RROnline - Edição 1.023

www.rronline.com.br editorial@metodista.br

Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE

São Bernardo do Campo 4 De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014 4 Ano 34 4 Nº 1.023 CAIO DOS REIS/RRJ

Leia caderno sobre 60 anos da morte de Getúlio Vargas

3ESPORTES Metodista/S. Bernardo faz primeiro jogo na Liga Nacional de Handebol Pág. 11

5TERROR Cidade da Criança recebe evento com vilões e monstros Pág. 10

YAGO DELBUONI/RRJ

SERGIO NETO/RRJ

3FAIXA DE ÔNIBUS Motoristas são orientados e não há previsão para multas Pág. 6

POLÍTICA

- Rudge Ramos Jornal

6DE OLHO NA CÂMARA

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014

Proximidade das eleições contamina os trabalhos na Câmara Municipal

LEONARDO VANTINI/RRJ

LEONARDO VANTINI E OSCAR BRANDTNERIS

Câmara ficou quase vazia durante a sessão de quarta-feira, 27 de agosto

ELEIÇÕES

2

q A proximidade das eleições está interferindo nos trabalhos da Câmara Municipal de São Bernardo. Na sessão de quarta-feira (27/8), nenhuma votação foi realizada. Foram feitas várias interrupções e menos da metade dos vereadores esteve presente. Parlamentares atuam como cabos eleitorais ou coordenadores de campanha de seus partidos.

Segundo o presidente da Câmara, Tião Mateus (PT), o baixo quórum impossibilitou a retomada da sessão,

interrompida sob a justificativa de organizar os trabalhos legislativos. Ele próprio deixou sua função por volta das 11h por de problemas pessoais.

2014 conta O vereador Fábio Landi (PSD) assumiu a liderança da sessão.

A reportagem tentou conversar com Landi sobre a improdutividade do dia, mas ele não quis se manifestar.

Apenas o vereador Tavares (PCdoB) se licenciou, por dois meses, do cargo para dedicar seu tempo à sua campanha para deputado estadual. Em seu lugar, assumiu Josias João da Paz (PCdoB), conhecido como Gordo da Adega, membro do mesmo partido. g

6DE OLHO NA CIDADE

Faixa de pedestre vira estacionamento irregular LUCAS ALENCAR

q A faixa de pedestres da rua Enrico de Martino, entre o Parque Raphael Lazzuri e o Ginásio Poliesportivo Adib Moysés Dib, virou um estacionamento irregular de carros, aos sábados, pela manhã, e quartas-feiras, à noite, durante a feira livre que acontece no local. É que motoristas aproveitam a instalação das barracas e estacionam seus carros na faixa, dificultando a passagem de pedestres. Essa infração de trânsito é considerada grave, de acordo com o Detran-SP. O infrator, se fosse autuado, receberia cinco pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação) 4CONSELHO DIRETOR - Stanley da Silva Moraes Presidente, Nelson Custódio Fér – Vice - Presidente, Rev. Osvaldo Elias de Almeida - Secretário, Jonas Adolfo Sala, Aureo Lidio Moreira Ribeiro, Kátia de Mello Santos, Augusto Campos de Rezende, Marcos Vinicius Sptizer, Aires Ademir Leal Clavel, Oscar Francisco Alves Junior, Regina Magna Bonifácio de Araújo - Suplente, Valdecir Barreros - Suplente.

4REITORIA - Reitor - Marcio de Moraes, Pró-Reitora de Graduação - Vera Lúcia G. Stivaletti, Pró-Reitor de Pós-Grad. e Pesquisa - Fábio Botelho Josgrilberg

e multa de R$ 127,69.

Mas a autuação não aconteceu, pelo menos nos dias 9 de agosto, um sábado, e 20 de agosto, uma quarta-feira, quando a reportagem esteve no local por cerca de 40 minutos, presenciou vários motoristas cometendo a infração e não viu nenhum agente de trânsito na área (veja foto nesta página).

Nesses dias, por conta dos carros estacionados na faixa, os pedestres eram forçados a passar pela beirada da avenida Kennedy ou por dentro da feira para atravessar a rua. Muitas famílias com crianças precisaram fazer essa travessia perigosa para chegar ao parque.

E, além de ter se tornado um espa4DIRETORES - Sérgio Roschel (Diretor de Finanças e Controladoria), Daví Nelson Betts (Diretor de Tecnologia e Informação), Paulo Roberto Salles Garcia (Diretor de Comunicação e Marketing), Débora Castanha (Diretora do Ensino Básico), Carlos Eduardo Santi (Faculdade de Exatas e Tecnologia), Jung Mo Sung (Faculdade de Humanidades e Direito), Fulvio Cristofoli (Faculdade de Gestão e Serviços), Luiz Silvério Silva (Faculdade de Administração e Economia), Paulo Rogério Tarsitano (Faculdade de Comunicação), Rogério Gentil Bellot (Faculdade de Saúde) e Paulo Roberto Garcia (Faculdade de Teologia).

4COMUNICAÇÃO - Paulo Salles (Diretor).

LUCAS ALENCAR RRJ

ço ilegal de estacionamento, a faixa de pedestres da rua está quase apagada.

Próximo a ela, a cerca de 150 metros de distância, fica o Centro de Reflexão do Trânsito da cidade, que realiza atividades educativas para jovens e crianças

JORNAL

Rudge Ramos

editorial@metodista.br

Motoristas podem ser penalizados com cinco pontos na CNH ao parar em passagens

e onde permanecem agentes e veículos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

Em nota enviada por e-mail, a prefeitura, por meio da assessoria de imprensa, informou que “o Departamento de Engenharia de Tráfego tomará as providências cabíveis para coibir os estacionamentos irregulares no local”. No texto, porém, não houve resposta quanto ao questionamento da reportagem sobre a pintura quase apagada da faixa de pedestre. g

Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000

RUDGE RAMOS JORNAL - PUBLICAÇÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA FAC

DIRETOR - Paulo Rogério Tarsitano COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO - Rodolfo Carlos Martino.

REDAÇÃO MULTIMÍDIA - Editor-chefe - Júlio Veríssimo (MTb 16.706); EDITORA-EXECUTIVA E EDITORA DO RRJ - Margarete Vieira (MTb16.707); EDITOR DE ARTE - José Reis Filho (MTb 12.357); Assistente de Fotografia - Maristela Caretta (MTb 64.183)

4Equipe de Redação: Alysson Rodrigues, Amanda Goulart, Amanda Guilhen, Bruno Madrid, Bruno Yonezawa, Caio dos Reis, Fernanda Cordeiro, Gabrielli Salviano, Leonardo Vantini, Letícia Gomes, Lucas Alencar, Oscar Brandtneris, Renan Muniz, Sergio Neto, Thaís Souza, Vinícius Galvani, Yago Delbuoni e alunos do 5º e 6º semestres de Jornalismo.

4Produção de Fotolito e Impressão: Diário do Grande ABC

POLÍTICA

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014

ELEIÇÕES

e os candidatos de São Bernardo nas eleições deste ano dependessem de cavaletes expostos nas ruas para exibir suas campanhas para serem eleitos, nenhum deles teria sucesso.

Ao menos é o que mostra uma enquete feita pelo Rudge Ramos Jornal com 55 eleitores espalhados pela cidade.

Nas últimas duas semanas, a reportagem ouviu eleitores em três bairros para conferir se os cavaletes realmente são eficazes como forma de exibir, tornar os candidatos conhecidos e ajudar na decisão do voto: Centro, Rudge Ramos e Alves Dias. E o resultado não é bom para quem resolveu investir nesse tipo de propaganda.

Dos 55 entrevistados, 37 afirmaram que na eleição de 2010 não se basearam nessa forma de divulgação para escolher em quem votar.

Além disso, 41 nem sequer lembraram em quais nomes votaram para deputado estadual e federal.

Para Adolpho Queiroz, doutor em comunicação social e sócio da ABCOP (Associação Brasileira dos Consultores Políticos), os cavaletes eleitorais são utilizados porque pesam menos no bolso do candidato, mas têm pouco retorno. “Quase nunca as placas de rua têm eficácia. Muitos cavaletes confundem e atrapalham, mas é um recurso popular e barato”, disse.

Outra razão apontada por Queiroz para o uso desse recurso é a televisão.

Ou melhor, a falta de espaço nela. “Há muitas placas de candidatos a deputados espalhadas nas ruas porque estes políticos não possuem tempo hábil na TV para conquistar votos”.

2014

Em gráficas de São Bernardo, os cavaletes são feitos de madeira com estampas de lona e custam, em média,

Eleitores reprovam uso de cavaletes políticos para

Confira no rronline.com.br

Rudge Ramos Jornal - 3

R$ 60 Em gráficas de São Bernardo, os cavaletes são feitos de madeira com estampas de lona e custam, em média, R$ 60. A gráfica Agilize, no bairro São José, é uma das que receberam encomendas para a criação dessas placas.

De acordo com Cleide Ferreira, uma das donas da empresa, um dos candidatos pediu a confecção de 100 cavaletes. Na eleição de 2012, cinco candidatos, segundo ela, recorreram aos serviços da gráfica.

Mas, se depender de Celso Luiz Barbosa, 34, será dinheiro gasto em vão. Eleitor há mais de 15 anos, Barbosa trabalha no suporte técnico de uma empresa de comunicação e é um dos que se dizem não influenciados por esse tipo de propaganda. “Essa publicidade não mostra as ideias do candidato, e sim que não sabem investir o dinheiro da campanha para informar de verdade a população”, falou.

(ALYSSON RODRIGUES, AMANDA GOULART, BRUNO MADRID, LETÍCIA GOMES, LUCAS ALENCAR, OSCAR BRANDTNERIS E THAÍS SOUZA) g

Mercado de franquias cresce 29% ao ano, diz pesquisa http://goo.gl/7uYfuF

CIDADE

cresce em SBC

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014

“

40 a 50% do lixo produzido na cidade é material que pode ser reaproveitado” Maurício Cardozo, diretor de limpeza urbana

“

4 - Rudge Ramos Jornal

DIVULGAÇÃO/ SECOM/PMSBC

q São Bernardo aumentou para 1,7% a quantidade de lixo reciclado no município. Contudo, esse número ainda está bem abaixo em comparação com outras cidades do ABC. Santo André, por exemplo, recicla 8% do total de resíduos produzidos.

No ano passado, São Bernardo reciclava 0,87% das 735 toneladas de lixo produzidas diariamente. Com a implantação da coleta seletiva porta a porta pela prefeitura, em junho, esse número quase dobrou em oito meses. De acordo com a administração municipal, a meta é aumentar a reciclagem na cidade para 10% até o fim de 2017.

Esse incentivo já foi notado por alguns moradores do Rudge Ramos. Luiz Alves, 81, aposentado, começou a separar o lixo de casa há alguns meses desde que o caminhão da coleta seletiva começou a passar na região. Ele conta que o projeto tem facilitado a separação para os moradores. “Antes, nós tínhamos que separar e levar o lixo no Mercado Municipal,.

Agora, o caminhão passa todas as segundas-feiras”.

O diretor de limpeza urbana da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, Maurício Cardozo, contou que é preciso uma sensibilização das pessoas para que a coleta seletiva aumente na cidade.

Segundo ele, existe um trabalho em conjunto com a Secretaria de Gestão Ambiental nas escolas, com 16 agentes ambientais ensinando as crianças sobre a importância de reciclar o lixo. “É muito mais fácil você falar para uma criança, educar uma criança de onde tem que jogar o lixo do que os próprios adultos”, declarou.

Cardozo afirmou que, até o final de 2014, está prevista a implantação da coleta seletiva porta a porta em toda a cidade de São Bernardo. O objetivo, de acordo com o diretor, é aumentar a coleta para 6% até o

final do ano.

Segundo a prefeitura, a coleta seletiva começou no Rudge Ramos, mas hoje já atende Taboão, Pauliceia, Jordanópolis, Mizuho (próximo à FEI), Nosso Senhor do Bonfim, Parque Selecta, Ferrazópolis, Jardim Laura, Bonfim, Silvina, Orquídeas, Indepêndencia, Assunção, Santa. Terezinha, Terra Nova 1 e 2, Demarchi, Nossa Senhora de Fátima, Dos Casa, Botujuru, Vila das Valsas e Jardim do Lago.

Até o momento, São Bernardo apresenta cinco ecopontos, localizados nos bairros Batistini, Montanhão, Parque dos Pássaros, Vila Vivaldi e Bairro dos Casa. Nos bairros em que eles não existem, os moradores podem levar o lixo aos Pontos de Entrega Voluntária. A lista,

Coleta seletiva porta a porta começou no Rudge Ramos e hoje já atende 25 bairros; coleta também é realizada em prédios residencias

com aproximadamente 200 pontos, pode ser acessada na internet pelo endereço http:// migre.me/hYlLp. A Secretaria de Serviços Ur-

ARQUIVO/RRJ

CAIO CUCCINO

São Bernardo produz cerca de

735 toneladas de lixo por dia

banos da cidade informou que a coleta ainda está em fase de implantação e o objetivo é ampliá-la, visto que dos milhares de prédios residenciais existen-

tes na cidade, apenas alguns participam da reciclagem.

Os condomínios que já faziam a coleta seletiva possuem recipientes próprios para a retirada do lixo. No entanto, a prefeitura planeja aumentar a participação desses residenciais na coleta seletiva. g

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014

Sustentabilidade viabiliza obra ANA CAROLINA PRADO

q O depósito indevido de lixo, além de prejudicar o meio ambiente, também causa doenças e riscos para as regiões próximas. Por conta disso, o papel das construtoras em incentivar a reciclagem desde a construção de seus empreendimentos é essencial.

A engenheira ambiental Karla Procópio, 20, falou sobre os investimentos das empresas e a importância para valorizar a sustentabilidade. “Na situação que estamos hoje, todas as construtoras devem ter uma produção mais limpa. Sem a geração de impactos ou degradações ao meio ambiente”, explicou.

Um exemplo é a MBigucci, que criou o programa Big Vida.

Ele monitora os dados de reciclagem das obras durante a construção. Com os dados em mãos, podem criar metas para controlar a quantidade de resíduos enviados às empresas recicladoras.

Além disso, a construtora faz reúso da água dos chuveiros, que passa por um tratamento e é reutilizada nas descargas dos canteiros. A MBigucci também usa iluminação natural feita com garrafas pet e água, colocadas nos escritórios em todas as obras e faz coleta seletiva dos resíduos, como gesso[, que se torna cimento.

“Reaproveitamos tudo que é possível. E o que não é, destinamos corretamente para as ATTS (Áreas de Triagem e Transbordos) e empresas recicladoras”, afirmou o diretor técnico da construtora, Milton Bigucci Junior. Dessa forma, a empresa busca contribuir com a queda do consumo de recursos naturais, evitando prejuízos ao meio ambiente.

A economia é outro ponto positivo da reciclagem e reaproveitamento, como contou o estagiário em engenharia civil da MBigucci Fábio Servantes.

“Por exemplo, se o carpinteiro usar uma chapa hoje e amanhã

DIVULGAÇÃO

SAIBA MAIS

As cores da reciclagem:

Espaço para a reciclagem de madeira na obra da MBigucci ele pegar outra, além de gastar mais madeira, o custo também é maior”, explicou.

No empreendimento Marco Zero, em São Bernardo, a MBigucci já conseguiu economizar cerca de R$ 80 mil apenas em pedras e britas feitas a partir da

Recicláveis são fonte de renda DIEGO PEDRESCHI RODRIGUES

q O lixo também é uma fonte de renda. Apesar de ainda ser ignorado por grande parte da população e ser um dos maiores problemas ambientais da atualidade, para algumas pessoas ele é questão de sobrevivência.

Segundo a Cooperativa Central de Catadores e Catadoras de Material Reciclável do Grande ABC, existem cerca de 1,2 mil catadores de rua na região.

Além deles, existem trabalhadores do setor registrados em cooperativas, com condições muito melhores.

Chaiane de Oliveira Andrade, 22, trabalha há mais de

um ano na Cooperativa Reluz, antiga Refazendo. Antes desempregada, na cooperativa ela consegue sustentar a família com o salário que ganha, cerca de R$ 1,2 mil. “Eu pago o aluguel, gente para olhar os meus filhos, perua. Dá para se manter.” Chaiane disse que já fez todos os serviços possíveis na Reluz, desde triagem até recolhimento de materiais nas empresas conveniadas.

Ela contou que não pretende continuar trabalhando no local quando conseguir um emprego melhor. “Mas ainda não tenho planos do que fazer”.

Como a Reluz é uma cooperativa, todos os lucros são divididos em partes iguais aos

Rudge Ramos Jornal - 5

CIDADE

reciclagem de entulho.

Outra saída para o investimento da sustentabilidade durante as obras é a contratação de empresas que se responsabilizam pela reciclagem dos materiais.

“Trabalhamos com uma empresa contratada, ela instala caçambas nas obras, e depois separa e recicla todos os materiais possíveis. Não lucramos com os materiais reciclados, o lucro fica para a empresa.”, DIEGO PEDRESCHI RODRIGUES/RRJ

• AZUL: papel; • VERMELHO: plástico; • VERDE: vidro; • AMARELO: metal; • PRETO: madeira; • LARANJA: resíduos perigosos; • BRANCO: resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde; • ROXO: resíduos radioativos; • MARROM: resíduos orgânicos; • CINZA: resíduo geral não reciclável ou misturado, ou contaminado não passível de separação. explicou a compradora Claudia Borali Parede, da Construtora Jacy de São Bernardo. Apesar de a construtora não receber lucro pela reciclagem, ela se desfaz do lixo sem degradar o meio ambiente. g

Catadores ganham entre

900 MIL

e

reais

Francisca Araújo e Claudemir da Silva, presidente da Reluz cooperados, cerca de 40 pessoas, de acordo com as horas trabalhadas de cada um. Os trabalhadores ganham, em média, de R$ 900 a R$ 1 mil por mês.

Francisca Araújo, 50, é catadora e trabalha há 14 anos na cooperativa. Espécie de presidente

Confira no rronline.com.br

não eleita, ela coordena todo o trabalho da Reluz. Remanescente do lixão do Alvarenga, ela diz que costumava ter vergonha de dizer que era catadora. “Mas agora tenho orgulho. Esse projeto foi uma faculdade da vida.

Se eu tivesse 10 faculdades, não

teria aprendido o que aprendi aqui”. Ela contou que, graças ao dinheiro que ganhou na cooperativa, seus dois filhos mais velhos se formaram no ensino médio e ela teve condições de construir sua casa em um terreno no Jardim das Orquídeas. Sobre seu trabalho, Francisca faz questão de explicar. “Não somos catadores de lixo, somos catadores de material reciclável”.g

São Bernardo reúne diversas opções de lazer http://goo.gl/vFUs6g

6 - Rudge Ramos Jornal

CIDADE

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014 YAGO DELBUONI/RRJ

Faixa exclusiva de ônibus funciona desde o último dia 11

Agentes seguem orientando na faixa de ônibus, mas sem multar THAIS SOUZA

q Motoristas de carros particulares ainda não estão sendo multados caso trafeguem pela faixa exclusiva de ônibus da avenida Dr. Rudge Ramos, que foi implantada no último dia 11 de agosto.

Conforme o diretor da ETCSBC (Operações da Empresa de Transportes Coletivos de São Bernardo), Alberto Aléssio Batista, o início das autuações estava previsto a partir desta semana. No entanto, não havia uma data precisa para que isso ocorresse, diferentemente do que foi publicado na edição passada do Rudge Ramos Jornal, que informou a data como sendo 25 de agosto.

“Ainda não estamos autuando por causa de alguns ajustes que ainda precisam ser feitos. Provavelmente daqui a duas semanas já estaremos aplicando multa aos infratores”, disse Batista.

Na segunda-feira (25), os agentes de trânsito estavam apenas orientando os motoristas para não estacionarem

ao longo da faixa e seguirem o fluxo pela esquerda da via.

Carol Abranchez, 26, é administradora de empresas e passou a utilizar transporte público nas últimas duas semanas, depois de uma pane mecânica em seu carro. “Até o momento, só tive problemas para chegar ao trabalho no primeiro dia de implantação da faixa exclusiva. Depois, o trajeto foi tranquilo.”

Na última terça-feira, entre 6h40 e 7h15, o trânsito na via estava mais carregado do que o normal. Alguns motoristas de carros particulares invadiam a pista como forma de escapar da lentidão.

A dentista Juliana Maciel, 36, estava esperando um ônibus que fosse em direção ao Sacomã e reclamou que, por mais que a faixa já tenha sido implantada, os carros continuam invadindo.

“O ruim é os motoristas não respeitarem. Hoje o transito está um pouco complicado, mas não é motivo para invadir a faixa e complicar para os ônibus também”, conta Juliana. g

Acesse o rronline.com.br e assista o vídeo sobre a primeira padaria drive thru do ABC, em São Bernardo

http://goo.gl/FfYXiO

Rudge Ramos www.rronline.com.br editorial@metodista.br

JORNAL DA CIDADE

São Bernardo do Campo 4 Quinta-feira - 28 de Agosto de 2014 4 Ano 34 4 Nº 1.023 (SANTOS, SP, LAÉRCIO/ACERVO UH/FOLHAPRESS)

60 anos depois O presidente da República, Getúlio Vargas (esq.), em visita a Santos (SP)

do suicídio do presidente Getúlio Vargas, muitas de suas políticas influenciam a sociedade brasileira. Carteira de trabalho e até a consolidação de leis trabalhistas ainda vigoram no país

2-

QUINTA - FEIRA - 28 de Agosto de 2014

Rudge Ramos Jornal

ISTO É GETÚLIO 1882 - Nasce em 19 de abril em São Borja 1907 - Se formou na faculdade de direito de Porto Alegre 1909 - É eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul 1924 - É eleito deputado federal 1926 - Washington Luís o nomeia Ministro da Fazenda 1928 - Deixa o cargo e se torna governador do R. Grande do Sul 1930 - Assume a Presidência da República após um golpe de estado (Governo Provisório) 1932 - Revolução Constitucionalista em São Paulo 1933 - Assembleia Nacional Constituinte 1934 - Estende a Constituição de 1934

1937 - Fecha o Congresso Nacional e instala o Estado Novo 1938 - Cria o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 1939 - Cria a Justiça do Trabalho, o salário mínimo e a CLT. Cria o DIP 1940 - Cria a Companhia Siderúrgica Nacional 1942 - Cria o Vale do Rio Doce 1945 - Cria a Hidrelétrica do Vale do São Francisco 1945 - Sai do governo após um golpe militar 1950 - Volta ao poder através de eleições democráticas 1954 - Em 24 de agosto, se suicida no Palácio do Catete

ESPECIAL

Era Vargas influencia país MAITÊ LEAL ISABELA KALIL

q As marcas de Getúlio Vargas ainda estão presentes na sociedade brasileira 60 anos após seu suicídio, em 24 de agosto de 1954. Isso porque foi sob seus governos que surgiram políticas importantes, como a carteira de trabalho e a organização sindical. Historiadores e sociólogos explicam que essa herança possui lados positivos e negativos e afirmam que a importância do presidente ultrapassa os limites do país: é internacional.

O surgimento da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), da Carteira Profissional e da organização sindical foram algumas das medidas tomadas por Vargas que, na época, o aproximaram das classes menos favorecidas e ainda influenciam o dia a dia dos brasileiros.

Outro fato que se pode observar na política atual que carrega grande influência do governo Vargas são as medidas “populistas”, segundo alguns especialistas. “Atitudes tais como bolsa família, e outras que vêm sendo desenvolvidas desde o governo de FHC até o de Dilma Rousseff, passando por Lula, nada mais são do que paliativos sociais ao melhor estilo varguista”, disse o professor de História do ensino médio Cleuton Junior.

Para o historiador, essa influência não é positiva. “Ao dar um pouco de benefícios, o povo

MAITÊ LEAL/RRJ

GETÚLIO NA LITERATURA - Quem quiser saber um pouco mais de um dos presidentes mais enigmáticos e importantes da história política do Brasil pode ler “História Popular: Getúlio Vargas e Sua Época”, de Antônio Augusto Faria e Edgard Luiz de Barros (Global Editora), “Brasil: De Getúlio a Castelo”, do brasilianista e Thomas Skidmore (Atual Editora), e “De Getúlio a Getúlio, o Brasil de Dutra e Vargas, 1945 a 1954”, de Francisco Fernando Monteoliva Doratioto e José Dantas Filho (Editora Paz e Terra).

não percebe que ainda faltam outros aspectos a serem melhorados, e aí deixa-se de reclamar por estar satisfeito ao receber um mínimo necessário.”

Por ter consolidado leis e criado outras medidas trabalhistas, Vargas foi considerado o “pai dos pobres”. Porém, segundo a cientista social

Maria Antonia Dias Martins, o presidente não pode ser visto dessa forma. “O governo Vargas representou um desenvolvimento econômico, mas foi acompanhado por altas taxas de desemprego, baixos salários e outros problemas.”

A denominação populismo é outro fator que gera polêmicas.

Segundo Maria Antonia, o termo que foi utilizado para definir o governo Vargas não pode ser usado para caracterizar os governos atuais. “Hoje, o termo populista foi apropriado no dia a dia, e principalmente pela mídia, como sinônimo de demagogia, mas só pode ser usado para um período histórico.” g

Presidente governou como ditador e por meio das urnas GILBERTO PACHIONE JOÃO MARCOS

q Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Europa enfrentou uma de suas piores crises econômicas. Pobreza e miséria fizeram aparecer mais tarde movimentos políticos e ideologias totalitaristas, como o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália. O presidente Getúlio Vargas aderiu a esses movimentos a partir de 1930.

A Era Vargas se divide em dois períodos: O primeiro, de

1930 até 1945, conhecido como Estado Novo, governado de forma ditatorial por Vargas e com apoio de militares tenentistas.

Em 1939, Getúlio cria o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), que o ajudou a ampliar seu controle sobre o Estado e censurou as mídias.

“O movimento dos trabalhadores era conduzido pelos anarquistas. Mas, por conta de pressões populares, Getúlio cria leis trabalhistas. Institui o salário mínimo e a jornada de trabalho de 44 horas semanais,

que antes era de 14 a 16 horas no dia”, afirmou Vladimir Aguiar de Souza, 49, professor de história da escola Oscar Niemeyer, em São Caetano.

Francisca Maria, professora de história, 44, contou que, apesar de Vargas negar qualquer similaridade com regimes nazifascistas, a realidade política sustentada pelo Estado Novo desmentia isso. O nazismo transformou-se em fonte de inspiração para se construir um Estado Nacional uniforme e padronizado cultural e politicamente.

A professora disse que a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942, foi o que provocou a queda do nazifascismo. Brasil e EUA se relacionavam economicamente. Até antes de 1942, o Brasil era neutro na guerra.

Enquanto isso, a Alemanha afundava navios nas águas internacionais, inclusive uma embarcação brasileira.

Sob esse pretexto, Vargas viu a oportunidade para mudar de lado e se aliar aos vencedores da guerra contra Adolf Hitler. g

Rudge Ramos Jornal - 3

QUINTA - FEIRA - 28 de Agosto de 2014

ESPECIAL

PTB e PDT se consideram herdeiros do getulismo FRANCISCO LACERDA FABÍOLA SOUZA

q O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e o PDT (Partido Democrático Trabalhista) se dizem herdeiros do getulismo.

O primeiro PTB foi fundado em 15 de maio de 1945 por Getúlio Vargas. O partido surgiu com a proposta de privilegiar o capital nacional (bens disponíveis, patrimônio, riquezas etc.) e de dar garantias aos trabalhadores de seus direitos. Foi extinto durante o golpe militar, de 1964.

Ressurgiu depois, com a política de abertura que começou no governo militar de João Figueiredo. Em novembro de 1979, foi aprovada a reforma política no Brasil, que retomou o pluripartidarismo. A sigla então foi disputada por Leonel Brizola e pela neta de Getúlio Vargas, Ivete Vargas.

Até hoje a legenda usa as conquistas do período getulista como bandeira de luta.

Para Arnaldo Faria de Sá, deputado federal por São Paulo, o PTB, apesar de não ter a mesma força da época da fundação, continua seguindo os ideais de Getúlio e defendendo as bandeiras na área social e, principalmente, na trabalhista. “Historicamente, o PTB sempre esteve ao lado dos trabalhadores. Se em 54 era importante lutar pelo trabalhador, em 2014 também é.”

O parlamentar afirmou que a legenda também tem preocupação com a companhia petrolífera fundada por Getúlio em 1953 e que hoje frequenta as manchetes de forma negativa: a Petrobras. “O pe-

tróleo é nosso. O PTB luta desde aquela época para salvar a Petrobras.”

Já para Luiz Zacarias, vereador do PTB de Santo André, o partido se destaca e é reconhecido até hoje pelas conquistas obtidas pelos trabalhadores na época do getulismo. Mas ele defende que hoje deveria haver maior comprometimento dos políticos visando o bem comum. “Todos os partidos têm de ter posicionamento mais ideológico. Têm de ser mais sério.

O discurso é um e a prática é outra. Isso é uma dificuldade.”

PDT DE BRIZOLA Já o PDT nasceu em 17 de junho de 1979, depois da abertura política e após reunião de lideranças políticas com outras no exílio em Portugal, lideradas por Leonel Brizola. O objetivo era reavivar o PTB, do qual Brizola havia saído após divergências com Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio, e que havia assumido a liderança da legenda. O partido se dizia representante do legado deixado por Vargas.

De acordo com Major Olímpio, deputado estadual pelo PDT de São Paulo, o partido tem preocupação na manutenção das históricas vitórias nas reivindicações da classe operária. “As questões em relação às conquistas trabalhistas fazem com que haja a essência muito forte da herança do Getúlio por essa preocupação com os trabalhadores, com os mais pobres, com os excluídos.”

O parlamentar disse que a obrigação do partido com as causas da categoria

“O PTB continua seguindo getulismo” LETICIA CAMPOS

q O PTB mantém os ideais getulistas na busca pelos direitos para conquistar benefícios aos trabalhadores, disse Dinah Zekcer (foto), presidente do diretório da legenda em Santo André.

Leia trechos da entrevista.

Rudge Ramos Jornal: O partido se considera um herdeiro do getulismo?

Dina Zekcer: Sim. O partido continua seguindo o getulismo, especialmente na luta para benefício de todos os trabalhadores e na luta pelos direitos da classe.

RRJ: O que no programa do partido ainda representa o getulismo?

DZ: Dar continuidade ao trabalho que

foi desenvolvido desde o princípio. Atuando para chegar mais próximo dos trabalhadores e das comunidades.

RRJ: A sociedade ainda leva em conta o legado de Getúlio para votar na sigla?

DZ: Sim, mas são poucas as pessoas.

As mais antigas e que conhecem Getúlio Vargas sim, mas muitas nem sabem.

RRJ: Do legado getulista, o que precisa ser mudado hoje?

DZ: Melhoras na política que beneficiem os trabalhadores, como alterações no sistema do INSS para que ofereçam maiores direitos para a sociedade e os trabalhadores. g

vem desde aquela época e que esse tem de ser o tema em todas as eleições. “O ‘T’ do Trabalhista na sigla PDT não é apenas uma letra. É um compromisso fundamental do partido: a luta pelo trabalhismo.”

Ele contou que o presidente é pouco lembrado e, por isso, seu nome não é um fator que seja determinante para o aumento da quantidade de votos. “Não creio que aqui no Estado de São Paulo as pessoas votem na sigla em razão do Getúlio Vargas. “Na cidade de São Paulo há 14 mil quarteirões e não tem uma única rua com o nome de Getúlio Vargas.”

O cientista político Elio Augusto Lazzerini, professor na rede particular de ensino, afirmou que a herança deixada por Getúlio tem duas formas de interpretação, a populista e a nacionalista, e que cada partido usa a imagem do presidente para aumentar seu prestígio. Segundo ele, tanto PTB quanto o PDT se dizem herdeiros do getulismo, mas no dia a dia suas práticas políticas não condizem com seus programas partidários. “Se levarmos em conta o período da Nova República, considero o PDT um pouco mais fiel às grandes bandeiras do ex-presidente, postura favorecida pela existência de um genuino líder trabalhista: Leonel Brizola, este sim, um fiel escudeiro de João Goulart, o legítimo sucessor de Vargas.”

Ele contou que argumentos ideológicos e símbolos históricos, como Getúlio, não possuem mais a força de convencimento que tinham. De acordo com o professor, o Brasil vive atualmente “crise de autorida-

CONHEÇA MAIS LIRA NETO se debruçou sobre vasta gama de documentos para ajudar a decifrar o governo de Getúlio e mostrar como foi possível que ele se transformasse em indivíduo revolucionário, ditador , reformador social e demagogo. 664 páginas; em média .

R$ 26,25) DANIEL RODRIGUES reúne dados políticos e biográficos que contribuíram para que Getúlio fosse visto por um lado como estadista corajoso, militar viril e pai dos pobres e, por outro, ditador violento, populista e simpatizante do fascismo. (128 páginas, em média R$ 9,95)

de” e que o legado de Getúlio foi enterrado junto com Leonel Brizola, em 2004. “O que muitos admitem é a necessidade de uma liderança do porte de um Getúlio, com a autoridade reconhecida pela sociedade.”

Para o professor, a infidelidade partidária e o desprezo pelas ideologias diminuíram a confiança nos partidos políticos.

O que importa, segundo ele, são a sobrevivência política e a ocupação de cargos.

“Há um descrédito das pessoas com os políticos. Como confiar num partido que apoia um grupo em um Estado e o grupo rival em outro? Se o inimigo de ontem se tornou o aliado de hoje, isto para eles é mera conveniência política.” g

“PDT tem princípios brizolistas” LUCIANA VASCONCELOS

q O PDT ainda tem como base os princípios do presidente Vargas. Essa é a opinião de Cícero Firmino da Silva, o Martinha (foto), presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André. Leia trechos da entrevista.

Rudge Ramos Jornal: Você acha que o PDT ainda segue a linha getulista?

Cícero Firmino: O PDT tem princípios brizolistas, principalmente por meio dos participantes mais antigos. O partido sofreu algumas reformulações com a entrada de pessoas com novos ideais, mas a base fundamental do partido ainda é getulista.

RRJ: A sociedade ainda leva em conta o legado de Getúlio para votar pela sigla?

CF: Hoje a despolitização da sociedade é grande e não é fácil manter aquelas tradições.

Mas o período getulista marcou presença para os trabalhadores e para sociedade brasileira. Seu legado ainda se mantém.

RRJ: Do legado do período getulista, o que precisa ser mudado hoje?

CF: A globalização da economia não pode ter base ultranacionalista.

Tem que ter abertura de mercado. Se isolar o país, fica difícil sobreviver.

Precisa existir uma parceria com as outras nações. g

4 - Rudge Ramos Jornal

QUINTA - FEIRA - 28 de Agosto de 2014

ESPECIAL

CLT, 71, protege trabalhador LARISSA ALMEIDA/RRJ

GUSTAVO RODRIGUES HELOÍSA MIRO LARISSA ALMEIDA

q Já se passaram 71 anos desde a criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Implementada por Getúlio Vargas em uma época em que o brasileiro estava deixando o trabalho no campo para entrar no cenário urbano, a CLT compreende um conjunto de leis que visa proteger e regulamentar a situação dos trabalhadores.

O advogado trabalhista Gustavo Domingues disse que a criação da CLT trouxe para o trabalhador a garantia de 13º salário e de férias remuneradas entre outros benefícios que não existiam até 1943. “O trabalhador tem a proteção da lei sobre seus direitos garantidos quando é contratado pelos padrões da CLT. É uma desvantagem trabalhar fora do regime.”

Muitas das leis compreendidas na CLT de hoje vigoram desde sua criação, em 1943. Para outro advogado trabalhista, Sergio Anacleto, os direitos do trabalho precisam acompanhar as demandas da sociedade. “As mudanças vieram para regulamentar muitas coisas, como a insalubridade, as horas extras, e evitar os possíveis abusos dos patrões.”

Mas do ponto de vista do empresário a CLT traz algumas desvantagens. Domingues contou que garantir todos os direitos

13° SALÁRIO - Gratificação de Natal instituída em alguns países. O valor é geralmente aproximado ao salário mensal e pode ser pago em até duas parcelas.

CARTEIRA DE TRABALHO - Documento que garante alguns dos principais direitos trabalhistas, como seguro-desemprego, benefícios previdenciários e FGTS e registra o histórico trabalhista do cidadão.

FGTS - Recursos captados do setor privado e administrados pela Caixa Econômica Federal para amparar os trabalhadores em hipóteses de encerramento da relação do emprego, doenças graves e até em situações de catástrofes naturais.

Carteira de Trabalho garante o acesso aos principais direitos trabalhistas para o empregado não sai barato. “Já ouvi muitos empresários falarem que os custos trabalhistas mensais com um único trabalhador equivalem ao salário dele.” Este custo elevado, somado à responsabilidade do empregador em cumprir as definições da Carta, faz com que muitos donos de empresas burlem o sistema.

Para escapar das exigências da CLT, os empresários contratam o trabalhador como pessoa jurídica, um prestador de serviços autônomo(leia texto na pág. 7).

Sindicalista defende direitos básicos previstos na CLT q O secretário Nacional e Internacional da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), João Cayres (foto), afirmou que a CLT devertia prever maior liberdade sindical.

Confira trechos da entrevista. (LA, HM e GR) Rudge Ramos Jornal: Quais são os pontos positivos da CLT para o trabalhador?

João Cayres: Você tem o mínimo de direitos previstos em lei. Por exemplo, A Alemanha, país mais rico do mundo, não tem alguns direitos básicos. Foi conquistar agora o salário mínimo. Na nossa visão, a gente tem que ter o coletivo para não perder uma renda mínima básica.

RRJ: O que deveria ser alterado

GLOSSÁRIO

na CLT? JC: A legislação sindical.

A gente tem que permitir a organização dos trabalhadores a partir do local de trabalho. E o pluralismo sindical a partir das instituições de nível superior da federação. A gente tem conseguido isso na prática, mas legalmente não está previsto na CLT. RRJ: O que a CLT estabelece que você considera vantajoso para o empresário?

JC: Quando ela estabelece que todo mundo tem que cumprir essa regra, então os empresários entram num mercado, numa disputa que tudo ele tem que pagar tá previsto em lei. O que ele paga, o concorrente dele também paga. Eles estão em pé de igualdade. g

Outra forma, embora ilegal, é fazer uso de uma “CLT Flex”, pela qual o empregado é registrado com um salário menor do que recebe. As duas maneiras parecem ser mais vantajosas para o empresário, mas não garantem direitos ao contratado.

As pequenas empresas também sentem dificuldades com as exigências da CLT, por não conseguirem arcar com os custos de um trabalhador e, ao mesmo tempo, pagar um salário decente. “O mercadinho de bairro ou o pequeno produtor

sempre vai apelar para sua família como força de trabalho, para não contratar funcionários que drenariam seus recursos com tantos custos trabalhistas”, afirmou Domingues.

Apesar dos altos custos para o empregador, o secretário Nacional e Internacional da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), João Cayres, acredita que os direitos trabalhistas conquistados após a consolidação das leis garantem a segurança do empregado. “Se não tivesse a CLT, estaríamos na escravidão.” g

Empresária apoia a diminuição dos impostos para contratação q A dona da empresa de panificação Doupan, Dilmara Antongiovanni (foto), disse que o maior problema da CLT são os altos impostos sbore a folha de pagamento. Confira trechos da entrevista. (LA, HM e GR)

na CLT? DA: Um complicador atualmente são os encargos sobre a folha de pagamento. As despesas com funcionário interferem no preço final do produto.

Talvez, com folhas de pagamento com menos impostos, os preços dos Rudge Ramos Jornal: Quais são produtos e serviços cairiam. Se tivesos pontos positivos da CLT para o se o imposto único e fosse revertido trabalhador? para a população, seria melhor.

Dilmara Antongiovanni: A segurança de estar num emprego fixo, RRJ: Quais são os pontos negaticom registro. Tem fundo de garantia vos da CLT para o empresário? e outros benefícios que a empresa dá.

DA: Toda vez que se determina A CLT garante o benefício que você um salário para o empregado, os imrecebe como funcionário, como cesta postos e os encargos são geralmente básica, seguro de vida. o dobro. Se você paga mil para o funcionário, vai pagar mais mil para RRJ: O que deveria ser alterado o governo. g

QUINTA - FEIRA - 28 de Agosto de 2014

Rudge Ramos Jornal - 5

ESPECIAL

Vargas liga sindicato a governo FOTOS: REPRODUÇÃO BLOG NOVA HISTÓRIA

MARCELO RATO

q Maior organização dos sindicatos, maior estruturação das centrais sindicais e um maior poder de negociação.

Essas são algumas diferenças que o sindicalista Lino Almeida, 42, da Força Sindical, vê em comparação com o sindicalismo implantado no Brasil no primeiro governo de Getúlio Vargas (1937-1945).

Naquele período, as entidades sindicais eram fortemente atreladas ao Estado. Mas, hoje, Almeida disse que a atual política tem atrapalhado os sindicatos. Ele reclama da forma como as entidades são tratadas pelo atual governo federal.

“Com o Lula [2003-2010] nós tínhamos mais força no governo. Tínhamos um acesso maior a esses assuntos, mas a Dilma [Rousseff] acabou com essas conversas. Ela toma

Para alguns sindicalistas, a maioria dos sindicatos segue as mesmas ideias dos anos 40

decisões mais individuais, não conversa com os sindicatos.”

O sindicalista, porém, volta no tempo para comentar sobre a ação sindical na era getulista. “O sindicalismo no Brasil tem uma referência histórica muito grande. O presidente Getúlio Vargas foi o grande responsável por esse crescimento do movimento em todo o território nacional.”

Almeida ainda comenta a opinião de muitos historiado-

res que falam que a CLT brasileira é uma cópia da Carta del Lavoro italiana, de inspiração fascista. “Isso não é verdade. as nossas leis foram baseadas nas reivindicações que os trabalhadores fizeram na época para Vargas.”

Márcio Campos, 47, diretor da CUT (Central Única dos Trabalhadores), também segue o mesmo raciocínio e conta sobre o atual quadro sindical. “A maioria dos sindicatos ainda

segue as mesmas ideias dos anos 40, mas há centrais que saíram dessa linha e acabaram se tornando de esquerda.”

Campos ainda afirmou que a situação melhorou para o trabalhador quando seus direitos passaram a fazer parte da Constituição. “A partir desse momento os empregadores tiveram que seguir todas essas regras, como horas semanais de trabalho, as questões salariais, tempo de trabalho. Não

podiam mais demitir o trabalhador sem qualquer motivo.

Quando isso entrou em vigor, os trabalhadores começaram a ver um pai em Getúlio.”

Ronaldo Filho, 52, diretor da CSP (Conlutas São Paulo) tem outro modo de ver a ligação das centrais com o governo. “Quando entrou o governo Lula e depois o de Dilma, as centrais ficaram do lado do governo. Um reflexo disso são as greves. Depois que o PT assumiu, essas manifestações diminuíram. Quando era no governo do Fernando Henrique Cardoso, eles se manifestavam muito mais.”

O diretor ainda faz um paralelo do momento atual com a época de Getúlio Vargas. “O que o governo faz, aliado às centrais, é exatamente o que Getúlio fazia. Eles passam a impressão aos trabalhadores de que estão do lado do povo, mas na verdade não estão.” g

Lideranças falam sobre o atual quadro sindical no Brasil cial e de serviços de alta tecnologia.

Existe uma proliferação de sindicatos, milhares talvez. Alguns sem nenhuma expressão, mas reconhecidos pelo Ministério do trabalho.

LUANA MASSUELLA

q O sindicalismo atual tem objetivo político, diferentemente do período sindical das décadas de 30 e 40, durante o governo do presidente Getúlio Vargas.

Essa é a opinião de Agostinho José Alves Filho (foto), diretor do Sindifisco Nacional (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), ao comentar a herança getulista.

Rudge Ramos Jornal: Como você avalia o atual quadro sindical?

Agostinho Filho: No Brasil atual, a estrutura social é diferente da era getulista. A economia é baseada em uma complexa rede industrial, comer-

RRJ: O sindicalismo de hoje no país ainda é reflexo da era getulista?

AF: A base legal dos sindicatos atuais ainda é da era Vargas com algumas “criatividades” a mais. Houve a criação de entidades como confederações, centrais, que visam concentrar poder em um único órgão representativo de sindicatos das mais variadas categorias profissionais.

RRJ: Qual foi o maior problema que Getúlio deixou como herança para o sindicalismo?

AF: Houve uma metamorfose do sindicalismo original dos anos 30/40 para os atuais. Hoje é inegável o objetivo politico que os diretores de sindicatos almejam, haja vista o quadro atual do governo federal, onde os ex-sindicalistas fizeram apenas trampolim para alcançar seus objetivos pessoais na política. g

GABRIEL VERONESI

q A defesa de trabalhadores por meio de leis foi uma das características marcantes do governo populista de Getúlio Vargas. Cícero Mendonça (foto), advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, pede melhoras e dá sua opinião sobre a influência de Vargas nas leis sindicais e a da CLT. Rudge Ramos Jornal: O sindicalismo de hoje no país ainda é reflexo da era getulista?

Cícero Mendonça: Em partes, sim.

Temos a CLT que Getúlio deixou de herança. Hoje nos baseam os muito em cima dela e de súmulas. Cada sindicato, hoje, tem sua própria convenção coletiva, que é uma melhora da CLT. Temos a Constituição em primeiro plano, a CLT e as convenções, que possuem cláusulas que melhoram as duas coisas.

RRJ: Qual foi o maior problema que Getúlio deixou para o sindicalismo?

CM: Não vejo Getúlio deixando problemas. Ele deu início. Existem

muitos artigos dentro da CLT que precisam ser melhorados, mas precisamos do Congresso Nacional. Cabe a nós, sindicalistas, revisar e melhorar esses artigos. Getúlio não deixou um problema. Nós que devemos saber evoluir com a história.

RRJ: Quais melhorias nas leis trabalhistas que ainda podem ser feitas?

CM: Todo o sindicalista brasileiro luta pela redução da jornada de trabalho. Ao reduzir a jornada de trabalho, o trabalhador terá mais tempo para estudar, ficar com a família. As próprias empresas ou o Estado não dão condições para o funcionário se qualificar, se especializar. g

6 - Rudge Ramos Jornal

ESPECIAL

Carteira de Trabalho criada em 32 ainda é objeto de desejo GUILHERME FELIX

q Carteira de Identidade, conhecida como RG. Certidão de nascimento. De casamento. E, se for homem, a reservista do serviço militar. Não pode esquecer de levar uma foto três por quatro. Esses são os documentos exigidos para quem quer tirar sua primeira Carteira de Trabalho.

Ela foi criada em 1932, no governo do então presidente Getúlio Vargas. O nome oficial é CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social) e ainda faz com que, só no Poupatempo de São Bernardo, mensalmente, 4.000 brasileiros frequentem o espaço para conseguir esse documento.

Segundo a coordenadora de atendimento Cintia Regina, a idade mínima para tirar o documento é 14 anos. No Poupatempo, a maioria, de acordo com a funcionária, é do sexo masculino, tanto idosos quanto analfabetos. Ainda no Poupatempo, quem também perdeu a carteira ou então preencheu a anterior com registros e precisa de outra também pode usar do serviço.

Para aqueles que estão tirando a segunda via porque preencheram a carteira anterior precisam levá-la, com alguns dados preenchidos como Contrato de Trabalho, Contribuição Sindical, Alteração de Salário, anotações de férias ou Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, além dos documentos cita-

dos anteriormente. Já quem foi roubado ou furtado deve levar o boletim de ocorrência policial para conseguir um novo documento de trabalho. É por meio da carteira profissional que alguns direitos ao trabalhador são garantidos, quando se tem um emprego com registro, como seguro-desemprego, aposentadoria, Fundo de Garantia por tempo de Serviço (FGTS).

Adilson Vieira dos Santos,49, morador de Diadema, foi ao Poupatempo para tirar a segunda via. Ele conseguiu emprego em uma gráfica, e registrado.

Santos já trabalhou com carteira assinada e também como autônomo por mais de 20 anos. “O seguro-desemprego me ajudou bastante. Fiquei seis

QUINTA - FEIRA - 28 de Agosto de 2014

POUPATEMPO DE SÃO BERNARDO EMITE CERCA DE

4.000 CARTEIRAS DE TRABALHO AO MÊS

meses desempregado”, disse Adilson.

De acordo com levantamentos do governo federal, vem crescendo o número de trabalhadores com carteira assinada. Em abril, por exemplo, a taxa de desemprego no país foi de 4,9%, a menor nos últimos 13 anos, quando foi criado o índice. Isso quer dizer que, de cada 100 trabalhadores que procuram emprego, 95 conseguiram preencher uma vaga. g FOTOS: GABRIELA VASCONCELOS/RRJ

O paraibano Hugo, 14, folheia sua primeira carteira, tirada no Poupatempo

O ferramenteiro Nemísio exibe duas de suas cinco carteiras profissionais

Hugo, que sonha em ser músico, já tem sua carteira

Nemísio, 43, tem quatro carteiras cheias de registro

GABRIELA BARCELOS

q Hugo Gerônimo da Silva, 14, quer ser músico. Tocador de sanfona, ele pretende conseguir emprego na área musical. “Meu sonho é tocar em uma grande banda”, contou o paraibano de Cajazeiras que passou pelo Poupatempo de São Bernardo, onde mora há três anos, para tirar

sua primeira Carteira Profissional.

Ele ainda não tem proposta de emprego, mas quer ter a carteira por prevenção. “Resolvi adiantar. Quando surgir a oportunidade, eu agarro”, disse Hugo.

A mãe de Hugo, Francisca Gerônimo da Silva, 38, também tirou a sua primeira Carteira de Trabalho aos 14 anos e teve o primeiro registro aos 18.

“Tenho certeza de que ele vai conseguir um bom emprego. Ele é talentoso”, disse Francisca, que já preencheu duas carteiras profissionais. “Mudei de cidade diversas vezes. Passei por muitos empregos. Gostaria de ter tido estabilidade em um deles”. g

GABRIELA VASCONCELOS

q O ferramenteiro Nemísio Neto, 43, morador de Diadema, já preencheu quatro carteiras profissionais. A primeira foi quando tinha 14 anos de idade. De cara, iniciou suas atividades em grandes empresas. Mas com registro mesmo, aconteceu aos 16 anos, como office-boy, na metalúrgica Montemor.

Agora, não precisa mais do documento, pois montou sua própria empresa, mas ainda assim procura um emprego para complementar a renda.

“As empresas hoje em dia procuram a mesma qualificação com o menor salário”, acrescentou.

Ele acredita que quando uma pessoa fica muito tempo na empresa, o salário aumenta e o empresário prefere trocar de trabalhador. Segundo ele, faltam cinco anos para a aposentadoria chegar. Mas Neto não acredita que o governo consiga manter a sua estabilidade somente com a aposentadoria, por isso está em busca de novos projetos. g

Rudge Ramos Jornal - 7

QUINTA - FEIRA - 28 de Agosto de 2014

ESPECIAL

‘Pejotização’ é usada como forma de escapar de encargos da carteira q O consultor de TI Rodrigo Fernandes, 31, trabalhou por seis anos como CLT, que é o jargão de quem é contratado por meio da Consolidação das Leis Trabalhistas, uma das heranças do período Vargas que ainda regem a relação entre capital e trabalho no país.

Mas, há 11 anos, Fernandes resolveu ser PJ, ou “Pessoa Jurídica”, uma espécie de trabalhador autônomo que recebe por serviço prestado mediante apresentação de nota fiscal.

“Inicialmente, foi pela alta oferta de oportunidades [com Carteira de Trabalho assinada], que havia especificamente na área de TI. Depois, mantive o interesse, por conta da liquidez salarial”, contou. Desde então, já trabalhou para quatro empresas, em média um trabalho

a cada um ano e meio.

A contratação de pessoas físicas como se elas fossem uma empresa, ou seja, pessoas jurídicas, vem sendo notada no Brasil desde a década de 80. O respaldo jurídico veio na década de 90, com o aumento da concorrência entre as empresas.

Nesse tipo de relação trabalhista, quem é contratado perde direitos trabalhistas, como férias, 13º salário, FGTS, horas extras, assumindo outros gastos para se manter, como administração contábil e emissão de nota fiscal. Quem contrata um PJ se isenta de inúmeras responsabilidades, além de pagar menos impostos.

Segundo o advogado trabalhista Valdir Pereira Ramos, não há desvantagens para as empresas nessas contratações.

A finalidade é reduzir custos e diminuir as altas cargas tributárias existentes no Brasil. Em

relação ao trabalhador, considera-se que a desvantagem é ter que custear os benefícios garantidos pela empresa.

No entanto, o advogado vê vantagens nessas contratações quando o empregado consegue estabelecer um contrato com a empresa em que a presença dele não é necessária todos os dias. “Abre um leque de oportunidades, e o PJ passa a ter clientes. Ele deixa de ser funcionário exclusivo”, explicou.

“Se a pessoa souber se organizar, vai ser igualzinho, consegue guardar dinheiro para as férias, 13º. Só sei dizer vantagens. Posso fazer meu horário.

E tenho mais qualidade de vida sem depender de ninguém”, afirmou a consultora de beleza Caroline Veras, 23. Trabalhando sem registro há apenas quatro meses, já tem sua própria microempresa e a certeza que não pretende voltar a ser CLT. Mas o sindicalismo não vê

Acima, o consultor de TI Rodrigo Fernandes trabalhando em seu escritório particular. Á direita, a microempresária Caroline Veras que optou por trabalhar sem registro , desde que abriu sua microempresa

com bons olhos a pejotização.

Para o sindicalista da CUT (Central Única dos Trabalhadores), engenheiro Valdivino dos Santos, o aumento no número de pejotizados enfraquece a organização sindical.

Segundo Santos, deixa-se de representar o coletivo, uma vez que os trabalhadores não conseguem se organizar

LETÍCIA ANDRADE/RRJ

HELOÍSA MAGALHÃES LETÍCIA ANDRADE MARIANA BONARELI

ARQUIVO PESSOAL

para reivindicar melhorias.

“Fica difícil fazer o trabalho de intervenção e organização trabalhista. O sindicato perde quando não consegue dialogar com o profissional e tê-lo como um filiado, um associado.” g

“O mundo inteiro vem trabalhando para flexibilizar os direitos trabalhistas” q O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Adi dos Santos Lima, disse que a flexibilização dos direitos trabalhistas vem acontecendo no mundo todo.

Mas, para ele, ficar sem registro na carteira é uma forma de perder alguns direitos conquistados.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Rudge Ramos Jornal Qual a importância da CLT para o trabalhador?

Adi dos Santos : A carteira assinada ainda é uma forma de regulamentar as relações de trabalho. Hoje em dia, há uma preocupação muito grande dos sindicatos com a questão da contratação de pessoa jurídica.

Quando o trabalhador deixa de ter um vínculo empregatício pela CLT e passa a ser pessoa jurídica, não tem direito ao décimo terceiro, férias, fundo de garantia e, com isso, perde essa proteção legal .

RRJ: É possível que as leis trabalhistas e o modelo da CLT possam mudar futuramente?

AS: Sim, o mundo inteiro vem trabalhando para flexibilizar os direitos trabalhistas. Tem gente tirando direitos. Mas, ao mesmo tempo, tem gente flexibilizando os direitos. Na década de 1990, na época do governo de Fernando Henrique Cardoso, nós tivemos um período maior de mudanças. Foram tomadas medidas, como o banco de horas, que aumentava os direitos trabalhistas. Assim como houve

DIVULGAÇÃO

Adi Lima, presidente da CUT tentativas de retirar o Artigo 608 da CLT, que é exatamente o artigo da lei que dá proteção aos trabalhadores por meio da carteira assinada.

RRJ: Por que muitas empresas optam pela contratação de pessoas jurídicas?

AS: A razão principal é o custo da contratação, os tributos. Conheço casos em que a empresa transformou trabalhadores em PJ, depois sofreu problemas e acabou recontratando esses trabalhadores, para não se prejudicar. Dependendo da agilidade da empresa, pode ser um risco transformar o celetista em PJ. RRJ: O Estado deveria ter alguma atitude em relação à contratação de PJ? AS: O Estado precisa olhar com mais atenção, porque tem empresas que aproveitam essa possibilidade de trabalhar com pessoas jurídicas para burlar a lei. Com isso, não paga vz os encargos, não recolhia SPC, não recolhem fundo de garantia e levam as pessoas para a informalidade.

RRJ:O trabalhador PJ não é ligado a nenhuma categoria, mas ele tem condições de ser representado por algum sindicato?

AS: Não, a estrutura sindical brasileira não permite que as pessoas se associem a nenhuma entidade sem ter vínculo empregatício.

Mesmo existindo a Central Sindical dos Trabalhadores Autônomos, os Pjs não são diretamente representados.

Por exemplo, não se faz um acordo individual de uma campanha salarial, e sim um acordo coletivo de todos os trabalhadores autônomos. A lei precisa mudar. Assim, as pessoas poderiam ser vinculadas a um sindicato e se sentirem representadas.

(H.M, L.A, M.B) g

8 - Rudge Ramos Jornal

QUINTA - FEIRA - 28 de Agosto de 2014

ESPECIAL

Carta-testamento de Getúlio já foi bandeira política JESSICA FERREIRA LUCAS ICHIMURA

q Vinte e quatro de agosto do ano de 1954. Foi nessa data que o ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha, leu na Rádio Nacional a carta-testamento encontrada na cabeceira do presidente morto: “Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada temo. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.

O presidente Getúlio Vargas havia se matado em seu quarto, com um tiro no peito.

A carta-testamento foi escrita horas antes de seu suicídio.

Nunca o país assistira a tamanha comoção popular como a que veio depois que a notícia foi divulgada.

De acordo com o historiador Leonardo Félix, a carta-testamento deixada por Getúlio tem muito a dizer sobre a história do Brasil. “Mostra um recorte histórico que revela essa questão dos grandes líderes carismáticos, que acabam incorporando em si a imagem de responsáveis únicos pelos progressos da nação”.

O impacto da era Getúlio

“Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci.

Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar.

Voltei ao governo nos braços do povo.

A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.

Quis criar a liberdade nacional na po-

ÍNTEGRA DA CARTA

fora tão grande, e de certa maneira tão ligado à sua própria imagem, que a vida política dos brasileiros parecia girar completamente ao redor dele.

“O personalismo na sua fala, identificando-se com os brasileiros pessoalmente, de certa maneira ecoa essa fraqueza institucional e a necessidaLETICIA VIERA/RRJ

tencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja independente.

Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se nosso principal produto.

Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

de da figura do líder”, disse o cientista político Lincoln Noronha.

Nos anos que se seguiram ao suicídio, a carta em si e a figura de Vargas serviram de bandeira política para quem quis se apresentar como herdeiro dos ideais getulistas. De acordo com Leonardo Félix, apenas

alguns elementos da carta ainda são recorrentes no cenário político atual. “Muitos homens públicos, ao serem pegos em situação ilícita, ainda apelam, como justificativa de defesa, a supostas conspirações manipuladas por adversários políticos.”

A carta-testamento deixou um significado histórico para

o Brasil, mas não é considerada uma ferramenta política. “Passados 60 anos dos acontecimentos, o suicídio de Getúlio e a carta-testamento continuam sendo estudados.

Porém tratam-se de temas cuja profundidade, no geral, permanecem restritos a esses círculos”, afirmou Félix. g

Bibliografia ajuda a entender o período LETÍCIA VIEIRA MARIANA VASQUES

FICÇÃO E - “Agosto” é a obra do autor Rubem Fonseca, editora Altaya. O preço da publicação varia entre R$ 29 e R$ 40. Entre os autores, o mais mencionado foi Bóris Fausto, com “A Revolução de 30” e “O Poder e o Sorriso”. Os livros são da Cia das Letras e podem ser adquiridos nas livrarias por R$ 35 e R$ 43.

Escolho este meio de estar sempre convosco.

Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.

Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação.

Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém.

Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.”

q Entender a Era Vargas (1930-1945 e 1950-1954) não é importante apenas para entender a história do Brasil, mas também para compreender o atual momento. A reportagem ouviu três professores de história do ensino médio e um do universitário para saber quais livros eles consideram fundamentais para todo brasileiro compreender os períodos em que Vargas esteve no poder.

O mais indicado foi “Agosto”, de Rubem Fonseca. Para a professora do ensino médio Flávia Carnevalli, esta obra é

mais atraente para quem gosta de literatura. “Ele mescla ficção e história”, relatou.

A obra retrata o mesmo período do filme “Getúlio”, lançado em maio, e transforma personagens históricos em protagonistas do romance.

Já entre os autores, o mais citado foi o historiador Bóris Fausto, com destaque para “O Poder e o sorriso”, que faz parte da coleção “Perfis Brasileiros”, “A Revolução de 30” e “História do Brasil”, que analisa a história do país desde a colonização portuguesa.

Neste mês de agosto, quando se completa 60 anos da morte de Vargas, chegará às

livrarias o terceiro e último volume da biografia do presidente, feita pelo escritor Lira Neto.

A obra vai abordar o exílio de Getúlio após ser afastado pelos militares, em 1945, até o seu suicídio, em 1954.

Para o professor de história Elias Brito, do ensino médio, a obra de Lira Neto não possui uma proposta de análise crítica do período. “Lira Neto produziu uma obra séria que serve para nortear outras pesquisas e outros olhares sobre este personagem emblemático da história do Brasil. Ele pertence a uma safra de jornalistas que recontam a história com pitadas literárias apenas.” g

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014

Rudge Ramos Jornal - 7

Jovens falam sobre o 1º livro

8 - Rudge Ramos Jornal

FOTOS: DANIELA GARCIA/RRJ

DANIELA GARCIA q Uma forte crise de asma fez Larissa Sposito se tornar uma escritora. Nos três meses que ficou de repouso em casa, ela aproveitou para estrear no mundo literário e concebeu “Caminhos Infernais”, uma ficção que fala sobre anjos e demônios.

Larissa explica como passar esse tempo todo em casa a incentivou a escrever. “Comecei a ler vários livros não tão bons e me perguntei se não poderia fazer uma coisa melhor do que aquilo, se não conseguiria isso”, disse a escritora e também estudante de publicidade.

Mas, segundo Larissa, a agonia começou mesmo depois que ela se recuperou e quis lançar sua primeira obra no mercado. Ela experimentou, pela primeira vez, a dificuldade de se tornar uma escritora.

No começo, Larissa vendia seus livros sob demanda na Alphagraphics e lá saíram aproximadamente 60 exemplares. “Você coloca no site e, conforme as pessoas vão procurando, vão rodando o livro”, explicou. A jovem utilizou seu blog e redes sociais para fazer a divulgação.

Mais tarde, Larissa resolveu realizar mudanças e cor-

Flávia Duduch, 17, autografando “A Marca da Lua”

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014

CULTURA

tou as vendas sob demanda.

A editora Dream House procurou a jovem para publicar o livro. Nesta editora, serviços como diagramação, registro da obra, divulgação e vendas são gratuitos.

Para a escritora, a maior dificuldade em publicar um livro se deve aos problemas com as editoras. “Foi muito difícil quando eu tive editora, porque, logo no lançamento, a primeira tiragem dos livros veio com erros de diagramação”, contou.

Larissa também relata a importância de os autores fazerem seu papel, divulgando o livro em redes sociais e em blogs, principalmente porque as editoras investem mais no que vem de fora. “O livro que vem do exterior já tem marca, tem uma tiragem mínima altíssima e o custo dele vai diminuir. Ele tem quase tudo a favor dele”, disse a jovem.

Quem também usa a internet como meio para divulgar seus livros é Luiz Henrique Mazzaron. O estudante escreveu “Máscara – A Vida não é um Jogo”, livro de ficção que conta a história de Liam e de como ele entrou em um jogo de uma

entidade maléfica. O escritor descreve que teve dificuldades em publicar sua obra. Ele relata que enviou seus livros para muitas editoras, mas que só recebeu um “sim” da Novo Século. “Mas aí veio aquele preço. Quando vi, quase caí para trás. Dá para comprar um carro usado com esse preço”, disse Mazzaron.

Mesmo com o custo alto, os pais do estudante acreditaram que isso seria um bom investimento, então pediram ajuda de familiares e amigos. Dentro do preço estipulado pela editora estavam inclusos: 1.500 exemplares, sendo que 500 do autor, sessão de autógrafos, divulgação em redes sociais e assessoria ao autor.

Luiz Henrique pretende escrever seis livros da série “Máscara”. “O retorno financeiro por enquanto é zero, vou esperar para ganhar mais lá para a frente”, disse.

Mesmo após ter sua obra publicada e estar contente com as resenhas positivas que seu livro tem recebido ele relata um problema enfrentado por autores que querem entrar no mercado. “Na questão de

marketing, pelo que eu sei, as editoras no Brasil não dão muito atenção para escritores brasileiros que estão começando agora”, contou o escritor.

Assim como Larissa e Luiz Henrique, Flávia Duduch está vivendo a experiência de ter o seu primeiro livro publicado.

A autora ainda não teve uma

À esquerda, Larissa Sposito, 18, autora de “Caminhos Infernais”, lançado em 2012, mostrando os marcadores de páginas de sua obra. Abaixo, Luiz Henrique, 19, com o seu primeiro livro, de uma série de seis “Máscara - a vida não é um jogo”.

sessão de autógrafos e relata que está ansiosa para isso.

Inspirada em J.K. Rowling, Flávia, 17, escreveu o livro “Marca da Lua” publicado em fevereiro deste ano pela editora Novo Século. A história contada na obra aborda temas de ficção, onde Julie Lynch encontra um livro que lhe dá a tarefa de matar sete criaturas e uma misteriosa marca de meia-lua aparece em sua nuca.

A jovem escritora ainda conta que fez pesquisas em livrarias para escolher a editora que iria mandar seu livro e acrescenta que teve apoio dos seus pais. Além disso, Flávia ressalta como os investimentos funcionam, tanto da parte dela quanto da editora. “De começo eles me dão 1.500 exemplares, 500 ficam comigo e outros 1.000 vão para livrarias. É uma balança, todo mundo faz um pouco”, disse a autora. g

Editoras incentivam autores iniciantes BÁRBARA CUNHA q Se você é um autor iniciante, tem um blog na internet, onde até publica suas criações, pode por meio da rede mundial de computadores dar o pontapé inicial para se tornar um jovem escritor.

Algumas editoras, pela web, estão à procura de novos ta-

Rudge Ramos Jornal - 9

CULTURA

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014

lentos e criaram projetos para atrair escritores que queiram publicar seus livros.

Uma dessas editoras é a Literata que, em seu site (www. editoraliterata.com.br), tem um link para o Projeto Jovens Autores – Construindo Sonhos.

O objetivo é incentivar jovens com dificuldade de fechar contrato com alguma editora

de grande porte. “A mídia não ajuda muito na divulgação dos livros cujos autores são iniciantes. Com o tempo, a maioria dos jovens percebe a grande dificuldade que existe no mercado de trabalho e acaba desistindo”, disse Carlos Eduardo Rodrigues Bonito, 36, editor da Literata.

O projeto é uma parceria com a editora online Corujito, divididos entre as categorias Ficção, Romance, Zumbi e Contos Infantis. As editoras disponibilizam em seus sites os pré-requisitos para que os textos sejam aceitos, além dos dados pessoais

exigidos e o endereço para qual o texto deve ser enviado.

O contrato tem duração de um ano, mas o processo varia do tipo de publicação. Para livro próprio, assim que aprovado, o mesmo segue para revisão.

Logo após se inicia o processo editorial, onde o autor acompanha passo a passo, até a publicação. Para antologia, o autor recebe uma cota de livros e um contrato pelo conto publicado.

Eduardo contou que a Literata recebe de 10 a 15 manuscritos por semana, de escritores com idades variadas entre 8 a 80 anos. E a maioria

dos livros são histórias sobre vampiros. “Atualmente, essa é a preferência literária dos jovens escritores”, afirmou Eduardo.

Mas, de acordo com o editor, o jovem escritor precisa também ajudar na divulgação de seu livro, de sua primeira publicação.

Um exemplo é participar de eventos literários. “Apesar da dificuldade, o jovem ganha experiência e crescimento literário desde o momento que nos envia o texto até o momento em que é publicado.” g

Quando escrever se torna profissão q O ano: 2011. O livro: “Os Segredos de Landara – redescobrindo o passado”. E o gênero: fantasia. O que você faria se acordasse em uma prisão sem memória nenhuma e descobrisse que está em uma ilha desconhecida pelos humanos? Esse é o desafio da personagem Laura, que começa a desvendar revelações surpreendentes sobre seu passado e os segredos que a ilha de Landara esconde.

E assim começa a aventura no mundo literário da estudante de Engenharia Química na Universidade Federal do ABC, Bruna Camporezi, 21.

Com muitas ideias na cabeça e várias histórias para contar, a jovem iniciou sua carreira com o primeiro livro de uma trilogia.

“Eu sempre gostei muito de ler, escrever e tinha várias ideias e, para não esquecer tudo isso, comecei a anotar todas.”

Apesar da pressão do último ano do ensino médio e a preparação para o vestibular, Bruna conseguiu conciliar a sua nova rotina. “Eu estudava em período integral e escrevia toda noite. Quando saía, levava um caderninho para anotar tudo. Quando percebi, já estava no terceiro capítulo do livro.

Terminei um ano depois.”

Após cerca de um ano procurando incentivo de editoras, Bruna conseguiu publicar seu primeiro livro voltado para o público infanto-juvenil, através da editora Novos Talentos.

Ela agora concluiu a editoração do segundo livro da série “Os Segredos de Landara – Nos

reinos de areia”. Agora, há um projeto de jogos e páginas voltados para o livro.

Já para a repórter e redatora do jornal “Folha de S.Paulo” Adriana Farias, 25, a história foi totalmente diferente. Desde os 16 anos, ela sempre gostou de uma boa história para estimulá-la a escrever e viu essa oportunidade após um intercâmbio de quatro meses em Londres, em 2010.

O novo desafio a fez descobrir histórias impressionantes de brasileiros que se mudaram para lá, não apenas para trabalhar, mas também para

buscar uma mudança pessoal vivenciada apenas com uma nova realidade cultural.

Todas essas diferentes histórias foram publicadas no livro “London Calling” da editora Giostri, em 2012.“Quando me formei, em 2011, o meu trabalho de conclusão foi um livro-reportagem e decidi fazer sobre essa experiência. Como vivenciei na pele as emoções e frustrações desses brasileiros, eu poderia contá-las com mais propriedade no livro.”

Segundo ela, o aprendizado foi muito grande e desafiador.

“Foi incrível ter publicado um

A escritora Bruna Camporezi, 21, e o seu livro “Os Segredos de Landara - Redescobrindo o passado”. À direita, o lançamento do livro “London Calling” de Adriana Farias, 25, na Bienal do livro em 2012 livro com 23 anos. Fiquei noites sem dormir com os problemas de publicação. Comecei a ter umas crises, mas percebi que era o nervosismo.”

Apesar do trabalho e a res-

JULIANA FARIAS / DIVULGAÇÃO

FOTOS: BIANCA DIAS / RRJ

BIANCA DIAS

ponsabilidade, Adriana não descarta a hipótese de publicar mais um. “Até tenho a ideia para um próximo livro, mas seria um projeto para daqui a alguns bons anos.” g

10 - Rudge Ramos Jornal

CULTURA

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014

Cidade do Terror apresenta novo evento em São Bernardo

CAIO DOS REIS SERGIO NETO

q A Cidade do Terror está de volta à Cidade da Criança com o espetáculo “Luz, Câmera, Terror”. O evento teve início no dia 2 de agosto e vai até o dia 12 de outubro. A produção é conhecida pela “Noites do Terror” do antigo parque de diversões Playcenter.

Em sua segunda passagem pela Cidade das Crianças, em São Bernardo, a Cidade do Terror traz o tema de personagens que fizeram parte do contexto cinematográfico, como Jason, de “Sexta-Feira 13”; Chucky, de o “Brinquedo Assassino”; e Leatherface, de “O Massacre da Serra Elétrica”.

O evento conta com 80 atores divididos em 14 atrações.

São elas: show “Entrevista com o Vampiro” e show “Resident Evil”, labirintos “Casa de Cera”, “Acampamento Crystal Lake”, “Olhos Famintos” e túnel “Silent Hill”, “Cemitério Maldito”, “Ponto de Foto do Exorcista”, “Área dos Bruxos” (com personagens como Lord Voldemort, de “Harry Potter”, Malévola e a bruxa de “João e Maria”), “Área dos Clássicos” (com personagens como Jason, Chucky, Freddy Krueger e Michael Myers). Por fim, há o personagem principal chamado de Medo, que é acompanhado por “quatro medos da humanidade”.

Anderson Rodrigues, diretor artístico do evento, explica como surgiu a ideia da segunda edição da Cidade do Terror. “O evento deste ano é continua-

SERGIO NETO/RRJ

ção do piloto que fizemos em novembro do ano passado, a “Invasão dos Zumbis”, era um projeto menor e que usava um pedaço pequeno do parque.”

O diretor trabalha com espetáculos de terror desde 1996, com passagens pelo Rio de Janeiro, Chile e pelo Parque Beto Carrero World. Em 2011, ele assumiu a produção de parte do evento, até que adquiriu por completo a direção do espetáculo. Além disso, Rodrigues passou 16 anos na “Noites do Terror”, do extinto Playcenter.

SERVIÇO:

Cidade da Terror Rua Tasman, 301 – Centro Cidade do Terror - 5ª feira a domingo, das 18h30 às 21h30 Entrada: R$ 40

“Medo” é o personagem principal na Cidade do Terror

6 ROTEIRO FOTOS: DIVULGAÇÃO

FERNANDA CORDEIRO

INFANTIL

q MÚSICA

Uma Aventura Congelante

Língua de Trapo A banda paulistana formada em 1979 foi um dos nomes de destaque da época da Vanguarda Paulistana. O grupo é formado por Laert Sarrumor (voz), Sérgio Gama (voz, violão, guitarra e bandolim), Marcelo Castilha (acordeão e teclado), Zé Miletto (teclados), Valmir Valentim (bateria), Cacá Lima (baixo e vocal) e Marcos Arthur (percussão). O show apresenta as músicas “Concheta” e “Xingu disco”. Quinta (28), às 20h. Recomendação: 12 anos. Teatro Santos Dumont - avenida Goiás, 1.111, bairro Santa Paula – São Caetano.

Ingressos: R$ 15 (inteira), R$ 7,50 (meia entrada para estudantes, professores da rede pública, usuários e dependentes matriculados no Sesc).

TEATRO E Foram Felizes Quase Para Sempre A comédia escrita e encenada pela atriz Heloísa Périssé conta o conflito na vida da escritora Lele Santana, que está procurando roteiros de viagem para ela e seu marido, e na noite do lançamento do seu livro, seu esposo pede o divórcio. A partir disso, a peça se torna um verdadeiro desabafo com a escrito relatando suas decepções e como o seu casamento foi conturbado. Sábado (13), às 21h. Recomendado para maiores de 14 anos. Teatro Paulo Machado - alameda Conde de Porto Alegre, 840, bairro Santa Maria – São Caetano. Ingressos: R$ 70 (inteira e antecipado), R$ 40 (meia entrada para estudantes, maiores de 60 anos, professores da rede pública e aposentados).

Baseado no filme “Frozen”, da Disney, o espetáculo conta a história das irmãs Elsa e Anna, duas irmãs que vivem na Noruega. Elsa tem o poder de criar neve e gelo e um dia acaba ferindo acidentalmente Anna. Desse dia em diante, Elsa se tranca no castelo para aprender a controlar o seus poderes até o dia de sua coroação. Após a cerimônia que a transforma em rainha de Arandelle, Elsa em um acidente condena o reino todo a um eterno inverno e apenas Anna pode reverter a situação. Livre.

Domingo (7), às 16h. Teatro Paulo Machado - alameda Conde de Porto Alegre, 840, bairro Santa Maria – São Caetano.

Ingressos: R$ 50 (inteira), R$ 25 (meia entrada para estudantes e pessoas com mais de 60 anos) e R$ 20 (especial para crianças matriculadas em escolas públicas de São Caetano).

Cinderela, a Gata Borralheira Neste espetáculo, o conto de fadas escrito pelos irmãos Grimm sofreu mudanças e ganhou um novo personagem, um lobo, que não é mau como nas outras histórias.

Na peça, ele é como um protetor da Cinderela que é maltratada por sua madrasta e meias-irmãs. Livre. Sábado (13), às 16h. Teatro Santos Dumont - avenida Goiás, 1.111,

bairro Santa Paula – São Caetano. Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia entrada para estudantes e maiores de 60 anos e com filipeta promocional). g

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014

Rudge Ramos Jornal - 11

ESPORTES

CAIO DOS REIS

q “Vai ser muito difícil a gente pensar em título na Liga Nacional.” Essa frase do técnico da equipe masculina de handebol da Metodista/São Bernardo, José Ronaldo, o SB, já deixa claro que o objetivo no torneio é de renovação e de busca de novos talentos para a modalidade no Brasil. O time do ABC estreia na Liga Nacional 2014 no dia 30 de agosto, contra o Praxis/ASH. O elenco de 2014 foi remontado, e apenas sete jogadores permaneceram. “Essa reformulação do plantel foi um trabalho que foi passado para a gente.

Perdemos atletas da seleção brasileira adulta e estamos com sete jogadores das seleções de base”, disse SB, que considera a mudança como um desafio para a carreira.

Se no início do ano apenas sete atletas de 2013 estavam no elenco, o número caiu para cinco no meio da temporada. Os pontas Victor, Carlito e Pato, o goleiro Gabriel e o central Acácio continuam no time. Os dois últimos são atletas da seleção brasileira júnior, que conta com jogadores de 18 a 21 anos e precede a categoria adulta.

Entre as perdas do início do ano, estão atletas da seleção adulta, como o goleiro Rick, os centrais Diogo e Japa, o ponta Wesley e o pivô Vinicius, que foram jogar em outros clubes brasileiros. Na janela de transferência do meio do ano, mais dois atletas de seleção nacional deixaram o time do ABC, mas rumo à Europa. O goleiro Ferrugem acertou com o Follo HK, da Noruega, enquanto o ponta Fábio Chiuffa vai jogar na equipe espanhola do Balonmano Guadalajara.

E Acácio e Gabriel não são os únicos selecionáveis da equipe. Marcos, Fernando, Patrick e Gabriel estão na seleção juvenil, que tem atletas de 16 até 18 anos, e representaram o país na Olimpíada da Juventude, realizada na China. A equipe masculina terminou o torneio na quinta colocação.

NOVA BAIXA O setor de defesa da equipe masculina de handebol da Metodista/São Bernardo tem uma baixa. Isso porque o goleiro Leonardo Vial, o Ferrugem, foi contratado pelo Follo HK, da Noruega.

O atleta de 27 anos esta-

FOTOS: CAIO REIS/RRJ

Metodista/São Bernardo estreia na Liga Nacional no dia 30 de agosto Ferrugem (26) e Chiuffa (19) deixaram o time da Metodista/ São Bernardo para jogar no handebol da Noruega e da Espanha, respectivamente

va na Metodista desde 1999, quando jogou na categoria mirim. “Durante todos esses anos ganhei diversos títulos com a Metodista, mas o Campeonato Panamericano de 2012 e o Paulista de 2013 foram os mais marcantes”, disse Ferrugem.

Em fase de pré-temporada europeia, o atleta já sente diferenças marcantes entre o handebol brasileiro e norueguês. “A principal diferença é a cobrança que o atleta tem pela perfeição. Quando alguém aqui erra um lance ou um passe, a culpa que o jogador sente se compara a quando um atleta perde um lance decisivo no Brasil”, explicou Ferrugem. E completou: “A velocidade do jogo é bem diferente também, mas no tempo que estou aqui já estou me adaptando bem”.

Ferrugem não é o único brasileiro do Follo HK. O pivô Ales, natural de Santa Catarina, também atua no time europeu.

O atleta acumula passagens por São Caetano e dois times espanhóis, o Naturhouse La Rioja e o Balonmano Guadalajara. O técnico da Metodista, SB, comentou a saída de Ferrugem. “É um jogador muito dedicado e que merece ter uma chance na Europa, com certeza vai fazer falta aqui”, disse. g

12 - Rudge Ramos Jornal

De 28 de Agosto a 10 de Setembro de 2014