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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo De 13 a 26 de setembro de 2018
ANO 38 - Nº 1074
16ª meia maratona de São Bernardo será neste domingo Edição de 2017 contou com cerca de cinco mil participantes. Largada está prevista para as 7h30, no Poliesportivo.
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Luchelle Furtado/RRJ
» CULTURA
O homem que calculava Pág. 11
» ESPECIAL
Viagem de trem pela linha 10 da CPTM tem de tudo: vendedores, artistas e boas lembranças Págs. 6 e 7
Heloísa Fantini/RRJ
» ECONOMIA Comércio do Rudge espera segundo semestre melhor Pág. 4
Índice de desemprego no ABC fica estável, de acordo com Dieese Pág. 5
San op
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EDUCAÇÃO
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
De 13 a 26 de setembro de 2018
UNIVERSIDADES DO ABC
Orçamento da Capes para 2019 causa apreensão Órgão é um dos responsáveis por apoiar pesquisas científicas em todo o Brasil Rodrigo Bussula
UM DOS órgãos que comanda a ciência e pesquisa no Brasil, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou no início deste semestre, uma nota – assinada pelo presidente da entidade Abilio Neves – na qual reitera sua preocupação com o risco iminente de cortes na verba destinada para o Ministério da Educação em 2019. O Ministério do Planejamento estipula um decréscimo no repasse de verbas do próximo ano de 11% em comparação ao orçamento de 2018. Com a redução, a Capes teria um rombo de R$ 580 milhões em comparação à verba destinada no ano anterior, que foi de R$ 3,880 bilhões. Com esse cenário, os cortes em bolsas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) podem afetar 93 mil discentes e pesquisadores em todo o país, interrompendo programas de pesquisa por todo território nacional. As bolsas fornecidas para a formação de professores da educação básica e de cooperação internacional também sofreriam o impacto, prejudicando cerca de 245 mil alunos na formação de educação básica, além de afetar as relações diplomáticas do Brasil no campo educacional no exterior.
Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000
Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo
Rodrigo Bussula/RRJ
Para o pró-reitor da pós-graduação da (Universidade Federal do ABC (UFABC), Charles Morphy, os cortes podem acontecer, mas confia que a redução de 11%, divulgada pelo Ministério do Planejamento, não se concretize. “O que nós temos de informação é que o ministro (Rossieli Soares, da Educação) tem um perfil de tomar decisões e ações bastante técnicas. Após a divulgação da nota da Capes, com a pressão das instituições, pesquisadores e da população como um todo, acredito que de fato a situação possa se reverter
Alunos da pós-graduação stricto sensu da Universidade Metodista de São Paulo, em aula no campus Rudge
sim, ser negociada. Talvez não uma reversão total do que seria o orçamento para 2019, mas não uma redução tão grande”, afirmou. Morphy ainda reitera a preocupação com o desenvolvimento de um projeto da universidade enviado ao Ministério da Educação. A proposta é criar uma cooperação entre a UFABC e faculdades no exterior, enviando alunos da pós-gradu-
DIRETOR Kleber Nogueira Carrilho COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Eduardo Grossi EDITORA-EXECUTIVA Eloiza Oliveira (MTb 32.144) EDITORA DO RRJ Camila Escudero (MTb 39.564) EDITOR DE ARTE José Reis Filho (MTb 12.357) ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA Maristela Caretta (MTb 64.183) EQUIPE DE REDAÇÃO - Andressa Navarro, Ariel Correia, Camila Falcão, Camilla Thethê, Flávia Fernandes, Gabriel Batistella, Giovanna Vidoto, Giulia Marini, Giulia Requejo, Gustavo Garcez, Helena Tortorelli, Letícia Rodrigues, Luchelle Furtado, Luis Henrique Leite, Marcelo Hirata, Mayara Clemente, Natália Rossi, Victor Augusto e alunos do curso de Jornalismo.
ação para fora e recebendo alunos de outros países aqui no Brasil. “Com o corte o nosso projeto institucional de internacionalização seria fatalmente prejudicado”. A Universidade Metodista de São Paulo tem cinco programas de pós-graduação stricto sensu, credenciados pela Capes, que produzem pesquisas principalmente nas áreas de Comunicação, Administração, Educação, Ciência da Religião e Psicologia da Saúde. O coordenador da pós-graduação em Administração da instituição, Almir Vieira, também se mostra pre-
CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO Valdecir Barreros (presidente), Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente). Conselheiros titulares: Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta Sampaio, Cassiano Kuchenbecker Rosing, Marcos Gomes Tôrres, Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima. Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão e Roberto Nogueira Gurgel. Esther Lopes (secretária) e bispa Marisa de Freitas Ferreira (assistente do Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação). DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar DIRETOR DE FINANÇAS, CONTROLADORIA E GESTÃO DE PESSOAS - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E MARKETING - Ronilson Carassini
ocupado com a situação. Vieira acredita que a relativização no investimento de verba pública para a educação é algo que é prejudicial para o desenvolvimento de qualquer nação. “Em um país que tem um histórico de relativização e insuficiência no investimento público na educação, com um novo corte ainda por cima, essa situação me deixa estarrecido. Temos algo que relativamente atende o necessário e, se tivermos uma redução no orçamento por conta de alguma contingência nacional, isso vai desembocar em mazelas maiores do que as que já temos”, afirmou. O professor da Metodista também destaca o impacto da medida na pesquisa. “Isso não compromete só o aluno que recebe bolsa da Capes, mas também professores que são bolsistas, já que muitos apresentam projetos delineados pra se desenvolver conhecimento ou se descobrir algo que é vital para o bem da sociedade, por exemplo. Esses professores precisam de investimento para equipamentos, instalações físicas e também para eventos, como apresentação em congressos e discussões com outras esferas internacionais”. Arthur Marcheto é aluno da pós-graduação na Universidade Metodista e bolsista Capes. Segundo ele, o que mais afeta nesse cenário é o clima de desconfiança. “Isso atrapalha a formação de novos cientistas e pesquisadores. Para o aluno que quer pesquisar e entrar no campo ou que já está, saber que as bolsas são instáveis é uma coisa que desanima bastante. Você não sabe se vai receber a bolsa ou não, se vai conseguir se sustentar no tempo da pesquisa, se vai conseguir fazer as viagens e apresentar seus trabalhos nos congressos. Isso tudo dá muita insegurança”.
DIRETOR NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR - Fabio Botelho Josgrilberg DIRETORA NACIONAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA - Débora Castanha ves de Barros
GERENTE JURÍDICO - Rubens Gonçal-
REITOR: Paulo Borges Campos Jr.; Coordenadora de Graduação e Extensão: Alessandra Maria Sabatine Zambone; Coordenadora de Pós-Graduação e Pesquisa: Adriana Barroso Azevedo; Coordenador de EAD: Marcio Oliverio. DIRETORES - Nilton Zanco (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Kleber Nogueira Carrilho (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).
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CIDADE Fotos: Bianca Goes/RRJ
Renan Bandeira
“SOMOS movidos pelo amor, por amar ao próximo”, diz Gisele Capelli, fundadora do Anjos da Sopa. O serviço comunitário fica localizada em Santo André, na Vila Eudízia, e tem como propósito levar alimento e roupas para os moradores de rua. “Nosso principal objetivo é salvar vidas, é poder levar um pouco de calor humano, de amizade, de fraternidade para quem fica na chuva e no sol, dia e noite”, afirma Gisele. O projeto sobrevive por meio de voluntários e também doações. Tudo começou com uma simples campanha de inverno, há quatro anos, para doação de agasalhos para quem vivia na rua e, a partir disso, o movimento se consolidou. Por meio de doações passou a fazer sopas para entregar nos principais pontos de concentração de moradores de rua do ABC. São quase duas mil pessoas ajudadas por mês, em Santo André, Mauá, São Caetano, São Bernardo e São Paulo. O Anjos da Sopa é mantido por doações e também voluntários, segundo a fundadora. “O projeto se mantém com ajuda de dez voluntários, aceitamos doação de alimentos, roupas, agasalhos e cobertores. Nossa ação não dura apenas o inverno, mas sim o ano todo”.
Amor ao próximo em forma de sopa Organização Anjos da Sopa atende a dois mil moradores de rua por mês, distribuindo alimento e agasalho no ABC
Antes da distruição de roupas e alimentos, voluntários do Anjos da Sopa fazem uma oração junto aos moradores de rua
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As sopas contêm macarrão, frango e legumes. Todo alimento é arrecadado por meio de doação e distribuídos por voluntários
Maria Bartholi, voluntária há três anos, é responsável por fazer a sopa. “Faço seis panelas grandes de sopa que dá um total de 430 sopas toda segunda-feira”. Para ela, o voluntariado é mais que ajudar o próximo. “Às vezes achamos que estamos fazendo o bem apenas para eles, mas na verdade são eles que nos fazem bem”. Maria é a cozinheira da instituição, e para ela a ação é muito mais que doar alimento e roupas para moradores de rua, é na verdade devolver aos poucos tudo que eles perderam. “Eles moram na rua, sofrem todo tipo de humilhação e abandono. Nós vamos devolvendo aos poucos tudo aquilo que precisam para se sentirem humanos novamente”. O morador de rua Dianidson José, fala da importância do projeto em sua vida. “Para mim, isso aqui é uma vitória, já são dois anos na rua e tem dias que eu não tenho o que comer. A gente pede comida nos lugares e o pessoal grita, xinga, manda a gente ir trabalhar”. O depoimento do morador é confirmado pela assistente social, Rita Toledo. “As ações são muito importantes, uma vez que essa é a única refeição que essas pessoas têm ao dia”. Ela ainda ressalta a posição da sociedade e também do governo em relação à situação. ”O poder público não faz valer o direito do cidadão quando não investe e não cria políticas públicas. E a sociedade não fiscaliza o poder público, aceitando o que está posto pacificamente”. Segundo o Artigo 6º da Constituição Federal, para que uma pessoa possua uma vida digna devem ser assegurados direitos à educação, saúde, trabalho, lazer, segurança, previdência social, entre outros, como o mínimo normativo. Sem isso, entidades como o Anjos da Sopa são a saída para a sobrevivência de muitos em situação de abandono. A organização tem uma página no Facebook, para quem quiser entrar em contato para doações ou fazer trabalho voluntário (facebook.com/anjosdasopadesantoandre).
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ECONOMIA
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Comerciantes do Rudge esperam alta nas vendas
Promoções e facilidades no pagameto são estratégias contra a crise Fotos: Roberta Calamari/RRJ
Diversificação de produtos e até mudança de ramo de atividade também são realidades no setor
lhorar nesta segunda metade do ano. “A constante queda no cenário econômico do país torna mais provável a ascensão, uma vez que um pequeno aumento nas vendas pode representar perspectiva de melhora”. Quanto aos mecanismos para lidar com essa situação, Borbely afirma que a promoção de ofertas e descontos são a chave para impulsionar as vendas. “Nesse momento, aumentar preços para suprir as dívidas não é uma estratégia interessante, pois acaba afastando os clientes. É importante que as lojas trabalhem muito bem sua divulgação, ofereçam promoções e estejam abertas a negociações”. Roberta Calamari
NO COMEÇO do segundo semestre, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) divulgou uma pesquisa que mede as expectativas para o comércio até o fim do ano. Entre empresários de varejo e serviço, a maioria dos entrevistados disse que o período refletiria em boas vendas, diferentemente do que ocorreu no semestre passado. A pesquisa foi realizada em todo o país, obtendo 44% de expectativas positivas contra 14% negativas. Já no bairro do Rudge, as expectativas refletem os resultados da pesquisa, mas a situação ainda é difícil. Ofertas, promoções e opções de parcelamento enchem as vitrines numa tentativa de atrair os consumidores que passam. Maria Helena e Viviane Marcusso, mãe
ACISBEC divulga queda de
3,77% nas vendas do primeiro semestre em São Bernardo
e filha, são proprietárias de uma loja de roupas no bairro, há quatro anos. Logo na porta, fica uma arara de roupas em promoção: R$ 29,90 qualquer peça. Dentro do estabelecimento, outros conjuntos com desconto também chamam a atenção. Elas explicam que, nessa época do ano, as vendas já costumam cair graças às férias escolares e volta às aulas e o clima mais frio. Po-
rém, com a crise econômica que o país atravessa, acabam vendendo ainda menos. Maria Helena e Viviane, mesmo com a redução no consumo, têm boas expectativas para este segundo semestre. “O verão aquece as vendas. Vestidinhos e blusinhas saem mais de acordo com a moda, enquanto no frio as pessoas chegam a passar anos sem trocar de casaco”. Elas optam também por revender cosméticos, diversificando a oferta de produtos na tentativa de atrair mais públicos. Próximo à loja de roupas, um negócio local de móveis e colchões registrou melhora de 10% nas vendas do primeiro semestre em comparação ao mesmo período do ano passado. O gerente da loja, Muhamad Mrad, conta que precisou ser flexível nas negociações para conseguir esse número. “Muita gente, afetada
pela crise, tem receio de comprar, então a loja parcela em mais vezes, faz em boleto, cartão, tira o frete, oferece desconto, enfim, acaba vendendo por preços menores do que fez no ano passado para não perder o negócio”, diz Mrad. Quando questionado sobre as expectativas para este semestre, Muhamad disse que, com o fim do ano, a compra e a venda de móveis cai para quase zero. “As indústrias chegam a fechar porque as pessoas não estão interessadas em móveis nessa época. Por isso, a gente tem outra loja no ramo de presentes, que fica em alta em épocas festivas, assim, um negócio compensa o outro”. Mesmo com o desemprego em alta e um quadro político instável, o professor e mestre em economia Alexandre Borbely acredita que o mercado tende a me-
Alimentação Já o setor alimentício, apesar de prejudicado no semestre passado pela greve dos caminhoneiros, não costuma sofrer tanto os efeitos da crise. Ainda de acordo com o professor Borbely, a economia fragilizada reflete mais discretamente no comércio de alimentos, por ser um gasto essencial. A lanchonete de Amilton Correia está localizada em um ponto estratégico de movimentação da av. Doutor Rudge Ramos. Ele, que tem comércio há mais de 25 anos, afirma que repassou o negócio anterior, uma pizzaria, para não ter que continuar trabalhando até tarde e aos domingos. Porém, afirma que o negócios atual não está rendendo tão bem. “Em termo de valores dá na mesma, não tem para onde fugir hoje em dia. Alimentação não sofre tanto com a crise, mas já não se ganha como antes”.
Dieese: desemprego no ABC se mantém estável Nos últimos dois meses do primeiro semestre, taxa registrada foi de 17% Nicole Defillo /RRJ
Nicole Defillo
O ÍNDICE de desemprego na região do ABC manteve-se estável, encerrando julho com 17%, de acordo com os dados divulgados pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O número é estável em relação a junho, que também registrou 17%. Porém, representa baixa de 1,5% em relação a julho de 2017, quando a taxa ficou em 18,3%. “Não se observou, no segundo trimestre, nenhum fator relevante que fosse capaz de alterar a trajetória desse índice, mantendo-se certa estabilidade de junho para julho, mas ainda sim apresenta uma taxa elevada de desempregados”, diz Waldemir Nogueira, economista do Conselho Regional dos Economistas de São Paulo, Corecon-SP, responsável por São Bernardo. Com incertezas ainda pairando sobre o setor econômico, Nogueira explica que, para o cenário futuro, uma alta nos números deve demorar a chegar. “Pelos dados que se observa não é possível verificar nenhum sintoma de melhora no quadro econômico atual, tanto do país, como em São Bernardo”. O economista ainda explica que o cenário político é um dos fatores que atrasam a retomada econômica. Devido à instabilidade econômica e política, muitas empresas se resguardam e preferem cortar gastos, incluindo a redução do quadro de funcionários. O desemprego porém é um problema na vida das pessoas. Victor Hugo, morador do bairro Assunção, em São Bernardo, está desempregado desde janeiro de 2018. Ele diz que foi demitido por conta do valor acima da média do seu salário. “No meu caso, eu tinha um salário acima da média devido ao tempo de casa que eu tinha. Agora, os recrutadores acreditam que eu estou buscando o salário que eu tinha no passado. O
Parte da população migra para emprego informal ou PJ por falta de oportunidade no mercado tradicional
A incerteza da política faz com que os detentores do poder econômico fiquem à espera de quem será o novo presidente e, até outubro, nada deve ocorrer no sentido de melhora no índice de desemprego, seja no Brasil ou na cidade”. Waldemir Nogueira Economista
que não é real, pois fui desligado justamente por conta da remuneração”, afirma o
engenheiro de produção. Muitas vezes, a solução para driblar o desemprego
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ECONOMIA
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é abrir o próprio negócio. É o caso de Solange Mota. A gestora de RH estava desempregada há um ano e, por conta da situação em que se encontrava, decidiu abrir uma loja de doces, no centro de São Bernardo. “Eu trabalhava há três anos em uma escola em São Bernardo e, depois de ser demitida, procurei emprego em diversos lugares na região e não consegui nenhum. A situa-
ção em casa foi apertando e, como saída, resolvi montar o meu próprio comércio, que foi inaugurando no dia 19 de julho desse ano”. O marido dela, Vinícius Mota, que é sócio nessa empreitada, afirma que o mercado está difícil tanto para quem emprega, quanto para quem é empregado. “Na minha opinião, ambos têm suas dificuldades e o atual momento da crise inibe o crescimento como empregador, mas também gera ameaças como empregado. Nos dois casos há muita insegurança”. Jamile Sanchez, gerente de um escritório contábil no Centro de São Bernardo, garante que o fluxo crescente de demissões nos últimos tempos tem causado um aumento do número de empresas abertas (pessoas jurídicas). Segundo ela, a alta na abertura de novas empresas foi de 50% de janeiro a julho desse ano, quando comparado com 2017. Segundo Jamile, muito dessa alta se deve ao fato de uma pessoa se tornar PJ não para abrir um negócio, mas para poder ser contratada em empresas como terceirizada, enquanto não consegue um emprego formal, com certeira assinada. “A diminuição dos encargos sociais para o contratante e também para o contratado são os atrativos para quem quer se tornar Pessoa Jurídica. Em média, um honorário acima de R$ 7 mil mensais custa 30% a menos no formato de PJ do que a contratação através de carteira assinada. Além do que, o contratante embute todos os benefícios no honorário mensal e, com isto, tem mais controle sobre os custos do contrato”.
Arte: Nicole Defillo /RRJ
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ESPECIAL
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Viagem de trem pelo ABC Vendedores ambulantes e artistas driblam a fiscalização e quebram a monotonia nos vagões já lotados Heloisa Fantini/ RRJ
Guilherme Molina
FORMADA a partir da união de várias estações intermediárias e construída inicialmente no ano de 1867 pela extinta São Paulo Railway, a atual Linha 10 – Turquesa da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), passou por diferentes reformulações ao longo de sua história. Hoje, é responsável por ligar a região central de São Paulo ao ABC paulista. Atualmente composta por 13 estações que vão desde Rio Grande da Serra até o Brás, esse trajeto conta com 38 km de extensão e realiza o transporte de aproximadamente 365 mil passageiros por dia, segundo dados da CPTM. Apesar de uma viagem às vezes durar muito tempo, engana-se quem pensa que o ambiente dentro de um vagão de trem é algo monótono e cansativo. A lotação de passageiros e a atuação de vendedores e artistas autônomos, em especial, acabam por ‘quebrar o gelo’. O objetivo não é só driblar a fiscalização mas, principalmente, vender seus produtos ou apresentar sua arte. “A porta fechou, o perigo passou e o chocolate preferido da moçada chegou. O moço aqui da frente já colaborou! Mais alguém, alguém mais?”. Esse é apenas um dos bordões utilizados enquanto entra passageiro e sai vendedor; entra artista e sai policial. A ideia de que no “ShopTrem” o preço é camarada leva os passageiros a comprarem um chocolate, um fone de ouvido e até mesmo uma réplica do “resistente” relógio do Neymar. “Comprem o relógio mais resistente do mundo! Deixei o meu cair no chão e meu cachorro mordeu. Agora, ele está sem os dentes. Preciso da ajuda de vocês para conseguir dinheiro e poder levá-lo ao dentista”, diz outro vendedor. Mais um bordão que vale a pena ser destacado é a de um vendedor carioca, que, com muita lábia, conta sempre a mesma história e consegue garantir suas vendas. “Hoje, chegando do Rio
de Janeiro, um caminhão de chocolates virou na estrada, e eu consegui pegar algumas caixas fechadas. O valor do produto no supermercado, é de R$ 4. Só hoje, na minha mão, você leva dois por R$ 1, e três por R$ 2”. Mas a rotina de quem exerce esse tipo de atividade não é fácil. Rouse Daiane, ex-moradora da região Nordeste que se mudou para o ABC em busca de uma vida melhor, trabalha hoje nos vagões da Linha 10 – Turquesa como vendedora de água. Ela conta que largou o antigo emprego por questões financeiras. “Eu era encarregada em um supermercado até descobrir essa área. Hoje, tenho uma renda maior por conta das vendas nos trens”. Para Rouse, a maior dificuldade nesse trabalho está em conseguir passar com a mercadoria despercebida pelos guardas. Ela conta que sua carga é frequentemente apreendida, o que resulta em grande prejuizo. Segun-
Usuários de transporte público viajam em pé, dentro de vagão lotado em horário comercial para chegarem aos seus destinos
do dados da CPTM, houve um aumento na apreensão de mercadorias em 2017 de aproximadamente 20,5% em comparação com o primeiro semestre de 2016. Além disso, há outro empecilho para vendedores. A concorrência nos vagões vem sendo cada vez maior devido ao aumento gradativo no número de comerciantes, muito devido à crise financeira que o país enfrenta. É como conta
Kelly Silveira, moradora de Santo André, que trabalha nos trens há pouco menos de um ano. “Por conta da crise e do desemprego, muita gente está começando a vender nos vagões. Alguns trabalham somente com isso, outros já têm emprego fixo e só querem aumentar a renda”. E, quando o assunto é arte, às vezes os episódios nos trens marcam a memória. O historiador Ademir Medici, morador da região, lembra que já passou por uma situação tanto quanto diferente nos vagões. “Voltava de Rio Grande da Serra, num sábado à noite, quando assisti, no último vagão, a
SERVIÇO A LINHA 10 – Turquesa opera todos os dias, das 4 horas da manhã até meia noite e percorre a maioria das cidades que compõe a região do ABC, exceto São Bernardo e Diadema. Em novembro de 2016, a linha passou a contar com um trem expresso
um conjunto musical formado por moradores de Rio Grande da Serra tocando e cantando pagode. Os rapazes obtiveram autorização da Ferrovia para apresentações. Hoje, quase 20 anos depois, eles continuam em Rio Grande da Serra, mas as apresentações cessaram, o que é uma pena”. Outra lembrança é da assistente social Maria do Carmo Rezende, moradora de São Caetano. “Antigamente, sempre tinha um músico aqui tocando um chorinho em troca de algum dinheiro. Nunca mais o vi. Mas era tão bom. Animava nossa viagem”.
para evitar a superlotação em horários de pico. Esse serviço atende tanto no período da manhã (das 6h às 9h),partindo da Estação Celso Daniel até o Tamanduateí com parada somente em São Caetano, quanto vespertino (das 16h às 19h), realizando o trajeto inverso, saindo do Tamanduateí rumo à Estação Celso Daniel com parada única em São Caetano.
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ESPECIAL
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CPTM/ Divulgação
Ademir Medici/ Arquivo pessoal
David Trindade
LOCOMOTIVA a vapor, Maria fumaça e metrô: certamente você já ouviu alguma dessas palavras. O trem foi criado na Inglaterra em 1806, com o intuito de levar materiais e produtos para as grandes empresas. Em 1825, passou a locomover passageiros, definindo assim um novo modelo de condução terrestre. No Brasil, a primeira linha ferroviária foi a do Rio de Janeiro, construída em 1854. O trecho saia da Baía de Guanabara e seguia em direção à cidade de Petrópolis, com 14,5 quilômetros de extensão. Já no ABC, a
Histórias que fazem parte da região chegada das linhas férreas ocorreu por conta do ciclo econômico que o país vivia: o da café, no século XIX. “A economia do café estava a todo vapor e viu-se a necessidade de agilizar esse trajeto, de Jundiaí até o Porto de Santos, para que as exportações não demorassem tanto para chegar aos seus destinos”. É o que conta Diego Silva Marques, morador de Ribeirão Pires e maquinista da CPTM.
“Para se ter uma ideia, tropeiros atravessavam o Estado de São Paulo com mulas carregadas de café, em viagens que duravam de semanas a meses, na intenção de transportar a safra”. A antiga parada Alto da Serra, atual Paranapiacaba, foi construída em 1874 e hoje, desativada, e tida como patrimônio histórico de Santo André. Era uma das paradas que levava até o porto de Santos. Segundo
Artistas levam diversão aos vagões Heloisa Fantini
TODOS os dias, milhares de pessoas utilizam o serviço dos trens para chegarem em suas casas ou em trabalhos. O retrato desses lugares muitas vezes é descrito como um ambiente fechado, que reúne multidões estressadas e cansadas. Mas nem todos pensam assim. Diante dessa rotina conturbada, os palhaços (clowns) levam a ferramenta do riso, para tentar transformar o dia das pessoas. Através de uma análise rápida, esse grupo tenta abordar o seu público, conquistando aqueles que se dispõem com mais facilidade às brincadeiras propostas. O artista Vitor Oliveira, 20, morador de Santo André,
trabalhou como palhaço durante dois meses, e conta que a brincadeira com as crianças nos vagões sempre funciona. “Um dia, eu estava no trem e falei que estava com fome, aí uma criança que estava comendo amendoim propôs que eu comesse a comida do chão, e eu comi. A gargalhada dela contagiou o vagão inteiro”. Além dos trens servirem como um palco alternativo para esses artistas, a tomada de um espaço onde a maioria das pessoas não está acostumada a ir a espetáculos teatrais, acaba por aproximar o artista a todo o tipo de público. Segundo Oliveira, “a arte tem que ser democrática e de livre acesso para todos. O trem, além de possibilitar esse contato,
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Marques, essa estação ajudou muito no desenvolvimento das cidades vizinhas. “Com a chegada da ferrovia, algumas regiões que praticamente não tinham população começaram a se desenvolver. Um grande exemplo são as últimas estações da linha como Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Antes descampados sem qualquer habitação, se tornaram cidades grandes da região, em grande parte à chegada do trem”, diz Marques São 30,5 mil metros que separam Paranapiacaba da antiga estação São Bernardo, que teve o nome modificado duas vezes. Em 1934, passou a ser cha-
A esquerda, antiga ferrovia de Paranapiacaba criada no final do século XIX. A direita, um dos atuais trens que percorrem a Linha 10 - Turquesa
mada de Santo André, já que foi muito importante para o município. Atualmente, recebe o nome do ex-prefeito Celso Daniel, em homenagem ao antigo prefeito da cidade, morto em 2002. Com 150 anos, inaugurada em 16 de fevereiro de 1867, a estação é a que tem o maior fluxo de pessoas. Só no ano passado cerca de 54,1 mil passageiros circularam pelo local, segundo dados da CPTM.
Vitor Oliveira/ Arquivo pessoal
Grupo de palhaços distrai passageiros da região por meio do riso
também é uma ótima ferramenta de estudo para mim que não estou acostumado a lidar com o público fora dos teatros”. O artista também conta, que a ideia de estar em um espaço onde as pessoas não estão acostumadas com esse tipo de manifestação pode ser muito boa, mas também tem dificuldades. Algumas delas são a fiscalização constante dos guardas e a falta de compreensão de
alguns passageiros. “Junto com meu professor, eu fiz um estudo sobre o figurino que meu palhaço usaria e eu decidi colocar um vestido, por acreditar que roupa não tem gênero. Porém, como estava exposto a um lugar alternativo, acabei sendo ofendido por um ambulante no trem que estava bêbado”. Apesar disso, ele deixa clara a importância de ocupar os espaços públicos com arte. “Quando você está se
apresentando em um teatro ou em uma exposição as pessoas que vão até lá, querem te ver, e estão lá por você. Agora, no trem é diferente. As pessoas não estão abertas, elas não saem de suas casas esperando encontrar um bando de palhaços no vagão. Isso de alguma forma muda a vida delas e é o que a arte tem que fazer sabe? Essa é a função social: Transformar as pessoas”.
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CULTURA
Beatriz Lemos
SEXTA-FEIRA, geralmente, é um dia em que todos estão pensando em descansar ou aproveitar o fim de semana. Mas também pode ser um dia de atividade física com muita música, suor e alegria. Esse é o intuito do projeto DanSaúde, que promove aulas de zumba gratuitas, toda semana, no Parque Salvador Arena, no Rudge. O DanSaúde – união de dança com saúde – consiste em um projeto voluntário idealizado pela fisioterapeuta Renata Rocha, que busca unir a dança com a saúde do corpo e da alma, de forma gratuita em espaços públicos para ajudar na qualidade de vida das pessoas. O projeto também conta com as professoras de Educação Física Raquel Braga e Emeri Gunglielmetti, responsáveis pela a administração das aulas. “Comecei a pensar, há muito tempo, na necessidade das pessoas associarem saúde e diversão. O planejamento do projeto teve início em 2012, quando eu comecei a imaginar como seria ligar música e dança à saúde das pessoas. E também como isso poderia contribuir para a melhoria do estado emocional e do corpo”, diz Renata. As aulas ocorrem todas as sextas-feiras, a partir das 18h, no Teatro Arena, dentro do parque. Todos são bem-
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Beatriz Lemos/RRJ
Aulas de dança grátis animam tarde no Rudge
O DanSaúde busca unir a dança com a saúde do corpo e da alma, de forma divertida
Projeto ensina zumba a frequentadores do Parque Salvador Arena -vindos, desde crianças até os idosos. Basta querer se exercitar para participar, independentemente de sexo ou da idade. Mas a fisioterapeuta deixa um alerta: como toda atividade física é necessário respeitar os limites do corpo. “Por ser uma atividade de dança livre, cada um deve fazer no seu ritmo. O nosso corpo sabe e sente quando estamos passando dos limites. Então, a gente tem que respeitar nossas capacidades físicas. A dança é uma atividade completa, ela consegue fazer com que a pessoa se movimente”. Os passos de zumba ensinados pela professora são fáceis de acompanhar e proporcionam uma série de benefícios para o corpo, que vão desde a perda de peso até a prevenção de problemas de saúde (como a diabetes e o colesterol). É o que conta a instrutora Raquel
Braga. “É possível melhorar o condicionamento físico, a diabetes. Toda atividade física que você fizer regula os seus índices corporais. Mas a zumba ajuda tanto na atividade física como na parte psicológica, porque ela traz alegria, felicidade. Porque a gente dança, se diverte e bagunça bastante”. E para quem pensa que não leva jeito para a dança, não precisa se preocupar. As aulas de zumba podem ser feitas por qualquer pessoa – desde as iniciantes até as mais experientes, “Quem nunca teve contato com algum tipo de dança ou ritmo pode participar da zumba sim. A zumba é para todos. Logo a pessoa pega o ritmo e vai se acostumando”, garante Raquel. Com a chegada da terceira idade, corpo e mente passam por grandes mudanças, dando origem a algumas limitações físicas. Po-
rém, a dança tem assumido um papel importante na vida dos idosos, ganhando muitos adeptos e melhorando sensivelmente a qualidade de vida. É o caso da aposentada, Marisa Carmona, 62. “Eu sou apaixonada por dança e a zumba faz muito bem para o meu corpo e para a alma. Ela me proporciona bem estar, ajudando na ansiedade o que me faz dormir melhor à noite”. O enfermeiro Luiz André, 41, até o momento, é o único homem da turma, mas ele não se sente incomodado por isso. “O fato de eu ser enfermeiro já me faz viver em um universo onde 95% das pessoas são mulheres. Eu moro em uma casa onde tem três mulheres, então eu vivo rodeado delas. Dentro da zumba, eu vejo que é um ambiente em que há diversas idades, e que as pessoas também estão buscando se relacionar, se soltar, se en-
contrar muitas vezes. Dançar é libertador”. A aula tem duração de uma hora e os ritmos são bem variados, desde salsa, merengue, reggaeton e cumbia (que são os quatros ritmos básicos da zumba). Além disso, há espaço para o Funk, Pop e sertanejo, músicas populares muito tocadas atualmente. Para participar basta preencher uma ficha de inscrição na hora. As aulas incluem ainda exercícios de aquecimento e alongamento.
Serviço Quando: Todas as sextas Onde: Parque Salvador Arena – Teatro Arena. Av. Caminho do Mar, 2980. Horário: 18 horas Entrada Gratuita
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ESPORTE
São Bernardo tem meia maratona neste domingo Corrida de rua terá quatro tipos de provas, todas com a largada às 7h30 Natalie Seifer
Foto: Divulgação/Prefeitura de São Bernardo
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Antes das corridas eu era um sedentário de 116 kg, pré-diabético, com gordura no fígado, colesterol alto, pré-hipertenso e a caminho da depressão com uma crise de ansiedade. ‘‘ Roberto Carlos dos Santos
A 16ª MEIA maratona de São Bernardo será neste domingo (16), a partir das 7h30. Serão realizadas três tipos de corrida: de cinco, dez e 21 quilômetros, sendo esta última apenas para maiores de 18 anos. Além disso, haverá uma caminhada de cinco quilômetros. A largada será no Ginásio Poliesportivo Adib Moysés Dib (na Avenida Kennedy, 1.155). As inscrições terminaram no último dia 9. A edição do ano passado contou com mais de 3,5 mil inscritos e cerca de 5 mil participantes no total. A corrida é um esporte que vem se popularizando cada vez mais entre as pessoas de todas as idades. O professor de Educação Física do bairro Jordanópolis, em São Bernardo, Fábio Cintra Mora destaca os benefícios da modalidade. “Melhora o condicionamento cardiorrespiratório; há um aumento da força, da resistência muscular e imunológica. Também há uma melhoria da composição corporal (nível de gordura e massa muscular) e redução dos níveis de estresse e ansiedade”. Além disso, é um esporte no qual cada corredor pode ir na sua intensidade, de acordo com a idade, optando entre correr ou apenas caminhar dependendo do nível de condicionamento físico. A professora de Educação Física e ex- treinadora de corrida de rua Tatiana de Pádua alerta que antes de começar a praticar qualquer esporte é necessário procurar um médico, e fazer um check-up. “É essencial procurar um profissional para tirar dúvidas e elaborar um programa individualizado de treinamento para ser seguido”. A corrida além de ser um bom exercício físico, pode ser também responsável por mudar muitos hábitos na vida das pessoas. Roberto Carlos dos Santos participa de um grupo de corrida de São Bernardo e conta que
Especialista técnico em equipamentos médicos
Acima, edição passada da 15° meia maratona de São Bernardo. Abaixo, percurso da prova de Meia Maratona deste domingo
5 Km
LARGADA CHEGADA
6 Km 17 Km
0/21 Km
1 Km
19 Km
18 Km 2 Km
16 Km
6 Km
4/20 Km
3 Km 7 Km
15 Km
14 Km
15 Km
8 Km
13 Km 14 Km 12 Km
12 Km
9 Km 10 Km
perdeu 42 kg depois que começou a praticar o esporte. “Antes das corridas, eu era um sedentário de 116 kg, pré-diabético, com gordura no fígado, colesterol alto, pré-hipertenso e a caminho da depressão, com crises de ansiedade. Hoje, peso 75 kg, todos meus exames médicos estão excelentes, glicemia perfeita. Até a gordura no fígado sumiu e a pré-depressão deu lugar à disposição”, garante. O corredor conta que, atualmente, treina cerca de quatro vezes por semana para conseguir se preparar para as provas. Essa será sua terceira vez na meia maratona de São Bernardo e diz que aguarda ansiosamente pela prova, já que a mesma tem a fama de ser difícil pela quantidade de subidas íngremes. O engenheiro Adolfo Pimentel Filho, 67, que já participou da meia maratona em anos anteriores, conta que começou a praticar o esporte há sete anos, por influência da filha e já participou de mais de 200 competições, desde as de 5 km, até a maratonas de 42 km. Correu na São Silvestre e foi em campeonatos fora do Brasil, como a meia de Santiago, no Chile, e a Meia de Tucson, nos Estados Unidos. Mas Adolfo confessa que deveria ter entrado no mundo da corrida antes. “Me arrependo muito por ter começado aos 60, perdi muito tempo para conhecer um novo mundo, mais descontraído e verdadeiro”, diz. É possível participar da meia maratona tanto da forma individual, quanto em grupo. A edição de São Bernardo terá premiações: em dinheiro, somente na meia maratona, do 1° ao 5° lugar feminino e masculino; e em troféus, nas corridas de cinco, dez e 21 quilômetros ,também do 1° ao 5° lugar feminino e masculino.
10 SAÚDE
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Samuel Oliveira
A INDÚSTRIA farmacêutica evoluiu tanto nas últimas décadas que praticamente hoje em dia já existe um remédio para todos os males, desde os mais “simples”, como uma dor de cabeça, aos mais graves, como o câncer. Mas foi entre os anos de 1900 e 1930, que importantes medicamentos surgiram. Um deles, é a penicilina, que mesmo tendo sido descoberta no período entre as guerras mundiais, só começou a ser produzida em grande escala na segunda metade do século XIX, e ajudou a salvar milhares de vidas. Desde então, os laboratórios farmacêuticos cresceram e evoluíram. Mas não trabalham sozinhos na descoberta de novos remédios. A tecnologia e a pesquisa são fundamentais para o desenvolvimento de medicamentos capazes de combater patologias com ações cada vez mais rápidas. Antes de poder ser produzido, o medicamento passa por muitas pesquisas e estudos até sua comercialização. Nesse processo, obtém-se toda uma gama de conhecimento sobre a nova substância criada, muitas vezes a partir dos componentes da doença que será combatida. Após definida essa substância, dá-se início a uma das etapas mais importantes, o período de testes. “É nessa fase que é feita a qualificação do produto e as suas reações de identificação. Qual o teor que a substância
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Fotos: Samuel Oliveira/RRJ
Pesquisa, desenvolvimento, testes e regulamentação da Anvisa são algumas etapas do processo
Da fabricação à venda: como surge o remédio Laboratórios, pesquisas e tecnologia são fundamentais para a descoberta de novas fórmulas e a cura das doenças está, se esse medicamento cumpre a sua função etc. São realizados os testes organolépticos de paladar, odor, cor, e textura. Testes físico químicos, microbiológicos, e é claro, teste para ver se não existe nenhuma contaminação do ativo”, explica Regina Silva Brajal, farmacêutica há mais de 30 anos, que trabalha na Farmex, em
Santo André. Após a fase de pesquisa e desenvolvimento ser concluída, a segunda etapa é o envio do dossiê do medicamento para a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. Após a sua aprovação, inicia-se o processo de fabricação. Essa norma produtiva só acontece a partir de uma ordem de
produção, que é um documento expedido pela Anvisa, no qual se tem a fórmula do produto registrada. Segundo a professora de farmácia Érika Prates, de São Bernardo, após as etapas de pesquisas e a liberação pela Anvisa serem concluídas, inicia-se a fase de produção em indústrias farmacêuticas. É quando o
medicamento passa por processos como controle de qualidade de matérias primas e material de embalagem e pesagem dos componentes da formulação (princípios ativos, por exemplo). Mas não é só isso. “Há ainda as etapas de solubilização ou dispersão dos fármacos para garantir a homogeneidade do ativo, compressão ou encapsulamento em caso de formas farmacêuticas sólidas, controle de qualidade de produtos acabados e, por fim, a sua distribuição para as farmácias”, diz Érika. No caso das farmácias de manipulação, todas as matérias primas vendidas não são produzidas diretamente na unidade. Pelo contrário, são fabricadas em grandes laboratórios de indústrias nacionais ou internacionais, e importadas por distribuidoras de insumos farmacêuticos, responsáveis por fazer a conexão entre fabricantes e comerciantes. Segundo Liliam Faganello, responsável técnica da distribuidora de insumos Florien, o papel da distribuidora não é refazer todos os testes físico-químicos realizados na indústria, e sim replicar todas as informações contidas no laudo da matéria prima diretamente para o cliente. “Só quando a distribuidora é ligada diretamente a um laboratório, assim que o insumo é fracionado, são feitos todos os testes físico-químicos. Todo esse processo é bem burocrático e exigido pela legislação”, explica.
Homeopáticos São remédios criados a partir de uma pequena fração da doença, que é diluída e dinamizada o máximo de vezes possíveis. Segundo a teoria de quem segue o tratamento homeopático, quanto mais diluições o remédio tem, mais o seu poder de cura é ativado. Diferentemente das outras formas de tratamento, a homeopatia visa tratar o ser humano com a própria patologia fracionada. “Semelhantes curam semelhantes”, essa é a filosofia. Quanto mais diluído é um composto, mais energizado ele fica. Então, teoricamente, quanto mais diluições um ativo possui mais ele irá trabalhar o lado emocional do paciente”, explica a farmacêutica Alessandra Aparecida Marchioretto, da Botica Verde, no Rudge. Segundo ela, a homeopatia visa tratar o ser humano por completo, e não somente a doença em si.
Fitoterápicos
Alopáticos
São remédios obtidos diretamente da natureza, e nas farmácias podem ser encontrados em duas formas diferentes: pó e extrato seco. Quando uma planta medicinal é triturada, obtém-se o seu pó. Já quando ela é triturada em uma preparação líquida, que logo após é seca em altas temperaturas, é o extrato seco que é obtido. Segundo Alessandra Marchioretto, farmacêutica da Botica Verde, no Rudge, muita gente tem a falsa ideia que remédios fitoterápicos não possuem contraindicação. “Mesmo sendo de origem natural, os fitoterápicos contêm substâncias químicas presentes em sua composição. É isso que desencadeia o efeito farmacológico e, em alguns casos, o paciente também pode adquirir alergias ao medicamento”.
São remédios criados ou modificados em laboratórios a partir de um agente patológico. Após a criação dessa nova molécula, são realizados estudos e feitos testes físico-químicos que comprovam a funcionalidade da nova medicação criada. Quando todas essas etapas forem cumpridas, basta a liberação da Anvisa, para que o remédio possa ser comercializado e consumido. “Esses medicamentos são os mais utilizados na medicina tradicional, porque os alopáticos visam combater as doenças com medicamentos que produzam efeitos contrários aos sintomas produzidos pela doença. Por isso, a maioria dos fármacos usados na alopatia levam o prefixo ANTI, que no caso são os anti-inflamatórios, os antibióticos, e os antialérgicos”, diz a professora de farmácia Érika Prates.
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CULTURA 11
QUEM FOI
MALBA TAHAN?
Biblioteca do Rudge leva o pseudônimo do autor em seu nome desde 1976 Carolina Peliciari/RRJ
Vinícius Honório
NO MUNDO todo, é comum que vias públicas e diferentes espaços recebam nomes em homenagem a pessoas conhecidas ou figuras religiosas importantes. Em São Bernardo, o ex-delegado Arthur Rudge da Silva Ramos, o ex-prefeito Lauro Gomes de Almeida e São João Batista, por exemplo, aparecem nos nomes da principal avenida, do teatro e da paróquia do bairro do Rudge, respectivamente. Inaugurada em 1976, na gestão do ex-prefeito Geraldo Faria Rodrigues, a biblioteca do Rudge também presta tributo a uma importante personalidade de nosso país: Malba Tahan. Inicialmente, a biblioteca estava instalada em uma pequena construção na Avenida Senador Vergueiro, hoje ocupada por uma loja das Casas Bahia. Pela falta de espaço, em setembro de 2000, o prédio foi realocado para o endereço atual, na Rua Helena Jacquey. De acordo com o decreto n° 4761, de 14 de março de 1976, a criação da Biblioteca Pública Municipal Malba Tahan buscava atender às necessidades dos moradores da região, que precisavam se locomover até a biblioteca Monteiro Lobato, no Centro, para ter acesso ao acervo da cidade. Na época, o projeto também foi visto pela prefeitura como uma oportunidade para homenagear Malba Tahan, que morreu dois anos antes da inauguração do local e, como consta no decreto, atuou “de maneira expressiva na formação cultural do nosso povo”. A jornalista Claudia Deliberai Andrioli é moradora do Rudge e semanalmente empresta livros na biblioteca para incentivar o filho pequeno a ler. Ela afirma que frequentou bastante o espaço na adolescência, mas que não sabe quem foi Malba Tahan. “Já li a respeito, mas não lembro”. O comerciante Reinaldo Silva de Almeida também mora no bairro e é um velho amigo de escola de Claudia.
Malba Tahan era um dos nomes utilizado pelo escritor e professor carioca Júlio César de Mello e Souza
“Foi um escritor, né?”, perguntou quando questionado pela reportagem. Ele conta que os dois aprenderam sobre o autor no tempo em que estudaram juntos e diz já ter folheado um de seus livros. “Não li o livro inteiro, mas fiquei passando as páginas só para saber quem era”. E você, sabe quem foi Malba Tahan? A verdade é que ele nunca existiu. Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan, ou simplesmente Malba Tahan, é o pseudônimo mais famoso do conferencista, educador, escritor, pedagogo e professor carioca Júlio César de Mello e Souza. O professor, que viveu entre 1895 e 1974, dedicou boa parte de sua vida ao ensino e discussão da matemática. Ele formou novos professores e questionou as metodologias ultrapassadas de sua época, principalmente a partir dos anos 40, quando passou a escrever sobre a área. “Ele sempre tinha uma ideia de transgredir, ir além dos documentos oficiais de educação. E eu acho que é isso que nós temos que fazer um pouco como educadores, para que a gente tenha de fato uma educação para a cidadania, libertadora e pautada em referenciais
CURIOSIDADE Há 14 anos, a Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM) instituiu o dia 6 de maio, data de nascimento do professor Mello e Souza, como o Dia Nacional da Matemática. Desde então, anualmente ocorrem eventos em universidades e escolas de todo o país, que têm o objetivo de celebrar essa ciência e as obras do escritor.
que acreditamos”, explicou a professora Cristiane Coppe, que é doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e estuda a vida e as obras de Malba Tahan há mais de 20 anos. Apaixonado por literatura árabe desde a infância, Malba Tahan também escreveu contos matemáticos de fundo cultural, elaborando enigmas que aproximavam essa ciência da vida cotidiana de forma lúdica. “Júlio César de Mello e Souza era um professor preocupado com a didática, com a postura do professor e com um ensino da matemática com significado, sem excessos e exageros de formalidades dentro do processo de ensino-aprendizagem”, diz Cristiane. Mesmo com tantos fei-
tos, Malba Tahan não é tão conhecido quanto outros escritores nacionais pelos brasileiros, como Machado de Assis ou José de Alencar. “Nós não temos o hábito aqui no Brasil de reconhecer os valores que temos, principalmente no que tange à educação. Um dos meus objetos de pesquisa é torná-lo conhecido. É por isso que a gente faz pesquisa, publica livros, leva cursos aos professores e orienta mestrados e doutorados, para que mais pessoas conheçam Malba Tahan”, explicou Cristiane. Legado em família Como Malba Tahan, nome literário que criou na segunda metade dos anos 20, o escritor produziu mais de 120 obras, sendo reco-
nhecido internacionalmente. Seu livro mais famoso, O Homem que Calculava, já foi traduzido para mais de 12 idiomas. “As obras do Malba trazem uma desconstrução, no sentido de a matemática tradicional ser apresentada ao aluno de forma obsoleta e sem razões de existência. E o cenário árabe contribui muito para isso. Ele trouxe uma outra visão de matemática”, explicou ainda a pesquisadora da USP. Desde 2010, o Centro de Memória da Educação (CME), órgão científico vinculado à Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (FE-Unicamp), reúne os diários de viagens, o acervo pessoal e as obras de Júlio César de Mello e Souza. Os documentos, datados de 1907 a 1974, foram doados pela família do professor, que com a ajuda de admiradores, amigos e pesquisadores também criou um site oficial em homenagem ao escritor (www.malbatahan.com.br). A professora e produtora cultural Renata de Faria Pereira, neta de Malba Tahan, é uma das responsáveis por manter viva a história e o legado de Júlio César. Ela afirma que não teve muitas experiências de vida com o avô, mas lembra com carinho da vez em que foram ao cinema juntos. “Não tinha quase ninguém na plateia. E ele fazia a maior bagunça. Enquanto assistia ao filme, contestava em voz alta, referindo-se aos absurdos que via. Acho que era uma forma de brincar comigo ou de provocar o dono do cinema”. Além do amor e o respeito, a certeza de que as contribuições do avô para a educação brasileira foram e sempre serão valiosas é o que inspira Renata a continuar compartilhando os ensinamentos dele com o mundo. “Outra motivação também importante é o significado de Malba Tahan para a educação de nosso país. Isso não é algo que se pode deixar esquecido, abandonado. Muitos professores continuam aprendendo nos livros de Malba Tahan”, afirma. “Como se pode deixar um legado como o dele no mundo do esquecimento? Até Monteiro Lobato dizia que nem as ‘vassouradas do tempo’ conseguirão apagar a memória do livro O Homem que Calculava. Nós temos uma obrigação com a memória do vovô”, completou a neta de Malba Tahan.
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