
2 minute read
Prefácio
P
No tempo de infância, eu ouvia, às vezes, meu pai falar em Heimat, um lugar muito distante de onde nós morávamos. Referia-se a uma colônia formada por imigrantes alemães que ele conhecera ao acompanhar uma família vizinha que se mudou para lá quando esse grupo já havia se dissolvido e suas terras estavam à venda. P o s t e r i o r m e n t e , q u a n d o e s t u d a n t e s e c u n d á r i o , chamava-me a atenção o fato de, nos antigos mapas de Santa Catarina, fi gurar a localidade de Heimat e eu me perguntava qual o signifi cado e a razão desse nome para aquele ponto no interior do estado. Em meados da década de 1990, tomei conhecimento do trabalho acadêmico que um aluno da Universidade Federal de Santa Catarina desenvolveu, no laboratório de informática, sobre a colônia Heimat, usando como material principal o acervo fotográfi co produzido por jovens imigrantes que participaram do projeto Heimat.1 Para o historiador, a fotografi a é também uma importante fonte de pesquisa e o referido acervo despertou minha curiosidade, levando-me a procurar outros documentos
Advertisement
1 Trata-se do policial militar Cláudio Hochleitner. O acervo fotográfi co compõe-se de dois álbuns que retratam a trajetória dos jovens em sua viagem da Alemanha até o Brasil e aspectos da vida cotidiana em Heimat.
9
e informações sobre essa colônia. No entanto, o material era sempre muito escasso e fragmentário. Em 1997, ao realizar meu pós-doutorado na Alemanha, tive a oportunidade de pesquisar, no Arquivo do Ministério das Relações Exteriores daquele país, dados para meu projeto de pesquisa, que, por sinal, não contemplava em nenhum aspecto a colônia Heimat. Todavia, inesperadamente, defrontei-me com duas pastas de documentos totalmente dedicados a essa colônia. Eram 167 páginas de documentos originais que tratavam dos mais diversos aspectos, desde a origem, o desenvolvimento, até o fi m da colônia. Providenciei a microfi lmagem dos mesmos e os reproduzi mais tarde, em papel, aqui no Brasil. Localizei também, naquela ocasião, no Lateinamerika Institut de Berlim, a autobiografi a do Padre Johannes Beil, com 110 páginas. Nesse livro, o autor mostra sua trajetória de vida e de atuação no Brasil, com ênfase à colônia Heimat. De volta ao Brasil, o interesse em aprofundar o conhecimento sobre essa colônia levou-me a procurar mais documentos e a entrevistar descendentes dos imigrantes que residiram em Heimat. Consegui localizar duas autobiografi as de pessoas que participaram do projeto colonial bem como inúmeros outros documentos, como a lista nominal dos imigrantes, o diário do Padre Johannes Beil, entre outros. De grande valor foram também os documentos que o casal Veronika e Carlos Groni localizou no arquivo da Caritas em Freiburg i. Breisgau, Alemanha. Esta entidade apoiou, coordenou e, em grande parte, subsidiou o projeto colonial. Tendo em mãos esse material, dei-me ao trabalho de analisá-lo e de extrair as informações necessárias para compor este livro a fi m que mais pessoas possam tomar conhecimento da história dessa colônia tão singular e tão diferente de qualquer outra.
10