ESPAÇO Joseense é homem-chave na exploração do Planeta Vermelho P30
Abril 2011 • Ano 2 • Número 13 R$ 7,80
Hebe Camargo Apresentadora concede primeira entrevista exclusiva após trocar de emissora
CULTURA
Bienal traz literatura a São José P96 POLÍTICA
Obama: Inpe firma parceria com a Nasa P10 ECONOMIA
O Vale investe em imóveis nos EUA P20
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Opinião
Palavra do editor
DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno
A conquista da credibilidade
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oje chega às suas mãos, caro leitor, a edição de um ano da revista valeparaibano. Nesse período, suplantamos as dificuldades e superamos nossos próprios desafios para lhe oferecer o melhor conteúdo, fundamentado no jornalismo democrático e independente. E tal empenho nos trouxe resultados: a conquista da sua confiança. Pesquisa de satisfação encomendada ao Instituto Allure para saber o que pensam nossos leitores revelou que o conteúdo editorial da revista transmite credibilidade para 98,3% dos assinantes. O índice de confiança entre os leitores de banca chega a 87,7%. Já as reportagens são classificadas como excelentes e boas por 92,3% de nossos assinantes. São resultados quem confirmam o compromisso de cada um dos profissionais da equipe de redação com um jornalismo apartidário, plural, que defende a liberdade de expressão e de pensamento, um jornalismo empenhado na defesa do desenvolvimento do Vale do Paraíba, Litoral Norte, Serra da Mantiqueira e, mais recentemente, da região do Alto Tietê, onde a revista também passou a circular. Esse um ano passou rápido, mas promoveu ampla discussão sobre temas relevantes da política, economia e cultura, que formam o lastro editorial da valeparaibano. Proporcionamos aos nossos leitores um material amplo e confiável, falando do Brasil e do mundo, sem perder o vínculo e o foco regionais. Mas nossa missão apenas começou. Esta revista acredita que um jornalismo praticado com transparência e ética é capaz de inspirar, de fomentar mudanças para um futuro melhor. E esse é o nosso compromisso com você, nosso estimado leitor.
DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br), Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Elaine Santos (elainesantos@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br COLABORADORES Cristina Bedendo, Franthiesco Ballerini, José Carlos de Faria, Marrey Júnior e Xandu Alves COLUNISTAS Alice Lobo, Arnaldo Jabor, Carlos Carrasco, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti, Ozires Silva e Roberto Wagner FOTO CAPA Chico Audi CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.
DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE REGIONAL Aline Furtado, Tatiana Musto e Vanessa Carvalho
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Essencial Mídia Carla Amaral e Claudia Amaral (11) 3834 0349
A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000
ASSINATURA E VENDA AVULSA Carina Montoro 0800 728 1919 Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h FAX: (12) 3909 4605 relacionamento@valeparaibano.com.br www.valeparaibano.com.br PARA FALAR COM A REDAÇÃO: (12) 3909 4600 EDIÇÕES ANTERIORES: 0800 728 1919 IMPRESSÃO GRÁFICA OCEANO
Marcelo Claret editor-chefe
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A tiragem é auditada pela BDO
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MODA M
Sumário
A MÚSICA DE HOJE É FASHION P88
ESPECIAL
Hebe Camargo A apresentadora nascida em Taubaté dá a sua primeira entrevista exclusiva desde que deixou o SBT, emissora onde ficou por 25 anos
POLÍTICA ACORDO
ESPAÇO
EVENTO LITERATURA
Parceria entre Inpe e Nasa nos satélites P10
Destino Marte
Bienal traz cultura para São José P96
Visita do presidente Barack Obama firma convênio entre os dois institutos espaciais
Joseense é peçachave da Nasa na exploração do Planeta Vermelho P30
ECONOMIA IMÓVEIS
Investidores da região apostam nos EUA P20 Desvalorização imobiliária americana atrai o dinheiro do Vale do Paraíba POLÍCIA SEGURANÇA PÚBLICA
A cara do crime P44 Pesquisa revela aumento de homicídios causados por motivos fúteis
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MUNDO PÓS TERREMOTO
Medo radioativo P62
Acidente nuclear no Japão revive os dias temerosos vividos há 25 anos em Chernobyl
Grandes nomes da literatura brasileira chegam à cidade para discutir com seus leitores os caminhos das letras TURISMO MARROCOS
As cores do mundo árabe P76 Ensaio Fotográfico p68 Patrimônio p104 Cinema p118 Ponto Final p130
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Palavradoleitor Adoro a diversidade de assuntos, a clareza e qualidade dos textos e fotos da revista valeparaibano. Também acesso o site, blogs e acompanhanho sempre as novidades da revista via Facebook. Esta interação, aliás, é ótima, sinal de que a revista respeita o leitor e oferece, pelos meios digitais, um material complementar ao que lemos nas páginas. Gosto em especial do blog “Solta o pause!!!” que nos faz ficar por dentro do cenário musical, além de nos agraciar com a “Pérola musical do dia!”, sempre interessante. Parabéns a todos os responsáveis por este excelente trabalho. Cristina Carvalho, empresária
ENQUETE O que você acha que ficará pronto primeiro: a Rodovia dos Tamoios ou o Porto de São Sebastião?
39,33% 28,93%
31,74%
Porto Tamoios Nenhum Foram computados 356 votos entre os dias 10 e 21 de março
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Domingo 3 Abril de 2011
POLÍTICA Vereadores de São José trabalharam menos em 2010
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valeparaibano valeparaibano Março 2011 • Ano 1 • Número 12 R$ 7,80
ISABELLE CARO Modelo francesa que expôs o corpo em campanha de combate à anorexia morreu aos 28 anos, após uma década e meia de luta contra a doença
A revista valeparaibano publicou reportagem de capa na edição anterior sobre os jovens que sofrem de distúrbios alimentares
GRITO ROCK
@_analopes É de estarrecer! Até quando a ditadura da magreza vai criar tantas Anas?
OBSESSÃO
Anoréxicas e bulímicas criam blogs que apoiam a ideia de emagrecer a qualquer custo, mesmo que isso leve à morte
ANOREXIA 1 Flagelo É um flagelo a obsessão que os jovens, em sua grande maioria meninas, têm pela busca do corpo perfeito. Influenciadas pela mídia, que as fazem crer que a magreza excessiva é um padrão de beleza, e ainda, espelhadas em modelos internacionais, colocam suas vidas em risco e, consequentemente, abalam e desestruturam suas famílias. Assim, parabenizo a revista valeparaibano pela reportagem sobre os transtornos alimentares, pois, além de ser bastante esclarecedora, serve de alerta para nós pais. Ricardo Chiarioni Advogado
ANOREXIA 2 Alerta
Geral:
Underground Ficou muito boa a reportagem! Matéria grande explicando bem sobre o Grito Rock!! Valeu pela iniciativa em ajudar o underground da região! Abraços!!!
@luis_honorio Pois é...alguma notícia do Litoral Norte, que possa ser destacada aqui no twitter?
Bruno Torraque Músico
BETHÂNIA MinC Enquanto isso, coletivos culturais independentes se multiplicam, viram noites de cidade em cidade, vendendo feito mascates, seus CD´s, adesivos, camisetas e outros trecos. Além de terem que contar com a boa vontade de amigos e uma ou outra empresa para produzir um videoclipe. Porém, com o tempo, muitos não sobrevivem, mesmo com boas ideias, que definham sem apoio. E a cultura regional vai ficando cada vez mais pobre. Lan Paz Designer, sobre o apoio do MinC de R$ 1,3 milhão para criação de um blog da cantora Maria Bethânia
Parabenizo a revista valeparaibano pela excelente reportagem “Obsessão de Ana”, que serve de alerta para os pais e educadores sobre duas doenças que vem acometendo muitos de nossos jovens: a anorexia e a bulimia. Essa busca insana por um corpo magro, enaltecida pela mídia, fez com que nossas jovens ficassem insatisfeitas com a própria aparência, ocasionando esses problemas que devem ser tratados como doenças. Muito bom saber que temos uma revista na região a favor da coletividade, colocando temas de grande valia para a nossa população.
A revista valeparaibano é excelente, pois, além de abordar com clareza e dinamismo os assuntos regionais, aborda matérias internacionais de alto nível! A matéria sobre a Rota 66 foi a que mais me marcou nesse 1 ano de revista. As fotos me levaram para o lugar. Ficou demais! Parabéns à revista e a toda equipe que transforma pequenas histórias em grandes matérias!
Ralf Stanley Arte-educador
João Paulo Córdoba Empresário
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Sobre a Anorexia:
CLAREZA Grandes matérias
@tancycosta Almir Satter é bom! (sobre a divulgação da programação da Virada Cultural 2011 em São José dos Campos)
Sobre o aniversário da revista: @arturveneziani Menos de 1 ano a revista valeparaibano já é destaque entre os leitores
Sobre o show de Ozzy Osbourne no Brasil: @milerio O show de abertura é mais interessante que o show principal
Sobre a Avibras: Leandro A Embraer entra e a Avibras sai do mercado bélico. Não seria melhor as duas se juntarem? (comentário recebido no site)
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Política
Da Redação Dilma quer virar a presidente da cultura Entusiasta das artes, Dilma começa a organizar eventos mensais com a classe artística no Palácio da Alvorada
BRANCO & PRETO O que os deputados estaduais paulistas acharam do presidente americano Barack Obama não visitar a cidade de São Paulo?
Valter Campanato/ABr
“Foi escolha política e equivocada. São Paulo tem todo o peso econômico do país” Regina Gonçalves deputada Estadual pelo PV
PRESENTE POP Dilma Rousseff com a cantora Shakira, que presenteou a presidente com um violão
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presidente Dilma Rousseff começou uma série de encontros culturais no Palácio da Alvorada para se aproximar da classe artística. Desde o mês passado, é organizado um evento artístico por mês, com convidados de diferentes áreas. A estreia contou com 30 cineastas mulheres, convidadas para um jantar com a presidente. A escolha de mulheres ligadas ao cinema fez parte das comemorações do mês da mulher. Nos próximos meses, entretanto, o público não ficará restrito ao gênero feminino. O governo já programa eventos no Alvorada que celebram a música, a literatura e o teatro. O plano é trazer grandes nomes da cultura brasileira para dentro
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“da casa da presidente”. Ao aproximá-la de artistas, o Planalto ao mesmo tempo agrada à presidente, entusiasta das artes, como também tenta carimbar Dilma como “a presidente da cultura”. A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, é uma das principais entusiastas da ideia. Ela deverá ajudar na escolha dos temas e convidados. Não se sabe ainda qual o tamanho da repercussão no caso do blog da cantora Maria Bethânia dentro no governo. O fato é a ministra Ana de Hollanda gastou muito tempo de sua equipe em explicações que se fossem desnecessárias não existiriam. Já que Dilma quer ser “a presidente da cultura” seria bom que a discussão sobre a reformulação da Lei Rouanet saísse do papel. Isso evitaria inclusive desgastes como esse causado pelo caso Bethânia.
“Falou dos caças, quebrar barreiras comercias... Por isso foi falha não ter vindo a São Paulo, a locomotiva do país” Orlando Morando deputado Estadual pelo PSDB
“O Rio atrai por ser amplamente divulgado. Isso precisa ser revisto. Eles dependem muito do petróleo do Oriente Médio. Por isso há anseio por proximidade” Vanessa Damo deputada Estadual pelo PMDB
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Domingo 3 Abril de 2011
Indio da Costa sinalizando que pode mudar para o partido criado por Kassab
Um nome para a sucessão de Cury em 2012?
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laude Mary de Moura, 46 anos, secretária de Governo de São José dos Campos, tem comparecido às inaugurações de obras e substituído o prefeito Eduardo Cury (PSDB) em eventos de grande visibilidade. Essa movimentação tem um objetivo: as eleições municipais do próximo ano. A secretária, que está há 14 anos na administração tucana, desde o primeiro mandato de ex-prefeito Emanuel Fernandes, também passou a participar com maior frequência de reuniões e palestras em entidades da sociedade civil organizada. Mas a movimentação para viabilizar o nome
Casal Peixoto na mira do MP
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Ministério Público investiga o custeio de eventos promovidos pelo Departamento de Ação Social e pelo Fundo Social de Solidariedade de Taubaté, presidido pela primeira-dama Luciana Peixoto. A denúncia aponta que festas organizadas pelo DAS e pelo Fussta seriam bancadas desde 2006 pelas empresas Sistal Alimentação de Coletividade e EB Alimentação Escolar –antiga e atual fornecedora de merenda à rede municipal. Para a Promotoria, o ‘patrocínio’ aos eventos da prefeitura pelas empresas é ilegal, já que os “contratos existentes entre as empresas Sistal e EB poderem sofrer alte-
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“Nunca fui do PSDB. Fui vice do Serra pelo DEM. O DEM busca renovar nacionalmente, mas no Rio continua um cartório do Rodrigo Maia [ex-presidente nacional da legenda]”
de Claude para a sucessão de Cury causou embaraço dentro do PSDB, que já teria outros pré-candidatos ao Paço Municipal. Um deles seria Alexandre Blanco, presidente do PSDB em São José e secretário de juventude. O governo saiu dizendo que qualquer discussão sobre sucessão é prematura. Cury chegou a recordar que sua candidatura foi anuciada apenas alguns meses antes de ser registrada. Nos bastidores a pré-candidatura de Claude é dada como certa. Se o nome for confirmado, ela será a segunda mulher a disputar a cadeira na história de São José. A primeira a concorrer ao cargo foi a atual vereadora petista Angela Guadagnin, que acabou eleita. Os outros nomes de pré-candidatos seriam dos secretários Marina Oliveira (Defesa do Cidadão), Anderson Ferreira (Transportes), Felício Ramuth (Planejamento em Comunicação), Alberto Mano Marques (Educação), Alfredo de Freitas (Urbam) e Carlos Santana (Assuntos Estratégicos). rações quantitativas, de valores, de tempo ou até mesmo serem rescindidos”. Ação foi apresentada à Justiça pelo promotor José Carlos de Oliveira Sampaio, que pede a condenação do prefeito Roberto Peixoto (PMDB), da primeira-dama e das duas empresas por improbidade administrativa. A Sistal foi contratada em agosto de 2001 pelo ex-prefeito Bernardo Ortiz (PSDB) e permaneceu durante o governo de Peixoto por meio dos contratos emergenciais. Em janeiro de 2008, a prefeitura assinou um contrato de R$ 24 milhões com a EB Alimentação para fornecimento da merenda para 2008 e 2009. Em 2010, a prefeitura teria pago R$ 21,5 milhões a EB. Este ano, foram R$ 18,6 milhões. Luciana Peixoto acumulava as funções de diretora do DAS e presidente do Fussta. Em fevereiro de 2009, foi exonerada do departamento em atendimento a determinação judicial –sua atuação foi considerada nepotismo. Neste ano, com a criação das secretarias, a primeira-dama voltou a ocupar a pasta de Ação Social, desta vez como secretária.
Mantega quer mudança na chefia da Vale O governo federal começou a se movimentar para fazer a mudança que deseja na mineradora Vale: tirar Roger Agnelli da presidência-executiva da empresa. O governo teria pedido ao Bradesco o cargo de Agnelli. Isso teria ocorrido numa conversa entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão. O banco, por meio da Bradespar, é um dos principais acionistas da empresa. O objetivo foi ofi cializar a intenção de trocar Agnelli e iniciar a negociação em torno de um nome para substituí-lo. Dentro do banco, havia a ideia de, não sendo possível manter o executivo, organizar um processo de transição. A ideia de Mantega, no entanto, é combinar tudo agora e fazer a troca na assembleia de acionistas da Vale marcada para este mês. Embora a Vale tenha sido privatizada em 1997, o governo exerce influência na companhia por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e de fundos de pensão de empresas estatais liderados pela Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), que são acionistas da mineradora. Junto com a Bradespar (empresa de participações ligada ao Bradesco) e da trading japonesa Mitsui, eles controlam a Vale.
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Política CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Vigilância do espaço construir e lançar satélite para monitorar precipitações e prevenir desastres naturais em todo o país; acordo de cooperação espacial é assinado entre presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama na visita do dirigente norte-americano ao Brasil Yann Walter São José dos Campos
ntre discursos sobre temas sérios como o ataque à Líbia, democracia e a composição do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), e uma visita descontraída à comunidade de Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, uma ação do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, passou despercebida: no dia 19 de março, por ocasião de uma breve viagem ao Brasil com a família, o dirigente norte-americano assinou com a presidente Dilma Rousseff um acordo de cooperação espacial. O documento, intitulado ‘Acordo-Quadro sobre Cooperação nos Usos Pacíficos do Espaço Exterior’, é amplo. Inclui áreas como observação e monitoramento da Terra, ciência espacial, sistemas de exploração e operações espaciais, assim como “outras áreas relevan-
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tes de interesse mútuo”, segundo o texto publicado no site do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Um dos pontos mais interessantes do acordo é que ele formaliza a cooperação entre a Nasa, a Agência Espacial americana, e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), para a construção e o lançamento de um satélite comum. O GPM (sigla em inglês para Medida de Precipitação Global) deve ajudar a prevenir desastres naturais como as chuvas torrenciais que assolaram a região serrana do Rio e, em menor medida, São José dos Campos, em janeiro passado. “O GPM Brasil vai integrar uma constelação de oito satélites, a maioria deles americanos, destinados a monitorar as precipitações em todo o planeta. No total, cinco países participam do projeto: Estados Unidos, Japão, Brasil, França e Índia. Os dois últimos estão associados na fabricação de um satélite que será lançado em 2012. No ano seguinte, americanos e japoneses, os líderes deste projeto global, lançarão um satélite comum, que já está em construção. Em 2014, pretendemos
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Foto ilustrativa
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Política Valter Campanato/ABr
lançar, em parceria com os Estados Unidos, nosso próprio satélite, o GPM Brasil. Estes três satélites serão muito mais avançados tecnologicamente que os outros cinco que já estão em órbita”, explicou à revista valeparaibano Marco Antônio Chamon, coordenador de gestão tecnológica do Inpe. De acordo com Chamon, o Brasil será o responsável pela fabricação de quase todas as peças do satélite. “O GPM Brasil é dividido em duas grandes partes: a plataforma de serviços e a carga útil. A primeira reúne todos os equipamentos necessários para manter o satélite operacional e em ordem, enquanto a segunda é formada pelo sensor que mede as precipitações e por um conjunto de pequenos elementos. Este sensor será a única peça fabricada nos Estados Unidos. Todo o resto do satélite será produzido por nós”. O GPM Brasil, que cobrirá todo o território brasileiro e o Sul dos Estados Unidos, tem como principal objetivo medir as precipitações na região tropical. O aparelho deverá custar entre 100 e 120 milhões de dólares. “Trata-se de uma primeira estimativa. O custo ainda pode evoluir”, ressaltou Chamon. A princípio, o Brasil entraria com US$ 50 a 70 milhões, e os norte-americanos arcariam com outros US$ 50 milhões para fabricar o sensor. “O governo já se comprometeu com a liberação destes créditos, mas o orçamento ainda tem que ser aprovado pelo Congresso. A tendência é que isso aconteça no segundo semestre deste ano. Ao contrário, a verba necessária para a condução dos estudos preliminares já foi liberada”, declarou o coordenador brasileiro, frisando que os americanos estão na mesma situação. “O Congresso dos Estados Unidos ainda não aprovou o orçamento do projeto GPM, mas já sabemos que a NASA sofreu um corte de verbas significativo em março passado. Vamos aguardar”. Corte de verbas Chamon ressaltou que tanto o Inpe quanto a Nasa têm interesse em acelerar o lançamento do GPM Brasil, previsto inicialmente para 2015. Na opinião dele, a maior parte do satélite será fabricada em 2012. Entretanto, para Marco Antônio Raupp, presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), o corte no orçamento da Nasa pode se tornar um empecilho para o adiantamento do processo. “A discussão está em andamento, ainda não existe uma definição. Nós queremos iniciar a fabricação do satélite ainda este ano, mas a Nasa diz que está sem dinheiro”, disse Raupp, ex-diretor-geral do Inpe e do
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DISCURSO O presidente Barack Obama discursa no Rio de Janeiro durante sua visita ao Brasil em março
O GPM Brasil, que cobrirá todo o território brasileiro e o Sul dos Estados Unidos, tem como principal objetivo medir as precipitações na região tropical para prevenir desastres naturais
Parque Tecnológico de São José dos Campos. Ele assumiu a presidência da AEB no dia 21 de março no lugar de Carlos Ganem, que ocupava o cargo desde 2008. Hoje, a maior incógnita é o local de lançamento do satélite. Ainda não se sabe se o aparelho será lançado dos Estados Unidos ou do Brasil. Chamon recordou que o país ainda não dispõe de um lançador adequado. “Cabe ressaltar que um VLS (Veículo Lançador de Satélites) tem que estar pronto no mínimo dois anos antes do lançamento”, lembrou o coordenador do Inpe. Ou seja, para que o satélite possa ser lançado do Brasil na data
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Divulgação
prevista, o país teria que se dotar de uma plataforma de lançamento operacional até 2012, algo que, de acordo com Raupp, não vai acontecer. “O Brasil não terá um VLS operacional antes de 2016 ou 2017”, avisou. Assim, segundo o presidente da AEB, o mais provável é que seja utilizado o veículo lançador ucraniano Cyclone 4, desenvolvido atualmente pela binacional Alcântara Cyclone Space no centro espacial de Alcântara, no Maranhão. No entanto, não há garantias de que o equipamento esteja operacional daqui a dois anos. Outra possibilidade, não descartada por Raupp, é que o GPM Brasil seja lançado a partir do território norte-americano. “É possível, mas não é o que queremos. Vamos fazer de tudo para que o satélite seja lançado daqui. A tendência é usar o Cyclone 4, mas se o programa acabar atrasando demais, talvez nosso próprio VLS até já esteja pronto”, explicou. Em todo caso, o GPM Brasil permitirá dar um salto de qualidade gigantesco nas previsões meteorológicas e, consequentemente, na prevenção dos desastres naturais. “Ao
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TECNOLOGIA Imagem captada via satélite
contrário dos sistemas de observação terrestres, os satélites podem monitorar grandes áreas ao mesmo tempo. São, portanto, ideais para complementar as observações em terra. Graças à maior quantidade de dados colhida pelo GPM, a previsão do tempo ganhará em precisão, o que terá um impacto direto em nossa capacidade de prevenir os desastres naturais”, explicou Chamon. De acordo com o Ministério de Ciência e Tecnologia, o GPM fornecerá informações como a temperatura do ar dentro das nuvens e a densidade das mesmas. Assim, os meteorologistas conseguirão determinar onde estão as nuvens mais carregadas e antecipar a formação de tempestades em todo o globo terrestre. Quanto ao compartilhamento dos dados colhidos pelo GPM, o funcionário do Inpe ressaltou que, por motivos técnicos, somente os países envolvidos no projeto receberão as informações em tempo real. Entretanto, ele garantiu que todas as nações do planeta poderão receber todos os dados considerados relevantes dentro de um prazo máximo de três horas. •
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Política
Ozires Silva
O exemplo de cidadania que o Japão nos dá diante da tragédia vivida impacto das notícias do Japão, depois do terremoto mês passado, seguido de um maremoto devastador (agora conhecido como tsunami), e mais, com a perspectiva de uma perigosa contaminação provocada por radiação nuclear, diria, um pouco sensacionalista, mas com repercussões mundiais, creio que há ângulos a se refletir, e da maior importância, que emergem de uma sociedade, no mínimo, surpreendente.
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Por mais que gostaríamos que o povo brasileiro tivesse um comportamento semelhante, o exemplo que os japoneses estão dando para o mundo, embora possam estar destroçados por um ato potente da natureza, mostram uma lição para o mundo, que não pode deixar de ser notada. Notícias da imprensa mundial mostram uma comovedora lição de grandeza, quando se vê o povo japonês como um todo preservar, em que pesem o caos ao qual a população foi submetida, uma disciplina, uma honestidade, desprendimento e uma enorme solidariedade de uns ajudarem os outros. O quadro que mostram ao mundo é no mínimo comovente. Correspondentes da imprensa mundial notaram diferenças marcantes entre os japoneses e outros povos, que enfrentaram problemas semelhantes e possivelmente não tão graves. Não se tem notícias de saques, não há disputas, ninguém
REFERÊNCIA “O povo japonês na sua dura resistência às fatalidades mostra um exemplo, digno de nota” coloca a mão no que não seja seu. O povo japonês na sua dura resistência às fatalidades mostra um exemplo, digno de nota, e nos leva a imaginar que, um dia, outros povos e nações poderiam copiá-los. Certamente teríamos algo de novo e de melhor na sociedade humana, na maioria das vezes, devorada pela cobiça e pelo papel típico de tentar levar vantagem sempre. Há muitas explicações para tal estoicismo e elas vêm de fatores que têm origem no passado, construído por comportamentos que vêm de longe, através de uma cultura milenar, laços familiares, crenças consolidadas por séculos e, sobretudo, algo que temos discutido desde há algum tempo, a educação abrangente e de qualidade. Um país de poucas leis, mas sempre respeitadas, ao contrário dos excessos de diplomas legais que vemos no nosso país, editadas sob crenças do nosso sistema político de que se podem corrigir comportamentos através de uma pletora de normas e regulamentos, de toda a sorte. Esquecemo-nos o quanto são importantes as tradições, a religião e os fortes sentidos de integridade, levados a todos, e sobretudo às crianças desde a mais tenra idade.
Tudo isso colocou o Japão como alvo da ajuda internacional, certos os doadores de que os recursos materiais ou financeiros, não serão desviados dos seus objetivos. E que, serão utilizados com todo o cuidado e eficiência, tornando válida uma observação que cresce entre nós, os brasileiros: “É possível que o Japão caminhe para uma recuperação antes de que se construam no Brasil o primeiro dos estádios, que tanto se fala, para, por exemplo, a Copa de 2014.” Como uma nação competitiva, construindo uma economia sólida após a 2ª Guerra Mundial, depois de uma guerra perdida, os japoneses se mostram através de ações e de rígidas regras de comportamento, que os conduziram a lideranças em vários segmentos da produção e da tecnologia, algo humano de alto valor. Um exemplo que deveria ser imitado, mostrando que mesmo em tragédias descritas com detalhes na imprensa mundial, não deixa de ser admirável de se constatar que, mesmo na mais profunda adversidade, é possível se ter comportamentos e solidariedade para com o próximo que, sem dúvida, fazem diferenças. •
Ozires Silva Engenheiro
ozires@valeparaibano.com.br
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Política
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Divulgação
PANORÂMICA Vista geral do Porto de São Sebastião, que ocupa área de 500 mil metros quadrados
INFRAESTRUTURA
Ampliação do porto só em 15 anos 016-019_POLÍTICA_Porto.indd 16
Nos próximos quatro anos, Estado construirá apenas o segundo berço para navios em São Sebastião; projeto de ampliação esperado há uma década e meia vai continuar no papel até o final do mandato de Geraldo Alckmin (PSDB)
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Elaine Santos São Sebastião
mperrada na burocracia, a obra de ampliação do Porto de São Sebastião vai demorar mais 15 anos para ser entregue. Enquanto isso, o governo do Estado fará nos próximos quatro anos melhorias na infraestrutura , com a construção de um berço para embarcações e a implantação de um novo ferry boat para a travessia até Ilhabela. O novo prazo de 15 anos para a conclusão da obra foi dado pelo presidente da Companhia Docas de São Sebastião, Casemiro Tércio de Carvalho, que assumiu o cargo neste ano. A estimativa é que as obras do projeto de ampliação do porto, que prevê dobrar o tamanho da área existente para 1 milhão de metros quadrados e ampliar em mais de 35 vezes a capacidade de movimentação de cargas, sejam iniciadas somente daqui a cinco anos, quando todas as licenças estiverem aprovadas e o processo de licitação, concluído. Segundo Carvalho, a estratégia para os próximos quatro anos, período do mandato do governador Geraldo Alckmin (PSDB), é viabilizar investimentos no porto existente. “Hoje, praticamente, a gente utiliza só 30% da área [de 500 mil metros quadrados do porto]. Então, o foco vai ser viabilizar o restante [dessa área]”, disse Carvalho. “O projeto [de ampliação] tem maturação de 15 anos. Não vai ser de uma noite para o dia. Mesmo porque não adianta ampliar o porto sem ter a [rodovia dos] Tamoios [duplicada] e os contornos [de Caraguá e São Sebastião] feitos”, disse. O investimento previsto para a construção do novo berço para embarcações e para a mudança da localização da travessia da balsa é de R$ 13 milhões neste ano –valor bem aquém dos R$ 2,5 bilhões previstos para o projeto de ampliação. A previsão é que as obras de melhoria da infraestura portuária comecem no segundo semestre. Dentro dos projetos programados pelo governo do Estado, em paralelo à ampliação do porto, estão a construção da segunda pista na Tamoios e o chamado contorno São Sebastião–Caraguatatuba para dar fluidez ao tráfego na chegada ao Litoral Norte. Essas obras estão estimadas em R$ 4,5 bilhões. A ampliação do porto e a duplicação da Tamoios são prometidas pelos governos do PSDB desde 1995 e também foi promessa de
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INSTALAÇÕES Único berço de atracação que recebe embarcações em São Sebastião; abaixo, instalações do porto
Raio X • Movimentação atual de carga 750 mil toneladas por ano • Investimento em obras no porto: R$ 13 milhões para este ano • A previsão para 2035, com obras de ampliação concluídas, é que a capacidade de movimentação cresça para 27 milhões de toneladas ao ano • Investimento previsto para o projeto de ampliação: R$ 2,5 bilhões, para os próximos 15 anos
campanha de Alckmin. “Já fiz várias reuniões com o secretário da Fazenda (Andrea Calabi) e o secretário da Casa Civil (Sidney Beraldo), nas quais tratamos da duplicação da Tamoios. Neste momento, estamos analisando a capacidade de endividamento do Estado e outras formas de captação de recursos para viabilizar a obra. Uma das possibilidade é que parte do financiamento seja feito via BID (Bando Interamericano de Desenvolvimento)”, disse o secretário de Planejamento do Estado, Emanuel Fernandes, afirmando que a obra é uma prioridade e os recursos para a execução estarão no relatório do PPA (Plano Plurianual), que deverá ser concluído até agosto. O projeto de ampliação do Porto de São Sebastião está concluído, mas aguarda
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Política
aprovação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Além do custo de R$ 1,3 bilhão do projeto, outros R$ 255 milhões serão destinados para obras classificadas como associadas –sistema viário local, parque linear, travessia de balsas e outras facilidades para viabilizar as operações portuárias. Com a expansão, o Porto de São Sebastião passará a ocupar uma área de 1 milhão de metros quadrados. Toda a estrutura da obra de expansão deverá ser feita sobre pilotis (método de construção sob estacas), um empreendimento que permitirá a passagem da corrente de águas da baía da praia do Araçá. O projeto prevê, além de 12 berços para embarcações (o porto tem apenas um), a formação de um espelho d’água onde serão implantadas infraestrutura de apoio aos pescadores e um deck de acesso à prainha existente na ponta do Araçá. Essas instalações serão implantadas e mantidas pelo porto. Serão construídos oitos berços de área profunda, quatro para contêineres, dois para granel líquido e dois berços de uso comum, onde a prefeitura já prevê o uso para a atracação de navios de passageiros. O cais público do Porto de São Sebastião movimenta 750 mil toneladas por ano. Segundo planilha elaborada pelo Instituto ILOS, a previsão de movimentação de cargas até 2035, quando espera-se que o porto esteja totalmente ampliado e com todos os terminais em operação, passará para 27 milhões de toneladas. Localizado a 200 quilômetros da capital, é considerado a terceira melhor região portuária do mundo. Entre os principais produtos de exportação, estão os veículos e animais vivos. Os itens mais movimentados na importação são a barrilha, o sulfato, o malte e cevada. Considerando a movimentação dos granéis líquidos por meio do terminal privativo da Petrobrás/Transpetro, o Tebar (Terminal Almirante Barroso), que fica dentro da área do porto organizado, o índice sobe para 51 milhões de toneladas. A abrangência econômica do porto não se limita ao Estado de São Paulo: estendese ao Estado de Minas Gerais e ao litoral brasileiro, na bacia de Santos, grande fornecedora de gás e petróleo, e Campo de Mexilhões, com jazidas de gás. No exterior, a influência abrange os países do Mercosul, importadores de veículos nacionais, e países da África, que importam produtos oriundos do agronegócio.
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”Vamos fazer um projeto nesses quatro anos no porto que já existe, sem perder o horizonte no projeto completo” Em entrevista à revistaa valeparaibano, o presidente da Companhia Docas de São Sebaso tião, Casemiro Tércio de Carvalho, disse que as obras de melhorias no Porto de São Sebastião terão início neste ano. Entretanto, deixou claro que esses investimentos não fazem parte do projeto da ampliação, considerado fundamental ao desenvolvimento do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Leia os principais trechos Em entrevista recente o senhor afirmou que em 2012 terão início as obras de ampliação do Porto. Isso está correto? Na verdade, a estratégia para esses próximos quatro anos é viabilizar o porto existente. Hoje, praticamente, a gente utiliza só 30% da área. Então, o foco vai ser viabilizar o restante da área. O que a gente vai entregar para a população vai ser as obras do porto existente, ou seja, mais um berço avançado. Hoje só tem um berço, que estamos dragando para chegar em 10 metros. O que nós pretendemos entregar no prazo de quatro anos é a área existente completa do porto, ou seja, mais de 500 mil metros quadrados e a transposição da Balsa da Dersa. Qual área está programada para abrigar o novo ferry boat? Será em uma área ao norte do porto, uma área imensa que terá o ferry boat com três gavetas de atracação de balsas mais um estacionamento, que seria um buffer (retentor), para fazer a fila dos veículos. Em quanto tempo o governo prevê entregar essas obras? Então, esse será o foco dos próximos quatro anos, enquanto arrola os processos de arrendamentos, as licenças de instalação de cada terminal etc... Vamos viabilizar o pátio já existente, que hoje tem apenas 30% da área sendo
utilizada. Os outros 70% é um terreno, e nós u temos licença de operação para operar nesse te terreno. Ao invés de ficar buscando um projeto te de 15 anos, vamos fazer um projeto nesses quad tr tro anos no porto que já existe, sem perder o h horizonte no projeto completo. A ampliação d do porto em si vai decorrer de acordo com todos os tramites burocráticos que são normais e que vão ter que ser esperados. Em resumo, o que o governo fará nesses próximos quatro anos são melhorias nesse terreno que não é usado. É isso? Exatamente. O que precisa deixar muito claro é que o projeto de expansão do porto vai ser ‘faseado’. Não é de uma vez só. E a primeira fase desse projeto é justamente viabilizar a área já existente. O projeto que está no site do Rima, a maturação desse projeto, é de 15 anos. Não vai ser de uma noite para o dia. A viabilização do porto existente hoje e o contorno são obras compatíveis, que é o que dá para ser feito nesses quatro anos. É muito fácil um gestor vislumbrar um projeto de médio e longo prazos e não dar ‘entregáveis’ para o mercado logístico. Quando falo em canteiros de obras para esse ano, é que o ferry boat seja transposto esse ano abrindo uma nova área para atuação off shore no porto e, obviamente depois de conquistada a Licença Prévia, a gente construir um píer avançado, um cais para triplicar a capacidade de atracação no Porto, que hoje só dá pra atracar um navio de grande porte. Qual a previsão para as obras do píer? A expectativa é que até julho tenhamos a Licença Prévia para ter a condicionante da Licença de Instalação. Eu não acredito que a obra do píer aconteça esse ano. O processo de arrendamento e de solicitação da Licença de Instalação vai demorar. Então até isso acontecer vamos viabilizar o porto que existe. Não vamos esperar o porto futuro, vamos fazer o porto do presente sem tirar o olho do porto do futuro. •
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Por que a Dengue pode matar você?
VOCÊ NÃO ESPERA. O mosquito ataca durante o dia. E pica quem encontrar pela frente, seja criança ou adulto, rico ou pobre. VOCÊ NÃO VÊ. O mosquito tem um terço do tamanho de um pernilongo. E não faz o menor ruído que possa chamar a sua atenção. VOCÊ NÃO SENTE. A picada do mosquito não causa dor, nem coceira na pele. NÃO TEM REMÉDIO. Não existe vacina ou medicamento para combater a doença. Os cuidados são apenas contra os sintomas, como dor, febre e mal estar geral. SÓ TEM UM JEITO DE EVITAR. Não deixe o mosquito nascer. Evite água parada nas plantas e recipientes, retire os objetos sem serventia do quintal e mantenha a lixeira e a caixa d`água tampados. Para mais informações, ligue 3931-2292 e 3937-8631.
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Economia CONSTRUÇÃO CIVIL
Home, sweet home Desvalorização de casas e apartamentos leva brasileiros a investirem no mercado imobiliário norte-americano; moradores do Vale do Paraíba fecham negócios nos EUA Hernane Lélis São José dos Campos
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mercado imobiliário nos Estados Unidos ainda se recupera dos estragos provocados pela crise financeira. A lenta retomada do setor –pouco mais de três anos após a recessão– reflete diretamente nos preços dos imóveis, levando a desvalorização de casas e apartamentos em até 40% em alguns estados. A situação vem atraindo cada vez mais brasileiros interessados em adquirir uma propriedade no exterior, seja para convertê-la em rendimento ou para realizar o sonho de repousar em seu próprio lar em Miami Beach, na Flórida. O Brasil já se destaca como um dos maiores compradores de imóveis nos Estados Unidos. Dados da National Association of Realtors – associação de corretores– mostram que atualmente 80% das propriedades vendidas somente em Miami são para estrangeiros. Desse percentual, calcula-se que metade é de brasileiros. A maioria dos contratos contempla, além de Miami, outras cidades da Flórida, como West Palm Beach e Orlando. O Estado ameri-
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cano é a vedete habitacional do momento. De acordo com agentes imobiliários que atuam na região do condado, o interesse começou no final de 2008 devido à crise norteamericana e ao crescimento da economia brasileira. Hoje, soma-se a essa combinação a forte valorização do Real frente ao Dólar. A procura entre os brasileiros, segundo Cristiano Piquet, dono da Piquet Realty, empresa especializada em assessoria imobiliária nos EUA, é por casas e apartamentos com valor entre US$ 250 mil e US$ 400 mil. Por essa quantia é possível comprar uma casa com três quartos, área útil variando entre 150 e 200 metros quadrados, num condomínio próximo à praia, com piscina, área verde, banheira de hidromassagem, em West Palm Beach, por exemplo. As taxas de financiamento giram em torno de 5% a 7% ao ano para planos até 30 anos. Se o prazo diminuir para, no máximo, 15 anos, os juros têm meio percentual de redução. Como a maioria dos bancos é internacional, não é difícil conseguir uma boa negociação. “Os brasileiros procuram imóveis com vista para o mar, em prédios novos nas áreas de Miami Beach, Sunny Isles e Brickell. A vantagem é que os estrangeiros não têm que pagar nenhuma taxa pelo investimento.
CARTÃO-POSTAL Vista de iates ancorados na orla de Miami Beach, o badalado condado do Estado da Flórida
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Fotos: Divulgação
80% das propriedades vendidas em Miami são para estrangeiros. Desse percentual, calcula-se que metade dos negócios é fechado com brasileiros
Quem pretende comprar precisa dar uma entrada de 35% do valor do imóvel e o restante é dividido em parcelas fixas”, explicou Piquet, que somente em 2010 vendeu cerca de 300 apartamentos à clientes do Brasil, o que representa, segundo ele, o dobro do negociado nos anos anteriores. Ainda segundo o empresário, que é sobrinho do tricampeão de Fórmula 1, Nelson Piquet, muitos brasileiros estão abrindo mão de comprar uma casa no litoral paulista ou carioca e optando por Miami devido ao valor do investimento e seu possível retorno. Ele alerta que a economia norte-americana pode encontrar estabilidade este ano, por isso, ao longo de 2011 as propriedades vão ganhar maior valor de mercado, valorizando as aplicações já realizadas e inflacionando os preços aos consumidores que ainda desejam adquirir um imóvel. “Os preços foram caindo a partir de 2008, com a recessão. Era possível encontrar casas pela metade do preço. No segundo semestre de 2010 começou uma estabilidade e alta de 10% nos valores. Hoje, ainda é possível encontrar imóveis desvalorizados com construtores e poucas unidades com proprietários que estão sofrendo ação de despejo. Daqui para frente os preços vão subir, já que a demanda está maior que a oferta”, disse Piquet. Bons negócios A crescente demanda de consumidores brasileiros atraídos pelo mercado imobiliário norte-americano despertou a atenção do empresário joseense Paulo Cunha, proprietário da Excel Imóveis. No final do ano passado ele fechou uma parceria de negócios com o grupo Piquet para prestar assessoria jurídica e financeira a clientes da capital, Vale do Paraíba e região de Campinas interessados em investir no setor. O trabalho já resultou na venda de 20 propriedades em Miami. O empresário afirma que os mesmos motivos que o levaram a entrar nesse mercado
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são usados como argumento de venda. “Coloco que as condições não vão permanecer como estão. O mercado imobiliário do país está se recuperando. Além disso, o câmbio pode não ser tão favorável como agora. Tenho comparado o preço de lá com o metro de imóveis na Vila Ema [bairro nobre de São José]. A diferença é que a infraestrutura de Miami e os materiais usados na obra são bem superiores”, disse Cunha. Os contratos assinados prevêem em uma de suas cláusulas sigilo quanto a identidade dos compradores, garantindo discrição e evitando a exposição do negócio. Cunha explica que há casos de brasileiros que compram mais de um imóvel com o objetivo de alugar, mas que a maioria é para uso próprio. Ele ressalta o interesse de um de seus clientes em adquirir 12 unidades na Biscayne Boulevard, principal avenida de Miami, e outro que busca duas propriedades, que serão usadas para locação e uso próprio. “Eles estão fazendo uma mescla de investimento com lazer. No geral, os clientes são pessoas acima de 50 anos que possuem vida financeira estável, já capitalizada e que
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PANORÂMICA Vista de Miami Beach, onde os brasileiros têm comprado imóveis
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agora projetam maior qualidade de vida aliada a bons rendimentos”, disse Cunha. O perfil mencionado pelo empresário se enquadra ao do advogado Luís Eduardo. Aos 50 anos, depois de inúmeras viagens à Flórida, decidiu assinar este mês um contrato para compra de uma casa em Winter Garden, cerca de 10 minutos de Orlando. O imóvel, de 500 metros quadrados, fica em um condomínio fechado, com ampla infraestrutura de lazer e segurança. A ideia é que a propriedade seja usada apenas durante as férias e feriados prolongados para acomodar sua família. “Há anos vou à Florida como turista. Agora, diante dessa nova realidade do segmento imobiliário, achei que era o melhor momento para realizar esse sonho. Não sei bem se é um sonho ou investimento, acho que os dois. Minha intenção por enquanto não é alugar, vou passar algumas temporadas. Depois de alguns anos, quando deixar a correria do meu trabalho, pretendo conseguir a permissão para morar definitivamente por lá”, disse Eduardo. De acordo com Cláudia Panella, da Coldwell
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Banker, uma das maiores companhias imobiliárias do mundo, a casa recém adquirida por Luís era oferecida no mercado por US$ 800 mil. No entanto, após a bolha financeira do setor, o proprietário foi obrigado diminuir o valor, sendo negociada por US$ 340 mil. Como pagou a quantia à vista, o advogado não precisou recorrer a uma instituição financeira. “Notei uma avalanche de brasileiros interessados em imóveis nos Estados Unidos, em especial na Flórida. Minha clientela no Brasil passou de 2% para 20% em apenas dois anos. Quem deseja ver um imóvel, precisa apenas ter um visto de turista para entrar no país. Dependendo do valor que será investido na aquisição, não existe nenhuma retenção tributária”, explicou a corretora. Orientação Para quem está animado em comprar uma casa nos Estados Unidos, é preciso ficar atento a algumas coisas que vão além do câmbio e do extrato bancário. Diferentemente do que ocorre no Brasil quando se aluga um apartamento, o pagamento do condomínio
é de responsabilidade do proprietário, assim como do IPTU e de outros encargos. No caso de um de apartamento de US$ 150 mil, por exemplo, isso pode representar um custo de US$ 550 a US$ 600 por mês, variando de acordo com a estrutura do condomínio. Na aquisição, é preciso ser bem assessorado e, como todo imóvel, o proprietário tem de se preocupar com a manutenção. Alguns empreendimentos dispõem de equipe encarregada de cuidar do imóvel, mas a maioria dos compradores estrangeiros acaba contratando uma empresa para administrar o bem. Isso, segundo a corretora, representa de 8% a 10% sobre o aluguel cobrado pelo proprietário ou um valor estipulado para aqueles que não pretendem locar. “Um corretor profissional ajuda e orienta a busca do imóvel ideal dentro do perfil desejado do cliente. Ele também trabalha na busca por financiamento, consultas tributárias, locação, entre outras coisas. Corretor não deve ser apenas um abridor de portas, tem que prestar atendimento ao cliente sempre que solicitado”, disse Cláudia, que está há 14 anos nos EUA e trabalhando como corretora há sete anos. •
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SUSTENTABILIDADE
Energia de raiz Motogeradores desenvolvidos pela VSE, em São José, vão operar com etanol feito com mandioca e garantir eletricidade a comunidades isoladas no Amazonas Hernane Lélis São José dos Campos
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tecnologia de motores movidos a etanol desenvolvida em São José dos Campos pela Vale Soluções em Energia será empregada para produção de energia elétrica em comunidades isoladas no Amazonas. Os motogeradores, os primeiros vendidos pela VSE, ainda estão em desenvolvimento na empresa e devem ficar prontos no segundo semestre, já que vão receber pequenas adaptações para gerarem 250 kw de potência a partir do álcool extraído da mandioca. A iniciativa faz parte de um projeto encabeçado pela Eletrobras Amazonas Energia, controlada pelo governo federal, em parcerias com o Inedes (Instituto de Desenvolvimento Sustentável) e Ufam (Universidade Federal do Amazonas). Os investimentos são da ordem de R$ 3,8 milhões e o projeto tem prazo de 27 meses para execução. Inicialmente o programa vai beneficiar 5.200 pessoas que vivem na Vila Lindóia, no município de Itacoatiara, a 177 km de Manaus. Os novos motogeradores da VSE são equipados com um sistema de supervisão online, com transmissão de dados sobre seu funcionamento e eventuais problemas via internet. As máquinas serão abastecidas com etanol produzido na Fazenda Experimental da
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Ufam, localizada na rodovia Manaus-Boa Vista (BR-174). No local está instalado um laboratório para a extração e caracterização do álcool a partir de mandiocas recomendadas via estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A geração de energia elétrica com etanol da mandioca integra um projeto de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) criado pelo Inedes. A estimativa é que com uma tonelada de mandioca se consiga obter 150 litros de álcool. O etanol resultante do processo apresenta qualidade superior ao da canade-açúcar e também é usado nas indústrias cosméticas, químicas e de bebidas. Sua energia tem baixo impacto ambiental perante aos motores movidos a diesel. A redução nas emissões de gases causadores do efeito estufa chega a 68%. Os resultados obtidos após a fase de testes, que deve durar 12 meses, serão usados para estudos de compatibilização das demandas de energia elétrica existentes no sistema da Eletrobras Amazonas Energia com os potenciais locais para produção de etanol da mandioca, produto amplamente cultivado no Amazonas devido sua resistência às variações climáticas e solos castigados. Para a empresa, o benefício do projeto inclui a validação de tecnologia nacional de motogeradores a etanol, com grande potencial de aplicação no país e no exterior, além de gerar oportunidade de trabalho, emprego e renda aos moradores da região
com o domínio tecnológico de produção de etanol em pequena escala. José Antônio Muniz Lopes, presidente da Eletrobras, acredita que o projeto pode revolucionar o fornecimento de energia para comunidades isoladas. “Na medida em que viabiliza a adoção de uma fonte renovável para geração de energia elétrica no contexto dos sistemas isolados, o projeto cria oportunidades reais de geração de emprego e renda em toda a região”, disse Lopes. Márcio Brasileiro, diretor de marketing da VSE, espera que o evento se configure
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ETANOL Motogerador desenvolvido pela VSE, em São José, é movido partir do álcool extraído da mandioca
em um importante passo para a expansão dos negócios da empresa e de seu Programa de Motogeradores, que teve início em 2008 com investimentos de mais de R$ 50 milhões. “Além de ser a primeira venda, reforça o nosso compromisso em oferecer soluções tecnológicas eficientes, competitivas e sustentáveis que vão de encontro aos interesses dos mais diversos segmentos”, disse. Motogeradores O programa de motogeradores desenvolvido pela Vale Soluções em Energia, sediada no Parque Tecnológico, em São José, visa desenvol-
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ver uma família de geradores de 50 kw a 1.250 kw de potência, com motores de combustão interna de alto desempenho e eficiência. Suas fontes primárias de energia são os combustíveis renováveis ou ambientalmente sustentáveis, como etanol, gás natural ou biogás. Os produtos utilizam como combustível o etanol sem aditivos, propiciando a redução de até 68% nas emissões dos gases causadores do efeito estufa com a vantagem de reduzir em até 50% o nível de ruído quando comparado aos acionados a diesel. Além disso, apresentam preço mais acessível em comparação às versões a diesel.
Constituídos por unidades compactas, os motogeradores têm a vantagem de permitir a montagem rápida e segura de centrais de geração de energia elétrica. Por propiciarem operação em regimes contínuos, de emergência ou de pico, podem ser aplicados em diversos segmentos além do social, como hospitais, hotéis, shopping centers, aeroportos e empresas. No ano passado, dois geradores da VSE foram usados no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo. Em maio de 2009 outros dois abasteceram o evento do COI (Comitê Olímpico Internacional), no Rio de Janeiro. •
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Ciência & Tecnologia
Fabíola de Oliveira
Terremoto no Japão é mais um sinal da instabilidade do planeta
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screvo na manhã do dia em que o Japão sofre uma das maiores tragédias ambientais de nossa era, que segundo um geólogo que acabo de ouvir no noticiário, é equivalente ao impacto de mais de 30 mil bombas como a que foi lançada em Hiroshima no final da 2ª Guerra Mundial. Quatro usinas nucleares japonesas foram atingidas pelo terremoto e, embora tenham sido desativadas em tempo hábil, havia preocupação com o sistema de refrigeração que poderia não funcionar. Ouço que tsunamis ainda ameaçam o Havaí e a Califórnia. A grande onda provocada pelo terremoto oceânico navega pelo Pacífico em direção à costa oeste dos Estados Unidos. Como imaginar uma devastação tão imensa, causada por terremotos e tsunamis, daqui de nossa zona de conforto? Mas as imagens na TV nos aproximam do cataclismo. Assim, embora o tema que havia escolhido para este artigo fosse sobre as mulheres na ciência (em lembrança tardia ao Dia Internacional das Mulheres), não há como ignorar um evento de tamanha proporção, quando estamos no momento em que acontece. Quando esta revista chegar às mãos do leitor, tudo que poderia ser dito sobre o terremoto de 8.9 de magnitude na escala Richter (os maiores terremotos registrados até hoje chegaram a 9.9, com intervalos de ocorrência de
TRAGÉDIA “ Um cataclismo para lembrarmos que não existe lugar totalmente seguro” 20 anos), já terá sido digerido por nós brasileiros neste canto até agora privilegiado do planeta. Os japoneses, com todo seu preparo para enfrentar terremotos, estarão lutando para reerguer seu país insular. Os haitianos, com toda sua pobreza e despreparo e a despeito de toda a ajuda internacional, mais de 1 ano após o terremoto, continuam lutando para sobreviver. Mais um cataclismo para lembrarmos que não existe lugar totalmente seguro em nosso planeta, e que mais do que nunca, todos os países, estados e cidades devem estar preparados para reduzir riscos e minimizar consequências causadas por desastres ambientais. Aparentemente não estamos sujeitos a terremotos e tsunamis de grandes pro-
porções. Mas é notável que a atmosfera está se modificando também em nosso canto do planeta. Quando se discute o planejamento de uma cidade, de um bairro, da construção de prédios, de usinas termoelétricas, usinas nucleares, emissão de poluentes por indústrias e refinarias, estamos falando não mais sobre um futuro distante, mas sobre a qualidade de vida e segurança das pessoas hoje, neste momento. Todas estas questões têm sido debatidas em São José dos Campos. Urge que sejam muitodebatidas, esclarecidas e só decididas após um claro panorama equilibrado sobre as vantagens e riscos que cada empreendimento poderá trazer para a cidade e seu entorno. •
Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br
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Especial
CIÊNCIAS PLANETÁRIAS
De São José para Marte O joseense Nilton de Oliveira eira Rennó, homem-chave da Nasa, a agência espacial mais importante do mundo, do, nos projetos para explorar o Planeta Vermelho
SUCESSO
Nilton de Oliveira Rennó, 51 anos, nascido no reduto mineiro de Santana, ganhou destaque na missão Phoenix, primeira da história a pousar uma nave espacial em Marte
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Yann Walter São José dos Campos
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os 12 anos, quando montava seus primeiros aeromodelos e passeava de carrinho de rolimã pelas ruas de Santana, o pequeno Nilton não imaginava que, anos depois, comandaria os estudos e traçaria as estratégias da Nasa, a Agência Espacial Americana, para a exploração de Marte. Quis a vida que o menino nascido há 51 anos neste tradicional reduto mineiro da zona norte de São José dos Campos se tornasse o homem-chave dos projetos conduzidos pela agência espacial mais importante do mundo para assentar as bases da conquista do Planeta Vermelho. A princípio, nada indicava que Nilton de Oliveira Rennó teria um destino tão extraordinário. Tinha predisposição para mecânica, que aprendera na transportadora do pai, mas nunca sonhara em ser astronauta. Quando empinava suas pipas, olhava para o céu sem pensar no insondável universo galáctico que existe por trás. No entanto, já compartilhava com seus dois irmãos mais novos, Nilo e Nilson, o fascínio pelos dispositivos voadores. “O amor às máquinas começou na infância, com a montagem de aeromodelos, e se intensificou na adolescência, primeiro como escoteiro-do-ar e depois como praticante assíduo de planador no CVV-CTA”, o primeiro clube de voo à vela do Vale do Paraíba, explicou. Hoje, Nilo e Nilson ainda moram em São José. Ambos são engenheiros na Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica). Já Nilton preferiu alçar voos mais altos. Assim que terminou a escola –toda cursada na rede pública (a mãe é professora
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estadual aposentada)–, seguiu para Campinas, onde se formou em engenharia civil pela Unicamp, em 1984. Começou mestrado no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mas em 1986 conseguiu uma bolsa no conceituado MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts). Foi lá que tudo começou. “Meu fascínio por Marte vem daquela época do MIT. Marte e Vênus me intrigavam por serem os planetas mais parecidos com a Terra”, afirmou. No prestigiado instituto, especializou-se em ciências planetárias. Não retornou mais ao Brasil. O Planeta Vermelho foi ocupando cada vez mais seus pensamentos, até se tornar uma paixão avassaladora. “O diâmetro de Marte é a metade do da Terra, e a densidade do ar na superfície é equivalente a 1/100 da registrada em nosso planeta. A temperatura de lá chega a 65ºC negativos. Porém, é o planeta do sistema solar que apresenta as características mais próximas da Terra”, detalhou. Com o doutorado no bolso, saiu do MIT rumo à Califórnia. Ficou um ano no Livermore National Laboratory, perto de San Francisco, e outro no California Institute of Technology (Caltech) em Los Angeles. Depois, seguiu para a Universidade de Arizona, onde permaneceu até 2002. Em agosto daquele ano, recebeu uma proposta para lecionar na Universidade de Michigan, onde está até hoje. “Cheguei ao topo da carreira de professor em uma das melhores universidades americanas, a 20ª do ranking mundial”, orgulha-se. Na capital norte-americana da indústria automotiva, continuou dedicando-se aos astros com tanto afinco que chamou a atenção da Nasa, mas também da ESA (Agência Espacial Europeia), com a qual colabora em diversos projetos.
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Especial
Missão Phoenix Na Nasa, ganhou destaque pelos trabalhos realizados na missão Phoenix, a primeira da história a incluir o pouso de uma nave espacial na região polar de Marte. A nave decolou da Flórida em agosto de 2007, e chegou ao seu destino no dia 25 de maio de 2008. O principal objetivo da missão era determinar se Marte reunia as condições ambientais necessárias para a vida, uma delas sendo a presença de água líquida. Nilton sempre acreditou na existência de água em Marte e conseguiu comprová-la “por análise de imagem, medidas de instrumentos, cálculos matemáticos e dedução lógica”, como ele mesmo explicou. Resumido desta forma, até parece simples. Mas é claro que uma descoberta desta magnitude envolve anos de trabalho de várias equipes formadas pelos melhores cientistas. Assim, não é exagero afirmar que o joseense de Santana é um dos maiores responsáveis pelo descobrimento mais importante já realizado até agora sobre Marte. “Em junho de 2008, apenas 26 dias após o pouso da Phoenix, fiz uma apresentação no centro de operações da missão em Tucson (Arizona) sugerindo que diversas evidências apontavam para a existência de água líquida em Marte. No início, muitos discordaram. Porém, foi confirmada pouco depois a presença abundante de perclorato, um elemento salino com propriedades anticongelantes, no solo de Marte. Além disso, a Phoenix permitiu comprovar a existência de camadas de gelo subterrâneo próximo à superfície em grande parte do planeta. A descoberta reforça a ideia de que finas camadas de sal localizadas entre a superfície do solo marciano e o gelo subterrâneo absorveram água e formaram pequenas camadas de água líquida”, detalhou. Agora, o novo desafio de Rennó e sua equipe é determinar se pode haver vida bacteriana em Marte. Para isso, conta com o MSL (Mars Science Laboratory), um veículo explorador não-tripulado da Nasa que será lançado entre os dias 25 de novembro e 18 de dezembro deste ano, devendo chegar a Marte entre 6 e 20 de agosto de 2012. “O principal objetivo do MSL é confirmar o potencial de vida bacteriana. Assim, ele estará procurando material orgânico. Como a água líquida preserva a matéria orgânica, vamos ajudar o MSL a encontrar água líquida”, explicou o cientista. Todas estas
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SOLO Imagem captada da superfície de Marte; abaixo, a nave MSL, que será lançada pela Nasa ainda este ano
missões têm um grande objetivo: preparar a conquista de Marte por missões tripuladas. Segundo Nilton, a primeira deverá acontecer por volta de 2035. O joseense terá então 75 anos, mas pode-se apostar que ele não perderá esta aventura por nada. Unanimidade Poucos cientistas brasileiros conseguiram conquistar uma admiração unânime entre seus colegas de profissão em um país como os Estados Unidos, ainda mais no âmbito do espaço e da tecnologia. Pois Nilton de Oliveira Rennó é um deles. Ele disse que sofreu algumas vezes com o preconceito, mas destacou: “Quase sempre, a competência acaba ganhando”. “Nos Estados Unidos, as pessoas valorizam muito o desempenho acadêmico. Eu fui um dos melhores alunos do MIT, o que já me abriu várias portas. Escrevi para as melhores revistas de ciência. O pós-
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doutorado na Caltech, a melhor faculdade de ciências do país, também ajudou. Continuei a publicar trabalhos inovadores na Universidade do Arizona, o que me aproximou de alguns estudos da Nasa e levou a Universidade de Michigan a me fazer uma proposta irrecusável. Foi aqui que conduzi meus melhores trabalhos, em parte graças à ajuda de excelentes alunos. Estes trabalhos chamaram a atenção da Nasa, que me convidou para participar de projetos exercendo cargos de liderança”, relatou. Nilton Rennó está bem nos Estados Unidos. Mora com a esposa Maria Carmen Lemos, uma brasileira de Juiz de Fora (MG) que conheceu no MIT, na pacata cidade de Ann Arbor, a dez minutos do aeroporto local, onde pode se entregar a sua paixão mais antiga: voar de planador e avião monomotor. O casal tem um filho de 12 anos, Lucas, que, segundo o pai, já adora ciência e computadores. “Gostamos da vida aqui. Meu filho é totalmente americano”, disse o joseense, que viaja à cidade natal uma ou duas vezes por ano. “Pretendemos voltar em junho. Estamos com saudades da família e dos amigos”. •
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EXPLORAÇÃO Nave Phoenix que aterrizou em Marte em maio de 2008 com a missão de descobrir se o planeta reunia condições ambientais necessárias à vida
MARTE
x
TERRA
Diâmetro equatorial:
6794 km
12.756 km
Diâmetro polar:
6760 km
12.713 km
Distância média do Sol:
227,94 milhões de km
149,40 milhões de km
Massa:
6,419.1023
59,74.1023
Densidade:
5,515 gr/cm³
Pressão atmosférica
3,94 gr/cm³ CO2 (95,3%), azoto (2,7%), argônio (1,6%), oxigênio (0,13%) vapor de água (0,03%) 5,6 milésimos de bar
Dia:
24 horas e 39 minutos
24 horas
Ano:
687 dias
365 dias
Temperatura média:
-65ºC
+14ºC
Temperatura máxima:
+27ºC (no equador, ao meio-dia, no verão)
+58ºC (deserto da Líbia)
Temperatura mínima:
-128ºC (calota polar no inverno) Olympus Mons : 25 km de altura, 600 km de diâmetro – maior montanha do sistema solar
-89ºC Antártica
Composição da atmosfera:
Ponto mais alto:
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azoto (78%), oxigênio (21%), argônio (0,9%), outros (0,1%) 1015 milésimos de bar
Monte Evereste: 8848 m
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Entrevista
Dois Pontos >Hebe Camargo, em carinho especial aos seus conterrâneos no Vale do Paraíba, concede sua primeira exclusiva após assumir programa na RedeTV!
“ Todos somos capazes de amar e recomeçar a vida muitas vezes” Elaine Santos São Paulo
H
ebe Camargo vive novo momento em sua vida. Depois da vitória contra o câncer no final de 2010, a apresentadora deixa 25 anos de SBT para um recomeço na televisão. De casa nova, depois de sua estreia na RedeTV!, Hebe concede à revista valeparaibano sua primeira entrevista exclusiva: um carinho especial aos seus conterrâneos, já que, como ela mesma gosta de lembrar, é ‘caipirinha de Taubaté’. Lenda viva da TV, Hebe agrada gregos e troianos. Não há quem não a conheça ou não se lembre de imediato das características da apresentadora: os bordões, joias exuberantes, gargalhadas, e, é claro, os selinhos em seus entrevistados. Nomes que vão do mais alto escalão da política ao rei Roberto Carlos, passando por artistas internacionais, como o norte-americano Jude Law, já foram beijados por Hebe. Excêntrica, mas dona de humildade invejável, e exagerada, de uma classe peculiar, Hebe reúne fãs por todo o país. Aos seus 82 anos, ela agora se permite inovar. Além de receber os convidados no sofá estrategicamente disposto no palco de seu programa, quer ir para as ruas e aposta em entrevistas mais íntimas com seus amigos famosos. Hebe tem uma carreira de 65 anos. Seu envolvimento com o mundo artístico vem desde o berço. Nasceu escutando o pai, o músico Fêgo Camargo, que era violinista do Cinema Politeama, em Taubaté. No início, ela queria ser cantora e trabalhou em várias emissoras das Rádios Associadas em diversas capitais do Brasil.
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Seu primeiro trabalho foi ao lado da irmã Estela e das primas Helena e Maria. Depois, Hebe e a irmã formaram uma dupla sertaneja. Em seguida, veio o primeiro contrato como cantora solo nas rádios Tupi e Difusora de São Paulo, um sucesso à época. Mas foi em 1952, na TV Paulista, que Hebe começou sua carreira de apresentadora. Entre seus programas, ‘O Mundo é das Mulheres’, organizado por Walter Forster, foi o grande destaque da época. Nascia ali a ‘Estrela de São Paulo’. Seu jeito alegre encantava a todos e, assim, Hebe começou a receber para entrevistas descontraídas as maiores personalidades do Brasil e do exterior, sua marca registrada até hoje. Dizia-se: “Não passou pelo sofá da Hebe, não existiu”. Conhecida pelas risadas incontroláveis e bordões com seu sotaque paulista, Hebe sempre apareceu repleta de joias na TV. Em maio de 2008, sua casa foi assaltada e as joias roubadas. Se lamentou em rede nacional: “Eu trabalhei duro para comprar cada uma delas”. Mas nem todas se foram e, na mesma semana, estava ela de volta a desfilar com seus colares volumosos. Hebe tem uma coleção suficiente para cobrir o chão de um cômodo inteiro. São diamantes, pérolas e esmeraldas. Sua maior joia é uma esmeralda de 60 quilates. Como apresentadora no SBT já chegou a ter um salário de R$ 1,5 milhão. Atualmente, tem o maior salário da Rede TV!, pouco mais de R$ 500 mil, e exclusividades como o helicóptero da casa sempre à sua disposição. Mas foi entre uma agenda lotada de compromissos diários e muitos telefonemas de negociação de horários que a apresentadora mais famosa da televisão brasileira respondeu às perguntas à revista valeparaibano.
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C P N
Domingo 4 Abril de 2010
PERFIL NOME: Hebe Maria Monteiro de Camargo Ravagnani IDADE: 82 anos NATURALIDADE: Taubaté-SP
CARREIRA “NUNCA TIVE A NOÇÃO DE QUANTO ERA QUERIDA PELO PÚBLICO, E ISSO DEVE TER UMA GRANDE INFLUÊNCIA NA MINHA TRAJETÓRIA, NA MINHA VIDA E PROFISSÃO”
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ESTADO CIVIL: Solteira. Tem um filho, Marcelo Camargo, de seu 1º casamento com Décio Capuano
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Entrevista
RÁDIO DUPLA SERTANEJA Hebe Camargo com a irmã Estela, com quem formava a dulpa sertaneja Rosalinda e Florisbela, no programa Parada de Sucesso, da Rádio Tupi
08.03.29 LAZER Hebe Camargo na praia de Iracema, no Ceará, aos 20 anos de idade, época que fazia sucesso nas rádios Tupi e Difusora de São Paulo
Você sente que está recomeçando? < Realmente para mim é um recomeço em todos os sentidos. Temos que estar sempre prontos para a vida, porque nós somos capazes de amar e recomeçar muitas vezes. E hoje, eu começo um novo momento na minha vida, na minha carreira, na RedeTV!. Recomeço em uma TV nova, com gente apaixonada pelo que faz, assim como eu, que amo meu trabalho, amo todos que me prestigiam, me acompanham durante tantos anos e me dão energia. Este é mais um grande desafio. A partir de agora, a minha trajetória é na RedeTV!, e nós vamos crescer juntas! Depois de tantos anos de sucesso pleno na televisão, você ainda cultiva essa humildade. Qual o segredo para não se deixar levar pelo estrelismo? < Nunca tive a noção de quanto era querida pelo público, e isso deve ter uma grande influência na minha trajetória, como eu sempre aconselhei os novos a não se deixar levar pelo estrelismo não tinha porque me deixar levar pelo sucesso. O que você vê de diferente em seu novo programa de TV? < Todas as matérias que estou fazendo são surpreendentes para mim e eu sinto que realmente meu programa inovou e fico feliz de não cair na mesmice e de proporcionar ao meu público coisas interessantes e diferentes. Tem alguma coisa que você ainda não vez como apresentadora que você pretende fazer agora
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ANIVERSÁRIO Hebe Maria Monteiro de Camargo Ravagnani, que ficou conhecida em todo o país como Hebe Camargo, nasce em Taubaté, onde começou sua carreira profissional
TRABALHO “AS MATÉRIAS QUE ESTOU FAZENDO SÃO SURPREENDENTES PARA MIM E EU SINTO QUE REALMENTE MEU PROGRAMA INOVOU. FICO FELIZ DE NÃO CAIR NA MESMICE E PROPORCIONAR AO PÚBLICO COISAS DIFERENTES“ no programa da Rede TV!?
< Eu sigo o comando do meu diretor, Paulo Trevisan. Sou uma profissional dedicada e não tenho medo, o que eu acho que seja bom para o meu público eu faço. Mas vou colocar no programa coisas fantásticas que vão servir de exemplo para os telespectadores. Vamos fazer externas. Serão matérias formidáveis. Vou continuar chamando a atenção para os problemas do país, do meu povo. Foram 25 anos no SBT. Você tem saudades? < Eu estava tristinha lá. Eram só 40 minutos de programa. Não dava para fazer nada. Lá eu era mulher de segunda agora sou de terça. Você é amada por milhões de brasileiros que rezaram por você durante todo o período de seu tratamento de câncer. Qual o sentimento
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DIVERSÃO Hebe H Camargo no Citibank C Hall, em São Paulo, P onde assistiu ao espetáculo Slava’s Snowshow, em julho de 2010, três meses depois de anunciar que estava curada do câncer de peritônio; embora havia parado com a quimioterapia, apresentadora ainda se recuperava dos efeitos colaterais do tratamento
SELINHO Apresentadora dá o seu famoso selinho no ator Jude Law em camarote no desfile de 2011 das escolas de samba do Rio de Janeiro
EXEMPLO “SAÍ CARECA NA REVISTA PARA QUE MULHERES COM CÂNCER NÃO TIVESSEM MEDO DA PERDA DO CABELO, QUE É INEVITÁVEL NUM TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO. A INTENÇÃO É AJUDAR AS PESSOAS A PASSAREM POR ISSO” em ver, presenciar tantas pessoas clamando por sua saúde? < Eu penso nisso todos os dias procurando uma forma de agradecer as demonstrações de carinho, de amor, de respeito e de solidariedade, que foram gigantescas. Nunca vi algo parecido, me deixa muito comovida. Como foi se ver careca na capa de uma revista de circulação nacional representando a luta contra o câncer? < Fiz como um exemplo para que as mulheres com câncer não tivessem medo da perda do cabelo, que é inevitável num tratamento quimioterápico. A intenção é ajudar as pessoas a passarem por isso. O que mudou na Hebe depois de tantos acontecimentos em 2010?
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< Me sinto uma jovem, cheia de amor para passar a todos que ajudaram na minha recuperação com suas orações e que são os causadores dessa energia maravilhosa que recebo. O que você considera marcas especiais da Hebe? O jargão ‘gracinha’, a paixão por joias, o selinho? < Tudo isso faz parte da minha personalidade, o gracinha é um jargão de muitos anos e o selinho, uma marca registrada. A paixão por joias tenho desde sempre e procuro estar sempre bem vestida e bem penteada para agradar meu público. Falando em selinho, você disse que não daria mais e mudou de ideia no programa de estreia na rede TV beijando o ator Daniel Boaventura. Não resistiu? < Aquilo não foi um selinho, foi um beijo técnico. Não adianta minha rainha (a cantora Rita Lee) ter me proibido. Eu não resisto. Na entrevista com a presidente Dilma Rousseff você deixou claro que trabalha duro e que a vida de apresentadora não é tão fácil quanto parece. Qual é sua rotina de trabalho? < Não tem nada de rotina, é um trabalho muito intenso. Me dedico a semana inteira ao programa para poder levar informação e diversão com seriedade, qualidade, profissionalismo. E faço com muito prazer. Gosto do que faço e hoje na RedeTV! tenho condições maravilhosas de trabalho com uma equipe e a emissora dedicadas e confiantes no sucesso. •
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Especial
COMPORTAMENTO
Doses de imprudência Pesquisa inédita da Secretaria da Juventude de São José revela que 54% dos adolescentes e jovens já convivem com o consumo de álcool; 40% deles beberam pela primeira vez em casa
Elaine Santos São José dos Campos
ceito socialmente e amparado pela falsa percepção de que seu uso não é tão nocivo à saúde, o consumo de álcool fica longe de ser comparado ao uso de qualquer outra droga. Entretanto, o problema é maior do que se imagina e começa cada vez mais cedo na vida de jovens que, na maioria das vezes, ganham sua primeira dose das mãos dos próprios pais. Em São José dos Campos, não é diferente. Pesquisa inédita, encomendada pela Secretaria Municipal da Juventude, identificou o perfil do jovem joseense neste contexto. O número mais relevante indica que a be-
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bida alcoólica está presente na vida de 54% deles, sem apontar diferença de classe social. Deste universo, 40% afirmaram ter bebido pela primeira vez em casa e 34% afirmaram que já ficaram bêbados pelo menos uma vez. A pesquisa ouviu 800 adolescentes e jovens entre janeiro e fevereiro deste ano, com idades entre 12 e 29 anos. Todos os anos especialistas aparecem com estatísticas demonstrando que o álcool está presente no dia-a-dia dos jovens cada vez mais cedo em todo o mundo: a idade de experimentação é de 12 a 15 anos. Este ano a OMS (Organização Mundial da Saúde), apresentou relatório no qual o uso do álcool aparece como responsável por 4% de todas as mortes no mundo, ou seja, 2,5 milhões de pessoas –destas, 320 mil tinham idade entre 15 e 29 anos. Não é difícil encontrar pelas ruas de São José grupos de jovens fazendo uso de bebi-
das alcoólicas. Praças públicas e calçadas de hipermercados são pontos de encontro de sexta-feira a domingo. “A gente não tem pra onde ir, não tem o que fazer, então a gente fica aqui. Bebe, conversa, nada de mais”, explica Marcos*, 16 anos, que no momento da entrevista, às 22h de uma sexta-feira, bebia vodca com refrigerante em uma garrafa pet de dois litros em um dos pontos mais movimentados da região nobre de São José. “Não estamos fazendo nada de mais. Minha mãe sabe que estou aqui e já vem me buscar. Ela só não sabe que eu bebo”, explica Mariana*, 17 anos. Visivelmente embriagada, ela e outras três amigas da mesma idade dividiam uma garrafa plástica de vinho tinto. Para elas, a bebida é uma forma de socialização e não oferece nenhum tipo de risco. “É normal, a gente vem pra cá toda sexta.
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Fotos: Flávio Pereira
BALADA Jovens consumindo bebidas alcoólicas em frente a um supermercado em São José dos Campos
Vamos ao shopping e depois ficamos aqui. A gente bebe, se diverte. Nada de mais, depois vai pra casa”, disse um jovem de 15 anos, que entre um gole de batida de pêssego e vodca com refrigerante, comia salgadinho com iogurte de morango. “É pra tirar o cheiro da bebida, tenho hora pra chegar em casa”. Dependência Foi com a intenção de se socializar com o grupo da escola que Fernando*, aos 15 anos de idade, se tornou dependente químico do álcool. “Não lembro quando eu experimentei, foi bem criança, essas batidinhas de Natal, espumante de virada de ano. Meus pais sempre me davam alguma coisinha pra brindar, não era tão nociva a forma como era feita”. Hoje, aos 26 anos, membro do AA (Alcoólicos Anônimos), ele conta seu relacionamento sombrio com o álcool de maneira simples,
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como se fosse a história de outra pessoa, não a dele. Firme na decisão de dar entrevista, mas melancólico ao relembrar de fatos marcantes do passado, ele segue em frente pedindo apenas para que não seja identificado. Fernando conta que sua primeira embriaguez foi aos 15 anos. Ele não se adaptava na escola até que recebeu o primeiro convite para ir a uma ‘balada’. “Depois da primeira festa, nunca mais parei. Ali tive minha primeira boa sensação com o álcool. Me encaixei na turma de uma forma que nunca tinha conseguido. Dali em diante consegui conversar, fazer brincadeiras, participar de tudo o que acontecia em volta. O problema é que bebi muito. Quando bebia parecia que estava em total felicidade. Achava que a bebida era uma saída para a felicidade”. Do primeiro ‘porre’ em diante, Fernando seguiu bebendo descontroladamente até os 22
anos, quando percebeu que algo estava errado. “Eu já não ficava feliz como quando tinha meus 15 anos. Bebia e já não precisava muito, um gole já transformava minha mente, virava outra pessoa. Ficava depressivo, irritado, extremamente ciumento com a minha namorada da época. Estava obcecado tentando encontrar aquela paz e felicidade do meu primeiro porre. Daí fui perdendo tudo na minha vida. Minha namorada, a faculdade o respeito por mim mesmo e várias outras coisas. Nada mais tinha importância. Dar satisfação para a família, emprego, andar bem arrumado, limpo, nada”. O passo definitivo para o abismo foi quando a partir do álcool ele começou a usar drogas ilícitas. Só aí que os pais de Fernando começaram a perceber que algo estava fora do controle. Segundo ele, foi a mãe quem primeiro notou o que estava acontecendo. “Ela preferia extremamente
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Especial
que eu morresse usando o álcool a me ver usando qualquer outro tipo de droga. Foi isso que fez com que ela me reprimisse”. Questionado se a ajuda dos pais foi importante para seu ingresso ao AA, Fernando, depois de longa pausa, respondeu: “Meus pais... Eles nunca querem enxergar o que está acontecendo. Na verdade, existe sempre uma nuvem de hipocrisia que fica dentro da nossa família. Eles demoram para deixar ‘cair a ficha’. Só quando o filho faz coisas horríveis é que percebem. De fato, para eles, eu sempre fingia que era uma outra pessoa. Mesmo porque, para os pais, a gente nunca conta tudo. Mas, na maioria das vezes, o que eu vejo hoje é que os pais só percebem o problema mesmo quando o filho foge do controle sendo agressivo dentro de casa, essas coisas”. Campanha Como prevenção ao consumo de álcool por adolescentes em São José dos Campos, a Secretaria de Juventude está trabalhando com uma frente que tem como ponto alto a divulgação de informação dos males causados pelo uso do álcool. “Os números de nossa pesquisa estão na média dos números nacionais. A pesquisa, elaborada pelo Instituto de Planejamento e Pesquisa, apontou que 40% dos jovens começam a beber em casa. De posse desses dados oficiais, estamos trabalhando firme na prevenção, levando informação para dentro de casa. Vamos levar não só ao jovem, mas aos pais o maior índice de informação possível”, disse o secretário da Juventude, Alexandre Blanco. Em todo o país, experiência de médicos em clínicas de recuperação para dependentes químicos revelam: há um crescimento do alcoolismo entre os adolescentes e o maior número de casos incide na faixa etária de 13 a 15 anos. Pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) em 2009, com apoio do Ministério da Saúde, aponta que, no Brasil, o padrão de consumo de bebidas alcoólicas é preocupante entre adolescentes e jovens. Questionário aplicado em jovens da rede pública dos ensinos fundamental e médio, das 27 capitais brasileiras, mostrou que 71,4% dos entrevistados experimentou o álcool pela primeira vez aos 12 anos. Ainda de acordo com dados do ministério, jovens do sexo feminino têm a maior frequência de experimentação de bebida alcoólica (73,1%), contra (69,5%) entre adolescentes do sexo masculino.
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Dia-a-dia Entre os consumidores atuais, a forma mais comum para adquirir a bebida alcoólica é através de festas(36,6%), seguido da compra em mercado, loja, supermercado ou bar, 19,3%. Outros 15,8% dos entrevistados afirmaram que adquiriram com amigos e 12,6% na própria casa. “Essa relação da sociedade, positiva com o uso de álcool, é o que favorece o uso pelos adolescentes. Muitas vezes, ou até na maioria das vezes, os jovens têm a primeira experiência com o álcool em eventos familiares”, explica o psicólogo Wagner Abril Solto, responsável pelo programa de prevenção do Centro de Referência de Álcool e Drogas do Estado de São Paulo. Para ele, o alerta deve ir para os adultos. Esperar que o jovem tenha a consciência de que a bebida faz mal é ilusório, principalmente por que não é essa a propaganda que ele vê diariamente.
“Ela (mãe) preferia extremamente que eu morresse usando o álcool a me ver usando qualquer outro tipo de droga” De Fernando*, 26 anos, dependente químico em tratamento
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MAIS JOVENS Alcoolismo cresce entre os adolescentes, e o maior número de casos na faixa etária dos 13 aos 15 anos
Raio X • Mortalidade O álcool mata mais que a Aids no país. 2,5 milhões de pessoas já morreram devido o uso do alcool, sendo 320 mil com idade entre 12 e 29 anos. 12 a 15 anos é a idade média de experimentação • O uso entre meninas é maior De 12 a 17 anos de idade Em 2001, 3,5% dos jovens dependentes de álcool eram do sexo feminino. Em 2005, o número passou para 6%. Entre homens, o crescimento foi menos significativo: de 6,9% a 7,3% (de 12 a 17 anos de idade) e de 23,7% a 27,4% (de 18 a 24 anos)
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“Na propaganda o jovem vê que beber cerveja é bom. Está sempre ligado ao esporte, ao sucesso com as mulheres, ao sucesso da vida social. Então, essa é a ideia que nós estamos passando através da publicidade. O jovem está num período de desenvolvimento de personalidade e a entrada de qualquer droga vai perturbar esse desenvolvimento. É diferente do adulto que começa a usar, mesmo porque, o jovem não tem a mesma condição que um adulto para recusar uma bebida. Ele não tem maturação cerebral completa para lidar com as tomadas de decisões. Não é à toa que ele é inimputável até os 18 anos”, disse o psicólogo alertando que quanto mais precoce o uso do álcool mais chances o jovem tem de se tornar dependente. “Costumamos dizer que o álcool é uma droga suja, ela ataca todos os órgãos.”
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Estudos apontam que o chamado beber episódico –uso de quatro ou mais doses em uma mesma ocasião– está associado a comportamentos de riscos sociais e à saúde. Como por exemplo, agressões físicas, sexo inseguro, acidentes automobilísticos, entre outros. “É preciso ficar atento à forma como o jovem está bebendo, quantidade e tipos de bebida. É importante saber os porquês e para que ele está bebendo. Muitos jovens fazem o uso para sentir o ‘barato’ do álcool, relaxar, curtir os amigos na balada, perda da inibição. Com esses tipos de sensações eles querem evitar rotina, angústia, limitações, sentimento de fracasso, problemas em geral. Situações que ele não sabe enfrentar sem estar sob o efeito do álcool”, explica Rogério Shigeo Morihisa, psiquiatra da infância e adolescência, membro da equipe do GREA (Grupo de Estudos do uso do Álcool) da USP (Universidade de São Paulo). “Imagine que o jovem que está em fase de maturação. O cérebro só estará 100% amadurecido a partir dos 20 anos. Nesse período, o uso de qualquer substância psicotrópica ilícita pode trazer prejuízos ao desenvolvimento normal”, disse. Segundo ele, a prevenção deve ser feita em casa, em ambiente aberto ao diálogo. “O meio termo será sempre o remédio ideal. Nem proibir nem liberar. O primeiro exemplo sempre tem que vir dos pais. Se for beber tem que fazê-lo de forma social e adequada. Dessa fora, o jovem vai entender que não é necessário o uso em exagero.” Dados estatísticos apontam que as doses podem ser ainda mais letais entre jovens do sexo feminino. Segundo pesquisas, as mulheres são mais suscetíveis a desenvolverem dependência do álcool. Sérgio Duailibi, membro da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), chama a atenção para o levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas: o alcoolismo entre meninas de 12 a 17 anos quase dobrou de 2001 para 2005 –de 3,5% para 6% do total. Entre as jovens de 18 a 24 anos, o porcentual subiu de 7,4% para 12,1%. Entre homens, o crescimento foi menos significativo: de 6,9% a 7,3% (faixa de 12 a 17 anos) e de 23,7% a 27,4% (18 a 24 anos). No Sudeste do país, para jovens de 12 a 17 anos, a situação é inusitada: 6,4% delas são dependentes, ante 4,9% dos meninos. • * nomes fictícios
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Educação
VIOLÊNCIA
Brincadeira estúpida Estudante de 14 anos, vítima de bullying em escola municipal, processa a Prefeitura de São José Hernane Lélis São José dos Campos
rincadeira de criança é normal e até saudável. O problema é quando a diversão está em denegrir, menosprezar e agredir uma pessoa para se promover perante aos colegas ou tirar prazer da situação humilhante em que a vítima é exposta. A prática é conhecida como bullying, termo que Stefani de Souza, de São José dos Campos, nunca tinha ouvido falar até sentir na pele o seu significado. As marcas da ação ficaram no corpo e nas lembranças da estudante, que fez tratamento psicológico para apagar o trauma. O drama da adolescente, de 14 anos, começou na 5ª série, quando frequentava a Escola Municipal Maria Nazareth Veronese, no Jardim da Granja. Tímida e com o olhar profundo, Stefani teve que abandonar a escola para escapar da sufocante rotina de agressividade e exclusão. Os apelidos no antigo colégio eram muitos e os amigos poucos. A provocação dos “colegas”, que a chamavam, entre outras coisas, de “taturana”, se estendia para pequenas agressões como atirar-lhe bolinhas de papel e sementes de árvores no intervalo das aulas. Os insultos terminaram de forma trágica. No dia 27 de junho de 2007, ela foi espancada por um grupo, denominado “Gangue do Arrebento“, nas dependências da escola,
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ficando hospitalizada por uma semana. “Ela levou muita pancada na cabeça, tem algumas cicatrizes ainda”, disse João de Souza, pai de Stefani, que move um processo contra a Prefeitura de São José por danos materiais e morais, cuja indenização mínima é de R$ 26,5 mil, podendo o juiz fixar valor maior na sentença que será proferida até o final deste mês. “O Hospital Municipal se recusava a passar o prontuário de internação e a escola não entregava os documentos que precisavam ser anexados nos autos para mover o processo, por isso, levamos algum tempo até acionar a Justiça. Toda a direção da escola testemunhava os fatos, mas nenhuma providência era tomada. A menina teve que mudar inclusive de bairro para que as provocações terminassem”, explicou Marcelo Galvão, advogado da família Souza. Casos como o de Stefani se repetem diariamente em instituições municipais, estaduais e também nas redes particulares de ensino em todo o Brasil. O problema, segundo a promotora da Vara da Infância e Juventude de São José, Sílvia Máximo, está em mensurar a quantidade de ocorrências, uma vez que elas só se tornam números mediante a denúncias na esfera judicial, quando o bullying já tomou sua face mais cruel, a da agressão. Dados da Promotoria apontam que chegam mensalmente de oito a dez casos de agressão com características de bullying na Vara da Infância. “Quando vem para gente ele é tratado como ato infracional, onde só respondem adolescentes acima de 12 anos. Pode acarre-
tar ao envolvido aplicação de medida sócioeducativa, principalmente em casos de lesão corporal. A maioria envolve homens com idade entre 13 e 17 anos, tanto de quem pratica o bullying, quanto de quem é a vítima, já que ele acontece nas salas de aula, dentro das escolas”, afirmou a promotora. Vítima e Agressor Bullying é uma expressão inglesa que pode ser traduzida como intimidação e define diferentes formas de agressão feitas de maneira repetitiva, normalmente sem o conhecimento dos pais e professores. Comete bullying aquele que discrimina, exclui, ameaça, humilha ou agride, favorecido por ser mais velho, mais forte, mais desenvolvido emocionalmente ou por gozar do apoio de outros colegas.
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Flávio Pereira
AGRESSÃO Stefani de Souza, 14 anos, foi vítima da ‘Gangue do Arrebento’ , um grupo de colegas de escola, em S. José
As vítimas, ao contrário, são aquelas que entram no jogo do agressor e se angustiam por não se desvencilharem de seu algoz. “Se uma criança vive num clima de desrespeito, ela pode passar de vítima em casa para agressora na escola, oprimindo os colegas. Isso pode resultar em depressão e dificuldade para relacionar-se. Essa é uma questão que deve ser discutida, ao meu ver, entre os pais, educadores e Ministério Público”, disse Sílvia. Ao descobrir que o filho é vítima de bullying, os pais devem procurar imediatamente a escola para que se interrompa o procedimento. O importante é sempre demonstrar para a criança que ela é amada e que não é culpada pelos acontecimentos, melhorando assim sua autoestima. Afinal, além da queda do desempenho escolar, da depressão e da insegurança, as sequelas
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podem durar toda a vida e causar transtornos psíquicos graves, que podem resultar em desejo de vingança. Caso a escola não tome providências, os pais devem recorrer à Vara da Infância para exigir que o colégio cumpra a obrigação de proteger a criança. O ideal é que a escola trabalhe com a prevenção. Afinal, quanto mais cedo se intervir, mais chances os envolvidos terão de se recuperar. O melhor, de acordo com a promotora, é tratar no dia-a-dia, no ambiente escolar, valores como fraternidade, compaixão e principalmente respeito. Auxílio Uma lei sancionada em maio do ano passado pelo prefeito de São José, Eduardo Cury (PSDB), ampliou a discussão sobre bullying no município. A nova legislação sugere que
estabelecimentos de ensino públicos e privados desenvolvam políticas antibullying para conscientizar alunos e professores. Hoje, a Secretaria da Educação promove uma série de palestras e debates nas escolas sobre o tema com alunos, pais e professores. Além disso, através de uma parceria com a Vara da Infância, 20 mil cartilhas contendo dicas sobre como evitar e identificar no ambiente familiar e escolar agressores e vítimas de bullying serão distribuídas nas instituições de ensino municipais no segundo semestre. O material foi desenvolvido pelo Ministério Público do Estado. Sobre o caso de Stefani, a prefeitura informou que está acompanhando o processo desde o início e atendendo as solicitações da Justiça em termos de entrega de documentos, memoriais e provas. •
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Segurança Pública
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A identidade do crime Tráfico de drogas ainda lidera a causa de mortes violentas na região, mas a cara da criminalidade começou a mudar: homicídios causados por motivos banais já são maioria em cidades do Vale do Paraíba Elaine Santos São José dos Campos
acareí, sábado, julho de 2010. Depois de várias discussões, o eletricista Clemilton Silva de Jesus, 42 anos, resolve dar um basta às constantes brigas com o vizinho e o ameaça: caso ele não retire a ligação clandestina de água que está causando vazamento em sua casa, ele o denunciará à companhia de saneamento. O dia seguiu tranquilo, mas à noite, ao voltar de um bar, Clemilton foi surpreendido pelo vizinho, o vigilante Luan Machado Rosa, de 22 anos, armado na porta de sua casa. Foram três disparos. Um tiro certeiro no rosto tirou a vida do eletricista, que deixou mulher e dois filhos menores de idade. Acontece que crimes por motivos fúteis e passionais vêm crescendo na região. Levantamento feito pelo setor de inteligência do Deinter-1 (Departamento de Polícia Judiciária) revela a identidade dos motivos das mortes violentas nas maiores cidades da região: São José dos Campos, Taubaté e Jacareí, no Vale do Paraíba, e Caraguatatuba, no Litoral Norte. Em Jacareí, segundo as estatísticas, todos os 32 dos homicídios registrados no ano passado foram provocados por motivos fúteis. Já em Caraguá, 67% dos 28 assassinatos tiveram as causas banais como a principal motivação para o crime.
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Nas duas cidades, os homicídios foram, na grande maioria, motivados por discussões entre pessoas conhecidas, brigas de bar, desavenças que poderiam ser resolvidas com uma conversa. Em São José dos Campos e Taubaté, o tráfico lidera a causa das mortes violentas. Dos crimes desta natureza registrados em Taubaté em 2010, a totalidade (45) foi motivada por disputa de pontos de drogas. “Cerca de 80% dos homicídios é em razão do tráfico, mas temos alguns casos por motivos fúteis, que foram ocasionados por desentendimento entre pessoas ligadas ao tráfico. Em nosso levantamento, mais da metade das pessoas envolvidas em homicídios já tinham envolvimento com determinada facção do crime”, afirmou o delegado seccional de Taubaté, Ivahir Freitas Garcia Filho. “Para minimizar esse tipo de crime estamos fazendo operações praticamente diárias, principalmente na parte baixa da cidade, que envolve os bairros como Parque São Luiz, Parque Santo Antonio, Esplanada, Santa Terezinha entre outros. O objetivo maior dessas rondas preventivas é desarmar a população e mapear as pessoas que frequentam esses lugares”, disse. Mudança Mas as mortes por motivos banais vêm crescendo a cada ano. Em São José, de cada 10 pessoas assassinadas, 3 são vítimas de homicídios fúteis ou passionais, como é o caso do crime ocorrido em junho de 2010
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SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Na maior cidade do Vale do Paraíba, 3 em cada 10 homicídios são causados por motivos fúteis
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que culminou na morte dos jovens namorados Rodolfo Rodrigues Cabral, 25 anos, e Kátia Carolina de Carvalho, 23 anos. Por ciúmes, o ex-namorado de Kátia, Fabiano Ferreira, 25 anos, surpreendeu o casal dentro de um carro e atirou à queima-roupa. As vítimas morreram na hora. Um ano antes, um outro crime por motivo banal chocou São José. O entregador de pizza, Fernando Aislan dos Santos, 23 anos, foi morto na porta do trabalho depois de ter elogiado a mulher de um cliente. Ambos os casos já foram solucionados pela polícia e os acusados estão presos. “Não é que o crime mudou somente para motivo fútil, mas hoje não podemos mais falar que a motivação do crime de homicídio está ligada apenas ao tráfico, como era há anos atrás. É claro que em algumas cidades, de acordo com o número de habitantes, o número de homicídios relacionado ao uso de entorpecentes e tráfico é maior, mas nas cidades de menor população, como Jacareí e Caraguá, os crimes ligados a motivo banal, fútil, superam”, explica Edilzo Correia de Lima, delegado assistente do Deinter-1. Para a polícia, a relação dos crimes motivados por futilidades tem suas vítimas diretamente ligadas a pessoas que, de uma forma ou de outra, tinham contato com o mundo do crime. “De todos os casos de homicídios que trabalhamos aqui, raras exceções, as pessoas que cometeram o crime de homicídio já tinham passagem pela polícia. Dificilmente, uma pessoa que está de posse de uma arma de fogo e a usa para tirar a vida de alguém não está relacionada com outros crimes. Só o fato dela ter uma arma ilegal dentro de casa já é uma ligação com o mundo do crime”, disse um investigador de polícia que preferiu não se identificar. Avaliação O sociólogo e cientista político Guaracy Minguardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, defende que o homicídio é um crime 90% pessoal, que parte, na grande maioria das vezes, de vingança e desentendimentos de pessoas que já tem algum vínculo social. “Se for colocar em análise, até os homicídios que entram nas estatísticas de tráfico de drogas também são motivos fúteis, geralmente uma discussão entre traficantes ou usuários, mas na grande maioria por motivos pessoais e não-relacionados diretamente ao entorpecente”, disse. Especialista em segurança pública, Minguardi é responsável hoje pelo setor de desen-
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CRIME PASSIONAL Foto do casal de namorados Rodolfo Rodrigues Cabral, 25 anos, e Kátia Carolina de Carvalho, 23 anos, morto no ano passado, na zona leste de São José
Causas dos homicídios ocorridos em 2010 • Caraguatatuba Homicídios por motivos fúteis: 17 Casos passionais: 2 Disputas por pontos de tráfico: 9 Total de mortes: 28
• Jacareí Homicídios por motivos fúteis: 32 Casos passionais: 0 Disputas por pontos de tráfico: 0 Total de mortes: 32
• São José dos Campos Homicídios por motivos fúteis: 11 Casos passionais: 5 Disputas por pontos de tráfico: 38 Total de mortes: 54
• Taubaté Homicídios por motivos fúteis: 0 Casos passionais: 0 Disputas por pontos de tráfico: 45 Total de mortes: 45
volvimentos de trabalhos específicos sobre inteligência e análise criminal no Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Para ele, atualmente o que mais leva a pessoa a cometer um assassinato é a impunidade. “Temos que ressaltar que o homicídio, em quase 50% dos casos, é feito por pessoas que nunca tinham matado antes. São pessoas, em suma, conhecidas das vítimas que, por um desentendimento qualquer, vingança, ciúmes ou inveja, partiram da violência verbal para uma ação drástica. O homicídio se combate de duas formas: primeiro tirando a arma da rua e segundo com investigação e prisão, para que o criminoso saiba que vai matar, mas será preso em seguida.” O delegado titular da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de São José dos Campos, Vernei Antônio de Freitas, afirma que é quase impossível prevenir o crime pro-
veniente de motivos fúteis. “Não há lógica nesses casos. É diferente quando o homicídio vem seguido do tráfico. São problemas sociais de diversas situações. Infelizmente esse tipo de crime não se previne”, disse. O desarmamento seria a melhor prevenção para esse tipo de crime, de acordo com o coronel da reserva da Polícia Militar e ex-secretário Nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho. “A sociedade brasileira é uma sociedade de baixos controles. Ao mesmo tempo que brada a violência, ela consome produtos contrabandeados, incentivando o crime. Homicídios por motivos banais sempre foram a grande maioria dos casos policiais. A redução desse fato está na necessidade da polícia desarmar a população. É fato que a maioria das mortes por homicídios no país são praticados com armas de fogo”, disse. •
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Instituto de Oncologia do Vale, se preparando para cuidar ainda melhor de vocĂŞ.
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Vidas multíplas A ciência ainda não desvendou por completo o nascimento de gêmeos, fato que intriga a humanidade desde os primórdios. Dos relatos mitológicos ao raríssimo caso das quadrigêmeas de São José, a revista valeparaibano faz um mergulho no universo dos chamados irmãos idênticos ou fraternos
Xandu Alves São José dos Campos
magine-se em um quarto escuro, apertado e quente. Um líquido viscoso o envolve. É aconchegante estar lá, mesmo não tendo consciência de muita coisa. Você escuta um som ritmado, gostoso, vindo do outro lado da parede e que lhe traz segurança e conforto. Estica o braço e sente um plástico bem fino, mas resistente, à sua volta. Põe a mão e descobre outra pessoa do lado de lá. Quem será? Posso me comunicar com ele? É bom saber que não estou sozinho, você pensa. Tateia novamente e sua mão encontra a dele. É um dos momentos mágicos de uma das mais incríveis situações humanas: o nascimento de gêmeos. Gêmeos são irmãos idênticos ou fraternos (não-idênticos) que nascem em uma única gestação. Podem ser dois, três, quatro ou até mais. O recorde humano é de sete bebês que nasceram vivos e sobreviveram. Há dois casos relatados: um nos Estados Unidos, em 1997, e outro na Arábia Saudita, em 1998. Ambos foram resultados de técnicas de fertilização assistida. Os gêmeos podem ser iguais ou não, do mesmo sexo ou de gênero diferente. De cada 80 nascimentos, estima-se que um seja gemelar. E entre os gêmeos, a proporção de nascimentos de múltiplos, isto é, mais do que dois, é de apenas 1%. Os trigêmeos são um parto para cada 6.400 nascimentos e os quadrigêmeos representam um parto em cada 512 mil gestações. As estatísticas vêm aumentando conforme melhoram as técnicas de reprodução assistida, como a inseminação artificial e a fecundação
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in vitro. Os casais que não podem ter filhos representam cerca de 10% da população. E são eles que procuram os médicos para conseguir engravidar. Nestes casos, como normalmente a mulher recebe mais de um embrião em seu útero, o nascimento de gêmeos é a regra. Na Inglaterra, para evitar explosão de gêmeos, é proibido transferir mais do que dois embriões. No Brasil, recente resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) ditou novas regras para o processo de reprodução assistida. A recomendação sobre o número de embriões transferidos dependerá da idade da paciente, não podendo ser superior a quatro. Mulheres de até 35 anos podem implantar até dois embriões. De 36 a 39 anos, até três. Acima de 40, quatro embriões. “Queremos prevenir casos de gravidez múltipla, que provocam chances de prematuridade e aborto com o aumento da idade”, explica Adelino Amaral, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida. A medicina desvendou quase todos os mistérios sobre o nascimento de gêmeos, concepção que sempre intrigou a humanidade, haja vista os inúmeros relatos na mitologia e na história universal. No livro “Filhos gêmeos” (Publifolha, 2009), os ginecologistas e obstetras Wladimir Taborda e Eduardo Cordioli citam alguns gêmeos famosos, como os fundadores de Roma, Rômulo e Remo, a lenda dos índios do Alto Xingu que falam dos gêmeos Sol e Lua, criadores da humanidade, e ainda os irmãos Castor e Pólux, que inspiraram o signo de gêmeos na astrologia. Outro relato, este sim comprovadamente verdadeiro, é dos gêmeos Chang e Eng, que nasceram no Sião (atual Tailândia), em 1811, e tinham o mesmo umbigo e fígado conectados
por 15 centímetros de tecido, não sendo possível separá-los naquela época. Eles viraram atração de circo e acabaram batizando o tipo de anomalia de gêmeos conjugados, a gemelaridade imperfeita, popularmente conhecidos como gêmeos siameses. Os irmãos morreram em 1874, aos 63 anos de idade. Para se entender como nascem os gêmeos, incluindo os siameses, é preciso mergulhar na ciência e visitar o útero materno. A viagem tem a companhia do ginecologista, obstetra e especialista em medicina fetal Gregório Lorenzo Acácio, professor da Faculdade de Medicina da Unitau (Universidade de Taubaté) e um dos 53 especialistas co-autores do livro “Filhos gêmeos”, considerado referência no tema. “Gêmeos são um dos assuntos que mais gosto”, revela Acácio. Dentro do útero materno, dois ou mais fetos em gestação podem dividir o mesmo espaço ou crescer em bolsas amnióticas diferentes, mas bem próximos. Tecnicamente, independentemente da quantidade de irmãos, a medicina classifica os gêmeos em idênticos (monozigóticos) e fraternos (dizigóticos). Os idênticos são fruto da fecundação de um único óvulo por um único espermatozóide, conhecidos como gêmeos univitelinos. Logo após a fecundação, esse óvulo se quebra em dois. O embrião inicial (conjunto de células) se separa, por motivos que a medicina desconhece, e surgem dois embriões. “Quanto mais cedo esse embrião se separar, maior a individualidade dos bebês”, explica Acácio. Se a divisão ocorrer entre três e cinco dias, os embriões terão cada um a sua placenta e a sua bolsa dentro do útero. Se for entre cinco e nove
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Fotos: Flávio Pereira
RARIDADE Victória, Veridiana, Vanessa e Vivian, de 14 anos, as quadrigêmeas de São José; chance de nascer dois pares idênticos é de uma em 10 milhões
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dias, os embriões vão compartilhar a mesma placenta com uma membrana separando um do outro, mas ainda cada um na sua bolsa. Porém, quando a divisão acontece entre nove e 13 dias, os bebês serão gerados em uma única placenta e bolsa. Gêmeos siameses surgem quando a divisão demora mais do que 13 dias e os embriões não conseguem se separar completamente. O resultado são os gêmeos imperfeitos, que nascem grudados por alguma parte do corpo. “Esse caso só acontece com gêmeos idênticos, pois existe falha na separação dos embriões”, aponta Acácio, lembrando que quanto mais separados os gêmeos são, cada um com sua placenta e bolsa, mais tranquila é a gestação. Remédio Paulo Eduardo e Pedro Henrique Lopes da Silva, ambos de 23 anos, são irmãos idênticos. Nasceram de cesárea com diferença de um minuto. São os únicos da família, que mora em Lorena. Ambos são ligados ao mundo da música: cantam, tocam instrumentos e compõem canções, mas a igualdade termina por aí. Paulo cursa o quinto ano da faculdade de Psicologia enquanto Pedro está no último período do curso de Engenharia Química. Eles conseguem se auto-analisar e chegam à conclusão que têm comportamentos diferentes. “Sou mais agitado, embora goste de estilos musicais mais tranquilos, interesseime por ciências humanas, gosto muito de ler e de cantar. Também me envolvo mais com pesquisa”, relata Paulo. Já Pedro define-se como uma pessoa mais tranquila e que curte rock pesado. Seu interesse é maior por ciências exatas e em estudar instrumentos musicais. Não gosta muito de pesquisar. “Temos a mesma carga genética e somos muitíssimos semelhantes fisicamente, mas somos seres diferentes”, diz Paulo. “A partir de nossa experiência, compreendemos que o ser humano é muito mais do que uma carga genética. Ele é abertura, é compreensão de si mesmo e do seu mundo.” Por serem tão iguais fisicamente, os irmãos colecionam histórias engraçadas e outras nem tanto. Com oito anos, uma tia deu o mesmo remédio para Paulo pensando medicar os dois. Na faculdade, Paulo se esqueceu de avisar que tinha um irmão gêmeo. Os amigos o achavam estranho: ele os cumprimentava na escola e não os reconhecia na rua. “Era o Pedro quem eles encontravam na rua. E ele, claro, não sabia quem eram meus colegas”, diverte-se Paulo. Os gêmeos fraternos nascem quando dois
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“Você vê muita criança ao mesmo tempo e pensa: são todos meus? Como vou fazer? Mas é uma alegria assustadora” De Beatriz Kobbaz, 45 anos, mãe dos trigêmeos de Taubaté
óvulos são fecundados por espermatozóides diferentes. Isso ocorre porque algumas mulheres ovulam mais do que outras. Mulheres mais novas e mais velhas têm mais chance de ovular mais de um óvulo por causa de disfunções decorrentes da idade. Gêmeos idênticos nascem espontaneamente, de forma natural e sem indução, e representam um terço das gestações gemelares. Os dois terços restantes são de mulheres que, naquele mês, ovularam mais de um óvulo. Então, haverá dois espermatozóides vencendo a batalha e fecundando os óvulos. Nascerão irmãos, mas não iguais. Todos os embriões fecundados em uma única placenta serão idênticos. No entanto, mesmo tendo duas placentas distintas, os gêmeos ainda poderão ser idênticos, embora as chances sejam de 10%. Agora, todas as gestações de fetos não-idênticos têm
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bebês na barriga. “Fiquei um pouco em choque na época, mas hoje não imagino como é esperar um filho apenas, deve ser sem graça”, brinca a fonoaudióloga. “Também tivemos a sorte de, além de gêmeos, serem um casal. É muito bom criar menino e menina juntos.” O primeiro desafio foi vencido logo após o parto. Com baixo peso e um leve desconforto respiratório, os irmãos foram levados para a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) neonatal da Santa Casa de São José. Ana Clara ficou uma semana e Gabriel, 30 dias. Ele teve infecção generalizada e ficou entre a vida e a morte. “Foi o período mais difícil da minha vida. Até hoje não consigo falar sem chorar”, recorda Thaís, comemorando a total recuperação do filho. “Fomos muito abençoados. As crianças não tiveram nenhuma sequela.” Passada a tempestade, Thaís e Peleco tiveram que se adaptar à vida dos bebês. Contrataram uma babá, contaram com a ajuda de parentes e fizeram uma tabela com os horários das crianças. Eles davam muito trabalho! Aliás, em dobro. Thaís conta que os irmãos se dão muito bem, mesmo brigando de vez em quando. “Eles são muito companheiros, um defende o outro.” A briga maior é quanto querem a mãe sem ter que dividi-la. O que faz parte da rotina de quem tem gêmeos em casa. IRMÃOS FRATERNOS Ana Clara e Gabriel, 2 anos: menino é mais alto e tem os olhos azuis; menina tem olhos e cabelos castanhos
uma placenta para cada bebê, pois foram geradas de dois ou mais embriões distintos. “Ter gêmeos é trabalho em dobro, mas também alegria em dobro”, bem resume a fonoaudióloga Thaís Cristina Ondas, 33 anos, de São José, mãe de um casal de gêmeos de dois anos gerado naturalmente. Ela e o marido, o músico Helder Gonçalves de Miranda, 37 anos, o Peleco, divertem-se com as peraltices de Ana Clara e Gabriel. “Ela é mais extrovertida, conversa com todo mundo, é super alegre e comunicativa. Já ele é mais tímido, desconfiado e arteiro.” Ana Clara e Gabriel foram gerados em placentas diferentes, portanto são irmãos fraternos. Aos dois anos, o menino é um pouco mais alto, tem cabelo mais claro e olhos azuis. Os olhos da menina são castanhos e o cabelo, mais escuro. Thaís conta que o primeiro susto ocorreu no ultrassom, quando ela descobriu que levava dois
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”Não penso em como vai ser quando tivermos que nos separar. Vivi tanto em função delas que acho que esse dia nunca vai chegar” De Sula Lia Barboza, 44 anos, mãe das quadrigêmeas de São José
Doenças O nascimento de gêmeos é especialmente comemorado em razão dos inúmeros problemas que podem ocorrer durante e depois da gestação. A taxa de mortalidade entre gêmeos é 4 a 11 vezes maior na comparação com gestações únicas, sendo que um terço das mortes ocorre antes do nascimento. Segundo a coordenadora da equipe de Medicina Fetal do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, Denise Araújo Lapa Pedreira, gestações de trigêmeos, quadrigêmeos e mais são de muito risco para a paciente e para que as crianças possam ter algum problema. É incomum não ter complicação, alerta a médica. “Quanto mais bebês dentro do útero, mais prematuro eles nascem, porque a barriga da mulher tem um limite.” São raros os casos de nascimento de múltiplos de forma natural. O mais comum é através de indução de ovulação. Além disso, os gêmeos quase sempre nascem prematuros e com baixo peso, por causa da dificuldade na alimentação intra-uterina. Uma das doenças mais complexas entre os gêmeos que dividem a mesma placenta é a chamada síndrome
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transfusor-transfundido. Como os bebês são alimentados pelo mesmo cordão umbilical, a troca de sangue entre eles é normal, só que pode entrar em desequilíbrio. Um bebê passa a mandar mais sangue para o outro. Quem doa mais, fica anêmico e cresce menos do que o outro. O bebê que recebe mais sangue acaba tendo um crescimento anormal. Se um morrer, o outro também morre. “O problema está na placenta”, explica Acácio. “O vaso que permite a troca irregular de sangue precisa ser queimado cirurgicamente.” Segundo o médico, que fez a primeira cirurgia desse tipo no Brasil, a síndrome pode matar até 90% dos casos não-diagnosticados. Com a intervenção médica correta, a taxa de sobrevivência dos gêmeos é superior a 75%. O problema é detectado pelo ultrassom, exame absolutamente fundamental no caso de gestação múltipla. Hoje, no país, quatro centros fazem com qualidade a cirurgia para cauterizar o vaso dentro do útero, através de laparoscopia. Vencidas as etapas da gravidez múltipla, a chegada de gêmeos causa uma revolução no ambiente doméstico. Foi o que aconteceu em Taubaté, na casa da designer de interiores Beatriz Kobbaz, 45 anos, e do marido Alberto Kobbaz, 48 anos, médico urologista. Eles tinham uma menina de quase dois anos quando Beatriz fez tratamento para engravidar. Ela sabia da chance de ter dois filhos, mas não imaginava que seriam três. “A notícia foi assustadora”, lembra a designer. Os trigêmeos exigiram cuidados especiais logo nas primeiras semanas de gestação. Beatriz teve que engordar no mínimo 20 quilos e, a partir da 25ª semana, começar a repousar e monitorar diariamente as contrações uterinas, através de um aparelho específico, para evitar o parto prematuro. Valeu a pena. Laura, Lívia e Pedro nasceram saudáveis, através de cesárea na 35ª semana de gestação, com mais de dois quilos cada um. Os irmãos ficaram apenas quatro dias na unidade semi-intensiva do hospital antes de ir para casa. Beatriz relembra a sensação: “É inexplicável. Você vê muita criança ao mesmo tempo e pensa: ‘são todos meus?’, ‘como vou fazer?’, ‘já tenho uma filha, agora são quatro’. Mas é uma delícia, uma alegria assustadora”. Assustador seria manter a rotina com três bebês em casa. Aliás, quatro, porque a filha mais velha de Beatriz, Luana, tinha só dois anos e meio. Foi preciso separar por cor e etiquetar roupas, mamadeiras, chupetas, bicos e escovas. Nos primeiros dias, a designer sim-
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TRIGÊMEOS Laura, Pedro e Lívia, de 6 anos, na casa da família, em Taubaté: cuidados especiais desde as primeiras semanas de gestação
plesmente não conseguia dormir por causa da amamentação. “Quando terminava o último já estava na hora de começar o primeiro”, conta ela, que resolveu fazer um rodízio entre o peito e as mamadeiras. “Fizemos uma tabela no computador para marcar o horário da mamada, do remédio, do xixi, do cocô. Ficou mais fácil para ninguém se perder.” Hoje, com seis anos, os trigêmeos têm uma convivência harmoniosa, segundo Beatriz, com os pais e a irmã mais velha, de 8 anos. Ela conta que faz questão de preservar a individualidade de cada um e garantir que não há preferidos na família. “Eles são independentes e maravilhosos”, alegra-se. No final das contas, depois de todos os desafios de criar vidas múltiplas, o que fica no coração de pais e mães é a alegria de ver os filhos
com saúde, crescendo e se desenvolvendo. Do lado das crianças, como bem orientam os especialistas, o importante é respeitar a personalidade de cada um. O gêmeo idêntico Pedro Henrique, de Lorena, ressalta essa necessidade: “E nós queríamos, como qualquer criança, realizar o nosso próprio ser único, satisfazendo nossos gostos divergentes”. Quatro A vida reservava muitas surpresas para a secretária Sula Lia Barboza, 44 anos, naquele ano de 1995. Ela estava prestes a se separar do marido, com quem tinha uma filha de 8 anos, e pretendia recomeçar a vida sem mais filhos. Um descuido com o anticoncepcional a levou a engravidar novamente. A segunda surpresa, contudo, seria ainda mais incrível. Ao fazer um
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ultrassom, a médica contou-lhe o que indicava o aparelho: “Até agora, já vi três”. Três bebês! A reação de Sula foi levantar e ir embora. Relutava em acreditar no que ouvira. “Estava vivendo um período emocionalmente desgastante. Imagine o turbilhão que foi receber a notícia de que esperava trigêmeos”, diz a secretária. Passado o susto, começou o dilema para que os bebês nascessem com saúde. Eram três meninas e elas nasceram de sete meses e com baixo peso. Durante o parto, a última surpresa da vida de Sula apareceu em forma de uma pequena mãozinha. Foi o que viu no útero da paciente o ginecologista Marino Salutti após tirar os três bebês. Havia mais uma menina ali. “Foi um parto lindo. Os exames mostravam três bebês e fomos surpreendidos ao ver a quarta criança somente na hora do parto”, lembra o médico. “É um caso raríssimo porque a Sula engravidou naturalmente”, disse. Sula teve dois pares de meninas idênticas em uma fecundação natural. Situação rarís-
sima. A chance é de uma em 10 milhões. As quatro meninas nasceram no Dia das Mães de 1996, para a alegria de Sula. “Foi maravilhosa a sensação de vê-las pela primeira vez. Sentia que era um presente que Deus me dava.” Victória, Veridiana, Vanessa e Vivian vieram ao mundo com intervalos de poucos minutos uma da outra. Para cuidar das meninas, foi preciso gastar tempo e dinheiro. As meninas usavam 1.000 fraldas e tomavam 120 litros de leite por mês. Passadas todas as dificuldades, Sula e as filhas vivem hoje um relacionamento especial. Elas moram num apartamento na região norte de São José e cada uma das filhas, de 14 anos, nutre seu próprio sonho. A mãe conta que os pares idênticos têm gostos semelhantes. A zagueira Veridiana e a lateral esquerda Vivian jogam futebol pelo time de São José e pretendem seguir carreira como atleta. Embora torçam pelo Corinthians, como as outras a duas irmãs, ambas sonham em fazer peneira no Santos. “É o melhor time feminino do Brasil”, justificam.
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Victória está dividida entre a Arquitetura e o Direito. Como as irmãs, ela toca na banda da igreja evangélica que a família frequenta, curiosamente chamada “Deus faz o impossível”. A baterista gosta de estudar e de navegar na internet. Violonista da família e uma das mais tímidas das quadrigêmeas, Vanessa pretende estudar administração, paixão que herdou de um tio. Mas as irmãs entregam o lado desorganizado dela: “O guarda-roupa é um dos mais bagunçados”. Juntas, as quadrigêmeas de São José formam um time de lindas meninas que batalham e sonham com o futuro. A mãe já imagina como vai ser quando cada uma tiver que seguir o seu caminho. Por enquanto, nem namorado as meninas têm. Não desgrudam muito uma das outras. Gostam de ficar em casa e curtir a família. “Não penso muito em como vai ser quanto tivermos que nos separar. Vivi tanto em função delas que acho que esse dia nunca vai chegar”, afirma Sula. “Mas quando chegar terei que estar preparada”. •
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Credibilidade e imparcialidade Pesquisa para avaliar a satisfação dos nossos leitores aponta que conteúdo editorial da revista valeparaibano, que completa 1 ano de existência neste mês, transmite confiança
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Yann Walter São José dos Campos
oda empresa precisa evoluir, mais ainda quando pertence ao ramo da comunicação. Dinamismo e inovação constantes são qualidades fundamentais para o sucesso de qualquer veículo de imprensa, tão importantes como excelência e credibilidade. A revista valeparaibano, que completa um ano este mês, está ciente da necessidade de evoluir, tanto para manter a fidelidade de seu assinantes, como para conquistar novos leitores.
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A revista enfrentou muitos desafios nestes 12 meses. E um dos principais foi proporcionar sempre o melhor conteúdo aos leitores, através de um material amplo e confiável, falando do Brasil e do mundo, sem perder o vínculo regional, com reportagens completas e informativas, mas também curiosas ou divertidas, sobre temas de política, economia, cultura, turismo, tecnologia, comportamento e saúde, entre outros. Para nortear a valeparaibano nesta missão, foi encomendada ao Instituto Allure uma pesquisa de satisfação para descobrir o que pensam nossos leitores. O conteúdo editorial da revista foi analisado por uma amostra de 555 pessoas das classes A, B e C, sendo 300 assinantes e 255 lei-
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tores de banca. Homens e mulheres foram entrevistados em proporções semelhantes (52,8% e 47,2%, respectivamente). As faixas etárias mais representadas pela pesquisa foram as de 40 a 60 anos (26,6% do total) e de 26 a 35 anos (25%). Vieram depois, na sequência, as de 36 a 45 anos, de mais de 60 anos e de 18 a 25 anos . Já a classe social mais representada foi a B (38,3%), seguida pela A (24,6%), a D (18,6%) e a C (16,1%). A grande maioria dos entrevistados (85%) tem acesso à internet. A pesquisa, realizada através de um questionário estruturado com perguntas abertas e fechadas, permitiu traçar um perfil do leitorado da revista, trazendo várias informações interessantes. Uma delas é que assinantes e leitores de banca
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Especial
têm comportamentos e gostos bem diferentes. Enquanto 62,1% dos leitores de banca leem a revista imediatamente depois de comprá-la, apenas 35,5% dos assinantes fazem isso. A atitude faz sentido, uma vez que a revista é mensal e tem, portanto, um prazo de validade bem maior do que as publicações diárias e semanais. Aliás, mais da metade (51,1%) de todos os leitores (de banca e assinantes) guardam as revistas que já leram, mostrando que para muitos deles a valeparaibano é vista como um objeto de consulta. A maioria (39%) afirmou ler a revista em algumas horas. Quase um quarto (24,9%) deles demora dois ou três dias, 16,5% uma semana e 15,4% um dia só. Apenas 4,2% levam 10 a 15 dias. Porém, para a revista valeparaibano, o mais importante é passar pelo crivo de seus leitores, sempre com o intuito de manter os pontos fortes e melhorar os pontos fracos. Neste sentido, a pesquisa do Instituto Allure foi animadora, já que 75,9% dos 555 entrevistados consideraram as reportagens da revista boas ou excelentes, 21,7% regulares ou medianas e apenas 2,4% ruins. Cabe ressaltar aqui as diferenças entre assinantes e leitores de banca. Enquanto quase todos (92,3%) os assinantes qualificaram as matérias de boas ou excelentes, 54,9% dos leitores de banca fizeram a mesma avaliação. Assim, um dos próximos desafios da revista será elevar o segundo grupo para o mesmo patamar de satisfação que o primeiro. Nota O dado que segue talvez seja o mais importante da pesquisa: 93,4% dos leitores, assinantes ou de bancas, dizem que a revista transmite credibilidade nos assuntos abordados. Esta credibilidade foi conquistada pelas apurações das reportagens, norteadas pela seriedade e pela imparcialidade. Cabe ressaltar que o índice de credibilidade junto aos assinantes da publicação chega a 98,3%. Tal confiabilidade no conteúdo das notícias não se conquista por acaso. Essa confiança junto aos nossos leitores é resultado de um trabalho pautado pela ética, independência e verdade. Ao final da pesquisa, foi perguntado aos entrevistados que nota eles dariam para a revista. Mais uma vez, as respostas foram
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PESQUISA DE SATISFAÇÃO 555 ENTREVISTADOS, SENDO: 300 ASSINANTES 255 LEITORES DE BANCA POR SEXO
ASSINANTES ASSI
52,7% 5
BANCAS BANC
47,3% %
5 53%
47% %
IDADE
ASSINANTES + BANCAS 18-25
26-35
36-45
46-60
+ de 60
12,3%
25%
20,3%
26,6%
15%
ESTADO CIVIL
ASSINANTES
BANCAS
0,7%
4,7%
0,4% 8,8%
13%
18,6%
7,5%
34%
11,1% 34%
67,2%
SOLTEIRO CASADOS DIVORCIADO VIÚVO OUTROS NR
RENDA FAMILIAR
ASSINANTES + BANCAS B 38,3%
A
24,6%
D
C
18,6%
16,1%
E
2,4%
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Domingo 3 Abril de 2011
A REVISTA TRANSMITE CREDIBILIDADE NOS ASSUNTOS ABORDADOS?
ASSINANTES
Projeto incentiva leitura em parque
BANCAS
1,7%
TOTAL ASSINANTES + BANCAS
12,3%
98,3%
SIM
SIM - 93,4% NÃO - 6,6%
87,7%
NÃO
SIM
NÃO
COMO VOCÊ AVALIA AS REPORTAGENS DA REVISTA?
ASSINANTES
BANCAS 1,2%
1,0% 0,6% 6,0%
4,0%
TOTAL ASSINANTES + BANCAS
39,9%
54,9%
92,3%
EXELENTE/BOM
REGULAR/MÉDIO
RUIM
EXCELENTE/BOM - 75,9% REGULAR/MÉDIO - 21,7% RUIM - 2,4% NR
QUAL NOTA DE 0 A 10 VOCÊ DÁ PARA A REVISTA?
ASSINANTES
BANCAS
37,4% 23,7% 26,1% 23,3%
23,9% 22,9% 11,4%
11,1% 4,3%
2,7%
NOTA MÉDIA 8,51
NOTA 6 NOTA 7 NOTA 8 NOTA 9 NOTA 10
NOTA MÉDIA 7,45
LÊ A REVISTA ASSIM QUE CHEGA OU GUARDA PARA LER DEPOIS?
ASSINANTES
BANCAS
IMEDIATAMENTE
LEIO DEPOIS
IMEDIATAMENTE
LEIO DEPOIS
35,3%
64,7%
62,1%
37,5%
VOCÊ GUARDA A REVISTA QUE JÁ LEU?
ASSINANTES 2,7%
23,8%
BANCAS 2,0%
TOTAL ASSINANTES + BANCAS 23,3%
23,7%
73,5 51,0%
SIM
NÃO
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DEPENDE D0 ASSUNTO
NR
SIM - 51,1% NÃO - 36,6% DEPENDE DO ASSUNTO - 12,3%
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A revista valeparaibano também participa do projeto Leitura no Bosque, realizado pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo e lançado no dia 12 de março. O objetivo deste projeto, voltado para públicos de todas as idades, é estimular a leitura em ambientes agradáveis, principalmente ao ar livre. O Parque Vicentina Aranha, no centro de São José dos Campos, foi o primeiro lugar escolhido para sediar a iniciativa, levada depois para o Parque da Cidade, na zona norte, e o Parque Santos Dumont, também na região central da cidade. Cerca de 300 publicações – entre elas a revista valeparaibano– estão à disposição dos interessados todos os sábados, domingos e feriados das 10h às 17h. Foram preparados no Parque Vicentina Aranha três ambientes diferentes, dois deles cobertos. Os livros estão no edifício onde funcionava o antigo sanatório. Além de sofás e poltronas, o local também conta com um espaço infantil. Quem quiser também pode se instalar em uma espreguiçadeira na varanda ou até se acomodar nos pufes e tapetes dispostos na clareira ao lado da capela. Afinal, nada melhor do que ler à sombra das árvores. O projeto Leitura no Bosque ainda inclui um ponto de troca de livros, que dá aos interessados a possibilidade de trazer uma publicação (em bom estado) de casa para trocá-la por qualquer outra que esteja disponível no local. Vale ressaltar que os livros são emprestados sem custo algum. A ideia da Fundação Cultural é que o projeto incentive os participantes a organizarem atividades espontâneas, como saraus e encontros literários.
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Especial positivas: assinantes deram nota 8,51 e os leitores de banca, 7,45 Assim, a revista valeparaibano ficou com uma média de 7,89. Os pesquisadores do Instituto Allure também indagaram os entrevistados sobre os temas de sua preferência. As editorias preferidas dos leitores masculinos são política (25,9%), economia (20,8%), turismo (18,8%), esporte (15,7%) e internacional (11%), enquanto as mulheres privilegiam moda (28,2%), celebridades (23,1%), turismo (19,2%) e cultura (16,5%). De posse desse resultado, planejamos os temas que serão abordados nas próximas edições da revista visando atender o desejo e as preferências dos nossos leitores. A grande maioria dos sondados (93,7% dos assinantes e 89,7% dos leitores de banca) afirmou ler a revista valeparaibano porque “aumenta o conhecimento”. Outros motivos citados foram “ajuda a formar opinião” (88,6% dos assinantes e 76,7% dos leitores de banca), “para relaxar” (89% dos assinantes e 77,5% dos leitores de banca), “ajuda a manter-se informado no trabalho” (86,6% e 64,8%),
A revista valeparaibano trouxe uma bem-vinda modernidade gráfica e Depoimentos sobre o aniversário de um ano da revista valeparaibano densidade de reportagens. O Vale do Paraíba não pode ficar restrito à produção A revista valeparaibano veio preencher uma lacuna tecnológica e industrial. A revista tem papel imporno jornalismo regional e tante no amadurecimento nos traz a cada mês uma nova reflexão, informações cultural de nossa região aprofundadas e artigos de De Gilberto Câmara, diretor do Inpe opinião de profissionais respeitados. Parabéns a todos que De Eduardo Cury, prefeito de São José fazem a revista valeparaibano ser um Recebemos a revista diferencial entre os veículos valeparaibano todo mês, de comunicação impressa. desde o lançamento. Fazia Nesse um ano de existência muito tempo que São José a revista deu provas de não tinha uma publicação que veio para ficar, e ficar deste nível. A revista cada vez melhor. faz frente às melhores De Mario Domingos de Moraes, presidente revistas de São Paulo, e da Fundação Cultural Cassiano Ricardo ainda tem a vantagem do enfoque regional. Do juiz José Loureiro Sobrinho, diretor do Fórum de São José
Com apenas um ano de vida, a revista valeparaibano fala como ‘gente grande’. A escolha dos temas para as reportagens é sempre cuidadosa, despertando grande interesse do público leitor da região.
Domingo, 4 de abril de 2010 • Ano 1 • Número 1
Maio 2010 • Ano 1 • Número 2
Junho 2010 • Ano 1 • Número 3
R$ 7,80
R$ 7,80
R$ 7,80
Meio Ambiente
Capitalismo verde Mercado mundial movimenta US$ 850 bilhões com fontes de energias limpas e renováveis, reciclagem e diminuição na emissão de gases
POLÍTICA
CULTURA
Tim Burton traz sua leitura de ‘Alice’ P88
Quanto custa a Câmara de São José P20
De Fernanda Cardoso, ex-BBB
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Testamos as baladas da região P72
HI-TECH
Remédios: vício que preocupa o mundo P48
Festival de Campos amplia programação P92
Como vivem nossos deputados em Brasília P16
MODA
O tempo passa e ela continua no topo P88 Gisele Bündchen: a última top model?
Novembro 2010 • Ano 1 • Número 8
Dezembro 2010 • Ano 1 • Número 9
R$ 7,80
R$ 7,80
R$ 7,80
Adoção
Exclusivo
Você é feliz no trabalho? Pesquisa encomendada pela revista valeparaibano avalia a satisfação profissional do joseense
Igrejas faturam alto com as contribuições dos devotos e transformam evangelização em negócio
Exportações: Made in Vale do Paraíba P22
POLÍTICA
CULTURA
Jabulani, a bola da Copa do Mundo P94
Outubro 2010 • Ano 1 • Número 7
Religião
ECONOMIA
Os craques de 2002 mostram o caminho das pedras para que o Brasil do técnico Dunga possa erguer a taça pela sexta vez
Maxicolares são a aposta do inverno deste ano P80
Deus dá lucro Pinheirinho: um destino traçado? P12
SAÚDE
CULTURA
TURISMO
A chef Renata Vanzetto, dona do Marakuthai, em Ilhabela
POLÍTICA
Copa
Rumo ao hexa
“O Brasil está preparado para ter a primeira mulher presidente”
Beleza e sabor no Litoral Norte P15
De José Maria de Faria, Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de São José
A revista valeparaibano consegue reunir notícias atualizadas, entretenimento, entrevistas interessantes e informações importantes para todos os leitores, sempre com muita qualidade.
Exclusivo
O que pensa Dilma
CULTURA
Sexting: mais perto do que se pensa P94
EDUCAÇÃO
Acompanhamos 11 estudantes em Las Vegas P88
ENTREVISTA
Eleito, Alckmin volta os olhos à sua terra natal
”Tenho pelo Vale um amor que vai se transformar em trabalho” P18
Pais do mesmo sexo Em decisão inédita na região, Vara da Infância e Juventude de São José autoriza a adoção de crianças por casais homossexuais
POLÍTICA
É viável ampliar o aeroporto de São José? P14
SAÚDE
Síndrome do pânico: o medo do medo P52
MODA
Pedras e paetês iluminam looks de verão P82
As cores do Verão P78
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Domingo 3 Abril de 2011
“ajuda a vida familiar” (75,3% e 47,4%), “passa o tempo” (75,3% e 37,2%) e até “por status” (11,4% e 37,5%). Novidades Nesta edição, a valeparaibano estreia a coluna do jornalista e cineasta Arnaldo Jabor, que ocupará a última página da publicação sob o título “Ponto Final”. Outra mudança será o lançamento de um novo site, mais completo, dinâmico e interativo. A expectativa é que a ferramenta comece a funcionar em junho. O site não vai se limitar a reproduzir a versão impressa da revista. Será alimentado diariamente com notícias políticas, econômicas, internacionais, culturais e esportivas. Haverá também uma área específica para serviços. A navegabilidade vai melhorar. Os leitores poderão comentar e compartilhar notícias de seu interesse nas redes sociais, aumentando assim a interatividade do site. Além de todas as mudanças de conteúdo, haverá também modificações profundas no layout, tornando a página mais moderna e com uma divisão mais organizada dos assuntos abordados. •
ro 3
Julho 2010 • Ano 1 • Número 4
7,80
R$ 7,80
É com muita alegria que celebramos um ano da revista valeparaibano. Este veículo inovador tem dado uma grande contribuição ao fortalecimento dos laços do Vale do Paraíba com sua cultura e sua gente. Parabenizo todos os profissionais envolvidos na sua produção por mais esse avanço na defesa do jornalismo independente e de qualidade
Fico muito feliz com o primeiro aniversário da revista valeparaibano, da qual sou leitor assíduo. Ficarei mais feliz quando ela completar 10, 15, 20 anos.São José precisa muito desta revista para seu desenvolvimento cultural e jornalístico, e já não pode mais prescindir dela
De Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo
A responsabilidade em atuar ativamente na comunidade e contribuir para a sua transformação nos contextos social e cultural tem sido o papel fundamental da revista valeparaibano ao longo desses 12 meses. Parabéns a toda a equipe valeparaibano
Parabéns à revista valeparaibano pelo trabalho bem feito. Sou fã da revista, e torço para que ela chegue aos 150 anos. De Chico Oliveira, músico
Setembro 2010 • Ano 1 • Número 6
Agosto 2010 • Ano 1 • Número 5 R$ 7,80
R$ 7,80
Especial Especial
São José do futuro Urbanistas avaliam proposta da nova Lei de Zoneamento e preveem como ficará a cidade em 2020 SEXO
JUSTIÇA
Gustavo Pissardo: o primeiro passo para a liberdade P52
O mercado da prostituição de luxo P58
MODA
A mãe das estradas Percorremos os 4.579 kms, de Chicago a Los Angeles, da rodovia mais famosa do mundo pilotando duas motos Harley Davidson durante 13 dias
ECONOMIA
Das passarelas do SPFW para as ruas P88
Aviões espiões: a nova ‘arma’ tecnológica P26
POLÍTICA
Os astros ditam o futuro dos candidatos P12
Pedofilia
Crime silencioso Lado mais perverso do abuso sexual de menores consegue calar denúncias e fazer com que vítimas se sintam culpadas DROGAS
PERFIL
Vale a pena legalizar o uso de maconha? P46
Sandy encara uma nova fase da carreira P116
TEATRO
Festivale completa 25 anos P90
ECONOMIA
Novos desafios para General Motors P22
Sandy Leah, de disco e visual novos
POLÍTICA Vereadores de São José trabalharam menos em 2010 P12
o9
Janeiro 2011 • Ano 1 • Número 10
Fevereiro 2011 • Ano 1 • Número 11
,80
R$ 7,80
R$ 7,80
Março 2011 • Ano 1 • Número 12 R$ 7,80
ISABELLE CARO Modelo francesa que expôs o corpo em campanha de combate à anorexia morreu aos 28 anos, após uma década e meia de luta contra a doença
DESAPARECIDOS A cada dois dias, três pessoas somem em São José, deixando famílias desesperadas por notícias
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Desastre anunciado Tragédia que matou cinco pessoas no Rio Comprido poderia ser evitada. Desde 2005, população nas áreas de risco aumentou seis vezes em São José
OBSESSÃO
Anoréxicas e bulímicas criam blogs que apoiam a ideia de emagrecer a qualquer custo, mesmo que isso leve à morte
De Felipe Cury, presidente da ACI de S. José
De Claudio Mendel, diretor cultural da Fundação Cultural Cassiano Ricardo
Nosso Vale tem um passado, um presente e um futuro brilhante e marcante. Ter uma revista que trata dos assuntos da nossa gente com tanta competência é motivo de orgulho. Parabéns à revista e a cada um que faz dela possível e votos de muito crescimento De Fabíola Molina, nadadora
A revista valeparaibano nasceu vitoriosa. Porém, ao comemorar seu primeiro ano de sucesso deve priorizar as matérias de interesse regional. De Carlos Marcondes, jornalista
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Vale, Brasil & o Mundo SAÚDE
Taubaté declara epidemia de dengue após confirmar mortes
LÍBIA
Gaddafi segue matando rebeldes Taubaté entrou em estado de epidemia de dengue, com centenas de casos confirmados e dois óbitos provocados pela doença. Além das notificações positivas, são esperados o resultado de outros 7o0 exames. No ano passado, a cidade registrou 3.933 casos de dengue. A primeira confirmação de vítima fatal da doença ocorreu no dia 14 de março, quando o Instituto Adolfo Lutz concluiu o resultado do exame laboratorial do sangue colhido de Thalissa Fernandes Braga, 17 anos, que morreu oito dias antes. No dia 22 também foi confirmado que Robson Batista de Oliveira Salles, 34 anos, morreu em decorrência da dengue no dia 4, após dar entrada em um hospital particular da cidade. Outra morte suspeita é investigada –a de Edvar Garcia dos Santos Reis, 68 anos, no Pronto Socorro Municipal. Ao constatar a epidemia, A Seecretaria de Sáude de Taubaté deixa de realizar o exame sorológico de verificação de dengue e todos os casos diagnosticados clinicamente já serão positivados imediatamente.
Frases ”“Manda o PT se f... Estou de saco cheio deles já”” De Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, deputado federal (PDT-SP). Ele se desentendeu com petistas durante a votação do novo salário mínimo
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Apesar da aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas pela adoção de medidas necessárias para impedir o massacre de civis por tropas de Muamar Gaddafi, o ditador líbio mantém ampla ofensiva contra os rebeldes. O Ministério das Relações Exteriores da Líbia chegou a anunciar o cessar-fogo, mas a interrupção das operações militares no país logo foram retomadas. A resolução da ONU (Organização das Nações Unidas) permitiu a criação de uma coalizão formada por EUA, França, Reino Unido, Itália, Canadá, Qatar, Noruega, Bélgica, Dinamarca, Romênia e Espanha. O grupo deu
início no dia 19 de março a uma intervenção militar na Líbia. Com a medida foi criada uma zona de exclusão aérea na Líbia e a tomada de quaisquer medidas necessárias para impedir o massacre de civis pelas tropas de Gaddafi, que está no poder há 41 anos e enfrenta um revolta há mais de um mês. A resolução também congelou os bens de mais sete pessoas e cinco companhias, que se juntam aos membros do regime do ditador e seus familiares, que já haviam sido punidos na resolução aprovada em fevereiro. Também reforçaram o embargo de armas. Desde o início dos conflitos, estima-se que mais de 2.000 pessoas foram mortas na Líbia.
”É como se você ocê tivesse que escalar um Everest”
”Sugeriria fazermos uma campanha tipo: DEVOLVE ESSA P... BETHANIA!!! ”
Da presidente Dilma a Roussef, falando à Ana Maria Braga sobre o desafio diário rio da Presidência
De Lobão, sobre a autorização dada pelo Ministério da Cultura à Maria Bethânia para captar R$1,3 milhão e construir um blog
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HOMICÍDIO
Justiça da França indicia Air France
SEGURANÇA
Estado fechará 96 delegacias em São Paulo O governo de São Paulo deu início a um pacote de mudanças na estrutura da segurança pública no Estado que deve afetar praticamente todas as 645 cidades paulistas e a forma de trabalhar das duas polícias estaduais. A “reengenharia” do governo prevê o fechamento de delegacias nas cidades com menos de 10 mil habitantes e a aglutinação de distritos nas cidades de maior porte, o que inclui a capital. Nas cidades pequenas, 43% dos municípios paulistas, a PM vai registrar boletins de casos de menor gravidade --que dispensam ação imediata dos investigadores. Policiais civis que ficarão nas grandes cidades serão acionados quando houver crimes mais graves, como homicídios e flagrantes. Com o fechamento de pelo menos 96 delegacias no interior, 279 cidades ficarão sem unidades da Polícia Civil. DROGAS
Cookie de maconha é febre em balada de Buenos Aires Brownies e cookies de maconha viraram febre em uma das baladas mais agitadas de Buenos Aires, na Argentina. As “galletitas mágicas” (biscoitinhos mágicos) são atração nas noites de segunda num centro cultural em Balvanera. Os quitutes de maconha, nos sabores coco, cho-
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Tiririca é um dos mais econômicos na Câmara O deputado federal Tiririca (PR-SP) tem sido um dos mais econômicos da Câmara e gastou apenas R$ 42,03 no mês passado com serviços postais. Em janeiro, o parlamentar pediu um reembolso de R$ 519 por duas passagens aéreas, sendo que uma delas custou R$ 80. O deputado Waldemar Costa Neto (PR-SP), que lançou Tiririca na política, só em janeiro, gastou R$ 17,6 mil com escritório, seguranças e telefonia.
colate, integral e aveia e mel, são vendidos na rua antes e depois das festas. Não há repressão. Na Argentina, é crime o porte e consumo de drogas, não importando a quantidade e a forma de uso. Dentro da balada, é proibido consumir bebida alcoólica, mas é possível experimentar maconha livremente: na forma de brownies, cookies ou cigarros. Os biscoitos custam, em média, 10 pesos (R$ 4).
A Justiça francesa indiciou a companhia aérea Air France por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) pelo acidente aéreo ocorrido em 31 de maio de 2009 no voo da Air France que faria o trajeto Rio de Janeiro-Paris. A Airbus também foi indiciada pelo mesmo crime. O ato de indiciar significa formalizar a acusação. PESQUISA
Brasileiro é contra a volta da CPMF A volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) para ajudar a financiar a saúde no país é desaprovada por 72% dos brasileiros, indica pesquisa divulgada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). Governadores já pediram a volta do tributo ou a criação de uma contribuição semelhante para financiar as despesas com saúde. A presidente Dilma Rousseff já acenou positivamente para esse debate. De acordo com 75% dos entrevistados, a CPMF é um imposto injusto porque afeta as pessoas independentemente da renda, e 63% dos entrevistados a creditam que a recriação da CPMF poderá provocar uma alta nos preços. A pesquisa foi realizada entre 4 e 7 de dezembro de 2010 com 2.002 pessoas em 140 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
3/6/2011 12:04:00
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UCRÂNIA Funcionário do governo soviético à época do acidente na usina de Chernobyl, há 25 anos
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Fotos: divulgação
RISCO LETAL
Ameaça nuclear Apesar dos esforços do governo japonês, mundo acompanha com preocupação a possibilidade de contaminação em larga escala com elementos radioativos que vazaram da usina de Fukushima
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Hernane Lélis São José dos Campos
vazamento de elementos radioativos da usina de Fukushima, no Japão, trouxe à tona, 25 anos após a catástrofe de Chernobyl, na Ucrânia, o medo de contaminação nuclear em massa. Apesar dos esforços do governo japonês para tranquilizar a situação, o mundo acompanha com preocupação a evolução de um cenário extremamente instável. Até o momento, 45 pessoas foram infectadas, no entanto, a Agência Internacional de Energia Atômica alerta que os números “estão suscetíveis a mudanças”. A falta de dados torna impossível mensurar o alcance geográfico das consequências do acidente. Nuvens de radiação foram expelidas pelos reatores danificados no complexo atômico japonês e se deslocaram em função da meteorologia e do vento. Césio, que leva 300 anos para se tornar insignificante para a saúde, plutônio, mais de 240 mil anos para perder o efeito nocivo, e o urânio, que precisa de 45 bilhões de anos, são algumas das substâncias que supostamente estariam presentes nestas névoas. Laércio Vinhas, diretor de radioproteção e segurança nuclear da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), explica que a radiação nessas massas pode descer com precipitações naturais, como chuva e neve, ou se condensar e cair, contaminando o solo e a água. Caso o solo absorva o material radioativo, dificilmente ele poderá ser reaproveitando, deixando a área inabitável assim como em Chernobyl. Já no mar a diluição é muito grande e o dano causado pode ser menor. “Tudo está prematuro ainda. Não existem muitas notícias dos níveis de radiação. O problema é a dificuldade em se colher informações diante da situação que se encontra o país. Pode acontecer ainda certa liberação de materiais radioativos, não em níveis equi-
O
valentes ao de Chernobyl, por exemplo, isso está fora da possibilidade, mas podem ocorrer mais emissões de materiais radioativos. A radiação sempre dá medo. É algo que não se vê, por isso, é um pânico compreensível da população”, disse o diretor. O drama no Japão começou às 14h46 (horário local; 2h46 em Brasília) com um terremoto de 8,9 graus de magnitude atingindo o arquipélago –o mais forte registrado naquele país e o sétimo do mundo. Após o sismo, um tsunami devastou o litoral nordeste japonês causando milhares de mortes e danificando o sistema de refrigeração da usina de Fukushima, levando a explosão de três reatores, construídos na década de 70, e a liberação de produtos radioativos. A tragédia já é considerada a mais custosa da história, com estimativas de danos que chegam a US$ 310 bilhões. Pesadelo Nuclear O risco de contaminação radioativa no Japão despertou a lembrança da maior catástrofe nuclear da história, que aconteceu na usina de Chernobyl, na Ucrânia, ocorrido em 26 de abril de 1986. A explosão de um dos reatores da unidade, liberando grande quantidade de elementos radioativos na atmosfera, afetou milhares de pessoas em vários países. Até hoje a quantidade de pessoas que morreram devido à contaminação ainda é incerta. Inicialmente, o acidente fez 32 vítimas fatais, mas outras milhares foram infectadas e desenvolveram doenças letais devido a exposição à radiação. Números oficiais do governo ucraniano apontam que 2,3 milhões de pessoas foram afetadas pelo colapso. Além disso, a tragédia deixou um legado de contaminação na região e um cenário fantasmagórico devido à evacuação da população local. “Muitas vezes parece que existe grande quantidade produtos, mas são elementos de meia vida, como a gente costuma chamar. Depois de algum tempo eles decaem
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Mundo Kyodo News
totalmente, já com outros elementos isso pode não ocorrer. Existe uma série de fatores que precisam ser levados em consideração, como o tipo de energia que os materiais emitem. É algo bastante complexo, não dá para avaliar a área que pode ficar contaminada, mas não acredito em uma nova Chernobyl”, explicou Laércio Vinhas sobre o risco de contaminação no Japão. A opinião do diretor da Comissão Nacional de Energia Nuclear é compartilhada por diversos outros cientistas e especialistas nucleares e, até mesmo, pelo próprio governo japonês. O problema é que o pânico da população, já traumatizada pelas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, afeta a credibilidade das informações passadas. Decasséguis estão voltando a seus países de origem, moradores do norte e nordeste do Japão ainda estão se deslocando para o sul do país por medo de contaminação. Tóquio, uma das cidades mais populosas do mundo, distante 250 quilômetros da usina de Fukushima, tenta voltar a normalidade depois de réplicas do terremoto e a evacuação de algumas pessoas por medo de serem infectadas por radiação. Pelas ruas da capital japonesa o conhecido vaivém da multidão já começa a ser observado, as prateleiras dos supermercados que estavam vazias estão novamente coloridas de produtos, os meios de transporte operam quase dentro da normalidade, assim como os estabelecimentos comerciais. O brasileiro Fernando Félix Dias, 39 anos, deixou São José dos Campos há quase quatro anos para seguir em missão evangélica pela Igreja Batista na cidade de Kakamigahara, distante 500 quilômetros de Tóquio e 750 quilômetros de Fukushima. Ele afirma que o clima na região em que mora é de apreensão devido ao risco eminente de contaminação nuclear. O sentimento é expressado entre os japoneses de maneira sutil, diferentemente do que acontece com os estrangeiros. “O pânico de contaminação é geral. Os japoneses, mesmo acostumados e treinados para lidar com catástrofes como terremotos e furacões, estão assustados com o que está acontecendo. Quando se trata de radiação, não existe distância, 700 quilômetros não é nada já que a nuvem pode se movimentar e causar danos. Os brasileiros estão optando por retornar ao Brasil, só que a dificuldade em conseguir passagem é muito grande. Minha previsão de retorno era junho, agora já não sei mais”, disse Dias.
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JAPÃO Explosão em usina japonesa logo após o terremoto e tsunami que destruíram o país
A especialista em radioproteção Sandra Bellintani, do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, explica que a exposição a níveis moderados de radiação pode resultar em náusea, vômito, diarreia, dor de cabeça e febre. Pessoas que ficaram expostas a altos níveis de radiação podem apresentar também danos fatais aos órgãos internos do corpo. O maior risco é o câncer, sendo as crianças mais vulneráveis. Além de infectar os seres humanos pelo ar, os elementos podem entrar no corpo levados por água, leite e alimentos. O consumo de verduras plantadas em solo irradiado apresenta riscos. “A probabilidade de a vítima desenvolver câncer aumenta conforme a exposição à radiação. Existe também a possibilidade de os danos serem transmitidos entre gerações, mas isso ainda não foi comprovado cientificamente”, disse a pesquisadora, que participou do atendi-
mento no acidente radiológico Césio 137 de Goiânia, em 1987. “A infecção acontece pela inalação das partículas radioativas ou por depósito na pele, que pode causar queimações dependendo do elemento. Em seguida acontece a contaminação no solo e na água. O feito produzido pela radiação pode apresentar um longo período de latência, da ordem de décadas até se manifestar. Como as crianças viverão mais tempo que os adultos terão mais chance para manifestar o câncer e fazer parte das estatísticas”, completa Sandra Desemprego Além do risco de infecção por radiação os brasileiros residentes no Japão enfrentam também problemas relacionados ao desemprego. Em decorrência da falta de energia elétrica, muitas indústrias, responsáveis por grande parte da empregabilidade dos imigrantes, tiveram que diminuir o volume
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de horas trabalhadas ou interromper totalmente a produção, afetando até mesmo outras empresas que não passam por racionamento de energia. Multinacionais como Panasonic, Epson, Sony e Toshiba suspenderam por tempo indeterminado a produção de suas unidades fabris –danificadas pelo terremoto ou pelo Tsunami. Realidade semelhante acontece na área de Telecom. As operadoras tentam manter os serviços em atividade, mas sofrem com a ruptura dos cabos submarinos e da destruição total ou parcial de suas infraestruturas de rede. “A indústria japonesa não tem a cultura de estoque, por isso cria-se um efeito cascata. Mesmo quem não sofre por problemas de abastecimento de energia precisa interromper a produção por falta de insumos. A maioria dos brasileiros trabalha no setor industrial, quem não está em casa agora trabalha em um ritmo menor. Se acontecer algum corte, os estrangeiros são os primeiros a perder o emprego por conta do patriotismo japonês”, disse Fernando Dias. •
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RISCO Chernobyl, que teve o pior acidente nuclear no mundo, continua isolada
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Ensaio fotográfico
Raquel Cunha Repórter Fotográfica
As cores do México A jornalista e fotógrafa joseense Raquel Cunha registrou a Fiesta de Chiapas de Corzo, uma homenagem a San Sebastián, que acontece todos os anos no México e foi convertida em patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco.
MÁSCARAS Para lembrar o rosto dos espanhóis, as máscaras fazem parte da indumentária masculina para festa
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Ensaio
LENDA Foi por causa de uma graรงa alcanรงada pela espanhola Maria Angulo que a festa passou a acontecer
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RELIGIÃO San Sebastián é a divindade católica homenageada na festa; fiéis carregam o andor pelas ruas de Chiapas de Corzo
HOMENS Maria alimentou a cidade quando uma praga acometeu a lavoura; os índios agradeceram com uma dança
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Ensaio
PERSONAGENS Elas s達o chamadas de Las Chiapanecas e dan巽am distribuindo doces e abrindo caminho na prociss達o; (abaixo) os homens s達o os Los Parachicos
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Coisa & Taltigo
Marco Antonio Vitti
Você sabe se sente amor ou apego? Qual a diferença? - parte 2
A
mor ou apego? Você ama ou é apegado? Confunde amar com ter, possuir, ser dono, querer ser a única pessoa a ser amada pela pessoa que você ama? Então você é apegado. No entanto, se você quer que a pessoa que você ama seja feliz, mesmo, que não seja você, que ela tenha sua individualidade, respeita suas atividades sem ficar como um detetive querendo saber o que ele [a] faz, querendo ser aquele mosquitinho no lugar onde ele [a] se encontra para saber de tudo o que ela [e] está fazendo ou pensando, então você não só é apegado, mas, ciumento e o que é pior, passa a fazer as piores coisas para provar à pessoa que você tanto ama. Das duas uma: ou você não acredita em sua capacidade de amar e ser amado [a], ou, está caluniando seu amado [a], como um safado [a] e um sem vergonha descarado [a]. Isto não quer dizer que você não possa cuidar de sua relação. O ciúme, por exemplo, é normal até certo ponto. Quando o ciúme começa a trazer sofrimento para o relacionamento, dúvidas e projeções paranóicas, não quer dizer que você o ama demais, mas que está literalmente louca [o] por ele [a]. No artigo anterior, citei um grande psiquiatra inglês, autor de vários livros, entre eles, “Apego, Separação, Depressão, etc.”, que define o apego como o período intra-uterino, e, logo após o nascimento, em que a criança recém-nascida e a mãe desenvolvem
AMOR X APEGO “Quando você é apegado, você mente com o medo de perder quem ama” laços afetivos simbióticos que perdurarão pela vida toda de modo positivo ou negativo. Melanie Klein em seu magnífico livro ‘Inveja e Gratidão’ diz: “Se o feto dentro de sua mãe não tiver a certeza de que vai ser amado ou não, prefere não nascer”. Isto é o que podemos observar nos animais em extinção, que não se reproduzem em cativeiro, pois no reino animal, nenhuma mãe geraria um filho para viver atrás de uma jaula. Isto é amor, e não apego. Quantos humanos adotam uma criança para viverem na mesma jaula que vivem, pois já estão solitários ou para dar energia para seu casamento. Não quero dizer que o que estou relatando baseado em experiência científica seja válido para todos os pais e filhos adotivos, mas, que ser pai e mãe de um filho biológico ou adotado é uma tarefa que exige muito amor, e não apego. Tenho um caso de muitos anos atrás, quando atendi o paciente F., 12. Ele contou-me entre lágrimas e raiva intensa que de repente não se saía bem na escola e tinha comportamentos antissociais a partir do dia em que em uma aula de Ciências, a professora estava dando uma aula sobre reprodução humana e
aparelho reprodutor. A professora explicando por onde nascemos, fez a cabeça do menino se revoltar. Ele não teve dúvida e no meio da aula levantouse e disse que ele não tinha nascido pelo mesmo lugar que todo mundo. A classe inteira riu e como sabem como são os adolescentes, o vaiaram e atiraram bolas de papel nele. Ele se virou para a classe e disse: “Eu não nasci do lugar de fazer xixi da mãe de vocês, eu nasci do coração de minha mãe!”. Imaginem o assédio moral ou bullying que esse garoto passou a sofrer. Chegando à sua casa descarregou toda sua ira em sua mãe e em nos objetos, quebrando tudo. Quando você é apegado, você mente com o medo de perder quem você ama, quando você ama você não precisa mentir, mesmo que seja para dar a desculpa que fez aquilo para ele não sofrer naquela época, mas, um dia seu filho seja biológico ou adotado, tem de sofrer. A grande diferença entre o apego e o amor, é o medo. Quem é apegado vive dia e noite com medo de perder a quem se ama. Já quem ama, não tem medo de nada. Como diz Chico Buarque, “a maior prova de amor é a mãe que arruma o quarto do filho que já morreu”. Quero aqui agradecer e homenagear a minha mãe que morreu dia 01/11/2009, em meus braços, de morte natural, depois de mais de 30 tentativas de suicídio, pois, sua mãe se matou quando ela tinha apenas sete anos. Um beijo mãe, ainda nos veremos. •
Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br
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Turismo MUNDO ÁRABE
Marrocos: cores, gostos e aromas Com cultura muito distinta dos padrões ocidentais, território árabe no norte da África desperta a atenção de turistas do mundo inteiro; mais que deserto, país também tem praias, montanhas e neve
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Marrey Júnior Marrocos
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Marrocos está a apenas 14 quilômetros do continente europeu. O Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo separam o norte do país do Sul da Espanha, no Estreito de Gibraltar. Apesar da curta distância, a diferença cultural entre esses dois lugares é bastante grande. É essa realidade um tanto estranha para os padrões ocidentais que atrai turistas do mundo inteiro para essa nação no norte da África. Uma das imagens quando se fala no país é a do deserto, mas o Marrocos é muito mais que isso. Com quase 711 mil quilômetros quadrados, também tem praias, montanhas e muita história. Os primeiros registros da presença humana no Marrocos são de pelo menos 200 mil anos. O território foi invadido por fenícios, romanos, árabes, portugueses, espanhóis e franceses, que deixaram suas influências. As ruínas de Volubilis, no leste, é a prova da presença romana no Marrocos. Alguns mosaicos daquela época estão perfeitamente preservados. A antiga cidade, declarada patrimônio histórico pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação) em 1997, teve pelo menos 20 mil habitantes durante seu tempo de glória e foi um dos celeiros agrícolas do império de Roma. As principais construções são dos séculos 2 e 3, entre elas, um arco
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Fotos: Marrey Júnior
do triunfo, fórum, basílica, banhos públicos e prensas para fazer azeite. Os árabes invadiram o Marrocos entre 662 e 682 e introduziram o islamismo e muitos de seus costumes. Estima-se que atualmente 99% da população é formada por muçulmanos. Em vez das imponentes igrejas católicas, é a arquitetura das mesquitas que impressiona no país. A religião é levada bastante a sério. Eles param para rezar cinco vezes ao dia. O muezim, chamada para a oração, ecoa dos alto-falantes de todas as mesquitas, das pequenas às grandes. Diferentemente de outros países islâmicos, há uma tolerância em relação às roupas femininas. As mulheres não são obrigadas a usar o véu e cobrir o rosto, muitas fazem para manter a tradição. É bastante comum encontrar homens andando de túnicas pelas ruas. Já os franceses colonizaram o Marrocos do início do século passado, em 1904, até a independência do país em 1956. O árabe é a língua oficial, mas fala-se também o francês por causa dessa relação de dependência. O clima no Marrocos é seco durante grande parte do ano. Mas engana-se quem pensa que seja quente todo o tempo. No verão os termômetros chegam a registrar 50 graus, mas durante o inverno as temperaturas despencam principalmente na região montanhosa, onde é possível até encontrar neve. Há até estações de esqui nos Atlas, como Michlifen ou Oukaimeden, destino de muitos europeus. A capacidade hoteleira do Marrocos está em expansão com o investimento das cadeias in-
ternacionais no país. É possível ter muito luxo gastando menos do que se imagina. Mas uma opção mais típica e não menos confortável é se hospedar nas riads, que são grandes casas construídas entre os séculos 18 e 19, onde a população mais rica do país morava. O requinte desses prédios chama a atenção. A combinação de diversas cores nas paredes impressiona. O aconchego também. Nos centros das riads ficam os jardins com vários tipos de plantas. Sempre se encontra pelo menos uma laranjeira e uma fonte para refrescar o ambiente. Essas casas foram engenhosamente pensadas para serem frias durante o verão e quentes durante o inverno. Não estranhe ver a foto do rei decorando o ambiente, tanto nos hotéis, nas casas e no comércio. O país vive sob regime monárquico parlamentarista e é governado por Mohammed 6º. A população tem reverência ao rei. São as cidades imperiais que atraem a maior quantidade de turistas. São elas, Rabat, que é a capital do reino do Marrocos, Casablanca, Fez, Meknes e Marrakesh, essa última é a que recebe a maior quantidade de turistas. Fez nasceu do desejo de Idriss 1º, primeiro imperador do país, que queria mudar o local da capital marroquina. O rei considerava Volubilis pequena demais para ser um centro de poder. Idriss 1º morreu antes do sonho dele ser realizado. Foi o filho dele, Idriss 2º, que concretizou essa vontade do antigo monarca. Em 809, a cidade foi fundada. Fez é conhecida como a cidade verde, a cor do islã, por
causa do tom de muitos telhados. Dizem os moradores, que em uma curta visita, o turista nunca vai sentir a alma do local, apelidado pelos franceses como lugar misterioso. As construções são de um tom de amarelado, meio desgastado. Todas quase da mesma cor. Elas se destacam com o azul do céu. A medina, centro antigo e amuralhado da cidade, ostenta suntuosos portais. O principal deles é Bab Boujeloud. Atravessá-lo é como uma volta à Idade Média. A hora parece passar em um ritmo mais tranquilo dentro do Fez el-Bali, o nome desse centro antigo. É preciso tempo. Dentro da medina estão mais de 10 mil vielas para serem exploradas. Um labirinto que reserva surpresas. É tudo muito espremido. Parece faltar espaço. Crianças brincando com bola, briga de vizinhos, burros levando carga, galinhas esperando pelo abate, cheiro de especiarias no ar e turistas olhando mapas desesperadamente para achar as atrações. Muitos comerciantes tentando vender de tudo. Difícil, em meio a tanta gente, é ver casais de muçulmanos. Homens e mulheres não aparecem juntos em público. Até hoje, Fez é considerada um dos principais centros culturais e espirituais do Marrocos. No coração da medina está a mesquita Karaouiyne, fundada em 859 por refugiados da Tunísia. Infelizmente, ela não é aberta aos não-muçulmanos. Nesse complexo religioso está uma das mais antigas universidades do mundo. Fez também é famosa pelo artesanato de qualidade, principalmente os produtos feitos em couro. Dentro da medina está um curtume que ainda processa as
AREIA E SOL Deserto do Saara: turistas pagam R$ 250 para conhecer a maior região árida do planeta
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Turismo
peles de animais de um jeito bastante primitivo. Dos terraços, é possível ver como ele é trabalhado. Serviço árduo feito pelos homens num local com um cheiro um tanto desagradável. O centro antigo tem sua parte nova, Fez el Jdid, que tem ao menos 700 anos. Ele fica no alto da colina e também é um importante polo comercial. O local serviu de refúgio para os judeus no século 14. O palácio real está nesse bairro. Infelizmente, ele não é aberto à visitação. Mas só de olhá-lo por fora já dá para ter ideia da suntuosidade. Na principal entrada, sete imensos portões, número igual aos que guardam o céu, de acordo com a cultura muçulmana. Eles são feitos de metal dourado, são trabalhados e emoldurados numa minuciosa parede feita de mosaicos. E deve ser difícil de abri-los. As maçanetas dos maiores ficam a mais de dois metros do chão. Cidade Laranja A cor alaranjada das paredes e muros reflete uma cidade vibrante e alegre. Marrakesh fica na região central do país e tem pouco mais de um milhão de habitantes. As montanhas do Atlas ao fundo lhe dão um charme ainda maior. O minarete da Mesquita Koutoubia visto de qualquer parte da cidade já chama a atenção do turista para o centro antigo. Esse templo muçulmano foi erguido no século 12 e serviu de inspiração para os espanhóis construírem a Giralda, em Sevilha. Próximo à mesquita está a praça Djemaa el Fna, que em árabe quer dizer algo parecido como assembleia dos mortos, por causa das execuções que eram feitas nesse local no século 13. Hoje a praça é uma antítese do nome que lhe foi batizada. Não é a beleza arquitetônica que deixa os turistas admirados, porque esse é só um grande espaço cimentado, sem árvores, grandes monumentos ou jardins bem cuidados. São as pessoas que a frequentam, que a torna bastante interessante. A Djemma el Fna é um caos, um grande circo a céu aberto, que pode ser vista de camarote do alto dos terraços dos bares e hotéis. Um picadeiro com várias atrações acontecendo ao mesmo tempo em ritmo frenético. Interessante mesmo é fazer parte de tudo isso. Se juntar à multidão. Caminhar entre os encantadores de serpentes, que chamam a atenção com as cobras que se levantam quando eles tocam flauta. Além disso, macacos pulam em cima dos mais desatentos, esse é o jeito dos adestradores ganharem algumas moedas em troca de fotografias. Também tem mulheres que fazem tatuagem de hena nas mãos, vendedores de água que
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TEMPLO Mesquita Karaouiyne: entrada de não-mulçumano é proibida; abaixo, vendedor de água com roupa típica
lembram integrantes de maracatus por causa do colorido da roupa e do chapéu, pseudo doutores que extraem dentes em praça pública, curandeiros que usam diversos remédios extraídos de plantas e animais para livrar os mais aflitos das dores físicas e sentimentais, malabaristas que se contorcem e cantores que aproveitam a multidão para mostrar seus talentos e vender os CDs prensados no fundo de casa. Não é só parar para ver. Essa é só uma amostra dos tipos que fazem da praça um grande palco. Mas prepare o bolso, é preciso deixar alguns trocados para as atrações desse espetáculo. Essa bagunça da praça mexe com todos os sentidos. O barulho das motocicletas que invadem a passagem de pedestres. O muezim nos alto-falantes, a multidão que se aglomera para assistir televisão em um imenso telão. As porções de caramujos servidas em barraquinhas que causam um pouco de nojo aos me-
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TRADIÇÃO Curtume ainda processa o couro de forma primitiva; dos terraços, é possível ver os trabalhadores no local
nos acostumados. A suavidade das tâmaras, damascos, figos secos que colorem as barracas e fazem encher a boca de água. O cheiro da Djemma el Fna é mais intenso durante a noite, quando as barracas de comida são montadas e a praça se torna literalmente de alimentação. As carnes ficam expostas sem qualquer refrigeração. O local não é dos mais atrativos, mas o aroma é um tanto convidativo. O medo de passar mal é superado pela curiosidade da experiência gastronômica. Nessas tendas, gente de todas as partes do mundo divide a mesma mesa para provar dos mais tradicionais pratos da culinária marroquina. Para começar, a harira, sopa bastante condimentada e um pouco apimentada feita com lentilhas, miúdos de frango, carne de carneiro, gengibre, açafrão, entre outros ingredientes. Como prato principal, o cuscus feito de farinha de semolina, ou tajine, cozido em uma panela especial de forma cônica, são os mais pedidos. Eles podem ser feitos com carne de frango, carneiro ou de boi e são cozidos com vários vegetais. O sabor é intenso e vale muito a pena matar a curiosidade. O jantar é barato. Com cerca de R$ 15 por pessoa é possível ter uma refeição completa. Mas antes da primeira garfada, por educação e respeito, espere o garçom dizer Bismillah, que significa em nome de Deus. Esse é o sinal que você pode começar a se deliciar. Depois de tanta comida, para a digestão, chá de menta. Essa é
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a bebida preferida dos marroquinos. Ele é consumido com bastante açúcar após as refeições e durante todo o dia. Esqueça a cervejinha no fim do dia ou do vinho para acompanhar a comida. Raramente se encontra bebida alcoólica a venda. Ela é proibida pelas leis do alcorão. Também não é preciso ligar tanto para as calorias a serem ganhas. O turista caminha bastante em Marrakesh. O destino: os souks, como são chamados os mercados. Carro nem pensar. As ruas são bastante estreitas. A sensação é de estar em um labirinto repleto de lojas. Tem de tudo: roupas, temperos, tapeçaria, joias, artigos de couro, peças de metal, de madeira, cerâmicas bastante coloridas. A tentação é tamanha, que não dá pra sair com as mãos vazias. Entre as peças mais típicas estão as babuchas, aqueles sapatinhos que se parecem ao do Aladim, e a mão de Fátima, uma espécie de amuleto, encontrado em todo país em forma de pingente, chaveiro, brinco ou pulseira. O preço dos artesanatos varia de acordo com a lábia do freguês. Barganhar é indispensável. É possível conseguir mais de 90% de desconto do primeiro preço dito pelo comerciante. Mas, às vezes, a sensação de excelente negócio se acaba quando se encontra o mesmo produto nas lojas vizinhas custando menos que o valor pago. Deserto Marrakesh é um excelente ponto de partida para quem deseja conhecer o deserto do Saara. Na
cidade são vendidos pacotes que levam para a maior região árida do planeta. O passeio de três dias até Merzouga, por exemplo, custa cerca de R$ 250. Opção mais barata é ficar só dois dias e chegar até a porta do deserto, em Zagura. O passeio sai por R$ 150. Essa é uma oportunidade de cruzar em direção ao Sul do país, ver novas paisagens e a interação do homem em uma região onde a água é escassa. No caminho, o maior obstáculo é atravessar o Atlas. A estrada é bastante sinuosa, mas tem vistas espetaculares. Andar de dromedário faz parte da excursão. Eles são mansos e vagarosos. Levam os turistas para tendas montadas no meio do deserto. Geralmente o passeio nesses animais é feito no fim da tarde e no início da manhã, período em que a temperatura é mais amena. O pôr-do-sol nas dunas torna a viagem ainda mais especial. É uma experiência diferente. Um dia inteiro de viagem e nada de banho no fim do dia. Apesar do isolamento, os berberes preparam um banquete aos turistas. Durante a noite a temperatura cai bastante. Para aquecer, fogueira, música e muita prosa. É nesse bate-papo que se conhece como é a vida dos nômades que habitam o Saara. Conversar com os nativos dá uma ideia do mosaico que é o povo marroquino, um povo que vive uma cultura milenar, que apesar da modernidade e da globalização, ainda não se rendeu completamente aos apelos do mundo ocidental. •
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DIVERSÃO 24H
Viva Las Vegas Cobiçada por turistas do mundo inteiro, “Cidade do Pecado” oferece opções de entretenimento dentro e fora dos imponentes cassinos da Strip Hernane Lélis Las Vegas (EUA)
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epositar suas fichas em um lugar conhecido como a “Cidade do Pecado” pode parecer coisa de viajante promíscuo. Mas se todo hedonismo, cercado de jogo, dinheiro, conforto, luxo e prazer, lhe parecer atraente aposte em Las Vegas como destino certo. No meio do deserto de Clark County, a Sin City faz jus ao título, ostentando muito mais do que mesas de carteado e máquinas de caça-níquel, proporcionando várias opções de entretenimento a seus visitantes. Logo na chegada é possível perceber que Vegas não é uma cidade como as outras. As salas de embarque e desembarque do McCarran International Airport, um dos mais movimentados dos Estados Unidos, são cercadas de imagens anunciando os inúmeros shows, eventos esportivos, apresentações teatrais, passeios e mostras culturais que acontecem durante o ano –tudo bem iluminado e envolvido, claro, por inúmeras máquinas de jogatina. Assim, tudo o que se quer ao desembarcar é pegar logo as malas e partir rumo à cidade –o que pode ocorrer a bordo de uma limusine, se for do gosto e do bolso do freguês. Já bem acomodado, o passeio pode começar dentro do seu próprio hotel. Por
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toda a Las Vegas Boulevard, mais conhecida como “The Strip”, estão localizados os mais modernos hotéis e cassinos do mundo, com casas noturnas, shoppings, restaurantes, spa, diversas festas temáticas e apresentações, incluindo as famosas Pool Party, sendo as mais tradicionais as realizadas no Mirage e no MGM Grand. Os seis quilômetros da Strip reservam ainda uma arquitetura única, permitindo aos turistas uma viagem de Nova Iorque a Paris, do Egito a Roma e Veneza, com paradas em brinquedos cheios de adrenalina. O New York New York, por exemplo, tem uma réplica não só da Estátua da Liberdade, como do skyline com arranha-céus da Big Apple e até uma montanha russa em suas instalações. A famosa casa noturna, Coyote Ugly, é uma das encarregadas de agitar a noite de quem passa por lá. O Paris exibe o Arco do Triunfo e sua Torre Eiffel, onde é possível subir para contemplar a vista da cidade e fazer uma refeição, enquanto o Luxor ostenta uma grande pirâmide egípcia e uma esfinge. No Caesars Palace, que dispõe de mais de 3.000 apartamentos, a influência vem da Roma antiga, com estátuas homenageando imperadores, fontes iguais as encontradas na capital italiana, muitas colunas de mármore e até um teatro imitando o Coliseu. O hotel foi cenário da comédia “Se beber, não case”, sucesso entre o público em 2010. No The Venetian tudo remete à Sereníssima, com direito a réplicas da Piazza San
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Fotos: Hernane Lélis
Marco, do Palazzo Ducale e do Campanário, além da Ponte Rialto. O Canal Grande também se faz presente, onde circulam gôndolas e gondoleiros que soltam a voz para embalar o passeio dos turistas, num tour que custa US$ 16, bem mais barato que na Veneza autêntica. Em alguns horários, é possível presenciar apresentações de óperas encenadas por artistas caracterizados à temática da canção. O Wynn e o Bellagio se destacam pela refinada decoração. Este último apresenta toda noite, a cada 15 minutos, o famoso show das águas –aquele que aparece no final do filme “Onze homens e um segredo”, estrelado por George Clooney e Brad Pitt, realizando diversas artimanhas para assaltar um cassino. Grifes renomadas como Channel, Prada e Dior estão presentes nos corredores dos hotéis. Famosos do mundo inteiro se encontram no Wynn para curtir a badalada XS Nigthclub. Cada um desses estabelecimentos oferece diferentes pacotes para seus hóspedes, que podem conseguir excelentes preços caso fiquem na cidade de segunda-feira a quinta-feira, período em que as diárias dos hotéis dificilmente passam de US$ 100. Com o Real valorizado frente a moeda norte-americana fica fácil esticar a estadia até domingo para desfrutar ao máximo das atrações disponíveis na cidade.
LAZER A Strip e suas atrações noturnas; abaixo, o jardim do Bellagio (à esq.) e o lago vulcânico do Mirage (à dir.)
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Shows Las Vegas oferece dezenas de shows musicais de alta qualidade. Celine Dion voltou esse ano a se apresentar na cidade depois de cinco anos afastada dos palcos. A temporada acontece no The Colosseum no Caesars Palace e vai até o dia 14 de agosto. Quem também se apresenta por lá é a cantora Cher. Os ilusionistas David Copperfield e Cris Angel estão confirmados no MGM e Luxor, respectivamente. O show Believe de Angel faz parte de um dos dez espetáculos fixos realizados pelo Cirque du Soleil em Vegas. A trupe conta ainda com o novo espetáculo Viva Elvis, uma homenagem abstrata à obra de Presley, valendo-se de músicas de seu repertório. Outro culto a ícones do rock apresentado pelo Soleil é o “Beatles Love”. Irresistível e lúdico, Love já foi visto por mais de 2 milhões de pessoas em Las Vegas num teatro construído especialmente para abrigar o show no Mirage. Da seleção de músicas ao conjunto de coreografias e figurino primoroso, o es-
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Turismo
petáculo flui leve e poético –como um disco da banda. O produtor do quarteto de Liverpool, Sir George Martin, e seu filho, Giles Martin, forneceram os arquivos completos das gravações dos Beatles para criar a parte musical com vistas a integrar a música a uma produção cênica. O cuidado rendeu à trilha sonora dois prêmios Grammy. Deserto de Mojave Las Vegas é cheia de atrações diferentes, algumas até sem nenhuma tecnologia, neon, caça-níqueis ou roletas. Longe de tudo isso, cerca de 40 minutos da Strip, está o Red Rock Canyon, uma das poucas atrações que não foi feita pelo homem e que poucos conhecem. É uma área de conservação nacional encravada no meio do deserto de Mojave com irregulares montanhas avermelhadas com riscos amarelos e roxos, indicando a presença de diferentes formações geológicas e minérios. É possível fazer um belo passeio de carro, bicicleta e, se tiver disposição, a pé pelas trilhas do parque, sendo que algumas delas levam a cumes de onde se avista toda a área urbana de Vegas. No local também existe um centro de informações turísticas com animais empalhados pelo parque, como tartarugas do deserto, diversos tipos de cobras e leões da montanha, além de guias com informações interessantes sobre o canyon. Outra opção é conhecer a barragem de Hoover Dam, uma das mais populares excursões partindo Las Vegas. Todos os dias cerca de 3.000 pessoas visitam a represa, que fica a 50 quilômetros do centro da cidade. Trata-se de uma maravilha da engenharia construída em 1932 com uma paisagem que impressiona qualquer um. Certamente você já deve ter visto a Hoover Dam no filme do Superman, naquela cena clássica em que ele salva um garotinho que cai de uma barragem. Toneladas de pedras tiveram que ser removidas dando lugar às toneladas de concreto necessárias para levantar o paredão que represa o Rio Colorado, responsável pela geração de energia elétrica para três estados americanos: Nevada, Arizona e Califórnia, garantindo todo o show de luzes da Las Vegas Boulevard e de seus imponentes cassinos. Las Vegas vive relativamente cheia ao longo do ano e, por estar localizada no deserto, tem um clima seco e predominan-
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DESERTO RED ROCK CANYON É OPÇÃO PARA CONHECER AS BELEZAS DO MOJAVE TRILHAS
LONGE DAS LUZES Área de preservação nacional de onde é possível ter uma vista exclusiva de Vegas
temente ensolarado. Em julho e agosto, meses de verão do Hemisfério Norte, a cidade está ainda mais quente, com os termômetros batendo os 40ºC. Carregue sempre uma garrafa de água, hidratante e protetor labial em seus passeios. Dica Quando o cansaço bater na Strip, utilize o transporte local. Há o monorail, tipo de trem que percorre a avenida e conta com estações junto do MGM, Bally’s, Flamingo, Las Vegas Convention Center e Las Vegas Hilton e Sahara. Para quem vai ao Outlet Center e ao Fremont Street a opção é usar os ônibus The Deuce. •
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Flávio Pereira
GASTRONOMIA
Abril da boa mesa 4º Festival Gastronômico de São José reúne 80 receitas, metade delas exclusivas, em bares e restaurantes até o final do mês
Adriano Pereira São José dos Campos
O
evento que já faz parte do calendário oficial do município chega à sua quarta edição. Sem o caráter competitivo do início, a disputa agora fica por conta de fisgar seus olhos e estômago para as 80 receitas oferecidas nos 40 estabelecimentos que fazem parte do Festival Gastronômico de São José dos Campos, que vai até o dia 30 deste mês. Pelo menos metade de todos os pratos foram criados exclusivamente para o festival, já que um dos requisitos para participar era criar uma receita exclusiva. O chef Marcelo Pietra, do restaurante Zond, no Hotel Mércure, por exemplo, abusou da criatividade. Um dos pratos criados por ele é o Sushi Mineiro. No lugar da alga, couve, entra no recheio o arroz de pequi, a linguiça, o ragu e a pimenta. No Gogó da Ema, a criação é o Badejo à Delícia. O peixe à dorê vem acompanhando de uma fatia fina de berinjela grelhada, guarnecido de molho de camarão. Para finalizar, é gratinado ao forno com catupiry. Para conhecer quais os estabelecimentos participantes do evento basta acessar o site http://www.festivalgastronomicosjc.com.br.
BARES
Entre as opções está a linguiça na cachaça do Quintal da Ema
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Paladar
Roberto Wagner
A que limite poderá chegar a qualidade do vinho brasileiro?
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ão há a menor dúvida, os vinhos brasileiros melhoraram muito nos últimos vinte anos. Esse avanço começou pela introdução do plantio de videiras alinhadas em espaldeiras, abandonando-se o velho sistema de latadas, aqueles caramanchões em que as uvas recebiam pouco sol e eram prejudicadas no amadurecimento. Tanto ou mais importante do que isso foi a decisão de buscar qualidade em vez de quantidade. Se o produtor quer fazer vinhos de expressão, precisa praticar a poda de raleio, eliminando boa parte dos brotos das uvas em formação, para que haja mais concentração de aromas e sabores nas frutas dos cachos preservados na videira. Significa permitir que cresçam não mais que 30 a 35 cachos em cada planta, limitando a produção a algo entre 40 e 60 hectolitros por hectare. É também por isso que os melhores vinhos têm que custar mais caro. Além disso, nos últimos dez anos passou a haver rigorosa escolha das mudas a serem plantadas, com a prática da seleção clonal. Permita-me dizer que tive participação nessa mudança, pois em 13 de setembro de 2000 pronunciei conferência em Bento Gonçalves para uma plateia de proprietários de vinícolas, enólogos profissionais e pesquisadores da Embrapa
CAMPANHA Os melhores tintos brasileiros são produzidos na divisa com o Uruguai
Uva e Vinho, sobre a necessidade de se adotar a seleção de clones para a produção de vinhos de alta qualidade. Eu trazia informações da Universidade da Califórnia em Davis, onde tinha estado em contato com um dos maiores especialistas no assunto, o professor James Wolpert. Outro fato importante foi reconhecer que a Serra Gaúcha é ótima para a produção de espumantes, mas nossos melhores tintos devem vir da Região da Campanha, na divisa com o Uruguai, onde há solo e microclimas mais adequados. É com uvas de lá que estão sendo produzidos os primeiros tintos brasileiros de categoria internacional, como o “Sesmarias” da Miolo, que se dá ao luxo de vender a maior parte da produção antes de chegar ao mercado, quando o vinho
ainda está repousando na vinícola. A evolução do nosso vinho se deve também à consultoria de enólogos como Michel Roland e Angel Mendoza, e a pesquisas de órgãos como a Embrapa e o Laboratório de Análises Sensoriais, em Bento Gonçalves, o Laboratório de Referência Enológica, em Caxias do Sul, além de congêneres sediados no Vale do São Francisco, em Santa Catarina e Minas Gerais. Talvez não consigamos chegar, quanto aos tintos, ao nível de nossos vizinhos Chile e Argentina, mas já somos melhores do que eles nos espumantes. Em Merlot e Cabernet Franc é possível que possamos alcançá-los e, quem sabe, superá-los. Mesmo porque, como disse Quincas Berro D’Água, o impossível não há. •
Roberto Wagner de Almeida jornalista
robertowagner@valeparaibano.com.br
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Hi-Tech
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0 CV • motor 2.0 de 12 ndos 0/100 em 10 segu
• máxima dde 195
km/h
LANÇAMENTO
Beleza e tecnologia no asfalto Novo Jetta, da Volkswagen, investe na reestilização do modelo que traz desde rádio com tela sensível ao toque até porta-luvas refrigerado com entrada para IPod
Hernane Lélis Mogi das Cruzes
Q
uando você pensa em sair de casa para comprar um carro, no caso um sedã médio, a opção que vem à cabeça é visitar uma concessionária da Toyota e outra da Honda, certo? Pois agora, inclua no seu itinerário uma revendedora da Volkswagen para conhecer o novo Jetta. O veículo promete acabar com a hegemonia japonesa em vendas conquistada pelo Corolla e Civic dentro do segmento no Brasil. Para isso, a montadora alemã investiu na reestilização do modelo e incrementou alta tecnologia embarcada de série. A versão de entrada do novo sedã da Volks,
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apresentada no final de março ao mercado, chamada Comfortline, pode estacionar na sua garagem por R$ 65.755. O veículo carrega sob o capô um motor 2.0 de quatro cilindros com 120 cavalos de potência. A montadora oferece de série direção hidráulica, ar-condicionado, trio elétrico, freios antitravamento com distribuição eletrônica da força de frenagem, quatro airbags, sensor de estacionamento traseiro e dianteiro –novidade na categoria–, computador de bordo, rádio bluetooch, entre outras comodidades. O câmbio manual é de cinco marchas e a suspensão traseira é semi-independente, com barra estabilizadora. O sedã ganhou nove centímetros no comprimento e 7,3 centímetros de entre-eixos. “Incluímos tecnologia, conforto e segurança sem prejudicar o desempenho. O carro vem equipado com um sistema inovador nos airbags. Sensores que utilizam a
propagação de ondas para acioná-los na parte frontal, evitando custos de reparos desnecessários”, explicou Henrique Sampaio, gerente de marketing da montadora. Avaliação Ao dirigir o sedã é possível comprovar as palavras do executivo. Mesmo com uma motorização menor que o antecessor, que era equipado com motor 2.5 de cinco cilindros, o veículo consegue responder de imediato a aceleração exigida pelo motorista sem comprometer sua estabilidade nas curvas. A Volks combinou tecnologia e segurança também nos faróis de neblina do carro, que se posicionam automaticamente de acordo com a manobra do motorista. No interior do veículo, o porta-luvas é refrigerado e possui entrada para Ipod. O rádio bluetooch é de fácil manuseio e, a partir de junho, poderá ser equipado com sistema
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CAPACIDADE O bagageiro do novo Jetta consegue carregar 510 litros, boa capacidade para um carro da categoria
luvas • Porta-
R$65 mil
PREÇO A versão mais básica do novo modelo da Volkswagen sai por R$ 65.755 com vários itens de série
do
refrigera
FICHA TÉCNICA Novo Jetta MOTOR 120 cavalos de potência DESEMPENHO: De 0 a 100 km/h em 10 seg Velocidade Máxima: 195 Km/h
de navegação por satélite. A opção Comfortline com câmbio automático parte de R$ 70.005. Ele acelera aos 100 km/h em 11 segundos, atinge a velocidade máxima de 198 km/h com etanol e possui os mesmos itens de série que sua versão manual. Se você é o tipo de motorista que prefere usar apenas acelerador e freio, vale a pena investir pouco mais de R$ 4.000 para tal conforto. •
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ITENS DE SÉRIE Direção hidráulica, ar-condicionado, trio elétrico, freios antitravamento com distribuição eletrônica da força de frenagem, quatro airbags, sensor de estacionamento traseiro e dianteiro –novidade na categoria–, computador de bordo e rádio bluetooch (tela sensível ao toque)
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Moda&estilo SHOW BUSINESS
Música fashion Nas últimas duas décadas, a moda passou a ser uma ferramenta de marketing obrigatória para a composição de novos músicos, cenário diferente da influência natural vivida entre os anos 60 e 80
Cristina Bedendo São José dos Campos
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Lady Gaga
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uma era em que a moda passa a chamar mais atenção principalmente da grande massa, entram em cena os músicos e bandas que usam de artifícios visuais para atingir determinado público. Afinal, quem já não se surpreendeu com os looks de Lady Gaga, milimetricamente pensados, e identificou outros muitos adolescentes nos shoppings com os meninos do grupo Restart? Ao contrário do que acontecia nos anos 60 e 80, quando o visual de grupos musicais influenciava a moda de tribos, quase que naturalmente, nos últimos anos, a estética do artista passou a ser muito mais pensada como uma ferramenta de marketing –com a exceção de muitos artistas, como a cantora Amy Winehouse, que tem um estilo super autêntico e nada produzido. Para o professor de História da Moda, João Braga, os dois caminhos são verdadeiros e se dialogam. Há a vontade coletiva, que vai de um grupo de rua para a moda e leva toda uma bagagem ideológica associada ao comportamento. É o caso do Punk, movimento iniciado no final da década de 70 entre jovens londri-
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Madonna Amy Wineho
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nos que eram contra os valores da sociedade burguesa e tradicional da época. Contrários também ao espírito “faça você mesmo” dos hippies, eles se vestiam com cores escuras, jaquetas de couro ornamentadas com tachas, coturnos e calças jeans rasgadas. A estilista Vivienne Westwood foi considerada a rainha do punk e seu companheiro na época, Malcolm McLaren, foi o empresário da banda Sex Pistols, ícone desse período. E era justamente a união de moda e música, com uma forte dose de ideologia: Vivienne e McLaren eram donos da boutique SEX, onde abasteciam os membros do novo movimento social com camisetas e outros produtos voltados para essa tribo. E hoje, segundo João Braga, há também um caminho mais efêmero. “De olho na importância da moda, os artistas usam o visual como artifício para se tornar referência no meio artístico”, afirma. Seria o caso de Lady Gaga, por exemplo? “Elke Maravilha já tinha o mesmo estilo de Lady Gaga, só não tinha o palco que ela tem hoje para cantar. E a sociedade contemporânea pede isso”, responde o professor. Segundo a produtora musical e blogueira de moda, Julia Petit, há cerca de 15 anos o
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Vivienne Westwoo
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Moda Fotos: divulgação
De olho na importância da moda, artistas do mundo da música usam visual como artifício para se tornar uma referência no meio artístico
show business americano descobriu a moda como uma ferramenta de marketing. “Não sei de onde, mas de repente descobriram”, completa. E isso vale principalmente para o artista pop, ligado ao consumo de massa. É para esse tipo de músico ou banda que o estilo é tão importante. “Um look incrível chama muito a atenção, mas não podemos tirar o valor artístico. Tudo depende da vendagem: quanto maior as vendas, mais querem atingir a massa e mais se investe na moda”, explica a produtora. Para Julia, quem começou com essa estrutura foi a cantora Madonna, nos anos 80. “O maior escritório de tendências do mundo trabalhava para ela. E hoje isso é obrigatório para o marketing de um artista”, conta. Considerada camaleônica quando o assunto é estilo, Madonna sempre usou artifícios visuais e corporais –do corset criado por Jean Paul Gaultier ao look ‘Like a Virgin’, com rendas, laços e crucifixo– e serviu de inspiração para muitos estilistas nos anos 80 e 90. Já a personal stylist Manu Carvalho, que atuou durante 10 anos na gravadora Trama, garante que o namoro entre moda e música é antigo, mas no Brasil está mais forte atualmente. “Tipo o Restart. Há 20 anos não existia o nosso contexto de moda, apenas o internacional. Agora, com o nosso contexto, a relação fica muito mais emblemática, mais visível”, afirma. Segundo ela, o artista precisa dessa segunda pele para se expressar. “E sempre existiu uma fonte para eles se inspirarem”, confirma. Ou seja, a roupa é uma embalagem e, para ela, o verdadeiro artista cria sua identidade. “Quem já tem a moda pronta já tem tudo pronto: tem a música, o marketing, tudo. Quando ele é artista não existe repaginação, ele tem seu universo, suas referências e o personal stylist não manda nele”, explica Manu, que foi a primeira profissional a trabalhar com o visual de cantoras como Wanessa Camargo e Ivete Sangalo. “O artista é o começo de tudo, ele abre e fecha o ciclo. O stylist só mostra o caminho, sem se colocar entre o artista e a moda”, acredita a personal stylist, que hoje cuida do figurino de Lilian Pacce no programa GNT Fashion. •
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SEX PISTOLS Jhonny Rotten: grupos musicais influenciaram a moda naturalmente nos anos 60
RESTART A banda de adolescentes que lançou um estilo com calças e camisetas coloridas
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MODA
Design e preço acessível
ALFAIATARIA Blazer dourado Stella McCartney para C&A R$ 299
Parcerias de lojas de fast fashion com grandes estilistas garantem peças as com ótimos acabamentos e etiquetass grifadas para um público mais amplo o
TOP Casaqueto de paetês bordado à mão Stella McCartney para C&A R$ 499
Cristina Bedendo São José dos Campos
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ara quem pretende começar o inverno sem prejudicar o orçamento, vem notícia boa por aí. Depois do sucesso da coleção assinada por Oskar Metsavaht, da Osklen, no ano passado, a Riachuelo lançou neste mês sua mais nova parceria, desta vez com a estilista Cris Barros. Com o desafio de criar moda com design e preço acessível, a estilista imprimiu seu DNA em roupas voltadas para um público mais amplo, com preços que variam entre R$ 39,90 e R$ 279,90. São 100 peças, nas quais a principal característica é a mistura de materiais, como renda e couro fake, chamois, plush, malharia, sarja e moletom em versões lavadas e desgastadas. Nas modelagens, os comprimentos dos shorts e saias são mais curtos, as calças ganham versões cropped (mais curtas), os tops são soltos com decote V ou canoa e os vestidos são bem românticos, com babados e rendas, em contraponto às jaquetas no estilo militar. A cartela de cores conta com tons mais escuros, como preto, cinza, chumbo, verde oliva, marrom e camelo –um dos hits do inverno–, além de estampas animais, listras e algumas peças em paetê. Para completar esse clima descontraído e urbano, quem estrela a campanha da coleção é Julia Restoin-Roitfeld, filha da ex-editora da Vogue francesa, Carine Roitfeld. A atitude da moça confirma a identidade jovem e contemporânea da linha, que promete ser um sucesso.
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E o melhor: as peças serão vendidas em todas as lojas da rede e conta também com uma linha Kids, composta por 35 modelos da coleção adulta em miniatura para as pequenas fashionistas de 4 a 10 anos, além de uma linha de Cama, Mesa e Banho. E as parcerias da Riachuelo não devem parar: a próxima linha com etiquetas poderosas será voltada para o público masculino, assinadas por Pedro Lourenço, nome jovem da moda brasileira que vem se destacando na Europa. Outro ponto alto do inverno 2011 das lojas de fast fashion é a coleção da estilista Stella McCartney para a C&A, que já desembarcou nas araras de apenas 38 lojas e no site da rede –as lojas da região não estão incluídas. No total, são 27 itens que carregam o estilo minimalista da estilista, adotado por celebridades ao redor do mundo. Neste caso, os preços são um pouco mais altos: há peças de R$ 69,90 a R$ 499 –um casaqueto de paetês bordado à mão, passando por um trench coat por R$ 349 e um vestido estampado por R$ 189. Conhecida por sua alfaiataria impecável, as peças foram desenvolvidas a partir de modelos clássicos da estilista inglesa, que fez questão de adaptar todas as modelagens para o biotipo da mulher brasileira. E ela mantém a sua preocupação com o meio ambiente: os tecidos são 100% naturais e os cabides foram produzidos com material reciclado. •
HIT Vestido estampado Stella McCartney para C&A R$ 189
LÃ Trench coat Stella McCartney para C&A R$ 349
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Tempos ModernosArtigo
Alice Lobo
Como ganhar sabedoria alimentar de forma simples e divertida
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egras e proibições a determinadas atitudes causam normalmente um resultado oposto. Ainda mais quando o assunto é comida. Não há nada mais irritante que alguém controlando o que você pode e deve comer, seja para lutar contra a balança ou para se alimentar melhor. A boa novidade é que as regras de alimentação chegaram ao Brasil em um tom divertido e que causam vontade de aderir à maioria delas. É isso mesmo. O jornalista e escritor norteamericano Michael Pollan lançou no ano passado seu sexto livro batizado de “Food Rules” e traduzido para o português como “Regras da Comida – Um Manual para a Sabedoria Alimentar”(Editora Intrínseca). Nele, 64 regras respondem a três perguntas básicas: “O que eu devo comer?”, “Que tipo de comida eu devo comer?” e “Como eu devo comer?”. As dicas vêm em capítulos curtos que muitas vezes são compostos apenas pelo título de tão auto-explicativas que são. A resposta à primeira pergunta é simples: coma comida. Em seguida, algumas restrições dão o tom do livro e fazem com que seja um manual seguido por muitos. “Não coma nada que sua bisavó não reconheceria como comida”, “evite comida que tenha mais de cinco ingredientes”, “evite produtos que tenha ingredientes que uma criança da terceira série não consegue pronunciar”, “coma
PERNA Prefira alimentos que fiquem sobre uma única ‘perna’, como os vegetais
somente alimentos que apodrecem” e “não é comida se tem o mesmo nome em todas as línguas (pense Big Mac, Cheetos e Pringles)”. No segundo capítulo o tema é o tipo de alimento que devemos comer. “Comer o que fica sobre uma perna (cogumelos e vegetais) é melhor do que o que fica sobre duas pernas (aves) que é melhor do que comer o que fica sobre quatro patas (vacas, porcos e outros mamíferos)” é uma dica e tanto. Bem como: “não coma no café da manhã cereais que mudem a cor do leite” ou ainda “coma o tanto
de porcaria que você quiser desde que você a tenha preparado”. No último capítulo, a resposta à pergunta como devo comer é uma só: não muito. Quer saber como? “Pague mais, coma menos”, “pare de comer antes de ficar satisfeito”, “coma quando você está com fome e não quando está entediado”, “gaste o mesmo tempo aproveitando a refeição que levou para fazê-la” e “compre pratos e copos menores”. Mas a melhor dica do livro e lição para sempre lembrar é “de vez em quando, quebre as regras.” •
Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br
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Megan Fox está “lutando” para ganhar peso, diz treinadora
Notas & fatos
A atriz norte-americana Megan Fox, 24 anos, está “lutando” para conseguir ganhar peso. A informação foi dada pela personal trainer dela em entrevista ao site Hollywood Life. Harley Pasternak garantiu que a estrela de “Transformers” come de tudo. “Ela come o suficiente das coisas certas. As pessoas pensam que ela é anoréxica, mas ela está longe disso. Às vezes, ela fica frustrada porque gostaria da ganhar peso”, diz a treinadora. “Eu me preocupo com a Megan ficar magra demais”, explica. “Ela tem um metabolismo muito acelerado.”
Emma Watson se dedica só ao cinema A atriz Emma Watson, uma das protagonistas da saga de “Harry Potter” e garota-propaganda da empresa britânica Burberry, decidiu dar um intervalo em seus estudos para se concentrar na carreira profissional. Emma, que interpretou Hermione Granger, a melhor amiga de Harry Potter, decidiu abandonar Londres em 2009 para estudar literatura na universidade de Brown, nos Estados Unidos. No entanto, e segundo expressou a jovem em comunicado
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publicado em seu site, combinar sua carreira e as aulas está “um pouco impossível” apesar de estudar “as coisas que mais gosto”. “Decidi dar um descanso para terminar meu trabalho em Harry Potter e estabilizar-me em meus outros projetos”, explicou a artista, que vai dedicar seu tempo à promoção da oitavo e último filme da saga, “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2”, cuja estreia mundial está marcada para 15 de julho. Ela já está em outros dois projetos de cinema.
MÚSICA
Simon Cowell X Elton John Elton John estava com a língua solta e recentemente criticou os programas de TV como X Factor e American Idol por só descobrirem “bobagens absolutas” para a indústria da música. Simon Cowell, jurado de ambos os programas, não deixou por menos e o rebateu. “Bem, veja. Ele é alguém que cobra o que -um milhão de dólares por show? Eu não sei se ele está preocupado com ele mesmo- talvez esteja. E eu sempre tento dizer a eles. ‘Digo, você acabou de fazer um milhão de dólares no seu último show privado. Vá e dê o dinheiro a um grupo de jovens músicos que você se interessa, coloque-os no estúdio. Vá e alimente-os. Vá e passe algum tempo cuidando deles. Então eu vou comprar o seu argumento’”.
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EM ALERTA
Luana Piovani contrata segurança
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Elizabeth Ta LUTO
O mundo perde uma das maiores divas do cinema A beleza fora do normal, que na tela resultava numa imagem ideal, cumpria umas das características do cinema clássico de astros e estrelas. No mês passado, o mundo disse adeus à Elizabeth Taylor, vítima de uma insuficiência cardíaca aos 79 anos. O assessor dela declarou que a estrela morreu “cercada por seus filhos: Michael Wilding, Christopher Wilding, Liza Todd e Maria Burton”. Taylor tinha ainda dez netos e quatro bisnetos. Ela foi casada oito vezes, duas com o também ator Richard Burton.
Quem falou o quê? ”Sinceramente... Obrigado comunidade do Twitter pela recepção calorosa e por todos os seguidores que me ajudaram a ter US$ 1 milhão em 24 horas” Do ator Charlie Sheen que admitiu entrar na rede social para conseguir dinheiro
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Ator Robert Pattinson está com medo dos fãs Robert Pattinson, o astro da saga “Crepúsculo”, se recusa a comprar uma casa. A justificativa do galã é o medo que tem das fãs invadirem sua residência pela porta dos fundos, publicou o The Sun. Para não ser encontrado, Pattinson prefere ficar em diferentes hotéis. “Eu tenho medo de comprar uma casa ou algo do tipo. A melhor forma de lidar com isso é se mudar constantemente”, disse em entrevista à publicação.
A atriz Luana Piovani está preocupada com sua segurança e não sai mais de casa desacompanhada. Ela contratou os serviços de segurança particular para circular pelas ruas do Leblon, bairro onde vive. Sua guardacostas é uma mulher sarada, com cara de poucos amigos, alerta e sempre por perto. RESTART
Músico fala bobagem ao vivo
”Desta vez, não ão vou ficar sem camisa” Marcos Pasquim, ator, ao falar sobre seu personagem m na novela “Morde & Assopra”, ra”, da Rede Globo
”Nunca digo nunca, só não bateu vontade ainda” Da atriz Fernanda Souza, que não descarta a possibilidade de um dia posar nua
Durante uma entrevista, Thomas, baterista do Restart, foi perguntado sobre quais lugares ele ainda gostaria de tocar: “Queria tocar no Amazonas. Imagina, tocar no meio do mato, não sei nem como é o público de lá. Não sei nem se tem gente civilizada, civilização.” Depois da repercussão negativa no Twitter (até entre os fãs da banda), o baterista se defendeu: “Quando se fala em Manaus, imagino natureza total! Não desvalorizei ninguém!”
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ValeViver LITERATURA
Vitrine cultural Bienal do Livro de São José abre novo capítulo no “Circuito Literário Paulista” com a participação de renomados escritores; feira começa no dia 8 Hernane Lélis São José dos Campos
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arçal Aquino não liga para internet e muito menos para as redes sociais. Aos 53 anos, o jornalista, escritor e roteirista prefere o contato com as pessoas nas ruas, onde encontra inspiração para suas tramas. “É um depósito de histórias e possibilidades”, classifica. Desse armazém de ideias, surgiram clássicos da literatura, como o livro de contos “O amor e outros objetos pontiagudos” –vencedor do prêmio Jabuti– e as adaptações cinematográficas de “O Cheiro do Ralo” e “O Invasor”. Acostumado a receber aplausos efusivos da plateia dentro do circuito literário, ele é um dos 21 autores confirmados para a 2ª Bienal do Livro de São José dos Campos, que acontece entre os dias 8 e 17 de abril no Pavilhão Gaivotas, no Parque da Cidade, reunindo escritores consagrados para lançamentos, exposições, tarde de autógrafos e um batepapo com o público. Nessas ocasiões, Aquino costuma deixar o lado solitário do escritor nas páginas de um livro e aproveita a oportu-
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nidade para conquistar novos leitores. “Todo evento que, de alguma maneira, propicie a aproximação entre livros e leitores é de suma importância, em especial num país que lê tão pouco como o Brasil. As histórias e personagens estão por aí, e são maravilhosos pontos de partida para a ficção. Então, no contato com leitores, sempre surgem boas histórias”, disse o escritor. Se você não conhece Marçal Aquino, provavelmente já deve ter ouvido falar sobre uma das maiores séries de sucesso na literatura infantil, a Coleção Vaga-Lume. Pois o escritor é responsável por quatro títulos da obra, entre eles, “A Turma da Rua Quinze” e “O jogo do camaleão”. Os livros ajudaram a formar grande parte do público leitor adulto hoje, e ainda fazem parte do material de leitura de grande parte das escolas no Brasil. “Muitas vezes, tenho o testemunho de gente que está me lendo hoje e que conta acompanhar minha carreira desde os tempos da escola, quando conheceu meu trabalho na coleção “Vaga-Lume”. É maravilhoso ouvir um testemunho de fidelidade e apreço dessa natureza, explicou Aquino, que espera contar com a companhia de um grande amigo em sua participação na bienal de São José. “Há a possibilidade de o Paulo Miklos parti-
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CONVIDADO O jornalista Paulo Markun
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Renato Parada/Divulgação
cipar, mas isso ainda depende de um acerto na agenda dele. Se estiver, certamente nosso diálogo vai focar, sobretudo o processo de criação do livro e do filme O invasor, que foi lançado em nova edição em março pelo selo “Má Companhia”, da Companhia das Letras. Caso o Paulo não possa ir, falarei sobre literatura em geral e é possível que eu faça uma leitura”, explicou.
ROTEIRISTA
Marçal Aquino, autor de “O Cheiro do Ralo” e “O Invasor”, tem presença confirmada na Bienal de São José gação
Divulgação
REVELAÇÃO Rita Elisa Seda, autora da biografia Cora Coralina
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EX-CASSETA Beto Silva, um dos integrantes do extinto Casseta & Planeta, também estará na bienal
Ócio Literário Hoje, de acordo com a CBL (Câmara Brasileira do Livro) são realizadas oficialmente cerca de 20 bienais em todo o território brasileiro. Em São José, a primeira edição aconteceu em 2002, ano em que foi criada a lei que instituía o evento na cidade. À ocasião, mais de 120 mil pessoas de todo o Vale do Paraíba e região marcaram presença, movimentando aproximadamente R$ 1 milhão em vendas de livros. Ainda sim, devido a um impasse administrativo, nunca mais a bienal foi realizada na cidade. “Quando aconteceu houve alguns apontamentos do Tribunal de Contas em relação a uma correta ação que foi feita, que é comprar livros aos alunos, professores e escolas. A maneira que isso foi feito não estava bem definida. Agora alteramos a legislação e acredito que não teremos mais problemas, vai passar a ser bienal mesmo, sempre nos anos impares”, explicou Alberto Marques, secretário de Educação de São José. Essa também é a esperança da escritora mineira Rita Elisa Seda, 50 anos. A autora da biografia ‘Cora Coralina – Raízes de Aninha’, mora há 30 anos em São José, mas considerase mais conhecida em outras regiões do país devido a falta de oportunidades que encontra em divulgar seu trabalho no maior município do Vale do Paraíba. Ela conta que no começo da carreira teve que bater de porta em porta para conseguir sua primeira editora. Agora, o desafio é encontrar espaço para apresentar seu mais recente trabalho, a biografia de Eugênia Sereno, lançada oficialmente em dezembro do ano passado em pareceria com a escritora Sônia Gabriel. O livro narra a vida da escritora nascida em São Bento do Sapucaí, vencedora do Prêmio Jabuti em 1966 na categoria revelação, porém, ainda que soe irônico, ela ainda é pouco conhecida na região. Foram necessários quatro anos de estudos para que a dupla pudesse desvendar todos os mistérios de Eugênia. “Não temos lugar para colocar nossos livros. Vamos às livrarias, mas ninguém abre um espaço. Deveria existir uma lei municipal para que esses locais tivessem um espaço apenas para escritores da cidade. Costumo
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participar de eventos literários, bienais, em Poços de Calda, São Paulo, Ribeirão Preto e diversas outras cidades. Mas em São José as oportunidades são poucas. O cenário está começando a melhorar agora, a região tem muita gente de talento”, disse Elisa. O público que for à bienal conferir as obras da escritora também vai conhecer um pouco sobre o universo dos livros biográfico e de ficção. O tema será tratado por Elisa através de uma linguagem simples, levando ao expectador os métodos usados de como se iniciam essas obras. “No caso da biografia é preciso fazer uma longa pesquisa em acervos, conhecer o personagem por meio de entrevistas, fazer uma triagem da documentação com fotos. Já a ficção envolve mais o processo criativo e organização das ideias”, explicou. Primeiras Linhas A nova bienal pretende revitalizar o cenário literário paulista e seu público. A expectativa é atrair ao menos 100 mil visitantes, sendo que metade seria de estudantes da rede municipal de ensino. Desses, 38 mil alunos do ensino fundamental vão receber um cheque-livro no valor de R$ 15 para usar no evento. Os 2.500 professores do ciclo e as 43 salas de leitura do sistema educacional receberão um vale compra no valor de R$ 50 e R$ 1.000, respectivamente. Totalizando uma movimentação de pelo menos R$ 738 mil na venda de livros no evento. De acordo com o secretário de Educação de São José, Alberto Marques, a presença dos estudantes significa uma experiência de aprendizado lúdico, diferente da rotina das aulas. A ideia é despertar o interesse pela leitura e incentivá-los a levar esse hábito para dentro de casa. Além disso, perpetuar o gosto pela leitura, uma vez que muitas crianças que liam com certa frequência, quando chegam a fase adulta não mantêm o mesmo ritmo. “A formação do cidadão leitor tem que começar de pequeno, com a ajuda da escola e deve continuar depois que as pessoas terminam a faculdade, entram na fase adulta. É importante para o desempenho pessoal a leitura, não dá para admitir um país que quer se tornar de primeiro mundo sem que as pessoas tenham o hábito de leitura de um país de primeiro mundo. Aqui em São José, todas as escolas municipais possuem sala de leitura, os alunos lêem um livro por semana”, disse o secretário. Para o joseense Leandro Reis, 30 anos, os poucos livros que leu na infância e o gosto por histórias e personagens mitológicos lhe renderam inspiração para escrever a trilo-
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HOMENAGEM
O escritor joseense Leandro Reis, 30 anos, autor da triologia ‘Legado de Goldshine’
”Todas as palestras que participo com crianças eu falo: Leiam vocês, pois me arrependo de não ter começado a ler antes, quando bem mais novo” De Leandro Reis, 30 anos, escritor nascido em São José
gia ‘Legado de Goldshine’, composta pelos títulos ‘Filhos de Galagah’, ‘O Senhor das Sombras’ e ‘Enelock’ –este último com previsão de lançamento na Bienal de São José. A série é um sucesso entre os amantes da chamada Literatura Fantástica, com o primeiro livro já na sua segunda edição. Participar de um evento literário em São José tem um sentimento de descoberta para Reis, uma vez que, assim como a escritora Rita Elisa Seda, considera-se mais conhecido nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro devido ao maior espaço dedicado à divulgação da literatura. Até então, as únicas oportunidades que teve de conhecer uma bienal foram em momentos distintos. Em 2008, como mais um entre os 728 mil visitantes da feira em São Paulo, e no ano passado já para expor seus primeiros trabalhos. Quem for conferir as obras do autor na Bienal de São José terá a chance de acompanhar ainda duas palestras realizadas por ele. A
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primeira será sobre literatura e RPG, abordando como um elemento pode influenciar o outro na hora de escrever uma história. A segunda temática será sobre o mundo criado em seus livros, conhecido Grilmelken, por onde se passa toda a aventura. Reis também não deixará de falar sobre a importância da leitura entre as crianças e adolescentes. “Todas as palestras que participo com crianças eu falo: ‘Leiam vocês, pois me arrependo de não ter começado a ler antes’. Eu lia muito a Coleção Vagalume, adorava esses livros, e os livros indicados pela escola. Hoje, depois que fui tendo mais contato com a literatura, vejo que lia muito pouco. Agora, tento recuperar o tempo perdido, o problema é que todo ano saem centenas de bons títulos e não dá para acompanhar tudo”, explicou. Literatura e Cinema Representando o cinema e a literatura, o jornalista e escritor Guilherme Fiuza, autor de ‘Meu nome não é Johnny’ –livro adaptado para o cinema que conta a história de João Guilherme Estrella, maior traficante de drogas do Rio de Janeiro nos anos 90, também estará na bienal, ao lado do próprio João Estrella. Fiuza pretende deixar o público dar o encaminhamento sobre sua participação na feira, respondendo perguntas em torno de suas criações e projetos. “As pautas dos eventos não são muito específicas, mas em alguns casos o curador indica um foco preferido. Teve uma vez que falei sobre humor judaico, outra sobre drogas nas ruas, política, varia muito. Os curadores querem que os autores contem suas histórias, os bastidores das suas produções e acaba que as apresentações são livres. Procuro sentir o perfil do público e o interesse das pessoas”, disse Fiuza. O escritor acredita que a bienal servirá para “oxigenar” a criação cultural e artística em São José. “Acho que esses momentos são justamente para o autor sair da sua solidão e do público sair da sua distância em relação à obra, é o encontro necessário entre duas pontas que normalmente ficam distantes. Acho que um evento como esse resulta em uma imensa troca de conhecimento entre escritor e leitor, abrindo precedentes para novas atividades ligadas ao tema”. Depois de ter parte da sua vida retratada também no cinema, João Guilherme Estrella se dedica agora à música e literatura. Ele pretende lançar ainda este ano um novo CD e um livro de poesias que começou a escrever ainda quando se encontrava preso no manicômio judicial. Estrella estuda ainda a possibilidade
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CIRCUITO
O Pavilhão Gaivotas, no Parque da Cidade, onde acontece a segunda edição da Bienal do Livro de S. José Divulgação
FIUZA Jornalista conta bastidores da produção
de fazer uma nova biografia. A ideia é continuar a história inicialmente escrita por Fiuza. “Estou com metade do CD pronto. Quero colocar umas quatro músicas minhas, parcerias, releituras e lançar agora em agosto junto com a peça “Meu nome não é Johnny”, além de um livro de poema. Penso em fazer alguma coisa escrita por mim, tenho até um nome já: “Johnny.doc”, mas ainda são planos”, explicou Estrella. Na Bienal de São José, a proposta é unir música, literatura e cinema em um só ambiente. “O Guilherme [Fiuza] fala um pouco e eu também. A gente deixa acontecer, rolar um bate-papo com o público. As curiosidades maiores são em relação ao livro e ao filme. Gostaria de fazer uma apresentação e um show, estamos vendo isso com a organização. É um lance legal, complementa o conteúdo da história, mostra o que acabei fazendo na vida mesmo, o que faço hoje.” •
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CULTURA
Polêmica milionária Ministério da Cultura autoriza a cantora Maria Bethânia a captar R$ 1,3 milhão por meio da Lei Rouanet para criar um blog de poesias
Adriano Pereira São José dos Campos
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erá que uma cantora com Maria Bethânia precisaria de uma “ajuda” do Ministério da Cultura para produzir? A Lei Rouanet, que autoriza empresas a investirem parte do valor devido de imposto de renda em cultura, não serviria melhor a novos artistas? Perguntas como essas vieram à tona no mês passado, e ainda causam repercussão, depois que o MinC autorizou a cantora baiana a captar R$ 1,3 milhão para a construção de um blog que os criadores classificam como “revolucionário”, no qual ela declamaria poesias. Só para Bethânia, o salário previsto é de R$ 600 mil pela direção artística. Bethânia não está sozinha. Neste ano poderão ser beneficiados com mais de R$ 1 milhão nomes como Erasmo Carlos (R$ 1.219.800), Marisa Monte (R$ 4.994.530), Maria Rita (R$ 2.195.800) e Sula Miranda (R$ 1.154.858). E outros já foram beneficiados em outras épocas, como Caetano Veloso e até o irmão da ministra Ana de Hollanda, o cantor Chico Buarque. Assim que a notícia foi publicada, reações negativas sobre a decisão vieram de todos os cantos. O grupo Mombojó publicou no Twitter: “E pensar que foi uma dificuldade aprovar míseros 35 mil reais para fazer o nosso primeiro disco pela lei de incentivo à cultura...”. Lobão foi mais ao seu estilo: “sugeriria fazermos uma campanha tipo: DEVOLVE ESSA P... BETHANIA!!!”.
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Aliás, o Twitter foi o grande palco deste espetáculo. Belô Velloso, sobrinha da cantora saiu em defesa dizendo: “Minha tia Maria Bethânia não vai receber R$ 1,3 milhão do governo ou de Ana de Hollanda ou do Ministério da Cultura. Atenção; saibam ler”. Essa foi a mesma explicação oficial do órgão federal. A questão é: se as empresas deixam de pagar um imposto devido para o governo, quem gasta não é o governo? A discussão também cai em outra esfera: artistas consagrados precisariam de verba federal para realizarem seus projetos? Segundo a ótica de Belô, ocorre uma injustiça com “medalhões” como Bethânia. “Sim, hoje é mais difícil para uma artista séria conseguir patrocínio de empresas privadas, do que essas celebridades instantâneas. Que pena”. Neste contexto, nomes consagrados teriam maior facilidade de receber a autorização do ministério para captarem recursos. O MinC saiu correndo para dizer que “rejeitar um proponente pelo fato de ser famoso, ou não, configuraria óbvia e insustentável discriminação”. Na realidade, aprovar um projeto pela Lei Rouanet não é tarefa impossível, é burocrática e trabalhosa como deve ser. O cantor Peleco, de São José dos Campos, teve um projeto aprovado nesta mesma leva. “É muito trabalhoso. Começamos a trabalhar nisso em julho de 2010 e só agora foi aprovado”, diz. A proposta é realizar uma turnê de divulgação do novo disco do músico em sete capitais brasileiras. O custo total é de R$ 688.785. O problema começa nesta próxima fase que o cantor terá que enfrentar: a captação
desse recurso. No ano passado, por exemplo, foram R$ 3,3 bilhões aprovados, mas apenas R$ 570 milhões foram captados na iniciativa privada. Daí a vantagem que um grande nome da MPB tem em relação a um artista iniciante. Outro problema reside nos critérios usados para aprovação dos projetos. Em 2009, Caetano Veloso teve sua proposta de captação de R$ 2 milhões para a turnê do disco “Zii e Zie” recusada pelo MinC. A alegação
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POESIA
A cantora Maria Bethânia, cujo blog prevê ‘pílulas’ diárias de poesia por R$ 600 mil ao ano
era de que o projeto era “comercialmente viável”. Tempos depois o ministro na época, Juca Ferreira, voltou atrás e autorizou a captação de recursos, afinal, já havia feito o mesmo com artistas como Ivete Sangalo, que, diga-se de passagem, é inegavelmente viável para o mercado. Ele disse ainda: “Não sou masoquista para trabalhar só com artistas malsucedidos. O ministério não tem vocação para irmã Dulce ou para Madre Teresa de Calcutá”.
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Mas não são só os artistas malsucedidos que enfrentam suas dificuldades. Numa esfera menor, a banda Voltz, premiada em concursos nacionais, com videoclipes veiculados em rede nacional e dois discos lançados, teve por duas vezes projetos negados por lei de incentivo. “Na primeira vez tivemos que ouvir da secretária de educação que rock não tinha nada a ver com escolas”, diz o vocalista Glauber Ribat. O projeto previa a apresentação em escolas de São José dos Campos. No
segundo projeto, que pretendia a gravação de um DVD com distribuição de 10 mil cópias gratuitamente, o valor de R$ 120 mil foi considerado alto pela comissão de avaliação. A principal resposta para todas as questôes levantadas na discussão vem do próprio projeto de Bethânia, que num determinado momento questiona: “Não seria incrível poder abrir possibilidades a acessibilidade irrestrita à cultura a todos que tão pouco acesso têm?”. Com certeza. •
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CASARÃO Fazenda Pasto Alto, em Taubaté, pioneira na região Sul do Brasil a receber as primeiras sementes de café, vindas direto da África
HISTÓRIA
Patrimônio ameaçado 104-107_+CULTURA_Fazendas.indd 104
Fazendas dos séculos 18 e 19, com grande influência do período áureo do café, em Taubaté, necessitam de restauração urgente; prédios correm risco de desaparecer, como ocorreu com outras construções
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João Carlos de Faria Taubaté
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ma parte importante do patrimônio de Taubaté está se perdendo e pede socorro silenciosamente. Se a cidade pouco se preocupa com sua memória urbana, praticamente ignora seu acervo arquitetônico rural. São fazendas datadas dos séculos 18 e 19, com grande influência do período áureo do café. Poucas foram preservadas, algumas já desapareceram e outras estão em risco, necessitando de restauração urgente. O auge da cultura do café em Taubaté ocorreu no fim do século 19, quando 86 fazendas eram totalmente voltadas ao cultivo desse produto, que valia ouro. Em 1854, conforme descrevem as historiadoras Odete Polesi e Wanda Moreira Guimarães, o município ocupava o segundo lugar em produção no Vale do Paraíba, colhendo 354.730 arrobas anuais, perdendo apenas para Bananal. Essa condição proporcionou alguns luxos à cidade, dos quais apenas as capitais podiam desfrutar, como serviço de bondes com tração animal (1881), iluminação a gás nas ruas (1884) e empresa telefônica (1893). Os fazendeiros passaram também a participar da vida urbana, adquirindo influência e poder político. Tamanha riqueza e opulência, porém, não resistiram ao tempo. Das muitas fazendas algumas poucas sedes ainda restam em pé. Bonfim, Santa Leonor, Fortaleza, Quilombo, Santa Maria, Pasto Grande e Barreiro são algumas delas. Quase todas passaram pelo ciclo do açúcar, mas tiveram seu apogeu no período do café. “Dois fatores dificultam o estudo dessas fazendas: as transações comerciais nem sempre eram oficializadas, e por isso falta documentação, e a repetição e mudança de nomes, em sucessivas vendas ou incorporações. Muitas foram subdivididas e outras anexadas”, afirma a historiadora e professora Olga Rodrigues Nunes de Souza, do Instituto Preserva Taubaté. Entre as que desapareceram podem ser lembradas a São Benedito – que ficava entre a Santa Maria e Quilombo– e a Ipiranga, no bairro do Rio das Antas. A história de algumas fazendas relembra fatos importantes para a vida social, econômica e política taubateana. A mais antiga delas é a Pasto Grande, cujos primeiros registros de compra das terras se referem a 1779, pelo fazendeiro Pedro Pereira de Barros, constando a
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sede de um inventário de 1793. A fazenda teria sido a pioneira na região Sul do Brasil a receber as primeiras sementes de café, vindas diretamente da África, enviadas do Rio de Janeiro, pelo Bispo Rodovalho, ao seu pai, em Taubaté. A médica Marina Moreira, atual proprietária, que representa a quinta geração da família, conta que ali se produziu muita aguardente e rapadura. “Era a cachaça Vitória, comercializada nos armazéns da região”, lembra. A produção de aguardente diminuiu em escala, mas se estendeu até os anos de 1980. A fazenda Quilombo, que pertenceu ao Conselheiro Moreira de Barros e depois ao coronel Francisco Gomes Vieira, o Barão da Pedra Negra, foi a única a dispor de iluminação com lampiões alimentados por óleo de mamona, o que era um luxo para a época. Também sediou as primeiras experiências com trabalho de imigrantes italianos na lavoura do café. Por isso, ali nasceu o primeiro descendente de italianos na região. Um jornalista de “O Estado de São Paulo” relatou também, em 1901, a existência na sede de “uma biblioteca para os estudiosos, sala de bilhar para os que jogam, a sala de ginástica com seu trapézio...”, além de uma banda de música e escolas separadas para meninas e para meninos. Segundo o engenheiro Luiz Pinto Vieira, bisneto do Barão da Pedra Negra, as construções somavam mais de 15 mil metros quadrados. A produção de café atingiu o pico de 15 mil arrobas/ano e a lavoura tinha mais de 400 mil pés. Cerca de 500 pessoas formavam a mão-de-obra no início do século. Com a crise, a fazenda foi a leilão, sendo resgatada –ou remida, como se dizia na época– por Luiz Guimarães Vieira, pai do engenheiro. Com a queda do café se iniciou uma atividade muito inusitada para os dias de hoje, quando a fazenda se transformou numa
O auge da cultura do café em Taubaté ocorreu no final do século 19, quando 86 fazendas cultivavam o produto. Em 1854, Taubaté ocupava o segundo lugar em produção no Vale, perdendo apenas para Bananal
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grande criadora de burros, fornecendo durante muito tempo os animais que puxavam carroções da limpeza pública de São Paulo e Rio de Janeiro e tropas para o Exército. “Foi isso que manteve a fazenda por um bom tempo”, afirma Vieira. Na década de 1950, Cássio Pinto Vieira, irmão de Luiz, introduziu a pecuária de leite, mas foi uma atividade sem muito destaque até a chegada do eucalipto, há cerca de 30 anos. Atualmente 200 alqueires são utilizados no plantio de eucalipto, em parceria com o Grupo Votorantin; outros 50 são utilizados para pastagem e criação de gado de corte e 150 ainda são de mata nativa. Convênio do Café A fazenda Barreiro entrou para a história quando, em 25 de fevereiro de 1906, acolheu os presidentes Jorge Tibiriçá, de São Paulo, Nilo Peçanha, do Rio de Janeiro, e Francisco Sales, de Minas Gerais, para assinatura do “Convênio do Café”. O Visconde de Taunay se refere ao documento como “uma peça que teve enorme repercussão não só nos círculos do comércio cafeeiro mundial, como nas rodas financeiras do universo”. O convênio visava valorizar o café, unindo a força dos três estados maiores produtores. Foi a partir desse encontro que também se instalou a chamada “política do café com leite”, quando mineiros e paulistas passaram a se revezar no poder. O café dava sinais de decadência e pelo acordo, o governo compraria o excedente da produção para manter o preço no mercado e o lucro dos fazendeiros. O dia 25 de fevereiro é descrito em artigo do professor Humberto Passarelli, como um dia de festa. Os três presidentes foram recebidos na cidade pelo coronel José Benedito Marcondes de Mattos, deputado e político dos mais eminentes, que presenteou Jorge Tibiriçá, com uma caneta de ouro. A mulher do coronel era dona Chiquinha de Matos, figura eminente da sociedade taubateana, que virou nome de uma das principais ruas do centro da cidade. A fazenda chegou a ter mais de 7.000 hectares, indo da região onde hoje passa a via Dutra até os sertões, na direção de Redenção da Serra e divisa com Caçapava. A colheita chegava a 60 mil sacas por safra. Dos dias de fausto à decadência foi um passo rápido, que deixou marcas e mudou drasticamente a vida econômica e social da cidade. A historiadora Olga Rodrigues, porém, não atribui apenas à crise do café a sua principal causa. “Isso começou a acontecer com o deslumbramento dos proprietários, quando in-
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HISTÓRIA Fazenda Barreiro entrou para a história ao servir de sede para a assinatura do “Convênio do Café”, em 1906
corporam hábitos como viagens e compras na Europa. Além disso, os filhos eram despreparados para tocar os negócios”, destaca. Na verdade, a maioria dos filhos de fazendeiros preferiu tornar-se médicos, advogados ou engenheiros e poucos se dedicaram às fazendas. Os proprietários também se tornam grandes doadores, principalmente à Igreja. Era um verdadeiro ‘saco sem fundos’, como diz a historiadora. A quebra do café, que teve seu auge em 1929, marca, no entanto, o início de um processo de destruição desses tesouros da arquitetura. Por ser a maioria das construções em paua-pique –ou “taipa de sopapo”– tornou-se difícil a manutenção das sedes, diferentemente das construções em “taipa de pilão” ou “taipa socada”, capazes de resistir por séculos. A taipa de sopapo é feita com barro, numa estrutura de bambu, madeira e cipó, que apodrece e sofre ataque de caruncho, causando, com o tempo, rachaduras nas paredes. Mudanças na estrutura interna dos prédios para adequá-las a “modernidades” como banheiros internos, também apressaram o processo de destruição. Risco “Ficou difícil manter e as poucas fazendas que resistiram, por sorte caíram nas mãos de gente de posse ou grupos empresariais
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com dinheiro e interesse em investir na preservação”, afirma Luiz Pinto Vieira. Isso ocorreu com as fazendas Fortaleza, Santa Leonor, que pertenceu ao ex-governador Adhemar de Barros, e Bonfim, adquiridas e restauradas por um grupo empresarial de São Paulo. No caso da fazenda Quilombo, Vieira explica que os problemas com as paredes de pau-a-pique tornaram a sua recuperação muito cara. “Procuramos parcerias, mas ninguém investe nisso e o governo tem outras prioridades”, lamenta. A fazenda é a que está em pior estado, tendo sofrido com a queda de pavimentos e de boa parte dos telhados, restando apenas a metade da construção original. Cássio Ferreira da Cruz Vieira, 34 anos, sobrinho de Luiz e herdeiro de Cássio Pinto Vieira, acha importante preservar o patrimônio. Conta que já buscou socorro e até pediu ao Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico do Estado) o tombamento da fazenda, mas sem resultado. “O pessoal veio, gostou, fotografou, mas não voltou mais”, conta. O tombamento, segundo ele, seria importante para conseguir parcerias para a restauração. O telhado da Fazenda Pasto Grande também chegou a cair, destruindo móveis anti-
gos e valiosos, com sérios prejuízos para o patrimônio. Há cerca de oito anos, a proprietária Marina Moreira, desfez-se de parte das terras e investiu cerca de R$ 200 mil numa reforma, procurando manter o máximo das características originais da sede. Ainda assim a fazenda carece de cuidados e de um projeto de restauração para se manter em pé e em condições de ser visitada. “Todo o telhado e o reboco foram refeitos, mas estão precisando de manutenção”, reconhece Marina. Das casas de colonos e de escravos –curiosamente a fazenda não tinha senzalas– e os engenhos pouco resta. Tachos de cobre e parte do antigo alambique e do engenho foram saqueados, há cerca de sete anos. “Isso nos levou a colocar cadeados nas porteiras para inibir outros roubos”, afirma. Camila Moreira, filha de Marina, mora na fazenda e processa frutas desidratadas como banana seca, com frutos de produção própria. Parte das terras é utilizada para uma pequena criação de gado de corte e mais da metade da área de 35 alqueires é de mata nativa. “Essas atividades e uma pequena produção de verduras, cogumelos e outros, ajudam na manutenção”. De um charmoso hotel fazenda, muito frequentado por hóspedes paulistanos, a fazenda Barreiro transformou-se, há dez anos, na residência de lazer do atual pro-
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FACHADA Casarão da Fazenda Pasto Alto, em Taubaté; ao lado, alambique, que foi umas das principais atividades locais
prietário, que adquiriu a parte dos sócios, descendentes da família Matos. Por não ser do ramo de hotelaria ele decidiu fechar as portas para o público e os 18 apartamentos que ocupavam as antigas casinhas da senzala, permanecem fechados e toda a estrutura do hotel foi desmontada. De 3.000 alqueires originais sobraram apenas 6 e um funcionário faz a manutenção da fazenda, que teve uma parte da sua estrutura adaptada para a produção de leite, atividade posterior à produção de café. Externamente a sede da fazenda está em estado razoável de preservação e apesar da aparência de abandono de algumas instalações, mantém seu porte arquitetônico. Sustentabilidade Taubaté poderia seguir o caminho de regiões, como o Vale do Paraíba fluminense, onde ficam Valença, Barra do Piraí, Vassouras e outras cidades, cujas fazendas foram restauradas, formando um circuito turístico que atrai público internacional. “As fazendas poderiam ser autossuficientes, com o turismo histórico, cultural e rural, sendo um equívoco do Poder Público não investir nisso”, cobra a historiadora Olga Rodrigues. Ela enfatiza que há desperdícios por parte dos governos, inclusive municipal, que poderiam bancar essa proposta. Entre
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outras providências, também se poderia isentar de impostos quem desejasse investir na restauração e na preservação. A diretora de Turismo e presidente do Conselho Municipal de Turismo de Taubaté, Maria Lúcia Paiva, diz que a proposta de um circuito de fazendas está no plano de gerenciamento do turismo, elaborado pelo município, mas por enquanto, isso não é prioridade para a administração. “Fizemos um mapeamento para resgatar essas fazendas, mas temos muitas coisas ainda a serem feitas”, disse Maria Lúcia. Ela reconhece que essas fazendas precisariam ser tombadas como patrimônio, mas alega a falta de documentos para embasar o processo. “Tentamos incluir a fazenda Quilombo na Rota da Liberdade, mas não deu certo”, afirma Lúcia. O projeto em questão é uma rota turística desenvolvida em municípios da região e reconhecida internacionalmente, com programa de visitas a locais do período de escravidão. Na fazenda Pasto Grande, Marina Moreira e a filha Camila Moreira também fazem planos para receber visitantes, mas isso depende de mais disponibilidade de tempo da mãe, que é professora da Universidade de Taubaté e espera aposentar-se em breve. “A gente pensa em fazer ecoturismo e turismo rural”. •
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FAMÍLIA
Em nome do pai Três em cada 10 resultados de exame de DNA nos processos de investigação de paternidade têm resultado negativo; Em São José, tramitam 900 casos nas três Varas da Família
Elaine Santos São José dos Campos
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epois de quatro anos de namoro, Mônica* estava grávida. A notícia provocou euforia e receio: o casal tinha brigado e estava havia uma semana sem se falar. Mônica, à época com 29 anos, estava na terceira semana de gestação. Diante da possibilidade de ser pai pela primeira vez, o comerciante joseense Eduardo*, aos 27 anos de idade, sequer questionou a paternidade. Cuidou de toda a documentação e em menos de dois meses estava casado. Logo depois do nascimento de Julia*, hoje com 19 anos, as brigas se tornaram frequentes e dois anos e meio depois eles se separaram. A partir daí Eduardo começou a ter sérias restrições ao contato com a filha. “Ela não deixava eu ver a menina, era muito difícil passar um final de semana juntos. Sentia muita falta. Ela (Mônica) me acionou na Justiça para pagar pensão, mas contato mesmo eu quase não tinha”, contou Eduardo. Quase 12 anos depois, Eduardo se casou novamente, teve mais uma filha e devido problemas financeiros parou de pagar a pensão. “Foi aí que acabei pedindo o exame de DNA. Muitas pessoas da família dela vinham me falar que a menina não era minha. Eu não acreditava, mas quando fui chamado na Justiça acabei pedindo o exame e deu no que deu. Até hoje não acredito que não sou o pai biológico da Júlia”, disse Eduardo, que ainda tem seu nome na Certidão de Nascimento da jovem. “Não tive coragem de tirar meu nome da
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Certidão de Nascimento dela. Pelo que sei o pai verdadeiro não faz questão nenhuma. Mas agora estou em um dilema. A Júlia está grávida e meu nome pode entrar como avó da criança. É uma situação delicada, mas tenho sentimentos por ela. Na realidade não é fácil para mim toda essa situação”, disse o comerciante. No Brasil e no mundo são raros os casos de falsa paternidade que ganham visibilidade na imprensa. Os mais falados são os casos que envolvem pessoas famosas, como o do ex-jogador Ronaldo, que assumiu em dezembro do ano passado, depois de um exame de DNA, a paternidade do filho Alex, 5 anos, fruto de um rápido relacionamento com a garçonete Michele Umezu. Mas casos como o do comerciante Eduardo, de São José dos Campos, não são exceções nos fóruns. Fato é que, segundo o Imesc (Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo), 30% dos exames de investigação de paternidade em todo o Estado têm esse mesmo desfecho: os homens descobrem que não são os pais
Desde 2001, quando o exame de DNA se tornou acessível pela Justiça gratuita, brasileiros de todas classes sociais se referem ao teste com a mesma familiaridade reservada a um simples exame de sangue
biológicos dos filhos. O Imesc realiza cerca de 15 mil exames por ano. “Pelos nossos dados, o número de exclusões de paternidade corresponde a cerca de 30% dos casos”, afirmou a superintendente do Imesc, Márcia Pereira Dobarro Facci. Atualmente tramitam nas três Varas da Família de São José dos Campos cerca de 900 casos de investigação de paternidade. Destes, a grande maioria é contra os supostos pais, ou seja, homens cujos nomes não constam na Certidão de Nascimento da criança. “A realidade dos casos de DNA negativos em nossa Comarca é de pelo menos 10%. Quase 100% deles são de paternidades já reconhecidas com registro regular em cartório civil”, disse o juiz da 1ª Vara da Família de São José, Marcius Geraldo Porto de Oliveira. “Recentemente tivemos um caso até curioso, onde dois homens disputaram a paternidade da criança. Neste caso, o pai biológico foi quem entrou com o pedido de reconhecimento.” Estudos do grupo de psicólogos do Instituto Brasileiro de Direito de Família apontam que esse tipo de situação é recente nos fóruns, mas comumente visto na sociedade. Para os profissionais, o impacto da comprovação pelo exame de DNA de que a criança não é filha biológica do homem que a criou traz prejuízos emocionais tanto para a criança quanto ao pai afetivo. “O impacto da revelação é muito grande, mas a gente não pode desconsiderar de forma alguma que já existe uma parentalidade sócio afetiva, ou seja, a paternidade não existe só a partir da biologia, mas sim do vínculo emocional. Não dá para voltar atrás. Na vida de uma criança isso é ainda muito mais difícil. Para ela (criança) pai
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INVESTIGAÇÕES Processos no cartório da 1ª Vara da Família, em São José, onde tramitam os casos de investigação de paternidade
será sempre quem cuida”, explicou a psicóloga Giselle Câmara Groeninga, membro da comissão interdisciplinar do Instituto Brasileiro de Direito de Família. Na mídia Em 2004, um caso de paternidade excluída foi comentado em todo o país. Marcelo Falcão, líder da banda O Rappa, chegou a ser processado pela mãe de seu suposto filho, Kayon, por falta do pagamento de pensão alimentícia, mas acabou sabendo pela Justiça que o menino não era seu filho biológico. Falcão foi casado durante cinco anos com a francesa Lauriane Cindy, que reclamou, na imprensa, a falta de pagamento da pensão do filho Rayon, à época com três anos. No embate, Falcão resolveu fazer o exame de DNA e descobriu que o menino não era seu filho. Outro caso que ganhou repercussão nacional foi o da ‘socialite’ carioca Lourdes Catão. Ela admitiu publicamente que seu primogênito não era filho do marido, o empresário Álvaro Luiz, dono de minas de carvão em Santa Catarina. O verdadeiro pai de Álvaro Luiz Catão Filho era o irmão do empresário, Francisco Catão. Lourdes resolveu poupar o marido e o cunhado do escândalo. A notícia só veio à tona em 2001, um ano depois que os irmãos morreram. Álvaro Filho, que vive em Nova York, entrou na Justiça para brigar
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O QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE O DNA O teste pode ser feito a partir de um fio de cabelo? - Sim, mas preferencialmente da raiz do fio capilar, onde existe mais quantidade de DNA. Mas, para testes de paternidade/maternidade, o mais usual são as células brancas do sangue coletado da veia do braço.
Pessoas que usam medicamentos ou drogas podem fazer o teste? Sim. O padrão de DNA de um indivíduo não é alterado por drogas, álcool, medicamentos, alimentos, idade ou modo de vida.
Qual idade adequada para fazer o exame em uma criança? Não há limite de idade no caso do DNA. O teste pode ser feito até durante a gestação.
É possível realizar o teste sem a presença da mãe? Sim. Mesmo com a mãe ausente ou morta, o teste pode ser feito com o DNA do filho e suposto pai. Caso o filho seja menor de idade, o teste deverá ser autorizado pela Justiça.
pelo direito de ser reconhecido como filho de Francisco, cujo patrimônio estimado é de US$ 10 milhões. Atualmente, o exame de DNA é o principal método para esclarecer casos de investigações de paternidade. Desde 2001, quando o exame se tornou acessível pela Justiça gratuita, brasileiros de todas as classes sociais referem-se ao teste de DNA com a mesma familiaridade reservada a um simples exame de sangue. No entanto, trata-se de uma tecnologia sofisticada, que aponta com 99,99% de exatidão de quem a criança é filha. O geneticista Martin Whittle, da Genomic, um dos primeiros laboratórios que fazem exames de DNA no Brasil, chega a atender em média 700 pedidos por mês. “A exclusão da paternidade, realmente é mais precisa do que a afirmação da paternidade, o que não implica que a inclusão não seja segura”, explica Whittle, afirmando que hoje o exame de DNA está bem mais acessível. “Hoje o resultado de um exame de DNA pode demorar de 23 horas a até 10 dias úteis. Antes demorava meses. O valor também está bem mais acessível. Quando começamos no Brasil, há 20 anos, custava 800 dólares, hoje a média é de 200 a 300 dólares, sem contar com os exames gratuitos oferecidos pela Justiça. Nós, por exemplo, realizamos
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Foto ilustrativa
exames a pedido da Justiça do Rio de Janeiro e algumas prefeituras do Estado de São Paulo”, disse. Segundo o geneticista, qualquer célula do corpo humano que tenha núcleo poderá, teoricamente, ser utilizada para fazer a identificação humana e, consequentemente, o exame. No caso de exames judiciais, não se utilizam materiais que dificultam a comprovação da sua origem como, por exemplo, cabelo. “O Imesc decidiu-se por utilizar cartões especiais para a coleta de sangue ou células epiteliais da mucosa oral, pois é possível que o periciado assine este cartão antes da coleta e assim se garanta que não haja troca de amostra até a entrada da mesma no laboratório”, explicou Márcia Pereira Dobarro Facci, superintendente do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo. O DNA está presente em todas as células do corpo. Na maior parte das vezes, o material coletado é o sangue. Mas também é possível fazer exame com raízes de cabelos e amostra da mucosa oral. Os laboratórios só devem realizar o teste com o consen-
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timento de todas as partes envolvidas, ou seja, a mãe e o pai. Alguns só realizam o exame se o filho estiver registrado no nome do suposto pai. Nas disputas judiciais, o juiz só aceita o teste feito em laboratório indicado por ele. Exatidão Laboratórios afirmam que o acerto desse tipo de exame é de 99,99%. O correto é que seja de 99,9999%. Essas quatro casas depois da vírgula asseguram a maior precisão possível. Caso contrário, pode haver um erro a cada 1.000 casos. O teste pode ser feito a qualquer momento na vida da criança, desde que haja consentimento dos responsáveis. Até com o bebê no ventre é possível saber a paternidade por meio do líquido amniótico. Mas, nesse caso, o casal deve assinar um termo de responsabilidade declarando que o resultado não será usado para interromper a gravidez caso não se confirme a paternidade. Também é possível fazer o teste em pessoas mortas, com coleta de material de dentes e ossos. •
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Viva a Vida
Carlos Carrasco
Atitude para mudar a própria vida, a dos outros e o resto do mundo
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epois do que passei um confinamento difícil, ficar trancado em um lugar com pessoas completamente diferentes de mim, passar por provas difíceis, viver coisas que nunca tinha imaginado em minha vida, descobri que nós seres humanos somos capazes de superar qualquer coisa, perdas materiais, perdas de seres que nos valem muito, e que de tudo se tira coisas boas. Esta semana vi um vídeo na internet que me comoveu muito, um homem que nasceu com um problema genético, sem braços, sem pernas, mas com uma força de vida impressionante. Ele ama viver mesmo com todas as dificuldades que lhe foram impostas, sorrindo, feliz, cheio de vida. Me fez chorar muito e repensar quem eu sou. Não tenho o direito de ficar triste. Tenho uma linda vida, cheia de amigos queridos, saúde, consegui atravessar uma década difícil, quando o HIV levou muitos dos meus amigos, e aqui estou escrevendo. Um presente de Deus? Sorte? Não sei dizer, mas posso afirmar que passei por aquilo, vi tudo com meus olhos, pessoas morrendo, perdendo a autoestima, desistindo da vida. Acho que por ter visto tudo isto sobrevivi, me superei. Através deste vídeo descobri em mim, um ser egoísta, um alguém que se importa com outros, mas nunca se esquece
de olhar pra si. Isto me deixou mal, resolvi então dividir com vocês meus sentimentos em relação a tudo na vida. Às vezes passo a refletir e me questionar o quanto somos imensos diante de nossas limitações e, ao mesmo tempo, como podemos ser pequenos diante de nossa grandiosidade. O mais decepcionante é quando algumas pessoas utilizam em seus argumentos o fracasso de terceiros como referência, e dizem: pelo menos fui melhor que meu vizinho. A superação não depende de classe social, cor ou educação. Sua superação depende de ter um objetivo em sua vida e acreditar em algo. Superar uma dificuldade não quer dizer ter todo o sucesso no dia seguinte. Significa alcançar um pequeno sucesso diariamente. Sei que precisamos vencer várias dificuldades e paradigmas. Você deve ter medo de desistir e não de continuar. Pesquisando na internet temos a opção de conhecer vários textos ou vídeos sobre pessoas que se superaram. Acredito que a palavra “atitude” é muito poderosa. Atitude como forma de vida para mudar o planeta, tirar crianças das ruas, educá-las. A sociedade tem como obrigação ter um pensamento único, se não mudarmos tudo, não chegaremos a nada. Um fato é verdadeiro: o ser humano somente comprova sua capacidade quando realmente precisa dela. Como eu queria ter o poder de mudar algo, de tocar em cada coração. Para mim, limitações são muito mais psicológicas do que reais. Há muito
MUDANÇA Superar uma dificuldade não quer dizer ter todo o sucesso no dia seguinte. Significa alcançar um pequeno sucesso diariamente mais preocupação em se identificar um motivo para não fazer algo do que ver os bons resultados que serão obtidos caso seja realizado. Precisamos de mais tempo para aproveitar a convivência com os familiares. Exija mais tempo para realizar atos bons, esforce para aprender com pessoas que nem conhece porque sempre terão algo para ensinar. Ame a vida, desfrute o que ela tem de melhor, tenha disposição para evoluir e se superar. Tudo isso que escrevo, para mim, é como um grande desabafo. Exatamente o que penso de mim, o que acredito que devo fazer. Talvez de alguma forma, este desabafo possa tocar algumas pessoas ao ponto de se aliarem aos meus novos pensamentos. A atitude pode sim mudar, ela pode ser uma grande aliada na evolução humana. •
Carlos Carrasco cabeleireiro
carrasco@valeparaibano.com.br
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ValeViver
LENDAS URBANAS
São José mal assombrada Prédios antigos acumulam histórias que podem divertir os céticos e arrepiar os cabelos de quem acredita em fenômenos sobrenaturais e fantasmas
Yann Walter São José dos Campos
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difícios religiosos e teatros sempre foram lugares propícios para o surgimento de lendas urbanas. A mística que emana destes prédios com história secular, às vezes milenar, é uma fonte de inspiração inesgotável para a disseminação de crenças populares, amplificadas de boca em boca e transmitidas de uma geração para outra. São José dos Campos ainda não tem uma história milenar, mas já conta com um rico patrimônio histórico. Vários edifícios da cidade foram, e continuam sendo, cenários de causos divertidos ou assustadores, envolvendo portas batendo sem motivo, sons estranhos, vozes misteriosas, e até pessoas materializando-se do nada. A revista valeparaibano ouviu anedotas contadas por funcionários da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, do Teatro Municipal, da Capela Nossa Senhora Aparecida e do Parque Vicentina Aranha, onde funcionava o sanatório do mesmo nome. Se você não acredita em assombrações, ou em fenômenos sobrenaturais, provavelmente vai rir destas histórias. Mas se você é uma dessas pessoas que acham que o mundo não é regido apenas por fatos científicos e lógicos, prepare-se para ficar de cabelos em pé.
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“Em março de 2010, fui deslocado para trabalhar no Teatro Municipal, que estava então em reforma. Um dia, o encarregado de obras me pediu para ficar com ele depois das 19h. Ele subiu à cabine de iluminação e ficou testando as lâmpadas. Eu tinha que sinalizar para ele quando acendia ou apagava. Uma hora, apagou tudo. Foi quando avistei duas cabeças na plateia, uma ao lado da outra. Fiquei muito assustado, porque não havia ninguém no teatro, além de nós dois. Subi na cabine, mas não falei nada com o engenheiro. Nunca mais voltei para o teatro desde então”, contou João Batista de Castro, guarda na Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Paulo Roberto Machado, 60 anos, e Ronaldo José Eugênio, 38 anos, conhecem cada recanto do Teatro Municipal. Paulo trabalha lá há mais de 20 anos, como auxiliar técnico. Ronaldo ocupa a função de técnico em iluminação e som há 14 anos. Ambos têm muitas curiosidades para contar sobre o lugar. “Em 1997, estava junto com outro técnico na entrada do banheiro, atrás das cortinas, onde havia na época uma pequena recepção. Estávamos conversando quando, de repente, a porta bateu. Não havia ninguém além de nós dois e não podia ser o vento, pois a outra porta e as cortinas estavam fechadas. Não havia corrente de ar”, relatou Ronaldo, citando outros fenômenos estranhos. “Às vezes ouvimos passos nas escadas de
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CLARÃO
Vigia Marcelo Donizete Daniel ilumina entrada principal do prédio do Pavilhão Paulista, no Vicentina Aranha
madeira que dão acesso ao palco. Quando vamos conferir, ninguém está lá. Também já escutamos vozes de pessoas falando ou chamando alguém, e quando vamos ver não tem ninguém”, afirmou, destacando que em diversas oportunidades estes barulhos estranhos foram ouvidos por vários técnicos ao mesmo tempo. Mulher misteriosa A história de Paulo é mais assustadora. No entanto, teve apenas ele como testemunha. “Antigamente, nos anos 90, costumava apagar as luzes do camarim à meia-noite antes de ir embora. Em três oportunidades diferentes, vi uma mulher de vestido branco sentada no camarim. Ela estava penteando o cabelo. Nas três vezes, saí correndo no escuro, tropeçando em tudo que vinha pela frente. Nunca consegui ver o rosto dela”, comentou. Apesar do medo que sentiu ao se deparar com a mulher misteriosa no camarim, Paulo nunca pensou em largar o emprego no teatro. “Os mortos não machucam a gente, só assustam. Os vivos são mais perigosos”, sentenciou. Os guardas da Fundação Cultural também têm histórias para contar, e assim como no Teatro Municipal, mulheres vestidas de branco são as personagens centrais das tramas. A mais recente aconteceu na noite de 9 de março com o guarda noturno Rodolfo Gonçalves.
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“Quando faltavam dez minutos para meia-noite, saí para fazer a ronda. Quando cheguei à varanda do Museu do Folclore, vi uma mulher sentada lá na frente. Ela era morena, tinha o cabelo curto e usava uma blusa branca. Virei a cabeça para o outro lado. Dez segundos depois, olhei, e ela não estava mais lá. Fiquei desesperado. Na hora, até chorei”, revelou o funcionário de 40 anos, que se recusa desde então a fazer a ronda sozinho de noite. “Há sete ou oito meses, quando trabalhava à noite, estava sentado com outro guarda na frente do refeitório. Às 23h30, percebemos uma menina nova, bonita, de cabelo preto e blusa branca. Ela acenou duas vezes para nós. Fomos andando ao encontro dela, mas quando chegamos, a moça não estava mais lá”, contou Antônio Marcos Ferreira da Costa, 56 anos. José Carlos Prado Nunes, segurança do Museu de Arte Sacra, na Capela Nossa Senhora Aparecida, desde 2005, é outro contador de causos pitorescos, bem parecidos com os de seus colegas do Teatro Municipal. “No ano em que entrei aqui, logo após a reforma da capela, aconteceu um episódio muito estranho. Certa manhã, eu estava jogando água no jardim quando uma senhora toda vestida de branco entrou no museu. Depois de 15 minutos, entrei para procurá-la. Ela estava em um dos corredores laterais. Dei uma disfarçada e fui para a direção contrária. Quando virei, poucos
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segundos depois, cadê a mulher? Tinha desaparecido. Corri para fora, mas não a vi na rua. Não tinha dado tempo para ela sumir daquela forma”, relatou, com ar incrédulo ainda estampado no rosto. “Outro dia, estava tocando o sino lá em cima quando Tatiana, a estagiária que trabalhava aqui, me chamou. Desci, e ela perguntou para onde tinha ido a pessoa que estava atrás de mim. Eu disse que estava sozinho, mas ela insistiu que tinha visto alguém”. Indagado sobre as razões pelas quais estes episódios ocorrem, Zé Carlos, como é conhecido, foi lacônico. “Essas coisas acontecem do nada. Existe um clima diferente neste edifício. Quem trabalha aqui percebe”, garantiu. Cenário assustador Outro monumento histórico de São José que não poderia deixar de ser citado é o hoje desativado Sanatório Vicentina Aranha, inaugurado em 1924 e utilizado para abrigar pessoas com tuberculose até 1945, quando passou a diminuir suas atividades. De 1990 a 2003, abrigou um hospital geriátrico. Hoje, todas as instalações estão desertas e fechadas ao público. À noite, quem percorre as galerias do pavilhão principal se depara com um cenário propício para a gravação de um filme de terror. Salas escuras (algumas ainda mobiliadas), janelas quebradas, portas rangendo, barulhos esquisitos que o auxiliar de serviços gerais Marcelo Donizete Daniel, 36 anos, garante serem procedentes de morcegos, todos os ingredientes para criar um ambiente assustador estão ali. “Eu não entro neste pavilhão à noite. Os guardas noturnos também não vêm aqui. Fazem ronda, mas não entram nas casas”, ressaltou Marcelo, um funcionário da Urbam que trabalha no parque há quatro anos. “Certa manhã levei uma mulher para o Pavilhão Paulista, que fica atrás do Principal. Ela queria conhecer, então abri a porta e a deixei entrar. De repente, portas e janelas começaram a bater. Era um dia de sol forte, sem vento. A moça se assustou e saiu correndo”, relatou o auxiliar de serviços gerais. José Martins, 58 anos, e Paulo Henrique Campos Brito, 23 anos, são os atuais guardas noturnos do Parque Vicentina Aranha. Ambos trabalham ali há pouco mais de dois anos, e admitem que à noite o local ganha contornos diferentes. “Tudo fica muito silencioso. Dá até calafrios. Ainda mais
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PASSOS E VISÕES
O segurança José Carlos Prado Nunes no Museu da Arte Sacra, no centro de São José
MEDO Acima, vigia Rodolfo Gonçalves, que teve a visão de uma mulher no Museu do Folclore; ao lado, o auxiliar técnico Paulo Roberto Machado no Teatro Municipal
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LENDA
Plateia do Teatro Municipal, onde funcionário teria visto duas cabeças
quando a gente pensa em todas as pessoas que faleceram ali”, disse Brito. “É um lugar estranho mesmo, assustador”, concordou Martins, emendando com uma anedota. “No Pavilhão Principal tem uma janela que não para de bater. Marcelo já colocou vários pregos, mas ela continua batendo. É bizarro, não tem explicação”. A Igreja São Benedito, inaugurada por volta de 1880 e tombada um século depois, também inspirou suas crenças populares. Duas ganharam tanta força que foram repassadas de geração em geração e são lembradas até hoje. Uma delas se refere a túneis secretos que levariam até o Banhado, e a outra envolve a suposta existência de um corpo enterrado em uma das paredes da igreja. “Há 50 anos, quando era estudante, fui à Igreja São Benedito para fazer um levan-
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tamento das características artísticas do edifício. Já naquela época, o povo dizia que uma das paredes apresentava uma mancha vertical em forma de corpo humano, que parecia sinalizar que uma pessoa estava enterrada ali. Procurei a mancha, mas não a vi. Perguntei para o padre, e ele disse que não havia marca nenhuma, que tudo não passava de uma lenda”, relatou Angela Savastano, diretora de projetos do Museu do Folclore. Como, e porque, nascem estas crenças? Na opinião de Angela, elas servem para alimentar a alma destes edifícios, mas existe outro motivo. “As pessoas vivem destas histórias. Para sobreviver, o homem precisa do inexplicável. Todos nós temos nossas inquietações, e nem todas podem ser explicadas pela ciência. Sempre estamos em busca de respostas”, analisou. •
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CINEMA
O novo Zé Carioca? Mesmo dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, de ‘A Era do Gelo’, animação ‘Rio’ estreia este mês repetindo os clichês de sempre na hora de representar a imagem do país ao resto do mundo Franthiesco Ballerini São Paulo
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ede das Olimpíadas de 2016 e uma das cidades que vai receber a Copa do Mundo de 2014, o Rio de Janeiro está em evidência como nunca antes na história, ainda mais com o crescimento econômico brasileiro. No próximo dia 8, a cidade também ocupa uma posição de destaque nos cinemas do
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mundo inteiro, com a estreia de “Rio”, animação dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha, responsável pela franquia de “A Era do Gelo”. Trata-se do maior lançamento da Fox para este ano no Brasil, uma aposta que pode ocupar mais de mil salas em todo o país, o primeiro a estrear o longa-metragem, seguido dia 15 de abril pela América do Norte, Europa e Ásia. Para alavancar o produto no mercado brasileiro, praticamente todos os dubladores internacionais do filme compareceram à coletiva de imprensa realizada no Rio de
Janeiro no último dia 22 de março. Além de Saldanha, vieram ao Brasil Anne Hathaway – que apresentou o Oscar neste ano – Jesse Eisenberg (“A Rede Social”), o vencedor do Oscar Jamie Foxx, bem como Rodrigo Santoro, Bebel Gilberto, Carlinhos Brown, entre outros. Além de conversarem com jornalistas, os astros participaram de uma prémiere do filme na noite do mesmo dia. Mas o destaque da história vai mesmo para Carlos Saldanha. Num universo de animações digitais dominado por estúdios como a Dreamworks (“Shrek”) e a Pixar
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Sem a malandragem de Zé Carioca, Blu desembarca no Brasil para perpeturar a espécie
(“Toy Story”), Saldanha é praticamente o responsável pelo sucesso da Blue Sky Studios, não só graças à trilogia milionária de “A Era do Gelo”, como também por “Robôs” e “Horton no Mundo dos Quem”. Sob o ponto de vista artístico, Saldanha conseguiu levantar seus filmes ao patamar criativo e moderno dos concorrentes, criando histórias visualmente deslumbrantes para as crianças e piadas inteligentes o suficiente para agradar também os adultos. Em “Rio” não é diferente. Conta a história de Blu, uma ararinha azul que fora domesti-
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cada e nunca aprendeu a voar, vivendo em Moose Lake, no Minnesota (EUA). Quando descobre que existe outra arara azul no Rio de Janeiro, corre para encontrá-la. Seu nome é Jade, única fêmea remanescente da espécie. Mas ambos são sequestrados por contrabandistas de aves. Eles serão resgatados por aves malandras que moram no Rio e então Blu parte para o desafio de aprender a voar e resgatar Linda, sua amiga que ficou em posse dos bandidos. Regado à trilha sonora brasileira que faz sucesso no exterior, como samba e bossa
nova, “Rio” é um deleite visual e uma história muito bem pensada. Mas há problemas, especialmente no que diz respeito à imagem da cidade (e do Brasil) no exterior. No trailer do filme, fica clara a sensação de que a Cidade Maravilhosa parece mais uma grande selva tropical, bem ao estilo estereotipado que fora consagrado pela Disney, por meio do personagem Zé Carioca. Tudo bem, o filme não tem intenção alguma de dar uma aula de cultura brasileira para estrangeiros, mas visto que foi comandado por um brasileiro, esperava-se um pouco
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ValeViver
PAISAGENS
O cenário deslumbrante das praias cariocas é um dos palcos da aventura; abaixo, o diretor brasileiro Carlos Saldanha
menos de clichês visuais e narrativos, a fim de quebrar a imagem que Zé Carioca e Carmem Miranda construíram lá fora. Mas Saldanha acredita que o efeito será o contrário. “O filme vai ajudar a imagem do Rio mundo afora. O maior desafio do filme foi criar o desfile de Carnaval, pois os detalhes das penas dos pássaros eram extremamente difíceis. Acho que foi o filme mais complexo que fizemos na Blue Sky até hoje”, comentou Saldanha, em entrevista ao Collider. Franquia Considerado o maior projeto do estúdio até hoje, “Rio” mescla imagens da natureza tropical com os cartões-postais da cidade, tudo acabando em Carnaval, claro. “O personagem Blu é uma espécie de nerd, vivendo numa vida protegida em Minnesota. Ele lê tudo, analisa tudo sobre a arte de plainar,
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RIO 2
A Fox já deu sinal verde para uma possível sequência de ‘Rio’, basta arrecadar US$ 200 mi
mas ninguém o ajuda a aprender a voar. O desafio interno do personagem me cativou”, comenta Eisenberg, que dubla Blu. Santoro dubla Tulio, cientista que vai aos EUA dizer que Blu é o último macho da espécie e que ele precisa ir ao Brasil conhecer a última fêmea. Dois personagens cômicos se destacam na história, o canário Nico (Jamie Foxx) e o cardinal Pedro (Will.i.am). Ambos levarão Blu para o exótico e musical mundo carioca. No elenco estão também outros bichos brasileiros, como saguis, que irão utilizar a capoeira para ajudar Blu na sua missão. “Rio” será lançado também em 3D – grande parte das cópias no Brasil serão com esta tecnologia. Para criar movimentos ainda mais reais e atrativos aos pássaros, Saldanha pediu que todos os envolvidos no filme visitassem o Zoológico do Bronx para observar, durante dias, os movimentos dos pássaros, os detalhes de suas penas, como elas viram a cabeça e os barulhos que elas emitem. Saldanha ficou
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surpreso como estes bichos têm comportamentos muitos próximos do ser humano, como a propensão para abraçar. Foi bastante exigente com a verossimilhança das aves com as espécies brasileiras, o que rendeu a criação de uma tecnologia nova na Blue Sky, a Ruffle Deformer, capaz de dar muito mais controle e realismo no desenho, forma e movimento das penas. Por se tratar do maior investimento da Blue Sky desde sua criação, em 1997, “Rio” tem passe livre para se tornar a nova franquia do estúdio, complementando assim “A Era do Gelo”. Corre no mercado cinematográfico de Los Angeles que Saldanha já está avisado de que poderá produzir “Rio 2” caso a produção ultrapasse US$ 200 milhões de faturamento, o que não é difícil, uma vez que “A Era do Gelo 3” faturou essa mesma quantia só nos Estados Unidos. Se depender da agenda de eventos do Rio de Janeiro nos próximos anos, oportunidade publicitária é o que não vai faltar para Saldanha transformar o filme em franquia. •
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Cultura&mais Music man
Fotos: Divulgação
Adriano Pereira São José dos Campos
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m 1994, Bono Vox fez um discurso em homenagem ao mestre Bob Marley. Ele chamava o músico de uma dezena de papéis representados históricamente pelo Rastaman. Hoje não seria difícil alguém fazer um discurso parecido usando Bono como protagonista de vários papéis. De roqueiro irlandês politizado a um dos homens mais influentes do mundo numa trajetória que se mostra melhor no palco. É isso que fez com que os ingressos para os três shows do U2 neste mês (dois deles anunciados depois da procura monumental) esgotassem antes de alguém cantar “Sunday Bloody Sunday”. Nos dias 9, 10 e 13 a banda se apresenta no Estádio do Morumbi. Se você não tem ingresso a única chance é se arriscar a pagar uma pequena fortuna para um cambista. E mesmo assim isso valeria muito a pena. A turnê 360º, que correu o mundo, tem até DVD gravado, foi transmitida ao vivo pelo YouTube e mesmo sendo conhecida ainda movimenta uma massa sedenta por um bom rock. Homem político, ambientalista, chato, ídolo, galã, na verdade tanto faz. Bono Vox no U2 é música.
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LENNON
SOLTA O PAUSE
SANGUE
Apesar de ter vários erros históricos, o filme traz uma fase pouco explorada da vida do ídolo
Acompanhe as notícias do mundo da música em www.valeparaibano.com.br/ soltaopause
“Dexter - Design de um Assassino” é o quarto livro da série sobre o serial killer mais amado da atualidade
WEB
MÚSICA
ROXETTE
CD’S & MAIS
Direto do túnel do tempo
VALE DESTAQUE
Uma noite com Natalie Cole em SP Tudo bem que ganhar Grammy hoje em dia não significa ser o melhor músico do mundo, mas ganhar nove vezes não é para qualquer um. Natalie Cole carregará isso na bagagem quando se apresentar no Via Funchal, em São Paulo, no próximo dia 15. Natalie Cole começou sua ascensão ao estrelato com “Inseparable”, seu primeiro álbum, fazendo com que seu primeiro single chegasse ao número um, “This will be (an everlasting love)” e conquistasse seus dois primeiros gramofones dourados. Mas em 1991 ela resolveu correr um risco que mudaria sua carreira para sempre. Foi quando fez o álbum “Unforgettable with Love”, que trazia standards do Jazz. O dueto feito com seu já falecido pai, Nat King Cole, passou mais de cinco semanas no número um das paradas, ganhou seis Grammy
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(incluindo música, disco e álbum do ano) e vendeu mais de 14 milhões de cópias ao redor do mundo. O último álbum de Natalie, “Still Unforgettable” foi lançado em setembro de 2008. Durante a gravação deste disco, Cole foi diagnosticada com Hepatite C, decorrente do uso de drogas há muitos anos. A doença fez com que Cole passasse por um extenso tratamento de quimioterapia, cujos efeitos colaterais fizeram com que ela não conseguisse continuar a promover seu álbum na época. Hoje ela faz parte de uma ONG que visa erradicar doenças renais no mundo. Cole voltou aos palcos no ano passado. O show que a artista apresenta no Via Funchal faz parte da turnê “An evening with Natalie Cole” que traz canções deste disco gravado em 2008. Os ingressos vão de R$170 a R$400 e podem ser comprados no site do Via Funchal.
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Os suecos desembarcam no Brasil para quatro shows. No dia 14 eles tocam no Credicard Hall, em São Paulo. O guitarrista, compositor e também cantor Per Gessle afirma que, alguns anos atrás, ele nem cogitaria a possibilidade de uma turnê mundial. “Sabendo da dificuldade que a Marie (Fredriksson, cantora) passou para se recuperar de sua doença, essa tour não é apenas inacreditável, mas também, mágica. Será maravilhoso tocar e encontrar nossos fãs”. Para os que não sabem, a cantora está totalmente recuperada de um tratamento contra um tumor cerebral, descoberto em 2002.
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Ponto Final
Arnaldo Jabor
Como fazer arte na era digital?
S
empre falamos em “cultura brasileira”, mas não sabemos exatamente o que é isso, hoje em dia. Cultura é o quê? Uma senhora grega, de camisola, segurando uma tocha? Cultura é uma índia, negra e portuguesa, de cocar e saiote? Cultura é um museu erudito e paralítico que rima com “sepultura”? Fazemos boquinha elegante para falar em “cultura”, mas sempre sobra o gosto de alguma coisa em crise, que deve ser salva. A impotência política para superar nosso atraso endêmico nos levou à supervalorização da “cultura artística”. Era nossa ilusão e consolo: “somos pobres, mas com cultura rica”. Senti isso em minha juventude, quando um companheiro me disse: “Não temos nada, mas somos o ‘sal da terra’”. Fazíamos arte, filmes, música como se salvássemos o país. Agora a web é uma cachoeira de criações artísticas. Acabam os poucos artistas criando para muitos. Achávamos a miséria a nova estética –o mito de que o tosco, o povo simples e até o burro são ungidos pela “verdade sagrada”. Essa ideia reacionária rola até hoje, haja vista o carisma triunfal do expresidente operário. Minha geração, no cinema e na esquerda, achava que teríamos um futuro cultural que nos salvaria; havia um “geist” artístico em marcha à harmonia libertadora. Éramos ‘sujeitos’ que moldariam a História. Éramos hegelianos e não sabíamos. No entanto, as mutações culturais mais visíveis (que não enxergávamos) vieram por “irrupções” de causas materiais, de relações de produção industriais e comerciais: a cultura do café e o Modernismo; o “crash” da Bolsa em 29 contribuindo para nossa “identidade”
NOVOS TEMPOS “Bill Gates, Jobs, as redes, os microchips mudaram o mundo... Quem diria?” na revolução de 30; a indústria fonográfica e o rádio projetando a música popular dos anos de ouro; a industrialização juscelinista possibilitando a arquitetura, a bossa nova, o cinema novo; a TV ensinando o povo a falar e a ver o país. Não éramos marxistas e não sabíamos. O golpe de 64 foi a porrada na utopia. Mas houve uma vantagem: a derrota nos “ajudou” a ver o atraso de nossas certezas. A ditadura e a depressão dos derrotados nos mostrou que o buraco era mais embaixo e que as forças da história eram mais labirínticas. A esquerda começou a se auto criticar (nem toda, claro –vide soviéticos que ainda vicejam por aí). Nos anos 70, a contracultura ampliou repertórios e códigos artísticos, pela loucura do “desbunde” e da subcultura hippie. Houve uma virada mais antropológica que ideológica. De cabeça para baixo, vimos mais. Valíamos pelo que “não” tínhamos e, se antes éramos vítimas imaginarias do capitalismo, agora éramos vítimas reais da ditadura e passamos a ter meta: a liberdade. Mas o trauma da globalização foi mais profundo que a derrota de 64. De repente, outra porrada no voluntarismo de intelectuais e artistas: não há mais futuro. Subitamente o presente nos atacou com uma enxurrada de vida liberada pela era digital na internet. Sempre falávamos na democratização da cultura, das artes... Pois ela está aí ... Bill Gates,
Jobs, as redes, os microchips mudaram o mundo... Quem diria? E agora a mutação é mais intrincada porque não há “uma” ideia nova, uma escola, uma tendência. A mutação atual é a “contribuição milionária” de todos desejos expressivos. Mudaram os suportes,formassemultiplicamsemparar criando novas significações. Sabíamos que a era digital mudaria tudo, desde o mundo árabe até a poesia de Shakespeare? Mais uma vez, coisas criam os homens. Todo mundo pode fazer arte, poesia e a internet é o novo parnaso digital. Reação romântica: como fazer arte sem futuro, sem finalidade? Sem a ideia de “eterno”? Que será do artista demiurgo, aqueles poucos falando para muitos, como dialogam Hermano Viana e Jose M. Wisnik? Agora, em que todos criam para todos, o que é importante, como dizíamos? O que teria hoje ou amanhã o prefixo “Ur” (alemão) – coisas fundadoras? Onde está a totalidade? Há uma revolução de meios sem uma clareza de fins. Como será o mundo árabe? Como será a grande arte? Ainda haverá? Os meios justificam fins desconhecidos. E, vamos combinar, que mesmo na louvação das irrelevâncias, ainda dorme talvez o desejo de um sentido. Olha a encrenca... A própria ideia de um debate sobre esta duvida já é antiga. Se fosse proposta a um jovem blogueiro, ele diria: “Pra quê?” •
Arnaldo Jabor Jornalista e cineasta
jabor@valeparaibano.com.br
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