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» BAIRRO
Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo ANO 38 - Nº 1077
De 01 a 14 de novembro de 2018
Bianca Goes / RRJ
Projeto UNEafro oferece cursinho preparatório para vestibular gratuito na região. Pág. 8
Mercadão do Rudge faz 50 anos. Variedade de produtos e atendimento são diferenciais. Pág. 5
Beatriz Ceschim / RRJ
» EDUCAÇÃO
Memória da guerra em risco na cidade Associação Nacional de Veteranos da Força Expedicionária Brasileira de São Bernardo enfrenta dificuldades para manter sede e acervo dos “Pracinhas”, soldados brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial. Pág. 3 Fernanda Fernandes / RRJ
» ESPORTE
Capoeira: uma arte marcial genuinamente brasileira e uma filosofia de vida. Pág. 10
C
apela, associação de moradores e futebol contam a história da Vila Vivaldi Pág. 4
» ATENÇÃO!
Horário de verão começa domingo; relógios devem ser adiantados em 1h. Pág. 2
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CIDADE
Horário de verão começa neste fim de semana
FIQUE ATENTO
A partir de domingo, os relógios devem ser adiantados em uma hora Tamara Sanches Helena Tortorello Luchelle Furtado
O HORÁRIO de verão chega em algumas cidades do Brasil neste final de semana, na virada de sábado (3), para domingo (4). Os relógios deverão ser adiantados em uma hora a partir da meia noite. O dia coincidirá com o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). No mês de outubro, alguns usuários de smartphones relataram mudanças indevidas no horário. A primeira aconteceu no dia 15, que coincidiu com a data de início do horário de verão de 2017. A outra ocorreu na semana seguinte (21), surpreendendo novamente a população. Tradicionalmente, o ho-
rário entra em vigor no mês de outubro, no entanto, devido às eleições deste ano, o presidente da república, Michel Temer, assinou um decreto no ano passado modificando a data para novembro. Desta vez, o período de duração do horário de verão será menor do que os outros anos, terminando em 17 de fevereiro de 2019. A data escolhida foi a mesma do ENEM e, por isso, o Ministério da Educação entrou com um pedido de mudança do dia. Em um primeiro momento, o governo atendeu a alteração e adiou para o dia 18 de novembro, mas depois voltou atrás, mantendo as provas para o dia 4 de novembro. Segundo o governo federal, nos últimos dez anos, a existência do horário de ve-
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
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Os Estados do Norte e do Nordeste não são incluídos no horário de verão
À MEIA-NOITE DE SÁBADO PARA DOMINGO, ADIANTE O RELÓGIO EM 1 HORA
rão resultou em uma redução média de 4,5% na demanda por energia no horário de maior consumo, em uma economia absoluta de 0,5%. Para a estudante Maria Rosa da Silva, do Rudge, este é um dos lados positivos da mudança. “O horário de verão é bom porque dizem que economiza energia e dá tempo para fazer mais coisas”. Já o porteiro Hélio da Silva, também do Rudge, diz que até prefere o novo horário. “Escurece mais tarde, dá pra sair um pouco mais de casa. Eu gosto”.
Além do Distrito Federal, 10 Estados precisarão adaptar seus ponteiros
GOIÁS, MATO GROSSO,
RIO GRANDE DO SUL,
MATO GROSSO DO SUL,
SANTA CATARINA,
MINAS GERAIS, PARANÁ,
SÃO PAULO
RIO DE JANEIRO,
ESPÍRITO SANTO
Supermercado Sonda abre unidade no Rudge Camila Falcão
A REDE de supermercados Sonda abre uma nova filial no Rudge, na avenida Caminho do Mar, local da antiga sede da empresa de bebidas Martini. A nova opção de comércio tem animado os moradores do bairro. O economista Sandro Maskio, da Universidade Metodista d São Paulo, explica como será o cenário
Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000
Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo
econômico na região com a abertura do mercado. “A existência de um varejo desse porte normalmente amplia a movimentação nos arredores”, diz. Na opinião do especialista, há mais oferta de empregos e a prefeitura também terá mais arrecadação tributária referente a esse grande comércio”. A geração de emprego é uma das coisas que chamou a atenção das pessoas. No mês de setembro, a nova filial da
rede abriu diversas vagas. A fila de interessados ultrapassava dois quarteirões. No entanto, a assessoria de imprensa do supermercado não soube informar o número de interessados à procura de uma oportunidade. Em nota, a rede afirmou apenas que foram abertas 200 vagas, entre operador de caixa, balconista, padeiro, peixeiro, eletricista, cozinheiro. Para os moradores do bairro, a nova opção de com-
DIRETOR Kleber Nogueira Carrilho COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Eduardo Grossi EDITORA-EXECUTIVA Eloiza Oliveira (MTb 32.144) EDITORA DO RRJ Camila Escudero (MTb 39.564) EDITOR DE ARTE José Reis Filho (MTb 12.357) ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA Maristela Caretta (MTb 64.183) EQUIPE DE REDAÇÃO - Andressa Navarro, Ariel Correia, Camila Falcão, Camilla Thethê, Flávia Fernandes, Gabriel Batistella, Giovanna Vidoto, Giulia Marini, Giulia Requejo, Gustavo Garcez, Helena Tortorelli, Letícia Rodrigues, Luchelle Furtado, Luis Henrique Leite, Marcelo Hirata, Mayara Clemente, Natália Rossi, Tamara Sanches, Victor Augusto e alunos do curso de Jornalismo.
pras será benéfica, especialmente por ser uma loja com porte maior. É o que diz a analista de marketing Natacha Marques. “Não temos nenhum mercado desse tamanho e sempre que preciso fazer compras, acabo enfrentando filas e estacionamentos lotados nos mercados pequenos. O Sonda tem mais variedade de produtos e acredito que será um estímulo à concorrência de preços”. Natacha não foi a única
CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO Valdecir Barreros (presidente), Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente). Conselheiros titulares: Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta Sampaio, Cassiano Kuchenbecker Rosing, Marcos Gomes Tôrres, Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima. Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão e Roberto Nogueira Gurgel. Esther Lopes (secretária) e bispa Marisa de Freitas Ferreira (assistente do Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação). DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar DIRETOR DE FINANÇAS, CONTROLADORIA E GESTÃO DE PESSOAS - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E MARKETING - Ronilson Carassini
que comentou sobre os preços. André Rodrigues é analista de recursos humanos e relata as dificuldades desse ramo no bairro. “Temos alguns supermercados que exageram nos preços de alguns produtos, o que torna a compra inviável em alguns casos. Sou obrigado a procurar outras opções distantes do bairro para encontrar o que quero”. A abertura da nova unidade estava prevista para ontem, às 9 horas. DIRETOR NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR - Fabio Botelho Josgrilberg DIRETORA NACIONAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA - Débora Castanha
de Barros
GERENTE JURÍDICO - Rubens Gonçalves
REITOR: Paulo Borges Campos Jr.; Coordenadora de Graduação e Extensão: Alessandra Maria Sabatine Zambone; Coordenadora de Pós-Graduação e Pesquisa: Adriana Barroso Azevedo; Coordenador de EAD: Marcio Oliverio. DIRETORES - Nilton Zanco (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Kleber Nogueira Carrilho (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).
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CIDADE
De 01 a 14 de novembro de 2018 Fotos: Bárbara Moraes/RRJ
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Pegou-se 25 mil homens despreparados e, após muito esforço, foi possível enviar uma tropa que se mostrou apta a confrontar os alemães na Itália.” Anderson Salafia
Professor de História
to no termo de cessão do local. Além disso, afirma que há um projeto para o remanejamento do córrego Palmeiras, que passa aos fundos da Associação.
Ivone Cruchaki tenta manter o legado do pai, que lutou na II Guerra Mundial
Falta de recursos ameça legado dos Pracinhas da II Guerra
Entre o acervo do espaço, estão uniformes utilizados pelos soldados
Associação Nacional de Veteranos de guerra de São Bernardo luta por recursos Bárbara Moraes
“ISSO era o orgulho do meu pai. Todo ano ele fazia um almoço aqui, mas agora não é possível. É uma história que está se perdendo”. A fala da atual presidente Ivone Cruchaki, filha do veterano Tenente Antônio Cruchaki, retrata a situação de abandono que se encontra a sede da Associação Nacional de Veteranos da FEB (ANVFEB), em São Bernardo. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi criada com a missão combater os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) ao lado dos Aliados (Estados Unidos, China, França, Grã- Bretanha e União Soviética), na época da Segunda Guerra Mundial. Foram enviados aproximadamente 25 mil homens para combater em duas frentes: a do Mediterrâneo, na qual atuaram a Força Expedicionária e um esquadrão de caças-bombardeios e a do Atlântico, na qual atuavam Marinha de Guerra e Mercante além da Aviação de Patrulha brasileira. Com o fim da guerra, os combatentes foram mandados de volta ao Brasil. Passada a euforia da chegada,
A não canalização do córrego Palmeiras é um dos problemas enfrentados pela Associação Nacional de Veteranos da FEB de São Bernardo
acabaram caindo no esquecimento. Então, foi criada, em 1963, a Associação Nacional de Veteranos da FEB, com unidades independentes espalhados por todo o país com a ideia de se preservar esse legado. Muitas das sedes foram construídas pelos próprios veteranos da cidade, como é o caso da unidade de São Bernardo.
Ivone assumiu a associação como uma promessa ao pai, que faleceu em 2015. No entanto, ela encontra inúmeras barreiras para conseguir levar adiante os trabalhos. A primeira delas é o total descaso da Prefeitura com a propriedade. O espaço foi cedido pelo município, em 1975, para a construção, mesmo assim havia uma pequena ajuda financeira, como é demonstrado pelos ofícios guardados pelos veteranos. Atualmente, os custos, como água e luz são arcados pela presidente. No terreno, ainda existe
o córrego Palmeiras, o qual não foi canalizado. Dessa forma, há risco de desabamento das árvores, além da associação conviver com um forte cheiro de esgoto e pernilongos, por conta do entulho acumulado. Tal situação impossibilita a visita de escolas, sócios e até mesmo a realização de eventos, que poderiam auxiliar no pagamento das despesas. A associação ainda sofre com a morte dos veteranos e, consequentemente, com a escassez dos sócios. Esse descaso abate todas as unidades da ANVFEB que não possuem apoio municipal. O professor e historiador especializado em Segunda Guerra Mundial Anderson Luiz Salafia explica que o país não possuí uma política de Estado para preservar a história militar e se não fosse essa iniciativa, certamente muito se perderia. Em nota, a Prefeitura declarou que o imóvel foi cedido em perfeitas condições de uso, de acordo com o decreto nº 4817/76, que permite o uso de imovéis públicos. E ainda: que o apoio financeiro não acontece, já que não foi previs-
Segunda Guerra Mundial Fundada em 1943, a FEB lutou ao lado dos Aliados para libertar territórios italianos das forças nazistas. Os soldados brasileiros ficaram conhecidos como “Pracinhas” devido ao termo “sentar na praça”, que significa se alistar nas Forças Armadas. Os pracinhas foram enviados para o campo de batalha no segundo semestre de 1944. “Reunir 25 mil homens em condições de combater era uma tarefa impossível para o Brasil. Tínhamos forças militares ultrapassadas e despreparadas para a guerra moderna”, afirma o historiador Salafia. Apesar disso, Salafia explica que os soldados da FEB podiam combater tal como os americanos, já que eles passaram por um treinamento com o exército dos Estados Unidos. Além disso, com exceção do fuzil, todo o restante como fardamento, os veículos e artilharia era norte-americano. Esse treinamento foi essencial para garantir a vitória e o bom desempenho do Brasil na Itália. A FEB enfrentou 19 divisões inimigas, inclusive nas semanas finais da guerra, e conseguiu cercar uma divisão inteira, levando-a a rendição, ao custo de 441 mortos e três mil feridos. Os pracinhas que moravam na região do ABC, em sua maioria, eram descendentes de italianos. Hoje, o legado dos soldados éestá reunido nas sedes da ANVFEB, não só a de São Bernardo, mas também de Santo André. O último dos veteranos vivo é o Tenente Miguel Garofalo, atual presidente da ANVFEB, em Santo André.
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CIDADE
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Vivaldi: uma vila de história e tradição
Só tinha uma casa encostada na minha e outras duas casas. Depois construíram a paróquia aqui na frente”. Augusta Candida Viera
Futebol, associação e paróquia marcam memória e cotidiano dos moradores Fernanda Fernandes/RRJ
Fernanda Fernandes
O RUDGE é um dos bairros mais tradicionais de São Bernardo. Sua área administrativa, que compreende 4,6 km2 está dividida em 34 vilas. Uma delas é a Vila Vivaldi, surgida oficialmente em 26 de janeiro de 1950. Porém, sua história remonta à década de 30, quando Agenor Camargo Filho decidiu dividir as terras da família, conhecida como o sítio dos Camargo, em várias chácaras, que foram vendidas. Duas delas foram compradas pelo Dr. Rudge Ramos e por Clovis Joly de Lima e viraram, respectivamente, o Jardim Orlandina e a Vila Antonieta. O restante, comprado pela imobiliária Itaguassú, virou a Vila Vivaldi. “Quando eu cheguei aqui, não tinha nada, a rua era relva. Não tinha água encanada, eletricidade, era tudo uma sujeira”, conta Augusta Candida Viera, comerciante, que é portuguesa e veio para o Brasil com 27 anos. Ela lembra que morou na roça e se estabeleceu na
Arquivo: Acervo do Centro de Memórias de São Bernardo do Campo
Vila Vivaldi há 63 anos. “Só tinha uma casa encostada na minha e outras duas casas. Depois, construíram a paróquia aqui na frente”. Augusta mudou para a Vila antes mesmo da Avenida Lions ser inaugurada. Na época, os moradores protestaram contra a construção da avenida que poderia gerar ainda mais enchentes, problema muito recorrente no local. A Vivaldi faz divisa com Santo André, justamente no Ribeirão dos Meninos.
Acima, a paróquia da Vila, localizada na Rua Votorantim, 686. Abaixo, o prefeito Aron Galante na construção da Avenida Winston Churchil, em 1987
Afonso Palhano Torres Filho, comerciante, nasceu em São Paulo, mas foi criado na Vila Vivaldi. Ele morou durante 38 anos no local, até que se casou. Porém, visita a Vila Vivaldi com frequência porque sua mãe e irmã ain-
da moram lá. E é justamente um episódio de enchente que tem marcado em sua lembrança. “Eu estava voltando para casa a pé, na chuva, e liguei para a minha mãe. Ela disse que estava começando a encher. Quando eu cheguei em casa, tinha 28 vizinhos lá ajudando a levantar os móveis. Naquela noite, precisei dormir na casa de um deles”, lembra Afonso, destacando que essa solidariedade da vizinhança é marcante até hoje.
Comerciante
No passado, existiam muitos bares na Vila Vivaldi, onde as pessoas se reuniam para discutir os problemas enfrentados, como as enchentes. Então, em junho de 1956, foi fundada a Sociedade Amigos da Vila Vivaldi. O espaço chegou a funcionar até como uma escola para as crianças que, na época, não tinham onde estudar no bairro. A sociedade também tinha concursos de beleza anuais e catequese. Ganhou sede própria em 1960, construída pelo então presidente Antônio Simões. Além da associação, o futebol também é muito presente na vila. Desde o início, havia dois times que, em 1956, se uniram e formaram o Esporte Clube Nacional da Vila Vivaldi. “Quando garoto, nós fizemos alguns campeonatos nos campos que nós formávamos. A gente conseguia patrocínio dos comerciantes, eles davam refrigerantes para quem ganhasse”, lembra Torres. Mais tarde, um grupo de jogadores do clube se separou e criou a Sociedade Esportiva Vila Vivaldi, em 1961. Em seguida, a Sociedade Amigos da Vila Vivaldi se uniria a Sociedade Esportiva Vila Vivaldi, e juntos, formariam a Sociedade Amigos Esportivos de Vila Vivaldi, fundada em 1973, que tem sede na Rua dos Meninos, 149. Nos dias atuais, a sociedade serve de espaço para a discussão de temas importantes e aulas de futebol para as crianças, além de ser alugado para festas. No final da década de 50, Alfredo Célio Camargo Marques se mudou para a Vila Vivaldi com a família e idealizou a construção de uma capela. Ele conversou com o padre da Igreja Matriz e, em 28 de abril de 1958, realizaram a primeira missa da paróquia Santa Edwiges que se tornou a padroeira da Vila Vivaldi. “Nós íamos sempre à missa da paróquia, meu pai era muito católico. A missa de domingo de manhã era parte do fim de semana da família”, conta Torres.
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Mercadão do Rudge Ramos completa 50 anos de história Com mais de 60 lojas, o local atrai cerca de mil pessoas diariamente Fotos: Tamara Sanches/RRJ
Estabelecimentos comercializam desde frutas, verduras e legumes até artes e utensílios para presentes em São Bernardo Tamara Sanches
O MERCADO Municipal Hélio Masini, tradicional espaço de compras no Rudge, completa 50 anos neste mês. Em funcionamento desde o dia 10 de novembro de 1968, o ponto ficou famoso principalmente por permitir que os consumidores encontrem tudo o que precisam em um só lugar, com grande variedade de opções de produtos. “Tudo o que você possa imaginar vai encontrar aqui e os comerciantes são muito educados”, diz Adélia Sanchez, moradora do bairro há 35 anos, que sempre frequenta o Mercadão, como é carinhosamente chamado, para fazer as compras da semana. Atualmente, cerca de 60 lojas estão em funcionamento, a maioria delas voltada para o ramo alimentício. Os produtos e serviços disponibilizados são verduras, legumes, cereais, temperos, especiarias, doces, frutas, flores, laticínios, carnes, aves, empório, massas, adega, roupas, papelaria, utensílios domésticos, artes, artigos para presentes e
calçados. Aproximadamente mil pessoas circulam pelas lojas por dia e, aos sábados, o número chega a quase dois mil visitantes. O cabeleireiro José Carlos Marola trabalhou na peixaria do Mercadão nos anos 1973 a 1975 e hoje o frequenta como cliente. Ele considera que o local, além de ser um bom ambiente para as compras, se tornou um patrimônio cultural para os moradores do Rudge. “Quem vem aqui tem relação com o bairro, isso é história. O atendimento é diferenciado, as pessoas se cumprimentam e conversam. Isso é cultura”. Reinaldo Fernando Alboredo, proprietário da loja de produtos de limpeza e utilidades domésticas há 30 anos, garante que a qualidade dos produtos do Mercadão e a simpatia dos comerciantes são o que costumam atrair a clientela. “O que tem aqui, não tem nos hipermercados. Os produtos são todos de
Fundado em 1968, o Mercadão é considerado pelos moradores como um dos pontos mais tradicionais do bairro
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qualidade e o atendimento é muito bom, muitas vezes realizado diretamente pelo dono do estabelecimento, o que garante credibilidade”. Embora seja bastante elogiado tanto por comerciantes quanto pelos consumidores, o espaço necessita de investimentos para continuar se atualizando. A presidente da Associação dos Lojistas, Sônia Centurion, que é também proprietária da papelaria do Mercadão, diz que está sendo elaborado e discutido um projeto para que uma revitalização seja realizada futuramente, com aval da prefeitura. “Nós vamos colocando outros itens, sempre precisamos nos modernizar, estando atentos ao que os clientes precisam. Isso mantém o mercado sempre ativo”. O local possui estacionamento operado pelo Sistema Rotativo Cidadão, que funciona de segunda a sexta, das 8h às 18h, e aos sábados, das 8h às 14h, com capacidade para 60 veículos. Maria José de Lima, que trabalha como atendente na loja de massas caseiras, afirma que esse é um dos fatores que precisam melhorar. “O estacionamento é aberto, não é exclusivo do Mercadão. As pessoas de fora estacionam, e os clientes não conseguem espaço. Isso faz com que a gente perca público também”. Segundo os comerciantes, quem frequenta o Mercadão não são somente as pessoas que vivem no Rudge e proximidades. Diversos clientes de outras cidades costumam passar pelo centro comercial ao menos uma vez por mês. “Tenho vários clientes de Riacho Grande, e até de Ribeirão Preto”, conta Alboredo. Outra curiosidade é que o espaço serve também como passagem para os pedestres do bairro, por estar localizado no quarteirão entre a Avenida Caminho do Mar e a rua Ministro Oswaldo Aranha, fato que acaba atraindo ainda mais movimento e consumidores. Os estudantes de colégios arredores frequentemente utilizam o caminho e aproveitam a lanchonete, pastelaria e papelaria. As lojas funcionam de segunda a sábado, das 8h às 19h e o endereço é Avenida Caminho do Mar, 3344. O local é administrado pela prefeitura de São Bernardo e coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo (SDET).
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ESPECIAL
Alvaro Augusto, André Camillo e Bruna Masi
André Camillo/RRJ
O avanço tecnológico possibilitou o uso de plataformas de ensino online, na qual os alunos podem assistir os conteúdos pelo computador
Da correspondência ao EAD: evolução no ensino brasileiro o: Insti
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Da TV à Internet, métodos foram se transformando
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A TECNOLOGIA renova diariamente os meios de desenvolver e inserir a educação na vida das pessoas. A evolução é visível quando comparamos os recursos em que os estudantes tinham na década de 1950, na elaboração dos trabalhos em sala de aula, com a praticidade que as plataformas digitais disponibilizam hoje. Na década de 1940, surgiram no Brasil os cursos por correspondência, que contavam com cartilhas e eram administrados por institutos de ensino. Promoviam o desenvolvimento de funções práticas como, por exemplo, o de Corte e Costura, Contabilidade, Secretariado Moderno e Rádio. De acordo com Luiz Gonzaga, 69, morador de Santo André, as atividades eram desenvolvidas e encaminhadas ao instituto. “Eles mandavam as provas, a gente fazia em casa e mandava de volta para lá. Se você tinha uma dúvida, preenchia um formulário para mandar”. Gonzaga veio de Águas da Prata para São Paulo e tinha a vontade de ser técnico em rádio. “Era para aprender a consertar, montar e fazer manutenção. Todo mundo tinha rádio na época, não eram todos que tinham televisão”. Por conta da dificuldade em se comunicar para sanar as dúvidas, o aposentado não concluiu o curso e optou por realizar a matrícula em uma instituição presencial. “Eu nunca vi um professor de lá. Chegou a um ponto em que começou a acumular as dúvidas e larguei”, conta. A popularização da TV também auxiliou o ensino à distância. Cursos começaram a fazer parte da programação, que focavam em vestibulandos e pessoas com baixa escolaridade. O primeiro programa foi ao ar na década de 1970, pela Rede Globo. Era o Telecurso, que passou por algumas adaptações, até ser exibido em sua última versão, em 2009. O programa contava com departamentos de ensino e educação que pensavam os conteúdos a serem abordados. Célia Marques, 91, ex-diretora do Departamento de Educação da TV Cultura, desenvolveu a função de coordenadora pedagógica do Telecurso. “Todas as matérias eram elaboradas por professores. O texto vinha para fazer o programa e
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antes de ser usado, eu via e esclarecia todas as dúvidas com o professor-autor”, além de supervisionar os roteiros antes de serem exibidos. Elisa Rubini, 54, professora de Biologia no Curso Objetivo Santo André participou do programa Vestibulando Digital, transmitido pela TV Cultura na década
de 1990. O programa, que seguia os moldes do Telecurso, contava com um bate-papo que ocorria via internet após o término da exibição. “Depois da minha aula, eu entrava em uma sala e ficava uma hora recebendo e respondendo as perguntas dos alunos”, relembra. Para a professora, esse
No ensino por correspondência, os materiais apostilados eram encaminhados para a residência dos alunos
método atingia uma parcela da população que tinha pouco acesso a conteúdos educativos, uma vez que era transmitido por um canal aberto
de televisão em horários diferenciados. “Esse trabalho é legal porque você leva conhecimento para muita gente simples, que não tem tempo para estudar. Você consegue atingir esse público”. Com a expansão da internet no âmbito universitário a partir dos anos 1990, a implementação de cursos totalmente à distância foram surgindo no Brasil. O investimento nessa modalidade possibilitou o acesso ao ensino superior para pessoas que possuíam horários inflexíveis e mantinham dupla jornada. Adilana Ovando, 39, tutora presencial do curso de Serviço Social em um polo universitário na cidade de Mauá, explica que esse ‘boom’ foi inevitável devido ao avanço tecnológico somado a rotina intensa das pessoas. “Muitos não têm mais aquela disponibilidade física de estarem nos lugares e também precisaram se atualizar, se capacitar depois de certa idade”. De acordo com uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2016 pelas empresas Sagah e Educa Insights, a previsão é de que nos próximos cinco anos, o ensino à distância ocupe 51% do mercado no Brasil. Para Adilana, apesar de facilitar o acesso à aprendizagem, a modalidade deve prezar pela qualidade. “A gente tem que estar constantemente lutando pela qualidade, porque a precarização do ensino é gigantesca, tanto no presencial quanto no EAD”, argumenta.
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ESPECIAL
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Divulgação: Daniel Ferretto
Canais do YouTube são opções para estudo A INTERNET é um recurso facilitador que possibilita o acesso a diversos conteúdos online. O crescimento nos canais de estudos por meio de plataformas digitais vem atraindo jovens de todo o Brasil. O Rudge Ramos Jornal entrevistou Ferretto, que possui um canal no YouTube voltado à educação com mais de um milhão de inscritos. Com vídeo-aulas, o professor, que é formado em Matemática pela Universidade Federal de Santa Catarina, auxilia estudantes com dicas e resoluções de exercícios. Acompanhe trechos da entrevista. Rudge Ramos Jornal: Quando surgiu a ideia de criar um canal voltado ao ensino no YouTube? Professor Ferretto: Surgiu a ideia no ano de 2013. Eu não sabia nem o que era canal e lá no YouTube eu vi que tinham professores de matemática, biologia e disse: “Poxa, eu acho que então é possível criar um canal de matemática, né?”. RRJ: Você acredita que se os recursos tecnológicos fossem mais utilizados
dentro das salas de aula, o desempenho na educação brasileira seria melhor? Ferretto: Nada vai substituir o professor, mas eu acho que tem que haver uma caminhada, uma cooperação entre a sala de aula e o mundo digital. As escolas têm que se abrir, têm que sair dessa parte tradicional porque o problema na educação, principalmente na parte da matemática, é gigantesco. Então acho que se a escola estiver disposta a sair um pouco do tradicional e inserir o digital, ela só tem a ganhar. RRJ: De que forma você seleciona os assuntos a serem abordados em seus vídeos? Ferretto: Eu costumo colocar vídeos que vão da matemática básica, aquela do Ensino Fundamental, ao segundo grau, e tem ensino superior. Também tenho aulas de cálculo para o pessoal de Engenharia, da área de exatas no nível superior. RRJ: Qual importância você atribui a esse formato de ensino à distância, sejam as vídeo-aulas, plataformas
O professor Ferretto utiliza o seu canal no Youtube para auxiliar estudantes do ensino regular até o superior
“
Se a escola estiver disposta a sair um pouco do tradicional e inserir o digital, ela só tem a ganhar.” Daniel Ferretto
Professor de Matemática
digitais ou até mesmo o Telecurso? Ferretto: Acho que ela
EAD é discutido entre alunos e coordenadores A EDUCAÇÃO a distância ocupa cada vez mais espaços dentro das universidades brasileiras. O baixo custo, a possibilidade de não ter que se deslocar até as salas de aula e o acesso disponível a qualquer horário são características que atraem o público. Com a rotina atribulada e uma família constituída, a secretária escolar de Santo André Rosandra Rodrigues, 34, optou por iniciar o curso de Pedagogia à distância. Apesar da flexibilidade que a modalidade dispõe, ela precisou unir a dedicação à oportunidade. “Às vezes, eu estudo à noite em casa, vou dormir duas ou três horas da manhã, ou eu chego mais cedo e estudo antes de começar meu horário de serviço”, conta. Alex Soares, 36, supervisor de manufatura e proces-
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sos em Diadema, concluiu o curso de Gestão de Produção Industrial em 2014, no sistema EAD. Na época, ele trabalhava no terceiro turno, o que o impossibilitava de cursar o ensino superior em uma instituição presencial. Após o término da graduação, porém, Alex optou por realizar a pós no formato semipresencial. A ausência de um professor para esclarecer imediatamente os questionamentos na modalidade à distância, justifica sua escolha. “É mais difícil [o EAD], até porque você tem que se dedicar mais, você não tem a professora ali para tirar as dúvidas na hora. Você tem que mandar, eles vão avaliar e depois respondem”, explica. O professor e coordenador do curso à distância de Letras na Universidade Metodista de São Paulo, Silvio
é muito importante. A gente está passando por uma revolução, porque as enciclopédias, bibliotecas e os professores não são detentores do conhecimento. Hoje, o conhecimento está no mundo online, uma pessoa recebe muitas informações de todos os lados. RRJ: Como é a sua relação com os inscritos no seu canal? Você utiliza Bruna Masi/RRJ
chats online para sanar as dúvidas? Ferretto: O contato com os inscritos acontece de forma online, claro. De vez em quando, eu faço aulas ao vivo sobre determinado assunto, corrigindo algumas questões. Nessa situação, eu tenho a possibilidade de conversar com os alunos, porque eles vão escrevendo ali nos comentários. (AA, AC, BM)
Rosandra Rodrigues, secretária escolar e aluna do curso de Pedagogia, aproveita os horários vagos para assistir às vídeo-aulas e resolver os exercícios propostos
ESTATÍSTICAS
Pereira da Silva, acredita que para a modalidade funcionar bem é necessário mobilizar uma equipe. “A gente precisa ter mecanismos de controle, de organização, preparar a aula muito bem, organizar o material, ter uma equipe de apoio que trabalhe nisso e ter os professores auxiliares que vão dar toda assistência ao aluno”.
Para o professor, assim como a instituição deve manter uma organização, o aluno matriculado precisa estabelecer meios de apreender o conteúdo abordado. “A pessoa que estuda também tem que ser uma pessoa muito organizada e que controle o seu próprio tempo, porque senão ela se perde e não aprende nada”. (AA, AC, BM)
Segundo o documento de Notas Estatísticas, parte integrante do Censo de Educação Superior de 2016, a quantidade de estudantes matriculados no ensino de graduação à distância comparado ao ano de 2006 apresentou um aumento de 12,4%. Entre todas as matrículas realizadas em 2006, 4,2% eram de pessoas que optaram por cursar a modalidade à distância. Já em 2016, esse número cresceu para 18,6%. Ainda de acordo com o relatório divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), os cursos presenciais são mais procurados por alunos na faixa etária dos 21 anos. Em contrapartida, o ensino à distância apresenta uma faixa etária mais velha, girando em torno dos 28 anos.
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Nem todo mundo tem condições de pagar por um cursinho, mas todos querem ter uma oportunidade na vida, e é muito importante ter um curso que é para todo mundo e inclusivo.” Leticia Cavalcante Aluna do Cursinho Popular
As incrições do cursinho já estão abertas para o primeiro semestre de 2019, mas o cadastro pode ser feito em qualquer época do ano
Projeto oferece cursinho preparatório gratuito na região UNEafro tem dois núcleos localizados em São Bernardo e um em Santo André Bianca Goes
COM A CHEGADA da temporada dos vestibulares, o curso preparatório se torna uma opção para quem deseja aprofundar os estudos. Porém, na maioria dos casos, os preços cobrados pelas instituições inviabilizam a presença da população de baixa renda. Para quem não possui a condição de pagar por esse serviço, a UNEafro criou o Cursinho Comunitário, uma iniciativa social com a proposta de oferecer cursinho gratuito para jovens e adolescentes do ABC. A União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora existe há dez anos e é um movimento social composto por jovens de todo o país. O principal objetivo é o de combater a desigualdade e lutar contra a discriminação na sociedade. A maioria dos projetos é voltado às comunidades periféricas urbanas, com a produção de trabalhos educacionais. Atualmente, a UNEafro se espalha em 50 núcleos, nos estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. As articulações giram em tor-
Provas são realizadas para simular os vestibulares e concursos
no de temas como machismo, racismo, homofobia, diversidade sexual, formação política e principalmente a causa da educação popular. No ABC, há duas unidades em São Bernardo e uma em Santo André. O curso é gratuito, com a proposta de preparar jovens e adultos para os vestibulares e concursos do país. “Nós entendemos que as escolas públicas não contribuem para que esses jovens possam ingressar nas universidades”, afirma a coordenadora pedagógica do projeto, Fabiola de Carvalho Pereira. Ela ainda ressalta a importância do movimento como
forma de enfrentamento e inclusão social dos jovens negros nas universidades. Mônica Silva Dias era estudante de graduação em Ciências Sociais e colega de sala de Fabiola, coordenadora do cursinho. Atualmente, ela é professora de Geografia da rede estadual e leciona Sociologia no cursinho, do qual é co-fundadora, desde o ano passado. “Não é somente a proposta de um cursinho popular, há um grande diferencial que é a formação política, para que os alunos possam entender as relações sociais nas quais estão envolvidos e qual a importância disso”. Além disso, a professora
destaca a carência do ensino nas escolas públicas e como o exame vestibular é exclusivo. Para ela, as questões de racismo, machismo, classe e desigualdade são fatores que interferem nas possibilidades desses jovens ingressarem na vida acadêmica de forma igualitária. Os principais desafios enfrentados estão relacionados à evasão, à atuação do diálogo sobre o papel político e social e na arrecadação de material didático para o projeto que, em sua maioria, é doado. As aulas do projeto são ministradas por professores voluntários em locais que são cedidos por escolas públicas, associações, igrejas ou Organizações da Socieda-
des Civil (OSCs). O núcleo do centro de São Bernardo está em vigor desde 2017 e recebeu o nome de “Tia Jura”, uma homenagem à educadora Maria Juraci Elias, que é referência para o grupo, e atuou no Projeto Meninos e Meninas de Rua (PMMR). O cursinho popular é resultado de uma parceria com o PMMR, que neste ano comemora 35 anos de fundação. Leiriane Aparecida Manoel, moradora do bairro Montanhão, terminou o ensino médio em 2006 e, desde então, parou de estudar. Em 2017, conheceu o Cursinho Popular, por meio do Projeto Meninos e Meninas de Rua, e se prepara para cursar Serviço Social. “Quando comecei, não quis parar mais, percebi que era capaz de prestar vestibulares, concursos e Enem”. Apesar de todos os obstáculos, ela está otimista com relação às conquistas. “Com os professores da UNEafro me sinto 100% apoiada e sei que irei conseguir superar todas as dificuldades”. A jovem aprendiz Leticia Cavalcante se formou em 2017 na escola pública e voltou a estudar para ingressar na universidade, em Psicologia. Ela está no projeto desde abril e diz que a ação é oportunidade de socializar. “Nem todo mundo tem condições de pagar por um cursinho, mas todos querem ter uma oportunidade na vida, e é muito importante ter um curso que é para todo mundo e inclusivo”. As aulas do Cursinho Comunitário são ministradas aos sábados, das 9h00 às 15h00, nas três unidades do ABC.
SERVIÇO Escritório Central - Rua Abolição, 167, 1º andar Bela Vista – São Paulo/SP Telefone: (11) 3105-2516 – ramal 2 - E-mail: uneafrobrasil@gmail.com Núcleos - São Bernardo “Tia Jura” - Endereço: Rua Jurubatuba, 1610 – Centro “Marielle Franco” - Endereço: Passagem dos Cafezais, 649 – Montanhão (Associação de Moradores da Comunidade dos Cafezais) Santo André - "Carolina Maria de Jesus" - Endereço: Rua Príncipe de Gales, 821 – Vila Príncipe de Gales (UFABC)
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
SAÚDE
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Cinthia Guimarães/RRJ
Cinthia Guimarães
SEGUNDO o Ministério da Saúde, o número de casos de mortes maternas aumentou no Brasil. Entre 1990 e 2015, o índice de óbitos entre gestantes chegou a diminuir em 56%, porém, foi abaixo da meta estabelecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) de reduzir a taxa em 75% até o ano citado. Após esse período de estabilidade, em 2016, a quantidade de ocorrências voltou a subir para cerca de 69 óbitos de gestantes por 100 mil nascidos vivos. É considerada morte materna toda incidência que ocorre na gestação, no parto e até 42 dias após o nascimento do bebê. Na maioria, os problemas que aparecem na gravidez são associados a fatores de risco como: hipertensão, hemorragias e infecções, incluindo o abortamento. Dentre os fatores prejudiciais outros problemas de saúde podem interferir numa gravidez saudável. A auxiliar de desenvolvimento infantil Noemia Macedo, de Mauá, conta que teve complicações na sua gestação por causa da hipertensão arterial, além de ser diagnosticada com pré- eclampsia e Síndrome de Hellp (caracterizada por colocar o tecido do feto em contato com o sistema imunológico da mãe). Por conta disso, acabou tendo um parto prematuro de 34 semanas. “Por algum tempo fiquei com medo de morrer, mas, graças a Deus e aos médicos competentes que me atenderam, descobri a síndrome a tempo e a minha vida e a do meu bebê foram salvas”. O Pré- Natal consiste no acompanhamento médico, ao longo dos nove meses de gestação, e desempenha um papel importante para prevenir e/ou detectar algum problema precoce tanto materno como fetal. Para a obstetra do Hospital Municipal Universitário de São Bernardo Silvana Giovanelli, o tratamento certo é capaz de garantir um bom resultado. “Realizar o pré-natal de forma correta permite identificar doenças que se instalam de forma súbita ou que já estavam presentes no organismo, mas evoluindo de forma silenciosa. Desta forma o diagnóstico permite medidas de tratamento que evitam maior prejuízo à mulher e seu feto”. Nem sempre as compli-
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Após
25 anos,
mortes maternas voltam a subir
Além de identificar problemas, acompanhamento médico auxilia na preparação da maternidade
Pré-natal pode evitar 92% dos casos. Maioria está relacionado a fatores de risco, como hipertensão e hemorragias cações aparecem no início da gravidez. Algumas variam entre o primeiro e o segundo trimestre gestacional, já outras, no último. Esse foi o caso da assistente de departamento pessoal, Ivete Souza, também de Mauá. Ela diz que teve sua gestação considerada normal até os seis meses, quando foi diagnosticada com diabete gestacional. Junto a isso, desenvolveu colestase que se trata de uma complicação grave no fígado. Diante desse quadro, foi submetida a um parto de emergência, pois corria risco de morte ou a necessidade de um transplante de órgão. “Para mim,
o pré-natal foi tudo. Se eu não tivesse fazendo o acompanhamento de forma correta eu não teria descoberto o risco que estava correndo e hoje eu não estaria aqui”. Outras causas relacionadas ao aumento da mortalidade materna são a demora em procurar ajuda, a dificuldade em encontrar uma unidade qualificada de atendimento e a espera em receber assistência necessária. Muitas vezes a situação emergencial coloca em risco não só a vida da mãe, mas a do bebê também. Um exemplo disso foi o caso de uma moradora da região que prefere não ter o
nome divulgado. Ela estava no quinto mês da gravidez quando entrou em trabalho de parto. Por ser a primeira gestação, acabou passando despercebida a necessidade de uma atenção maior por ter o colo do útero curto, causando a dilatação antes do tempo. Na época, fazia o acompanhamento médico, mas seu problema não foi detectado a tempo e o bebê acabou não resistindo. “Isso me traumatizou muito, pois estava numa gestação aparentemente normal, sem problemas e, do nada, tive essa perda”. Para detectar a tempo futuros problemas gestacio-
nais, é necessário o quanto antes dar início ao pré-natal, que além de prevenir a evolução de doenças, auxilia na preparação da maternidade. Sendo assim, o atraso no início do tratamento pode ser prejudicial, é o que ressalta a ginecologista e obstetra Fernanda Torras. “A demora para começar o pré-natal pode impedir que a gestante tenha o controle adequado de suas doenças, levando a paciente a correr riscos como malformações fetais, prematuridade e consequências a saúde materna”. Vale ressaltar que é importante haver uma parceria entre a paciente e o médico durante toda a gestação, pois a quantidade de informações e cuidados específicos implicam diretamente no aumento ou diminuição de óbitos entre gestantes. “Como as pessoas falam, gravidez não é doença, mas precisa de um acompanhamento profissional desde o início, não é só ir lá nas consultas. Nesses nove meses, pode acontecer de tudo e é preciso estar com especialistas que ajudem durante todo o processo para passar por isso tranquilamente”, alerta Ivete.
10 ESPORTE
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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Fotos: Beatriz Ceschim/RRJ
CURIOSIDADE Em 2014, a roda de capoeira tornou-se Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.
Capoeira anima as noites de habitantes em São Bernardo Moradores do bairro Paulicéia buscam na arte marcial uma filosofia de vida Acima, oficina de capoeira realizada no Centro Recreativo Esportivo Cultural (Crec) Paulicéia, em São Bernardo. Abaixo, professor Rodrigo da Paz Ceolin fazendo um bico de papagaio
Beatriz Ceschim
“AQUI É MINHA casa, minha varanda, meu dendê. Aqui é minha casa, minha varanda, meu dendê”. Assim começam as aulas semanais de capoeira no Centro Recreativo Esportivo Cultural (Crec) Paulicéia, em São Bernardo. Os professores puxam o coro, enquanto os alunos acompanham com as palmas, em harmonia com o berimbau e o atabaque, dando vida para a roda. Conforme a música flui, dois oponentes vão até o pé do círculo onde se cumprimentam e começam o jogo de movimentos de ataque e defesa, que são ditados pelo ritmo do batuque. A capoeira é uma prática originária do Brasil, mas que teve como matriz diversas culturas africanas. Hoje, é conhecida em muitas partes do mundo. Foi criada pelos escravos no século 17, como uma forma de defesa. Para que pudessem praticar a luta sem serem impedidos pelos donos, os africanos implementaram
a música junto ao jogo, chamando assim a capoeira de dança. Mas a atividade é muito mais do que isso. O professor de educação física e capoeirista Rodrigo da Paz Ceolin, 34, coordena a oficina do Crec Paulicéia
e diz que transmite aos alunos essa amplitude da capoeira. “A capoeira, além de ela ser uma arte marcial, é história, é culinária, é música, é instrumento. Ela é um leque de informações, é uma soma de muitas coisas.
Está em tudo o que fazemos, desde a parte de expressão corporal, composições musicais, e até no nosso dia a dia, como atitude e outras referências, não só a disciplina, mas respeito e humildade”. Conhecido como “Capoeira” entre os alunos, o professor também ressalta a importância que a luta tem no desenvolvimento não só físico, mas também emocional das pessoas. Ele conta que nos 16 meses que vem coordenando a oficina do Crec, alguns participantes que chegam à aula completamente tímidos estão bem mais descontraídos. “Algumas pessoas chegam aqui sem falar com ninguém, sem habilidade corporal. Meses depois estão fazendo coisas que nem elas acreditavam que eram capazes com o equilíbrio do corpo e coor-
denação, e estão muito mais receptivas”. É o caso do capoeirista Pedro Augusto Franzini, 14, que foi levado para a aula por um tio, e era bem “fechado”. Depois de um ano, ele conta que já se sente muito mais confortável no ambiente e mais comunicativo com a turma. “Agora tenho amigos dentro da capoeira, que são como se fossem uma família para mim”. Marcelo Ferreira Lima, 40, é analista de sistemas, mas também dá aulas de capoeira numa academia na Paulicéia, perto do Crec. Ele também ressalta as várias características da atividade, chegando a afirmar que a capoeira é um estilo de vida. “Ela é uma luta. É uma arte e também é um esporte. Ela é respeito, treino e dedicação. A capoeira muda a auto estima, aumenta a confiança das pessoas e se torna uma filosofia, um espírito artístico”. Por ter tantas características, a capoeira acaba sendo uma atividade completa, reunindo inclusive, famílias. Ana Rochelle Alves Tavares, 40, diz que na capoeira encontrou muito mais do que estava procurando. Ela é mãe de Valentina, 6, e queria com o esporte passar um tempo com a filha, enquanto praticava uma atividade física. “Acabei encontrando na luta fundamentos de amizade, lealdade, honestidade, respeito e carinho, o que tornaram as aulas e essa interação com a minha filha muito mais especial”. Essa oficina coordenada pelo professor Rodrigo Ceolin é uma iniciativa do Programa de Esporte e Lazer da Cidade (PELC), do Ministério do Esporte. Tem como principal objetivo implantar núcleos de recreação pelas cidades por diversas regiões do país, para que haja a democratização do esporte e do lazer. São aulas gratuitas, e voltadas para diversos públicos, de todas as idades. Para participar, é só comparecer no Crec Paulicéia (Rua Francisco Alves, 460), todas as quartas e sextas-feiras, das 18h30 às 20h, até o fim de novembro, e fazer a inscrição.
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Natalie Seifer
FREQUENTAR parques públicos é uma alternativa de lazer para quem quer gastar pouco. A cidade de São Bernardo possui cinco parques, Chácara Silvestre, Raphael Lazzuri, Salvador Arena, Estoril e da Juventude. Cada um deles tem características particulares que permitem que o público faça piquenique, pratique ginástica, caminhada, trilha e que possa passar um tempo em contato com a natureza. Em 1952, a prefeitura de São Bernardo percebeu que não existia nenhum parque ou praça na cidade. Então, em 1953 um acordo com a empresa de eletricidade Light Company (proprietária de um terreno de 60 mil m² situado no Riacho Grande) permitiu que, no ano seguinte, iniciassem a construção do Parque Estoril, inaugurado em 01 de maio de 1955. Aos poucos, com as administrações seguintes, o espaço foi ganhando melhorias. Hoje, possui em sua infraestrutura como sanitários e vestiários, instalações de esculturas e brinquedos, além de uma capela. Logo que ele foi inaugurado, tornou-se a principal atração turística de São Bernardo. Nos anos seguintes, porém, questões políticas e administrativas levaram o espaço a altos e baixos, desde o abandono até reformas estruturais. Em 2013, o parque foi transformado em uma Unidade de Conservação da Mata Atlântica, já que 90% da sua área pertence à floresta, garantindo assim a preservação dos recursos naturais ali existentes. Hoje em dia, o local traz diversas atividades para serem realizadas como, teleférico, viveiro escola, pedalinho, stand up, caiaque, jardim sensorial, área de piquenique, área para caminhada, o Museu da Arte ao Ar Livre e a represa Billings. O engenheiro eletrônico Eduardo Rocha, que mora no Jardim Hollywood, em São Bernardo, conta que quando era mais jovem seu pai sempre o levava ao Estoril e hoje frequenta o parque pelo menos uma vez por mês para levar sua filha de apenas um ano e meio. “A primeira vez que eu trouxe a Mariana no parque ela tinha apenas nove meses e adorou. Eu e minha esposa sempre a trazemos aqui para passear no teleférico,
LAZER
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Fotos: Natalie Seifer/RRJ
Em 2013, após altos e baixos no cuidado das instalações, o Estoril foi transformado em uma Unidade de Conservação da Mata Altântica
Parque Estoril é o mais antigo de São Bernardo Inaugurado em 1955, o local fica aberto, atualmente, de quarta a domingo ideia é que professores de escolas públicas levem os alunos ao Estoril com o objetivo de apresentar um pouco mais da biodiversidade. Há também um zoológico, que apresenta cerca de 250 animais e mais de 60 espécies, entre animais silvestres como, anta, araras azuis, corujas e jiboias. A maioria desses animais é resgatada do tráfico e do comércio ilegal, e chegam ao zoológico com traumas e machucados. Represa Billings é uma das atrações do Estoril, com pedalinhos, caiaque etc. A estudante Agnes Gonçalves que vive no bairro Rudge, é outra no pedalinho e no zoológi- com a formação socioamco. Acho que hoje em dia é biental por meio de oficinas frequentadora assídua do importante tirarmos nossos de práticas sustentáveis Estorial. “Eu sempre gosfilhos um pouco de casa e realizadas no parque. Nesse tei de passear em parques, deixar eles terem contato momento, estão ocorrendo atualmente eu frequento mudanças no formato, por bastante aqui, eu e meus com a natureza”. Atualmente, o parque isso o projeto não está sendo amigos gostamos muito de trabalha com alguns projetos oferecido. E neste segundo fazer piqueniques e ficar voltados para crianças e ado- semestre, a prefeitura previa na beira da represa. Às velescentes, como a Escola Li- o início de um novo projeto no zes, quando estou sozinha, vre de Sustentabilidade, no local, o “Guia de Atividades também gosto de sentar na qual o objetivo é contribuir de Educação Ambiental”. A grama e ler um pouco”.
ANOTE Endereço: Rua Portugal, 1100 Estoril, São Bernardo. Os moradores de São Bernardo podem fazer a carteirinha na administração do parque (apresentando documento com foto, uma foto 3x4 e comprovante de residência) e ganhar o direito à entrada gratuita no parque. Para não moradores a entrada está no valor de R$ 3,00. Estacionamento: R$ 10,00 (moto), R$ 15,00 (carro), R$30,00 (vans), R$35,00 (micro-ônibus) e R$ 200,00 (ônibus). Horário de funcionamento: de quarta-feira à domingo, das 9h00 às 17h.
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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade