geral da Central
Equipamentos auxiliam na organização do lixo
poderiam ser ampliadas para outros setores da sociedade, os índices poderiam aumentar ainda mais.” Chego a receber de 25 a 30 currículos por dia, mas não tenho como dar emprego a essas pessoas porque não temos material
Aluminío é um dos principais materiais reciclados
suficiente para isso”, contou o coordenador. É o que ressalta Valdinéia Adriana de Jesus, que há cinco anos trabalha na cooperativa ‘‘As pessoas estão reconhecendo que não somos ‘coitadinhos’, e sim verdadeiros profissionais
da nossa área. No começo, eu não gostava, mas, aos poucos, fui percebendo que quem trabalha aqui realmente acaba gostando do que faz”. Valdinéia começou como catadora e, com a ajuda do emprego, investiu em um curso de Administração
e atualmente é a secretaria geral da central. Santos conta que, atualmente, a cooperativa recicla de 200 a 300 toneladas. Esse volume poderia ser ainda maior se 30% não virasse rejeito. “Rejeito são os materiais como isopor, espuma e madeira que, mesmo recicláveis, não interessam os compradores, e assim, não temos o que fazer com eles”, explicou. A Central de Reciclagem de São Bernardo funciona na rua Yae Massumoto, nº 470, no Bairro Cooperativa, em São Bernardo, desde 2013.
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
Família realiza trabalho social com reciclagem Beatriz Fleming
A COLETA seletiva é um privilégio de poucos brasileiros. Por isso, fazer o melhor descarte do lixo é fundamental para contribuir com o meio ambiente e consequentemente com famílias que usam o material para complementar renda ou até mesmo sobreviver. A família Pereira, que mora em São Bernardo, destina os recicláveis para projetos que reaproveitam este lixo de diversas maneiras. Os professores, Edson Pereira e Rosilene Pereira, levam os materiais que mais utilizam em casa, como caixas de leite e ovos e latas de alumínio para a instituição Lar da Mamãe Clory, no bairro Assunção, que atende crianças, adolescentes e idosos. “Quando juntamos um volume grande, levamos esses recicláveis para o lar. Lá eles vendem e revertem o dinheiro para sustentar a instituição”, contou o professor. Além disso, o material que o casal coleta também vai para a escola em que Rosilene trabalha. A professora realiza, com seus alunos, atividades de educação financeira e matemática de uma forma interativa. Ela monta com os recicláveis um mercadinho e usa as caixas dos produtos usados como se fossem embalagens fechadas. “Eu levo as embalagens, dou dinheirinho de papel e, assim, as crianças praticam matemática”, disse. Rosilene dá aulas em uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI), localizada na periferia da cidade de São Paulo, onde
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a maioria das crianças não tem como guardar seus pertences. “Grande parte dos alunos não tem estojo, por isso usamos garrafas pet e embalagens de produtos de limpeza para colocar o material escolar deles”, contou. Ela ainda incentiva trabalho de artesanato com o lixo coletado. Rosilene explica que nesta EMEI as crianças têm poucos brinquedos e com os produtos eles usam a criatividade para brincar. O casal também ajuda uma família que pega os materiais no condomínio onde mora. “Nas lixeiras aqui do condomínio, levo a matéria orgânica separada porque eles pegam tudo o que é reciclável antes do caminhão de lixo passar e vendem”, falou. Segundo Pereira, o fato destas pessoas estarem recolhendo o lixo fez com que muitos outros moradores do prédio passassem a separar. “Eu lembro que antes a maioria jogava tudo junto, depois que a família começou a pegar, a gente vê as pessoas chegando com sacos separados e levando para eles”, afirmou o professor.
Arquivo Pessoal
Rosilene participa de Mostra Cultural com decoração feita de rolos de papel higiênico e outros recicláveis
“
O LIXO no Brasil é um grave problema e muito se discute sobre sua gestão e coleta. Alguns catadores do ABC recolhem materiais recicláveis de
mas não tinha muito o hábito de encaminhar este lixo. Aqui nós passamos a centralizar um pouco mais isso”, disse Pereira. Além disso, ele também incentiva outras pessoas a reciclar. O professor leva nas escolas em que tra-
balha caixas para que os alunos descartem pilhas e celulares que não usam ou que não funcionam mais. “Eu junto e depois deposito em lugares próprios para o descarte”, falou. O casal, que têm três filhas, já passa para as meninas a importância da reciclagem. “Elas já fazem a separação do lixo. Então, tudo o que é resíduo de comida, sabem que temos o cesto específico, assim como para embalagens, latas e rolos de papel higiênico”.
lha como catadora de latas há cinco anos, usando o dinheiro que arrecada como complemento da aposentadoria de seu marido. Ela afirma enfrentar dificuldades para encontrar um emprego fixo por conta de sua idade e que viu este trabalho como única forma possível para ela e o marido poderem se sustentar minimamente. “Consigo uma renda entre R$ 200 e R$ 300 por mês, não mais do que
isso. Depende muito da quantidade do material que levo”, contou Maria, que leva todo o material recolhido a um depósito próximo de sua residência. O Brasil é o líder em reciclagem de alumínio há mais de 14 anos, segundo dados da ABAL (Associação Brasileira de Alumínio) e da ABRALATAS (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclagem).
“Nas lixeiras aqui do condomínio, levo a matéria orgânica separada porque eles pegam tudo o que é reciclável antes do caminhão de lixo passar e vendem.” Rosilene Pereira
Professora
Em casa Foi no condomínio, inclusive, que Edson e Rosilene começaram este trabalho de separação. “Tudo começou quando viemos para cá, há 11 anos. No outro prédio em que morávamos, nós também separávamos,
Lixo da cidade gera renda complementar Artur Rodrigues
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residências e comércios para venderem para ferros velhos e depósitos e, assim, poderem gerar ou complementar a renda. É o caso de Maria das Graças Alves, 58, moradora da Vila Homero Thon, em Santo André. Maria traba-
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