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Este livro faz parte da Coleção Capitais do Brasil. Contém 80 páginas, mas aqui neste modelo estão apenas algumas delas. O livro está dividido em 4 capítulos. No primeiro, temos Geografia: a cidade em seu caráter natural, mostrada como era antes da chegada de seus primeiros desbravadores. Aqui falamos da terra, águas, flora, fauna e clima. Depois vem o capítulo sobre História, que trata da transformação do meio natural e da evolução urbana. No capítulo A Cidade Hoje, são abordadas as características gerais, mostrados seus pontos extremos e estudadas sua arquitetura, economia e estrutura. A viagem termina com o capítulo Cultura, onde o morador da cidade é apresentado, estudando as etnias que o formaram, seu artesanato, sua arte e sua gastronomia. 6
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Coleção Capitais do Brasil - Ensinando a Cidade PORTO VELHO Eduardo Fenianos Edição: Editora Univer Cidade Criação, Texto, Pesquisa e Fotos: Eduardo Emílio Fenianos Pesquisa e Texto do Capítulo História: Emmanoel Gomes da Silva Programação Visual: Tatiana Kropernicki Ferreira Estagiária: Gisele Martins Vaz Revisão e Tradução: Ralph Miller Jr. Reservados todos os direitos. Proibida qualquer reprodução desta obra por qualquer meio ou forma, seja mecânica ou eletrônica, sem permissão expressa, sob pena de incidir nos termos previstos em lei.
SÃO PAULO / 2009 1ª edição EDITORA UNIVER CIDADE Rua Presidente Rodrigo Otávio, 813 Alto da XV - Curitiba - PR Fone: 41 3079-7879 / 41 3362 3307 Rua Alfredo Mendes da Silva, 395, apto 163, torre 2 Vila Sônia - São Paulo - SP Fone: 11 3751-8842 www.urbenauta.com.br editora@urbenauta.com.br
Dados internacionais de catalogação na publicação Bibliotecária responsável: Mara Rejane Vicente Teixeira
Fenianos, Eduardo Emílio, 1970Porto Velho / Eduardo Fenianos ; revisão e tradução: Ralph Miller Jr. - São Paulo : Editora Univer Cidade, 2009. 80p. : il. ; 18 x 25 cm. -- (Coleção Capitais do Brasil - Ensinando a Cidade ; v. 5) ISBN 978-85-86861-22-2 Inclui bibliografia. 1. Porto Velho (RO) - Descrições e viagens. 2. Porto Velho (RO) - Obras ilustradas. 1. Título. II. Série.
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CDD (22ª ed.) 918.114
FIQUE PARA SEMPRE NA MEMÓRIA DE SEUS PARCEIROS E CLIENTES Espaço de até 1700 caracteres em português, com tradução para o inglês para a mensagem do presidente ou representante da empresa aos seus colaboradores, parceiros e clientes. Cheguei a Porto Velho depois de sete dias de navegação pelo Rio Madeira. Comecei a desbravar a cidade por sua região central, aprendendo o quanto a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré representou e representa para a cidade. Moradia no extremo ocidental brasileiro para descendentes de índios, sulistas, nordestinos, nortistas e imigrantes, Porto Velho é uma Babilônia Cultural. O Mercado do Um é o Mercado Municipal da cidade e demonstra bem esta miscigenação. É o local onde japonês vende goma de tapioca e diz que no Japão o pessoal é muito “caleta”, onde se mistura mungunzá com banana, onde a copaíba tem mais poder do que qualquer remédio, onde o Seu Brás já me conhece pelo nome e dá o preço das frutas e verduras ainda antes de pesar os produtos. A região central da cidade correspondente a menos de 5% da área total do município, pois Porto Velho possui 34.082 km². É a capital brasileira com o maior território. Nela caberiam mais de 22 municípios de São Paulo. Em uma área tão grande há espaço para várias realidades que abrangem prédios com arquitetura requintada, um grande shopping center, grandes áreas destinadas à pecuária, três reservas indígenas, o Rio Madeira, moradores ribeirinhos, garimpeiros, agricultores, madeireiros, ecologistas, crianças que usam barcos como vans para ir e voltar da escola, Música Popular da Amazônia, caldeirada de dourado, churrasco, discórdias, consensos, Brasil e brasileiros. A todos nós, uma boa viagem Eduardo Fenianos Urbenauta
I arrived in Porto Velho after seven days of navigation along the Madeira River. I started to explore the city from its central area, learning about how much the Madeira-Mamoré Railroad meant and still means to the city. Housing in the far western Brazil for descendants of Indians, southerners, northeasterners, northerners and immigrants, Porto Velho is a Cultural Babylon. Mercado do Um is the city’s Market Hall and it shows well this miscegenation. It’s the place where Japanese sell tapioca gum and says that in Japan people are too "squale," where mungunzá1 is mixed with bananas, where copaiba is more powerful than any drug, where Seu Brás already knows me by name and utters the price of fruits and vegetables even before he weighs them. The city’s central area corresponds to less than 5% of the municipality’s total area, once Porto Velho stretches throughout 34,082 km². It’s the Brazilian capital with the largest territory. In it we could fit more than 22 cities as big as São Paulo. In so large an area there is room for several realities that include buildings with exquisite architecture, a big mall, large areas for livestock, three Indian reservations, the Madeira River, riverine people, miners, farmers, loggers, environmentalists, children who use boats as vans to go and come from school, Amazonian Popular Music, golden dorado stew, barbecue, disagreements, consensus, Brazil and Brazilians. I wish us all a nice trip Eduardo Fenianos Urbinaut 3
As Águas The Waters
Localizada na Bacia do Rio Amazonas, a maior bacia do planeta, Porto Velho tem como seus principais rios o Madeira, o Mutum-Paraná, o Jacy-Paraná, o Candeias do Jamari, o Ji-Paraná e o Abunã, este um afluente na margem direita do rio Madeira, que nasce no Acre e faz a delimitação da fronteira entre Brasil e Bolívia, banhando o distrito de Fortaleza do Abunã, no extremo oeste de Porto Velho.
Located in the Amazon River Basin, the largest basin in the world, Porto Velho has as its main rivers the Madeira, the Mutum-Paraná, the Jacy-Paraná, the Candeias do Jamari, the Ji-Paraná and the Abunã, this one a tributary on the right bank of the Madeira River that springs out in the State of Acre and is the demarcation of the border between Brazil and Bolivia, also bathing the district of Fortaleza do Abunã in the most western area of Porto Velho.
Principal braço direito do Rio Amazonas, é o mais importante dos rios de Porto Velho. Com uma extensão aproximada de 1.450 km, ele nasce na Bolívia, junto à Cordilheira dos Andes, com o nome de Rio Beni. Do seu encontro com o Rio Mamoré-Guaporé nasce o Rio Madeira que segue na direção nordeste, formando dezenas de cachoeiras até alcançar Porto Velho. Esta porção é conhecida como Alto Madeira. Na cidade inicia a Hidrovia do Madeira que segue até Itacoatiara e é conhecida como Baixo Madeira. É um rio repleto de lendas e de navegação perigosa. Durante os meses de seca, as ilhas e formações rochosas que se formam no leito do rio, a fumaça das queimadas e a neblina que se forma de madrugada e início das manhãs dificultam a navegação. No período das cheias são os troncos e árvores que exigem mais dos comandantes de embarcações. É daí que vem o seu nome. No período das chuvas, seu nível sobe e inunda as margens, carregando troncos e restos de madeira das árvores. Ao longo dos períodos de seca e cheia o nível de suas águas pode variar até 20 metros. É muito conhecido por causa da extração de ouro e pela presença abundante de peixes.
Main right tributary to the Amazon River, it’s the most important river in Porto Velho. With an approximate length of 1,450 km, it springs out in Bolivia, near the Andes, with the name of Rio Beni. The Madeira River is formed from it’s meeting with the Mamoré-Guaporé River and it keeps a northeast direction forming dozens of waterfalls until it reaches Porto Velho. This part is known as the High Madeira. The Madeira Waterway begins in the city, runs up to Itacoatiara and is known as the Low Madeira. This is a river full of legends and dangerous navigation. During the months of drought, the islands and rock formations that are formed in the river’s bed, the smoke of fires and the haze that is formed at dawn and early mornings make navigation difficult. During the flood periods logs and trees require more from the vessel masters. And that’s what it’s named after: wood. During the rain period, its level rises and floods the banks carrying logs and wood debris from the trees. Along the periods of drought and flood the level of its waters can vary by 20 meters. It’s very well known because of the gold extraction and the presence of abundant fish.
O Rio Madeira
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The Madeira River
Mais uma รกrvore prestes a cair e reforรงar o nome Rio Madeira.
One more a tree about to fall and stress the name Madeira (wood) River. 13
A Fauna Fauna
Porto Velho tem a fauna da Floresta Amazônica. Porto Velho has the fauna of the Amazon Forest.
Dentro da gama de sua fauna, Porto Velho possui as mesmas espécies encontradas no Estado de Rondônia e em boa parte dos ecossistemas da Floresta Amazônica. No rio Madeira – e demais rios que cortam o município – são encontrados peixes como a Piraíba, o Jaú, o Dourado, a Caparari, o Surubim, a Pirara, a Piramutaba, o Tambaqui, o Tucunaré, a Jatuarana, o Pacu, a Pirapitinga, o Curimatá, a Piranha Preta, o Barba Chata, o Jaraqui, o Pirarucu, a Pirarara, a Matrinchã, o Cuiu-Cuiu, o Filhote e a Piraíba, além de botos, jacarés, sucuris e o temível candiru, peixe-parasita que penetra o ânus, a vagina ou a uretra, principalmente quando se toma banho sem roupas ou se urina dentro das águas do rio. Em suas margens vivem lontras, garças, ariranhas, tartarugas, tracajás. As florestas são habitadas por símios e primatas como o guariba, o macaco-prego e o macaco-preto. Entre os mamíferos, são encontradas ainda a onça-pintada, a onça-parda, as jaguatiricas e os cachorros-do-mato. Já entre os roedores, destacam-se a paca, a cotia, a capivara, o ouriço-cacheiro, o preá e o quatipuru. Gambás, tatus de várias espécies, antas e queixadas também são encontrados na região. Within the range of its fauna, Porto Velho has the same species found in the State of Rondônia and in most ecosystems of the Amazon Forest. In the Madeira River and in the other rivers that cross the county - we can find fish such as Piraíba, Jaú, Golden Dorado, Caparari, Surubim, Pirara, Piramutaba, Tambaqui, Tucunaré, Jatuarana, Pacu, Pirapitinga, Curimatã, Black Piranha, Barba Chata, Jaraqui, Pirarucu, Pirara, Matrinchã, CuiuCuiu, Fillhote and Piraíba, as well as porpoises, alligators, anacondas and the feared candiru, a parasite fish that penetrates the anus, the vagina or the urethra, especially when one bathes or urinates without clothes in the river’s waters. On its banks live otters, herons, giant otters, turtles and the yellow-spotted Amazon River turtles. The forests are inhabited by simians and primates, such as the brown howler, the capuchin monkey and the black spider monkey. Among the mammals, are also found jaguars, pumas, ocelots and crab-eating foxes. Among the rodents we find pacas, agoutis, capybaras, hedgehogs, cavies and the northern Amazon red squirrel. Opossums, several species of armadillo, tapirs and peccaries are also found in this region. 18
Biguá almoça no Rio Madeira. Neotropic cormorant has its lunch at the Madeira River.
Foto: Rosinaldo Machado Foto: Rosinaldo Machado
Animais da fauna porto-velhense.
Animals from Porto Velho’s fauna. 19
Século XVIII Eighteenth Century
Acervo: Casa da Ínsua - Portugal
Ao raiar do século XVIII ocorreu o aprofundamento do processo de ocupação do Brasil em função das jazidas auríferas encontradas nas Minas Gerais. Os bandeirantes paulistas intensificaram seus trabalhos e descobriram novas minas mais ao interior da colônia, numa localidade batizada de Mato Grosso. As minas foram encontradas, principalmente, nas margens dos rios Coxipó, Guaporé e Mamoré. A maior parte dos seus percursos separam o Estado de Rondônia da Bolívia. Com o achado, a Coroa Portuguesa se adianta criando uma nova capitania na colônia. Desmembrando terras da capitania de São Paulo, cria em 1748 a Capitania do Mato Grosso e nomeia para governá-la o fidalgo português Dom Antônio Rolim de Moura Tavares. Sua missão era a de fundar um centro administrativo, povoar o local, cobrar impostos dos mineradores e dar combate aos espanhóis que, em função da descoberta das minas, mostraram-se interessados na região. Ocupar os vales dos rios Guaporé, Mamoré e Madeira não era nada fácil. Problemas gigantescos se apresentavam. A região era extremamente isolada. Doenças tropi-
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T.N. – A person who took part in a bandeira.
At the dawn of the eighteenth century a deepening of the occupation process in Brazil occurred due to the gold deposits that were found in Minas Gerais. The bandeirantes1 from São Paulo intensified their work and found new mines further into the colony’s countryside, in a place named Mato Grosso. The mines were found mainly on the banks of rivers Coxipó, Guaporé and Mamoré. Most of their courses separate the State of Rondônia from Bolivia. With the finding, the Portuguese Crown took a further step and created a new captaincy in the colony. By dismembering the lands of the captaincy of São Paulo, in 1748 it created the Captaincy of Mato Grosso and Portuguese nobleman Dom Antonio Rolim de Moura Tavares was appointed to govern it. His mission was to establish an administrative center, populate the place, collect taxes from miners and fight the Spaniards who, because of the discovery of mines, showed interest in the region. To occupy the valleys of rivers Guaporé, Mamoré and Madeira wasn’t at all easy. Huge problems had to be
cais como a malária dizimavam homens com voracidade. Os índios que defendiam suas terras e os espanhóis que possuíam pretensões sobre as minas encontradas pelos portugueses precisavam ser combatidos a todo o momento. Para combatê-los, foi construído um forte chamado Nossa Senhora da Conceição, na margem direita do rio Guaporé. Reformado, passou a ser chamado Forte de Bragança. Mais tarde, quando uma enchente derrubou suas paredes, a Coroa Portuguesa resolveu construir outro forte, bem maior e com mais canhões, o Real Forte Príncipe da Beira, no ano de 1776. A tarefa de conquistar, ocupar e fazer produzir riquezas para a Coroa Portuguesa nessas terras era um trabalho para homens de extrema coragem e determinação. O embrião de Porto Velho, futura capital do Estado de Rondônia, nasce neste período, em 1728, quando um jesuíta chamado João Sampaio funda às margens do rio Madeira, em sua primeira cachoeira, a missão de Santo Antônio das Cachoeiras. Com a decadência das minas, a região foi abandonada. Ficaram somente os negros que haviam sido escravizados nas minas e os índios que já habitavam a região.
faced. The region was extremely isolated. Tropical diseases, such as malaria, voraciously decimated men. The Indians who defended their land and the Spaniards who had claims on the mines found by the Portuguese had to be fought all the time. To fight them was built a fort named Our Lady of the Conception, on the right bank of the Guaporé River. Renewed, it came to be called Bragança Fort. Later, in the year 1776, after a flood had put down its walls, the Portuguese Crown decided to build another fort, larger and with more cannons, the Royal Fort Príncipe da Beira. The task of conquering, occupying and producing wealth for the Portuguese Crown in those lands was work for men of great courage and determination. The embryo of Porto Velho, future capital of the State of Rondônia, was started during this period, in 1728, when a Jesuit named João Sampaio founded the mission of Saint Anthony of the Waterfalls on the banks of the Madeira River, close by its first waterfall. With the decline of the mines, the region was abandoned. Only the Negroes who had been enslaved in the mines and the Indians who already inhabited the region remained there.
Forte Príncipe da Beira, em 1774.
Fort Príncipe da Beira, in 1774. 25
Século XX
Twentieth Century O Porto Velho dos Militares ganharia contornos reais de cidade, pois a economia da Goma Elástica influenciaria seu desenvolvimento futuro. O Rio Madeira foi transformado em importante rota comercial para navios estrangeiros que buscavam os produtos amazônicos, sendo a borracha o principal deles. Pessoas do mundo inteiro foram chegando para aquela grande epopéia amazônica que era a construção da ferrovia. A natureza estava sendo modificada pela ação de homens que se perdiam na imensidão dos rios daquele inferno verde. O temor que a selva provocava em outros tempos - seus animais desconhecidos, como a sucuri e jacarés ameaçadores normalmente envolvidos em histórias dramáticas e aterradoras, os mitos e as lendas - já não exercia mais tanta influência junto às pessoas que se aventuravam tão longe de casa. A selva e seus mistérios estavam sendo dominados pelo homem. Neste incrível cenário, norte-americanos jogavam partidas de tênis, ouviam o foxtrote e se deliciavam com uísque escocês ao lado de pessoas das mais variadas localidades do mundo. As últimas fronteiras iam gradativamente sendo desbravadas, conquistadas e ocupadas. Porto Velho dos Militares gains real contours of a city, once the Elastic Gum economy influences its future development. The Madeira River was transformed into a major trade route for foreign vessels seeking Amazon products. Rubber was the main one. People around the world came to this great Amazon epic that was the construction of the railroad. Nature was being modified by the action of men who got lost in the immensity of the rivers in that green hell. The fear that the jungle caused at other times – its unknown animals such as anacondas and threatening alligators, usually involved in dramatic and terrifying stories, myths and legends – was not playing as much influence over the people who ventured so far from home. The jungle and its mysteries were being tamed by men. In this incredible scenario, North-Americans played tennis matches, heard fox-trot and enjoyed Scotch whiskey alongside people from many different locations around the world. The last frontiers were gradually being cleared, conquered and occupied.
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Fotos: Dana B. Merrill - Secretaria de Cultura do Governo de Rondônia
Imagens da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Images of the Madeira-Mamoré Railroad works. 29
Anos 60 The Sixties
In the ‘60s the power grid was extended to some residential and commercial buildings, but with one restriction: it was available only for a few hours during the day and night, being shut down no later than 10 p.m., barely enough to meet the business needs of the time. People adapted as best they could to that reality. Kerosene refrigerators reigned, an appliance that only wealthy families owned. The evening activities were affected by this. It was common to run back home from Cine Brasil or Cine Resky, trying not to be caught by darkness, or be robbed, even though the city was calm and quiet. At that time, the city got another popular market. Mercado do Um was built, located at Sete de Setembro Street. On March 31, 1966 the new City Hall building was inaugurated, at the time under the name of Palace 31 of March, opposite the Cathedral Sacred Heart of Jesus. In the same year, one of the most important buildings of the city, the Market Hall was destroyed by a terrible fire. Part of its history was consumed, leaving only a small piece of the façade.
Rua José de Alencar. À direita, o mercado municipal, incendiado em 1966. À esquerda, o edifício Monte Líbano.
José de Alencar Street. On the right, the Market Hall, burned down in 1966. On the left, building Monte Líbano.
Acervo: Secretaria de Cultura do Governo de Rondônia
Na década de 60 a rede de energia elétrica foi ampliada para algumas casas residenciais e comerciais, mas com um detalhe: estava disponível apenas por poucas horas durante o dia e à noite, sendo desligada impreterivelmente às 22 horas, o que mal dava para atender as necessidades comerciais da época. As pessoas iam se adequando como podiam a essa realidade. Reinavam as geladeiras a querosene, objeto que somente as famílias mais abastadas possuíam. As atividades noturnas eram prejudicadas por esta condição. Era comum voltar correndo para casa, do Cine Brasil ou do Cine Resky, tentando não ser apanhado pela escuridão ou ser assaltado, apesar da cidade ser calma e pacata. Nesta época, a cidade ganhou mais um mercado popular. Foi construído o Mercado do Um, localizado na Rua Sete de Setembro. No dia 31 de março de 1966 foi inaugurado o novo prédio da Prefeitura, na época com o nome de Palácio 31 de Março, em frente à Catedral Sagrado Coração de Jesus. No mesmo ano, um dos prédios mais importantes da cidade, o Mercado Municipal, foi destruído por um terrível incêndio. Parte de sua história foi consumida, restando apenas um pequeno pedaço da fachada.
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Anos 70
The Seventies Migration was occurring at a rapid pace. Answers had to be given by the public power to various problems that arose. The municipality of Porto Velho had several districts, some over six hundred kilometers away, as was the case of Vilhena. Important steps were taken in the administration of Mayor Jacob de Freitas Atallah. In addition to increased assistance to districts, Library Francisco Meirelles was built. During his term the St. Anthony Cemetery was also created. In year 1972 the Madeira-Mamoré Railroad was shut. Life in the city, which was paced by the locomotives’ long and melancholic whistles, was taken by silence and inexplicable loneliness. This deactivation reproduced in the whole city the atmosphere of a funeral. Many residents said they had been amputated. It was hard to imagine their daily lives without the component that had given rise to the city. The epic story of the old days was treated with the deepest contempt by the military government. The offended population lived a mixture of pain, suffering, anger and revolt. Porto Velho suffered an injury scar that would be transmitted for several generations. With the closing of the railroad other agencies were installed in the administration building.
Em cima, calçamento da Avenida Sete de Setembro. Em baixo, vista aérea de Porto Velho, no sentido bairro - centro. Em primeiro plano, o quartel de manutenção do exército entre as ruas Pinheiro Machado e Guanabara. Ao fundo, o Rio Madeira.
On the top, paving works at Sete de Setembro Avenue. Above, aerial view of Porto Velho in the downtown direction. In the foreground, the army’s maintenance barracks between streets Pinheiro Machado and Guanabara. In the background, the Madeira River.
Acervo: Foto maior: Rosinaldo Machado. Foto menor: Sec. de Cult. do Gov. de RO
A migração vinha ocorrendo a passos largos. Respostas precisavam ser dadas pelo poder público aos vários problemas que iam surgindo. O município de Porto Velho possuía vários distritos, alguns a mais de seiscentos quilômetros de distância, como era o caso de Vilhena. Passos importantes foram dados na gestão do então prefeito Jacob de Freitas Atallah. Além de maior assistência aos distritos, foi construída a Biblioteca Francisco Meirelles. Em sua gestão também foi criado o Cemitério de Santo Antônio. No ano de 1972 ocorre a desativação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. A vida da cidade, que era compassada pelos longos e melancólicos apitos das locomotivas, foi tomada pelo silêncio e por uma solidão inexplicável. Esta desativação reproduziu em toda a cidade o clima de um velório. Muitos moradores diziam-se amputados. Era difícil imaginar seu dia-a-dia sem o componente que dera origem à cidade. A história épica de outrora era tratada com o mais profundo desprezo pelo governo militar. A população ofendida vivia um misto de dor, sofrimento, indignação e revolta. Porto Velho sofria um ferimento cuja cicatriz seria transmitida para várias gerações. Com a desativação da ferrovia foram instalados outros órgãos no prédio da administração.
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A Cidade Hoje The City Today
With astonishing 34,082 km² Porto Velho is the Brazilian capital with the largest territory. The distance between the county’s far west and far east is close to 500 km. In such a large area there is room for multiple realities that include buildings with exquisite architecture and a large mall, large areas for livestock and three Indian reservations. Its most urbanized portion is located in the county’s north-central area. There are gathered the main public and commercial facilities, and the so-called old center of town. Our mission in this chapter is to travel these various realities of the state capital of Rondônia. We begin the chapter seeking its farthest regions on the north, south, east and west, showing in pictures and brief texts what we can find in each one of them. Next, we study the city’s architecture, economy and infrastructure. Then, as if we took an urban submarine, we’ll go deeper into the city’s history, identity and modernity, traveling through its central region and historic center. The chapter ends by showing rivers, monuments, old buildings and other places and situations that only Porto Velho has.
Vista aérea da capital de Rondônia. Ao fundo, o Rio Madeira.
Aerial view of the capital of Rondônia. In the background, the Madeira River.
Foto: Wilson Dias/ABr
Com incríveis 34.082 km² Porto Velho é a capital brasileira com o maior território. A distância entre o extremo oeste e o extremo leste do município fica próxima dos 500 km. Em uma área tão grande há espaço para várias realidades que abrangem de prédios com arquitetura requintada e um grande shopping center, a grandes áreas destinadas à pecuária e três reservas indígenas. Sua parte mais urbanizada está localizada na porção centro-norte do município. Nela estão reunidos os principais equipamentos públicos e comerciais, e o chamado centro velho da cidade. Nossa missão neste capítulo é viajar por estas várias realidades da capital do Estado de Rondônia. Começamos o capítulo buscando seus pontos extremos, a Norte, Sul, Leste e Oeste, mostrando em fotos e breves textos o que há em cada um deles. Em seguida, estudamos a arquitetura, economia e estrutura da cidade. Depois, como se pegássemos um submarino urbano, nos aprofundamos na história, na identidade e na modernidade da cidade, navegando por sua região central e seu centro histórico. O capítulo termina percorrendo rios, monumentos, construções antigas e outros lugares e situações que só Porto Velho tem.
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Centro
Down town The busiest part of Porto Velho, in which all major public and commercial facilities are, and that we normally call down town, is located in the north central part of the county. In the photos, the center viewed from the north and a partial view of Sete de Setembro Avenue, the busiest one in the city.
Foto: Rosinaldo Machado
A parte mais movimentada de Porto Velho, onde estão reunidos os principais equipamentos públicos e comerciais e que normalmente chamamos de centro, está localizada na região centro-norte do município. Nas fotos, o centro visto da parte norte e uma vista parcial da Avenida Sete de Setembro, a mais movimentada da cidade.
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Viagem ao Centro A Journey Downtown
Para conhecer o centro histórico de Porto Velho, o ideal é desbravá-lo a pé. Os pontos a serem visitados não estão muito distantes uns dos outros. Para facilitar sua movimentação, o mapa abaixo indica tais lorês cais. Eu estacionei a Urbenave na Praça das T Três Marias e comecei por ali a minha viagem ao centro de Porto Velho. Com seus tanques em forma cilíndrica, cada um com capacidade para armazenar 200.000 litros, as três caixas d’água instaladas no local formam o mais famoso e mais visitado cartão-postal da cidade. Foram projetadas e construídas pela Chicago Bridge & Iron Works, de Chicago, Estados Unidos da América. Chegaram desmontadas, em kits, no começo do século XX, para abastecer a cidade e sua população durante a construção da Estrada de Ferro MadeiraMamoré. Foram instaladas entre 1908 e 1912 e serviram a cidade até a década de 1950. Elevadas do chão por quatro colunas de ferro, permaneceram ali como mais uma memória do período de fundação da cidade. São carinhosamente chamadas pela população de Três Marias. Estão localizadas na Avenida Carlos Gomes com a Avenida Rogério Weber, no bairro Caiari. Bem perto dela vale conhecer a Casa da Cultura Ivan Marrocos Marrocos, sempre com exposições de artistas regionais.
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To visit the historical center of Porto Velho, the ideal is to explore it on foot. The places to be visited aren’t far from each other. To make things easy, the map below indicates those sites. I parked the Urbenave1 by the Three Marys Plaza and started there my journey through the center of Porto Velho. With their cylindrical tanks, each with a capacity to hold 200,000 liters, the three water tanks installed on this site form the most famous and most visited postcard landscape of the city. They were designed and built by Chicago Bridge & Iron Works, Chicago, United States of America. They were sent here unassembled in kits, in the early twentieth century, to supply the city and its people during the construction of the Madeira-Mamoré Railroad. They were assembled between 1908 and 1912 and served the city until the 1950s. High up from the ground, supported by four iron columns, they were kept there as a remainder of the period when the city was founded. They are affectionately called by the people as the Three Marys. They are located where the Carlos Gomes Avenue meets Rogério Weber Avenue, in the Caiari neighborhood. Quite close to them it’s worth a visit to the House of Culture Ivan Marrocos Marrocos, which always has exhibitions by regional artists. 1
T.N. – The Urbinaut’s vehicle.
As três caixas d'água, também conhecidas como As Três Marias, foram erguidas por americanos entre 1910 e 1912, para abastecer a cidade durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Funcionaram até 1957. These three water tanks, also known as The Three Marys, were built by North-Americans from 1910 to 1912, to supply the city during the construction of the Madeira-Mamoré Railroad. They were in operation until 1957. 53
Universidade Federal de Rondônia Federal University of Rondônia
O antigo prédio do Porto Velho Hotel, hoje dá espaço à Rondônia. Com projeto Universidade Federal de Rondônia do arquiteto Leogin de Vasconcelos Chaves, ele foi construído entre 1948 e 1953 pelo governo do então Território do Guaporé, que o arrendou até 1969. Em 1974, período em que a cidade já possuía outros hotéis, ele foi desativado, passando a sediar, em 1979, secretarias do Governo. Com a criação da Universidade Federal de Rondônia em 1982 e a necessidade de um prédio para suas instalações, ela toma o lugar das secretarias e, a partir de então, o antigo Porto Velho Hotel passa a ser popularmente chamado de Prédio da UNIR. The old building of the Porto Velho Hotel, now houses the Federal University of Rondônia Rondônia. Designed by architect Leogin de Vasconcelos Chaves, it was built between 1948 and 1953 by the government of the former Territory of Guaporé, who leased it until 1969. In 1974, a period in which the city already had other hotels, it was deactivated and in 1979 it was used to house government departments. With the creation of the Federal University of Rondônia in 1982 and the need for a building for its facilities, it took the place of those departments and, thereafter, the former Porto Velho Hotel is now popularly called the UNIR Building.
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Catedral Sagrado Coração de Jesus
Cathedral Sacred Heart of Jesus
Teve sua pedra fundamental lançada em 3 de maio de 1917, mas em função de dificuldades, só foi inaugurada no final dos anos 1940. Conta-se que suas telhas chegaram de Belém no ano de 1929 a bordo do Navio Madeira-Mamoré e foram transportadas pelos próprios marinheiros e moradores do porto até o local da construção. Em seu interior, elementos amazônicos, europeus e nordestinos se fundem, revelando a mistura de raças ocorrida na cidade, mas tendo sempre a imagem do Sagrado Coração de Jesus de braços abertos para receber os fiéis. Está situada à Rua D. Pedro II. Its foundation stone was laid on May 3, 1917. However, because of difficulties, it was only inaugurated in the late 1940s. It is said that its tiles arrived from Belém in 1929, on board of the ship Madeira-Mamoré, and were carried by the sailors and residents of the port themselves until the construction site. Inside, Amazonian, European and Northeastern items merge, revealing the mixture of races that occurred in the city, but always bearing the image of the Sacred Heart of Jesus with open arms to welcome the faithful. It’s located at the D. Pedro II Street.
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Museu Madeira-Mamoré Madeira-Mamoré Museum
Marco do ciclo da borracha no Brasil, o museu reúne máquinas, locomotivas, objetos e pertences relacionados à Estrada de Ferro MadeiraMamoré Mamoré, construída no início do século XX. Muitos estudiosos consideram a Madeira-Mamoré e o Canal do Panamá as duas construções mais difíceis da engenharia mundial, com milhares de pessoas mortas durantes as obras. Isso lhe conferiu o apelido de Estrada do Diabo. Vale passear pelo Museu imaginando toda a agitação da Estação de Passageiros no dia de sua inauguração, em 1912. Era ali que eram compradas as passagens e embarcavam e desembarcavam aqueles que percorriam os seus mais de 360 km entre Porto Velho e Guajará Mirim. Hoje, ela abriga uma loja de artesanato. Ao seu redor espalham-se barracões e locomotivas que formam um museu a céu aberto, desde a desativação da estrada de ferro em 1972. Ao seu lado, um complexo de bares e restaurantes convida moradores e visitantes para um descanso às margens do Rio Madeira.
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A landmark of the rubber cycle in Brazil, this museum has machines, locomotives, objects and belongings related to the Madeira-Mamoré Railroad Railroad, built in the early twentieth century. Many scholars consider the Madeira-Mamoré and the Panama Canal the two most difficult engineering works in the world, with thousands of people killed during the construction. This gave it the nickname of the Devil's Road. It’s worth to wander through the Museum imagining all the excitement of the Passenger Station on the day of its inauguration, in 1912. It was there that tickets were purchased, and boarded and disembarked those who traveled its more than 360 km between Porto Velho and Guajará Mirim. Presently, it houses a crafts shop. Around it are spread sheds and locomotives that form an openair museum, since the railway was deactivated in 1972. Beside it, a complex of bars and restaurants invites residents and visitors to a rest on the banks of the Madeira River.
Junto ao Rio Madeira, as locomotivas são a lembrança do ciclo da borracha e da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Close by the Madeira River, locomotives are a reminder of the rubber cycle and the Madeira-Mamoré Railroad. 61
Parques Parks
Parque Natural de Porto Velho Também é conhecido pela população como Parque Ecológico. Com uma área de 200 hectares, abriga um zoológico com espécies da região amazônica, viveiro de plantas, um museu, trilhas, várias nascentes e cascatas, e um centro de educação ambiental. Está localizado no final da Avenida Rio Madeira, a cerca de 13 km da região central da cidade.
Natural Park of Porto Velho
Foto: Sáimon Rio Nildo Flores
Also known by the population as Ecological Park. With an area of 200 hectares, it houses a zoo with species of the Amazon region, arboretum, a museum, trails, numerous springs and waterfalls, and an environmental education center. It’s located at the end of Rio Madeira Avenue, about 13 km from the city’s central area.
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Parque Circuito
Circuit Park
Com pistas para caminhadas e espaço para piqueniques, o Parque Circuito é um bom endereço para o lazer junto com a família ou para quem quiser ver de perto uma seringueira, árvore da qual é extraído o látex para a produção da borracha. Está localizado na Avenida Lauro Sodré, a cerca de 4 km do centro da cidade.
With hiking trails and picnic area, the Circuit Park is a good place for leisure with one’s family or for anyone wishing to get a close look at a rubber tree from which latex is extracted to produce rubber. It’s located at Lauro Sodré Avenue, about 4 km from the city center.
Mercado do Peixe e Porto Cai n’Água
Fotos menores: Rosinaldo Machado
Fish Market and Cai n’Água Port
Localizado junto ao Porto Cai n’Água, o Mercado do Peixe foi restaurado e reinaugurado em 2007. Em seus 1.411,72 m² de área espalham-se 32 boxes que, além de peixes, oferecem temperos e produtos típicos. Nas fotos, jatuaranas, pacus e tambaquis. Em baixo, a pimenta murupi e castanhas.
Located near the Cai n’Água Port, the Fish Market was restored and re-opened in 2007. In its 1,411.72 m² are spread 32 boxes that, besides fish, offer spices and typical products. In the photos, jatuarana, pacu and tambaqui. Above, the Murupi pepper and Brazil nuts. 67
Igreja de Santo Antônio St. Anthony Church
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Construída em setembro de 1913 é, além de santuário, uma lembrança e uma homenagem aos primeiros desbravadores que chegaram à atual região de Porto Velho. O embrião da futura capital de Rondônia teria nascido quando, em 1728, um jesuíta chamado João Sampaio fundou às margens do Rio Madeira, em sua primeira cachoeira, a missão de Santo Antônio das Cachoeiras. A partir dela tem início o trabalho de catequização dos índios que habitavam seus arredores. Em um período em que portugueses e espanhóis lutavam pela posse do ainda indefinido território brasileiro, a missão também foi um marco para assegurar a presença lusitana na região e, consequentemente, a brasileira.
Built in September 1913, it’s a sanctuary and also a reminder and tribute to the first explorers who came to the current area of Porto Velho. The embryo of the future capital of Rondônia is supposed to have been started in 1728, when a Jesuit named João Sampaio founded the mission of Saint Anthony of the Waterfalls on the Madeira River’s banks, close by the first waterfall. Then started the work of catechizing the Indians who inhabited its surroundings. In a time when Portuguese and Spanish fought over the possession of the yet undefined Brazilian territory, the mission was also a milestone in ensuring the Lusitanian presence in the region and, therefore, the Brazilian.
Fachada da Igreja de Santo Antônio, construída em 1913.
Façade of St. Anthony Church built in 1913.
Cemitério da Candelária Candelária Cemetery
Além do museu, outros locais na cidade lembram a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Um destes locais é o Cemitério da Candelária, localizado no km 2 da Estrada de Ferro. No caminho ainda podem ser observados o antigo traçado da estrada de ferro e a vida daqueles que optaram por viver próximos a ela. Suas lápides, hoje cercadas pela selva que renasceu, revelam as mais variadas nacionalidades dos cerca de 1.000 homens que faleceram entre os anos de 1908 e 1912 na tentativa de levar à frente uma das mais difíceis construções da história do planeta. Besides the museum, other sites in the city remind us of the construction of the Madeira-Mamoré Railroad. One of these sites is the Candelária Cemetery, located at km 2 of the railway. On the way can still be seen the old railroad’s route and the lives of those who chose to live next to it. The tombstones, now surrounded by the jungle that grew again, show the most varied nationalities of about 1,000 men who died between 1908 and 1912 in the attempt to bring forward one of the toughest works in the planet’s history.
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Os Primeiros Habitantes The First Inhabitants
Os primeiros habitantes chegaram à América há mais de 40.000 anos. Foram se acomodando de acordo com suas necessidades. As margens dos grandes rios eram os locais preferidos em função da possibilidade de alimento e locomoção. Nos tempos anteriores à colonização, milhares de tribos se harmonizavam com a natureza. Muitas delas foram eliminadas sem que pudéssemos conhecê-las. Não é possível medir ou descrever o impacto ocasionado pela chegada do homem branco ao Novo Mundo. O relacionamento entre a cultura estrangeira européia e os povos locais foi infinitamente trágico. Os mais de setenta milhões de indivíduos existentes nas Américas foram reduzidos e hoje não representam dez por cento deste total. Em Porto Velho e Rondônia existiram centenas de tribos espalhadas por seus rios, vales, serras e chapadas. Entre elas estavam as tribos dos Jabuti, Tupari, Karipunas, Kaxarari, Karitiana, Nambikwara, Suruí, Arara, Gavião, Kujubim, Cinta Larga, Cabixi, Ariqueme, Pacaá e Mura. A conquista e ocupação de Porto Velho deram-se em quatro momentos distintos e os conflitos culturais atingiram com violência as culturas tradicionais. O primeiro ocorreu ainda durante o período colonial quando da descoberta de ouro, no século XVIII, nos vales dos rios Guaporé, Mamoré e seus afluentes. O segundo, no Primeiro Ciclo da Borracha, em meados do século XIX, quando os seringalistas transferiram para a região milhares de nordestinos para o corte da seringueira. No terceiro momento, durante a Segunda Guerra Mundial, os interesses nacionais ficaram à frente das questões regionais e a chegada desorganizada e abrupta de grandes contingentes de nordestinos acabou gerando grandes conflitos pela posse das terras, com os maiores prejuízos para as nações indígenas e os próprios seringueiros que também se tornaram vítimas da falta de estudos, planejamentos e projetos que pudessem amenizar os problemas enfrentados. No quarto e último período, ocorreu a colonização recente de Rondônia, que se iniciou na década de setenta do século XX, atingindo os dias atuais. Este novo momento reproduziu um quadro muito parecido com os anteriores, com o mesmo desrespeito e desprezo pelas culturas tradicionais. Mesmo assim, Porto Velho carrega em sua formação humana uma forte presença da cultura indígena. Nas ruas da cidade ainda é comum encontrarmos representantes de algumas tribos vendendo artesanato ou reivindicando seus direitos. 72
The first inhabitants arrived in America more than 40,000 years ago. They settled in accordance with their needs. The banks of large rivers were the preferred sites due to the possibility of food and transportation. In the days prior to colonization, thousands of tribes harmonized with nature. Many of them were eliminated before we could come to know them. It’s not possible to measure or describe the impact caused by the arrival of white men in the New World. The relationship between the foreign European culture and the local peoples was infinitely tragic. The more than seventy million individuals that existed in the Americas have been reduced and today they mean less than ten percent of this total. In Porto Velho and Rondônia there were hundreds of tribes scattered over its rivers, valleys, ranges and plateaus. Among them were the tribes of the Jabuti, Tupari, Karipuna, Kaxarari, Karitiana, Nambikwara, Suruí, Arara, Gavião, Kujubim, Cinta Larga, Cabixi, Ariqueme, Pacaá and Mura. The conquest and occupation of Porto Velho occurred in four different times and the cultural conflicts stroke with violence the traditional cultures. The first moment occurred during the colonial period when gold was discovered in the eighteenth century in the valleys of rivers Guaporé, Mamoré and their tributaries. The second, during the First Rubber Cycle in mid-nineteenth century, when the rubber farmers moved thousands of northeasterners into the region for rubber tapping. In the third phase, during World War II, national interests were at the forefront of regional issues and the sudden and disorganized arrival of large numbers of northeasterners ended by generating major conflicts over land, with the greatest losses to the Indian nations and the rubber tappers themselves, who also became victims of the lack of studies, plans and projects that could soften the problems faced. The fourth and final period was during the recent colonization of Rondônia, which began in the seventies of the twentieth century, reaching the present days. This new period reproduced a situation a lot like the previous ones, with the same disregard and contempt for the traditional cultures. Still, Porto Velho carries in its human formation a strong presence of indigenous culture. In the city streets it’s still usual to find representatives of some tribes selling handicrafts or claiming their rights.
Os Desbravadores
The Pathfinders
Se levarmos em consideração o que estabelecia o Tratado de Tordesilhas assinado em 1494, a região onde se situa a cidade e o município de Porto Velho foi propriedade espanhola até meados do século XVIII. As ações portuguesas, ávidas por encontrar riquezas minerais, drogas do sertão e mão-de-obra indígena escrava para suprir as necessidades das capitanias hereditárias do litoral, foram incisivas gerando uma ocupação real do território amazônico. Em 1750, o Tratado de Madri estabeleceu o direito de posse em função da ocupação. Assim, este imenso território passou oficialmente para a Coroa Portuguesa. Os primeiros desbravadores da área territorial que compreende o município de Porto Velho eram espanhóis e portugueses, sendo que as ações portuguesas foram muito mais firmes, possibilitando a posse da região em nome da Coroa Portuguesa. A conquista e ocupação do extremo ocidente brasileiro se devem à ação dos sertanistas, droguistas e bandeirantes. Entre eles, destacamos Antônio Raposo Tavares e sua Grande Bandeira de Limites ocorrida em 1649. Mais tarde, administradores da capitania do Mato Grosso, como Antônio Rolim de Moura Tavares e Luís de Albuquerque Mello Pereira e Cáceres, colaboraram de forma determinante para a expulsão dos espanhóis que pretendiam ocupar a região. Nesta formação humana não podemos esquecer a presença negra que também influenciou a formação da cultura e costumes regionais.
If we consider what established the Treaty of Tordesillas, signed in 1494, the region around the city and the city of Porto Velho itself were Spanish property until the mid1700s. The Portuguese actions, eager to find mineral wealth, drogas do sertão and Indian slave labor to meet the needs of the coastal captaincies, were forceful and produced real occupation of the Amazonian territory. In 1750, the Treaty of Madrid established the right of possession due to this occupation. Thus, this vast territory was officially passed to the Portuguese Crown. The first explorers of the land area comprising the county of Porto Velho were Spanish and Portuguese, and the Portuguese actions were much stronger, allowing the possession of the region on behalf of the Portuguese Crown. The conquest and occupation of the far Brazilian west was due to the action of the frontiersmen, pioneers and Druggists1. Among them, we point out Antônio Raposo Tavares and his Great Bandeira of Limits that he carried out in 1649. Later, officers from the captaincy of Mato Grosso, such as Antônio Rolim de Moura Tavares and Luís de Albuquerque Mello Pereira e Cáceres, collaborated decisively for the expulsion of the Spaniards who wanted to occupy the region. In this human development we can’t forget the Negro presence that also had influence over the formation of regional culture and customs. T.N. - Those who went in search of Drogas do Sertão.
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Arte e Artesanato Arts & Crafts
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O artesanato em Porto Velho é fortemente marcado pela relação de seus moradores com o ambiente, a cultura e a história que os envolvem. A floresta e seus recursos, o Rio Madeira e seus recursos, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, todos estão presentes em grande parte dos trabalhos. Resultado disto encontramos em uma parte do artesanato de Rondônia: as biojoias, joias produzidas com sementes de açaí, tucumã, jarina, coco de castanha do Brasil, cascas de árvores, sementes, madeiras especiais e raízes. Também podem ser produzidas a partir de espinhas de peixe. Por sua beleza e apelo ecológico, são muito comercializadas no Brasil e no restante do planeta. Influência da cultura indígena, também são encontradas muitas peças, utilitárias ou de adorno, produzidas com cipó, bambu ou borracha. A argila é base para as cerâmicas. Também são produzidas peças em cerâmica cristalizada, aquela que ao ser levada a altas temperaturas transforma-se em azulejo. A estrada de ferro e suas locomotivas também são encontradas na cidade. São produzidas principalmente com madeira e metal.
Craftsmanship in Porto Velho is strongly influenced by the relation its residents have with the environment, culture and history that surround them. The forest and its resources, the Madeira River and its resources, the Madeira-Mamoré Railroad, they are all present in most of the works. The results are found in part of the craftwork of Rondônia: the bio-jewels, jewelry made with açaí, tucumã and jarina seeds, Brazil nut shells, bark, seeds, special woods and roots. They can also be produced from fish bones. For the beauty and ecological appeal, they are very well sold in Brazil and in the rest of the planet. Influence of the indigenous culture, many pieces can also be found, utility or for adornment, made with lianas, bamboo or rubber. Clay is the basis for ceramics. Crystallized ceramic pieces are also produced: those that when taken to high temperatures become tiles. The railway and its locomotives are also found in the city. They are produced primarily with wood and metal.
Artesanato em madeira e metal lembra a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Craftwork in wood and metal reminds the Madeira-Mamoré Railroad.
A culinária
Typical Dishes
Taking advantage of its proximity with the Madeira River, and several other rivers of the Amazon Basin, Porto Velho has a cuisine that is strongly marked by the presence of fish. Tambaqui, Filhote, Dourado, Pacú, Pirarucu, Tucunaré, Matrinchã, Jatuarana, Barba Chata, Jaraqui, Bacú, Pirarara, Pintado, Caparari, Cachara, Apapá, Curvina, Croatá, Sardinha and Cascudinha are the most traditional fish on the people of Porto Velho’s tables. They are prepared baked, boiled, grilled in banana straw, or in stews. In the latter, in which the Tambaqui is widely used, the fish is cooked with many spices and plants, and in some houses there is the strong presence of tucupi, a spicy yellow sauce extracted from the cassava root. Influence of the Portuguese, the northeasterners and the migrants who came from the south, beef is also very present in Rondônia’s cuisine. Cozidão (stew) is one of the traditional dishes. It’s prepared with ox ribs – also called the espinhaço, cassava and, in some cases, okra and kale. It’s enjoyed with pepper, dry flour or farinhad’água. Yummy! There’s a joke in Porto Velho that says that as a dessert for this dish there’s the well-deserved rest in a hammock. The panelada is a similar dish. However, this is a stew made with oxen guts. For breakfast, residents have broth of various kinds, tapioca, and porridges made with tapioca, corn and especially, banana. A good place to find regional fruits, taste these dishes and their seasonings is Mercado do 1.
Um costume da cidade: a venda de peixe assado no estilo do churrasco do sul do país. Ao lado, em primeiro plano, o tucupi encontrado no Mercado do 1.
In the foreground (left photo), a city habit: sell fish roasted in the country’s southern barbecue style. In the top photo, tucupi found in Mercado do 1.
Foto: Rosinaldo Machado
Aproveitando sua preciosa proximidade com o Rio Madeira e vários outros rios da bacia amazônica, Porto Velho tem uma culinária fortemente marcada pela presença dos peixes. Tambaqui, Filhote, Dourado, Pacú, Pirarucu, Tucunaré, Matrinchã, Jatuarana, Barba Chata, Jaraqui, Bacú, Pirarara, Pintado, Caparari, Cachara, Apapá, Curvina, Croatá, Sardinha e Cascudinha são os peixes mais tradicionais na mesa dos porto-velhenses. São preparados assados, cozidos, moqueados na palha de banana ou em caldeiradas. Nesta última, em que é muito utilizado o Tambaqui, cozinha-se o peixe com vários outros temperos e plantas, tendo algumas casas a presença marcante do tucupi, molho picante de cor amarela extraído da raiz da mandioca. Influência dos portugueses, dos nordestinos e dos migrantes que vieram do sul, a carne bovina também é bastante presente na culinária de Rondônia. O cozidão é um dos pratos tradicionais. É preparado com costela bovina, também chamada de espinhaço, macacheira e, em alguns casos, com quiabo e couve. Come-se com pimenta da região, farinha seca ou d’água. Delícia! Brinca-se em Porto Velho que, como sobremesa para o prato, segue-se o merecido descanso em uma rede. Prato parecido é a Panelada. Ela, no entanto, é um cozido feito com as vísceras do boi. No café da manhã dos moradores estão os caldos de vários tipos, as tapiocas, os mingaus de tapioca, de milho e, principalmente, o de banana. Um bom lugar para encontrar os frutos da região, experimentar esses pratos e seus temperos é o Mercado do 1.
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