Rudge Ramos Jornal - Edição 1.078

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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo ANO 38 - Nº 1078

De 14 a 28 de novembro de 2018

Consciência Negra: Diadema é a quarta cidade do Brasil em número de habitantes negros Pág. 5

Dia Mundial de luta contra Aids Combate ao preconceito e informação sobre o HIV ainda marcam o dia 1º de dezembro. Pág.6 Carolina Peliciari/RRJ

Naça Vivaldi Com 62 anos de história, Esporte Clube Nacional disputa divisão especial da Liga de S.Bernardo Pág. 8

» CULTURA Ric

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» GASTRONOMIA

Inovação de sabores e receitas renova o tradicional churros e conquista paladares Pág. 4

Conhecido como um dos maiores artistas da chamada hiper-realidade, Giovani Caramello, de Santo André, expõe obras no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo Pág. 11

Arquivo pessoal


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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

De 14 a 28 de novembro de 2018

Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000 

Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo

DIRETOR Kleber Nogueira Carrilho COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Eduardo Grossi EDITORA-EXECUTIVA Eloiza Oliveira (MTb 32.144) EDITORA DO RRJ Camila Escudero (MTb 39.564) EDITOR DE ARTE José Reis Filho (MTb 12.357) ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA Maristela Caretta (MTb 64.183) EQUIPE DE REDAÇÃO - Andressa Navarro, Ariel Correia, Camila Falcão, Camilla Thethê, Flávia Fernandes, Gabriel Batistella, Giovanna Vidoto, Giulia Marini, Giulia Requejo, Gustavo Garcez, Helena Tortorelli, Letícia Rodrigues, Luchelle Furtado, Luis Henrique Leite, Marcelo Hirata, Mayara Clemente, Natália Rossi, Tamara Sanches, Victor Augusto e alunos do curso de Jornalismo.

CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO Valdecir Barreros (presidente), Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente). Conselheiros titulares: Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta Sampaio, Cassiano Kuchenbecker Rosing, Marcos Gomes Tôrres, Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima. Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão e Roberto Nogueira Gurgel. Esther Lopes (secretária) e bispa Marisa de Freitas Ferreira (assistente do Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação). DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar DIRETOR DE FINANÇAS, CONTROLADORIA E GESTÃO DE PESSOAS - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E MARKETING - Ronilson Carassini

DIRETOR NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR - Fabio Botelho Josgrilberg DIRETORA NACIONAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA - Débora Castanha de Barros

GERENTE JURÍDICO - Rubens Gonçalves

REITOR: Paulo Borges Campos Jr.; Coordenadora de Graduação e Extensão: Alessandra Maria Sabatine Zambone; Coordenadora de Pós-Graduação e Pesquisa: Adriana Barroso Azevedo; Coordenador de EAD: Marcio Oliverio. DIRETORES - Nilton Zanco (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Kleber Nogueira Carrilho (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).


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CIDADE

De 14 a 28 de novembro de 2018

Arquivo Pessoal

professor da Universidade Metodista de São Paulo, que ressalta a importância que os meios de comunicação têm frente à população. “Nas sociedades modernas, os meios de comunicação fazem a mediação entre a realidade e o espectador, ouvinte ou leitor. A realidade chega até o público de acordo com o que os meios estão dizendo. O jornalismo tem que levar em consideração a ética e não pode causar pavor nas pessoas”. No entanto, segundo Oliveira, algumas pessoas só se veem retratadas na mídia a partir do crime. “Casos como o do maníaco do parque, da Eloá e do Celso Daniel (leia abaixo) marcaram porque tiveram um apelo grande. Os meios precisam fazer com que a gente entenda as coisas e não tratar como casos isolados. Sabemos que tudo isso tem causas, origens e em grande parte está relacionado à miséria, ao desemprego e outras condições inumanas”.

Mídia & violência

Luchelle Furtado

SEGUNDO o estudo feito neste ano pelo Instituto Sou da Paz, Diadema e Mauá estão entre as cidades mais violentas do Estado de São Paulo. O ranking, baseado em 138 municípios da região com mais de 50 mil habitantes, considera o registro de homicídios, latrocínios, estupros, roubos de veículos e de cargas para a conclusão do levantamento, a partir de dados mensais da Secretaria estadual de Segurança Pública. Uma vítima dessa violência é o auxiliar de estoque, A.M. que, em 2008, presenciou o assassinato de seu avô. Na época, A.M. tinha apenas 12 anos. Ele conta que estava andando com seu avô, quando foram surpreendidos por um homem que anunciou o assalto e em seguida atirou. “Ninguém reagiu. Meu avô levantou a mão e tomou o tiro. Fiquei em choque, não entendia o que tinha acontecido”. Alguns dias depois do assassinato, o homem que havia cometido o ato, foi preso e confessou o crime. Depois de pegar três anos de detenção, foi solto por bom comportamento. E, hoje, a não ser pelos familiares, ninguém se lembra mais do caso. Para A.M., se, na época, o assassinato tivesse sido noticiado pela mídia, talvez o desfecho poderia ter sido diferente, como uma penalidade maior. “Quando a mídia dá atenção, a justiça fica mais pressionada a fazer um bom trabalho”, acredita. Casos como esse são veiculados recorrentemente nas grandes mídias. Porém, fatores como a comoção do público, o sensacionalismo e a invasão de privacidade da família envolvida devem ser discutidos. Para a psiquiatra Jessica Barbosa Lima, de São Bernardo, a mídia exerce um papel importante, desde que saiba a maneira que irá tratar essas notícias. “Conforme a mídia publica, pode ser bom ou ruim,

problema social e traumas pessoais em questão de acordo com o tipo de veiculação. Aquelas muito sensacionalistas acabam sendo um

desserviço para os familiares ou aqueles que ficam”. Semelhante opinião

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tem o jornalista e doutor em Teoria da Comunicação, Roberto Joaquim Oliveira,

Traumas Além da questão social, experiências violentas, ainda que não retratados pela mídia, costumam causar traumas pessoais. No caso do assassinato do avô, citado no início do texto, A.M. diz que não ficou traumatizado, mas gerou um sentimento de impotência e angústia por não ter conseguido fazer nada. Segundo a psiquiatra Jessica Barbosa Lima, esse sentimento após algum acontecimento violento se faz presente e pode acarretar em mudanças de comportamento. “É o fator surpresa, porque ninguém espera que alguém vai morrer de uma forma violenta, de uma hora para a outra. É um misto de sentimento, como impotência, revolta, vingança e vazio. Além de um total medo e insegurança de acontecer com a gente mesmo”. 

CASOS DE VIOLÊNCIA MARCANTES NO ABC MANÍACO DO PARQUE:

ELOÁ:

CELSO DANIEL:

Francisco de Assis Pereira, ficou conhecido como o “Maníaco do Parque”. Ele ganhou este codinome porque, em 1998, matou e estuprou seis mulheres e tentou assassinar outras nove no Parque do Estado, em São Paulo. O homem abordava suas vítimas, todas elas mulheres e jovens, na rua em locais públicos. Ele se apresentava como agente de modelos e levava-as até o parque, onde cometia os crimes.

Este caso ficou marcado por ser o mais longo sequestro em cárcere privado já registrado pela polícia no país, por mais de 100 horas. Durante a cárcere privado, a apresentadora Sônia Abrão conversou ao vivo o sequestrador Lindemberg Alves, interagindo com ele. A repórter Zelda Mello, da Rede Globo, e outro repórter da Folha Online também entrevistaram o sequestrador.

Em 2002, o então prefeito de Santo André pelo Partido dos Trabalhadores, foi sequestrado quando saía de uma churrascaria em São Paulo. O caso ficou marcado e causou grande repercussão por ser um crime que não teve conclusão até hoje. Dentre as hipóteses do que teria levado o assassinato é a de crime político, porque o então prefeito tinha, supostamente, um dossiê sobre a corrupção na cidade. 


GASTRONOMIA

Ricardo Henriques

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OS CHURROS existem há muitos séculos e não se sabe com exatidão onde surgiram. Muitos dizem que a receita pode ter origem na China, na época da dinastia Ming. Outra teoria, é a de que os árabes a trouxeram quando tomaram posse da Península Ibérica. E há ainda aqueles que falam que pastores espanhóis criaram a iguaria, pois não era fácil, no alto das montanhas, conseguir o pão fresquinho do dia. Independentemente da origem, os churros se popularizaram e hoje são conhecidos em diferentes partes do mundo. Eles têm várias formas, sendo consumido de diferentes maneiras, dependendo do país em que se encontra. Na Espanha, se come sem recheio e até em versões salgadas; já na Argentina e no Uruguai, é consumido com recheio servido à parte; no Brasil, o doce vem dentro da massa. Quando perguntado para os vendedores de churros do Rudge a origem da receita, a resposta foi a mesma: “Os churros vieram da Espanha, não é?”, indagou Marcelo Nakamura, proprietário do “Marcelo Salgados,” lanchonete local que fabrica churros há 35 anos. Qualquer que seja a sua origem, os churros são considerados tipicamente espanhóis, mas também são populares na América Latina, França, Portugal, Estados Unidos, México, Colômbia e nas ilhas caribenhas de língua espanhola. No Brasil, os churros têm vários sabores característicos e diferentes, como explica Roberta Dias, proprietária da lanchonete “Carol Coxinhas”, que no dia 22 de março desse ano, distribuiu churros de graça em alusão ao dia do churros. “O sabor que vendemos mais é o de doce de leite, mas temos também os recheios de cho-

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Fotos: Ricardo Henriques/RRJ

Arquivo pessoal

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virou brasileiro De origem incerta, iguaria é reinventada com diversos sabores, formatos e até versão gourmet colate e os churros gourmet, incrementados com Kit Kat e Ferrero Rocher”. Também é comum no Brasil o comércio de churros em carrinhos de ambulantes na rua. Cassia Tavarez, moradora do Rudge, diz que o churro lhe traz recordações de infância. “Sempre compro churros quando o carrinho passa, me lembro da época de criança que todo domingo, o carrinho passava gritando, e minha mãe acabava comprando”. A memória afeitva em

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O Brasil é o único país onde o recheio vem dentro da massa. Mas existem outros tipos de recheios que acompanham o churros

relação à iguaria também é ressaltada por Leda Apoloni, outra moradora do bairro. “Prefiro fazer churros em casa, pois minha avó passou a receita para minha mãe e, consequentemente, veio para mim, agora eu estou na responsabilidade de fazer. Eu gosto muito porque

TEMPO DE PREPARO: 30 minutos RENDIMENTO: 9 porções INGREDIENTES • 250 ml de água • 2 colheres (sopa) de açúcar • 2 colheres (sopa) de margarina ou manteiga sem sal • 1 pitada de sal (se a margarina tiver sal, dispensar a pitada) • 300 g de farinha de trigo • 3 ovos

os ingredientes são fáceis e minha família adora”. O chefe de cozinha Gustavo Coppini, especializado em confeitaria, diz que o fato de ser simples é que faz o sucesso do churro. “Eles são populares porque são gostosos e cabem no bolso das pessoas. Além disso, podem

• óleo para fritar • açúcar e canela misturados para passar os churros depois de fritos • doce de leite MODO DE PREPARO 1. Aqueça a água em uma panela, abaixe o fogo e acrescente a margarina e o açúcar 2. Mexa bem, até dissolver toda a margarina 3. Acrescente aos poucos a farinha de trigo, mexendo sempre, até que a massa desprenda da panela 4. Tire do fogo e acrescente os ovos um

ser feitos de muitas maneiras, com diversas receitas. Hoje, temos até bolo sabor de churros”, diz Coppini. E sempre há outras vantagens: atualmente, redes de supermercados vendem churros congelados para fritar em casa, que ficam prontos em cinco minutos. 

a um, mexendo bem até misturar toda a massa 5. A seguir, coloque a massa num saco de confeiteiro com o bico em formato de pitanga, ou na forma própria para churros 6. Aperte, já dentro da frigideira com o óleo quente, o tamanho fica a seu critério, corte com a ponta dos dedos ou com uma faca 7. Depois de frito, coloque em papel toalha para que absorva a gordura 8. Em seguida, passe pelo açúcar com canela e recheie com doce de leite

FONTE: www.tudogostoso.com.br


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Dia da Consciência NEGRA Grupos de Diadema encontram na militância formas de lutar pela questão racial

Fotos: Lucas Montagnini/RRJ

Essas políticas são importantes para valorizar os nossos tempos, as nossas lutas e conquistas. Resistência vamos ter sempre, mas temos que alertar que todos temos o nosso espaço e que a oportunidade e igualdade é para todos”, disse. Jurandir de Souza, Coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Diadema Lucas Montagnini

AO SE PENSAR no assunto “escravidão”, logo nos vem à cabeça os tempos do Brasil Colônia, quando os negros trazidos da África eram usados como mão de obra para trabalhos forçados. As marcas deste período trazem reflexos até hoje para a sociedade, que ainda não conseguiu igualar as discrepâncias socioeconômicas entre os negros e o resto da população. Mesmo após 130 anos da assinatura da Lei Áurea, que garantiu a liberação dos escravos, a luta dos negros continua, apesar de conquistas evidentes. Entre os avanços está a promulgação de 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, por meio da lei nº 12.519, insti-

tuída oficialmente em 2011. A data é em homenagem a Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares e importante figura negra que lutava contra a escravidão. Apesar de não ser feriado nacional, esse dia é lembrado em mais de mil municípios do país. Diadema é a quarta cidade com a maior população negra do Brasil e adota políticas que visam discussões raciais, combate ao racismo, ao preconceito e à discriminação. Esse trabalho é realizado pela Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Creppir), que fica sob coordenação do gabinete do prefeito. Como parte das atividades realizadas pela coordenadoria, Diadema comemora, desde 2000, o Dia Nacional

da Consciência Negra com a festa Kizomba. O evento realizado anualmente conta com uma programação diferenciada a cada edição para celebrar a cultura, tradições e direitos dos negros com o objetivo de difundir a cultura afro-brasileira no município. Para o coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Diadema, Jurandir de Souza, a questão racial sempre esteve presente na cidade, mas como está muito pautada nos dias atuais, é fundamental se destacar a identidade do povo negro. “Essas políticas são importantes para valorizar os nossos tempos, as nossas lutas e conquistas. Resistência vamos ter sempre, mas temos que alertar que todos temos o nosso espaço e que a oportunidade e igualdade é para todos”, disse.

Além da coordenadoria destinada às discussões raciais, a cidade possui diversas pessoas e grupos engajados com a discriminação racial. É o caso de Tânia Dandara, militante do movimento Negros Raízes da África, há 27 anos. Ela conta que o grupo busca combater toda e qualquer forma de discriminação de raça, cor, gênero e opção sexual. “Dialogamos com a população de diferentes faixas etárias, principalmente os adolescente e jovens negro. Ainda há muito o que avançar; precisamos levar esta discussão sobre a questão racial para os bairros, núcleos habitacionais e ampliá-la nas redes de ensino”. Outro importante grupo é o da comunidade Negra do Campanário. Formado em sua maioria por mulheres do Bairro do Campanário, as ações envolvem trabalhos artísticos para que a cultura afro seja preservada e valorizada. Membro do grupo, Márcia Damaceno conta que além de workshops de danças africanas, confecção de roupas afro e artesanato, os integrantes trabalham nas

Monumento em Diadema homenageia migrantes negros que vieram à cidade

formações do curso de Ensino da História da Cultura Afro Brasileira e Africana. “Em algumas apresentações artísticas em escolas, sofremos preconceitos por parte de alunos que nos dizem que somos macumbeiras. Por isso, realizamos uma formação com os professores e estudantes na questão da cultura negra”. Além de fazer parte do grupo, Márcia Damaceno é autora do livro “Estratégias de combate ao racismo: Estudo de casos na cidade de Diadema”, que traz relatos de vida e lutas das mulheres negras do Campanário. “A proposta do livro é deixar para a nova geração como se deu a formação das entidades e movimentos negros da cidade, que nasceram para enfrentar o racismo. Cada entidade ou movimento com características próprias, mas que todos juntos tornam fortes no enfrentamento ao preconceito”. 


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SAÚDE

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1º de dezembro é o Dia Mundial contra a Aids Data busca conscientizar sobre o contágio do HIV e combater o preconceito Gianluca G. Gimenes / RRJ

Gianluca G. Gimenes

O DIA MUNDIAL de Combate a Aids é celebrado no dia 1º de Dezembro. O objetivo da data é conscientizar as pessoas sobre as formas de transmissão, contágio e tratamentos, melhorar a comunicação, promover a troca de informações e experiências e criar um espírito de tolerância social, combatendo, assim, não só a doença, mas, principalmente, o preconceito. A escolha da data foi uma inciativa da Assembleia Mundial de Saúde, em outubro de 1987, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU). O símbolo é o laço vermelho, criado anos depois, em 1991, que representa a solidariedade e o comprometimento. Em Santo André, a Organização de Solidariedade, Trabalho e Respeito a Aids (Ostra) faz um importante trabalho de assistência a portadores do HIV e conscientização da população. Fundado em 1994 e funcionando como grupo de apoio, a entidade, atualmente, atende 60 famílias cadastradas, cerca de 240 pessoas, que recebem cesta

Organização de Santo André, formada por voluntários, funciona como grupo de apoio a portadores do vírus

de alimentos, roupas e espaço para palestra e convívio. Todo o trabalho é voluntário. A organização se mantém financeiramente graças a doações que abastecem o bazar, que funciona as segundas e quintas-feiras, das 13h às 17h, na garagem da sede da instituição (avenida Gago Coutinho, 426, no bairro Sacadura Cabral). Os custos da entidade vão desde

o salário de uma assistente social até a gasolina para o veículo que passa nas casas recolhendo as doações. A maior parte dos trabalhos da Orgnização é direcionado às pessoas portadoras do HIV que fazem o uso dos antirretrovirais e precisam de uma alimentação melhor elaborada por conta dos efeitos colaterais. Isso inclui leite e até alguns suplementos

que são receitados sob orientação de um nutricionista do Ambulatório de Referência para Moléstias Infecciosas (Armi), que trabalha em parceria com o grupo . J.A.S., 63, é portador do vírus HIV há 32 anos e trabalha como voluntário na Ostra, há 10 anos. Quando chegou, estava passando por muitas dificuldades e recebeu todo apoio necessá-

HIV é a sigla em inglês (Human Immunodeficiency Virus) do

vírus da imunodeficiência humana. Causador da Aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. E é alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.

O que é HIV

TER O HIV não é a mesma coisa que ter Aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção. Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações.

BIOLOGIA - O HIV é um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae. Esses vírus compartilham algumas propriedades comuns: período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença, infecção das células do sangue e do sistema nervoso e supressão do sistema imune.

rio. Ele é chamado carinhosamente por seu apelido de infância, “Pelé”. Pelé afirma que tem limitações, mas que vive uma vida normal. Ele lembra que passou seis anos sem remédios e, por muito tempo, tomou os medicamentos de forma errada e isso “queimou o esquema” no tratamento. Hoje, ele tem consciência da importância do remédios, de saber conviver com o vírus, e ressalta a melhora nas possibilidades de tratamento. “Antigamente, o tratamento era muito forte, os remédios não eram eficazes e causavam efeitos colaterais horríveis. Hoje, tudo mudou”. Pelé revela ainda que perdeu as contas de quantas vezes já ficou internado devido a crises. “Muitas vezes, a recuperação era lenta, dolorosa e exigia muito de mim, que eu fosse forte”. Segundo ele, muitas pessoas não aguentam nem seis meses do tratamento, que varia de acordo com o metabolismo. “É importante ter uma saúde psicológica muito forte para superar todas as barreiras e ter apoio”. Mesmo com dificuldades, Pelé nunca deixou de ter uma vida ativa. Ele lembra que recebeu esse apelido na infância porque corria muito, e disse que seu sonho era ser bailarino. Ele dançou por muitos anos, além de sempre fazer ações beneficentes para diversas instituições. “Em 2004, no meu aniversário de 50 anos, eu recebi uma festa incrível com direito a tudo que eu gostava, estava todo mundo lá, me trataram com muito respeito e carinho”. 

ASSIM PEGA: • Sexo vaginal sem camisinha; • Sexo anal sem camisinha; • Sexo oral sem camisinha; • Uso de seringa por mais de uma pessoa; • Transfusão de sangue contaminado; • Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação; • Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados. ASSIM NÃO PEGA: • Sexo desde que se use corretamente a camisinha; • Suor e lágrima; • Picada de inseto; • Aperto de mão ou abraço; • Sabonete/toalha/lençóis; • Talheres/copos; • Assento de ônibus; • Piscina; • Banheiro; • Doação de sangue; • Pelo ar. Fonte: Ministério da Saúde (http://www.aids.gov.br)


RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Jade Richopo

PESQUISA feita pelo Ministério da Saúde neste ano mostrou que mais de 50% dos brasileiros entre 16 e 25 anos possuem o vírus do HPV. Além disso, 38% dos infectados registram um dos tipos mais perigosos, capaz de causar câncer. O vírus do Papiloma Humano, mais conhecido como HPV, é um grupo de vírus propagado sexualmente pelo contato da pele infectada. O uso da camisinha e também a vacinação são as formas mais eficazes de prevenção da doença, mas isso não exclui o risco do contágio, já que para o vírus se propagar basta o contato com feridas nos órgãos sexuais contaminados, por exemplo. A ginecologista Fernanda Albuquerque, de Santo André, diz que o número tão grande de casos, é explicado pela falta de orientação sobre a doença e educação sexual para os adolescentes. Fernanda também ressalta que, depois da contaminação, o vírus nunca mais sai do organismo, mas pode ficar incubado, sem se manifestar por anos. Por isso, é muito importante que exames preventivos sejam feitos regularmente. “A partir do diagnóstico de HPV, é preciso fazer os controles certinhos com o ginecologista, no mínimo uma vez por ano, por toda a vida”. Nas mulheres, as mudanças normalmente são internas como o aparecimento de manchas na parede do útero, que são detectadas em exames como o Papanicolau. O HPV deve ser investigado e avaliado, pois em alguns casos pode causar o câncer de colo de útero, pescoço, cabeça e garganta. A advogada C.R., 23, de São Bernardo, conta que descobriu que possuía o vírus no inicio de 2017 na realização dos seus exames de rotina no ginecologista. Carolina conta que não tinha tomado a vacina de prevenção, nem usava preservativo nas suas relações e que, após o descobrimento, faz exames regularmente. “Não fiz mudanças na minha vida, mas preciso fazer o exame preventivo de seis em seis meses”. A advogada diz ainda que não acha a campanha contra a doença eficaz. “O assunto não é bem divulgado. Assim como acredito que falta divulgação acerca da necessidade de fazer o preventivo regularmente. Eu já tinha esse

SAÚDE

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Fotos: Jade Richopo/RRJ

Mais de 50% dos

brasileiros entre 16 e 25 anos têm o vírus HPV

Uso do preservativo evita o contato com DSTs, além de previnir contra o HPV, um dos causadores do câncer de colo de útero

Com pouca informação, grande parte da população possui o vírus e não sabe costume, então, descobri bem no início, não tive nenhum prejuízo causado pelo vírus, mas quem não tem o habito pode só descobrir quando ele já está se manifestando, com o aparecimento de verrugas e tudo mais”. O estudante de Santo André, G.N, 20, descobriu que possuía HPV faz um ano, indo ao urologista, por conta do aparecimento de verrugas”. Ele explica que não usava preservativos nas suas relações, mas que depois da descoberta começou a fazer o uso, e que os meninos

não são alertados nem orientados sobre a doença. “Eu acho que devemos ter a mesma frequência de consultas e visitas ao urologista que as mulheres no ginecologista”. G.N falou ainda que os meninos não são incentivados a ir ao urologista “Minha primeira consulta com especialista foi aos 18 anos, só depois de quatro anos da minha iniciação sexual ativa”. O estudante já passou por três cauterizações de verrugas e explicou que sempre que algo aparece, retorna ao médico.

A campanha de vacinação do HPV é feita pelo SUS há quatro anos e é considerada a forma mais eficaz de prevenção. A vacina previne contra cinco tipos do vírus e diminui em 98% o aparecimento de verrugas. A campanha voltou a ter força na rede pública a partir de 2016, com foco na vacinação de meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 13. Na rede privada

Vacinação contra o HPV é realizada na rede pública e privada, durante todo o ano

outras pessoas de todas as faixas etárias podem tomar a vacina, em qualquer época do ano. 


ESPORTE

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Fotos: Carolina Peliciari/RRJ

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62 anos dede História História

NACIONAL VILA VIVALDI Carolina Peliciari A VILA VIVALDI é sede de um dos mais importantes times da Liga de Futebol de São Bernardo, o Esporte Clube Nacional Vila Vivaldi. A equipe completou 62 anos em maio deste ano e atualmente está no grupo B da Divisão Especial do Campeonato. O clube nasceu da união entre dois times, o Nacional de Rudge Ramos e o Esporte Clube Vila Vivaldi. Até 1955, as equipes jogavam em áreas diferentes do bairro. Mas na época, Julio Gimenez, um dos jogadores do Nacional de Rudge Ramos, propôs aos jogadores do Vivaldi uma fusão entre as equipes. Algumas condições foram impostas para que a união acontecesse. Uma delas é que o time do Nacional teria que incorporar Vila Vivaldi no nome e o campo teria que ser no campo do Vivaldi, onde atualmente é a empresa Termomecânica. Assim, no dia 1º de maio de 1956 foi formado oficialmente o Esporte Clube Nacional Vila Vivaldi. A história do Naça, apelido dado à equipe pelos torcedores, pode ser conhecida por meio de relatos de personagens que viram de perto as transformações do Nacional. É o caso do jornalista e ex-presidente do clube, José Contreras Castilho, que escreveu o livro “Esporte Clube Nacional Vila Vivaldi: História do sítio do coronel Camargo”, que conta a história da construção do bairro paralelamente a formação do time. Castilho lembra que sua relação com o time começou na infância, quan-

Equipe surgiu em 1956 a partir da união entre dois times do bairro Foto: Arquivo/Livro História do Sítio Coronl Camargo

Acima, sala de troféus conquistados pela equipe; abaixo, time do Esporte Clube Nacional Vila Vivaldi com faixa de vice-campeão da Liga de São Bernardo em 1963

de bolsa nas aulas, para que crianças em situação de vulnerabilidade social possam participar. “Não priorizo somente a questão da formação do jogador nas minhas aulas, mas sim a questão de caráter e disciplina, para que essas crianças se tornem bons cidadãos no futuro.” do passou a frequentar o campo. “Aos oito anos, comecei a jogar pelo infantil do Nacional e aos 30 fui presidente do Clube [de 1982 a 1985]”. Em 1968, a prefeitura da cidade resolveu construir um estádio para o Nacional, mas, nesse mesmo período, outro time do bairro, o Aliança Clube, começou a ganhar força. Ao contrário do Naça, o Aliança era bancado por empresários que tinham influência no meio político e, descontentes ao ver o Nacional ganhar um estádio, o time entrou na justiça e conseguiu os direitos de uso do estádio. Quase 15 anos depois, a prefeitura analisou a situação e reconsiderou a concessão. “Em 1982, durante a minha gestão, o estádio foi passado para

o Nacional, por meio do Decreto de Cessão Real de Uso, do prefeito Tito Costa”, conta Castilho. O atual tesoureiro do Clube, Carlos Roberto Pistoia, que também já foi presidente por seis vezes, conta que sua história com o time começou na adolescência, quando, em 1957 (mesmo ano e m que o clube disputou seu primeiro campeonato na Liga de São Bernardo), deixou o interior de São Paulo e veio com a família para a Vila Vivaldi. “O patrão do meu pai comprou um terreno para a minha família, onde atualmente é o Tênis Clube. Como o campo do Nacional era próximo da minha casa, comecei a frequentar”. Pistoia conta que no início da década de 60, o campo era de terra e a es-

trutura do clube era precária. No final dos anos 90, o clube construiu duas quadras de futebol society, onde são realizadas as aulas da escolinha e que podem ser alugadas aos finais de semana. Além de buscar bom desempenho nos campeonatos, o Clube visa realizar ações sociais para as famílias que moram na região, em especial para as crianças. Segundo Pistoia, todo ano no dia 12 de outubro o clube compra presentes e distribui para as crianças. “Nós colocamos brinquedos, fazemos lanches no salão de festas e distribuímos. É uma tradição do Clube”, diz. Marcos Lima, professor da escola de futebol do Nacional, conta que um dos projetos para o ano que vem é implantar 30%

Fumaça Azul Em 2013, um grupo de torcedores apaixonados pelo Nacional Vila Vivaldi se mobilizaou e fundou a torcida organizada, chamada Fumaça Azul. O atual presidente, Leandro Almeida, conhecido como Lelé, conta que o dinheiro utilizado para acompanhar o time nos jogos é obtido pela própria torcida. “Arrecadamos com vendas de camisas e agasalhos da torcida, e organizamos alguns eventos, como uma festa que aconteceu este ano em comemoração aos cinco anos da Fumaça Azul.” Atualmente, em média 80 torcedores participam ativamente dos jogos do clube. “Quando as partidas são em lugares distantes, vendemos rifas para alugar ônibus e ir acompanhar os jogos.Torcida é isso, seja jogo em casa ou jogo fora”, diz. 


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ESPORTE

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De 14 a 28 de novembro de 2018

Handebol: Hulk relembra sonhos e trajetória na Metodista Ex-jorgador participou do time, que chegou a ser a base da seleção brasileira Letícia Maria

EM UMA soma rápida, são mais de 180 troféus, histórias e conquistas eternizadas na Universidade Metodista. No campus Rudge Ramos, conforme o caminhar de Almir Albuquerque dos Santos Junior junto à exposição de troféus, três pessoas que passaram pelo nosso caminho o cumprimentaram, e um deles mostrou-se feliz ao ver a cena clássica do ex-jogador ao lado dos grandiosos objetos. Tudo é história através da concretização de inúmeras vitórias ao longo dos 24 anos da Associação Desportiva e Cultural Metodista, o time de handebol da universidade. Nascido no Rio de Janeiro, Hulk, como é conhecido, teve a oportunidade de cursar educação física após ingressar em um time de handebol na cidade. Hoje ele carrega consigo não apenas o nome, mas toda a história por trás do início do que teve longos anos de glória. Foi chamado para jogar na Universidade Metodista em 1993. Um projeto do curso da própria instituição, em parceria com a prefeitura, para alavancar o talvez segundo maior esporte do

Fotos: Letícia Maria/RRJ

Exposição de troféus no campus Rudge Ramos da Universidade comove o ex-atleta Almir Albuquerque Jr.

Brasil após o futebol. Estava treinando na seleção de quadra em Santa Maria, no sul do país, e na seleção brasileira de handebol de praia no Rio. “Eu estava descansando em um hotel à tarde depois de um treino naquele calor absurdo da areia e surge um telefonema. Era o Alberto Rigolo, técnico da

então equipe Metodista, dizendo que ia começar a ter um time adulto também e queria que eu competisse por esse time”. Até então, existia apenas a equipe júnior de handebol. Após o convite, juntamente com ofertas de moradia e recursos, Hulk decidiu se mudar para São Bernardo.

Jogou naquele ano e trouxe vitória no campeonato paulista da época. “Olha que loucura. Cheguei aqui em um ano, fui campeão paulista e já recebi uma proposta no outro ano para sair daqui”. O jogador relembra a intensidade desse ano vivido. Detalhes que marcam a memória de um dos tantos responsáveis pelo iní-

Esperança para o futuro: categoria mini-mirim tem mais de 80 atletas O SEGUNDO semestre de 2018 trouxe muitas surpresas e mudanças para o time de handebol da Metodista. Atualmente, trata-se do mini-mirim, que atende crianças de seis a 12 anos interessadas no esporte. Na sexta-feira (26), a Universidade apresentou ao público os patrocínios e o novo uniforme. O time é mantido pelo curso de educação física que, a partir de agosto, teve um salto positivo. Novos interessados em praticar o esporte mostraram otimismo frente à equipe do técnico Diego Melo, que

investiu desde 2007 na reviravolta para o mini tomar força. Especializado na categoria, Melo foi desafiado pela Universidade a “não deixar morrer o handebol”. E conta: “eram poucas crianças e não tinha dinheiro. Os pais que me pagavam para eu treiná-las e, por insistência, deu certo. Um ano depois temos dez vezes mais alunos”. Hoje, são mais de 80 alunos. Com apoio, estrutura e planejamento, incluindo das famílias, as crianças movidas pelo professor refletem a qualidade nos treinos. Segundo Melo, o handebol só

cio das vitórias no Handebol Metodista. “Dentro desse ano que fiquei no time, lembro da relação de amizade com a galera do grupo. A gente tinha muitas brigas, mas nada perto das alegrias que tínhamos juntos”. Hulk pontua o sentimento de comunidade que envolvia o time. “Hoje em dia, os times são enfraquecidos por serem o oposto: muito individuais. A gente era mais comum do que indivíduo e o grupo era forte por conta disso”, completa. Em 1995, o atleta se retirou do time e foi jogar handebol em Guarulhos, fazendo com que competisse contra a Metodista inúmeras vezes – e presenciasse, inclusive, incontáveis vitórias da adversária. “A Metodista ganhou quando eu estava, mas quando saí continuou ganhando. Esse espírito perdurou. Teve uma época que ganhou quase tudo, não sobrou nada para ninguém”. “Quando eu parei de jogar em Guarulhos, a universidade me chamou para inaugurar essa sala aqui em 2000”. Hoje, ele monitora alunos que se exercitam na academia do Edifício Ípsilon no campus Rudge e diz que se sente agradecido ao handebol pelas oportunidades que teve ao longo dos anos. “Vejo o handebol como instrumento de transformação na minha vida”. E completa, “acredito que não apenas o handebol, mas todos os esportes podem fazer isso com tanta gente que está por aí sem esperança alguma”.  Sob a responsabilidade do técnico Diego Melo, crianças treinam no campus Rudge

tem a crescer com a faixa etária a partir dos seis anos, porque antes ensinava com dez. “Você começa a introduzir coisas mais avançadas e desenvolve também a modalidade. É um ganho de cinco anos em relação à toda a parte cognitiva, além de ser a melhor fase motora para se ensinar”, explica.

Expectativas envolvem toda a comissão técnica da equipe. Para um dos estagiários do grupo Bruno Archanjo, é a empolgação que resume essas mudanças. “Depois que o time profissional da Metodista saiu, a gente ficou sem rumo e não havia patrocínio. Quando o Melo começou a ir atrás

e começou a falar com outras pessoas, isso mudou”. Como perspectiva principal, a busca é aumentar o atendimento, chegando ao infantil, a partir dos 12 anos. Os pais dos alunos também estão envolvidos nesse sentimento. A professora Julie Pereira, mãe do Carlos Henrique, de 9 anos, deseja sucesso para o grupo. “Não temos um time competitivo adulto, mas quando você começa a dar uma base sólida, ela tem todo um caminho traçado”. Diego Melo completa: “na verdade, o mini sempre vai ter. Se terá o resto, a gente não sabe. Mas sei que, se houver uma base forte, eu vou ter um adulto. Para mim a lógica é diferente”. 


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CULTURA

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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Fotos: Matheus Batista/ RRJ

Grupos de São Bernardo mantém viva a mantêm cultura dosdos SARAUS cultura Encontros costumam reunir autores amadores e profissionais, músicos e amantes da literatura Matheus Batista

QUEM PENSA que poesia e sarau são coisas do passado, que podem ser vistos apenas em filmes antigos ou novelas de época, está enganado. Aqui em São Bernardo, artistas e escritores vêm mantendo viva a cultura dos versos em verdadeiros encontros literários. É o caso do Bernarda Coletiva, um grupo de quatro escritores de São Bernardo que resolveram se unir para movimentar o espaço literário da cidade que, para eles, não é muito rico. O coletivo possui um perfil no instagram no qual publica poemas e textos dos integrantes e, junto a Câmara de Cultura de São Bernardo, promovem intervenções literárias abertas ao público. “Sentíamos falta de eventos de literatura e de uma cultura literária na cidade, então nos unimos para fortalecer esse cenário em São Bernardo”, explicou o escritor e um criadores do coletivo, Paulo Ribei-

Os organizadores do sarau disponibilizam poemas para que os participantes leiam durante o encontro

ro, no sarau promovido pelo Bernarda Coletiva e a Câmara de Cultura em homenagem ao Dia do Poeta, no mês passado. Foi o primeiro sarau realizado por essa parceria e contou

com vários poetas, músicos e escritores da cidade. Renan Prandini escreve desde criança, porém, no sarau sentia-se ‘poeta de primeira viagem’. Para ele, expor seus pensamen-

tos por meio de textos e versos sempre foi uma atividade presente em sua vida, mas compartilhá-los com o público ainda é um desafio. “A escrita em mim tem um efeito terapêutico,

Artistas precisam enviar um email para poderem se apresentar no sarau do Bernarda Coletiva

mas a publicação do que produzo é ainda algo muito novo”, conta. Prandini diz, também, que há pouca divulgação dos saraus da cidade e que vê esses encontros como um meio de socialização da literatura e um espaço para expor ideias. O estudante Ryan Portivez luta pela causa LGBT+ e encontrou na poesia e nos saraus uma forma de se manifestar. “Eu era tímido, mas, tinha muita coisa me incomodando; Então, comecei a escrever o que pensava e quando descobri o sarau resolvi trazer todos esses textos”, explica. Em São Bernardo, existe também o Sarau da Borda do Campo, comandado pelo músico e escritor Zé Campelo e que é realizado mensalmente sempre no terceiro sábado do mês, na Biblioteca Monteiro Lobato, no Centro. Este sarau, mais popular, conta sempre com convidados especiais como músicos e poetas renomados mas também abre espaço para que artistas amadores apresentem sua arte. “É um movimento que vejo ressurgir, além de ser saudável um espaço para discussão por meio da poesia”. Campelo fala que é preciso do apoio da prefeitura para que se consolide o hábito da população pelos saraus. “É uma cultura que havia se enfraquecido pelo período no qual os equipamentos da prefeitura ficaram fechados e não encontrávamos espaços”, disse. Silvio Pereira, coordenador do curso de Letras da Universidade Metodista de São Paulo, defende que os saraus sejam uma prática mais presente nos âmbitos escolares, desde o ensino básico ao superior. “Um lugar para se produzir e refletir artes políticas, é de grande importância abrir espaços para o debate da voz poética”, expressa. O professor conta que os saraus foram uma atividade social de importância no passado, e que o enfraquecimento dessa cultura acabou mudando as características dele, mas não a essência: “ser um espaço democrático para a exposição de ideias”. 


RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

CULTURA

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Fotos: Arquivo pessoal

ARTE HIPER-REALISTA O escultor Giovani Caramello, de Santo André, expõe suas obras no Centro Cultural do Banco do Brasil Gabriela Santos

QUANDO se fala em esculturas, peças mundialmente conhecidas, como Davi e Pietá, do renascentista Michelangelo, vêm à cabeça. Do Renascimento à contemporaneidade, muitas coisas mudaram, mas grandes nomes continuam se firmando no mundo. É o caso do andreense Giovani Caramello, 28, considerado o único escultor hiper-realista do Brasil. Alçando voos cada vez mais altos, o artista marca presença no Centro Cultural do Banco do Brasil, na exposição “50 anos de realismo – do fotorrealismo à realidade virtual”, até janeiro de 2019. A ligação de Giovani com as artes é antiga. Filho de uma artista plástica e de um contador, o artista autodidata teve todo o incen-

tivo necessário para seguir seus sonhos. Ao terminar o ensino médio, Caramello não sabia a profissão que gostaria de seguir, e optou por estudar modelagem tridimensional, fazendo animações e outros projetos. Porém, ao entrar em contato com as esculturas, com o intuito de aperfeiçoar seu trabalho no mundo digital, se apaixonou e, desde então, não parou mais de produzir. No início, ele fazia apenas trabalhos comerciais, como bustos e medalhas para empresas Mas, em 2014, um convite do Museu Municipal de Santo André mudou o curso de sua carreira. Foi aí que Caramello enxergou a oportunidade de produzir seus trabalhos autorais. A exposição de suas obras lhe rendeu comparações com um dos maiores nomes do hiper-realismo mundial, o australiano Ron

A OMA Galeria, localizada em São Bernardo (R. Carlos Gomes, 69), foi criada em 2013 por Thomaz Pacheco. O galerista abdicou de sua carreira como gerente de projetos em uma grande montadora para valorizar a arte. Com muito planejamento, atualmente gerencia a carreira de sete artistas, sendo seis deles do ABC, incluindo Giovani Caramello. “No começo, a principal pergunta era quando a galeria cresceria o suficiente para chegar a São Paulo. Com o passar do tempo, a relação com a região se tornou uma identidade”, afirma Pacheco.

Acima, o artista Giovani Caramello, esculpindo sua nova obra, “Nikutai”. Ao lado, a escultura “Sozinho”, seu primeiro trabalho

Mueck, que levou mais de 400 mil pessoas a uma exposição na Pinacoteca de São Paulo, em 2015. Apesar de a semelhança entre as obras dos artistas ser grande, Caramello não pretende ficar à sombra de uma de suas referências. “Com o tempo, comecei a fugir um pouco disso, porque não quero ser um segundo Ron Mueck, quero criar a minha própria imagem”, afirma o artista. Além da divulgação das peças do artista em sua primeira exposição, foi também no ano de 2014 que a OMA Galeria (leia quadro abaixo), que desde então representa Caramello, entrou em cena. “Antes do nosso encontro, aconteceu um ‘namoro’, principalmente pelas redes sociais”, relembra Thomaz Pacheco, dono do espaço em São Bernardo, sobre como se deu o contato entre galerista e artista. A partir de então, o nome de Giovani Caramello vem se destacando a cada ano. Em 2015, ele participou de sua primeira residência artística na Alemanha, onde coseguiu aprimorar a sua técnica, além de deixar uma de suas obras como marca

em outro continente. Seus trabalhos transpassam o realismo com um olhar introspectivo, e também são, em sua maioria, autobiográficos. Temas como ansiedade e medo são visíveis em suas peças, seja pela tensão depositada nos músculos das esculturas, ou nos olhares que, de tão profundos, parecem enxergar os espectadores com atenção. Se 2014 foi um ano de mudanças, 2018 promete ser um ano de confirmações para o artista. Após participar de feiras importantes como a ArtRio, no Rio de Janeiro, e a SP-Arte, três obras de Caramello, sendo uma delas inédita, a “Nikutai”, chegam a um dos maiores museus do país, o Centro Cultural do Banco do Brasil. Uma das esculturas à mostra, intitulada “Sozinho”, é a primeira obra da carreira do autor, e também uma de suas preferidas. “Essaexposição é uma grande conquista e uma grande responsabilidade”, afirma.  Serviço: Exposição “50 anos de realismo – do fotorrealismo à realidade virtual”: Centro Cultural do Banco do Brasil - Rua Álvares Penteado, 122 - Centro de São Paulo. Até 14 de janeiro de 2019. De quarta a segunda, das 9h às 21h. 


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